Capitulo 03

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CAPITULO 3 A ARQUITETURA DA INDIA ANTIGA EDO SUDESTE DA ASIA pré-hist6ria da india 6, em grande parte, um relato dos assentamentos ao longo do vale do Indo e suas, planicies fluviais ~ atualmente parte do Paquistio © Afeganistio -, onde diversas culturas regionais. prosperaram a partir de cerca de 3000 a.C. Essa fase madu- ra durou cerca de mil anos, iniciando em meados de 2700 a.€., quando Harappa (na porcio nordeste do vale) e Mo- henjo-Daro (no Indo, quase 640 quilometros a sudoeste) aparentemente eram as principais cidades de uma extensa rea, Muitos detalhes sobre a cultura dessa regido ainda sio bastante obscuros, pois nao ha unanimidade entre os es- tudiosos quanto ao alfabeto de Harappa, que possui mais de 400 caracteres. Em todo caso, muitos dos escritos que restaram sao encontrados em timbres pessoais, os quais dificilmente revelarao muito sobre essa civilizagio, A base da economia era a agricultura, facilitada pela irrigagao e a inundagio periédica provocada pelos rios. Iavia também © comércio, nado somente interno, mas também com as- sentamentos do sul da Arabia e da Mesopotamia. Como resultado, houve algumas influéncias culturais externas. A civilizagao com escrita no vale do Indo foi de desenvolvi- mento posterior e de curta duragio, se comparada a da Me- sopotimia ou do Egito, porém, a regiao sobre a qual o vale do Indo exercia controle era maior. Mais de 1.000 sitios arqueol6gicos de Harappa foram identificados ao longo de tuma rea de quase 1,3 milhio de km’. A arqueologia revela que os assentamentos de Hara ppa eram planejados de acordo com uma gretha ordenada rientada pelos pontos cardeais. As plantas ortogonais de cidades geralmente sio uma indicagao de um alto nivel de controle governamental centralizado, e esse parece ter sido 0 caso na cultura de Harappa. As edificagies eram resistentes, sendo construfdas de tijolos cozidos de tamanho uniforme por toda a regiao, eas casas eram dotadas de drenagem sub- temranea conectada a um sistema de esgoto bem planejado, Como as cidades foram construidas sobre planicies junto a0 rio, as imundagdes parecem ter sido uma ameaga constante, Mohenjo-Daro (Figuras 3.2-3.2) foi reparada pelo menos nove vezes devido a inundacdes. Por conseguinte, as cida- des apresentavam uma cidadela escalonada e fortificada em “Temple fanaa Mahade, Krjuaho, 25-50. {stata most o lia eo pte de end no pins pn, Dee Sagi» progrein orden dosvohmes do cobetuns orale de denontas uma area elevada e dispunham de edificagdes cerimoniais, grandes silos e moinhos piblicos, os quais podiam ser usa- dos em situag6es crticas para abrigar e alimentar a popula- Gio. Elevando-se 12 metros acima da planicie, a cidadela de Mohenjo-Daro também tinha uma grande fonte lustral com. degraus medindo 9 x 12 metros, a qual provavelmente era usada em rituais, Entretanto, nao foram claramente identifi- cados grandes santusrios ou templos como aqueles encon- trados no Egito ou na Mesopotamia. Pequenas esculturas sugerem a veneragio de érvores e animais, um culto a deusa mae e a. um deus que pode ter sido o precursor da divinda- de hindu Shiva. A gua e 0 fogo podem estar associados a rituais ainda nao compreendidos. ‘Ao contririo da Mesopotamia e do Bgito, no vale do Indo os assentamentos parecem ter sido sociedades relati- vamente igualitarias. Nao ha palicios ou ttimulos reais e ne- hum grande complexo de templos que indique uma con- centragao de poder e riqueza. As areas residenciais escavadas de Mohenjo-Daro, a maior e mais bem preservada cidade, com uma populagio estimada em 40 mil habitantes, reve Jam casas muito proximas entre si e organizadas a0 redor de patios intemos usados para iluminagio e ventilagao. As plantas baixas variavam, mas todas as casas apresentavam, fachadas praticamente cegas voltadas para a rua, enquanto as aberturas externas eram distribudas no alto das paredes, (Os cémodos eram pequenos, talvez pela escassez de madei- 1a para sustentar as vigas necessarias a um segundo pavi- ‘mento ow estrutura de cobertura, Embora as edificagaes nao parecam elegantes em termos de requinte de arquitetura, Jeiaute urbano bastante claro, 0 planejamento cuidadoso do fornecimento de gua de pogos e os sistemas de esgoto a der dade extremamente organizada e eficiente igem So {mpares para sua época € marc Cronologia surgmento das cuts no vale do Indo 3o00ac. ‘ccipacio de Mohenjo Dar 2400-20001 -composicio dos vedas ‘1500-900 aC, vida Sita Gata (Buds) 56-4 aC ‘Alera, © Gan, ale do indo mea ‘construcio da Grande Estupa,Sandhi hnicioem 250a¢, -escultura do Grande Buda, Bamiyan seculo ViIdC, onstuciode Alor Wat, ico em cera de m0 dc 84 _AHISTORIADA ARQUITETURA MUNDIAL 31 lant de Moen, Vl do nd, cee de 2400-20004. Acide oa lead or una lriijnto oom ‘nea dead ccna equ) que abiga clos ‘um gande font As es Richa psec es deca que fer scans com ura ses sapeer cent dfgun)moctand o parma otal funda almeroser un oc atowauma 2 Visa ds ras e Moen, Yl do nde, cerca de00-20008¢, ces de Mohan Dao quando aquedoes deserter esas ac Des cs starecinca mit a Ticlosce mentee iN uname opr mtr de conto { erred . = % CAPITULO3_AARQUITETURA DA INDIA ANTIGAEDO SUDESTEDAASIA _ 85 As razdes para o ripida declinio da cultura de Harappa, por volta de 1700 a.C., sio controversas, mas fatores natu- rais (mudangas no curso dos rios, colapso dos sistemas de irtigagao, terremotos) e as invasdes pelos grupos étnicos do norte parecem ter contribuido. As cidades de Harappa dei- xaram de ser habitadas, e ao longo dos dois séculos seguin- tesa zona rural foi invadida pelos nd mades vindos do norte, Por volta de 1500 a.C. comecaram as migragdes de tribos arianas vindas do leste do Ira e, em determinado momento, 68 arianos se espalharam pelo subcontinente indiano, de- salojando os assentamentos nativos. Por volta de 500 a.C. sua linguagem indo-européia, a origem de muitos idiomas da Europa e do sanscrito, na india, jé havia suplantado as Linguas nativas, mostrando um sinal de dominio cultural Também havia um fator étnico: os arianos invasores eram de pele clara em comparagao a das populagSes indianas na- tivas, de pele mais escura. A distingio entre conquistador € conquistado tornou-se a primeira base do sistema de castas que ainda hoje existe na sociedade indiana. A confusio provocada pelas migragoes resultou no sur- gimento de numerosos pequenos principados. Por volta da Epoca em que Alexandre, 0 Grande, levava seu exército para o Indo (326 a.C.), Chandragupta, um jovem membro da tribo ‘maurya, conseguiu reunir grande parte do norte da {ndia sob seu comando, chegando, em determinado momento, a con- trolar boa parte do que hoje € 0 Paquistio e algumas regices do leste do Afeganistio. O império continuou a se expandir em diregao ao sul da India sob comando de seu filho e, depois, seu neto, Asoka (o qual reinou entre 272-232 a.C.), provavelmente 0 maior principe da linhagem dos mauryas e, em termos de arquitetura, o primeiro soberano relevante, Asoka desenvolveu a arte da edificagio em pedra, trazendo pedreitos e canteiros da Pérsia pata construir menires mo- numentais, escavar cavernas para eremitas religiosos e aper- feicoar santudrios budistas. Suas obras ainda existem e sero consideradas durante a discussao da arquitetura budista Um estudo da arquitetura antiga da India e do sudeste da Asia é, em grande parte, uma anslise do desenvolvimento da arquitetura dos templos, pois ha poucas edificagdes além das construfdas por razies religiosas que resistiram a passa- gem do tempo. Os templos foram as principais edificagbes construfdas com materiais duradouros ~ pedra e tijolo ~ en- quanto as casas e até mesmo os palicios foram construidos com materiais menos permanentes, como madeira, sapé ou. pedregulho rebocado e, por isso, 840 preservadas apenas por sorte, como nas cenas de pano de fundo talhadas nos tem- plos. Principes, reise, ocasionalmente, mercadores abasta- dos eram os principais patronos dos templos de alvenaria « portanto, o desenvolvimento da arquitetura e as preferén- cias religiosas estao intimamente relacionados as dinastias politicas. No perfodo sob consideracao (até 1000 d.C.), 0 subcontinente indiano nao era um pafs unificado, embo- ra certo nivel de continuidade cultural tenha sido possivel gragas aos vinculos religiosos. Uma analise mais cuidadosa da arquitetura indiana reconheceria o desenvolvimento dos estilos regionais e das influéncias das dinastias poderosas, mas aqui daremos menos énfase a esses fatos em favor de um panorama mais amplo. RELIGIGES DA INDIA J8 que as edificagdes religiosas assumem uma posi proeminente na arquitetura indiana, faz-se neces tender os fundamentos dos credos que inspiraram suas construgdes. Durante o século VI a.C., 0 subcontinente indiano testemunhou o desenvolvimento de tr@s grandes religides que compartilhavam uma crenga geral na transmi igracao das almas, Essa doutrina - a qual foi tao difundida fa India quanto a crenca na vida apés a morte existente no Egite ~ sustentava que as almas dos vivos passavam por um ciclo sem fim de renascimento e sofrimento. De ma neiras um pouco diferentes, o hindufsmo, o budismo e © jainismo propuseram meios para que as pessoas pudessem acabar com o softimento da existéncia temporal. [Never the sprit was born the sprit shall cease tobe never; Never was time i¢ was not; End and Beginning are dreams! Birahless and deathless and changeless remaineth the spirit for everz Death hath not touched i¢ at all, dead though the house aft scoms! Who knoveth i exhausiles, self-sustained, Immortal, indestructible —shall such say, “I have killed a ‘man, or caused to kil ‘Nay, but as when one layeth iis worn-out robes away, And, taking new ones, sayeth, *These will F wear to-day!” So putieth by the spire lightly its garb of flesh, And passeth to inherit a residence afresh Bhagavad Gita (traduzido por Sir Edwin Amold) A base comum para todas as trés religides foi a sinte- se das crengas tradicionais autéctones da peninsula india- na e cultos com sacrificios trazidos pelos arianos do norte, Datando de 1500 a 900 a. C, os vedas sao considerados as mais antigas escrituras sagradas. Eles contém cdnticos e pres- crevem rituais para adoracio a uma diversidade de deuses identificados com os elementos naturais. Ha muito tempo também ja havia uma cosmologia que invocava a unio de homens e mulheres como uma metéfora para a unio do individual com o universal. Os santusrios simples davam expressio fisica a essa ideia por meio de uma linga (pedra vertical simbolizando o elemento masculina), cercada na base por circulos concéntricos representando o principio feminino, o yoni. A realizagao dos ritos e sactificios religio- sos necessérios para manter as relaghes ente as pessoas e 08 deuses era tarefa de um grupo de sacerdotes ou brimanes, que passaram a ter considerivel poder dentro da socieda- de. Os cultos ascéticos que se desenvolveram durante esse periodo promoveram a visao de que o mundo fisico € ape- ras uma pequena parte de um ciclo muito maior de nasci- ‘mento, morte e renascimento, e ofereciam a seus seguidores orientagio para fugir de reencamagies repetidas. Em parte como resultado do dominio de sacerdotes brmanes e seus rituais complexos, um ntimero de indi- viduos reagiu buscando meios mais simples para a com- preensio da religido e de uma vida ética, Dois movimentos religiosos duradouros ~ o jainismo, que € ainda praticado 86 _AHISTORIADA ARQUITETURA MUNDIAL por cerea de dois milh6es de indianos, ¢ o budismo, uma das principais religides do mundo, hoje em dia esta prati- camente extinta na india, mas que continua a crescer em outros lugares ~ foram fundados por figuras histéricas co- nnhecidas. © jainismo foi inspirado na vida de Vardhama. nna, também conhecido como Mahavira (0 grande hersi) ou Jina (0 vitorioso). Em 546 a.C., Vardhamana encontrou sua verso do caminho para a salvagio numa completa re- jeigdo as formulagées complexas dos bramanes. Ele ensi nou gue escapar das infelicidades do mundo era possivel apenas por meio do asceticismo rigoroso, para purificar a alma, e da veneragao de todas as criaturas vivas. Seus Segui dores, na maioria mercadores e banqueiros, cujos meios de vida os permitiam evitar toda forma de violencia contra os animais, fundaram o jainismo (literalmente, a religido de Jina), no qual os participantes procuram se elevar espiritu- almente com caridade, boas agbes e, sempre que possivel, retiros espirituais, Em termos de arquitetura, os templos jainistas adotaram elementos de outros grupos religiosos, de modo que nunca desenvolveram um estilo particular. Ja a religiao fundada por Sidarta Gautama (cerca de 563-cerca de 483 aC.) estava destinada a ter grande in. fluéncia na arquitetura, nao somente na india, mas também no Sri Lanka, na China, no Tibet e no sucleste asistico. Nas- cido em uma familia rica, Gautama abandonou sua esposa & fortuna para viajar como um mendigo e tentar compreender as causas do softimento. Depois de seis anos de contempla. Gao e mortificagao ascética, Gautama aleangou a iluminagao enquanto sentava-se sob a érvore bodhi. As Quatro Nobres Verdades de Gautama afirmavam que 0 softimento ¢ evité vel, que a ignorancia precisava ser superada, que os desejos desnecessatios podiam ser renunciados com a pritica do ioga e que o verdadeiro caminho para a salvagio esta no caminho do meio entre a satisfacio excessiva dos proprios desejos e a autoflagelagao, Essas verdades, somadas a0 No- bre Caminho Octuplo (entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, agio correta, modo de vida cor reto, esforgo correto, atengao plena correta e meditagao) for mam a base de seus ensinamentos, os quais buscavam fazer com que seus discipulos superassem o softimento terrestre causado pelos desejos humanos e, portando, alcangassem © nirvana ou a libertagao do ciclo eterno de nascimento ¢ renascimento, © budismo, religido inspirada por Gautama recebeu esse nome da palavra “Buda*,o Hluminado, nome que ele recebeu apés sua conversio. Como exposto inicial- mente, a religito nao exigia nenhum ritual complexo de adoragio, nem um contexto de arquitetura especifico. A religiao dos bramanes, que se originou do hindus mo, respondeu ao jainismo e ao budismo incorporando imagens religiosas populares de deuses e espiritos nos ti tuais de adoragio e aproximando esses rituais da vida co: tidiana das pessoas. O hinduismo, que ainda é a principal religiao na India, nao teve um fundador Gnico e mesmo hoje nao possui uma hierarquia religiosa claramente defi- niida, Aaceitacao dos vedas como textos sagtados foi essen: cial para essas crengas e para a manutencio da estrutura de castas pela qual a sociedade ¢ imutavelmente organizada em quatro classes: sacerdotes, guerreiros, mercadores/arte sios e trabalhadores bracais. Os hindus creem que cada in- dividuo acumula as consequéncias das boas ¢ més agbes a0 Tongo de suas diversas vidas e buscam a libertacio do ciclo do renascimento venerando os deuses ¢ eliminando suas paixdes. Entre as intimeras divindades hindus, muitas das quais com caracteristicas extremamente distintas, ha trés deuses supremos: Shiva, Vishmu e Brahma. Shiva, 0 grande senhor cuja caracteristica essencial & a energia pr6-ctiativa = mas que também pode ser o grande destruidor - tem como sta consorte Devi, a deusa mae, cuja forma alternada € Kali, a destruidora. A montaria de Shiva 6 0 touro Nan- di, Vishnu € 0 ctiador que corporifica a misericsrdia © a bondade, ¢, As vezes, o romance juvenil, mas também tem, poderes de destruigao, Sua consorte, Lakshmi, € a deusa da iqueza esua montaria € a 4guia Garuda. Brahm: que renasce periodicamente de uma flor de Iétus que cres- ce no umbigo do Vishnu adormecido, tem como consorte Saravasti, patrona do aprendizado e da miisica. octiador OS SANTUARIOS BUDISTAS PRIMITIVOS Buda nao prescreveu nenhum espago de arquitetura em particular para oragdes, mas seus discipulos construfram santudrios para dar forma permanente a sua religido. Os primeiros santuatios foram criados apds a morte de Buda Depois de cremado, seus restos mortais foram divididos en- tre seus seguidores e guardados em dez lugares associados a sua vida e ensinamentos. Para marcar esses lugares, um, simples morro de peda terra, conhecido como estupa, foi erguido sobre as reliquias, de maneira comparavel as tradi- cionais chaityas, ou memoriais de vila, onde as cinzas dos lideres que faleciam eram depositadas em um morro nor- malmente localizado nos arredores de suas cidades ou vilas. Foi essa forma tradicional que serviu como modelo para a arquitetura budista. Posteriormente, os monges budistas se reuniam nos arredores das estupas para formar viharas, ou pequenos monastérios com celas individuais organizadas a0 tedor de patios centrais. Seus rituais incluiam caminha: das ao redor da estupa (circungiros) enquanto recitavam os vversos das escrituras. O percurso processional, geralmente em sentido horério, ainda hoje um elemento fundamental para o projeto de um templo busista, {As estupas budistas mais antigas que ainda restam fo ram ampliadas com sucessivos revestimentos ou recons- trufdas durante o reinado de Asoka, 0 antigo imperador 33 Dagonailtatvo daorgen de esupa Apritestadconal de cloarpedaze tera sobrect tts de pesos anos ever ensnico Aa foeabemereaque rerpora 8 an0c3¢5 cologne ce un caus alist) a mertanha teste aabihada cee ec exo vera do mundo, 34 Grade Esp, Sanh crea de 2503-2504. Esta vst. que rece ura cleo mst um rar pata uma parte doverdcalorro vain ro tp do arte acheza[esnore bo ciliate boa eérre ob acl ods snc mn 3.5 Pla ba a Gand sup Sachi eeade BDaC-290EC. Aplaranestaosquzvo potas esas entadasemgurague queforan uma suite. provolone lata orange inl oeesAsabertae ‘onepesen soeportor ata htc bo ills carina de crcangoe ldo pr dos cade. indiano que se converteu ao budismo. Gragas a seus conta- tos com a arquitetura persa ¢ o mundo helenistico, Asoka trouxe para a India construtores proficientes na arte da al- venaria de pedra, que até entao nao havia sido utilizada Ele também fez com que as estradas que levam até os san- tuarios budistas fossem marcadas com colunas altas inscri- {as com ensinamentos budistas, conhecidas como colunas de Asoka. Essas colunas apresentavam entalhes claramente inspirados nos originais persas (veja a Figura 1.17). Na ar- uitetura persa, as colunas serviam de suporte para a cober- tura; na india, elas eram elementos independents, usados como marcos na paisagem. Com o mecenato de Asoka, a simples estupa original foi ampliada e novos santuérios foram criados. Todos pas- saram a tera forma hemisférica, refletindo a simplicidade do circulo em planta baixa, corte e elevagio, criando uma relagao simbélica com natureza ciclica da existencia (Fi- gura 3.3). Visando a uma maior durabilidade, as estupas passaram a ser revestidas de tijolos e pedras. Para indicar seu cardter sagrado, elas eram protegidas por um verdica, ou muro protetor vazado, que delimitava 0 caminho de cir- cungiro. Além disso, para marcar sua relagao especial com Buda, elas eram coroadas com um harmica, ou muro va- zado com planta quadrada, um chatra, uma forma de um guarda-sol com trés niveis ¢ algumas versdes de pedra esti- lizada do muro protetor vazado sagrado e da famosa érvore bodhi sob a qual Buda chegou a iluminacao. O guarda-sol triplo era um simbolo da realeza e seu fuste de suporte sim- bolizava o eixo do mundo passando pelo centro exato da forma hemisférica da estupa, simbolo da abébada celeste © monastério de Sanchi, fundado por Asoka ¢ amplia- do ao longo dos 500 anos seguintes, ilustra os elementos fundamentais dos santurios budistas na india. A Grande Estupa, originalmente construfda como um morro de apro- ximadamente 21 metros de didmetro, foi ampliada até se tomar uma capula de quase 37 metros de diametro e 16,5, metros de altura (Figuras 3.43.5). A estupa foi coroada com um conjunto de chatra dentro de um harmica. Sua base € cercada por um deambulatério de dois pavimentos: 0 nivel superior € reservado para os sacerdotes, enquanto 0 térreo é usado pelos peregrinos. Fechando a estupa, ha um pesado verdica de pedra (Figura 3.6), de 2,7 metros de al- 3.6 Oterana {pre overdo jz rao Snch cerca de 250 scoode, CO verden éconpost deanomes pias rabahado deuma rsa serehantescomsuéesde madera erga tara éreamente tad, tura, com quatro portais esculpidas nos pontos cardeais. A construcio dese muro mostra come os primeiros pedreiros foram influenciados pela construcio em madeira. Pilares Doctogonais e travessas de segio redonda replicam formas ja comuns em madeira, reinterpretados aqui em uma escala muito maior. Os elaborados toranas, ou portais (Figura 3.7), foram introduzidos por volta de 25 a.C. e seguem protsti pos de bambu. Quando construldos de pedra, porém, seus tamanhos aumentaram ¢ tornou-se possivel ornamentar a obra com imagens talhadas representando lendas budistas, simbolismo que pode ter sido inspirado pelo trabalho simi lat nas colunas de Asoka. A relativa falta de modelos para as, imagens faz esses portais parecerem mais um trabalho de entalhadores de madeira do que de escultores de pedra dos os quatro portais estao distribuidos em frente ao muro vazado, fazendo parte de uma chegada com eixo quebrado ou deslacado planejada para reduzir as distracoes do lado de fora do conjunto, evitando perturbar as meditagoes de peregrinos que estao circungirando a estupa. santudrio de Sanchi é um conglomerado de edifi- cages construidas ao longo do tempo, incluindo trés es- tupas e vikaras para os monges (Figura 3.8). Em contraste com os materiais resistentes atribuidos aos santudtios, as vikaras eram construfdos de madeira e apenas suas funda: ces de alvenaria restaram, indicando seus leiautes, que em ‘muitos aspectos s30 uma ampliagio da tipologia das casas com patio comuns nas construgées primitivas do vale do Indo ¢ em todas as civilizagSes mediterrdneas. Os monges budistas viviam em celas simples que eram agrupadas a0 redor de um patio quadrado ou retangular que continha 8 equipamentos comunitsrios, incluindo o abastecimento de agua, Sanchi também apresentava diversos sal6es ca: ‘ya fechados e edificacies que permitiam devogées durante todo o ano, ao proteger uma estupa pequena no fim de tum salao retangular. A extremidade do salio que abrangia a estupa era curvada para refletir o volume fechado por ela guida como se fosse uma estrutura independente elevada Sobre uma base, ou plinto, como no chamado Templo 18 talhados em penhascos de Ajanta, Ellorae Karl ‘Aconstrugo desses templos-caverna coincide com o pe rfodo em que os govemantes dos principados da India favo reclam as priticas dos brdmanes e o budlsmo era a principal religio dos mercadoresrcos. Embora os santudrios budistas fossem financiados por doagbes substancais no periodo, os 317 Ovardcoeotoraa Sach cecade102C 104 tando wt de denna 0 expxode cing éefeivanente tei do rund exert pels rae depres mio waza. CAPITULO _AARQUITETURA DAINDIA ANTIGAEDO SUDESTEDAASIA 89 deo ce ua veo 3.8 Reconstr do camplee do temple, sencht Noceto esta Gade Eton. toch Tel an _schatyapim,Kedeariocom plans bareanguie roa & ssqued.¢ nai una mesa pa mgs cul enn pens asfindaees ‘monges buscavam cada vez mais terrenos remotos para suas construgdes, visando evitar conflitos com os bramanes. Al guns lugares eram isolados por penhascos e desfiladeiros ro- rocha viva oferecia material resistente para que esculpissem sem que fosse necessirio o uso de vigas de pedra. No grande templo-caverna de Karli (Figura 3.9), que data do século | a.C., 0 salio chaitya replica fiel- mente as formas ¢ os detalhes da arquitetura em madeira que serviu como seu prottipo, incluindo 0 teto abobada do semicircular com um padr3o inspirado nas estruturas de bambu flexiveis. As dimensoes do Templo de Karli, porém, excediam aquelas edificac do: 0 a tinha 13,7 metros de comprimento, um vio dificil de vencer com madeira, mas que nao apresentava problemas para os escavadores. Comecando pela face do penhasco, a qual foi lixada e trabalhada para lembrar a fachada de um salao chai tya, trabalhadores es eis de 45 metros de pro- fundidade penhasco adentro para estabelecer 0 comprimento do templo, entio ampliaram a escavagao para criar um teto em abébada de bergo com “nervuras” arqueadas. A rocha do piso da camara foi removida ¢ as colunas foram esculpi- das enquanto os trabalhadores completavam a escavacio de {odo o espago interior. O pediregulho extraido do penhasco tomou-se 0 material de construgdo para uma plataforma que de madeira do pert ram dois t 1 1 Perens * econ . < ds aeeneEeEeO eee? 39 Plata ecoe do terplocatea Ka, cevcade 003 Erarainem um penasco chon estetempl cost em um siko ‘hay com dealt oeordo snr ds ein serine. us colursindpenentesunaeperdd near aensedaenquaic ‘tiem ped eran ce en vena sabe cers BAMIYAN E O BUDA COLOSSAL s mercadores levaram 0 projet a iconografia indianos para leste, pelo mar, chegando 20 sudeste da Asia ea Indonésia, ¢, a0 oeste, pelos desfiladeiros, até a Asia Central, com as caravanas da Rota da Seda, Este texto trata dos exemplos mais espetacilares da anquiteura indiana no suleste da Asia ~ as grandes obras de Borobudur e Angkor. Igualmente importante, porém, ¢ 0 grande complexo busdlista para peregrinos de Bamiyan, onde hoje € 6 Afeganistio; fot aqut que a imagem colossal do Buda foi cempregada pela primeira vez, Bamiyan fers o término ocidental de tis ratas de mercadores que conectavam a China, a India, os Balcas e 0 mundo ocidental. Bamiyan, um grancle complexo de mo- nastérios, com mais de 1.600 metros de comprimento, foi ceseulpido em um penhasco de arenito voltade para o vale featil entre o Kush hindu a leste ea cadeia de montanhas Koh-i-Baba a noroeste, © terreno foi visitado no século VII pelo peregrino chines Xuanvang, que descreveu © lugar de maneira apaixonada, Outro visitante famoso, Gen. ¢ghis Khan, aparentemente nio ficou tao admirado: conta a lenda que ele massacrou toda a populagao, transformando Bamiyan na cidade-fantasma que ¢ hoje. Em cada extremidade do monastério encontra-se ‘uma estatua colossal do Buda (Figura 3.10). A imagem na cexiremidade leste, que foi chamada de “Sakyamuni” por lsitan-tsang, tem 16 me- tros de altura; a figura mais cespetacular na extremidade coeste, a qual Hstian-tsang simplesmente chamou de ‘0 Buda", tem 52 metros de altura. A figura maior € mais importante, no somente pelo tamanho, mas também. em funsa0 da iconografiae do estilo, que foram transformados em pequenas lem bbrangas de viagem e levados para os paises cde origem dos peregrinos visitantes, Uma comparacio das imagens de Bamiyan com as das cavernas de Dun Huang, na China, ©, Murray Smart revela que a Iconografia budista da China fi diretamente influenciada pelas ima- gens de Bamiyan, ‘As duas imagens de Buda ilustram. ‘a natureza cosmopolita da arte budista fem Bamiyan. Entretanto, elas sf muito todos os aspec- tos, exceto no tamanho, a figura menor é ‘uma imagem do Buda de Gandhara tipica do século [ou Ill d.C, Sua consteugio & interessante: somente a estrutura bisica do compo foi esculpica; sobre a cabega e ‘© compo de pedra nistca, as feigdes e as vyolumosas dobras dos mantos foram mo- deladas com um rebora de barroe palha, ‘© acabamento foi feito com uma camada de argamassa de cal que em seguida foi diferentes em estilo, [i ppintada de dourado. Na época em que 10 0 Grade tds Brian Aegis, excl tad de Gandhian, suo VAC At 5 mets. Hstian-sang visitou 0 local, a estitua es- tava completamente coberta com folhade de ouro € omamentos de metal, levando-0 A conclusao equivocada de que a imagem cra feita de metal ‘Tio interessante quanto aeststus ‘08 Fragments de alresco que restaram. Criginalmemte, o nicho onde a imagem se cencontraera completamente coberto com, pinturas simbolizando a ababada celeste ‘A imagem central do aftesco acima da ca~ beca de Buda é um deus-sol guiando uma bbiga puxada por cavalos e acompanhado por anjos alados. 'ste deus pode ser Apolo ‘ou Surya, 0 deus-sol dos hindus, ou talvez Mithra, © deus-sol dos persas, Dois dos {quatro anjos laterais tem forma humana e so inspitados nos prot6tipos persas e me. dlitertaneos; os demais derivam de harpas sgregas e possuem pés de passaro, ‘Os mantos do Buda maior foram ‘modelados com cordas fixadas a pinos de madeira cravados na estrutura de pedra. 0 resultado foi uma enorme réplica de ‘um tipo tardio do Buda de Gandhara no {qual a manto foi reduzide uma série de linhas com pouco volume, revelande, sob ‘ele, forma do corpo. Essa ‘esttua tem aproximadamente ois séculos a mais do quea ‘estitua menor, datando, pro- vvavelmente, do século V 4 ‘Acstatua encontra-se em um nicho em trifelio que cria um halo duplo sobre o corpo ea ‘cabeca, bastante imitado tanto nna China quanto no Japao. Essas duas imagens s20 as primeiras de muita ima- gens do Buda colossal que surgiriam por todo 0 mundo budista, Tanto Grécia como Roma haviam produzido ‘gens giganteseas que se de protstipos. E assim como as esculturas de retratos colos- ‘sais dos imperadores romanos cram feitas para representi-los ‘camo soberanos divinos do ‘mundo, as imagens de Buda ‘como um homem eésmico encontrados em Bamiyan representam-no como a fonte ea substancia do univers. Infelizimente, apds a redagao deste texto, a sefta muculmana fandamentalista aque havia tomada o poder no Afeganistio, co Taliba, destruiu, em 2001, as duas ima- gens do Buda colossal. Apés a deposigao de alba, a restauragao das estatuas tem sida internacionalmente discut até agora nenhum projeto foi anunciado.

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