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EVOLUCAO HISTORICA DOS DIREITOS HUMANOS. HISTORIC EVOLUTION OF HUMAN RIGHTS Jaceguara Dantas da Silva Passos! RESUMO A construcao historica dos direitos humanes, sob a perspectiva internacional, € debatida no presente artigo, que aborda a relevancia do processo de interna ‘Gonalizagao dos Direitos Humanos para a sociedade contemporinea, © intuito centra-se na analise dos princtpaisinsttutos de positivagao dos direitos humanos, para a afirmagao de todos os direitos e iberdades fundamentais das pessoas. PALAVRAS-cHAVE: Direitos Humanos, Evolugdo historica, Direito Internacional. Dig- nidade da Pessoa Hurmana. Declarasao. ABSTRACT “The historic building of human rights under an international perspective, is debated im this article, which approaches the importance of the internationaliza- tion process of the Human Rights for the contemporary society. The aim focuses on the analysis of the main institutes to ascertain the human rights, to assure all people's fundamental rights and freedoms. KeY.woRDS: Human Rights, Historic Evolution International Right. Human Dignity Declaration 1 Procarador destin de Mntt ablce de Eade de Mato Gre do Sul Mee Doworanda et Dio 1 INTRODUCAO © processo evolutivo dos direitos humanos, sob a ética intemna- cional, se consolidou concomitante com o desenvolvimento da so- ciedade contemporanea que, por sua vez, teve como principio nor- teador e valor essencial dos individuos a igualdade. E possivel afirmar que através do aludido progresso da sociedade moderna, marcado, em especial, por relevantes momentos histéricos, entre eles Revolucéo Francesa e a Norte-americana, que se consolida- ram os ideais de igualdade entre os homens e, consequentemente, os principios sobre os quais se assentam os Direitos Humanos. Assim, imprescindivel a analise do processo evolutivo dos Direitos Humanos, notadamente, sua intemacionalizacéo, para melhor compre- ender o surgimento dos direitos e garantias fundamentais do homem, reconhecido como sujeito de direitos, possibilitando ainda referida ans- lise a compreensio do desenvolvimento de todo o aparato juridico e social adotado pela comunidade intemacional para cleger e garantir os direitos tidos como essenciais para o desenvolvimento humano Arelevancia do presente estudo encontra-se centrada na verifica- ao das dificuldades para a plena concretizagao dos Direitos Huma- nos, em especial na sociedade contemporanea pos Segunda Guerra Mundial, que representou uma quebra de paradigma para a origem a uma nova politica de Diteito, voltada a protecao do ser humano. Outrossim, a evolugio histérica dos Direitos Tlumanos ¢ o for- talecimento do Direito Internacional trazem a baila a pertinéncia da discussio acerca de sua forca sancionatsria em caso de desrespeito As garantias individuais do individuo e, consequentemente, a inter- vengao na soberania dos Estados pelos organismos internacionais de protecao destes direitos. 2 EVOLUCAO HISTORICA © proceso histérico da evolugae dos Direitos Humanos deve ser entendido como um processo advindo principalmente de lutas entre poderes e contra poderes, Nesse sentido, Bobbio® afirma que: =232= (Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, sio direitos historicos, ou seja, nascidos em certas circunstancias, caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra velhas poderes, e nascidos de modo gradual, nao todos de uma vez e nem de uma vez por to Essa fase esta umbilicalmente ligada com a propria historia da cidadania. A necessidade de se estabelecer a cidadania esta presente desde o Cédigo de Hamurabi na Babilénia, século XVIII a.C. Com 0 evoluir da sociedade, a necessidade de limitagao do po- der do Estado se faz presente, tendo por prinefpio norteador dessa limitagdo a igualdade como elemento edificante e estruturante Desta feita, a lei passou a se constituir em fator nivelador a regu- lar a relagdo entre os individuos e ainda limitador do agir do Estado, cis que a igualdade se constitui valor essencial a integrar a norma ‘A respeito dessa fase, Mello! invoca os ensinamentos de Imma- uel Kant (1729-1801) para destacar a isonomia, enquanto prin- cipio integrante as leis e a toda ordem juridica de forma a vir a se constituir em limite para a propria lei No mesmo sentido, Comparato® discorre que a ideia de igual- dade entendida como um valor essencial entre os homens surgi no periodo denominado Axial, compreendido entre os séculos VIII e Ta. Destaca-se que, nesse period histérico, contributram cinco grandes doutrinadores: Zaratustra (Pérsia), Buda (India), Confiicio (China), Pitagoras (Grécia) e o Déutero-Isaias (Israel). Esse periodo {oj értil em pensamentos e tem sua importancia reconhecida por sua grande contribuicio em termos de principios que foram se consoli- dando ao longo dos tempos, persistindo até o momento atual. Nessa fase, foram lancados os fandamentos que possibilitaram 0 entendi- mento da pessoa humana, dotada de direitos tidos como universais Comparato* prossegue mencionando que a segunda fase, deci- siva para a afirmagao do conceito de pessoa humana, deu-se no ini- cio do século VI, sendo que no periodo medieval foi que se inicion propriamente dita a elaboracéo do principio da igualdade, a par das “4 COMPARATO, Flo Konder Aafia sia dos Dios Tatas. 7 eS Pal: St, 2010 diferencas existentes, tendo sido elemento decisivo para a formacao do conceito de Direitos Humanos. Jaa terceira fase, que pode ser tida como contributo fundamen- tal para a ideia da pessoa enquanto sujeito de direitos, decorreu do pensamento kantiniano que tem como destaque a dignidade e a sin- gularidade da pessoa humana, enquanto valor absoluto, ao revés das coisas que tém valor relativo. ‘Aponta Comparato® o que entende corresponder & quarta etapa da consolidacao do conceito de pessoa, qual seja o surgimento do pensa- ‘mento assentado na liberdade do agir de cada um de acordo com suas preferéncias valorativas, fazendo surgir a ética como referéncia Para o autor, a oportunidade de se fazer escolhas de acorde com ‘uma carga valorativa conduz a elevacio dos Direitos Humanos, en- quanto elemento de maior importéncia inserido no contexto social A quinta e ttima etapa, teve seu inicio no século XX, com influ- éncia decisiva do pensamento existencialista, em que ha um desta- que para a personalidade individual, enquanto elemento tinico. Nesse perfodo, salienta-se o processo evolutivo que a pessoa huma- na tem, o que a transforma em sujeito de constante mutagio. Referido pprocesso teria tido todo um percorrer ao longo dos tempos, culminado com a Declaracio dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Ge- ral das Nagdes Unidas, em 10 de dezembro de 1948, e que consagra o direito de todo homem de ser reconhecido como pessoa. Destacam-se ainda os seguintes periodos, os quais se abordam superficialmente por nao se constituirem objeto do presente traba- Iho: séculos XI e X a.C., reinado de Davi, em que o monarca era 0 representante pela execucao das leis divinas, construindo-se os ali- cerces do que viria a ser o Estado Democratico de Direito, os quais se foram solidificando com o surgimento de instituigées democraticas de Atenas e com a participagao popular da republica romana’ Ha que se mencionar ainda a Baixa Idade Média, em que se for- talecen a ideia de controle do poder politico. Ja a Alta Idade Média caracterizou-se pelo feudalismo e, ainda, por nova concentragéo de (© COMPARATO, Hb Kopdes. A tag st ds ras sans. 8 Si al Saas, 2010 22342 poder nas mos do imperador, motivando a luta por liberdade, ainda que nesse primeiro momento esta fosse destinada apenas aos nobres © ao clero, Esse periodo foi marcado pela abertura das vias mari- timas, propiciando a formagao de grandes fortunas mercantis ¢ 0 surgimento do Capitalismo. A relevancia do periodo decorrido entre 0 século Xie XIII, du- ante o qual ocorreu um grande desenvolvimento de invengées téc- nicas, esta em ter propiciado progressos substanciais nas areas de producio agricola, navegagio e comércio, fatores que contribuiram para a limitacao do poder politico. Também convém ressaltar o perfodo correspondente ao século XVII, no qual eclodiram mudangas not6rias no campo da arte, li- teratura e cigncia, que influenciaram decisivamente a vida politica, fazendo renascer 0 ideal republicano e democratico Todo esse percurso do desenvolvimento da sociedade possibili- tou a afirmacao dos Direitos Humanos. Nesse sentido, insta citar a importancia da contribuigdo decisiva de relevantes fatos hist6ricos como a Revolugao Francesa e a Re- volugdo Norte-americana, Nesses marcos, registra-se uma ideia de universalidade, ainda que os “direitos do homem e do cidadao” pos- suissem um contetido marcadamente individualista. Quem cunhou o conceito de direitos sociais foi Rousseau: direitos relativos ao traba- Iho e a meios de existéncia, direito de protecao contra a indigéncia, direito & instrugio (Constituigdo de 1793). No entanto, nao cabia ainda ao Estado realizar tais direitos e nao havia nenhuma decorrén- cia por sua abstengao em face de tais problemas.* Para Comparato®, o artigo I da Declaracao de Independencia Americana “Eo registro de nascimento dos Direitos Humanos na Historia [...”, vindo a consolidar a ideia de igualdade entre os ho- mens, também presente na Declaracdo dos Direitos do Homem e do Cidadio, de 1789 Nao obstante a Constituicao Francesa tenha apontado necessida- des de cunho econdmico e social, estas somente viriam a ser consoli- {8 UERKENHIOF joie tapas dda. io Pal: Ades, 2000p 42 =235= dadas, enquanto direitos no século XX, mais precisamente na Cons- tituigdo Mexicana, em 1917, e na Constituicao de Weimar, em 1919. A primeira fase de internacionaliza¢ao dos Direitos Humanos teve ini- cio na segunda metade do século XIX e findow com a Segunda Guerra Mundial, no qual se destaca o direito humanitario, a luta contra a escravidao ¢ a protecao dos direitos trabalhistas, que culminou com a ctiagéo da Organizacao Internacional do Trabalho (OIT) Piovesan’® assinala que cada um desses institutos contribuin para 0 processo de internacionalizacao dos Direitos Humanos e para a revisio da nogio de soberania, até entao tida como absoluta Ainda que o debate teérico no que conceme aos Direitos Tu manos tivesse evoluido e trazido algumas garantias fundamentais, denota-se que apenas tomou um carter dogmatico no pés-Segunda Guerra Mundial, com o advento da Conferéncia de Sao Francisco ¢ com o surgimento da Organizacao das Nacdes Unidas (ONU). Mais uma vez, 0 eseélio de Piovesan" assinala que, se a Segunda Guerra significou a ruptura com os Direitos Humanos, o Pés-Guerra deveria significar a sua reconstrucao [No momento em que os seres humanos se tornam supérfluos e descarveis, no momento em vige a légica da destruigao, em aque eruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se ne= cessita a reconstrugio dos Diteitos Humanos, como paradigma ético capaz de resaurar a logica do razoavel, A barbarie do to- talitarismo significou a ruptura do paradigma de Direitos Hu- ‘manos, por meio da negagso do valor da pessoa humana como valor fonte do diteto, Diante dessa ruptura, emerge a necessi- dade de reconstrair os Diteitos Humanos, como referencia paradigma ético que aproxime o direito da moral. A Carta das Nagdes Unidas, de 1945, traz em seu preambulo ‘uma contraposicao do Direito a forca e a violencia que as duas guer- ras mundiais causaram, bem como a declaragio da necessidade de reafirmacdo dos Direitos Humanos: NOS, OS POVOS DAS NACOES UNIDAS, RESOLVIDOS a pre- servar as geragtes vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espago da nossa vida, trouxe softimentos indiziveis 19 PIOVESAN, sa Dues hanno eo de consi iaerionl. 1 Si Pao Saas, 200 =230= a humanidade, ¢ a reafimmar a fé nos direitos fundamentals do hhomem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens ¢ das mulheres, assim como das nagSes grandes e pequenas, ¢ a estabelecer condigdes sob as quais a justiga © 0 respeito As obrigagses decorrentes de tratados e de coutras fontes do direito internacional possam ser mantidos, © 2 promover o progresso social e melhores condighes de vida den- tro de uma liberdade ampla ‘A Carta de Sao Francisco (ou Carta da ONU), e juntamente a Declaracao Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Politicos e de Direitos Econé- micos e¢ Sociais ¢ Culturais, de 1966, formam a Carta de Direitos Humanos da ONU. Rodrigues® defende que [a] a Canta foi a peca central na proclamagto de prinelpios e valores a serem comparilaados pela soiedade internacional, demarcando como pilares do sistema wnternacional a igualda- de soberana, a integridade tertitoral, a independéncia politica ddos Estados, a autodeterminagao dos povos, a no-intervengao nos assuntos internos, a resolugao pacifica dos conflitos, a abs- tengio da ameaga ow uso da forga, o cumprimento das obriga- 66es internacionais, a cooperagdo internacional ¢ o respeito € a promogao dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais sem diseriminagao. A Declaragio de 1948 foi o encaminhamento juridico encon- trado pela comunidade internacional para eleger os direitos tidos ‘como essenciais no intuito de preservar a dignidade do ser huma- no. A doutrina contemporanea classifica aludida Declaracao como um verdadeito libelo contra o totalitarismo. Seus 30 artigos tém como objetivo principal evitar que o ser humano seja tratado como objeto descartavel, procurando criar condigées concretas para evi- tar a repeticdo de fatos que marcaram de forma indelével a histéria da humanidade."* 12 RODRIGUES, Simone Marts Segway menaconale Dos Humanesapriadanerengahamania apogee he de nee Renova, 000,945 13 DALLA, Dane de Abies, Duss Usanes« cdi. 2. Sio Palo: Moderna, 2004 ALMEIDA, Gulbeme Aste FERRONEMOISES, Clad Dine tracer ds Dreie Taos instaneniss ‘sos 2 eS Pl: At, 2007 #23) De acordo com Lafer's, a Declaracao de 1948 pode ser conside- rada um evento matriz que da origem a uma nova politica de Direi- to, voltada para a protegio do ser humano. O Direito Internacional dos Direitos Humanos objetiva transformar em direito positivo esse escopo. A Declaracao de 1948, ao reafirmar o direito a liberdade, & igualdade e a fraternidade de todas as pessoas, busca, acima de tudo, a valorizacao da pessoa humana sem qualquer ressalva, Ao declarar que todas as pessoas nascem livres e iguais, mantém este antigo con- ceito e cria outro novo. Esse novo conceito nada mais é do que a ineréncia da dignida- de do ser humano, Isso significa que a liberdade ¢ a igualdade em dignidade e direitos surgem com nascimento do ser humano e 0 acompankam de modo inseparavel e incondicional, no decorrer de sua existéncia, néo dependendo, em absoluto, de qualquer outro ti tulo ou condigéo, que nao seja sua esséncia humana. No entendimento de Bobbio", | a Declaragao afirma os direitos de forma universal, no sen- tide de que os destinatarios dos princtpios nela contides nio sio mais 0s cidadios deste ou daquele Estado, mas todos os ho mens; e postiva no sentido de que pde em movimento um pro- cesso em cujo final os direitos do homem deverdo ser no mais apenas proclamados ot apenas idealmente reconbecidos, porém efetivamente protegidos aé mesmo contra o preprio Estado Casin (1887-1976), denominado como um dos pais da Declara- ‘¢40, segundo Piovesan”, afirma Esta Declaragio se caracteriza, primeitamente, por sua ampli- tude, compreende um conjunto de direitos ¢ faculdades sem as quais um ser humano nao pode desenvolver sua personalidade fisica, moral ¢ intelectual. Sua segunda caracteristica é a uni- versalidade: é aplicavel a todas as pessoas de todos os paises, racas, religides e sexos, seja qual for o regime politico dos ter ritérios nos quais incide Ae Janene. Camparhia das Levas, 2001 apud PIOVESAN, Fla Dives humanese 9 dee consttuxanal 16 ORBI0, Norbert, A ta doses, 13 Rode ai: Campus. 1882, p30 ‘bri FAVA, bans Ness (Cooeds) Tal eset emtempane 9 desain de supear «ree. Ska =238= Embora as dificuldades para a plena realizagao dos Direitos Hu- ‘manos sejam marcantes, a Declaragao de 1948 foi assinada por 48 paises, com oito abstencdes, enquanto que a Declaragao de Viena foi assinada por 171 paises, correspondente a totalidade dos paises presentes na conferéncia, o que evidencia a relevancia dos Direitos Humanos na sociedade contemporanea ‘A Primeira Conferéncia Mundial dos Direitos Humanos foi re- alizada em Teers (Ira), em 28 de novembro de 1943, consolidando © compromisso solene de todos os Estados de promover o respeito universal ea observancia ¢ protegao de todos os Direitos Humanos e liberdades fundamentais de todas as pessoas, em conformidade com Carta das Nag6es Unidas e outros instrumentos relacionados aos Di- reitos Humanos e ao direito internacional." Com a necessidade de reafirmar e garantir a aplicacao dos di- reitos sociais, foram formulados dois pactos de Direitos Humanos, ‘uma vez que direitos sociais, econémicos ¢ culturais eram conside- rados como programaticos, Nesse contexto, desenvolveu-se 0 Pacto Internacional dos Direitos Civis ¢ Politicos de 1966 — que passou a vigorar em 1976, quando obteve o nximero de ratificagdes necessé- ras (35 Estados). © Pacto reconhecia um catalogo de direitos ainda maior que o da propria Declaragao de 1948." © Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos consagrava, ‘em seus 47 artigos, os seguintes direitos: o direito de autodetermi- nagao; de dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais; proibicao de discriminagao racial; direito a vida; proibigao de tor tura ¢ tratamento cruel; proibigo a escravidao, trabalho forcado ¢ twafico de escravas; direito a liberdade e & seguranca pessoal; igual- dade de todas as pessoas perante os Tribunais; diteito a liberdade de circulagao, a liberdade de pensamento, de conscigneia, de reli- gido, de expresso; protbi¢ao de propaganda em favor da guerra; direito a livre associagao; protecao da familia e das criangas.”° 18 RODRIGUES, Simone Marts Segwngs menacenale Dees Humanesapricadanervengahamanita ra por goa tse de nese Renee, 2000 18 CONPARATO,Fiblo Kode. ata Bc oe Dios anes. 7. Si Pa: Sa, 2018 =2302 © Pacto Internacional de Direitos Econdmicos, Sociais ¢ Cultu- rais, do mesmo ano, tinha por objetivo incorporar os dispositivos da Declaragéo Universal de 1948, sob a forma de preceitos juridicamen- te obrigatérios e vinculantes, © aspecto mais marcante do Pacto foi elencar deveres para os Fstados, ¢ nao para os individuos, por suas normas serem de realizac4o progressiva, e nao imediata. Os precei- tos nele contidos visavam a condicionar a atuacao do Estado para a implementagio dos direitos, que necessitam de recursos econémicos c incentivos estatais A Segunda Conferéncia Mundial s6 tornou a ocorrer em 1993, realizada em Viena, convocada pela Assembleia Geral, da qual par- Liciparam delegacdes de 171 paises e 800 Organizacses Nao-Gover- namentais, Procurava-se coordenar os mviltiplos instrumentos de protegao aos Direitas Humanos e torna-los mais eficazes.”” Essa 2* Conferéncia trouxe consigo a Declaracao de Viena de 1993, referindo-se claramente ao apoio internacional A promogao e ao fortalecimento da democracia, do desenvolvimento ¢ dos Direitos Humanos. Realgava a importancia da interdependéncia, da universa- lidade e da indivisibilidade dos Direitos Humanos, No entender de Rodrigues! ‘Ao assinarem a Declaragio de Viena, 0s Estados se comprome- teram em eleger a protegdo e promogdo dos Dieitos Humanos coma primeita responsabilidade de todos os governos, indepen dlente da perspeciva particular de sua cultura cabendo a socie- dade mtetnacional fiscalizar 0 seu cumprimento. Assim, a chamada concepeao contemporanea de Direitos Huma- nos, caracterizada pela universalidade ¢ indivisibilidade”, foi intro- duzida pela Declaragdo Universal de 1948 e reiterada pela Declara- ‘cao de Direitos Humanos de Viena de 1993 A Acao de 1993 apontou uma série de recomendacées, entre elas, uma das mais importantes foi concretizada: a instalagéo do 221 RODRIGUES Simone Mau, Seuranainemacionae Des Humans pea aiterven hati ra poeput ia Be ness Renoir 2005 22 Bd, p86 23 “(.) Pacese sonar ques concn contests de DresaeHaranor caarsase pele proces de loivesaagi € memacarlene dees diets emprerddes sob e ps de sa natistade (1 =240= Alto Comissariado das Nagdes Unidas para os Direitos Humanos Em vista disso, em setembro de 2001, assumiu o posto de alto comissariado o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, até seu assassi- nato no atentado terrorista a sede da ONU em Bagda no dia 19 de agosto de 2003. Registra-se a existéncia do Tribunal de Nuremberg, que jul- gou os criminosos da Segunda Guerra Mundial, 0 Tribunal Mili- tar Internacional para o Extremo Oriente ¢ o Tribunal Militar de Ruanda em 1995, tendo sido o Tribunal Penal Internacional o Liltimo mecanismo juridico surgido no campo do Direito Interna- cional Publico Tribunal Penal Internacional {oi estabelecido pelo Estatuto de Roma, aprovado no dia 17 de julho de 1998, por uma Conferéncia Diplomatica de Plenipotenciarios das NacSes Unidas. Importante ressaltar o carater complementar do Tribunal Penal Intemacional, que exerce sua jurisdigéo apenas quando esgotados ou fracassados os recursos internos dos Estados, cabendo-Ihe jul- gar individuos que cometeram o crime de genocidio, crime contra a humanidade, crime de guerra e crime de agressio, conforme dis- poe seu artigo 1° * Sobre a complementaridade do Tribunal Penal Internacional, Comparato*” explica: “E, portanto, a regra do esgotamento dos procedimentos internos, como condigao para que se abra a juris- digao [...]" Esse Tribunal Penal até entao vinha coordenando a ordem juri- dica internacional, que veio a ser impactada pelos marcantes acon- tecimentos ocorridos na data de 11 de setembro de 2001, atentados tertoristas praticados contra os Estados Unidos, que acarretaram consequéncias politicas, juridicas sociais e estabeleceram nova 24 SERGIO VIEIRA DE MELLO FOUNDATION. About Seige Dupes symenaindee paplangens Acts ny 2 sn 2000 ap innnsergr dour, 25. CONPARATO, Flo Ronde. anasto Bsc dos Dies Humane. 7. Si Pal: Sara, 2010 28 “|. 0 Tana art um itp permanent com jrscg sabre at pseu epost eae cies 4 taor gvidade com skance terol de acre como pete Eau, «seh cepacia te Sie as Sua, 2010p. 404 =241= configuragao de forcas, constituindo-se um dos principais objetivos da comunidade internacional que as relagGes voltassem a ser pauta- das pela busca de metas comuns Entrementes, essas metas devem, necessariamente, conduzir seu agir pela compreensao da concepcao de pessoa humana a partir da Gtica do Direito Internacional dos Direitos Humanos, com respeito a dignidade para que seja considerado legitimo. Cumpre mencionar que ha doutrinadores que, nao obstante re- conhecerem o fortalecimento do Direito Internacional, relativizam a importancia disso por entenderem que a primazia dos Estados na- cionais se constitui na principal forca protetora dos Direitos Huma- nos com respaldo no Direito Constitucional positivo, Exemplo dessa posigao pode ser constado por Dimoulis e Martins" Apesat do indiscutivel fortalecimento do direito internacional, deve-se realizar um redimensionamento da relevancia do tema, contrarando uma endéncia de tratamento da materia que se re- sume na exalagdo a critica das virtudes potticas e da relevancia juridica do direito internacional. A despeito do entendimento desses autores, certo é que nao ha como minimizar a tendéncia crescente da relevancia dos Diteitos Humanos reconhecidos intemacionalmente, protegidos por todo ‘um aparato juridico e que pode ser acionado pelo cidadao cujo Esta- do seja incapaz de bem protegé-lo reconhecimento da intemacionalizacao dos Direitos Humanos traz a discussio sobre a forca sancionatéria em caso de seu destespeito, constituindo-se um grave problema quando tal hipétese se concretiza, mormente no tocante & punigao, A auséncia de centralizagao hierar- quica e de autoridade superior no plano da comunidade internacional. Essa questio envolve discussdo sobre eventual ofensa a soberania de um Estado frente a intervengio para protecio desses Direitos Hu- ‘manos universais ofendidos, a exemplo do que ocorreu em Kosovo com a intervencio da Organizacao do Tratado do Atlantico Norte, em 24 de marco de 1999, tematica essa a que ndo se confere o aprofunda- mento exigido, por nao se constituir objeto do presente estudo, 2 DIMOULIS, Die, MARTIN, Lead eo ge es dees fudarentas 2 eS al Resa dos =2n= 3 CONCLUSAO © processo evolutivo dos Direitos Humanos encontra-se em constante desenvolvimento. A afirmacao do conceito de pessoa hu- mana ¢ 0 ideal do principio da igualdade, surgidos na época medie- val e consolidados no decorrer do tempo, tornaram-se elementos decisivos para a formagao do conceito de Direitos Humanos O ser humano, como sujeito de direitos, bem como a influéncia decisiva do pensamento existencialista, no inicio no seul XX, fo- ram determinantes para a construgao das garantias fundamentais ¢ para a reafirmagao dos Direitos Humanos. Nesse sentido, imprescindivel a relevancia do cenario pos Se- gunda Guerra Mundial, que contribuiu de forma significativa para © surgimento da Declaragao de Direitos Humanos do Homem de 1948, para o encaminhamento juridico-positivo encontrado pelos organismos internacionais para a protecao e preservacao dos direitos tidos como essenciais, em especial a dignidade do ser humano. A concepcao contemporanea de Direitos Humanos foi introdu- zida na perspectiva internacional por meio da Declaracao de Direitos Humanos de 1948, fato este que originou uma nova politica de Di- reito, voltada para a protecao do ser humano Outrossim, por meio do processo evolutivo dos direitos huma- nose, ainda, do crescimento e consolidacao do Direito Intemacional dos Direitos Humanos, tornou-se posstvel a criagao de mecanismos juridicos no ambito do Direito Internacional Pablico para a protecéo destas garantias fundamentais esculpidas pela Declarag4o Universal dos Direitos do Homem. Destaque-se, nese vigs, a instalagao do Alto Comissariado das Nacoes Unidas para os Direitos Humanos, a criacao do Tribunal de Nuremberg e Tribunal Penal Internacional que exercem sua juris- digao apés esgotados todos os recursos internos dos Estados para a protecio dos Direitos Humanos. ‘A primazia dos Estados nacionais constitui a principal forca pro- tetora dos Direitos Humanos, em face do compromisso pelo respeito universal ¢ observancia de todos os Direitos Humanos ¢ liberdades fundamentais do homem, constituindo 0 proceso evolutivo destes =243= direitos, elemento fundamental para a incorporacéo e desenvolvi- ‘mento da matéria no cenario internacional REFERENCIAS BOBBIO, Norberto, A era dos direitos. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992, COMPARATO, Fabio Konder. A afirmagao histsrica dos Direitos Humanos. 7. ced. Sao Paulo: Saraiva, 2010, DALLARI, Dalmo de Abreu, Direitos Humanos e cidadania, 2. ed. 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