You are on page 1of 43
Luiz Roldao de Freitas Gomes Doutor em Direito Privado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor titular de Direito Civil da Universidade Federal Fluminense. Juiz do Tribunal de Algada Ctvel do Estado do Rio de Janeiro Da Assungao de Divida e sua Estrutura Negocial 2a edigio REVISTA E ATUALIZADA 1998 Rio de Janeiro, RI Rprrona LUMEN JuRIs TITULO IV \SPECTOS E ESTRUTURA NEGOCIAL DA ASSUNGAO DE DiVIDA CAPITULO I Conceito, Nomenclatura e Expécies Segao I Consideragies Gerais «i causa. (wnbem se admite, de ato judicial.! ‘ional, ou seja, como resultado desejado pela vontade das partes. son humana, 132. Compreendida a sucessfo singular na divida como a transmissio da obrigagdo no lado passivo, a assungao de divida 6 0 ato, no plano negocial, que Ihe Esta assertiva no equivale a estabelecer a sucessio passiva na obrigagio ‘omo efeito exclusive de negécio jurfdico, dado que ela pode resultar da lei como E nosso propésito, porém, estudar 0 fendmeno basicamente no campo obriga- Nio deixaremos, entretanto, de, em breve passagem, sem fugir ao objetivo \winalado, comentar a possibilidade de que ocorra por declaracio de tiltima vonta- ‘e, quando seja objeto de um legado, por emanar, igualmente, de um querer da pes- 133. Contudo, qualquer que se revele a fonte (lei, ato judicial ou negécio \\irldico), presente sempre estard no conceito de assungio de divida a idéia de per- jwncneia da obrigago, com suas caracterfsticas, acess6rios e garantias, em princi- pio, havendo mudanga apenas no que respeita ao sujeito passivo. F 0 ato que gera a sucesso singular na obrigagio, cuja fisionomia juridica se wntém inalterada.2 Segéio I Nomenclatura 134, Quanto ao nome adequado & designagio do negécio que a gera, convém osumnind-Lo antes que se penetre seu conceito, 1 PONTES DE MIRANDA, Tratado, tomo XXII, pags, 97/8, a0 vei (anuminio judiciais de divida, sobre a assungio & 2 VAZ SERRA 6 procivo ao dintinguir entre © ato & 0 efeito que produz, quando, ao discorrer jworen do Au nomenclatura, elarifien Tambor a designagho “aueoxsio singular na divide”, no *0 figure complotumonte rigorons, Visto qu¥ aludde ao efello da operaglo, © Hho WO Keto gorador lowe efeito", Wo le Divida, Woletinn do Minintdrio di Hintiga, W872, pag, 196) Xx noontance wind ser “inulle longa ®, portanto, de emprego IncOmodo'' (Aavungde 80 Da Assungdo de Divida e sua Estrutura Negocial Luiz Roldao de Freitas Gomes 81 Realmente, a mais de um nome se recorre para denominé-lo, haja vista as expressdes empregadas, variadamente, no curso das anotagdes sobre o Direit Comparado. A comegar pela propria sucessio no débito, expressio comum ao! juristas italianos e mais ao gosto de seus tradutores e intérpretes do que sucesso na’ divida, sobre a qual prevalece no uso mais freqiiente da linguagem jurfdica. Fala-se em cessio da divida ou do débito, como Ihe chamam, de preferéncia, os autores franceses, que também utilizam os termos reprise de dette, transport de dette ou transfert de dette. Empregam-se, ora, transmissio singular de divida, suces- so singular na divida e, finalmente, assungio de divida, a tiltima nomenclatura por tradugao mais proxima do germinico Schuldtibernahme, termo que identifica o ins- fituto no Cédigo Civil alemao. A escolha do vocibulo adequado nio se reduz, todavia, a uma questio d gosto ou de conveniéncia, ao menos em nosso verndculo, que, por sua riqueza semantica, permite se busque e encontre 0 que melhor se ajusta ao instituto, em con- sideragdo de sua natureza juridica. 136. No que diz com as expresses “transmissfio singular da divida”, sobre juilecerem de extensdo inconveniente a uma nomenclatura de facil uso, deixando, jor isso, de preencher uma qualidade desejavel para o batismo de institutos jurfdi- vou, (CE. 0 comentario de VAZ SERRA na nota 2), espelham antes 0 fendmeno jwncrico, por seu efeito, do que 0 ato que 0 ocasiona.> 137. Ficamos, portanto, com o nome assungio de dfvida, que mais fielmente, © com singeleza, traduz 0 instituto de que se cogita. Demais disso, j4 ingressou em |i literatura jurfdica e na esparsa jurisprudéncia dos Tribunais, tendo sido algado 4 projetos legislativos. Aparece ainda de mais ffcil assimilagéo pelo homem (ojum, na intuigdo do negécio que reflete. Segao HI Conceito e Espécies 138. Nas definigdes que os autores formulam da assungio de divida, figura soinpte nitida a nogo do ingresso de um terceiro no lugar do devedor, na relagio obrigacional, a qual se conserva em sua integralidade jurfdica.6 135. Em conseqiiéncia, assungdo de divida se afigura o mais proprio, Etimologicamente, deriva de ad-sumo, adsumere, tomar, donde quem assume a dfvi- da, toma-a a seu cargo, inserindo-se como devedor na relagio juridica3 De outra parte, cessiio de divida ou de débito gera a falsa aparéncia de que 6 suficiente 0 acordo entre devedores para que o ato se repute aperfeigoado. Ao passo que, quando se conceba a operagao que conduz & sucessao singular na divida funda- da antes num ato de disposigaio do devedor do que na mera convengio entre eles, completada pelo credor, os termos assungao de divida, por outra vez, e razfio, evi- denciam-se mais representativos daquela figura jurfdica. E este entendimento a respeito de sua natureza € 0 que consta prevalecer na doutrina e ser consentneo com os contornos ¢ mecanismo jurfdico do instituto.4 seuncdo da obrigagdo, enfatizando que “a palavra assuncdo (de ad + sumere) aponta exatamente Julio personagem que tem o papel ativo marcante na operagio", o “terceiro que chama a si o ‘Wehllo, que assume a obrigagao do devedor perante 0 credor”. 4. Him se tratando da epigrafe da segiio em que o Cédigo Civil portugués regula a matéria, sjwerva ANTUNES VARELA (Das Obrigagdes em Geral, vol. I, pag. 321), que 0 tetmo frans- ‘sudo (eansmiss’o da divida) “inculta desde logo a idéia de que a obrigagao se transfere, sem joili da sua identidade, do primitivo devedor para o assuntor, ficando aquele exonerado a partir snomento em que este se vincula perante o credor. J adita que assim sucede “num largo sector dos casos de sungio de divida, nos quais a inter aga venwllo do (erceiro tem precisamente por fim exonerar o primitive devedor”. 3. Cf. PONTES DE MIRANDA, ob. cit., pig. 357. Jtosnalva, a seguir: “Mas ha situagdes com fisionomia diferente, como expressamente se afirma 4. VAZ SERRA, ibidem, impugna 0 termo “cessio", porquanto, a seu ver, pode dar-se sem a 595, n® 2: sio aquelas em que a assungio da divida coloca o assuntor ao lado do primitivo interveng’o do antigo devedor, isto &, por acordo entre 0 novo devedor e 0 credor. Relativamente tna sem exonsrar este, dando assim a0 credor, nfo o direito a unia dupla prestacto, mas a expresso assungio de divida, que termina por adotar, sublinha que “pode da fio devida através de dois vineulos, & semelhanga das obrigagées com novago por substituigdo do devedor (embora af se assuma uma divida nova)”. Cumpre lembrar, entretanto, que SALEILLES, quem logo, na Franga, cuidou da matéria, em percussio das doutrinas germinicas, fé-lo sob a epigrafe De la cession de Dettes, in Annales de. Droit Commercial, 1890, pags. 257 e segs., onde sustenta que, se se admite a idéia de cessiio, € preciso admitir que o efeito translativo & produzido por um ato que emana da iniciativa e da vonta- se também na Aivolto de obter a prest solidérios.” ingiio cumulativa de divida, co-assungao de divida, acessio ou adjungio & Hivida, Consist noutro motivo para preferir-se o termo assungao de divida, que mais se Jeri 0 abranger este caso, do que transmissio singular da divida. 6, HEDEMANN (Derecho de Obligaciones, pig. 209, § 29) chega Fw chamada escrever: “En este supues- de do devedor e no de um ato proveniente do credor. Este s6 intervém para que a cessiio se Ihe 0, tn nuovo cleudor (designado por la ley sin matizar, como “tercero”) se coloca en el lugar del tome oponivel e perfeita com relacio a si (pag. 16 do trabalho cit.) Saigo (donominado en In ley; aienplamiente, “deudor')”. Bis por que, na corrente dos que véem na intervenedo do credor um ato necessirio A perfeigiio © fendmeno da vinculagio do novo devedor perante o eredor, na relagio jurfdica existente, que do negécio, o termo cessio pode induzir a falsa concepeo de que 0 acordo que se passa mera Jonulla provervada, 6 imancnte Aox conceitos expendidos sobre a assungio de dfvida, dentre outros, mente entre os devedores basta para produzir a eficacia translativa da divida, podendo o devedor Jur HNNECCERUS, Derecho de Obligaeiones, vol. 18, pags. 409 ¢ segs., § 85; VON TUHR, dispor, isoladamente, de sua posigao juridica pas Tratado de lax Obligaciones, tomo M1, page. 999/4, LARENZ, Derecho de Obligaciones, tomo I, Neste sentido, 6 a critica de ANTUNES VARELA (Direito das Obrigagdes, I, Foronse, Jie. 476) HSSER, Sehuldrecht, pag. 427, 9% 2) DERNDURG, Divito dette Obbligazioni, phe pig. 455) a0 emprogo do termo cexsio para dosigna © instituto, aduzindo ainda que “eeder 6 sind HH}, §. 59, BAUDRY © BARDE, Traitato (Delle Obbligaeion|, vol. II}, phys, 79/K0; PLANIOL imo, no Hnguagem corrente, de atribuir um valor peeve", Profere o nome aeungdo da divide on HIPEIT, Traltd Pratique, 4. VEL, pig. 47M PULG PIAA, Compendio de Derecho Civil Bypanol, 82 Da Assungdo de Divida e sua Estrutura Negocial Luiz Roldao de Freitas Gomes 83 Ressalte-se, a outro turno, que um dos elementos do conceito de assungao di divida reside na consegiiente exoneragio do devedor originério mediante sua substi tuic%o pelo terceiro na relacdo obrigatéria.? PUIG PENA aponta trés notas tipicas da assungio de divida, a vista de su conseqiiéncias:* [im ambas as hipsteses, um terceiro se constitui devedor da divida em que juiien se achava constitufdo. : Sob este prisma, vern bem a propésito a conceituago genérica exporsa por HPCIMANN,!"! segundo a qual “transferencia de deuda es la introduccién de un ivy deudor en una obligacién ya existente, por virtud de un contrato ¢ por impe- jy alo la ley y ya sea en vez del antiguo deudor (transferencia privativa 0 liberatoria) il lado de 6l (transmisién cumulativa o incorporacién de deudor). En uno y otro } ino, la obligaci6n sigue siendo la misma, objetivamente, no obstante el cambio siietivo operador; la transferencia de deudas, al igual que la cesiGn de créditos, jjyplica una verdadera sucesion”. i Ressalve-se, todavia, esta assertiva final, por discutivel. a) a liberagio do antigo devedor, que sai da relagao obrigat6ria: b) a entrada de novo devedor no mesmo lugar e condigdes do anterior; ©) 0 idem debitun, isto 6, a identidade absoluta da obrigagiio, que persevera mesma, nao obstante a mudanga de devedor.9 139. No entanto, impoe-se desde j4 ponderar, com VAZ SERRA que “pod ao lado do novo devedor, subsistir 0 antigo (adesiio, adjungio, co-assungiio) ¢ pod © novo devedor substituir 0 antigo que € exonerado (assungio liberat6ria ou privati Va Ou assun¢ao fout court)” 10 140. Ao cabo destas consideragdes em torno do conceito de assungaio de Jivluli, verifica-se que este pode ser entendido de modo amplo, compreensivo, na “unwepyao de OERTMANN, tanto da mera substituigao do devedor (assungio priva- {ivy ou (iberatéria), como do ingresso de terceiro na relagéio obrigat6ria ao lado Jol. No primeiro caso, ocorre a exoneragio do devedor primitivo; no segundo, este Jwiniunece obrigado, apenas coadjuvado pelo novo devedor. a Perguntar-se-ia, a esta altura: em qual das duas hipéteses se dai entio a suces- so singular no débito? _ Posto que implica a sucesso a transmissio integral da divida, com a completa Jiboragio do devedor originério — e esta é sua nogo classica -, s6 no primeiro caso # \jue evidentemente ha de ocorrer.12 No entanto, embora nao haja transmiss%o da divida ao novo devedor que entra J) (wlagio jurfdica junto ao antigo, na acepgiio em que se deva tomar o termo trans- Julunilo, a identidade de sucessio, é irrecusdvel que a obrigacdo ja existente Ihe € somunicada, no lado passivo. Nao sucede nesta, mas a ela incorpora-se, assumindo a divida ao lado do pri- nitive devedor.'3 tomo III, pag. 299; GAUDEMET, Théorie Générale des Obligations, pig. 476; VAZ SERRA, ob, cit., pags. 191/2 196; ANTUNES VARELA, ob. cit., pig. 321; CARVALHO DE MENDONCA, Doutrina e Pratica das Obrigagées, t. I, pag. 137 (que alude & definigao de DERNBURG); ESPI. NOLA, Sistema do Direito Civil Brasileiro, vol. Il, . I, pags. 415/6 (teportando-se a ENNECCE- RUS); PONTES DE MIRANDA, Tratado, t. XXIII, pags. 257 e segs., § 2.820; CAIO MARI DA SILVA PEREIRA, Instituigdes de Direito Civil, vol. Il, 1966, pags. 318/319; ORLAND' GOMES, Obrigagées, 1968, 255/6, n¢ 156; SILVIO RODRIGUES, Direito Civil, vol. Tl, pag, 362; SIDNEI AGOSTINHO BENETI, Da Cessdo de Débito. Revista dos Tribunais, vol. 425, pig. 24, 38 parte, I; DIMAS DE OLIVEIRA CESAR, Estudo sobre a Cesstio do Contrato, RT, 1954, pag. 34, n2 23. Nao se mencionaram juristas italianos, tendo em vista a figura ti aquele Direito, a qual se consti, entretanto, em sua forma privativa, na base da identidade da obrigagio, com mudanga no que concerne ao devedor, produzindo a sucessio singular no débito. 7. Cf. VON TURR (ibidem), BAUDRY e BARDE (bidem), PLANIOL et RIPERT (ibidem), PUIG PENA (ibidem), GAUDEMET (ibidem), CARVALHO DE MENDONCA (ibidem) e SIL-_ VIO RODRIGUES (ibidem). GAUDEMET chega a expor que 0 problema legislativo do transport de dette & triplice, fazen- do-se mister: a) que haja a liberago do antigo devedor, ao mesmo tempo em que 0 novo se obri- ga; b) que se opere a sucessdo a titulo particular na divida, isto é, que esta passe, em sua inteireza_ juridica, do antigo para o novo devedor, assegurando a subsisténcia das garantias e excegdes, que The podem estar ligadas; ¢) que tal resultado seja obtido pela convengio entre os dois devedores com a salvaguarda do interesse do credor (Théorie Générale des Obligations, pig. 476). Estes, em linhas gerais, os caracteres distintivos do instituto apontados por PLANIOL et RIPERT (0b. cit, pig. 473, nf 1.141). VON TURR (0b. e foc. cits.) conceitua a assungio de divida, no sentido estrito como o negé- cio juridico por meio do qual se produzem, de uma vez, dois efeitos: liberar 0 devedor anterior ¢ obrigar a pessoa que assume a divida. 8. PUIG PENA, ob, cit., pig. 300. 9. LARENZ (ob. cit., pags. 47617) realga, de modo sig) que se produz a mudanga na pessoa do obrigado, ou, em 0 obrigagilo, sem qualquer alteragio de contetido do crédito, 10, VAZ SERRA, ob city pags, 191/194, Esta distinglo nto excapa aon autores alemien, sul YON & PortuguoWoN, Visto que oO» OFdenamentos juridigns dv KLIK parker prevOr ON Ke COAdUHAM Sy nmbos as figuras: a assungao liberat6ria ou privativa e a assungo cumulativa da divida, tam- Jhoiny chinmnacda de reforgo (Cf. ANTUNES VARELA, ob. cit., pig. 322, acerca das diversas deno- Jilhiny 00x empregadas : : Iptbisa seria @ ne VON TUHR (ob. ¢ loc. cits.), ao formular seu conceito de assungdo de ivi (CE nota 7, in fine), ressalvou apresenté-to no sentido estrito do negéeio, para diferencié-lo sii winunglio cumulativa de divida ow incorporagio de divida na qual, segundo © autor, uma pessoa sili como devedor solidario na obrigagio, preexistente, de outra pessoa, 11 OER'TMANN, Transmision de Obligaciones, in RDP, vol. X, pig. 113. _ 12, Noste sentido DERNBURG, ob. cif, pig. 211, § 53; RUGGIERO, Accollo, in Diz, Prat., Jiu 4, nl 9s LARENZ, ob, city pig. 483, Ul} PONTHS DE MIRANDA, ob. cit, § 2.820, 3, pa, 46), ORLANDO GOMES, Obrigagdes, 187, pig. 258 ‘ 14. Com efeltoy diluclda GALVAO THLLES (Algumas Consideracdes sobre 0 Conceito Juridica de Sucessdo, 67, pig, 4B)"08 twEoR HanMMisNdo © sucesso poder hoje considerar-xe sindnimos, Doxiinumn 0 fendmend global que renulla da peda on liberapde relatives e da aquish (vio on vinenlagdio derivadas, QO liveito ov abigayho selva de tor ain aujetto, ele que we cenprande, & ificativo, o tltimo trago, ao asseverar palavras, da attibuigio passiva da 84 Da Assungao de Divida e sua Estrutura Negocial 141. Estes os motivos por que entendemos deva incluir-se sob a roupagem e manto juridico da assungdo de divida a chamada assungao cumulativa, adjun¢Zo ou adesao a divida. Nao tem, porém, o condao de operar a sucessfio singular nesta, embora a trans- mita, em certa medida, ao devedor que chega, sem despedir-se do antigo. Diverso, no entanto, é o parecer do Dr, NEY FERREIRA, em alentada mono- grafia sob 0 titulo Da Assunedo de Dividas, Lourengo Marques, 1973, comunicagao apresentada em Jornadas sobre 0 Novo Cédigo Civil portugués, realizadas naquela cidade, porquanto considera assungao em sentido préprio apenas a liberat6ria, tendo em vista nao haver transmissio alguma do vinculo obrigacional na cumulativa, que € feita pro solvendo e nio in soluto (pags. 69 e 70). Esta, igualmente, a posigao do Prof. CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA, na’ argiligao feita ao candidato. Critica 0 Dr. NEY FERREIRA 0 Codigo luso por ter aglutinado, na mesma’ regulamentagio, a assungdo liberat6ria e a cumulativa, dado prescrever o n® 2 do art, 595 que, “em qualquer dos casos” ~ isto é, quer quando 0 contrato é estabeleci- do entre 0 antigo ¢ 0 novo devedor, quer entre 0 novo devedor ¢ 0 credor —, “a trans- missiio s6 exonera 0 antigo devedor, havendo declaragao expressa do credor ‘Apesar de acoimé-lo de infeliz nesta conceituagao da assungaio cumulativa de: d{vida, ficamos com a opiniao ora sustentada, na linha da previsio daquele diploma, pelas razGes expostas, ‘lids, o préprio autor citado fala, nesta espécie de assungdo de divida, de uma: possivel transmiss%io numa relagio lateral, entre 0 novo e o antigo devedor, “mas sem grande rigor de conceitos ¢ sem interesse para a nota dominante do instituto, que € a substituigdo do devedor na primitiva relagio debitoria”. A sucessio a titulo particular no débito, s6 a produz, porém, a assungao priva- tiva ou liberatoria. 142. Sob este Angulo, e levando-se em conta apenas sua forma e efeito priva- tivos, a assungio de divida pode ser conceituada, na f6rmula sintética e feliz de PONTES DE MIRANDA, como “o negocio jurfdico bilateral pelo qual novo deve- dor fica no lugar de quem 0 era”.14 passa a ter outro em que se radica. A relagio jui ‘© que 6 0 mesmo, uma pessoa sucede a outra na sua titularidade” Por tal motivo, 0 conceito expendido por OERTMANN s6 ¢ suscetivel de reparo, quando fala ‘em transmisso cumulativa, Melhor € compreender a assungio cumulativa ou co-assungaio, que all pretende designar, como forma de assungiio de divida sem transmissiio da obrigagio. 14, PONTES DE MIRANDA, Tratado, vol. XXIII, pig. 257, § 2.820, ne 2, Dentre os juristas nacionais, cumpre ainda destacar, pela limpidez. ¢ singeloza de seus termos, a definigho do Prof. CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA, (0b, cit, pigs: 18/9)! “negdcio juridicn eonvencional & batrato, pelo qual o devedor, com a acollagho do erador, HanTure 4 iM lreelro OF eneUr BOX Obri jwelonaie” , pelo lado activo ou passivo, ou, Luiz Roldao de Freitas Gomes 85 Em seu alcance mais lato, abrangendo 0 aspecto cumulativo, pode exprimir-se Jy palavras simples e diretas de DERNBURG:!5 “Assunzione del debito si suol ‘Niamare Pingresso di un nuovo debitore in una obbligazione, la quale nel rimanen- lw continua a sussistere”, CAPITULO II Objeto. Dividas Assumiveis 143. O objeto da assungio de divida alheia deve recair, antes de tudo, numa obyivacdo valida. Admite-se, todavia, que possam ser assumidas obrigagdes imper- foils, cuja eficdcia contra 0 assuntor sera a mesma que detinham contra o devedor Wigindrio.16 Podem ser assumidas, destarte, dividas mutiladas ou sem obrigagto, a divida jjoscrita e a obrigagao natural,!7 embora ressalte 0 Dr, NEY FERREIRA (0b. cit., ivi. 104) naio poder a obrigacao natural ser objeto de assungao cumulativa, que dé rie a solidariedade, por ser incoercivel. 144, RUGGIERO, interroga-se se 0 accollo pode ter por objeto qualquer wipécie de divida, tendo em vista 0 contetido variado desta, que pode consistir em \ res individualmente determinada, numa soma de coisas determinadas nao de {iodo individual, mas genérico, ou num facere, dirigido ora 4 confecgao da coisa a sor prestada, como na locatio operis, ora 4 gestio de um negécio."* A seu ver, esto excluidas as uiltimas, 4 medida que nao seja consentaneo com \ ntureza mesma do débito que outrem possa solvé-lo no lugar do devedor. E /Avmplifica: se 0 credor tinha direito de obter quadro ou a estatua de determinado lista, se tinha incumbido a Ticio realizar certo negécio ou o tinha nomeado man- \juirio em virtude da confianga pessoal nele depositada, 0 artista e Ticio nio podem \;unslerir a obrigagao a um terceiro, dado que o credor a quis cumprida por eles. Questiona ainda se so assumfveis as dividas que t@m objeto a prestagao de Wn coisa determinada, assim na hipétese em que alguém assume a obrigacdo de \iunsmitir ao credor il fundo Corneliano, quando este € devido pelo obrigado origi- irio, que & 0 seu dono. Se, em prinefpio, seria de crer-se impossivel tal acordo, ove-ae inferir, entretanto, esclarece RUGGIERO que o accollo incide, igualmente, ob. cit,, $53, pag. 211. Em definigho, invocada por CARVALHO DE MEN- de aplicar-se tanto bora reconhega que s6 a primeira produ- 15. DERNBURG, DONGA no idioma tedexco (ob, cit, pag. 138), tom a vant itor vulive como A cumulativa, dx quais se refers seu #0 wuiconsio nox débitor, 16, BNNECCERUS, ob, elf, pag, 410, 1, HUNETL ob, elt, pag. 27 17, PONTHS DE MIRANDA, ob ells, paige, N66/7, 2.854, 10 2) VAZ SERRA, ob, cit. pag, 206, 004, quanto b-obrigayio niturih, que expHieita manter ente eariler, apén aanuinicla 18, RUGGIERO, Accollo, in Dialonarie Pratica del Divito Privato, ol Ly pi. 44, 088 invooado também por SIDNEL AGOSTINHO: 86 Da Assungdo de Divida e sua Estrutura Negocial ha transferéncia do imével, no sentido de que o devedor primitivo deveré transmiti: 7 ee, a fim de que este possa satisfazer a obrigago perante o credor ntendida de forma diversa, a assungio de divida, embora nic tendida de fo a ass o sendo im seria inttil e artificiosa. a Assinala que outra é a situagio em que o objeto seja individualmente determi: nado, mas nao se encontre na propriedade do devedor. Neste caso, 0 accollo tem su: razdo de ser em fungao de que, tendo o devedor, para satisfazer 0 crédito, de adqui: Tir antes o objeto, poder transferir a outrem essa obrigacio. . 145. A assun¢4o pode ser também de divida principal ou acesséria, seja em conjunto, seja separadamente.19 Na daivida, entende-se que a assungio compreende as obrigagées secundarias que formem um todo com a obrigagio principal, v. g., os interesses da mora, Nao, porém, na incerteza os interesses convencionais j4 vencid i ransfeu or . ais ja los por ocasizio da rencia do débito2° . a 146. As dividas submetidas a prazo, condicionais ¢ futuras, sio também suscetiveis de serem objeto de assungio.21 Quanto as dividas futuras, sua transmissio ocorre quando surgirem.22 _No que respeita A divida condicional, PONTES DE MIRANDA ensina poder ser inclusive condicionada ao nao pagamento pelo devedor liberado.23 147. Ja nao se afirma, por outro lado, incontroversamente, a possibilidade de assungio de dividas litigiosas: ENNECCERUS, VON TUHR e PONTES DE MI- RANDA aceitam-na.24 VAZ SERRA fala da hesitagao sobre o regime a fixar-se.25 0 jurista portugues lembra as restrigdes A cessio de créditos litigiosos no Cédigo de 19. RUGGIERO, ibidem, Segundo o art. 599, n° 1, do Cédigo Civil i _19: RUGGIE H - 599, ne T, igo Civil portugues, salvo determi- nacio em cote . as obrigagdes acesssrias do antigo devedor, desde que nao sejam insep: ively da sua pessoa, transferem-se para 0 novo devedor (Cf. MARIO JULIO DI El x Direito das Obrigacées, pig. 323) Cee a 20. ENNECCERUS, ob. cit. pag. 410, I, 3; PONTES DE MIRANDA, ob + pag. 410, 1, 3: Es . ob. cit, pi § 2.854, n® 3; SIDNEI AGOSTINHO BENETI, ob. cit, pig. 27, n®37, “e", Ch. no entanto pésito da transmissio dos juros vencidos, que entendemos se transferem com a ol pal, 0 que consta no n2 349 da tese. 21. VON TURR, ob. cit., 338, n* 6; VAZ SERRA, ob. cit. “Cl S, , . i EI , Ob. cit., pig. 206, n® 3; ENNECCERUS, ob, cit., pg. 410, I, 2; PONTES DE MIRANDA, ob: cit. pag. 367, § 2.854, n° 2 ns. 22. Ci. VAZ SERRA, ENNECCERUS ¢ PONTES DE MIRANDA, todos, ibidem, O juristn patrio pondera que “se a divida futura é de surgimento impossivel, nula & a assunglo de divida alheia, VAZ SERRA ressalva: “O que pode suceder & que a asstngio de divida futura no seja eficaz por nio ser suficientemente determinada ou determindvel vssa divida,”” 2, PONTES DE MIRANDA, ibider, roportando-w a O, WARNEYER, Kommentar, 1, 714 4, . ibidem; ENNECCERUS, ob; 6 Loe. elfs., ly 4; PONTES DE, iy oe, clits, § 2.854, 4 4s, 4) PONTES DE; MIRANDA, ob, @ 25, VAZ SERRA, ob, @ loo, cits prinel Luiz Rolddo de Freitas Gomes 87 1807 © em outras legislagbes, “ditadas ou pela conveniéncia de evitar que ceri pessoas especulem com os processos ou pela de evitar que o cessiondrio alin lucros ilegitimos”, Remonta a vedagiio da cessio de créditos litigiosos no Direito romano, 1 conclu que, suposta a preservag%o das restrigdes apontadas, ndo hé por que Wi eslender & assungiio de dividas, “por se nio verificar a mesma razio de decidir Com efeito, estamos em que inexiste 6bice 4 transmissio de uma divida lili wlosa, mormente em face do Direito brasileiro, que nado veda a do crédito sob demanda, A questao, no caso, cifra-se na repercussao processual do ato: se a agilo pron \opue contra o antigo devedor, que no deixou 0 proceso, no qual ingressou 0 NOVO (levedor, produz a sentenga coisa julgada contra este? Respondem afirmativamente ENNECCERUS e PONTES DE MIRANDA, ¢ilando © jurista patrio o antagonismo de pontos de vista entre os autores alemies (que nomina.26 VAZ SERRA sustenta singular opinifio:27 a par de admitir, com VON TUHR!" {jue 0 antigo devedor pode pedir sua exclusio da lide, 6 de parecer que, se, fidi bstante, © processo prossegue contra ele, nao faz coisa julgada contra o Aysuntor Argumenta que, se 0 credor, que sabia ser outro 0 devedor, visto que a assungho (ependia de seu consentimento, nao o fez intervir no processo, a coisa julgada que seja desfavordvel ao assuntor contra ele nao opera. Curiosa ¢ talvez paradoxalmente, acredita que, caso a decisiio seja fivorivel 40 antigo devedor, aproveita ao assuntor, pois, se o credor nao tem direito COLO primeiro, nao o tem, igualmente, contra quem o sucede. Mas, justamente em virtude da sucessao na divida que se operou, & que partl Jhumos do entendimento de ENNECCERUS, PONTES DE MIRANDA e dos juitiy uy (edescos por este invocados, de que a sentenga faz, coisa julgada contra O ANNun (or, om qualquer das hipsteses aventadas. Alids, 0 § 32 do art. 42 do Cédigo de Processo Civil brasileiro, ao cuidar de conseqiéncias da substituigao processual em face da alienagio da coisa ou do dite (0 litigioso, a titulo particular, por ato entre vivos assenta claramente, em consonih vi com a regra do caput do dispositivo: “§ 32 proferida entre ay par originarias, estende os seus efeitos ao adq ” Nao hé por que deixar de aplicar a norma que por via analégica, A sentenga ente ou ao cessiondrio.” assungtio de divida Hligiow, ainda 26, ENNECCERUS e PONT DE MIRANDA, ambos, ibidem, Ao comentir, entretanty, sobre litixpendineia, diz o autor pattio quid ela "nile prdexelu o poder do qualquer dan parlor ile diypor do bons itigios, nom de eeder a pretonaiio ov w agiio exereida) apenan & (melons wn elagiio d-outea parte, A entrada no procegay depende = é eorolirio de sua world » da efiedela wuby Aitutiva’” (obs elf 2N80, 2, pip 470), 2D VA SHIRA, ob, cll panes 207/208, not 99 2H, VON TUT, 0b eff, 8100, elt 88 Da Assungao de Divida e sua Estrutura Negocial Luiz Roldao de Freitas Gomes 89 148. Assunto extremamente interessante vinculado ao tema em exame € 0 suscitado por RUGGIERO sobre se podem ser objeto de assungio de divida os débi- tos intransmissiveis aos herdeiros. A matéria ganha foros de atualidade com a introdugiio da transmissibilidade da obrigagio alimentar aos herdeiros, no Direito brasileiro, pelo art. 23 da Lei 6.515, de 26.12.77, norma até entao estranha ao corpo de nosso ordenamento juridico. Cabe, pois, indagar: pode a obrigacao alimentar ser assumida por outrem, mediante ato entre vivos? Poderia sé-lo antes da citada Lei? Cremos que sim, em ambas as hipsteses, de vez que da anterior intransmissibi- lidade aos herdeiros nao resultava que nao pudesse ser alvo de assungio por outrem,?9 Diversos so os fundamentos para uma ¢ outra situagao. Sem objetivo de aprofundar o assunto, que j4 de si enseja uma tese propria, importa lembrar 0 pensamento de RUGGIERO, reportando-se a COVIELLO, de que a assungio dos débitos intransmisstveis aos herdeiros € possfvel, quando seu contetido € inteiramente econdmico. E remata, com a seguranga de sua convicgiio: “Cosi per gli alimenti, che una determinata persona @ obbligata a prestare; un tal debito 2 intrasmissibile agli eredi in quanto & personale, ma nulla vieta che lobbligato possa addossame ad un altro il peso” 3° A explicar esta conclusio, RUGGIERO parte de criteriosa distingio quanto a0 carter de pessoalidade de um débito, que, a seu ver, pode ser diiplice: ou porque nao pode ser satisfeito senfio por determinada pessoa (obra de arte, de inteligéncia), ou 29. Pensa diferentemente PONTES DE MIRANDA (ob. cit., § 2.856, n® 4, pag. 373), para quem, “quanto as dividas de alimentos, sujeitas ds regras dos arts. 399 e 401, a divida, que o ter~ ceiro assume, nao & mais divida de alimentos; a abstragdo impée todas as conseqlléncias” Prof, CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA, em suas Instituigdes de Direito Civil, vol. V (Direito da Familia), 34 ed., 8 426 © 427, 325/6, apds ressaltar 0 carter personalissimo do direito aos alimentos, no duplo sentido, inscreve, dentre os casos expeciais de prestagio alimentar, os alimentos convencionais, quando uma pessoa contrata com outta a constituigio de obrigagio alimentar, em favor pr6prio ou alheio. (Ora, dai se extrai que nada impede que alguém assuma a obrigagao alimentar de outrem, desde que com a concordancia do credor, a qual, nem por isso, perder o seu carter inicial, que lhe 6 inerente e insuscetivel de ser dela despojado. Esta afirmagio & em tese, pois que nfo aceitamos que uma divida dessa natureza possa ser transferida inter vivos, se vem a ferir os preceitos que a regulam (possibilidades do alimentante etc.), em detrimento do alimento. 30. RUGGIERO, ob. e loc. cits. COVIELLO, in Archivio Giuridico, LVI, pag. 373, € categ6- rico ao afirmar a possibilidade da assungio de obrigagio alimentar. Argumenta 0 grande jur “Perch® vi pud essere dei debili intrasmissibili cauesa mortis, e che possono essere accollabili; & no quelli che consistendo in una prestazione di contenuto meramente economico, pure non le una determinata persona obbligata alla cui vita sono collegati, Lit person minata qui ® presa in considerazione non per la natura della prestazione, mas per Vesistenza de vincolo, obbligatorio, cosi gli alimenti legali sono dovuti solo da certe determi porsone, ¢ quindi Vobbligo di prestarli non si transmette agli eredi, ma nulla s'oppone che {uieal’obblIgo powsn warere asaunto da altea persona, pareh® Hi proxtazions & tale da potersl effetua 0 dla ebiunque nonza altornzlone cl wort porque, embora possa s@-lo, por lei esté uma pessoa determinada obrigada a presta- |) Enquanto no primeiro caso a assungio da divida nao é vidvel, no segundo 6. No Direito brasileiro, em face da inovag%o contundente da disposigao do art. )\ da Lei n® 6.515/77, justifica-se, mais ainda, a possibilidade de ser a obrigagio \limentar objeto de assungio de divida, sobretudo quando desse ato s6 advirtio \wneficios ao alimentado. A outro turno, 0 reconhecimento de que jé poderia s@-lo antes da citada legis- Jyyo, sem embargo da douta opiniao em contirio de PONTES DE MIRANDA, \icionstra que a regra por ela introduzida nao destoa da natureza juridica da obriga- cm causa nem se coloca em dissondincia com nosso sistema juridico. 149. Em sintese, pode-se dizer, com VON TUHR, que todas as dividas sto \nsumiveis, salvo aquelas que, por seu contetido, esto destinadas a serem cumpri- jus pessoalmente pelo devedor™ e, acrescentemos, cuja transferéncia nao seja veda- (ln por lei. Nao € outra a ligio de COVIELLO sobre 0 objeto do accollo privativo: L'aecollo privativo pud, di regola, avere per oggetto tutti i debiti, qualunque sia la Syusa da cui derivino, contratti (unilaterali o bilaterali), quasi contratti, fatto illecito, Jopge.”32 150, Por tltimo, cumpre ressaltar que RUGGIERO enuncia o que chama succollo, ow seja, a repeticio da operagio de assumir a divida, tendo por objeto ina divida assumida, Sobre ser posstvel, juridicamente, a cla aplicam-se todas as regras pertinentes \\\ virias espécies de accollo.% \1, VON TUHR, ob. ¢ loc. cits \2. COVIBLLO, ob. cit., pig. 372. Exclui, todavia, o mestre: “Sol per eccezione non possono yore oggetto daccollo quei debiti che consistono in una prestazione per la quale, secondo | \nlonvione det contraenti, sono necessarie le qualita personali di un determinato individuo, come \ohbligo di compiere un’opera arte o dingegno, © Vobbligo derivante da un contratto mera- jwwnls liduciario, come quello di adempire un mandato, di appartenere a una societ di persone, \i) i capital ecc. Debit, insomma, che anche quando concorra la volonti delle parti di sostituire Wi porsona all'altra, non permangono identiei, ma mutano so: mente, perch la prestazione {tere secondo la diversitt della persona: onde potra aversi novazione, non gid siioounnione”, SCHEID, evocado por CARVALHO DE MENDONGA (0b. cit., n® 525, pag. 141), 6 de parecer, pordm, que nfo pode assumir a obrigagio de reparar o dano quem nao. come- Joi), Hntificn o jurista gorminioo que "come non pud cars soddisfacimento per un torto a colui, hw non ha sofferto tl torto (488 nota 1), non pub car xoddixfacimento colui, ehe non ha com jnowno HL tonto” (Pandette, vol. 2, 0440, pig. 411, nots 2), Flenmos, contude, com a orientagio de COVINLLO, 1 RUGOTIRO, ob eit pag 8, 014 90 Da Assungdo de Divida e sua Estrutura Negocial CAPITULO IIL Assungéo Cumulativa de Divida. Distingdo com Relagao & Fianga e & Promessa de Liberagao Segao I Conceito, Nomenclatura e Caracteristicas § 12-Conceito ¢ Nomenclatura 151, Da-se a assuneao cumulativa de divida, quando 0 assuntor se coloca lado do primitivo devedor, sem que este resulte exonerado, concedendo ao cre no o direito A dupla prestagio, mas o direito de obter a prestagdio devida através dois vinculos, a semelhanga das obrigagdes com devedores solidarios.# Exemplifica ANTUNES VARELLA (Cf. a titima nota) que, quando 0 cre hipotecario promete pagar o prego ao empreiteiro das obras a realizar no pré hipotecado ou quando a mulher do inguilino promete ao senhorio pagar a divida marido, podem, ambos, em lugar de chamarem a si, exclusivamente a divida obrigado originério, assumi-la em reforgo do cumprimento da obrigagio, sem aquele fique liberado, Ao contrério, ingressam na relagao obrigat6ria, colocando- a0 lado dele, podendo, em conseqtiéncia, 0 credor exigir a prestagio, integralment de um ou de outro, de modo indistinto. RUGGIERO cita como casos de accollo cumulativo os de alienagio de ut estabelecimento comercial, seja quando a firma continua a existit, seja quando: adquirente declara assumir 0 passivo como devedor principal, e os de venda de w universalidade ou de cota-parte do patrimOnio, contemplada no § 419 do Cédig Civil alemio.35 152. Outros juristas limitam-se a conceituar a assungio cumulativa de dfvi da, de forma mais simples, como a figura juridica em gue o assuntor ingressa na obrigagao junto ao devedor originario como devedor solidirio.36 34, Cf. ANTUNES VARELA, Das Obrigagdes em Geral, pigs. 32/2. 35. RUGGIERO, ob. cit., pag. 48, n® 11. 36, ENNECCERUS, ob. cit., pag. 413; RUGGIERO, ob. cit., pig. 48, n® 11; LAREN! cit., pag. 483, n° If; PUIG PENA, ob. cit., pag. 298, nota 31; HEI 2; BOFFI BOGGERO, ob. cit, pag. 654. VAZ SERRA (ob. cit., pag. 189, nota 1), pondo em destaque 0 aspecto pertinente ao credo, realga que, na assungio cumulativa de divida, aquele obtém direito contra o novo devedor, con nuando obrigado o antigo. Igualmente OERTMANN (ob. cit,, pag. 116, n 3, “a") aduz que, na transferéncia cumulativa de dividas, 0 credor adquire direitos adicionais, incorpor direitos anteriores subsistente: O Cédigo Civil alemio nao a disciplina, nio obstante a sua admissibilidade naquele Direito ¢ sua aplicagiio no caso previsto no § 419, mas 0 Cédigo Civil portugues prexereve, no art, $95, nf 2, sob a rubrica da assuneio dle «livid, que, “em qualquer dos casos a Wansmissho Ao eXOnerA O antigo devedlor, havendo declaagio exprossa clo credor, de contrdrio, © antigo devedor responde solide riamente com @ novo obrigado" (xrifox nossor). Bw awsungao cumulative on eoownnungha da divide (CE, PIRES DE LIMA © ANTUNES VARELA, Codigo Civil Anotado, vol. 1, 167, pig 422, 02), ob, EMANN, ob. cit., pig. 211, nf los a seus, Luiz Roldao de Freitas Gomes 91 No entanto, o defini-la por caracteristicas mais concisas nao se prende a ques- J) le estilo. Concerne, antes, & concepeao que se tenha do vinculo formado com 0 §yyionso do novo devedor perante © credor, se proprio de uma obrigagio solidéria perfor 153. Tendo em vista o fim a que normalmente visa, qual o de propiciar maior ‘epurunga ao credor, vitalizando-Ihe a garantia de cumprimento da obrigagao, a ‘souigio em espécie 6 também denominada assungio de reforgo ou reforgativa e, ‘sili, contirmatoria da divida37 Na verdade, mediante o reforgo de novo devedor, facilita-se a prorrogagao do iyo da divida, obtém-se aumento do crédito ou mesmo evita-se a execugao forga- 1) (inediata ou prevista.3® CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO atribui-lhe, porém, de forma ampla, Wii diversidade de escopos ou fungées, esquematizados por WEIGELIN, in Der A hwldbeitritt, Berlim, 1941, pags. 35 & segs., em consonancia com os seguintes uhjolivos, cujos exemplos fornece, colhidos da pratica alema: ou nao. 4) fim da garantia do credor; b) fim de realizar uma transmissio de divida, quedada, porém, incompleta; ©) fim de extensao ou ampliagao de uma comunidade juridica.2 154. Recebe esta figura juridica, demais disso, outras designagdes em razio hy sous eteitos: co-assungio de divida, adesio, acessio ou adjungo A divida, assun- $0 inultiplicadora da divida.4° HEDEMANN chama a atengio para a circunstincia de que a expressio cumu- \iliva provém de cumudus, que significa montio, pluralidade.4! Daf methor ajustar- oy Iho, a nosso ver, a nomenclatura assungao cumulativa, em virtude de caracterizar- VJ. Cl. VAZ SERRA, ob. ¢ loc. cits.; HEDEMANN, ob. e loc. cits.; PUIG PENA, ob. e loc. J LARENZ, ob. e loc. cits.; ANTUNES VARELA, 0b. e foc. cits; RUGGIERO, ob. cit., pig. 141, que se refere a accollo rafforzativo (do tedesco bestdrkende), PONTES DE MIRANDA, of) (i, pigs. 390/1, que considera imprépria a expresso confismativa. ‘W PONTES DE MIRANDA, ibidem; VAZ SERRA, ob. cit., pag. 190; LARENZ, ob. cit., ay, ANA , W CARLC J Injore, por isso, este autor, do que eh fw A dividla, que ela ocupa uma pos ALBERTO DA MOTA PINTO, Cessdo da Posigdo Contratual, pig. 151, nota 1 4 plurifacetada onalidade ow instrumentalidade intermediria entre a fianga e a assungdo libera- WW. VAZ SERRA, ob, cit, pig, 189, nota 1, “b", ENNECCERUS, ob. e loc. cits.; LARENZ, A, Das Obrigagdes, pig. 322, No Direito alemao, & cha- ls, Varladamente, Sehuldbeltritt, Sehuldmitiibernalme, Kumulative, vervielfaltigende oder bes Hirhende Sehuldibernaime (Ch, ANTUNES VARELA, ob, eit, pags, 4922/3, nota 5), ORLANDO: HOMER (Obrigagdes, W187, pig, 287) adota W expronsio reforco pessoal da obrigagdo, lovando oH consldoragio Kot dxcope do ummpliar, para © eredor, ax poanibiidaden do natinfazor 0 erddito, AL MDEMANN, ob ef pits 211, Wea Wh elt, pig. 483; ANTUNES VARE 92 Da Assungaio de Divida e sua Estrutura Negocial se pela superveniéncia de um ou mais devedores, ao lado do originério, na mesmi divida, j4 existente quando a assumem. § 22-Caracteristicas a) Modalidades 155. A assungiio cumulativa da dfvida pode ter lugar, tal qual a privativa, cot se verd, mediante contrato do novo devedor com o credor ou com o antigo devedor.42 PONTES DE MIRANDA chama-a unifigurativa no primeiro caso e bifigural va no segundo. 156. Questiona-se acerca da necessidade do consentimento do credor, ni ltima modalidade. ENNECCERUS, invocando a opiniaio de REICHEL, STROHAL e STAUDIL GER, entende-o dispensfivel, posto que nio se dispde de seu crédito.4> jurista alemao menciona, todavia, 0 ponto de vista contrério de GIERI WESTERKAMP, KLUCKHOHN e¢ PLANCKSIBER: 0 credor pode ser prejudicat pela circunstincia de que surja contra si uma nova possibilidade de compens: Replica ENNECCERUS, alegando que, como num contrato a favor de terceir pode o credor rejeitar o direito gerado a seu prol, que se reputa nao adquirido. No sentido da desnecessidade do consentimento do credor, nesta modalidade, sa ainda os pareceres de LARENZ, VAZ SERRA e PONTES DE MIRANDA," acen tuando 0 jurista tedesco e 0 patrio que, por unicamente favorecer o credor, que passa ter dois ou mais devedores em vez de um, toma-se prescindfvel sua aquiescéncia. b) Natureza Juridica 157. Toca-se ponto importante e discutido, a que da azo a segunda modalida de de assungio cumulativa de divida, ou seja, a que se realiza por contrato entre 0 devedores Fazendo nascer um beneficio para o credor, que nao participa da avenga, con- figura, para alguns escritores, um contrato a favor de terceiro lato sensu.4 42, ENNECCERUS, ob. cit., pag. 413, III, 2, “a"; PONTES DE MIRANDA, 0b. cit., § 2.865, pags. 390/1, 1 e 2 ‘43, ENNECCERUS, ibidem, nota 10. 44. LARENZ, ob. cit., pig. 483; VAZ SERRA, ibidem; PONTES DE autor portugues evoca ainda as op favoraveis de LEONHARD, WEI MANN 45, VA LARKNZ, ob, lly pigs AV IRANDA, ibidem. O AIN, HEK © OERTs ARRA, ibidem, pig, 190; ENNECCERUS, ibidem; OERTMANN, ob, clfs, pig. 116; iis, pi. 484); BOPFL BOGGERO, ob, elt pig. 654; EDUARDO ESPINOLA, ob; wT, Luiz Rolddo de Freitas Gomes 93 No entanto, mesmo aqueles que assim a identificam, como LARENZ e VAZ AERIRA, reconhecem que nao se trata de um contrato a favor de terceiro nos moldes sli prescrigdes ditadas para esse instituto nos §§ 328 e segs. do Cédigo Civil alemio. Com efeito, a obrigagio do novo devedor nao se rege, quanto a seu contetdo, jwlo contrato assim pactuado, mas de acordo com a obrigacao j4 existente do deve- or originario. Destarte, esclarecem aqueles juristas, o tempo da prescrig’io transcorrido antes 1 assungdo cumulativa e sua eventual interrupeao atuam a favor e contra 0 novo Movedor.46 Prosseguindo 0 raciocinio, 0 assuntor pode opor ao credor excegdes fundadas {i felagdo entre o credor e 0 antigo devedor (§ 417, alinea 1, do BGB), nao lhe vubendo invocar as derivas da relagao entre os devedores (§ 417, alfnea 2, do BGB), ios comunicada a assung%o ao credor, Ora, a admitir-se que se est4 a cogitar de um contrato a favor de terceiro, as Soins se passariam de modo diverso, uma vez que, consoante o § 334 do BGB, ina- jilieivel & assungao cumulativa de dividas pelas razdes expostas,47 0 promitente {jue seria no caso 0 assuntor) pode, no contrato a favor de terceiro (no caso, 0 cre- slo), opor a este as excegdes resultantes do contrato. Os fundamentos invocados por VAZ SERRA e LARENZ evidenciam-se irre- {\iliveis no descaracterizar a assungao cumulativa de divida mediante acordo entre 1) devedores como tipico contrato a favor de terceiro. Na intuig&o desta diferenga € que talvez tenha OERTMANN falado em “o uno Jv estos contratos a favor de tercero, 0 algo muy andlogo a ellos, en todo caso”.48 Entre nés, PONTES DE MIRANDA, esposando a argumentagdo de que a ubrigago do novo devedor hé de reger-se, quanto a seu contetido, conforme a obri- yigllo originéria e nao pela convengio entre os devedores, sustenta que esta nfo se ofiye em contrato a favor de terceiro propriamente dito. A assungio cumulativa {iplicaria, meramente, uma estipulagaio em favor de terceiro, em prol do credor.4? Com a devida vénia do eminente jurista patrio, entendemos que a \nungilo cumulativa de divida, por sua estrutura e contornos jurfdicos proprios, nio w \dontifica, também, com a estipulagao em favor de terceiro. Nesta, a obrigagao do Jilor seria regida, por igual, pela convengaio que a contém e nfo pelo contrato clerizar sua unidade, peculiar & assungo de divida. 158. a (ipindrio, de molde 46. Dosta forma decidiu © Tribunal do Reich, mencionado por LARENZ, (0b. cit., pag. 484, Wola 12) RGZ, 143, 156), 4), Noxto sentido # opinivo de P LAIUNZ, 0d, cit, pig. 484, notw 18. AK OERTMANN, ob: 0 Loe, elt 40, PONTHS DE MIRANDA, ibidem, Hata, por igual, « concepgho de ORLANDO GOMES (uh 0 Loe, ells), ao oxpor que, H@ evlebrade eon 0 devedor, O contrato polo qual Ke inatitul o rofor i), dentine 0 Feito de una eatipalagin enn favor dle terewire, SHR, embora adversa a de HECK, ambos citados por 94 Da Assungdo de Divida e sua Estrutura Negocial Tenha-se em vista ainda 0 regime distinto das excegdes num e noutro caso, de Joma andloga 4 comparagio estabelecida com 0 contrato a favor de terceiro, Sem prejuizo do melhor desenvolvimento desta matéria na Seg’io V do Capitulo seguinte, somos de parecer que os institutos nao se confundem, com a ressalva de eventuais coincidéncias, definindo-se a assungio cumulativa de dividas, por sua pré- pria natureza, como um negécio jurfdico pelo qual um novo devedor se incorpora a uma obrigagao j4 existente, que the 6 comunicada em seu lado passivo, ¢ da qual no se despede 0 primitivo obrigado, junto de quem o novo ingressa na relagao juridica.50 c) Vinculo entre os Devedores 159. Os autores estrangeiros, de um modo geral, inclinam-se pelo surgimen- (o de uma obrigagao solidaria na assungio cumulativa de divida. O credor pode exi- uir a {otalidade da prestagio, quer do primitivo devedor, quer do assuntor3! © Cédigo Civil italiano prescreve na alfnea 3 do art. 1.273, ao tratar do accollo, que, “se non vi @ liberazione del debitore, questi rimane obbligato in solido col terz0”, «uando o devedor e um terceiro convencionam que este assuma 0 débito daquele. 50, Coneebendo a assungio cumulativa como forma especial de transmissio da divida, sem #Xonerigio do devedor originério, além do ponto de vista de OERTMANN, que fala em transmis- slo cwmulativa, mencionem-se os de BAUDRY e BARDE, ob. cit., pig. 79; CARNEIRO VACHECO, ob, cit. pag. 4 que inclui a transmissdo cumulativa ou imperfeita entre as hipsteses lutidivns dle sucessio singular nas dividas, SORIANO DE SOUZA NETO (Da Novagao, pags, 10/1), por outro lado, diz. que “os autores allemdes e austrfacos, tratando da assumpgao de divida, Jilhin-a sob (riplice aspecto: assumpeao de divida privativa, assumpgio de divida cumulativa © wuiimpglo de pagamento ou cumprimento (Zahlungsuebernahme, Erfuellungsuebernahme)”. Divergimos, com todo respeito, dos trés tiltimos autores, quando situam a assungio de cumpri- mento ou promessa de liberagio entre as formas de assungio de divida, pois que no gera qual- er direito para o eredor contra o terceiro, que promete a seu devedor exoneré-lo, sendo distintas 1 obrigages e respectivos sujeitos passivos, como serd analisado na Segao III deste Capitulo, Na assungio cumulativa, a outro tumo, embora seja a mesma a obrigagio para o primitivo e 0 Wwesm-chegado obrigado, ndo se dé transmissio da obr mas, simplesmente, sta comunica- yilo, no lado passive, ao co-devedor. A este propésito, leiam-se o item 140 e a nota 237-A da tese, 51. No sentido da constituigao de obrigagao solidiria mencionem-se os pontos de vista de KINNECCERUS, ob. cit., pig. 414, “e” e pag. 443, § 90, nota 10; VON TUHR, ob. cit., p "4; BOFFL BOGGERO, ob. cit., pag. 654; RUGGIERO, Accollo, in Diz, Prat., pig. 48, n® 11 HARENZ, ob, cit., pig. 483. O tltimo jurista esereve que, no caso, a relagio de divida jé existente Ww transforma, sem que mude o contetido «la prestagiio devida, em uma obrigagio solidari VAZ SERRA (ob, cit, pag. 195) diz 0 que entende razodvel: “Se um nove devedor se obriga 1 con © eredor sem delegagio do antigo devedor, © o credor nio exonera exte devedc F obrigado como j4 o estava e, portanto, pela prestagiho integral, mirne que quer obrigar-ne in solidum." VON TUHR (ob, cits, n® 89, IL, 1, pig, 258) exprime que 0 ato de assuingtio eu Ji, 0H qe O AAKUNIOF Ke Lorna devedor solidirio, podesxe do primitive devedor © até conten ela, Bde parecor que, ap HOjaEK®, CONGOMIMANIOMENIe, ery (OdW ae Obrigagdox do antigo Obrigado (¥, Be, NO Conta de compra & Venda ou arrendaniento celebrade por ante), nord HoeuNsAriO CONTA CORLO COnKMREMONtO dele, panto que ae trata de intiocwel modifieaghe ne cantatas deve iquele & de presu uilativa clo divi ealizar incopondontomente di vontade ix quando o asKuntor tonhe de subs Luiz Roldao de Freitas Gomes 95 |ualmente © Cédigo Civil portugues preceitua, no art, 595, 2, que, “em qual- or dos casos a transmissio s6 exonera o antigo devedor havendo declaragio eapiessa do credor; de contrério, o antigo devedor responde solidariamente com 0 juve obrigado”. 160. Contudo, nao é pacifica a caracterizagio da solidariedade nas relagdes J) se formam entre os devedores € 0 ctedor de um lado, e daqueles entte si, de outro. i RUGGIERO, ao referir-se as quatro espécies de accollo que distingue (sim- jlo, cumulativo, novativo e privativo), menciona que, para alguns juristas, no ‘\inulativo, © accollante (devedor originario, em sua designagio) permaneceria ‘briyudo subsidiariamente, 0 que critica sob 0 argumento de que, nesta hipétese, as jim gunda espécies de accollo se confundiriam.52 PACCHIONI, escrevendo antes do Cédigo Civil italiano vigente, assinalava {Www 0 accollo cumulativo podia dar ensejo a varias combinagées: 0 novo devedor jinderia ingressar na relagdo obrigat6ria ao lado do antigo, seja in solidum, soja jllrnativamente, quer na qualidade de devedor principal, quer a titulo de fiador.53 /) \intese, poderia obrigar-se solidariamente, de modo alternativo ou subsidiério. Ni diivida, a seu ver, diante do disposto no art. 1.137 do antigo Cédigo Civil (regra 4 \nlorpretago contratual em favor do devedor) era de admitir-se contraida a divi- ia viltima forma. © Dr, NEY FERREIRA, in Da Assungdo de Dividas, pag. 72, comenta que a {iuloria dos autores italianos tende a negar a existéncia de verdadeira solidariedede 4) couassungao, na qual vem uma situago de vinculagao sucessiva: os dois devedo- {0 nlo esto no mesmo plano de responsabilidade, embora possam ficar responsabi- Jinidos pelo mesmo débito (Reporta-se a MESSINEO e RESCIGNO, na nota 101 & jenna pég.). Menciona ainda (ibidem) que a doutrina alem& nao vé sempre na \nungdo cumulativa uma fonte de solidariedade propriamente dita, visto que, para jiyuns autores, a co-assungao apareceria como uma alternativa introduzida do ponto ‘ie Vista do sujeito passivo da obrigagao, ou seja, como uma obrigagao disjunta (Molore-se a ensinamentos de SALEILLES, in De la Cession de Dettes, pp. 6 ¢ 7). 161. No entanto, mesmo em face do texto do Cédigo Civil portugués com Joligllo A solidariedade entre os devedores, ANTUNES VARELA 6 categérico no vapressar que, apesar da afirmagio de algumas legislag6es, no se dé nascimento a vineulo de verdadeira solidariedade entre o antigo e o novo obrigado.5+ \2, RUGGIERO, ob cit, pigs. 44/5 4\, PACCHIONI, Delle Obbligazions in Generate, pig. 369, 0&7. MA ANTUNES VARELA, Direito das Obrigagdes, Forense, vol. I, pig. 369, n® 145, Das Obrigucdes em Geral, Liveatia Almodina, vol. 1, pags, 339/40, n® 371, 1. Ein ambas ax obras, 0 Jurinti Tivo lovenvolve soun fundamentos contra a conatituigho de uma obrigagho solidéria perfei fy, conwapondente ao tipo de yotidariedade paxsiva provinto @ ropilado nox artigos 512.6 Keguintos ‘lo Codigo Civil portguds, No mexmo sentido o Prof, DIOGO LEEPE DE CAMPOS, In Contato a Favor de Terelra, Almedina, Coimbra, 1980, pag. 68, onde Invoow também VAZ SHRRA, in Ne eee eee eee eee ee een ee ee A 96 Da Assungao de Divida e sua Estrutura Negocial A seu pensar, porque seja intengao da lei conceder ao credor 0 poder de exit © cumprimento da obrigagio indistintamente de qualquer dos devedores, a obrig G40 do assuntor adquire feitio de soliddria, De outra parte, entretanto, “o fato de obrigag&o que o assuntor chama a si ser, na sua raiz, uma obrigagio alheia impri a posigdo dele uma natureza que, em alguns aspectos, a afasta decididamente regime da obrigagio solidaria”. E argumenta com as seguintes situagbes: nas obrigagdes solidarias, se um d devedores opSe qualquer meio de defesa pessoal contra o credor (por exemplo, incapacidade, 0 erro, 0 dolo ou a coagio), pode aquele exigir dos demais a reali cao integral da prestagao; na assungo cumulativa, se 0 primitivo devedor impu: 0 crédito com base em qualquer meio pessoal de defesa e a impugnagio é julg procedente, caduca a obrigagio do assuntor, visto que esta pressupoe a existencia a validade da obrigagao do devedor primitivo. Por outro lado, a coisa julgada que o credor tenha obtido contra aquele devi dor, € opontvel a0 novo, sem prejuizo apenas dos meios pessoais que este pos invocar, uma vez que € a obrigagdio do primeiro que serve de objeto a do assuntot Ocorre diferentemente com respeito & obrigagao entre devedores solidarios. Nota-se diversidade de tratamento, também, quando se tem em vista a pres ¢40. Deste modo, se esta prescrita a obrigagao do primitivo devedor e 0 novo é ch mado a cumpri-la, nio goza do direito de regresso contra o primeiro, porquant carecem eles de vinculo substancial de solidariedade que 0 justifique. A este propésito, evidencia-se nitido trago distintivo em relagao a obrigag solidaria perfeita. Quem quer que cumpra a obrigagio — 0 assuntor ou o devedi originario — niio é dotado de direito de regresso contra 0 outro pela s6 solugéo débito, salvo se constar de forma diversa no contrato que serve de base & assungao, Esta avenga € que define as relagdes internas entre o assuntor e 0 primitivo obriga do. Do mesmo pensar 0 Dr. NEY FERREIRA (0b. cit., pags. 72/3), para quem, “ verdade, pode nio existir, por efeito da prépria natureza da assungdo cumulativa dos termos do respectivo negdcio assumptivo, direito de regresso, total ou p quota, do novo devedor que paga a divida ao credor contra 0 antigo devedor”, Assim também o Prof, DIOGO LEITE DE CAMPOS, in Contrato a Favor d Terceiro, pag. 68). Realmente, visando a assung%io cumulativa da divida proporcionar ao credo uma garantia de execugiio da obrigago mediante a chamada que 0 novo devedor faz a si da divida, nao tem sentido que, pelo mero fato de cumpri-la (ao que justamente se comprometeu), venha 0 assuntor pleitear receber a parcela que seria imputavel a0 primitivo obrigado, numa obrigagdo solidéria perfeita. Menos raziio assistiria a0 devedor origindrio, que cumprisse a obrigagio, de postular idéntico regresso contra o assuntor, levando-se em conta ainda que a reali« zagio da prestagdo estava a seu tinico e exclusivo cargo, inicialmente. Nos exemplos fornecidos pelo Professor ANTUNES VARELA, se 0 mari= do paga ao locador a divida de aluguéis, que a mulher também assumiu, ou quando uma sociedade incorporadora assuMiu 48 ObrigagSes da ineorporada, som excluir a responsabilidade desta, nO WM eabimento falar em direito de Luiz Roldao de Freitas Gomes 97 fyiexso, quer do marido contra a mulher, quer da sociedade incorporadora con- (que incorporou.55 162. A par dos ponderaveis e judiciosos fundamentos invocados pelo jurista jovlupues, para afastar, na assungao cumulativa de divida, o reconhecimento de uma hvlyagao solidéria perfeita,S* plenamente ajustaveis ao Direito brasileiro, uma outra |jwatlo se propoe entre nds, a desafiar a argticia dos jurista f° que a solidariedade nao se presume, resulta da lei ou da vontade das partes (wil, 896 do Codigo Civil). : Situagio parecida se coloca no Direito espanhol, onde, segundo PUIG PENA, © procedente afirmar que a adesao a divida no produziré jamais a solidariedade, se /4l nlio foi pactuada ou nio se deduz do teor do contrato, conforme se depreende \\i ait, 1.137 do Codigo Civil e do prinefpio do favor debitoris.7 Nada obstante, consigne-se, desde logo, que, na doutrina brasileira, PONTES })) MIRANDA e SIDNEI AGOSTINHO BENETI explanam, sem qualquer men- (i A aus@neia de pacto neste sentido, que a assungao cumulativa de divida gera a ‘Jidriedade entre os devedores. Acreditamos que, com esta afirmagio, estejam os \\juilos juristas nacionais a reportar-se 4 regra basica sobre a solidariedade, constante sh) wl, 896 do Cédigo Civil, que a admite, também, de forma ticita, no comentario, \). ANTUNES VARELA, Direito das Obrigagées, vol. Il, pag. 370. RUGGIERO, ob. cit., joiy. 8, também entende que, por nao diminuir a responsabilidade do primitive obrigado, no dis- joe wale de direito de regresso ou de ago por perdas e danos contra o assuntor. {0, Bem provavelmente na percep¢ao das dissemelhangas trazidas a lume, de forma racional, jo) ANTUNES VARELA, € que OERTMANN tenha externado que “pero ya constituida la deuda ‘hy |) porsona incorporada, esta deuda se desenvuelve por cauces propios, paralelamente a la del juiiuilivo obligado; es éste uno de los casos de correalidad pasiva (correi debendi) en que el con- Jojo y ef alcance de los deberes de casa uno de los deudores son fundamentalmente indepen- weilon” (ob. cit. pags. 16/7). A seu modo de ver, o que hé de comum e aglutina ambas as obi jon distintas, coexistentes, 0 fim, de tal sorte que © pagamento efetuado, por qualquer dos |: \edoros & provido de eficécia liberatéria com relagio ao outro, ‘7. PUIG PENA, ob. cit., pig. 298, nota 31, “b”. O autor cita, todavia, em outra passagem {iol 42, pag. 305) um aresto do Tribunal Supremo, de 28-9-1960, assentando que “no existe en echo obstéculo alguno a que un nuevo deudor se adhiera a la deuda con carécter soli- w bien es menester se determine expresamente la solidariedad, aunque esta exigencia no arse en un sentido riguroso, que obligue el empleo de Ia palabra solidaridad o de la derivado, sino que debe admitirse siempre que sea conforme a Ja inten- Sn do Lax partes, y, en los casos de asuncién acumutativa, dada la naturaleza de la operacién, 1a Hidaridad ste respeito, PEREZ Y juwatro De Jolie Anterpr \julquler vocablo de ne al propésito de las partes”. A e i siempre conte AL CIUER xalicntam que a dnica diferenga, neste particular, entre o direito alemfo e 0 espanhol Jeaide om que, no Ultimo, & forgoxo se determine expressamente a solidariedade, Mas, ressalvam, Sono PUIG PENA, quo esta exigeneia io xe interpreta no sentido rigoroso da mengio do vocd- hilo “solidariedade" ov outro dele derivado, devendo-ve udmitir que foi pactuada, nas condiges jpontadan por aquole jurist, Reportaneae & ums docisio de 8 de julho de 1915, que reflete este filondimento (Anotagdox & obra de HNNECOKRUS, ob, eff, pap, 422, ML, 2) AW, PONTS DE MIRANDA, 0b ef, pit, 2600/1; SIDNET AGOSTINHO BENET ob, cit, iy 28,

You might also like