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A historia € sexuada ‘Tania Navanno-Swain Aquila que jamais foi escrita ¢ feminino Carole Martinez O ser humano & histérico, Eas relagdes socie! arias igualmente. A historia e a historia da arte s40 narradas segundo a propria historicidade destes discursos: os fatos assim destacados dependem da importancia gue hes € acordada, das redes de sentido ¢ dos valores que circularem no momento de sua explanag ao. Sao, assitn, as condigies socioculturais, politicas, imagindrias que fundam as representages do mundo ¢ determinam as posiges designadas aos individuos, bem como seus limites € possibilidades de acao. Todo discurso é, portanto, situado, no tempo € No espago- As significagoes se entrelagam ¢ tornam-se nédulos estaveis de verdades admitidas que permitem a diversidade de relagées sociais, ou, a0 contrario, as enclausurarn em restritas normas. Assim, uma cenografia de configuragées: imaginirias/linguisth simbilicas define os seres em instancias de igualdade ou de dominag ao; estabelece, desta forma, nomes ¢ identidades, criando. similitudes ¢ “diferengas”. Ora, nao se € “diferente” senao em relagao a alguma coisa ou a alguém. Nesta Perspectiva, uma comunidade discursiva se estabelece para fundar o nds” © os outros, os diferentes. “Nos”, aqueles que tém importancia, um idadania, de autoridade, Nas lugar de fala, um status de sujcito politico, de Sociedade: . wn i ociedades patriarcais, o “nds” € 0 masculino. 4 $: 0 GENERO ENTRE A HisT6g, £-TRAMA: IA ® SAGENS Pal “Aur 52 os se instalam deve, dec desorde rn te lominado, utilvzada fon olado, subjugado, dominado, utilizado, Aniquitds iado, ah eméria. Desta forma, os discursos Produzig ado da m 1 os jdade/inferioridade dos ea ee sustent, riori - ; a “di sobre 2 oles priticas de exclusio. Pois d a" feren justificativas der de seu “referente”, 0 masculino. importancia € P tanto, nomeados € percebidos pelos Contornos fo, portanto, | ( c OF ser ade jh que se tornam tais como so definidos, am 50 atribuidos ~~ Ins oar jiveO individao nfo é mais mestre de eeu proce Tei pois seu ser jaé determinado pela esséncia que se the cor jetivacio, pois esséncia que rosea da identidade soci ‘ m a marca exterior ntidade social E assim que os corpos se tornal Outrem, pelo oe Nad ga Aascem 9 Uma 0 de stréi, Para exprimir a diferenga. Quer se trate de judeus, de indigenas, de aborigenes, de negros, de MULHERES, uma diferenga “natural” é instituida para melhor selar a dominagao: é o biopoder, a biopolitica em a¢io, a instituigao e colonizacio dos corpos. A naturalizacao da diferenga tenta esconder, de fato, que as relagdes sociais sio baseadas sobre varidveis axiolégicas, dotadas de uma incontornavel historicidade. O “ser mulher” nesta perspectiva, nada tem de uma esséncia qualque, mas € uma figura contingente ¢ histérica que aparece quando a “diferenca” Se tora instituicao. Neste sentido, no existem papéis histéricos fixos pars as mulheres, apesar do que nos querem fazer crer. Ou seja, o tecido historico esconde em suas dobras o possivel de relagdes humanas muito diversas do que hoje conhecemos, Além da violéncia mate: 18 tradicio, a religido,a memi6ria social, a filosofia,a produsio do conheciment , 05 meios de comunicacio, a fj a, a arte, € claro, 4 forca bruta, ‘a¢4o, a literatura, a arte, O grupo defini seit ctnido pelo sexo enquanto “mulheres” especificadas por um 7 “ : a 4 predominincig nn’ P °Posigao “o home’ , aquele cujo sexo afirm: imagem e representa Ttlade. Assim 6 © masculino que encam2 Ntacao foe Stiagio humanas,*° 4 humano como a fonte de toda produsao . 4 lualismo biossoe: : : a 4 cartografia do Social ¢ ‘i © biossocial ¢ da hierarquia que se dese” i ¢ dobry . ‘obra a esta dicotomia, pois ha aqueles dos 4 MARGARETH RAGO * ANA CAROLINA ARRUDA DE TOLEDO MURGEL, 53 s que sio silenciadas e esquecidas. Desta sorte, na histéria s hist6ricas mais gerais, as mulheres nao aparecem se fala e aquel da arte ou mas narrativ: sa de forma marginal ou como excegTO A regra, Braidotti afirma que: Ac posigoes ‘ser idntico a’ ‘ser diferente de’ definem, portanto, as relasées ssimétricas de poder. “Ser diferente” tornou-se sindnimo de “valer mais que”, a diferenga assim adquire conotasdes tanto essencialistas que fatais, reduzindo categorias de corpos descartavcis:ligeiramente menos humanos ¢ em consequéncia, bem mais mortais. (Braidotti, 2009: 75) nteiras de individuos — marcados como sendo os outros — ao status ‘A “diferenga dos sexos” é sempre invocada para limitar a participasao das mulheres aos eventos politicos, sociais, esportivos, artisticos, cientificos, para jmobiliza-las e reduzi-las a seus corpos e, sobretudo, para limitar suas presengas € capacidades nos fatos ¢ na meméria dos acontecimentos. O masculino expulsa assim 0 feminino do humano € da histéria da humanidade a partir de sua “diferenga”. Pois ha o humano e as mulheres. Hi a Arte — masculina e em maitisculo — e a arte das mulheres, atividade secundaria e menor, ou seja, doméstica. Na organizagio intrincada de fatos que compédem as narrativas histéricas, podemos encontrar quatro momentos: a — oacontecimental, aleatério, que deixa, porém, vestigios esparsos; b—o da elaborac’o discursiva sob formas diversas (imagens, documentos, relatorios etc.); ¢ — odalcitura e selegao destes tiltimos para dar corpo & sua narragao interpretativa, dita “histérica”. d — ode uma histéria cujo lécus de enunciagao se expe, assim como aginacio, isto é, uma histéria que no em sua anilise, o regime de verdade lores, normas € significados. suas condigdes de produgao € de im: busca a verdade, mas tenta decodificar, em que se inserem os enunciados, com seus val O primeiro momento concerne a explosio dos eventos, 0 fortuito onde se produzem os fatos humanos: uma infinita diversidade, fragmentos IMpossiveis a apreender em sua pluralidade social e suas maleav Significagées temporais. pAIsAGENS © “PRAMAS: O GENERO ENTRE A HISTOR ® 5A Anan res humanos adquirem suas faces € contorno, se E 8, habj nde os ¢ eee , i: Eo! idos € valores cUuja marca € 2 historicidade, Assim, na ca dog por sentidos © V8IOTS? iagoes bindrias ¢ hierdrquicas em tog, 5 Pode i la aro univers: - a a pa 4 nenhuma 1aza0 plausivel para que os papéis es ¢ nio hi i ira a~ oral. Sobretud aig dénticos, de maneira a-temp 0 paraanams fundamento € a temporalidade. E neste nivel que se pode encontrar 0 oe do novo, distante & mondtona narrativa do Mesmo, da sale Ge da diferenga, 4. reprodugio como vértice das relagdes humanas. O gosto da histori, . i .scoberta. Poe omunidade discursiva, “nds” patriarcal comanda avis ig sociais a partir da dominancia Tepresentacional justific desde sempre; sejam sempre x histérica, Cujo dos incontiveis arranjos : i do sexo ¢ da heterossexualidade reprodutiva. Os sentidos e verdades que circulam no presente so derramados sobre um passado obscuro do qui quase nada sabemos. ae ‘Assim, no dominio da educagio € da divulgacao, em todos seus niveis surge “homem” como sinénimo de humano e de sujeito de agio. Toda significagao €, portanto, criada em fungio do masculino e para a meméria social as mulheres nao teriam participado dos acontecimentos humanos senio como espectadoras ou moeda de troca. E deste modo que a a¢io politico-social das mulheres é obscurecida pelo etnofalocentrismo da narrativa histérica que se ocupa apenas dos fatos e gestos masculinos. Uma crescente vaga de pesquisas feministas atuais apresenta, assim, a presenga, desde a alta antiguidade, de personagens histéricos femininos em fungées de realeza ou administrativas/religiosas, artisticas, pouco ov nunca mencionadas Creta, Esparta, as estepes da Asia Central e da Asia Menor, nore da Africa, paises arabes, Ira, Traque, China, paises da Europa continental a Povos entre os quais as mulheres exerciam i : se fala das ml ee ne Mas na antiguidade anterior 20s ele os universitarios e secundaries en obras muito expecalizadas) © formas sociais destas épocas que, entn geral nem se mencionam 35 1h dp caminhar hummano, Potéry oe eon em mais Jone eet complexos,dleixaram uma : z fatos sociais, ilimitados e in ints Srafismos que exprimem, P 0: lusio de pistas, tracos, monumentos,P! $s mistérios de mundos inesperados.

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