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ADIMENSAO TERRITORIAL NAS FORMACGES SOCIAIS LATINOAMERICANAS © apelo A espacialidade, vista como mediagao particularizadora’, adquire respaldo ontolégico no es- tudo da histéria da América Latina, quando acatamos a centralidade dessa dimensio no objetivar-se dos pro- cessos de colonizacéo. Tomemos, pois, a formagéo do sistema colonial moderno ~ ¢ a constrigio da América principalmente — como, antes de mais nada, um proces- 0 interessando a relagdo sociedade/espaco. Disto deri- va que € no apetite territorial de certas sociedades européias que devemos buscar 0 mével primero da ex- pansio maritima cfctvada no "longo! séeulo XVF--E & igualmente na capacidade pléstica de se apropriar de lugares os mais diversos ¢ moldé-los segundo seus inte- resses, que sc pode avaliar o éxito ou fracasso dos varios empreendimentos coloniais. Partimos, assim, da constatacio inicial de que qualquer coldnia ¢ 0 resultado de uma conguista temito- rial. Bla & um espaco novo. na perspectiva do coloniza- doc?, Um expaco ganho da naturera, de ontos pune © de outros Estados. Uma adigao de terras a0 fundo terri- torial sob sua soberania, Por isso a determinagao basica da colbnia é a conquista, entendida aqui como uma re- Jago especifiea entre uma sociedade que se expande © as pessoas, recursos ¢ éreas dos lugares onde se exercita essa expansio. A violéncia ¢ a expropriacao sao assim dados irredutiveis desse processo, variando em grat mas sempre presentes em stias manifestagdes. Coloniza- io implica assim, antes de mais nada, numa hierarquia entre sociedades e entre lugares*, Observamos entéo que @ formacio colonial ex- pressa, j4 em sua génese, uma qualidade de subordina- 40. Ela 6 um resultado de uma acdo que Ihe ¢ externa. Pois a coldnia €, nfo um domfnio abstrato (formal), mas 2 ofetiva instalaca2o do colonizador — a objetivacao da conquista. As novas terras s6 sfo assim designadas pars aqueles que chegam, obviamente nao 0 sao para as po- pulagdes autéctones. Estas também aparecem, 20s ollios do colonizador como verdadeiros atributos do lu- ar, que devem ser submetidos como parte da natureza aser ganha. E a subordinagao primeira necesséria a0 se Antonio Carlos Robert Moraes instalar € exatamente, a dos naturais. E, em fungéo dis- 0, os quadros demogrificos defrontados vao constituir- se no elemento bésico para se entender, forma da instalagao ¢ 0 arranjo gerado em cada caso*. Vale observamos que existem objetivos comuns aos centros difusores, méveis metropolitanos animados pela dindmica da vansicao que, em essencia, perseguem a remyneragéo do capital comercial, isto é, 0 lucro mer- . Todavia, 0 ténus mercantilista se objetiva atra- vés de combinagdes de interesses amarrados em quadros estatais nacionais. Tal arranjo redunda em pro- jetos préprios a cada Estado, aum quadro internacional pensado em termos essencialmente bélicos’. Isso se ex- plicita em diferentes geopoliticas ultramarinas. Estas, por sua vez, exercitam-se em meio a realidades também variadas. Os terrt6rios coloniais so erigides na plasti- cidade dessa interfécie. Os designios geopoliticos me- tropolitanos devem se aplastar com o defrontado, tendo a adaptahilidade um elemento de. efieiéncia, (Profesor Doutor do Departament de Genera Fa culdade o Fs, Lote Ciéaciae HomanstUSP (a) Sob et toma, ver Wanderley Mesias da Costa "0 FS co como Categoria de Andie. @ Ease daca pode ex entonrada en Antonio Caos Rober eres ~ Bans da Formagio Terral do Bra O ers ‘tie colonial brasileiro no "longo" século XVI, 1a. parte "Europa". (@) Um bom conjnto de estudos monoafics acerca asa tem aparece om: Afar Jr tal «Tees Neer Expansion terra ocwpalin dl sel em Amie ilo XVEXIN. (@) A teonagio ds funda que austen nsearfexdo cman dns forages de Miton Sante, sintzadas em Por oma Geogr {tn Nova Eapectiamentevobre ofa em foc, ver dete stor Re later Eapagetempomis no Monde Subdesenolido" © "Exas) © Sosedae: a Formaea esondmio soil com teria © como melo ao" (9) Ver: Antonio Cats Robert Moraes ~ Obi, 38, pace {@ Sobre ge propia oss forma de spt, pode-s com suttarsuestve trabalho de Petr Kneate~ Fewalsm Tarlo Capital Merean. {Wale lebrar a obser de Peny Anderton de que, 0 peri ensiderado, "A ucts nao era odesport dos pipes, re {x dex (Linge o tad Absolut, p33). 2 Se acatamos este raciocinio, de imediato fica dift cil equacionar a realidade colonial numa ética que tra- blhe com a oposicao intemnojexterno. Pois - repetimos ~a coldnia é, em si, a instalagéo do agente externo, sua ternalizagao na nova terta, através da conquista dos lugares e da subordinaco dos antigos ocupantes. As- sim, sem submeter a populagao encontrada nao hd volo- nizagdo, fato que coloca ~ por exemplo — varias feitorias seiscentistas portyguesas na Asia fora da economia mundo capitalista®, O estabelecimento de uma colénia implica necessariamente em dominio da terra — sobera- nia — ¢ esta é impossivel sem algum nivel de submissd0 de seus primitivos habitantes. Nesses termos, a climinacdo c/ou apropriagao das populagSes autéctones niio pode ser avaliada como um aspecto a mais da expansio colonial mercantilista, pois estd em seu centro. O recurso a uma das duas alternati- vas apresentadas repousarg, em muito, na reacio indl- zgena ante a0 conquistador”, Porém, a submissao efetiva se impde a todos os casos, independente do nivel politi co-cultural ou do efetivo demografico de cada socieda- de conquistada, Essa variedade vai influir, isto sim, ¢ muito, na forma de exploragio desenvolvida em cada rincdo. No que tange a vida econdmica entabulada pelo colonizador, fato que ja pressupée certa perenidade da instalagao (logo, um relativo éxito da conquista), dois vetores emergem com relevancia na explicagao dos vi- rios resultados. Um esté nas caracteristicas do povo submetido, outro nos atrativos e riquezas delrontadas. ‘Como visto, a densidade populacional ¢ a organizacéo social da populacao encontrada atuou fortemente nas formas de assentamento europeu no Novo Mundo. Nas zonas de maior concentragao (logo com uma divisio do trabalho mais complexa), 0 conquistador se depara com territérios formados (com hicrarqufas locacionais ¢ cir- cuitos definidos), e a obra colonizadora se traduz ini cialmente, na apropriagéo dessas_ estruturas_pre- existentes!®. Nas éreas de populacéo menos adensada e

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