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Operagoées Unitarias na Engenharia Quimica A engenharia quimica 6 definida como"... a aplica- ¢40 dos principios das ciéncias fisicas, juntamente com 0s principios da economia e das relacoes humanas, aos, campos que sao diretamente pertinentes aos processos @ 0s equipamentos de processos nos quais se tratam subs- tancias visando a provocar modificacées de estado, de energia ou de composigao...”. "* Esta definigao, bastante vaga, intencionalmente ampla e indefinida no que se refere & amplitude do campo abarcado. Possivelmente, sera tao satisfat6ria quanto qualquer outra definicao apresentada por um engenheiro quimico pratico. Deve-se observar que se realgam, de forma consideravel, os pro- cessos e os equipamentos de processo. O trabalho de muitos engenheiros quimicos seria denominado, com maior propriedade, de engenharia de processo. © proceso pode ser qualquer conjunto de etapas que envolvem moditicagoes de composigao quimica, ou que envolvem certas alteracées fisicas no material que esta sendo preparado, ou processado, ou separado, ou purificado. O trabalho de muitos engenheiros quimicos envolve a escolha das etapas apropriadas, na ordem apropriada, para formular um proceso capaz de concre- tizar uma operagao de manufatura quimica, ou uma sepa- ragao ou purificacao quimicas. Em virtude de cada etapa que constitui um processo estar sujeita a variagoes, 0 engenheiro de processo deve também especificar as con- digoes exatas de realizacao efetiva de cada etapa ‘Amedida que a concepcao do processo evoluie que o equipamento deve ser projetado, o trabalho do enge- rnheiro quimico deségua no do engenheiro mecanico e no do engenheiro civil. A transferéncia da responsabilidade principal do engenheiro de processo para 0 engenheiro mecanico pode ocorrer, satisfatoriamente, em diversas etapas do projeto, e por isso é impossivel definir uma area nitida na qual a responsabilidade deve ser atribuida ao engenheiro quimico, ou uma etapa na qual o engenheiro mecanico deve assumir a responsabilidade sobre o equi- pamento. A época da formulacao da definigao mencionada acima, as ciéncias fisicas citadas eram, principalmente, a quimica e parte da fisica classica. Com 0 progresso da compreensao dos modelos matematicos dos processos quimicos, 0 tratamento da quimica e da fisica dos proces- 808 passou a ser expresso em forma nitidamente mais matematica. O crescente emprego da termodinamica, da dinamica dos fluidos e de técnicas matematicas como as do calculo das probabilidades e da estatistica, a tecnica matricial e a das variéveis complexas tornaram-se uma caracteristica da pratica da moderna engenharia quimica Na maior parte dos processos que esto sendo conduzi- dos em larga escala, no entanto, a quimica foi previa- mente determinada e as modificagées fisicas pertinentes a preparacao e a purificagao das misturas reacionais exi- gem estudo consideravelmente mais amplo que a propria reacao quimica. A aplicagao frequente dos principios da fisica e da fisico-quimica é indispensavel nas etapas do processo que envolvem modificacoes fisicas como a v porizacao, a condensacao ou a cristalizagao. Com a cor- porificagao do processo numa fabrica, o trabalho do en- genheiro quimico unifica-se com o do engenheiro meca- nico projetista, ea ciéncia da mecanica assume papel de importancia crescente. O engenheiro quimico especiali- zado em equipamento deve ter um conhecimento pro- fundo e extenso sobre mecdnica dos materiais. Todo o trabalho de um engenheiro deve ser quantita- tivo e a matematica constitui, por isso, uma ferramenta fundamental para ele. Infelizmente a nossa compreensdo da matematica é, em grande parte, confinada a matema- tica linear; da mesma forma, e também desafortunada- mente, as moléculas quimicas raramente comportam-se de acordo com as regras da matematica linear. Os calcu- los de balancos de energia e de massa, que sao funda- mentais em qualquer investigagao de quaisquer proces- sos, podem ser comumente expressos, com fidedigni- dade e precisao, em termos da matematica linear, desde que sejam exciuidos das consideragoes os processos atémicos e nucleares. Na analise econdmica para deter- minar as condig6es de operacao mais lucrativas — e na contabilidade das receitas de vendas e da distribuig&o da renda entre os lucros @ os custos, incluindo-se as substi- tuigdes na fébrica— os cAlculos mateméticos séo univer- sais, ‘A existéncia ou a andlise de um proceso implica a existéncia de um produto a ser fabricado e pelo qual certos consumidores esto dispostos a pagar. O produto deve ser entregue numa certa quantidade, satisfazendo certas exigéncias de qualidade, e a um preco aceitavel pelo consumidor. Simultaneamente, 0 produto deve co- brir o custo dos materiais, da mao-de-obra e do eq mento, envolvidos na fabricacdo, e contribuir ainda para um lucro superposto a todos os custos. Muitos materiais produzidos pela industria quimica sao planejados, e as fabricas respectivas sao construidas, antes de que o mer- ado potencial seja desenvolvido. Para um produto com- pletamente novo, é preciso estabelecer certas estimativas do volume do mercado e a fabrica deve ser dimensionada proporcionalmente a este volume. Os aspectos referentes as relagdes humanas na en- genharia quimica nao sao, em geral, acentuados no trei- namento dos estudantes universitarios em virtude da ‘grande quantidade de informagées técnicase de métodos que o estudante deve dominar. A auséncia da abordagem destes problemas pode ser que seja um erro, pois os fracassos de engenheiros iniciantes provocados por pro- blemas pessoais séo pelo menos cinco vezes mais tr quentes que os fracassos decorrentes de um treinamento técnico deficiente. Todos os engenheiros deve com- preender que a indistria onde trabalham exige o esfor¢o coletivo da totalidade do pessoal. Informagao valiosa pode ser conseguida com operadores, que tém formagao educacional limitada, mas que ja observaram processos semelhantes. O pessoal que tem “vivéncia” de uma ope- ragao ja observou, com toda a probabilidade, agoes efeitos, e aprendeu métodos de controle precisos que nao podem ser abordados ou descritos apenas pela teoria formal. O trabalho de engenharia de melhor qualidade s6 pode ser feito com a consideragao apropriada de todos os fatos disponiveis, independentemente das suas origens. Um processo novo, ou a melhoria técnica de um outro ja existente, projetado sem a consideracao devida aos ope- radores, esta, em geral, destinado ao fracasso. A partida da operacao de uma fébrica nova, ou a instalagao de uma modificagao técnica, seré muito mais tranquila e muito mais barata se 0 pessoal da operacao compreender os objetivos visados e estiver convencido da corregao dos ‘seus principios. ALGUNS CONCEITOS BASICOS Antes de tentar descrever as operacbes compreendi- das num processo quimico, é preciso introduzir diversos conceitos basicos que devem ser apreendidos para que seja compreensivel a descrigao das operagées. Equilibrio Para qualquer combinago de fases num sistema existe uma condigéo em que a taxa de troca de certas grandezas do sistema (usualmente a massa ou a energia, num processamento quimico) igual a zero; esta combi nacdo dos estados das fases é denominadao equilibrio do sistema, Para todas as situagdes em nao-equilibrio, a dife- renga entre a concentracao de uma certa grandeza, exis- tente numa certa condicdo, e a concentragéo que a mesma grandeza teria no equilibrio, constitui uma forca motriz, ou uma diferenca de potencial, que tendeaalterar © sistema no sentido do atingimento do equilibrio. Por exemplo, conhece-se, de forma geral, a tendéncia de a energia térmica fluir de uma regido de concentragao ele- vada — de um corpo quente — para uma regio de con- centragao baixa — um corpo frio. Analogamente, ¢ bem sabido que a energia elétrica tem a tendéncia de fluir de uma regido de potencial elevado para uma outra de po- tencial baixo, de acordo com a lei de Ohm (I = E/R). A tendéncia de o Acido acético fluir de uma solucéo de Acido acético em agua para uma fase etérea em contato com a solugdo, & uma tendéncia menos conhecida. A descrigao deste equilibrio € consideravelmente mais complicada que a afirmagao da igualdade de temperatu- ras que descreve o equilibrio daenergia das moléculas. As substancias fluem das regides de elevada concentragao (atividade) para as de baixa concentracao (atividade), da mesma forma que 0 calor e a eletricidade fluem das re- gides de alta paraas de baixa concentragao nassituacdes que mencionamos acima. A expressao da condicao de equilibrio familiar a todos no que diz respeito a energia elétrica ou térmica. A “concentragao” desta energia & expressa diretamente como uma voltagem ou uma temperatura. Por isso, dois corpos num mesmo potencial elétrico (voltagem), ou numa mesma temperatura, estarao em equilibrio em rela- G0 a estes tipos particulares de energia. No caso do equilibrio entre um liquido e o seu vapor, 6 razoavelmente conhecida a curva da pressao de vapor. A curva exprime, ‘em unidades de pressao, a "concentracao” do vapor que esta em equilibrio com 0 liquido puro, quando os dois estéo numa temperatura determinada. No caso de uma mistura liquida, 0 equilibrio deve existir entre a fase li- quida e a fase vapor no que diz respeito a cada um dos Componentes e a todos eles em conjunto. Numa mistura bindria a relacao é relativamente simples e descreve a concentracao ou pressao parcial de cada constituinte na fase vapor que esta em equilibrio com um liquido com uma certa composicao, numa temperatura bem determi nada. Como € dbvio, 0 vapor tera composigao diferente quando estiver em equilibrio com liquidos de composi- 6es também diferentes. As expressoes do equilibrio em misturas multicompostas, entre a fase liquida e a fase vapor, ou entre duas fases liquidas com solubilidade par- cial de uma na outra, so mais complicadas. Em cada caso, a condicéo a ser satisteita é a de que o potenci quimico de cada constituinte temo mesmo valor em todas as fases que estao em equilibrio num determinado sis- tema. Forga motriz Quando duas substancias, ou duas fases, que nao estao em equilibrio, sdo justapostas, hé tendéncia de ocorrer modificagéo que provoca uma aproximagéo no sentido da condigao de equilibrio.-A diterenga entre a condigao existente e a condigao de equilibrio é a forca motriz que provoca esta modificagao. A diferenca pode ser expressa em termos das "‘cohcentragoes” das diver- sas propriedades da substancia. Por exemplo, se a Agua liquida com teor baixo de “concentragéo” de energi isto é, com temperatura baixa— for colocada em contato como vapor de agua com elevado teor deenergia—istoé, com temperatura alta — haverd uma transferéncia de ‘energia da fase vapor paraa fase liquidaaté que aconcen- tragao de energia seja a mesma em ambas as fases. Neste caso particular, se a quantidade de liquido for grande em comparagao com 0 vapor, as duas fases transformam-se em apenas uma, com a condensagao do vapor a medida que a sua energia for sendo transferida para a agua Ii- quida fria. O sistema final seré constituido por uma quan- tidade maior de agua liquida, numa temperatura mais elevada que a inicial, e uma quantidade menor de vapor de Agua. Esta combinacao atinge 0 equilibrio com rapidez, numa temperatura em que a pressao de vapor daaguatica igual & pressao da fase vapor. Uma linha semelhante de raciocinio pode ser seguida para 0 caso de dois capacito- tes elétricos, com diferentes "‘concentragdes” (isto 6, com diferentes voltagens) de energia elétrica. Quando os dois sao acoplados eletricamente, a energia elétrica flui da regido de concentracéo mais elevada para a de menor concentragao. Os dois capacitores ficarao na mesma vol- tagem, uma vez atingido o equilibrio. Um tipo menos conhecido de forca motriz ¢ a que atua quando se coloca em contato uma solucao de écido acético em agua com éter isopropilico. As trés substan- cias separam-se, usualmente, em duas fases liquidas, cada qual contendo uma certa quantidade de cada um dos trés componentes. Para se descrever 0 estado de equillbrio é preciso determinar a concentragao de cada uma das trés substancias em cada uma das duas fases, Quando duas fases, que nao estéo em equillbrio, sao reunidas, ocorreré uma transferéncia andloga a transf réncia de energia elétrica e térmica que mencionamos acima. O resultado sera uma transteréncia do éter isopro- pilico para a fase 4gua-dcido e a transferéncia da agua e do acido para a fase etérea, até que 0 potencial de cada constituinte seja idéntico nas duas fases. Nao ha uma expressao cémoda e simples para 0 potencial quimico; por isso, identifica-se habitualmente 0 equilibrio pela quantidade de massas por unidade de volume, ou seja, pela concentragao. A concentragéo massica nao ¢ uma definigo rigorosa, mas as funcdes mais exatas e mais complicadas —atividade, fugacidade, fungao de Gibbs — exigem mais conhecimento de fisico-quimica do que pre- tendemos usar nesta altura. No exemplo precedente, a concentragéo massica de cada componente é diferente em cada uma das duas fases em equillbrio. Em todos os casos que discutimos acima, o poten (concentracdo) de uma substéncia ou mistura num certo estado, comparado com o mesmo potencial no equilibrio,, mostra que ha uma diferenga de potencial que é uma forca motriz, que impele o sistema a modificar 0 seu es- tado até atingir o equilibrio. As forgas motrizes, ou dife- rengas de potenciais de energia ou de massa, tendem a provocar modificagées a uma taxa (temporal) que é dire- tamente proporcional a diferenga entre 0 potencial e 0 potencial no equilibrio. A taxa com que o sistema se altera na diregéo do equilibrio é um dos tépicos principais a ser coberto neste livro. Separagées Como ¢ claro, a separacéo de uma solucéo, ou de outra mistura fisicamente homogénea, exige que haja uma transferéncia preferencial de um constituinte para uma segunda fase que possa ser fisicamente separada da mistura residual. Ilustram este efeito a desumidificagéo do ar pela condensagao ou pelo congelamento de parte da umidade, ou 0 uso de um solvente liquido que é insold- vel no material inerte nao extraido. Na operacao de sepa- ragao pode estar envolvida qualquer de duas fases que tenha uma distribuicdo preferencial dos constituintes & que pode ser facilmente separada do restante. E possivel que seja muito dificil separar duas fases sélidas; um Ii- quido e um gés, ou um s6lido, usualmente, séo separados com facilidade: dois liquidos com densidades aproxima- damente iguais e sem tensdo interfacial podem resistir a todos os meios praticos de separagao, a menos que se altere uma das fases. Configuragdes de fluxo Em muitas operagoes de transteréncia de energia ou de material, de uma fase para outra, 6 necessério colocar ‘em contato duas correntes de fluido para que possa ocor- rer a modificagao no sentido do equilibrio de energia ou de massa ou de ambos. A transferéncia pode ser realizada com as duas correntes fluindo na mesma diregdo (isto 6, com escoamento paralelo). Quando se usa o escoamento Paralelo, o limite da transferéncia que pode ocorrer esta firmemente determinado pelas condigées de equillbrio que serdo atingidas pelas duas correntes que se poem em contato. Porém, se as duas correntes forem justapostas fluindo em direg6es opostas, a transferéncia de massa ou de energia pode ocorrer com intensidade consideravel- mente maior. Esta configuracao de fluxo @ conhecida como escoamento em contracorrente. Como exemplo, é possivel prever qual a temperatura atingida quando se permite que uma corrente de mercério quente e uma outra de Agua fria entrem em equillbrio simplesmente mediante um balango térmico que leva em conta as quantidades relativas das duas correntes, as respectivas temperaturas iniciais ¢ as capacidades calor ficas. Se as correntes escoam simultaneamente de um mesmo ponto de afluéncia para o mesmo ponto de efluéncia, a temperatura de equilibrio esté definida e a respectiva variacao esta indicada esquematicamente na Fig. 1.12. Quando as duas correntes fluem em direcoes ‘opostas — por exemplo, delxando-se o merctirio escoar descendentemente através de uma corrente ascendente de égua— 6 possivel fazer com que a corrente atluente de mercirio quente eleve a temperatura da corrente efluente da agua de arrefecimento até um valor superior ao da ‘temperatura da corrente do mercurio que sai do equipa- mento trocador de calor, conforme esta no esquema da Fig. 1.1b. O principio da contracorrente é usado em mi tas operacées da engenharia quimica, para possibilitar maior transferéncia de uma certa propriedade, a niveis mais elevados que os atingiveis num dnico equilibrio entre correntes paralelas postas em contato. Operagao continua e operacéo descontinua Na maior parte das operagdes quimicas de proces- samento é mais econémico manter 0 equipamento em ‘operagao continua e permanente, com um minimo de perturbagées ou de paradas. Nem sempre esta situagao é conveniente nas operagdes de pequena escala, ou em ‘operagdes onde a agéo da corrosao obriga a reparos freqdentes, ou gracas a diversas outras razées particula- res. Em virtude da maior produtividade do equipamento que opera continuamente e do prego unitério mais baixo Que dai decorte, é em geral vantajoso operar 0 equipa- ‘mento de forma continua. Isto quer dizer que o tempo néo é uma varidvel na andlise de um destes processos, exceto durante os periodos, relativamente curtos, de partidae de Parada. A taxa temporal de transferéncia ou de reacao & importante na fixacao das dimensdes e da capacidade necessérias do equipamento, mas se espera que o de- sempenho seja 0 mesmo hoje, amanha ou no proximo ano, se as condigées operacionais permanecerem as mesmas. As condig6es ndo S40 constantes ao longo do sistema, em nenhum instante, mas as condigdes num Ponto fixo particular so constantes com o tempo. ‘Quando se tem que processar pequenas quantidades de materiais, 6 muitas vezes mais conveniente carregar 0 equipamento com toda a carga necesséria, efetuar 0 pro- cessamento e remover os produtos. Esta operagao ¢ des- continua ou em batelada. Uma operacao que varia com 0 tempo é dita tran- siente ou ndo-permanente, em contraste com o estado permanente, no qual as condig6es sao invariantes com 0 tempo. O restriamento de uma pega de ago num trata- mento térmico, ou a produgao de cubos de gelo num refrigerador doméstico, s80 exemplos de operacées ndo-permanentes. Nas operacdes descontinuas quase Que todo o ciclo & constituido por uma partida transiente seguida por uma parada também transiente. Numa opera- ¢40 continua 0 tempo durante o qual prevalece o tran- siente de partida pode ser extremamente pequeno em ‘comparagao com a operacao em estado permanente. A anélise das operagées transientes, ou das descontinuas, & usualmente mais complicada que a da operacao em es- tado permanente. Gragas a maior simplicidade e a ampla ‘ocorréncia das operacoes em estado permanente no pro- cessamento quimico, o tratamento introdutério se faz em termos de condigées invariantes no tempo. A anélise da operagao transiente ¢ diferente da do estado permanente apenas pela introdugao da variével adicional de tempo. Esta variavel complica a anélise, mas nao a altera no essencial. OPERAGOES UNITARIAS Os processos quimicos podem ser constituidos por uma sequéncia de etapas muito diferentes, que tém prin- cfpios fundamentais independentes da substancia que esta sendo operada e de outras caracteristicas do sis- tema. No projeto de um processo, cada etapa a ser usada pode ser investigada individualmente se forem identifica- das de per si. Algumas etapas so reagoes quimicas, en- quanto outras s40 modificacées tisicas. A versatilidade do engenheiro quimico deve-se ao treinamento em de- compor praticamente um processo complicado em eta- pas fisicas individuais, denominadas as operagoes unité- Tias, e em reacées quimicas. O conceito de operagao, unitéria, na engenharia quimica, esté baseado na flosofia de que uma seqiéncia amplamente variavel de etapas Pode ser reduzidaa operacées simples, ou areacdes, que 80 idénticas independentemente do material que esté sendo processado. Este principio, que se tornou evidente aos engenheiros de vanguarda americanos, durante 0 desenvolvimento da industria quimica nos Estados Uni dos, foi apresentado pela primeiravez, com clareza, por A. D. Little, em 1915 Quaiquer processo quimico, qualquer que seja a sua escala, pode ser decomposto numa série coordenada do que se podem denominar "agées unitérias”, como moagem, misturago, aque- cimento, ustulagao, absorgao, condensagéo, lixiviagéo, precipi tagao, cristalizagao, filtracdo, dissolucao, eletrélise etc. O ni mero destas operagées unitarias bésicas nao é muito grande © relativamente poucas delas esto presentes num proceso parti cular qualquer. A complexidade da engenharia quimica provem da diversidade das condig6es, como a temperatura, a presséo etc., sob as quais as agdes unitérias devem ser realizadas nos diversos processos, e das limitacbes dos materiais de construgdo © do projeto dos equipamentos, impostas pelo caréter fisico e quimico das substancias reagentes.* A lista original das operagées unitérias, mencionada acima, contém uma dazia de agoes, nem todas das quais consideradas operagées unitérias. Desde aquela época foram acrescentadas outras a uma taxa anual modesta, que aumentou nos anos mais recentes. Ha muito tempo ‘840 reconhecidos como operacées unitérias 0 transporte de fluidos, a transferéncia de calor, a destilagdo, a umidi- ficagdo, a absorcao de gases, a sedimentagao, a classifi- cago, a agitagao e a centrifugagdo. Nos anos recentes, com o aumento da compreensao das novas técnicas—ea adaptacao de técnicas antigas, mas raramente usadas — aumentou continuamente 0 numero de separacées, de operacées de processamento ou deetapasnamanufatura ‘que podem ser usadas sem uma alteragao significativa em Processos que cobrem ampla diversidade. Esta é a base de uma terminologia de “operagées unitérias” que nos ‘oferecem uma lista de técnicas que nao podem todas ser cobertas num texto de dimensbes razoaveis. Muito freqdentemente ocorrem modificacées quimi cas no material que esté sendo destilado ou aquecido. NO He Hu How =| “0 I} A Ty 8 Af H04<—T > Ht Temperate 0, Hig Terperatura @ Fig. 1.1 Escoamentoe temperatura num contactor. (a) Correntet aralelas, (b) contracorrente. Nestes casos, a operacao fisica é @ que constitui 0 pro- blema fundamental. Quando a reagao quimica corre si- multaneamente com ela, aborda-se a questéo conside- rando a modificacao provocada nas propriedades fisicas do material. Quando se sabem as velocidades da reacéo quimica e se conhecem os equilibrios, ¢ possivel introduzi-los no modelo matemético do calculo da opera- (¢40 unitaria. A operacao tipica da manufatura quimica envolve al- ‘gumas etapas quimicas que, provavelmente, séo diretas e bem sabidas. Em geral o que se precisa é de equipamen- tos diversos e de operagées extensas para refinar, ou processar ainda mais, as misturas reacionais complexas até que se chegue ao produto final. O resultado est em que 0 trabalho de um engenheiro tipico de processos relaciona-se muito mais com alteracées fisicas do que com as reagées quimicas. A importancia das reagoes quimicas nao deve ser subestimada em virtude da impor- tancia econémica de pequenas methorias nos rendimen- tos percentuais das reagdes. Em muitos casos, uma me- thoria percentual relativamente pequena no rendimento pode justificar operagées e equipamentos de processo consideravelmente mais extensos Todas as operagées unitérias estéo baseadas em principios da ciéncia que sao traduzidos nas aplicacoes industriais em diversos campos da engenharia. O escoa- mento de fluidos, por exemplo, é estudado profunda- mente na hidrodinamica ou na mecdnica dos fluidos. Constitui uma parte importante do trabalho dos enge- nheiros civis, sob o nome de hidrdulica, eé deimportancia primordial na engenharia sanitéria. Os problemas de su- primento e de controle da Agua foram enfrentados por todas as civilizagées. A transferéncia de calor tem sido objeto de muitas investigagées tedricas pelos fisicos e mateméticos; teve parte importante na geragao de energia a partir dos com- bustiveis, conforme o desenvolvimento que Ihe foi im- presso pelos engenheiros mecanicos. A dissipacao de calor, no equipamento elétrico, 6 uma limitagao determi- ante da poténcia deste tipo de maquinas. Outras aplica- goes importantes e representativas so a pirometalurgiae © tratamento térmico de materiais de construgao e de ferramentas. Encontram-se, no setor da industria, exemplos da maior parte das operacées unitérias em aplicagées que se situam na provincia de outros campos de aplicagdes. engenheiro quimico deve efetuar muitas operagdes unita- rias sobre materiais cujas propriedades fisicas e quimicas variam amplamente, sob condig6es extremas de tempera- tura e de pressdo. As operagées unitérias usadas para separar as misturas em substdncias mais ou menos puras do Gnicas & engenharia quimica. Os materiais processa- dos podem ser misturas de ocorréncia natural, ou podem ser produtos de reagées quimicas, que virtualmente nao levam nunca a uma substancia pura, INTEGRAGAO DAS OPERAGOES UNITARIAS Os estudos iniciais das operagées unitarias como etapas independentes constituiram parte importante dos fundamentos sobre os quais se desenvolveu o cresci- mento fenomenal da industria quimica. Numa manufatura complicada, as interagées das etapas forcam o enge- heiro a considerar o proceso total, ou o sistema, como uma sé entidade. Simultaneamente, a compreenséo mai completa das inter-relacdes dos principios fundamentais levou ao agrupamento das operagoes de modo a englobé-lasnum modelo, dentro do qual se ajustam auma mesma expresso matematica das agoes, e que possibi- lita generalizacoes valiosas. ‘A apresentacdo tradicional das operagées unitarias tem sido na forma de um pacote, reunindo-se num mesmo conjunto a informagao tedrica e as informagoes praticas Pertinentes a cada operacao. Nos manuais anteriores, cada operagao foi apresentada de forma independente das outras. E raro ficar evidente, nas apresentagdes introdutérias, que diversas operacoes unitérias se su- perponham nas bases e que estejam relacionadas de ma~ neira complicada umas com as outras. As inter-relagoes ficam mais evidentes nas monografias sobre diversas operacées unitérias em virtude da impossibilidade de apresentacao completa da teoria de uma das operacoes ‘sem levar em conta a influéncia das outras. Especifica- mente, a transferéncia de calor num sistema em escoa- mento nao pode ser apresentada, na sua inteireza, sem evar em consideragao a mecénica dos tluidos; a transfe- réncia de massa nao pode ser divorciada da transferéncia de calor e da mecanica dos fluidos. (O reconhecimento mais amplo das semelhangas bé- sicas 6 uma consequéncia do aumento de informagao, Inversamente, 0 reconhecimento e a exploracao das se- methangas contribuiu para a compreensao mais ampla de cada operagao. Parece, nos dias de hoje, que a comparti- mentalizacao da informacéo, mediante cada operagao unitaria, conduz a uma repeticao desnecessaria e a uma perda de tempo e que o estudo dos principios basicos comuns a um grupo de operagées levara a uma com- reensio mais aprofundada de todas elas. Este livro apresenta, num mesmo tépico, as opera- oes que tém as bases semelhantes, adotando nomencla- tura e conceitos generalizados. Esta apresentacao leva, conforme a experiéncia, a uma economia de tempo na aprendizagem e acredita-se que contribua para maior profundidade de compreensao das operagées, quando as inter-relagbes s40 assimiladas. Andlise das operagées unitérias ‘As operagées unitarias podem ser analisadas e agru- padas mediante a adogao de qualquer entre trés métodos. A operagao unitaria pode ser analisada por meio de um modelo fisico simples que reproduz a acao da operagao; ou pode ser analisada pela consideracao do equipamento usado na operacao; ou entéo pode ser investigada me- diante uma expressao matematica inicial que descreve a aco e 6 verificada contra os dados experimentais do proceso. (© modelo fisico estabelecido por meio do estudo cuidadoso do mecanismo fisico fundamental.O modelo é, entao, aplicado a uma situagao real, seja por meio de uma expressdo matemitica, seja por uma descrigdo fisica. Uma vez que 0 modelo é idealizado, séo necessérias al- gumas correcées na sua aplicacdo as operagées reais. Este tipo de abordagem leva a um desenvolvimento da compreensao das semelhangas basicas entre os princi pios de diversas operacées unitarias. © agrupamento poderia também ser feito em termos das operagées realizadas em equipamentos semelhantes, ‘ou em equipamentos onde ocortem funcées semelhan- tes. Para a maioria das operagées, a arte precedeu a com- Preensdo cientifica, e construiram-se e operaram-se equipamentos na base de um conhecimento fundamental lamentavelmente incompleto. Algumas melhorias, e cer- tos refinamentos, apareceram somente em consequéncia daexperiénciae dos préprios equipamentos, conforme se Poderia esperar. O agrupamento na base do equipa- mento, e das suas fungoes, acarreta 0 risco de se perpe- tuarem os enganos do passado. Uma compreensao apro- fundada da operagao basica parece que contribuirs, com mais probabilidade, para melhorar a propria operacao. ‘As operages poderiam, finalmente, ser agrupadas & luz da semethanga das tormulagoes matematicas basicas que as representam. Este método de agrupamento nao é satisfat6rio, diante da malicia das moléculas frente a ma- temética. Muitas vezes 6 impossivel formular, de forma operavel, as condigdes de contorno necessérias @ solu- ao de uma equacao matematica, ndo s6 em virtude de elas serem ndo-lineares, mas também pela dependéncia que as condigées de contorno numa fase t8m frente as modificagées ocorrentes numa fase adjacente. Cadaum dos trés modos de agrupamento poderia ser usado como base para a exposigao. O do modelo fisico da operagao fundamental 6 a abordagem mais satisfatoria e 6 0 usado neste texto. Sempre que possivel, o modelo fisico é descrito de maneira matematica e o desempenho é expresso mediante relagdes mateméticas deduzidas a partir dos principios fundamentais. Esta formulacao ofe- fece a melhor base para a compreensao e 0 refinamento das operagées nas quais a prética esté na frente da teoria. Esta afirmagao é correta apesar de os modelos serem simplificagbes drasticas e de que a formulacdo ma- tematica do comportamento do modelo néo pode ser transposta perteitamente na express4o do comporta- mento de um protétipo, Deve ficar claro que nao ha qualquer critério univer sal que obrigue uma escolha particular do método de anélise e que todos os fatores que podem contribuir para © problema devem ser levados em conta ao se decidir sobre um modo particular. Qualquer agrupamento exige uma escolha parcialmente arbitraria e sempre deixa de lado algumas operacées que se enquadram mal no es- ‘quema proposto. Estas operagées tém que ser estudadas individualmente. Dois modelos fisicos principais Um modelo amplamente aplicavel para as operacées unitarias € 0 de um dispositivo no qual duas correntes, ou duas fases, sao reunidas, entram em equilibrio e depois do separadas e retiradas. Admite-se que as correntes efiuentes estao em equilibrio e este modelo, por isso, 6 denominado estagio de equilibrio. A determinagao das modificagdes das correntes, que devem ocorrer para ser atingido 0 equilibrio, estabelece uma medida do desem- penho terminal do sistema. O equipamento real 6 valori zado exprimindo-se as modificagdes conseguidas como fragdes, ou percentagens, das modificagoes que ocorre- riam num estagio de equilibrio. Num outro modelo possi- vel para a transferéncia de uma propriedade entre duas correntes, imaginamos os portadores da propriedade, es- timamos 08 respectivos nmeros e as taxas de migracao, e chegamos a uma expresso para a taxa de transferéncia entre as duas correntes mantidas em contato continuo. Esta taxa de transferéncia, multiplicada pelo tempo de contato, leva a uma expresso para a quantidade de trans- feréncia que pode ser conseguida. O modelo do estag de equilibrio pode ser expresso matematicamente por uma equacao de diferencas finitas que relaciona as con- centracées de qualquer propriedade na entrada com as concentragées de equilibrio da mesma propriedade nas correntes efluentes. As técnicas graticas, frequente- mente, sdo mais convenientes de usar que uma equacao de diferencas finitas. A expressao matematica para o mo- delo da taxa de transferéncia é uma equagao diferencial que em alguns casos pode ser integrada sob forma fe- chada, mas que mais amide deve ser resolvida em ter- mos de condigées médias. Uma vez que um grande ni mero de operagées de processamento quimico é de op ragées que so realizadas em estagios ou em contato continuo, os dois modelos s4o amplamente aplicéveis & andlise das operagdes unitérias. ‘Amaioria das operacoes unitarias pode ser estudada com qualquer das duas abordagens. Muitas delas sao efetuadas em certas circunstancias num equipamento de Contato continuo, em outras em equipamento de esté- gios. Em algumas operacées, a vantagem de um ou de outro modo de andlise pode ser evidente. Em muitos outros, porém, aescolha é ditada pela disponibilidade dos dados ¢ das constantes necessarios. Os dados de equi brio constituem uma parte dos recursos em estoque dos fisico-quimicos e sao disponiveis para um grande né- mero de substdncias, nas mais variadas condiges. Até uma certa medida, a conveniéncia de andlise esta relacio- nada ao trabalho de investigadores mais antigos, cujos resultados podem ser interpretados de uma forma mais conveniente para um tipo de andlise mas nao para outro, Aescolha de um método de andlise nao restringe, neces- sariamente, a operacao real a um mesmo modelo. Operagées em estagios Consideraremos em primeiro lugar as operagées em que se usa, frequentemente, 0 contato em estagios. O modelo € 0 de um dispositive no qual duas correntes afiuentes interagem até atingir o equilibriono instante em ‘que abandonam o estagio. O modelo é conhecido comoo de estagio de equilibrio e admite-se que nele as duas correntes dos produtos estéo em equilibrio uma com a outra. O tratamento generalizado nao exige uma especifi- cago da propriedade que serd transferida ou da natureza das fases em contato. A andlise pratica esta baseada na fragao da transferéncia realizada no estagio real em com- aracdo com o estagio de equillbrio. A apresentacao sera feita em termos tao gerais quanto possiveis, sem levar em conta a natureza particular das fases num caso espect- fico. © contato em estagios pode ser ilustrado com as correntes de Agua e mercuirio que discutimos anterior- mente. Conforme esta na Fig. 1.1, as correntes de merc rio e de Agua esto em contato continuo e ha uma transfe- réncia continua de calor da corrente quente para a cor- rente fria. Para o contato em estagios o equipamento é modificado conforme se explica a seguir. Se as correntes de mercurio quente e de agua fria, usadas acima como exemplo, forem intimamente misturadas e depois injeta- das num decantador, onde as duas se separam, as corren- tes de saida estardo, praticamente, na mesma tempera- tura. Atemperatura de equilibrio pode ser prevista porum balango de massa e de energia. Supénhamos que se dis- ponha de dois misturadores-decantadores, um dos quais recebe omerctrio quente e ooutroa agua fria. O mercurio que sai do misturador-decantador mais quente passa para (© misturador-decantador mais frio, e a agua saindo do mais frio vai para o mais quente. Os dois misturadores- decantadores realizarao uma transferéncia de calor maior que apenas um deles. Se o nimero de misturadores- decantadores for aumentado paran, é possivel tirar ainda mais energia do merciirio. Neste caso, o mercirio passa~ ria por elesna ordem 1, 2, 3, .... nea gua na ordemn, ....3, 2, 1. A introducdo de estégios adicionais diminui a quan dade de calor transferida por estagio, pois a diferenca potencial em relagao ao equilibrio torna-se menor, mas a transferéncia total aumenta. Ndo se poderia realizar a operagao especifica mencionada desta maneira, mas muitas operagées de transferéncia usam 0 contato em estdgios. O contato em estdgios é uma forma comum de extrair um componente de uma mistura liquida mediante a solubilizagao preferencial deste componente, ou de um grupo de componentes; 6 o que se faz, por exemplo, na remogao dos componentes formadores de lama contidos nos éleos lubrificantes. As operagées em regime cinético ‘As operagées unitarias que envolvem o contato con- tinuo dependem das taxas cinéticas de transferénciae por isso s4o operagées em regime cinético. Atransferéncia de um grande nimero de propriedades de um material —por exemplo, concentragées de carga elétrica, de momento magnético, concentragées térmicas, massicas ou de mo- mento linear — obedece a uma mesma equagao mate- méatica fundamental que exprime a velocidade da transfe- réncia como uma funcao do gradiente de concentracao Es (4 30 a onde T'=concentragéo da propriedadea ser ransterida o= tempo X = distincia medida na direcao do transporte 8 = constante de proporcionalidade caracteristica do sistema Esta equacdo € denominada, frequentemente, de equagéo de difusdo. E uma expressao geral que se reduz a let de Ohm no caso do fluxo elétrico em determinadas condigées. O estudo aprofundado do transporte de carga elétrica e de momento magnético 6 a importante “teoria do campo eletromagnético” dos engenheiros elétricos. Estes dois tendmenos seguem leis bem estabelecidas © envolvem fatores de proporcionalidade relativamente constantes (conforme 8 na equacao anterior). Uma vez que as condigées de contorno habitualmente podem ser estipuladas, é muito frequente que se possam ter solu- es analiticas para os célculos de engenharia. As subs- tancias quimicas sao menos bem comportadas, do ponto de vista matematico, ¢ as "constantes” de proporcionali- dade so raramente constantes. As condigées de con- torno so mais indefiniveis; por isso, 0s engenheiros qui micos raramente podem aplicar solugdes mateméticas rigorosase elegantes a equacao da difusdo. Parachegara uma solugao da equacdo da difusao possivel simplifica- la numa equacdo de diferencas finitas, valida para condi gOes médias, e resolver-se esta equacéo em lugar da equacdo diferencial Nos casos mais simples, bastante raros no processa- mento quimico, a taxa de transporte é constante com 0 tempo e com a posicao no sistema. A forga motriz pode ser aceita como constante e distribuida sobre uma regiao de comprimento fixo e 4rea constante. As propriedades fisicas nesta regido podem ser aceitas como constantes, de modo que 0 fator de proporcionalidade 6 pode ser aceito também como constante. Estas hipéteses séo as simplificagées que se introduzem para chegar & lei de ‘Ohm na forma usualmente apresentada nos cursos intro- dutérios de fisica. A contrapartida desta lei, no transporte quimico, fica forga motriz/unidade de comprimento Taxa de transporte = ‘As substdncias quimicas raramente satistazem a equagdes matematicas bem arrumadas, e 0 equilibrio quimico esta constantemente alterando as formulagées exatas das condig6es de contorno que permitiriam a reso- lugao rigorosa da Eq.1.1. Por isso, devem ser usadas di- versas médias e aproximagoes para que se tenha uma resposta num intervalo de tempo economicamente acei- tavel. As simplificagoes, usualmente, aproximam-se muito mais da Eq.1.2 do que da equacao da difusdo exata, No caso das operagées controladas pela cinética, a anélise tem que se basear na forca motriz que provoca a modificagao, no tempo durante o qual a forga motriz atua na quantidade de material sobre a qual ela atua. A equa- Ao da difuso, mencionada anteriormente, traduz 0 comportamento transiente de um grande némero de pro- Priedades sob a influéncia de uma forga motriz que pro- voca 0 seu respectivo transporte. Na engenharia quimica, ‘massa, o momento linear e a energia térmica sao as tres Propriedades cujo transporte é a questéo central, na maior parte das vezes. Conforme se disse, estas trés pro- priedades — e também outras propriedades com as quais, 08 engenheiros quimicos lidam com menor frequéncia— t&m um comportamento muito geral: todas elas se desio- cam das regides de elevada “concentragao” para as re- ides de baixas “concentrac6es”. A previsdo exata sobre a grandeza da propriedade que fluira de uma regiéo doa- dora (de uma fonte) para uma regiao receptora (um sorve- douro) pode ser feita se forem conhecidas com precisao a forga motriz, a érea da regio do fluxo e a unidade de resisténcia desta regiao (a constante de proporcionali- dade usada na Eq.1.1, portanto). Em toda a investigagao das operacées baseadas nas taxas de transporte, nao se pode sobreestimar a importancia de uma nitida com- preensao do significado da ‘concentracao”. Em todos os casos, a concentragao exprime a quantidade da proprie- dade por unidade de volume da fase que esta sendo pro- cessada. A quantidade transferida pode ser expressa, usualmente, em uma unidade absoluta de medida da grandeza, como, por exemplo, Btu ou libra-mol. Pode também ser expressa como a diminuigéo da concentra- 40 da propriedade numa quantidade conhecida da fase, ‘que tem uma capacidade também conhecidaem relacaoa esta propriedade. Por exemplo, uma quantidade de ener- gia que deixa um sistema, na forma de calor, pode ser expressa em termos do ndmero de Btu ou de calorias de energia. Pode também ser expressa em termos da dimi- nuigéo da temperatura de uma quantidade conhecida da fase. Estas generalizacées ficaréo mais evidentes & me- dida que as diferentes operagées forem analisadas e as grandezas transportadas forem expressas em termos das. varias unidades possiveis. Em virtude de os principios basicos do transporte serem idénticos para o caso das trés propriedades, faremos uma andlise inicial em termos completamente gerais antes de especificar uma proprie- dade particular numa certa operacao. Opera jado no-permanente ‘Aequacao da difuséo, Eq. 11,6 aplicdvel para a trans- feréncia numa direcao apenas e esta transferéncia é uma. fungo do tempo. A transferéncia, no entanto, pode ocor- rerem mais de uma direcao. A resolugao rigorosa exige 0 conhecimento das condigées de contorno e das varidveis que interagem. As técnicas de célculo automatizado fazem com que as solugées sejam bastante acessiveis © adotam, em geral, os métodos baseados em diferencas finitas CONSIDERAGOES GERAIS ‘As exigéncias primérias para aplicar os principios das operagées unitarias so a compreensio dos principios fisicos fundamentais e a tradugao destes principios em expresses matematicas. Na prética da engenharia qui- mica, porém, é preciso sempre incorporar valores numé- ricos e obter uma resposta pratica, ‘© mesmo problema pode ser encontrado por um en- ‘genheiro de projeto, ao detalhar um equipamento, ou por um engenheiro de operagao, ao ensaiar o desempenho de um equipamento instalado, ou por qualquer engenheiro que tente realizar melhorias quantitativas ou qualitativas. Por isso é necessario que se tenham técnicas mateméti cas ou gréficas capazes de permitir a previsao de qual- quer resposta desconhecida para um sistema particular, independentemente de esta incégnita ser uma composi 40, uma quantidade de massa, uma temperatura, ou 0 nimero de estgios necessérios para realizar um certo e determinado enriquecimento, relativo a qualquer pro- priedade do sistema Embora este livro seja dedicado exclusivamente aos principios das operagées unitérias da engenharia qui- mica, deve-se acentuar para o engenheiro quimico em formagao que as operagées unitarias constituem apenas um setor da engenharia quimica. 0 objetivo real da enge- haria quimica é a engenharia do processo mais econd- mico. As operagées unitérias séo técnicas para se chegar aeste proceso, mas nao se pode deixar que fiquem fora de consideragao os outros principios cientificos impor- tantes que devem ser reconhecidos. O methor processo 86 pode ser projetado levando-se em consideracao a quimica, a cinéticae a termodinamica basicas, como reconhecimento adequado das limitagoes impostas pelos materiais de construcao e vocalizadas pelos auxiliares da fabrica. O projeto do equipamento envolverd o trabalho de engenheiros treinados em disci- plinas que nao s4o cobertas, normalmente, pelo enge- heiro quimico. O objetivo final da engenharia & 0 do acumulo do lucro.a partir da operacao. O maior retorno do lucro, depois de todos os custos serem contabilizados, exige a plena exploragéo de todos os fatores técnicos envolvidos, exige a existéncia de relagdes humanas favo- raveis na equipe de producdo, e impée o conhecimento detalnado da quantidade de produto que pode ser ven- dida para que se tenha o maximo lucro possivel. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. Constitution of the American Institute of Chemical Engineers. 2. Little, A.D., Report to the Corporation of M.I.T., as quoted in Silver Anniversary Volume, A.1.Ch.E. (1933), 7.

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