You are on page 1of 7
Walter Benjamin: mimese ¢ destruigao Claudia Caimi unyut Estudos teGricos ¢ analticos de autores como Wolfgang Iser (1996) ¢ Paul de Man (1986) apomtam paca 0 Sato de a literatara moderna romper com © cetites mimético por apresentar obras nio mais ancoradas nas estruturss Ficionais tradicionais. Hssas obras volram- se para si mesinas, negando-se ao referencial, compendo com @ ctonologia ¢ desarticulando a finearidade do discuiso. A ao-linearidade temporal conduz a uma nio-historicidade, esgotando a obra na escritura, no mais havendo uma representacio da ordem de reprodugio do teal como pretcndia a obra realista. Esse ponto de vista entende que @ literatura moderna jincorporou vitios recursos antimiméticos, que sugerem ser a obsa litcritit uma consteugio puramente lingistica, pois a quebea da ilusio referencial através da dispersio do enzedo, os novos processus de composiglo das personagens ¢ a reflexio sobre a propria eriagio obscurecem o ideal de representacio clissico, recusando-se a clatificar 08 contextos que mostram relagdes entre sujeitos ¢ fatos, de forma que retira o sentido dos contextos e reforga 4 propria condigio da escritura enquanto portadora do. mestno. ‘A visio clissica da mimese, independente de o clement anterior & sepresentagio ser considerado @ narureza ou a sociedade, aponta para algo que cxiste concretamente € imediatamente como material, num processo em que a mimesc, apesar de poder transformer, deslocar, representar ov refletir esta realidade, esti sempre investida de um estaruto de subordinagio/realizagio em selagio & imediaticidade ¢ concterude desta materialidade pré- cexistente, Mais do que esta relacio, ¢ a capacidade de totalizacio, de configuracio de unidade, ‘que € reinvidicada por esta compreensio, Assim, diante da obra de arte literésia modernists, que muitas vezes apzesenta uma auséncia de estrutura, dificulando a percepgio de sua Tetrar 23 — Troma © Aworarsmo 33 eventual zotaidade, a valdade da categoria da mimese € questionada. A literatura mioxerna se estabelece em relagdes de contrariedade que se afastam da objetualidade © destituem a possibilidade representativa em jogos discursivos que tém um cariter aio realizével, pois apresentam-se como transgressdes de referéncies reconbecivis Seo romance realista resiza plenamente os preceitos de uma mimese estabelecida na objetualidade, na tazio ¢/ou na capacidade de representar ficlmente o real na sua totalidade de conteddos ¢ formas, isso se deu pela corteza, calcada em Descartes ¢ Locke, da capacidade € possibilidade de o homer (artista) poder constiuir ¢ compreender 0 mundo cotidiano como sc Ihe apresenta, No principio de que muado exterior € compreendido como real e de que os sentidos podem perceber verdadeiramente esse mundo. ‘A narrativa modernista, bem como toda a aste desse perfodo, destitui essas certezas Conforme descavolve Rosenfeld (1969, 147-172}, a aste modernista nega o compromisso com o mundo temporal e espacial posto como real ¢ absoluto pelo redlistio, desmasearzndo como relative e aparente a posigio de “consciéncia central” do sujeiso cognoseeate. Paz isso nio 56 tematicamente, mas prineipalmente através da assimilacio da relatvidade & propria estrutura dda obra, sua forma. Com isso, instabiliza o espago, modifica a ordem cronolégica destituindo. 4 suressin temporal, fundindo passeclo, presente e futuro sem delimitar nitidamente os niveis temporais, bem como desmascara a Jei da causalidade, que sustentava o enredo do romance realista em seu encadeamento lSgico de motivos ¢ sitagoes. Também a personage deixa de apresentar o sctrato de individeos integros. A énfase nfo mais no seu catiter, mas em cercos ‘mecanismos psfquicos e com a ajuda de uma focalizagio do aartacor que se omite enquanto intermediixo, fax emergir diretamente a consciéncia da personagem. em flaxos de consciéncia ‘e mondlogo interior, que desfavem o individuo em favor de mecanismos psiquicos fundamentais ou de sieuacdes humanas arquetipicas. A realidade deixa de set um mundo cexplicado, ressalta Rosenfeld, ¢ a obra de arte modemista incorpora 0 estado de fluxo insegoranga dos valores em teansi¢ao em sua propria estrutura ‘Agui a mimese esti frente a frente com scu fim, Se no romantismo o abalo 20 rmimética se deu a0 volter-se 0 postico pura 0 auror (ndividualismo) e para estados sensoriais objetivismo), com a axie modesnista 0 rompimento dat-se-d a0 voltarse o Ttesirio para a forma e pasa 4 linguagem, Desfazem-se novamente os lagos abarentes com o social enquanto realidade constituida, negando principalmeate qualquer possiblidade de totalizagio, pois 0 mundo moderno se cstabelece na polissemin, na dissonincia cognitive, nas. definigdes polivalentes, na contingéncia, nos significados sobrepostos, o que limita a teanspaténcia do mondo, a sua ordem, ‘A. literstuta modssnista nega-se coma. passihiidnde de represenin paradesalmente sefugiando-se na dimensio em que Lakées via a possibilidade de cotalidade da obra de arte, no aspecto formal da obra. Ao voltarse para o formal ¢ para a linguagem, fragmentando os elementos narratives, sacionalizando a0 maximo a escritura, estabelece-se 0 patadoxo de esses processos consticuirem uma similirude para com a consciéncia modema, fundada aa ambivaléacia de ina eelebragio destituidora de sentidos, de forma que se pode dizer que fai uma mimese que nega os pressupostos da mimese realista, € mesmo os de uma mimese de identificagio, ¢, 40 mesmo tempo, acolhe-os. E, essa complexa formulagio que induz & petmanéneia da discussio do conceito na flosofia e na estética contemporinca a partie, de pontos de vista que estabelecem a ambigiidade do conceito em relagées de similitades, de Aiferengas, ou mesmo de correspondéncias. Nesse sentido s6 é possivel acolher a idgia de representagdes literirias de experiéncias politico/sociais, de correspondéncias entre o literitio € 0 histico, se 0 proprio conceito de mimese for imbuido por uma nova visio de histéria € pela expetiéncia ambivalente da modernidade, Walter Benjamim ¢ quem parece melhor perceber essa complexa formulagio da 3 Broggama de Pir Gradingio am Te FSM arte modernista ¢ sua correlagio tensa com 2 cultura, politica ¢ a economia do nosso século. Sua compreensio da nova realidade mulificetiria'e ambivalente do mundo moderno & expressac auma dimensto filosofiea que também se muxre da ambighidade que esti na constituigio desse periodo desigual ¢ de dificil apreensio, As estcitasligagdes, se quisermos correspondléncias, entre 2 historia, 0 conhecimento e a arte estahelecdas por Benjamin nto 10 imbito de suas ideias, como de seu mérodo filos6fico, levarn 9 considcrar @ mimese como "um conceito-chave do seu pensamento critic. O conceito de mimese proposto por Benjemin (1992) esclarece/delimita saa negagio a um pensamento segido pela Logica da identidade e da ‘do identidade do processo dialtico e sucessivo da conttadicio e recompoxigio. Substitui este por uma l6gica da semelhanga em que nunca bi identidade entze sujcto e consciéncia e sim uma contigiidade, um “ao mesmo tempo” que possibilta, em alguns momentos, como relimpagos, figuragdes privlegizdas, imagens, que no negim o outto, pois a natuteza mimética € uma presenga-ausente que se manifesta nas correspondéncias no tempo © n0 espago. © autor toma a mimese 2 partir das duas principais compreensdes entre as quis ela cscila, de uma semethanga sensual ¢ de relagio distanciada para com o objeto, ¢ constréi um. conceito ambivalente em que, ao mesmo tempo, mimese é © medium, 0 lugae onde se dt a relagio de semelhanca e a impossibilidade de sestituigio desse movimento original. Nesse sentido, « natureza miimética na modernidade mostra-se como uma presengs ausente que se manifesta nas cortespondéncias nio-sensiveis ¢ que esti velada na linguaem © na arte, Benjamim busca resgatar um momento nomeador no qual nfo hi distineia entre a palavea © 4 coisa ¢, 20 mesmo tempo, mostrar que essa relagio imerliata nfo é mais possivel a parsir da dlistincia impeimida pelo signo que tansforma a inguagem em meio, em mediagio. Mas é justamente nela que a mimese pode ser vislambrada como uma fulguracio nto apreensivel (© reconhecimento da distincia entre os elementos do mundo constirul um indice da ppresenca ca morte, da dimensio de perda de uma relagio de semelhanca fndamental, fazendo surgic um mando esvaziado que aponta para a separacio entee imagem e signifiacio. E na auséncia do objeto a linguagem que o casiter original mimético se fez presente de forma velada, evelando 0 vazio da significacio, Benjamim entende a origem da linguagem de una base mio saussureans, da arbitariedade fundamental do signo e da funclo referencial © comunicativa da linguagera, pportacto signifcativa, mas de uma origem mimética fundada na onomatopéia © nz mimica estual, no gesto expressivn, ¢, portanto, como manifestagio do ser, Benjamim também entende que na origem ha uma comunhiio material imediata da linguagem com a natureza, um estilo de pura comunteablidade. TE nesse espaco do ndo-comenieivel que Benjamim siz 0 pottico, 0 earater arsicn do liter. Como essa dimensio visada pela literatura munca é atingida plenaments, apresenta-se sempre velada, sua inacessbilidade € mimetizada na obra, Nesse sentido, a mimese moderna é rmimese da morte, dos destrogos de uma toralidade verdadeira, da separacio dos nexos da vida, Refletindo sobre a modernidade através da poesia de Bandelaite, Benjemin cefere-se as experiéncias do homem moderno como as de um herbi, pols sio avcessivias Forgas superiores 4 fim de suportar as presses da vida modetaa, Nessa, a novidade esté sempre prestes a se ‘eansformar em algo velho, havendo uma incontrolive! substituicio do novo pelo nova, 0 que igera uma apreensio da temporalidade a partir da consciéncia da morte, ji que encena-a constantemente na intencio, de deteriorizacio e perecimento com que as coisas S40 produzidss. O casiter herdico do pocta moderno vem da impossibilidade de uma producto ‘que tenha um cunho de efetividade em uma sociedade em que tudo esti sob o signo da precariedade, estando seu trabalho fadado ao fracasso. O heroismo esti em lutar contra seu Tetray PD Treats AMoeTae aT 35 destino inelutivel de tentar estabelecer entre a expetiéncia artistica eo piblico (agora jé configarado como mass), uma ligacio impossivel frente aos ideais da modemidade, em que & rodugio attistica mudou diante da manifestacio imediata da incorporagio da forma da mercadoria na obea de arte ¢ da forma da massa no puiblico. Benjamin evidencia 0 novo tipo de percepcio do homem modeso aa vivéncia do chogue, assinalando que “2 vivéncia do chogue, sentida pelo transcunte na multdio, corresponde a ‘vivéncia’ do operirio com a méquina” (1989, 126). Essa corsespondéncia é mostrada nas técnieas modernas de reproducio artistica entre as quais o cinema é o melhor exemplo, pois se constitu por uma cadeia de montagem e por um desempenho do ator, independente de qualquer contexto vivido, processo semelhante a0 trabalho do operitio na fibrica, excluido da totalidade do processo de producio. Também o cinema assemelha-se 20 movimento das massa, jé que a imagem é substituida constantemente, néo podendo ser retida pelo espectador. Isso provoca um efeito de choque, segundo Benjamin, pois a associacio de idéias do espectador € interrompids a cada mudange de imagem, dele exigindo um esforco de pexcepcio. Da mesma forma, a poesia de Baudelaire insere a experiéncia do choque no seu amago, apresentando um allo giau de woustiealiaaio yue Wauslonum a “vivéucia” do choque em “experiéncia”, a partir de um plano atuante de composigio, Essa distinglo se faz fundamental na compreensio do cariter mimético da poesia de Beudelaice ¢ da mimese na modernidade, pois 0 conceito de experiéncia faz-se paralelo ao de mimese ao fundar-sc na memétia ¢ fixar- se nas correspondéncias. A experiéncia (Exfairng) Benjamin contrapde a vivéncia (Hriebni), pois o individu modemo s6 tem a pequena experiéncia individual, que nio pode ser partilhada porque € s6 sua, sendo quase incomunicavel, enquanto experiéncia é suprs-individual, perpassada pela tradicio, mas nfo por um passado neutro ¢ ligado aos vencedores, mas por uma tadigio descontinua, em que nfo ha um fluxo no qual se apoizr. F.nesse sentido que Benjamin, tecorrendo a Bergson, Freud ¢ Proust, considera a memoria decisiva para a experiéncia, pois essa se forma por dados que afluem & memiria, dados esses mais inconscientes do que fixados A ttela do intelecto, No entanto, na modernidade a expacidade de wocar experiéncins é impossibilitada, como Benjamin demonstra no ensaio “O narrador”, em que é pensada a contraposigo entre a narrativa cléssica € 0 romance modemo, Enquanto a narrativa esta assentada na experiéncia, propria ou relatada, do narrador, que 6 imegrada a sua vida e repassada a0 ouvinte como uma ionga formagio, vineulada & tradi¢io, o comance segsegou-se 20 individuo, busca o sentido da vida na solidio de um individuo gue nao consegue exprimir-se exemplarmente, pois se mantém reduzido ao pequeno presente. ‘A. meméria vineufada A experiéncia perdida na modemidade esti ligada a uma “contradigfo essencial entre o perecer da meméria ¢ 0 desejo de conservar, de resguardar, de salvar © passado do esquecimento” (1984, $1). Como bem esclarece Jeanne Marie Gagnebin, os ensaios de Benjamin sobre Proust ¢ Katka nos dio 2 medida da possibilidade da restauragio da figura do narrador na modernidade. Frente ao desmoronamento da tradigao € numa nova relagio com a morte que outto tipo de nacratividade pode surgir. Fm Kafka, diz a autora, o cere da obra esti no na superacio, substituigio de uma tradigio esvaziada, mas na persisténcia de, no avesso desse nada, fazer ressurgie as figuras do esquecimenta e do esquccida, incluindo o recaleado no projeto messiinico de uma reintegtacao total do univers. Em Proust, @ meméria involuntiria é mais préxima do esquecimento que dz memoria, ele Jembra-se no mais profundo do esquecido, naquilo que ja foi perdido. Emam estado de correspondéncia com uma temporalidade vazia c corrosiva, que surge da disténcia ¢ da 38 ~Biogiama de Pos-Graduacio om Letas- UFSM auséncia, mas tomada presente na inguagem, que a nasragio pode preservat a irtedutbilidade do passado inacabado, bem como responder ao apelo do presente e a promessa do futuro Se na pocsia de Baudelaire © no romance de Proust ou Kafka di-se uma “mimese da morte”, ligada « um citculo social entzeacado ao capitalismo e A sociedade mereantilizada, que cevidencia « interagio do envelhecimento da morte com a reminiscéncia, a mimese na arte contemporinea peesentifica um mundo em estado de semethanca, Nesse, 8 cortespondéncias cestio situadas “comtiguas & nogio de beleza moderna” (1989, 131), numa contradicio crindora fem que a recuisa & natureza se enteelaca is correspondéncias natura. ‘A obta de Baudelaite mostra-se como expressio da_mimese na modernidade, transforinada pelas condigSes de producto e percepeo que elu Ihe impés. Permanece no ‘conceito uma dimensio mitica atravessada por uma transformacio alegérica que mina o ‘ternamente idéntica, desiruindo as conexdes que tegem o mundo histérico © lbera as cotrespondncias, os dados do rememorar, de una experiencia anterior ¢ imemorial através da geal 05 objetos se tormam plenamente coneretos. E esse aspecto que Benjamin ressalta em Baudelaire, pois seus poemnas sto extraidos no somente do éxito das correspondéncias, mas também da sua insuficiéneia. Benjamin mostra que, nos poemas de Sper « Idsa, «ideal sugere a forea do rememorar enguanto 0 splten mostta a morte, a consciéncia temporal. F esse segundo sentido que ttaz uma. dimensio hnova para a reflexdo da mimese modema, pois na modernidade, exemplificada em Baudelaire, 4 relagio com 0 mundo s6 se eferua através da aparéncia iluséria da alegoria, destruindo a jlusiio do vivente, Apaccatemente a alegoria poe em cheque a8 cotrespondéncias, ji que se coloca como um antidoto do mito, através da fixagio nos fragmentos, mas ruinas € na iversidade de sentidos, mas pars Benjamin o fundamento da producio de Baudelaire esti justamente nessa tensio entre percepgio ¢ reprodugio de semelhancas e 2 condicio alegorice a perda da aura que nos desvios e desteogos de uta totalidade verdadeira deixam entrever & auséncia presente na nossa linguagem. O conceit de miinese na moderaidade, a pattic de Benjamin, se teveste de uma presenga ausente, e, a mesmo tempo que faz aflorar os destrocos de uma sociedade que se quer continta ¢ totalizante, revela usta possibilidade de redengio nos estihagos da totaldace, na multiplicidade de sentidos que possibiita a emergéncia do diferente ‘A perspeetiva da mimese na modemidade em Benjamin surge como unca possibilidade messidnica, utdpica ¢, a0 mesmo tempo, inserida na historia presente ¢ passada Seu cardter ialético estabelece-se na ambivaléncia da preservacio © aniqullacio das dicotomias, num intervalo em que o comportamento empatico, a repeticio de si mesmo, © ientificar-se com 0 pencamento mitico, esti em relagio com a distineia, © descontinuo, com as uinas dessa totalidade anterior. Nesse sentido, a literatura moderna, que incorpora a dimensio da produgio de semelhangas nio-sensiveis e 0 reconhecimento das mesmas, também inclui aa ua produgio o cariter fragmentitio, 0 inacabado, a ttansitoriedade, através do cunho desttutivo da toralidade da obra, Ao voltar-se para os aspectos puramente macetiais, @ literatura moderna assimila na prdpeia estrutura da obra a reatividade, a casualidade, 0 flux de valores, a dissondncia cognitiva que limitam a transparéncia do mundo, ‘A destruicio/morte significa entio a destraicéo de alguma formna falsa ou caganosa de cxperiéncia ¢ se apresenta como condicio prodativa para a construgio de uma nova relago com 0 objeto, de forma que o elemento destrutivo assegura a autenticidade do pensemearo Uialético, Nesse sentido, 0 caréter destrutivo de alegosia, que deste a totalidade duséia do simbolo, da reprodugio mecinica, que deste6i a aura da obra de arte, da montagem, que destr6i a continuidade narrative, € a condicio de possibilidade da experiéncia (Enlabmng) de verdade na modernidade, on seja, a violéncia ¢ a destruiglo sto mimetzadas, de forma a fazer surpir de dentro delas uma dimensio redentora a Tetras #22 Dhertura © Auto

You might also like