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tira, desde os primeiros anos escolres, representa um dever dos profissionais da escola, pois as erangas dessa faixa etiria ainda ‘io desprovidas de auonomia para aceitar ou near 0 apeendiza- do proporcionade pelo professor. E tornam-se vtimas inlefesas dos preconceitos ¢ esterestipos transmitdos pelos mediadores socials, dentre os quaiso prolessor.Promover uma educago part DS entendimento dis diferencas éiicas, livre de preconceitos,re- presenta uma possbiidade real da formagio de sujitos menos preconceituosos nas novas geragies. A prevenedo de peiticas fiseriminatérias, penso, requer um trabalho sistemsitico de reco- ‘hecimento precoce ds civersidade étnica e dos possiveks proble- Ins que o preconceito ca discriminago acarretam em solo bras leit, desde a educagio infantil ~ familiar ¢ escola. Tal pritica poxle gir preventivamente no sentido de eviar que pensamentos Dreconceitionos e praticas discriminatorias ser) interionzados © trisualizados pelas eriangas, num pesfodo em que elas se encon- team muito sensiveis as influgncias externas, cuzas marcas poder determina serias conseqigneias para a vid aa FAMILIA, ESCOLA - SOCIALIZACAO. E AS DIFERENCAS ETNICAS Lado com ini que nasa suasexporbcias,contam suas striae fe ar essa prsmo, ds ves, cone! do ds prevcupagies cx fomas crucias sn gor, comuns fmrevistadese entrristador A contersa nado € sobre crongas@cos- fumes exticos soca do pesqussador elo coma, a Dore dea fas neforéncha experienc stricas, no sentido mais ‘ample cotdanas também domi mud, eas noes alcdese perplesdaces, i Tie o peeqisador, a realizar entrevsas e recaler Misti de ‘da, set aumentaidodirlainenteo ne conecimenta sobre inka soctxdade eo meo social em que estou mais dietamente tnsero ow seja, claramente envolvido em ism processo de ‘atcconhectmente 3, ier Velho (© eaminho seria menos Arduo, fosse outro caminhante? Dentro dos aspectos destacado pela pesquisa, jlo imporante apontar fate de ser eu uma pesquisidora negra, Se fosse eu bran ‘i, ou ainda, um pesquisador do sexo masculino, por certo teria tum ollie’ derente sobre esse tema ” sem divida, 0 fato de ter sido crianga negra e vivenciado slivaigdes muito semelhantes as que ld encontre! possbltoa-me ‘dentific melhor os problensss. Ser mae de criangas negras, educadora e diretora de pré ‘escola, pesquisadora das temiticas educacionals ¢ tnicas ¢ ter testruturaco a pesquisa dentro destes universos pode ter conte buido muito para eaptar as informagses que constam neste ta batho, E como afiraa Gilbero Velho, no texto que abre este capitulo. © conhecimento das informagdes que constituem este taba tho s6 fot possivel devido 2 minha insercio no cosidiano pres ‘colar. Com vists a este fat, compreenclo ser importante apresen- taras minhas consideragdes acerea do meu relacionamento com {0s profissionais, com as eriangas e com seus familiares. Logo que me apresentel a diretora, com a proposta de pesquisaro processo de socalizago escola, fii bem recebid © 0 meu pedido, prontamente atendid. Passe a estar semanalmente na escola Assim, aos pouicos, ful me tomando uma pessoa “mals alia” Aquele grupo. ‘Alem das observagdes em sala de aul, as realizadas no par ‘que propicaram-me 0 contato como alunos e com 2s proisso- ais da escola ‘os pouces, fui deixande de serassediada pelascsiancas com suas inomeras pergunias. De certo mode, posse airmar que rap ddamente clas se arnstumaram com a minha presents. Considerando este fito, eausaram-me estranheza as diversas ‘vezes emt que fui ahorlada pelas professors, com penguntss do tipo “Qual € mesmo o seu nome, “Sobre o que mesmo vor pesquisr", “Noce & estaginia, nto €” Em outrasstuagdes, nao menos inesperadas, fi surpreendi- ‘da com pedios de ausiio do tipo: “Voce no poderia fazer um ‘earaz para a Piscoa?, "Voo® pode me zjudar a servr 0 lanche”, “Sabe tuma musiquinha para cantar para as erangas? [Nao sei até que ponto eu deveria esperar que esses pelos fossem fetos. Nem se devera consideri-ios comuns. Mas € Fato ‘que eu me apresentei como pesquisadora, para realizar um taba- Iho de campo sobre o cotdiano escolar Ba me recusava a atend-as e explicava © porque da minha. presen e, mesma assim, ox pedis forum divers vezes repos 0 Diante desses arontecimentos, questiono novamente: 6 eu Fosse uma pesquisadora branca ou ur homem, receberia 18 mes- ‘mas solictagées? Cera ver, enquanto eu analisava 0 eonteddo de uma pill de livros de Iteratua infant na sala das professoras, uma profes sora, que mimeografava aividades part os seus alunos, ped Voce no poderia me ajudar a rodar essas folhae Tenho tanta ‘ois para fer que acho que no vai dar nem tempo". ‘Bevo confessar que esse pedo surpreendeurme muito e eu Ihe disse que nio poderiaajud-la, pois estava “desenvolvendo 0 meu proprio trabalho”. Ea ainda prossegniv, dizendo: "Pease! que ‘ce esivesse aqui para ajudar as professoras, De vez em quan do, as mies sio chamadss para ajuda” Seri que, de fato, eu hava sido confundida com alguma mae, tembora eu houvesse conversado muito com ela anteriormente? Diane disso, questiono se a ocomrénciadesses convites 130 cestaria ligida a uma desvalorizagao do trabalho de pesquisa e/ou da pesquisidora que li exava. Assim, fico imaginande se outros ji tena eeebido convites semelhantes. “Hem outras stuagbes, muita Gnfase foi dada a “mink bele- 2a", Assim, fui tatada de “mulata linda’, “erioula, cvioula bonita” ¢, ainda, de “negrona maravillosa". Posso até concordar com a ida de ser uma muller bonita e de que algumas pessoas costu- mam enquadear-me no famoso esteredtipo “mula Sargentell mas nada que devesse ser constantemente enfatizado. [No final da entrevista com uma professors negra, ela comen- tou; “Voc® & muito bonita. Nao seria diseriminad. Hoje o negro esti mais bonito, Voce passa por beanca. Ninguém te discrimi’ Nessa escola, presenciecenas que jamals pensel encontrar Por diveras vezes, abateu-se sobre mim um sentimento forte de Jmpoténcia. Confesso que foi, cm muitas stuagdes, dill resistr 20 desejo de interfer. ‘Assim, o prazer de estar ralizando 0 trabalho de campo, «em muitos momentos, fi substiuido por sentimentos de raiva tdescjo de interferir. 180 surgia com base na observagio da vio- Tencia exercida contra uma vtima que no domina os mecanis- mos de defes Acrelito.que muitos dos acontecimentos que presence\~atos _grosseiros praticados por profissionas da educago ~ 40 ocorre Flam com cfiangas ou jovens de mais ade a [No cotidiano escola, pouca atencao € dada 20 desenvolvi= mento social das criangas, Temas como amizade,fraternidade respeito parecem ausentes nessa escol. ‘O plor € que essa auséncia & entendlda como positva: "Essa escola é boa porque mii se fica em cima das crianeas como nas parcculares, Aqui, elt aprende a se Vir sozinha', comenta uma as professors Esa snterpretacio ersbnea do consrutivismo de Piaget resul ta numa auséncia de interaglo entre as professoras eas enancas ‘Oque€, penso, una aude bastante coeoda, pois, da forma como, se mostiou, devem deixi-las livres para aprender, diminuino as- sim os seus esforgos a favor dessa aprendizagem Durante minha estada, a relagio com as criangas ocomreu de forma bastante harmonioss. Fut considerada(etratada como) uma peso amiga, Provavelmente porque, mesmo nos momentos em (que cls transgrediam as regras da escola, eu nada fava, Results do ful muito eljada e paparicada por ela Mas devo dizer que as perguntas e 08 beijos contabiizados pertencem, na Sua grande majoras erancas brancas. As negrss, ‘embora demonstassem muito interesse por mim, procuraram-me ‘em menor gray do que 2s outs. ‘No que se refere as entrevstas com os familares, senti-me mais & vontade em abordae o assunto das dferengas &micas com ‘a fanias negeas. Els foram, mbm, mais espontineas em suas falas: explicagbes dos conto, lembrancas e comentirios. As familias brancas explictaram o que pensavam sobre 0 a8- ssunto © qual o comportamento Familiar 2 esse respeto, Foi mals, ‘lfc, porém, a conversa fli. As respostas foram mas curtas; linha de pensamenta interrompid com grande frequéncia; os des- ‘ios no racocinio, mais violentos, oj nesse context que pude reuniras informagbes que aqui present, Perfil das profissionais da pré-escola Apesar de me valer de nomes ficticis, as informagbes constantes sno quado a seguir apresentam 0 peri de cada uma das profess fs entevisadas ¢, penso, pode ser considerado bastante repre= sentativo do universo da pré-escola 2 —| a ow] con | formncio | amuagao | TD PEGE? foxtriiow | AAAS Ts a [ae roan ep nu [ona] ae , tow [moma] respon | Potewon | ance Tom regs | Pocomgs | Paton | ann Gon [rans] Potgog | verareon | Dan er aa ms Pedagogia pedagégica in jie Joma vooteaun | Home vet aa es Fwonete | Neer | completo | _limpezt pt [anna] retgoau | Dweom | sano a ee el sou Joon] Patazga | reioson | azann iictelsoain| tanga | rotor | ome Harmonia e serenidacle: um aparente paraiso escolar Sentadas ombroa ombro, as etancasse encontram na sla deal ‘Um olhar sobre esse quadeo transmite ao observadora sensacio de uma relagio heamoniosa erire adultos ¢ criancas de todas as ‘Nesse contexto, a formacio muliéinca traduz bem a socie- dade brasileira: negros e brancos em situacto de relacio dria, tsufuindo, aparentemente, das mesmas oportunidad. A escola 8 representaria, assim, um espaco positive e democritico que ses peiacia as ciancas, promovendo o seu desenvolvimento. Muitas vezes as professoras encaram sia prafisio de forma assigencial e mater uma fase especial da eran, que tem que ser respltds ‘Tem que puis para una reaidade,Aquelsealidade tein, anda da cpa, da mae que papa, € uma fase diel. Na ‘erdade o profesor € pscslogo,asssteme socal Em alguns ‘momentos Woe é mae. Fata com osenimento de mde, Quan Sowece gosta mesmo, exist o amor existeo respite voce tem pelo ser humano, que € aquelseranga, que est em de- senvolvimento, (Teodors) Ao jusiicar a importincia da pré-escola, disse uma press ra que € vsivel a diferenga entre as eriangas que a frequentaram & aguelas que no: Bu penso que a préescla& importante tanto quanto a ekanga ‘nts eas, 2a contin. Eu serio pom, inchs, € uma manele dela Fear mais expen, mals ents, menos timid. Ba observ as rings que na feram ewe ie renga. Quem faz se desta mal lea mals exper do que aque Ta que entra pela primeira ver na esol. (Ana) No decorrer do trabalho de campo, foi possivel eonsatar, 90 cespaco de ciculacio das criangas, a auséneia de cartazes ou 1808 infantis que expressassem a existénca de eiangas nlo-brancis na sociedacle brasileira. ‘No lala, em nenknim momento as professors referieam- se 4 quescio da convivencia muleniea dent do espaco escolar, ‘e menos ainda a sociedacle, No entanto, assim como na vida 50" ‘al, constantemente, clas se bascavam na cor da pele de seus al nos para diferenciar uma cranes da outr "a moneninha",°a bran ‘quinha’, saquela de cor’, “0 japonesin 0 nao seria problematica se no vigorasse, 20 pais, uma hierarquia nica, De todo modo, cabe considerae que esses co- rmentiios,fetos na presenta das cranes, so interiorizados por ‘elas, sem 0 acompunhamentoertco dos adultos 4 sua volt, -Mesmo assim, a8 eclcadoras entrevisidas afm que © = lacionamento entre as cranas & na matoria das vezes, natural, alegre e espontdneo: “4 ‘A crianga se advise muito bom. Ba consegue supers 0s traumas, o medo, ay dicrininagbes ~ cor de pele, dents, cx tplos Ecomeca tapreca, dea de exist pare pista, € sca esquccendo as diferencia) (Outta sponta a facilidade de relacionamento entre as cts cs de idades diferentes; ire as cranes, undo ve difeuldade na socaizaco, 90 Felacionsmento entre 08 vtlosesigios. Como agora, 08 Pe Aiveniinos comegam e dala dois das esto complemen tea vontade «Dalva) A fala da menina Aparecida, de seis anos, eontraciz, porém, as das professoras © mosira-nos que, em kade pré-escolar,€ poss ‘vel perceber diferengas de traamento e associelas a origem & hic, Segundo afirma, as eriancas 6 brincam com ela ‘and eu tego bringuedo. Porque eu sou pret A gente ex Ma bincando de mame, A Cain brane flo: "Fu no vou era dea (propa ctanga que ests namaindoy A Cam ‘que € banca nao tem nojp de mim, ‘Mas outa clans em neyo de voce? Sem [Nos momentos de confltos, permanece a idéia de que eles .sio naturise algunas professoras éndicam o revide da agressio (0 relaconamento ent ees (os alunos) € atime, pore 20 mesmo tempo que esi40 briacando estio, depois, se fsapeando. Finca minis brincindo, cinco begin, De Tepente vem aquce: Tia Mal, a Cina ext brgando comigo, 1 inna est ne batendo”, A gene val falar 0 que? Responder ‘que pars cle? "Vi I edevolsa™ Ginco minutos depos pas Sou tt, acabow tudo ¢ fica tudo bem. (Marl) Com a observacio, foi possvel presenciar uma situacio na ‘qual um menino, 20 reclamar para a professora que um outro ha- via pisado nos dedos de sit mio, obteve da professora orem part se vinga E mais ela chamou os dosse mandou que o sewur- Ao colocasse as mis no lio pars que o outro pisasse. 45 © revide fo leve, provocando na professora 0 seuinté co- ‘mento: “Sua some € que ele feos com pena de voce” ‘Assim, muitas vezes as criangas sio incentivadas pels pro pias professoras a revidarem as apressoes sofrdas na escola. NAO ‘So levacs a refletr sobre os momentos de agressvidade, nem a ponderi-os (0 modo como essa educadonts cancebem ocotiano esco- lar e as relagbes interpessoais nele estabeleics difcults a per cepeio dos confites énicos e, inclusive, a realizagio de um t= balho sistematico que propicie a convivencia multétnica, jt que par elas esses problemas inexistem, Afrmam que crkancis ness Faia eifa “ado percehem as dlferencas énieas”e, sesso ocore, “no se importam com elas" Soma-se a isso a ia de que tata desse tert ¢ algo desnecessi- Fo ¢ enfadonho: "Bu sempre flo da hswela do negro, Par io fea asa gente Tal que a lores tém raga que os ann en Sproveita pura lidar com as dats eomemoeatva. por een plo, Dad Aboliso. Ao iatés deta, nesesarament, 0 ego, lt Aurea, aquela coi toda, 4 fete faz Dia dan agas: Pode ser uma eianea de cor, am fir. Agente pode 26 pogaras ras de anima ma cobra, ut icho diferente, tum acre um echo, gts deforma gral, Pk er de aves lung ave de um eto, outa de outro Eno, gente tabla todas a orm, Porque fa co gro, donc fica mo ‘casa, A raga pode serum talc mas plans, wet Planta diferente ours, uma fox), (Ana) 14, ainda, professonis que nto percebem a iafiuéneia dos livros diditicos e paradidticos na formacio do autoconhecimento eda idenuidade da crianca. Segundo aponta Teodors, “no @ ime portnte para a etanga’ verse representada nos livros infants im todas as escola tem (vos). Mas isso no adits, No & timpocante pars a cana, Voce pega um sah, mosta. Tem que ser una coisa préxina & mito mais ell wed falar “ol {que bonito, exe eachorsnho & pret, ¢ lindo, Ese € mt. rom, é lindo, Ege € brane, € lindo, Este € manchadinfo, Tio", Porque € uma coisa que ela esta vendo e sentindo (Una cosa distant nao di Tem livros de stra. Eh, mas ‘as histrias) m0 mexem com ela, come algo que est iva 6 As eiangas nto notam se um personagem & branco ou pre to. his esto ligidas nelas mesmas, no colega que esta tAmlia! Assim, nesse ambiente dereniado par negros €brancs, perocbose qe aaron sade ena, ceded esao a acon {ements que tranforman pena acetgt0 de todon poo tm momentos detent confitos ‘As professonts admit a3 dfculdades das vangas nas rel es uma com stan Hiss emia ee hi age om pro Fomas meas, qe interferes ec, rmane-s, ase sem- " Para algumas entrevistadas, os alunos reproduzem na escola ‘meal dis roles predminnes em ss Fania ‘Bu acho que no comego eles sto um pouco agressivos, por ‘que querem dar ums de pate me Iss porque veem que a ‘ist deles, 0 palea mie que mandam, eacham que podem rmandar no coleguinha, Os Ikderes querem car uma de pal € tne. Ee colega nao fa que cles querem, eles bate, (ma) Apesar de admitirem que percebem momentos de forte rngressividade na gelago entre as eviancas,asseguram, com tran fila, que ha uma intensa preocupacso em desenvolver nos teducandos 0 respeito matuo. Assim, esse tema parece muito vlo- finad, recebende atencao ¢ tendo espaco garanido no cotiiano preescolar. Auatmente, esse trabalho € objedvo malo da esol, A gee sie pctende fazer um bal gd 3 cXdada, Ha todo esse process devespeita, pare tentang, relent, ceca ‘ess tudes interonzadas. De acordo com a le de dierizes ‘hanes, elaboramse progtos pedagogioos dentro da escola, Ciferenciaos de taco que # gene [6 fez Mas.0 obftN0 € © ‘neem, Entio, nés estamos sempre caminhando para 4 melhor de quatiade esse tbh, Dale) ara outs o auto sespeito 6a hase para relagbes harmoniosas: ‘0 respeito dela consigo propria, dela com um colega, dela com rnatueza, E ela integral" CAmlia) a E, ainda, hé quem reconheca a necessidade de integragdo de respeito também entre as propriss professors; Agora, tudo € mu diel, pou tem que ter respet a centre as professors, no hortno do pane, por exemplo. Re peitar © horn, o eronograma, 0 dieto da eranga. Nao € x quele espe, s6-na mancins de ttn, de se comport, & 0 ‘spelt também 3 imegrdade dela, ao que ela tem dreto de receher. (Maga) Assim, a pluralidade émica da sociedade e, principale; ‘do espaco escolar consul um tema que parece nao ter imporn- ‘ia para odeservolvimento do tabalho escolar Naoobstante, cons taurse que 0 respeto as diferengas éinicas no € verbalizado de ‘maneita elaborada pelas professoras. Tambem no planesimento, escolar, essa questo ndo esti colocada de maneina explicit: ‘ay acho que ha preoeupagio com a questo dnica quando a situa se apresena. Ninguéen formal, ou pre-exquetatis {uma cols Ete uma cola que todo atundo tea, devidoa su ‘experinciaemaisominizaciode pensamento. Quinoa gene ‘est junto, tipo reunioes pedagogies, todo mundo faa pouco de sua vivenela. As coiss lose apreseundo no die ‘ta, Cina) A preocupario com a socalizacto estd presente ¢ inerente ‘no abalho escolar, mus sem passar pelas questoes éticas {No tbulho da scialzaglo da cana entra eme aspect. A gente fala muito em reset o amigo, cada im tem aa ve lo €56 na escola, io eleva evar para 4 vl itis, Ee ‘muito obrigado que voce aqul, que a professor estate ens rando, voct tem! que falar na na, vec ten ieerescer asin So.asin as peswats vo aprender a gos de voce ate resp tar, Ese tabalho tem que ser desenvovido, Teodor) las stentam, sobretudo, quanto & ocomréncia de ageessio fi sca entre as eraneas: A gente tenta harmonizar a eranga sempre: “No pode ba tet. No pode bliscar amigo" Quando ute vem malo ages svat eu fago 80. Como eu teao experiencia eu bat oatho [set quem est fort de normal. Eno, eu tento esl 6 {sso com mua conversa, mostando para a ena que mo & baatendo no amigo que se resolver os problemas. Que no & ‘com agresividade que resolve ese problema, Teodor) No que concerne ao preconceito racial, maiora das profes sonas parece percebe-lo, Quando se questions, porem, sobre 0s ‘efeitos prejudiciais As vitinns, clas reconhecem a existéncia dele na sociedade, mas negam enfaicamente que estea presente den- tro da escola “Deve ser uma barra muilo grande que © negro se- ‘gu, porque ne... na sociedade sempre existe isso (acismo), mas 1a escola no.” Sdnia) 144 quem, 30 falar sobre © preconceito, vole rapidamente seu olhar para 0 negro, relativizando, desse modo, © problema: © preconceto existe. E existe nos dois nivels, Ba acho que a existe aquele neyzo que tem muito orgulno daa, am them tem preconceto, come o brancotem F mesmo a cian que & negra. Eu five casos que mesmo a eranga que tem ‘ito onglho de ser negra chamas vaquela Branquels, com Uesprezo. aso preconceito também. Faz parte do ser he ‘mano. (Avia) até mesmo uma entrvisudla negra evela ter imernalizado 1 Togica da culpabilzacao do negro pelo preconceito: Sibeo que eu ache? Que preto mais sacisa que bance. Hes fala asi "Os bancos so ricktae” No so os banca ie so rictis, ns € que somnos Voce pode ver, aor EUA, em Tugar que os branes no podem paste porque os pretos a0 aadmsem.(vonet) Para uma professona negra entrevistada, mesmo havendo ric cismo na societade brasileira, € melhor manter-se a parte: Diem que existe, mas eu ndo me lig. Bu m0 sou liga. Se ‘oct fice prestndo atengio, “porque el € brane, ela teve hance.” Agors, oque voc noe, realmente, eter menos egos em Gesaque. Nao se ve Um ego asim como O Pe ‘Talves devese te até mai Mas as chances sia menores mes ‘mo, Todo mundo ela, € verdad: se vo uma negra e una tranca fazer teste (para seloao de empreyo, a bran passa ‘negra, alo. A nega oval passa mesma 4” ee ERE E gE Agora quanto & esol, penta de mim, deve atte, mas fazer “que” Eu procuronio ver (Brun) Para essa professor, ignorar a existéncia do racism & uma saida diante de um problema conta 0 qual seme nto ter poder para ltar. Como els mesma perguata: “Fazer © qué”. Porém, eu ‘questiono: até que ponto ess cegucia evita 0 contato dineto Com © problema? Ate que ponto se podem dissimular as dores & as perdas decorrentes do racismo? Difundido pelo senso comum, © rcismo revela-se de forma prima e estereotipada, E, como justificativa para a sua existén- i, aparece a repulsa 20 cheio dos negros: : 0 preconceto dena, se voce pensar hem, gralmente & emt ‘mata de cio, Uma penton coe € negra pele, a melininn Faz com que o cheso fique mals fone. Hoje em da ese pre ‘onceito de cheno i mpelhoro mato com os produtes moder ‘os is oss indsrias on desert, as minncoras a ‘ls pomadai). Estes tips de atieansprantes fazer com ve ho exist 0 cheio, No huvendao helo, mo existe o Pore Se oranco mio conversa com paso vce-vers. Tem gen te que melhorone mu. (Ana) Parecendo jgnorae que estdsendo entrevstada por uma pes ‘quisidora negra, ela continua, sem consirangimento, 0 depoimen- oem que associa negrtude 3 falta de hgiene: Por qu, 0 que & © preconceit? Preconceko & por causa da sue O cheio rai ger sujelra. Mas meshorou Ua pessoa pode abrigar sosegacs que no val peguro celta dt xtra Pague osclesocorantes ox proto extant her ets. A pessoa nogen ado tem mas tanto (eo), (Ana) A professora entrevista nos fiz lembrar um techo da m= siea camavalesca O Tew Cabo Nao Nega, de Lamartine Babo: *raas como. corndo pega, mult, mulata, eu quero teu amor" © autor aponta nesse wecho ofato de a cor no pegar (ou seria 0 cheiro, segundo a enitevistada) como uma garanta para © ho- ‘mem branco relaconarse com a mulher neg "Nessa aparenteinocéncia cle interpretacao, ek propria resol ve levantar uma david no que, segundo ca, seria um fator a fae vor dos ne gros: 50 .) Porque ser que este preconcto no est) assoctado tm ‘hem ao maw liter Uma pessoa corn ma alto, uma ce ‘al, Porque a verdad € Seguite- eu not, os pets en ua ‘antagem, no se se € por esa des mesma subsaca, os ‘estes dos pretos so rai ores que os dos rancos, Se cle tratarem be, escovarem deh & mais dif ree ei), “Tem muitos pets sem dente porque comiem doce € 0 05cO- vam os dents. Nio exisiv ut eds em cima dso, Mas 0 tlemedo preto€ muito mais fore. Emit mals bonito um soc fio de negro que tm soso de Brno, € sem divi. Com ‘ete, sem aa ile nso amb eta as pesscas (A Essa explicagio, fortemente marcada por estere6tipos, mos tra que, entre as diversas caacteristicas pelas quais 0 negro & dis ‘rimninad, o odor pode serum itor preponderant Assim, 0 che rodo negro seria 0 grande eausador do rac. “Aentrevistada destaca come desagradavele “natural” odor do negro, associando-o A sujeita.O cheiro assume, nesse discur- ‘0, totale do individuo. Essa €a carateristica do esterestipo ‘que se torna uma verdad absolut, inquestonavel Para a enirevistida, 0 negro esti diretamente associado a se ici, mau cheiro, mau hilo, piolho. O que estaria diminuindo, pens, em fungdo dos “nossos proxlutos industais, que ameni- zaram aquele cheito" Diante disso, pergunto-me em qual categoria estariam inser as eriangas com as quais a professora se relaciona no set divi? Qual €0 tipo de relagio que ela estabelece com ess Cangas? E-diante dsto, 0 que podem as crangas negras € bran ‘as compreender sobre s propfias e sobre as ous? Daante de depoimentos que refletem imagens estereotipadss, marcadas por preconceitos, as erangas sto wists, pelas Sua pro fessoras, como individuos distantes do preconceto éinico, Pods, segundo elas, nas sas atitudes dria no sio percebidos indice fos que denunciem a interiorizagao da disriminacio: "A erianga ppequena da pré-escola nzo tem essa preacupaeao (com as dife- Fengas etnias) como tem os mais velhos, No primeteo at iso € mais latente” (Ams), ‘A dificuldade apresentada pelas professoras em compreen- ler escola como um espaco onde o problema éinico também et pes pode epee um elo par manstengio do preconecito, st Esse modo de coneeher 0 cotidiano escolar impede uma busca de raballos e experieneias que concorram para a superacio des- se problema, Assim, a escola €idealizada como uma tha da farta- Sie, cujos integrantes passaram incolumes pelas agéncias socia- Tizadoras e nao incorperarim, no percurso de su dsenvolvimen- to, qualquer atinde ou compotamento racist, ‘Se, por um lado, hé um discusso que arma a inexisténcia do preconceito na escola, por outro hi um indicativo de que 0s pe {Guenos alunos na fase pré-escolar percebem as diferengas én: Ces Seguado as pripras professoras, 3s cangas jt podem reco- rhecer as diferengas a partie do momento em que ingressim pré-escola, 40s qualro anos, ‘Seus relatos apresentam, contraditoriamente, acontecimen- tos que apontam 2 existéncia do preconceito ¢ da discriminagao ‘Enicas entre ascrangas: “eles mesmos ji nocam quando tem um fescuro, um de cor, fem um mulato, © mais claro, o loiro” (Sonia) "acima de tudo, 6 relatos expdem o modo depreciativo pelo ‘qual as diferencas étnicas so reconhecias: "Acontece muito de Tila em sala ce al, 90 patio. Nao quer ir para fila com a "neg nha, com o neguinbo’,€ comur” Camda) Sequnclo as professors, Gro s6 comm, mas constante, uma cranga reeriese outta por meio de rtules, tis como: “negrinho feio" “negrinho nojento” pretinha sb", Dante desses esere dt pen, as eancas negra slo recusadas para formarem parnas fas, pas brincaderas, nas fests unis, ‘Noqque diz tespeito ao comportamento do professor em reli- ‘glo esses conflios, o dramtico depoimento da menina Catarina (negra & bastante elveidativo, Segundo ela as criancas axing: weGe preta que no toma banho. SS porque eu sou preta eles falam que eu nao tomo banho, Ficam me xingando de preta cor dle carvao, Ea me xingou de pret fedicla. Eu contei para a profes: sora e ela io fez nada” ‘fala da menina demonstra quea omissio de uma providéncta Ihedew 0 conhecimento de que, ness stuacdes, no poder coo tar com auxiio, Dai decore 2 aprendizagem to sllncio: nio conte pda para sa professors, porque ela nada fez riangas negras e brancas interagindo ¢ reagindo ‘A observagio das criangas no panque também me permit pre Senciae sitagdes concretas de preconcelto e eiscriminacio entre 2 ‘elas. Naquele local, clas tém a liberdade de escolher seus parcei- fos © decidir quanto tempo permanecesto Brincando com cles Distantes da professora, es podem dizer 0 que bem entendem. ‘Assim, nesse cenério, algumas falas explictamente pre conceitiosis foram ouvidas nos momentos em que algo era dis putado; poder, espaco fsico ou compan. sso levourmie a pen Sar que sua oconténcia& mais comum nos momentos em que se Ueseja vencer cuto que, até 0 momento, parcipava do grupo. ‘O preconceito ea disenminacio aparecer como uma pode ost arm nos momentos de disputas,capazes de paralsir sua vvtima. Deserevo, abaixo, um exemplo disso. ‘No parque, aproximo-me de um grupo que brinca. De re pent, iniia-se win tumult, Shirley (negra) chega pesto de Fabio Goranco),o xinga de “best, ¢ ele revida. Ledcia (branca) passa a pariciparda discussao, com vros xingamentos. Leticia Catarina (negn), até entao brincando juntas, principiam a se xingar tam- bem, Catarina diz a Leticia: “Fedorenta" e esta respond: “Fedo- fenta € voce" Catarina, ento, diz: “E voe®, ti. Leticia responde: “Eu nio, eu sou brane, voe® € que € pret” Catarina fica paral- sada e nao diz mais nada Ate entio virada de frente para Leticia, lithe as costae comesa a xingar Fabio. Catarina segundos de- pois desfere Ihe um gale na cabega. O menino chora. A profes- ‘soma, percebend a confusio, se aproxima do grupo e adverte a srenina Catarina, que mais uma vez ouve tudo cal, Sincio, seguido de reaglo violenta. O que se pode ver na quele parque infantil é nada mais que uma pequena reprodugio ‘la propria historia do negro em nosso pais. Iepotente dante da presso racsta, ele parte para.a violencia e, eonsequentemente, penalizado. Isso tansfonma-se em estigma ‘Outro exempla é o fato de duas meninas negras caminhando pelo parque, quando um menino esharra era uma dels e Ihe diz fem tom de debache: “Descuips, neguinha”. Depois parte gargi- Thando, unto com © amig@ que também ri muito. A menina are: zak os ofhos, mas continua a sua caminhada, sem nada dizer Em out momento, and, menina Siva (negra) beinca com sua amiga Maiara (negra). A primeira tem uma boneea branca nas inxs, A segunda, uma boneca preta, Pegunto: “Essa boneca pre- ta € sua” Ha, com muita ion, respondes “Nem de nega eu gos tof. A outra no dia nadia 3 No pritneiro exemplo, vemos a fala da menina banca ex- press de modo incsivo, 0 que faz com quea menina negra fique Imobiizads pela Logica, ou pela “verdade’ contida na expressio “0 preto€fedorento”, No segundo, o:menino pede desculpa para meni negra em tom de deboche, sdiculanizando-a diante dk E no terceim, uma erianca nege, dante «amiga tan bem negra, expressa seu acentuado desprezo por pessoas de set spo. Diante de situagdes como essas, pude constatar& tng dade com a qual as criangas brancas expressam comentirios de preciativos a respeito das negras, qe quase sempre permanecem bsolutamente ciladas, com olhar distane, Sobresstem em seus fostos expressoes vizis, Apds a ofensa dirigem-se a onto getipo, fu entio principiam a brincarsozinhas, eam se nad hes uvesse acontecido, [esses conflios em que crtancas xingam, rferindo-se a cor dda pele como uma caracterisica negativa, podemos obserclas ‘como grandes vencedons da disput [A inagao das xingidas revela urn misto de med, do, impo: tencia:diante dessas emogces imobilizadoras, nio conseguem ou do sabem como se defender. Ante © ambiente que Ihes € host, isolamse,retam-se do paleo da disputa, Tentam passir desper cebidas, abandonando 6 conti, (Osilencio permanente ds professoras a respeito cs diferen- ‘2s éinicas no espaco escolar, somado ao das crangas nega, pare ce conferi aos alunos brancos 0 dirlto de repreduzie seus com- portumentos, pois mo so ericados ou denuncadas, podendo uti liar ess esratégia como trunio em qualquer sitxiio de confit Convivéncia mulkigtnica: uma realidade esquecida ‘Aos poucos, @ possivel perceber @ auséncia de questionamento sobrea diversidade &nica no cotiiano escolar, quer por parte as professors, quer por pane da coordenagio pedagogies ect dire ‘io escolar, o que sinaliza o despreparo © o desinterese da escola para lidar com essa questi. A convivéncia maltietnica na escola no é levad em consi- deracao pelos seus profissionais, O debate est ausente nas pati ts eu pedis nas mo Goma especial nea ce nos planejamentos, 54 = Bt questio das dliferencas, a gente wabalha entre nis meamas, Trocamos experiéacas, abulho. A gene deca fos moxilos na sala de aul A gente toca muito nesses hors fios de JE4s-Ola, na minha sala acomreceu Um at asin Enito todas as professor scutes e chegam 2 alguma con- soso. As vezes pode seantecer até alguma oflentagio me Thor (ana) alguna vein ness eunides algun quesionanen to sire rico, prevonceio cu dserminac? Ni heave. A escola esta em reforms. En, 0 pro bem eta volkado para 0a que a gente respira. ENO ra ‘outro o problema, nie 0 de preconcesto, (Ana) Pars outa professora, esse tipo de asunto nto deve ser tre tudo nas reunkoes pedaggicas para no esticar 0 assunto — Reunio peti € para passa pare peda resin Parte pessoal exks cvs 20. =o enso a Denise fol pasado para a deio, ou coor denasio® No, mio. Acho que fo 8 comenteo. Aco que no € ora Se mio voce comesa esear MUM UM assuRIO qe NEO fem necesde...A nao Ser que sea um cos sa. Mas fo tuna eo que ea comtow part mim. Depots slucionou 9 Pro- lems, ao preckou avant (Sn) Diante deste dime depoimento, podemes entender 08 a8- sntostados nas reunides pedagogies como send, exclusivae mente, sérios ¢ pedagdgices, © ndo pessoas. Iso nos leva a con preender que o confto nico éconsiderado como problema pes- seal e ndo-séro Ito obstante, & possivel consatar que as professoras se sen- tem aptasa lidar com ess questi "Fu acho que estamos, porque 4 gente tem um jetoxespecial de fala. E muito maledvel: chama 0 pa e fala “Ola, esti tendo um problema assim, vamos amenizar’ “Tudo com jeto” (Ana). las reconhecem, contudo, a fata de formagio para lidar com ‘quesives to especificas,creditando 0 supesto. Conhecimento ad- ‘qisido a experiencia pessoal de ca uma: 55

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