You are on page 1of 28
CAPITULO 2 O MUNDO GREGO (4 Pinte nie resta davida’, escreveu o fildsofo prego Platao em A Republica (360 a.C.), “de que, para aquele que consegue enxergar, nao pode haver jespetdiculo mais belo do que o de um homem que combina a posse de beleza moral em sua alma com a beleza externa da forma, correspondendo ¢ harmonizando com a primeira, pois © mesmo padrio magnifico se insere em ambas", Platao registrava um ponto de vista comum na Grécia Antiga: as condigées internas podiam ser expr pelas aparéncias externas, € as quest6es morais e éticas esta- vam intrinsecamente relacionadas a arte. As relagdes entre proporgbes eram um dos meios fun- damentais usados pelos gregos para tentar comunicar esta visio unificada do mundo. Esse esforgo ¢ ilustrado por histéria, provavelmente apécrifa, que envolve o matematico sgrego Pitgoras. Conta a lenda que ele passava por uma fer- raria de onde vinha 0 som de um martelo golpeando o me- tal, Escutando as tonalidades e atonalidades, ele formulou tuma pergunia: as harmonias musicals poderiam ter uma base matemstica? Para encontrar uma tesposta, Pitdgoras fez uma experiéncia com os fios de uma lira e descobriu que as combinagdes agrad.iveis resultavam do manejo simulta- neo de dois fios cujas extensdes estavam relacionadas por razbes simples, isto & 1:1, 1:2, 2:3, 3:4 e 4:5. Ali, na mente do matematico, deu-se um vislumbre do ordenamento do proprio cosmos ~ ¢ nao demorou muito para que ele pas- sasse das harmonias musicais audiveis para as dimensies ¢ suas raz6es, ou proporgées, no mundo visual Embora essa condigio hoje talvez. nao seja aceita sem reservas, primeiramente podemos afirmar, sem sombra de duivida, que a beleza era importante para 0s antigos gregos fe que sua cultura chegou a um consenso nesse ponto; abser- ve, por exemplo, a “similitude familiar” de tantas esculturas sgregas. Em segundo lugar, ao ampliar essa visdo para incluir 4 arquitetura, podemos concluir que a beleza externa de uma edificacao grega derivava, em grande parte, das dimens6es e inter-relagées de suas partes. im terceiro lugar, podemos notar que, quando alcangada, a beleza proporcional gerava ~ para os gregos ~ um tipo de visio microscépica do funcio- rnamento interno do cosmos, Gomo eram inteligentes! im quarto e tiltimo lugar, também podemos observar que os gre- Entra norte do plc, oso, Cre cerca de O50 ‘ta agofipoioente estan nlurdos necro ins comes blbsa ests ques dct Aba .g0s aplicavam esse pensamento filoséfico ao funcionamen- to da sociedade. Se as proporcées adequadas se aplicavam & beleza fisica exterior e também a beleza moral interior, na- turalmente 0 comportamento adequado de um cidadio gre- go (um homem nascido livre) exigia uma proporgio correta (talvez “equilibrio’ seja uma palavra methor) em suas ages, Isto €, 0 bom cidadao certamente nao se tornaria um dos especialistas resultantes do processo de urbanizagio (como pedreiros ou até arquitetos), mas deveria participar ampla e proporcionalmente da vida da pélis, ou cidade-estado. Partindo dai, & possivel generalizar. A satide da polis exigia que os cidadaos vivessem em equilfbrio; essa vida equilibrada estava codificada no préprio projeto dos anti- gos templos gregos, pelas proporcoes matemsticas adequa- das; essas edificagdes, por sua vez, lembravam os cidadaos de manter um comportamento moral e ético adequado. Os templos gregos eram como grandes outdoors, que divulga- vam e reforgavam valores comuns, refletindo as maiores conquistas e as mais altas inspiracoes da cultura, Com isso em mente, podemos comecar a estudar a arquitetura grega, analisando primeiramente as civilizagoes egeias que ante- cederam a Grécia Classica AS CULTURAS EGEIAS © Mat Bgew ~ configurade pela peninsula da Grécia a oes- te, pelas montanhas da Macedénia ao norte ¢ pela costa da Anatolia aleste ~ € cravejado por intimerasilhas. Ao sul, fiea ailha de Creta. Aproximadamente no infcio do segundo mi- lenio a.€. (mais ou menos na mesma época do Reino Mé- dio, no Egito), 0 povo de navegadores da regiso jé aprendera Cronologia

You might also like