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J Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundagées PEF-2302 - MecAnica das Estruturas I im i Carlos Eduardo Nigro Mazilli Joo Gyro André Miguel Luiz Bucalem Sérgio Cif Sao Paulo 2010 Preficio Este texto tem a finalidade de prover a disciplina PEF-2302, Mecdnica das Estruturas I, de documentagio de apoio aos alunos. © contetido guarda estreita correlagio com 0 programa da disciplina, tanto nos seus aspectos conceituais, como nos formais. fo resultado de mais de duas décadas de vivéncia pedagégica, incorporando as evolugdes ocorridas ao longo do tempo. Este texto nao se teria materializado sem o apoio zeloso e competente dos sognintes alunos de pés-graduagio, que atuaram como assistentes de ensino na disciplina: Carlos A. Medeiros, Christian Furukawa, Irani B. Ramos, Odulpho G.P.Baracho Neto, Estela M. R. Bueno, Lorenzo A. Ruschi e Luchi e Renata Butkeraitis. A eles, os agradecimentos dos autores. Capitulo 1 Andalise Matricial de Estruturas ‘A Andlise Matricial de Estruturas propde-se a determinar os deslocamentos, reagdes esforgos solicitantes de estruturas de barras — tais como vigas continuas, vigas poligonais, porticos e treligas planas, grelhas, pérticos espaciais modelando-as como um arranjo de elementos simples (barras), unidos através de suas extremidades ou nés, os quais podem ainda ter deslocamentos restritos por vinculos. As varidveis primérias sio os deslocamentos nodais, cujo conhecimento permite a determinagio das reagdes dos esforgos nas extremida- des das barras, decorrentes de carregamentos ou deslocamentos aplicados aos nés. Ver- posteriormente, que carregamentos internos aos elementos poderéo também ser contempla- dos. A partir do conhecimento das varidveis nas extremidades do elemento, poder-se-4 determinar os correspondentes valores no seu interior, por meio das expresses clementares ja conhecidas das teorias de barras. Na estética das estruturas de comportamento linear, as equagSes fundamentais da andlise matricial de estruturas constituem um sistema de equagies algébricas lineares, para a reso- lucdo do qual aplicam-se métodos computacionais préprios da algebra linear. Na dindmica das estruturas de comportamento linear, as equagdes fundamentais da anélise matricial de estruturas constituem um sistema de equagies diferenciais ordinarias, para a resolugao do qual aplicam-se processos préprios da integragio numérica, As teorias de barras subjacentes & Andlisc Matricial de Estruturas jé se encontravam, desenvolvidas hé muito tempo e alguns métodos gerais de solucdo jé haviam sido antevistos por homens notéveis como Maxwell, mas nfo conseguiram estabelecer-se antes do advento do computador, pois requeriam a manipulagio de grande massa de dados e a solugdo de equagdes com mimero elevadissimo de incégnitas. Em vez desses métodos gerais de anélise de estru- turas de barras, eram empregados aqueles que, engenhosamente, introduziam aproximagdes e exploravam particularidades de arranjos t{picos. Proliferaram os métodos que, apesar das simplificagées, continuavam a envolver tediosos célculos. Para as vigas continuas, a titulo de exemplo, havia 0 método da equacdo dos trés momentos, o de Cross, o dos pontos fixos, © da propagacio, ete E justo que se reconheca que tais métodos simplificados tiveram e ainda tém um papel importante na formagio do engenheiro de estruturas, pois exigem dele capacidade de “disse- cago” e compreensio do comportamento dos sistemas estruturais, & moda de um curso de “anatomia” das estruturas, Ao abandonarem-se esses métodos, nas desejéveis e inevitaveis atualizagdes curriculares, 6 importante que o ensino e a aprendizagem em engenharia de estruturas nao deixe de dar destaque ao desenvolvimento das habilidades que levam & com- preensio do comportamento dos sistemas estruturais. A opgio pela andlise computacional de estruturas nao deve ser confundida, pois, com a opcdo pela instrumentalizagdo pura e simples do uso de programas de computador. Adotar-se-io as seguintes hipéteses para introdugao & Anélise Matricial de Estruturas: Estruturas reticuladas (formadas por barras) Barras prismaticas @ Linearidade fisica (material cléstico linear) « Linearidade geométrica (nao se consideram efeitos de segunda ordem) Carregamentos estaticos De inicio, seré enfocada a anilise matricial de pérticos planos (estruturas planas car- regadas no seu plano). 1.1 Barra prismatica: solugdo pelo método dos deslo- camentos A titulo de recapitulagio de tépicos da teoria cléssica elementar de barras, bem como para obtencéo de resultados de utilidade para a Andlise Matricial de Estruturas, considere-se © problema da determinagio da solug&o exata do campo de deslocamentos ¢ dos esforgos solicitantes em uma barra prismética com deslocamentos impostos nas suas extremidades. Considere-se, inicialmente, a situagio indicada na figura 1.1, que também admite a pos- sibilidade de carregamentos distribuidos aplicados & barra, cat ttl” Figura 1.1 Isolando-se um elemento de comprimento infinitesimal e impondo-se equilibrio entre es- forgos solicitantes e carregamentos, tem-se a situagdo indicada na figura 1.2. Do equilibrio de forgas na direcdo longitudinal, vem: aN =a At a= -4 (1a) Do equilibrio de forgas na diregéo transversal, vem: Ge. (1.2) @ LAU u Maat v vv 4 Nea + ooh | «x ” i Figura 1.2: Do equilibrio de momentos, vem: aM ae. (13) Combinando-se (1.2) ¢ (1.8), resulta: eM Te (1.4) Estuda-se, agora, a relagio entre deslocamentos e deformagao longitudinal. ‘Tome-se, para isto, a figura 1.3 que indica os deslocamentos (u, w) de um ponto P genérico, da segao S, que na barra deformada corresponde ao ponto P’, da secdo $*, supondo valida a hipstese de Navier. >x fe ZCOS P=Z \psencgzw' Figura 1.3: Designando por @ ¢ @ os deslocamentos do baricentro da segio $, os deslocamentos do ponto P serio: u=t-20' (1.5) w=0. (1.6) Recorda-se a definicao de deslocamento longitudinal (7 para se escrever, a partir de (1.5), para a deformacéio de uma fibra infinitesimal em P: — 2". (18) Esta expressfio traduz. a lei de Navier (distribuicao plana para €) Para elasticidade linear, a Lei de Hooke estabelece a relacio entre tensio e deformagao: o=Ke (1.9) sendo E 0 médulo de elasticidade longitudinal e o a tensio normal. Considerando-se (1.8) em (1,9), chega-se a Ba! — zBu" (1.10) que traduz a lei de Bernoulli (distribuicao plana de tensies) Recordando-se, agora, algumas relagdes entre esforgos sol do-se a convencdo classica de sinais: citantes e tensdes, e respeitan- N ~ [aa (1.11) A M = faa. (1.12) ls Considerando-se (1.10), obtém- N= BAw (1.13) M =-Elw". (1.14) A forca cortante pode ser calenlada usando-se (1.3) e (1.14): V=-EIw”" (1.18) De (1.1) e (1.18), obtém-se a equagao que permite determinar os deslocamentos longitu- dinais por integragio yt _ “BA de ~ 5 (1.16) ¢, de (1.4) e (1.14), a que permite determinar os deslocamentos transversais por integragéo: (1.17) Note-se que o problema da determinac&o do campo de deslocamentos é desacoplado. 5 « Para o que se segue, tem-se particular interesse na solugio do problema com deslo- camentos impostos nas extremidades da barra, porém sem carregamentos (gz = 0 & 4. = 0), ou soja: de (1.16) ai! =0 (1.18) ede (1.17): ol = (1.19) A solucdo de (1.18), 4 impondo respeito As condig6es de contorno da extremidade, pode ser escrita na forma: a= (1 7 5) lot jm = hy (a) tty + hala (1.20) ‘As fungées hy(2) (1.21) hal) (1.22) permitem determinar, por interpolaciio, mas de forma exata, 0 deslocamento % em uma segio genérica, uma vez conhecidos os deslocamentos nas extremidades tig ¢ tig. Note-se que a fora normal também pode ser calculada facilmente a partir de (1.13): N = EA|hi(x)ay + hy ~ i) “> = constant (1.23) ui] ‘A solugiio de (1.19), j4 impondo respeito as condigées de extremidade, pode ser escrita na forma: a (= 3c? ) ( 2x8 Es) D= a + )at+ B B 2a! 7 w, 7 (2) + hg (ee) + Ia 0 (1.24) ‘As funges: 2x 322 hola) = Fp — Tt) (1.25) 2a* hy(e)=q- +e (1.26) 205 | 3a? hela) =— Fr +e (1.27) 3 gt hea) = 4 (1.28) permitem determinar, por interpolagio, mas de forma exata, 0 deslocamento w em uma segdo genérica, uma vez conhecidos os deslocamentos nas extremidades Do, We, Wh € t}. Note-se que o momento fletor e a forga cortante também podem ser calculados facilmente a partir de (1.14) e (1.15): M =~EI [hs (x) + bY (x), + Ai (w)w7h + hg (2)eaj] V = EI (hey (tig + hg! (at) + hy (a) ang, + ag! (a2) Em particular, nas extremidades, obtém-se os valores: 6EI 2El yy, Mo =~“ (toi ~ to) + > (2im + wh) 6EI 2EI Me= FE (a — ao) — 7 (ah +201) 12E1 6EI Vo = Ve= —y— (tin — ta) — E> (my +) A titulo de ilustragao, considerem-se os exemplos: Exemplo: Barra deformada axialmente: Uy = 0; ty = 0510 = (1.29) (1.30) (1.31) (1.32) (1.83) Exemplo: Barra bi-engastada com recalque linear fy = 0; ty = 5; tuf, = Yw=v Exemplo: Barra engastada-apoiada com recalque linear = 6; =0 tp = 1%, = 0; xm =0; wi =? (Note-se, porém, que m= 0, pois Mi = 0) ha(U)o + Rell) a} 0 = Ay (Ly + hg (Lw} 2 gat ou @ = € Seti) 2B” OF 3B1 My =p8 M=0 Exemplo: Barra engastada-apoiada com recalque angular 0; ti = 05 0% = @ ‘af = 0; wy =0; wf =? (Note-se, porém, que a = 0, pois M, = 0) 10 Bly et u=0 haley + ha (a 0 = Wy da, + HE), 1 mas 1 de onde logo ‘® Seja agora o problema de determinagio dos esforgos de engastamento perfeito para ge =constante= q ¢ g. = 0. Por integragao de (1.17), pode-se mostrar que: w= 4 halw)an + hs(2) (a- i) 4 hale i+ hale) (ot - &) eT , at = 2 4 18la)an + (2) (a- ia) + W(x, + HE) (a - . : oo" = Bs neta)ay ge) (mm — 5) +0 Cem +m) (at er) i Exemplo: Barra bi-engastada com carga uniformemente distribufda (ip = wy = 0 € tH = 1 = 0) M =-Elw LT an a @ l= —"5 Fg 19 thy = Nj (x1)Wo + hS (ay) Wa + G(r) wy + AG (wr) wo, O

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