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otencializado pela necessidade de reduzir que 80% das emissões de gases estufa até 2050, o
as emissões de gases causadores do efeito brasileiro estabeleceu para o ano de 2020 o desafio
estufa, o desenvolvimento de fontes de de diminuir em 80% o desmatamento da Amazô-
energia renováveis e limpas dificilmente nia, responsável pela metade de sua contribuição
resultará num modelo hegemônico. A para o aquecimento global. “Os compromissos são
tendência é que cada país crie uma com- importantes, porque o planeta ficará mais quen-
binação própria de matrizes, escolhida te por mais tempo se demorarmos a agir”, disse
entre várias categorias de biocombustíveis, a ener- Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional
gia solar ou a eólica e, mais tarde, provavelmente o de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do
hidrogênio, capaz de lhe garantir eficiência ener- Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças
gética e ajudar o mundo a atenuar os efeitos das Climáticas Globais, que vai investir R$ 100 mi-
mudanças climáticas. O estado da arte na pesquisa lhões nos próximos dez anos – ou cerca de R$ 10
básica e no desenvolvimento tecnológico aponta milhões anuais – na articulação de estudos básicos
para esse caminho, como mostrou o workshop e aplicados sobre as causas do aquecimento glo-
Physics and Chemistry of Climate Change and bal e de seus impactos sobre a vida das pessoas.
Entrepreneurship, que reuniu pesquisadores bra- As atividades do workshop integram os esforços
sileiros e britânicos no auditório da FAPESP, na desse programa. “Nossa intenção é impulsionar
capital paulista, nos dias 26 e 27 de fevereiro. a mitigação das mudanças climáticas e promover
Organizado pela Fundação e pelas instituições o empreendedorismo no campo das tecnologias
britânicas Institute of Physics (IOP) e Royal Socie- limpas, ao fazer um balanço dos progressos re-
ty of Chemistry (RSC), com apoio da Embaixada centes nos dois países”, afirmou Nobre.
Britânica em Brasília, da Academia Nacional de Naturalmente, a experiência brasileira com
Ciências do Reino Unido e da The Royal Society, biocombustíveis teve um espaço importante no
o evento discutiu experiências levadas a cabo em workshop. O físico Carlos Henrique de Brito Cruz,
várias partes do mundo, com destaque para o diretor científico da FAPESP, fez uma apresenta-
Brasil e o Reino Unido, países que recentemente ção sobre o sucesso da tecnologia de produção
tomaram decisões ambiciosas para enfrentar as do etanol a partir de cana-de-açúcar, responsá-
mudanças climáticas. Enquanto o governo britâ- vel atualmente pela metade do combustível con-
nico comprometeu-se a reduzir nada menos do sumido pelos automóveis brasileiros. Além de

capa

Cardápio
energético
Cada país terá uma combinação própria de fontes limpas de
energia para enfrentar as mudanças climáticas, conclui workshop
eduardo cesar

Fabrício Marques

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siemens

Mudanças globais poderão aumentar o potencial da energia eólica

substituir parte do petróleo, o etanol que multiplicou o número de cultiva- até que ponto seguiremos ampliando a
tem a seu favor o fato de produzir me- res da planta, adaptando-a a diferen- produtividade do etanol de cana”, disse
nos dióxido de carbono (CO2) que a tes realidades. Tais ganhos distanciam Brito Cruz. Para preservar a liderança
gasolina e parte significativa desse gás a tecnologia brasileira da utilizada nos tecnológica do Brasil – em especial de
ser reabsorvido pela cana na safra se- Estados Unidos, que extraem etanol São Paulo, que concentra a maior parte
guinte. O aumento da produtividade de milho e são os maiores produtores das plantações e do parque de usinas de
da cana desde a década de 1970 tem mundiais do combustível a poder de álcool do país – foi lançado em junho
sido de 4% ao ano, graças à pesquisa pesados subsídios. “A grande questão é do ano passado o Programa FAPESP de
Pesquisa em Bioenergia (Bioen), que
tem a ambição de estimular e articular
Potencial para crescer as atividades de pesquisa em institui-
ções paulistas e aperfeiçoar a expertise
A área plantada para produção de etanol de cana equivale que já existe nessa área.
a apenas 0,5% do território nacional O Brasil é um país atípico em ma-
téria de matrizes energéticas. Graças a
investimentos em usinas hidrelétricas
e em biocombustíveis, extrai 46% de
Área total do Brasil (100%)
sua energia de fontes renováveis, muito
além da média mundial, de 13%, e da
taxa de 6% dos países mais industriali-
Área ocupada por zados do planeta, aqueles que integram
propriedades rurais (42%) a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico  (OC-
DE). O investimento na tecnologia do
álcool combustível remonta ao final
Área usada para agricultura (9%) dos anos 1970, quando o país, abatido
Plantações de cana para pelos choques do petróleo, começou
produção de etanol (0,5%) a investir em tecnologias de explora-
Fonte: Horta Nogueira e Seabra (2008)
ção de petróleo em águas profundas e

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Com o advento
dos carros flex,
a gasolina é é verdade, pois apenas 1% da área
agriculturável no Brasil (ou 0,5% do
território brasileiro) é ocupada pela

que se transformou produção de cana para produção de


etanol, enquanto 49% desse territó-
rio é dedicado a pastagens. “É possível
no combustível ampliar várias vezes a área plantada
no Brasil sem causar impacto na pro-

alternativo do Brasil
dução de alimentos e sem a necessi-
dade de desmatar novas áreas”, disse,
mostrando que essa realidade pode
reproduzir-se também no continente
africano, dotado de áreas não utiliza-
das que poderiam ser direcionadas à
produção de bioenergia.
também na busca de combustíveis al- brasileiro, que as principais áreas de A polêmica havia emergido logo nas
ternativos. Os carros a álcool tomaram plantio, em São Paulo e no Nordeste, primeiras apresentações do workshop,
as ruas do país na década de 1980, mas situam-se a pelo menos 2 mil quilô- quando Richard Pike, executivo-chefe
quase desapareceram nos anos 1990, metros da floresta. Também abordou da Royal Society of Chemistry, criticou
com a queda do preço do petróleo. a polêmica internacional segundo a a opção de investir em biocombustíveis
A partir de 2003, com o advento dos qual o aumento da área plantada para para substituir os derivados de petróleo,
carros flex, que rodam com gasolina, produzir biocombustíveis resultaria sob o argumento de que isso colocaria
etanol ou qualquer mistura dos dois, o numa oferta menor de alimentos. Pe- em risco a segurança alimentar. E sus-
álcool combustível recuperou o terreno lo menos no caso brasileiro isso não tentou que, no caso da Grã-Bretanha,
perdido. Hoje cerca de 90% dos carros
novos vendidos no Brasil são flexíveis.
“A gasolina é que se tornou o combus-
tível alternativo no Brasil”, observou
Brito Cruz, ao lembrar que, se o álcool
Uma Itaipu de bagaço e palha
é vendido puro nas bombas dos postos, A geração de eletricidade com a queima de bagaço e palha de cana
a gasolina é comercializada misturada poderá superar em 2013 a capacidade da maior hidrelétrica brasileira -
a 25% de etanol. em 1.000 megawatts médios (MWm)
Brito Cruz destacou que a viabi-
lidade da produção do combustível 12
extraí­do da cana não deve ser encara-
da como uma saída obrigatória para
outras nações. “As soluções serão pe- 10
culiares em cada país e em cada região. Itaipu (9.699 MWm)
Após a Segunda Guerra Mundial, to- 8
dos os países passaram a perseguir a
meta de gerar sua própria energia ou,
6
quando isso não é possível, garantir o
suprimento por fontes seguras vindas
de outros países. E cada um seguiu esse 4
caminho buscando estratégias viáveis
para sua realidade”, afirmou. A ideia
corrente de que o avanço da cana am- 2
pliaria o desmatamento da Amazônia
foi contestada pelo diretor científico 0
da FAPESP. “Por uma série de motivos, 2006/7 2007/8 2008/9 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13
é uma má ideia plantar cana na Ama-
zônia”, afirmou, mostrando, no mapa bagaço (75%) bagaço (75%) + palha (50%)
Fonte: ÚNICA

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Esforços de pesquisa básica e apli-
cada em busca do que se convencionou
chamar de etanol de segunda geração,
a ser extraído de lignocelulose, foram
explorados pelo britânico Richard
Templer, do Imperial College, e pe-
lo brasileiro Elói Garcia, do Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial (Inmetro). O
desenvolvimento de tecnologias para
produzir etanol de lignocelulose abre a
perspectiva de multiplicar a produção
do combustível, extraindo-o de plantas
e resíduos agroindustriais. No caso da
cana, permitiria o aproveitamento do
bagaço e da palha, que compõem dois
terços da biomassa da planta. Templer
mostrou o trabalho da Porter Alliance,
rede de 130 pesquisadores de diversas
instituições britânicas, para desenvol-
ver opções sustentáveis de combustíveis
siemens

Coletor na Alemanha: 40% do potencial fotovoltaico é aproveitado renováveis a partir de lignocelulose.


Entre as linhas de investigação há, por
exemplo, estudos genéticos para obten-
a energia solar e o combate ao desper- itens, além do açúcar e do etanol, como a ção de novas variedades de plantas ricas
dício são as soluções mais sustentáveis lisina usada em suplementos alimentares, na matéria-prima, como o salgueiro,
para atingir a meta de cortar as emis- poliésteres, celulose, vitamina B, solven- o álamo e gramíneas do gênero Mis-
sões em 80%. “Se a diretriz da União tes, polietileno e energia elétrica com o canthus, e a otimização de processos
Europeia de substituir 5,75% dos com- bagaço, num exemplo de sinergia entre que degradem as fibras e permitam a
bustíveis fósseis por biocombustíveis alimentos, combustíveis e produção de extração do combustível – com o uso,
até 2010 fosse aplicada, mais de 19% materiais. “A cana é um poderoso recurso por exemplo, do fungo da podridão-
da área agriculturável da Europa seria de alimento, combustível e materiais. A -parda (Gloeophyllum trabeum). “Ne-
comprometida”, afirmou. Na apresen- área plantada em 2007 era de 2 mega- nhuma instituição de pesquisa sozinha
tação seguinte, Pike foi contestado pe- -hectares (Mha), mas existem no Brasil conseguirá determinar quais serão as
lo físico José Goldemberg, ex-reitor da cerca de 80 Mha de pastagem, grande escolhas mais sustentáveis. Esse traba-
Universidade de São Paulo, para quem parte subutilizados”, destacou. lho terá de envolver a cooperação do
o diagnóstico do britânico padece de
uma “visão eurocêntrica”. “Aqui no Bra-
sil há terra disponível para plantar cana.
É só vocês importarem o etanol do Bra-
sil em vez de produzi-lo”, afirmou. “A
produção de chá da Inglaterra dependia
Até 2020, cada país
da importação de matéria-prima das
Índias no século XIX.” europeu deverá ter
Sinergia - Fernando Galembeck, profes-
sor do Instituto de Química da Universi- dez fontes renováveis
a mais que as atuais
dade Estadual de Campinas (Unicamp),
mostrou que o contínuo investimento
em ciência, tecnologia e inovação no
âmbito da produção de cana-de-açúcar
também resultou na produção de outros

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mundo inteiro”, afirmou Templer. Já bombeamento de água, na geração Grã-Bretanha, por exemplo, todos os
Elói Garcia mostrou as pesquisas reali- de eletricidade e na refrigeração. “As novos edifícios deverão seguir o con-
zadas pelo Inmetro, em parceria com o células fotovoltaicas terão de ser in- ceito de carbono zero até 2018. Se es-
Centro de Pesquisas e Desenvolvimen- tegradas ao design das construções. E sas construções utilizarem energia que
to da Petrobras (Cenpes), utilizando o os arquitetos precisarão ser treinados contribua para a emissão de carbono,
aparelho digestivo de animais e insetos para isso”, afirmou Twidell, diretor por exemplo, elas terão que compensar
alimentados com bagaço de cana como do Centro Amset da Universidade de com o uso de alternativas como células
modelo para o estudo de microrganis- Montfort, no Reino Unido, que patro- fotovoltaicas, energia eólica ou biocom-
mos e enzimas capazes de degradar a cina pesquisa e educação em energias bustíveis”, explicou.
lignocelulose. Os modelos estudados renováveis e sustentabilidade. Para ele,
até agora envolvem ruminantes como o desenvolvimento da energia solar, que Desinfecção - Entre as diversas aplica-
bovinos e cabras, além de cupins, ba- ainda carece de avanços tecnológicos ções da energia solar, Patrick Dunlop,
ratas e besouros. para tornar-se mais eficiente e compe- pesquisador da Universidade do Ulster,
A energia solar é uma das grandes titiva, depende da criação de políticas na Irlanda, apresentou o trabalho de
apostas da Europa na busca de matri- públicas que estimulem a mudança seu grupo para desenvolver métodos
zes energéticas renováveis. A Alemanha, tecnológica. Citou o caso da União Eu- de baixo custo para a desinfecção da
por exemplo, se destacou por aprovei- ropeia, que estabeleceu o ano de 2020 água através de sua exposição ao sol,
tar 40% de seu potencial fotovoltaico, para que 20% da energia utilizada em talhados para regiões pobres ou que
num esforço revelador de que, quan- seus países venha de fontes renováveis. vivam situação de emergência em re-
do a produção industrial da tecnologia Ainda de acordo com essas metas, para lação ao tratamento da água. Em dias
dobra, seu custo de produção cai em abastecer sua população e indústria em ensolarados, seis horas de exposição
cerca de 20%. Com 20 anos de experi- diferentes setores econômicos, cada um são suficientes para matar uma ampla
ência, a Alemanha deve conquistar em dos 27 países da União Europeia deverá gama de microrganismos. Crianças que
uma década a paridade com a energia ter, pelo menos, dez fontes de energias recebem água tratada nesse esquema
convencional, na casa do US$ 0,20 por renováveis a mais do que as atuais. “Na têm uma chance sete vezes menor de
quilowatt-hora (kWh). O custo atual
da energia fotovoltaica na Alemanha é
de US$ 0,43 por kWh. Ian Forbes, da
finavera

Escola de Computação, Engenharia e


Ciências da Informação da Universi-
dade de Northumbria, apresentou no
workshop os esforços de pesquisa da
Inglaterra, que tem níveis de insolação
apenas ligeiramente inferiores aos da
Alemanha, na busca de novos mate-
riais para aperfeiçoar a tecnologia das
células fotovoltaicas. A segunda geração
dessa tecnologia, que conseguiu reduzir
custos substituindo as placas de silício
por outros materiais semicondutores,
esbarra na escassez de alguns de seus
compostos, como o gálio e o índio.
“Em congressos realizados na Europa,
especialistas estimam que, até 2020, a
energia solar fotovoltaica poderá suprir
mais de 90% da demanda por eletrici-
dade no continente”, disse.

Design de construções - O pesqui-


sador britânico John Twidell também
destacou que a energia solar terá uti-
lidades diversas, no aquecimento e no Protótipo que tira energia das ondas do mar

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Ideias para combater
efeitos do
aquecimento global atingidos por barragens é bastante
articulado, e não sem razão, porque
historicamente foram muito mal tra-

sem reduzir as tados pelas autoridades”, afirmou. O


físico encerrou sua apresentação no
workshop falando de oportunidades
emissões de carbono tecnológicas. Apresentou um filme
mostrando o protótipo de uma usina,

ainda são inviáveis


desenvolvido pela Coppe, que aprovei-
ta a flutuação das ondas do mar para
gerar energia. 
A pesquisa no campo da biogeo-
engenharia, embora esteja longe de
oferecer alternativas de curto prazo,
obteve avanços nos últimos anos nos
contrair cólera em relação às demais. no ano passado, a capacidade instalada Estados Unidos, graças ao estímulo do
“Se hoje 1,8 bilhão de pessoas não têm era de 247 megawatts (MW), ante 8 mil governo George W. Bush, para quem o
acesso a água adequadamente tratada, MW da China e 6 mil MW da Índia, enfrentamento do aquecimento global
as mudanças climáticas podem deixar países que vêm investindo pesadamen- se faria não por meio da redução do uso
esse quadro ainda mais dramático”, te nessa matriz energética. Estima-se de combustíveis fósseis, mas da criação
disse Dunlop. As estratégias, que estão que o Brasil tenha potencial para 143,5 de um aparato de soluções tecnológi-
sendo testadas em países como Quênia, gigawatts de energia eólica, a metade cas capazes de amenizar os efeitos das
África do Sul e Zimbábue, envolvem disso apenas na Região Nordeste. De mudanças globais. Entre as ideias em
desde a montagem de equipamentos acordo com Pereira, modelos compu- estudo, há desde expedientes como cap-
portáteis de fotocatálise até a distribui- tacionais sugerem que o potencial da turar o carbono da atmosfera por meio
ção de sacos plásticos e garrafas espe- energia eólica do Brasil pode se ampliar de “árvores artificiais” e confiná-lo no
ciais, destinadas a facilitar o armaze- com as mudanças climáticas, graças a subsolo, bombeando dióxido de carbo-
namento da água para sua purificação um possível aumento do regime de no em estado líquido no espaço que já
com a radiação solar. ventos de alguns estados da Região foi ocupado por reservas de petróleo
Se o Brasil avançou na tecnologia Norte, como o Pará. e gás exploradas, até mecanismos que
do etanol, não se pode dizer o mesmo O físico Luiz Pinguelli Rosa, pro- já se aproximam das experiências de
em relação às energias solar e eólica. fessor da Universidade Federal do Rio campo, como a fertilização dos ocea-
O Brasil dispõe do dobro dos níveis de Janeiro (UFRJ) e diretor de seu ins- nos por meio do lançamento de ferro
de insolação da Alemanha, que abri- tituto de pesquisa e pós-graduação em solúvel ou o uso de bombas para trazer
ga o maior mercado no mundo de engenharia (Coppe), criticou o avan- águas das profundezas para a super-
energia solar, mas ela se restringe ao ço da termoeletricidade como matriz fície, ambos com potencial para esti-
aquecimento de água em residências energética do Brasil e mostrou que o mular a produção de algas e aumentar
e à geração de eletricidade em áreas potencial de exploração da energia hi- a absorção de carbono pelo mar. De
remotas. O problema é alto custo dos drelétrica, bem menos poluente, ainda acordo com Paul Valdes, professor da
equipamentos. A matriz nem sequer é grande no país. “Na contramão da Universidade de Bristol, muitas dessas
é citada no Programa de Incentivo às história, o governo brasileiro passou ideias são economicamente inviáveis
Fontes Alternativas de Energia Elétri- a apostar até em termoelétricas mo- com base na tecnologia atual. “Mas elas
ca (Proinfa), do governo federal. Em vidas a gás natural e a diesel”, disse o tendem a parecer menos absurdas com
relação à energia eólica, a situação é professor. Secretário executivo do Fó- a demora em fazer o que precisa ser fei-
um pouco melhor. Dados apresentados rum Brasileiro de Mudanças Climá- to, que é reduzir as emissões”, afirmou
no workshop por Enio Bueno Pereira, ticas, Pinguelli deu uma explicação Valdes, no workshop realizado na sede
pesquisador do Instituto Nacional de para a opção brasileira. Segundo ele, da FAPESP.
Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram enquanto é grande a resistência à cria-
que, embora a capacidade instalada de ção de novos lagos e barragens, pouca Raios refletidos - De acordo com o
geração de energia eólica tenha se mul- gente enxerga os prejuízos, inclusive à professor, as soluções de biogeoenge-
tiplicado por oito entre 2005 e 2007, saúde humana, de queimar óleo para nharia soam mais factíveis quando se
está ainda num patamar muito baixo: produzir energia. “O movimento dos referem a estratégias para aumentar o

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albedo (a refletividade dos raios solares refletir parte da radiação solar ou cobrir e construções diminuindo o calor e o
num objeto) da superfície terrestre – desertos com material refletivo, para uso do ar-condicionado. Valdes citou
com a finalidade de resfriar o ambiente reduzir a temperatura do planeta.  pesquisas realizadas na Inglaterra se-
e contrabalançar os efeitos do aqueci- Mas também há aplicações mais gundo as quais certas variedades de
mento. “Observe-se que esses esque- prosaicas, como o plantio de cultiva- sorgo, cevada e milho possuem albedo
mas podem mitigar alguns efeitos das res agrícolas com maior capacidade de significativamente maior do que ou-
mudanças climáticas, mas não evitam, refletir a radiação solar ou o uso em tras. Segundo ele, modelos climáticos
por exemplo, o processo de acidificação construções de materiais capazes de sugerem que o uso dessas variedades
dos oceanos causado pelo aumento de promover o mesmo efeito. Fernando com albedo maior poderia compensar
carbono da atmosfera, que gera impac- Galembeck, da Unicamp, lembrou do os efeitos da elevação de 1 grau Celsius
tos na biodiversidade marinha como a pigmento que ele e sua equipe desen- da temperatura, com efeitos potenciais
morte de corais”, afirmou. É certo que, volveram na Unicamp e com tecnolo- mais significativos no hemisfério Nor-
entre os esquemas para aumentar o gia transferida para a empresa Bunge. te. “Há muita pesquisa a se fazer nesse
albedo, figuram ideias que remetem à Usado nas tintas brancas, o pigmento campo, mas esses esquemas soam mais
ficção científica, como instalar gigan- branco nanoestruturado aumenta a realistas do que os que envolvem inves-
tescos espelhos em órbita destinados a refletividade da luz solar das paredes timentos gigantescos”, disse Valdes. n
barratt developments

Casa ecológica do Reino Unido: emissão zero de carbono até 2016

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