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© Editions Gallimard, 1974. Titulo original: Faire de histoire: Nouveaux problémes Capa: Claudia Zarvos (Preparada pelo Centro de Catslopcioona-fente do 'SINDICATO NACIONAL. DOS EDITORES DE LIVROS, F}) Ln Goff, Jacques, comp, Hisiria: novos problemas, diregio da Jacjues [Le Golf e Pierre Nora: tradusao de Theo Santiago. Rio de Janeiro, F. Alves, Sw. em, Do origina) em fanoés: Pele de Vhistoie nowventproblémes 1, Histbia — Teoria, 2, Histéria — Teoria — Goletinea, [Nora iene. Il. Titde. cop — 01 901.08 cpu — 950.1 16.0087 90:1 (082.1) Todos os direitos desta tradugio reservados & 99s LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. Rua Uruguaiana, 94 ~ 13° Andar e Centro 200050-091 » Rio de Janeiro ~ RU A operagio, bstbrica O quantitative om biatéria A bisséria conceitual A aculturacio retorno do fato Or caminhos da hisévia antes da escraa A bistéria dos povos sem biztéria Hinéria soci @ ideologias das socisdades Histéria marsiste, bstéria em consirugao PLANO GERAL DA OBRA PRIMEIRA PARTE NOVOS PROBLEMAS Michel de Certeau Francois Fuset Paul Veyne ‘Andeé Letoi-Gouthan Henri Moaiot Nathan Wachtel A operagito histérica MICHEL DE CERTEAU © que fabrica 0 historisdor quando “faz histbria"? Em que teabalha? Que produz? Interrompendo seu passeio enadito nas silas dos Arquivos, sepa- ese por um momento de sea estudo monumental, que 0 possibilitars ser clas- sificado entre seus pares, ¢, stindo para a cus, se’ pergunta: 0 que é este tree ‘alho? Fu me interrogo a respeito da enigmitica selacéo que estabeleco com 1 sociedade presente € com a morte, pela mediasio de atividades técnica CCertamente do existem consideracSes, por mais gerais que stjam, nem leita, por mat Tonge que a8 exendanen, clpazes de Apgar # peal do lugar de onde eu falo ¢ do dominio por onde conduzo uma investigacio. Essa marca é indelével. No discurso onde fago representar as questdes eras, ssa marca teré a forma do fdiotismo: meu dialeto demonstra minha ligaglo com um certo lugar Mas 0 gesto que conduz as “idéias” 20s lugares & precisamente um gesto de historiador. Para ele, compreender & analisar em termos de producbes local riveis o material que cada método inicialmente instaurou a partie de seus pr6- ptios critésios de pettinénciz!. Quando a histéria® se torna, para quem as paatica, o objeto de sua reflenio, pode-se inverter 0 processo’ de compreensio que conduz um produto a um lugar? © historiador seria entio um fugitive, cederia a um Alibi ideol6gico se, para estabelocer o estatuto de seu trabalho, recorresse a um além filoséfico, a uma verdade formada ¢ reccbida fora dos los quais, em hisiéria, todo sistema de pensamento encontra-se lugares” ‘socitis, econémices, culturis ete. ‘Tal dicotomia entre 0 le fax e 0 que diria servirin, além do mais, 1 ideologia reinante, prote- 8 HISTORIA: NOVOS PROBLEMAS _gendo-a. da pritica efetiva. Consagraria igvalmente as expetitncias do historiador um sonambulismo teérico. Mais ainds, na histbria como em outtas disci pilinss, uma priica stm teoria leva necessarimente, mum momento ou nostro, 420 dogmatismo de “valores eternos” ou 4 apologia de um “intemporal”. A sus. peita nfo conseguitia eleanger toda a anilise tebrica. Nowe setos, Serge Moscovici, Michel Foucault, Paul Veyne © outros re- presentam um despertar epistemolégico? que manifesta na Franga uma nova turgéncia. Mas somente € vélida a teoria que articula uma pritica, ow seja, a teoria que, por um lado, abre as priticas sobre 0 espago de uma sociedade, € qus, por outro, organiza os procedimentos proprios de wma disciplina. Consi- dlerar a histérin como uma operagio, seri tentar, de um modo necessatiamente Timitado, compreendé-a com 2 relagio entre um lugar (um recrutemento, um reo, um offcio etc.) © procedimentes de anilise (uma disciplina). 8 admi- tir que & histria fez parte da “ealidade” da qual trata, e que essa realidade pode set captada “enquanto atividade humana”, “enquanto prétic!”. A partir esas perspective, gostaria de demonstcar que + operscio histérca se refere a rombinagio de um Inger social ¢ de priticer “cientificast”. Esta anilice dos antecedentes dos quis 0 discurso no fala, permitiréprecisar as leis silenciosas aque circunsezevem 0 espago da operacio histérica. A excita histGrica se conste6i fem fungio desse espago, caja organizasio parece inverter: com efeito, obedece 4 regres prbprias que exigem ser examinadss, por elas mesmas, — objeto de tum outro estado. I. UM LUGAR SOCIAL Toda pesquisa historiogréfica € articulada a partir de um Jugat de pro dugio sécio-econdmico, politico ¢ cultural. Implica um meio de elaboracio cicunscrito por determinacBes proprias: uma profissio liberal, um posto de estudo ou de ensino, uma categoria de letrados. etc. Encontra-se, pottanto, submetida 2 opressdes, ligada a privilégios, encaizadz em uma particularidade. B em fungio desse lugar que se instzusam ¢s métodos, que se precisa uma topo- Arafin de interesses, que se organizam os dossiers © as indagagits relativas aos documentos. A OPERACAO HISTORICA 0 1, 0 niosito Hi quareata, anos, uma primeira cftca do “dentificio” mostrou oa jstria “Objeiva" sua relagio ‘com um lugar, o do sujeito. Ao analisar uma issolugio do objeto” (R. Aron), retirou A histéria © privilégio do qual se vangloriava quando pretendia reconsttuie 2 “verdade” do. que havia pasado. ‘A Bistéia “ebjeiva™ mantinha,além do mls, com essa idda de uma "verde de", um modzlo zetredo da filosofia de ontem ou da teologia de anteontem; ‘onteatavaze em traduzila em termes de “fates” histricos... Os belos dias desse postivismo jf se acabaram. pois vem 0 tempo da desconfionga. Demonsteouse que toda interpre- tagio histérica depends de um sistema de referéacia; que esse sistema perms. rece seado uma ‘filosofia” implicite particular; que infltrando-se no trabalho de anilise, organizandoro sem saber, remete & “subjetvidade” do autor. AD vulgasizat os temas do "istoricismo” aleméo, Raymond Aron ensinou a toda tema gerasio a arte de apontar as ““éecisdes filosficas” em fungio das quais se orgenizam os cortes de um material, os cSdigos de sua decifagio e a ordem de exposicio". Essa “critica” representava um esforco teérico. Marcava uma ffapa importante em relaio a uma situscio francesa onde prevaleciam es Pesquisas postives ¢ onde reinava 0 cetismo com selacio: is “tipologis” Bemis. Exumava_o inconfessivel e 0 pressuposto filosfico da. bistoriogratia do século XIX. Remetia de imediato 2 uma circulagao de concetos, ou sj 03 deslocamentos que, ao longo desse século, haviam transportado 5 categories filoséfices pata cs subsolos da histéia, assim como para os da exegese ou da sociologia. cem dia conhecemos a lisio na poota da Lingua. Os “fatos histé- se encontram constituides pela intsodugio de um sentido na “objeti- Vidade". Enunciam, na lingnagem da anilise, “escolhas” que lhe sio anterio- res, que nfo resultam, portanto, da observacio — ¢ que no sio “verificiveis”, mus somente “falsficiveis” gragas a um exime cftico’. A “relatividade his: térica” compe dessa forma um quadro onde, sobre 0 fundo de ums totalidade cla histéria, se destaca uma multiplicidade de filosofias individuais, as de pensadores que se fizem passir por historindores © retorno as “decisdes” pessoais era efetuado tendo como base dois postu- Indos. Por um lado, isolando do texto historiogréfico um elemento fios6fico, sipurbase ma antonomia da ideologia: cra a condicio de sua extracio. Uma fordem de idéias era posta a parte da pritica histories. Além do mais (mas ss ‘duas operagies sio paralelas), marcando as divergéncias entre os “fildsofos" que eram descobertos sob seus mantos de historiadores, referindo-se ao inson- dlivel de suas ricas intuigGes, faziasse com que esses pensadores se tornassem tum grupo isoldvel de sea cociedade seb 0 argumento de su relacio direta com © pensmento. © recurso 8s opcbes pesotis fazia com que entrasse em cutto- circuito o papel exercido sobre as idéias pelas locaizacdes sociais*. plural dessas subjetividades filosbficas produzia de imediato 0 discreto efeito de con- servar uma posicio singular para os intelectutis, Sendo as questBes de sentido

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