You are on page 1of 15
Copyright © 2019 by Hamilton Matos Cardoso Sinior.Thiago Costa (orgs) Editora Kelps Rua 19 n° 100 — St Marechal Rondon- CEP 74.560-460 — Goidnia — Go Fone: (62) 3211-1616 - Fax: (62) 3211-1075 !ps@kelps.com.br / homepage: www kelps.com br E-mai Diagramagao: Marcos Digues diguesdiagramacao.com.br CIP - Brasil - Catalogacio na Fonte DARTONY DIOCENT. SANTOS - CRB-I (1* Regido) 31294 JUN Cardoso, Hamilton Matos Cardoso. Ciéncia na fronteira: ensino, pesquisa e extensio no IFMT = Campus Fontes e Lacerda. - Hamilton Matos Cardoso Jinior, ‘Thiago Costa (orgs). Goiénia / Kelps, 2019 326 p. ISBN:978-85-400-2880-7 | Ensino. 2. Pesquisa - extensao. 3.Artigo. |.Titulo. (DU: 378(045) Indice para catilogo sistemético: ‘CDU: 378(045) DIREITOS RESERVADOS zs ualquer forma ou por qualquer meio, sem a € proibida a reproducio total ou parcial da obra, de qualquer i * A i ito dos autores. A violagio dos Direitos Autorais (Lei n* 9.610/98) autorizagio prévia e por es crime estabelecido pelo artigo 184 do Cédigo Penal. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2019 255 ALD DEANDRADE:A ESCRAVIDA os ONETO E BRANCOS YO EM Gislei Martins de Souza Oliveira’ Introducao A proposta consiste no estudo dos poemas que trazem a tema- tica da escravidao presentes na seco “Poemas da Colonizagao’, do li- yro Pau-Brasil (1925) escrito por Oswald de Andrade. Observa-se em que medida Oswald de Andrade articula, de forma poética, 0 processo historico referente as mazelas da escravidao no Brasil. A poesia oswal- diana radicaliza o efeito de estranhamento quando projeta a violéncia oriunda das relagdes de poder a época da escravatura. Baseia-se, de um lado, na critica literaria (Santiago, 2002; Oliveira, 2002; Candido, 2000; Moraes, 1988) produzida sobre o Modernismo no Brasil na ten- tativa de mostrar como a pesquisa lirica deste movimento estético-lite- le resgate da tradicao. De outro, tem como 1992; Ribeiro, 1995; Todorov, 2003) que tratam dos resultados do processo de colonizagao, como também do desenvolvimento econémico do Brasil com a voga do ideario progres- ae vendo assim, torna-se possivel pensar na forma poética com que en d ge Andrade delineou uma etapa da historia brasileira silencia- Pelo discurso oficial. ririo exprime uma atitude d suporte tedrico autores (Bosi, pe Doutora em | ep ee 7 . ple ‘fmtedube (UNESP/Assis) e docente do IFMT (Campus “Fronteir Oeste). E-mail: gislei.sou 256 Gislei Martins de Soura Olvera Cenas da escravidao OLLI we : que estais. O Um negro gira a manivela do de vio rotativo em menor descuido vos fard partir na diregdo oposta ao vosso 0 tino | ; (Oswald de Andrade, Manifesto da Poesia Pau-Brasil). A passagem extrafda do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (1924), que se constitui como epigrafe deste trabalho, sugere-nos em que medi- da Oswald de Andrade concebe a figura do negro como propulsora dos mecanismos de producdo econémica no Brasil. Mesmo 0 mundo oci- dental se chafurdando nas ideias liberais, 0 Brasil ainda mantinha res- quicios de uma economia baseada na exploracio do trabalho escravo. A modernidade oriunda dos grandes empreendimentos locomotivos nao trouxe consigo, até entao, o trabalho livre para o pais. Dessa maneira, Oswald de Andrade mostra que a economia brasileira correu 0 risco de naufragar caso nao houvesse a mao-de-obra escrava para sustentar as insignias do progresso no pais até o final do século XIX. A ideologia liberal, de cunho retérico em nosso pais, argumenta Roberto Schwarz (1992), coexistiu com © escravismo, o qual mantinha a economia latifundidria de €xportacao. O autor apresenta o emprego “fora de lugar” das ideias europei asileira que, segundo ele, “envolvia as relacé. a ismo no pais, a nossa dependéncia econdmica e seu par, a hegemonia intelectual da Eu- dio constant Pe Capital” (1992, p24), Modernidade e escravi- da unidade nacional, conforme que medida a esctita nna, do escravagismo no Brasil, percebemos em ane te Pottica da histéria, feita por Oswald de Andrade sth torna-se significativa Para entendermos as atrocidades cometidas contra um POVo para a Manutenc4, 6 €M Nosso pais. Oswald de Andrade tr: ens wes ae ee i ; a2 A luz a violencia silenci discurso oficial quando delineia um quadro da ye aes pelo ‘Otidiana do ne- 8T0 época da escravida ao i ip craVIdaO. A secao intitulada “Poemas da colonizacio” onsiste em uma das Nove c 257 Partes que ap «c 7 ria do Brasil’, “Poemas da Solonizacagn at Olivrg Pau-Br, ip, » “Secretario dos amantes” « Osten > Sao artinhge es asl “Histo. “toyde brasileiro”. A referid sda | ep? RPV “Cara. S550 & con, “ight, Roteiro ~ i Dy quais apenas dois nao tratam q Osta a ich izacho. Fatemos o estas con ement® 0 negro $ estabeleg; AS @ mos £°M 0 poema ‘A TRANS Ac Joencena a relacio mercadologica estabelecida humana no Brasil: poético sobre as relagde: prasileira. Ini 4 oligarquia ¥ * que desde 6 tity. Pelo Comércio de carne O fazendeiro criara filhos Escravos €scravas Nos terreiros de Pitangas e jabuticabas Mas um dia troc ou O ouro da carne pretae musculosa As gabirobas e os coqueiros Os monjolos e os bois Por terras imaginarias Onde nasceria a lavoura verde do café (ANDRADE, 1991, p. 85). Temos um poema Cujo efeito narrativo situa-nos diante “ es “pi ”, “jaboticabas’, “ga- da matizada por elementos da natureza ( ‘pitangas’, a eae i i ismos arcaicos birobas”, “coqueiros) e, ainda, por SaecanisrnD Sani iglamee “pitalista (“carne preta e musculosa’ monjolos’ ae a ae ttés verbos compéem o poema “criara’, “trocou” e ; rn aoa ideia do movimento temporal entre um passado Uretérito ‘mais-que-perfeito), um pa ior a um fato passado (tutu- eto) rare geo ue oe OCOLLes os coals ansformagio de um stra a trans - éri poral mostra at “mais moderno’, "0 do Pretérito). A passagem temp figamos “mais m . ipa . Stmato €conémico tradicional para outro, v4 proprio poema 2 me: strutura Que tem, como divisor de aguas na estrutu ta e ci escravidao é vista ulosa’. A escra ido rr us é la carne preta e m' do pronto e acabado (pretérito como pee 258 Gislei Martins de Souza Oliveira aa transicao para uma forma de produ- O mesmo ouro que enriqueceu muitos 1 do sistema capitalista pela exigéncia eo branqueamento do pais por meio estésico projetado pela imagem da io de progresso trazido pela alite- re os coqueiros € Os monjolos uma etapa da histéria que marc: g4o baseada no trabalho livre. proprietarios de terras foi exclufd de uma mio-de-obra que possibilit do processo imigratério. O efeito sin lavoura de café associa-se ao imaginari rag’o do “s”, como se 0 vento que passa ent levasse-nos a um lugar utdpico. JA na interpretagio deste poema pel drade consegue fazer a sintese entre poesia € prosa. Segundo a assertiva deste escritor no “Manifesto da Poesia Pau-Brasil’, a poesia deve existir nos fatos, o que explica a necessidade de fazer uma reescrita do passado em Pau-Brasil. Nas palavras de Antonio Candido (2000, p. 124), 0 Mo- dernismo pode ser considerado a tendéncia mais auténtica da arte edo pensamento brasileiro: rcebemos como Oswald de An- Nele, e sobretudo na culminancia em que todos os seus frutos amadureceram (1930-1940), fundiram-se a libertagao do aca- demismo, dos recalques histéricos, do oficialismo literario; as tendéncias de educagio politica e reforma social; o ardor de conhecer 0 pais. ‘Ao propor libertar-se das amarras que prendiam a literatura a es- crita académica, o Modernismo, no argumento de Candido, conseguiu alcar uma expressdo livre e auténtica de um pais repleto de contrastes, principalmente na poesia. O critico ainda assegura que este movimento estético exorcizou os recalques histéricos, étnicos e sociais quando pds em destaque os elementos populares negados pelo academismo. Can- dido afirma que assim 0 mulato e 0 negro foram incorporados como temas de estudo e adquiriram estado de literatura, Em “Poemas da Co- lonizagao’, Oswald de Andrade apresenta 0 seu compromisso com a tradigao na medida em que projeta o universo atroz em que viviam os negros nas senzalas das grandes propriedades de terras:

You might also like