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Instituto Superior Técnico RESISTENCIA DE MATERIAIS 4 Prof. Eduardo Borges Pires 1987 Capitulo 1 Flexao Pura 1.1 Introducgao Na cadeira de Resisténcia de Materiais I introduziu-se a teoria da elasticidade linear e iniciou-se o estudo das pecas lineares com o capitulo relativo & tracgao e com- Presséo. Comecar-se-8 o presente semestre por apresentar a Teoria Técnica relativa & Flexéo de Pecas Lineares. Antes, no entanto, convird fazer algumas revisées e conside- rages iniciais Define-se barra ou pega linear como todo o corpo cujo matezial se confina 4 vizinhanga de uma linha do espaco a que se chama eixo. Segundo o Vocabulério de Teoria das Estruturas trata-se dum corpo que se pode considerar gerado por uma figura plana, de forma e dimensdes nao necessariamente constantes. cujo centro de gravidade ‘se desloca ao longo de uma linha de grande raio de curvatura 4 qual a figura se mantem perpendicular e cujo deslocamento é largamente superior as dimensées da figura. O eixo da peca linear é pois a trajectéria do centro de gravidade da sua figura geradora, denominando-se fibra a trajectéria percorrida por qualquer ponto da figura. Por outro lado a seccao resultante da interseccéo da pega linear por um plano normal ao seu eixo denomina-se seccdo transversal da peca linear. Finalmente a barra diz-se de seccio constante ou varidvel conforme a seccdo se mantiver ou nao invariante ao longo do eixo. Se for de seccdo constante ¢ 0 eixo for rectilineo a barra diz-se prismatica. A pega linear é pois uma estrutura redutivel a um modelo unidimensional. Trata-se duma importante simplificacdo que se vai introduzir nas equagées da teoria da elasticidade e que nos vai permitir reduzir significativamente o ntimero de varidveis em jogo. Recorde-se que ja foram referidas outras simplificagées anteriormente, como F-[, Teo we f,ra Fao Figura. 1 por exemplo, 0 caso dos estados planos de tensio e deformacdo, a homogeneidade ¢ @ isotropia. Todas estas simplificagées tornam os problemas faceis de abordar e resolver. Na Teoria das Pecas Lineares sao os esforcos, isto é. as resultantes e os mo- mentos resultantes, tomados relativamente aos centros de gravidade das seccdes, das tensdes distribuidas em cada seco, que desempenham o papel das tensées (fig. 1). Os deslocamentos sao as componentes dos deslocamentos dos pontos do eixo e as rotacoes das secgdes transversais. Estas grandezas, esforgos e deslocamentos, distribuem-se 20 longo do eixo da barra e nao j4 no volume do corpo, como as tensdes. A Teoria conduz a determinagio desses esforgos em termos dos quais as tensdes podem ser calculadas com base em hipéteses simplificativas sobre a sua distribuicgao em cada seccdo. ‘As componentes de fe M sio tomadas relativamente ao eixo da barra (eixo 3) ¢ as dois eixos perpendiculares (1 e 2) formando com o primeiro um triedro ortogonal directo. Tem-se assim que N= frosaa Y= fenan % = fonen M = fonzan My = - fou nae [@an-on 2) 4 do 8 " 2 Figura 2 Supondo vélido o principio da sobreposicao é suficiente determinar os efeitos de cada uma destas componentes, supostas actuando isoladamente. £ por esta razéo que se estuda separadamente cada um dos esforcos tendo-se iniciado o estudo das pesas lineares pela Traccdo e Compressio seguindo-se-lhe agora 4 Flexio. Designa-se por viga toda 2 pega linear que ¢ utilizada para transmitir momento flector e esforco transverso. Este tipo de elemento estrutural 6 muito importante e é constantemente utilizado em engenharia. Por exemplo, os pisos dos edificios apoiam-se em vigas, as pontes contém vigas entre os seus elementos estruturais, a asa dum av’ pode ser considerada uma viga, ete. 0 As vigas sio classificadas habitualmente em funcéo do modo como se apoiam nas suas extremidades. ‘Tem-se assim as viges simplesmente apoiadas (fig. 24), em consola (fig. 2b) e biencastradas (fig. 2c). Séo obviamente possiveis outras combinacées de condicdes de apoio nas extremidades. Pode, por exemplo, ter-se uma extremidade encastrada e a outra simplesmente apoiada (fig. 2d) ou a viga pode ter varios apoios caso em que se diz continua ou com multiplos véos (fig. 2e). Este primeiro capitulo do curso diz respeito unicamente & chamada flexéo pura ou circular, isto , & situacdo em que a viga esté sujeita unicamente a esforgos de flexéo nao existindo por isso esforgo transverso. Este modo de solicitagao é raro na pratica. O seu interesse decorre do facto de alguns resultados importantes que irdo ser deduzidos do seu estudo serem utilizados nos casos correntes em que o momento flector é varidvel e por consequéncia acompanhado de esforco transverso. E costume designar a flexdo quando acompanhada por esforco transverso por simples. 1.2 Flexao Elastica 1.2.1 Hipéteses, Formulacao de Problemas e Relagées Funda- mentais Vamos comegar por considerar a flexio pura duma barra prismatica feita dum material homogéneo, isotropo e que verifica a lei de Hooke Seja a viga representada na figura 3 sujeita a acgdo de dois bindrios iguais ¢ opostos de valor M e suponhamos que a viga é simétrica relativamente ao plano destes momentos. Para esta viga sujeita a momento fiector constante, a primeira coisa a obser- var é que ela fiecte transformando-se num arco de circunferéncia. Esta constatagio é consequéncia do facto de que qualquer segmento da viga (tal como o segmento entre as secgdes rectas AA’ e BB!) se deforma de igual modo. As fibras longitudinais encurvam todas transformando-se em arcos de circunferéucia paralelos. Nao podem estar nem todas comprimidas nem todas tendidas visto que ndo existe esforco normal. E pois necessdrio que na parte convexa da viga deformada, as fibras alonguem e na parte céncava encurtem, Entre umas e outras existirao fibras. denominadas fibras neutras, cujo comprimento permanecerd inalterado. Considere-se 0 referencial representado na figura 3 tal que o eixo 2 coincide com o eixo de simetria da seccdo sendo 0 eixo 3 coincidente com uma fibra neutra, cuja localizacao é por enquanto indeterminada. O eixo 1 resulta pois da interseccdo de cada secgdo transversal com a chamada superficie neutra, isto é, com o lugar geométrico das fibras neutras e é denominado linha neutra ou eixo neutro da seccdo. Na figura seguinte (fig. 4) considerou-se a deformacio entre duas seccées planas eo EBD 2 do Figura 4 vizinhas Aa! e BB'. Devido & flexio pura as secgées planas AA’ e BB! rodarao uma relativamente a outra. Suponha-se que as seccdes A’ e BB’, planas antes do momento ser aplicado, permanecem planas e normais ao eixo da viga depois da aplicagdo do momento flector. Esta hipétese, enunciada por J. Bernoulli em 1705, é ume das mais liteis e importantes jamais consideradas em Mecanica. No caso da flexao pura. esta hipdtese - as secgées planas permanecem planas e normais ao eixo - é passivel como se verd. de confirmagio isto é, conduz a uma solugdo exacta. Para uma viga prismatica sujeita a outro tipo de carregamento deixa de o ser, constituindo no entanto uma boa aproximacéo. As secgdes 4A’ e BBY rodam passando para as posigdes CC’ e DD! respecti- vamente. Seja d@ 0 angulo entre CC’ e DD’ (originalmente zero). © comprimento da fibra PP" inicialmente d zs, vale apés a deformacao drys2,d0 pelo que cee ETE dOn doy ee ds day Ora d 0/d zs representa a curvatura da viga, isto é, 0 inverso do raio de curvatura R. Logo Z =3 L a= (Lal) Quanto as tensdes vamos considerar a hipétese adicional atribuida a Navier de que ou = on = 02 =0 (1.2) Note-se que permanecendo as seccées normais as fibras longitudinais (figura 3) as distorsdes 43 = a2 = 0. pelo que. pela lei de Hooke, o13 = 32 = 0. Quanto a componente o33 tem-se ts os = Fes = EF (1.3) Recapitulando constatamos que devido as hipéteses: L. secgdes planas permanecem planas e normais as fibras longitudinais 2ou= oy =0 se obteve Zn on = ES ace A distribuicdo destas tensdes esté representada na figura 4. A tensdo numa fibra qualquer é pois proporcional & distancia & linha neutra. O campo de tensées para a viga inteira é uniaxial, isto é, da forma 00 0 : =|00 0 (ta) 00 EB Falta-nos mostrar que € 0 correcto, ou seja. verificar que as equacées de equilibrio, de compatibilidade e as condicées de fronteira sao satisfeitas. Quanto as primeiras so obviamente satisfeitas. Quanto as segundas repare-se que se tem pela lei de Hooke Fe? 2 2 6s = Re + a2 =e = Ro: sas 3 =0 (13) jsto é, 0 campo de deformagées é linear. Ora, as equacées de compatibilidade envolver segundas derivadas das componentes de deformacéo pelo que a verificacéo é imediata. Finalmente quanto s condigées de fronteira na superficie lateral (ns = 0) elas sio F=0. Tem-se de facto oy, = OF aunt O22 + Fas o2 0 = 0121 + o22N2 + F323 a3 = 0 = 013m + O29M2 + Oas73 7

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