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TEMA EM DISCUSSAO HISTORIA ORAL: O RELATO E A ANALISE ‘Trés pesquisadores discutem 0 tema em artigos comentados pela Profa. Dra, Maria de Lourdes Ménaco Janotti A discussao teve lugar em Mesa Redonda realizada durante 0 26° Encontro Nacional de Estudos Rurais e Urbanos, em 21 de maio de 1999. Capersos CERU. Serie 2, n. 11, 2000, ANALISE DE ENTREVISTAS EM PESQUISAS COM HISTORIAS DE VIDA Dulce C. A. Whitaker* Resumo: Procedimentos rigorosos devem acompanhar todo o processo de pesquisa que utilize a Histéria Oral como metodologia, desde a transcrigdo até a interpretagao final, para que a andlise possa ser caracterizada como cientifica, O antigo discute os problemas que envolvem o momento da andlise das histérias de vida, que podem ser ‘agrupados em duas grandes questdes: a questo da transcrigdo do discurso do entre- Vistado € a questo das tcorias que iluminamy a andlise ¢interpretagio do material. Em anexo, texto que discute a fidedignidade da transcrigio © 0 cariter etnocéntrico € sociocéntrico em que incorre 0 transeritor levado a corrigir a fala do entrevistado, Palayras-chave: hist6rias de vida, transcriglo, interpretagio Nao sou uma especialista em Hist6ria Oral. Nao sou sequer historiadora, Sou uma socidloga que enveredou pelo estudo de um fendmeno que, acredito, sera considerado pelos historiadores do futuro como de alta relevancia para compreen- sao do Brasil, a0 final deste século, qual seja, a fusao de um rural e de um urbano em desintegractio— um movimento dialético implicando desruralizagao ¢ ruraliza- 40, desurbanizagao e reurbanizacao, enfim, um processo convulsivo marcado pela extrema perversidade do mercado — 0 novo deus, a0 qual todos desejam se integrar. Mas 0 tema deste texto nao € o processo histérico em si, € sim a questo da metodologia mais adequada sua compreensio, metodologia esta que deve ser debatida criticamente. Afinal, a historiografia tradicional, fortemente ligada ao triunfalismo da histéria oficial j4 sofreu todas as eriticas. Nao cabe recordar tais criticas nesse momento, até porque todas as fontes so preciosas (0 documento escrito, por exem- plo, é sempre uma preciosidade quando usado criticamente). Quanto a0 materialismo dialético, que alguns gostariam de descartar, con- tinuard sempre a nos encantar pela elegdncia das grandes linhas hist6ricas que desvela ¢ serd sempre fundamental para compreensao adequada dos processos es- truturais ¢ da luta de classes. No entanto, a Historia que se constréi no chio social ¢ tao rica de meandros, ¢ significados que precisamos compreender um ntimero cada vez maior de fatos para explicar em profundidade processos que envolvem subjetividades em con- fronto dentro do movimento geral da Histéria. + Docente do Programa de Ps-Graduag0 — Sociologia — UNESP. Araraquara, 148 WHITAKER, Dulce C. A. Andlise dle entrevistas em pesquios No basta afirmar que um fendmeno é sintese de miiltiplas determinagées. E preciso compreender cada um dos significados que informam tais determina- Ges. Nao basta falar em mediagées. E preciso, conforme nos lembra Raymond Williams, compreender os diferentes néveis nos quais se dio tais mediagbes. E preciso penetrar numa teia de significados que se apresenta cada vez mais comple- Xa — numa compreensdo, ao mesmo tempo antropoldgica e weberiana dos atores sociais e dos sujeitos que se transformam em atores por imposigao do sistema, mas que levam ao sistema os aportes de sua subjetividade. E agora chegamos finalmente ao ponto que nos interessa neste semindrio. A Hist6ria Oral, como metodologia, tem realmente dado conta dessas exigéncias? Ao analisar, por exemplo, uma hist6ria da vida, est realmente o cientista social captando o sujeito, as determinagdes, as mediagées, 0 processo? Creio que chegou 0 momento de fazermos um balango critico desta meto- dologia, comegando talyez pela questio da andlise. Tomemos a histéria de vida. Na minha experiéncia, é a técnica por exceléncia para estudo dos processos ligados exclusio social, jd que nos permite captar as rupturas que marcam as tortuosas trajet6rias de todos os que se envolvem na luta pela terra. As histérias de vida narradas pelos sujeitos que estamos considerando como novos atores em novos espacos sociais ~ os assentamentos de Reforma Agraria da regio de Araraquara (Whitaker e Fiamengue, 1995) carregam cm si rupturas reveladoras de muitas das contradigSes e mediagdes teorizadas pelo materialismo hist6rico. Nesse sentido, acredito que se pode propor, a partir delas, © encontro entre a hist6ria nova e a totalidade dialética, evitando dessa forma a apresentagao de uma “histéria em migalhas”, ¢ 0 estudo de um cotidiano vazio de significados, dois “crimes” dos quais tém sido acusadas as ciéncias sociais desde que descobri- ram 0 sujeito da Histéria, Defendo, no entanto, 0 argumento de que nem todas as pesquisas atingem esse objetivo, em parte pela forma como sao tratados os dados coletados a partir das metodologias adotadas. Deixarei de lado a questo da coleta das histérias de vida, questiio essa que tem sido amplamente tratada em vasta ¢ excelente bibliografia ' e passarei diretamente ao debate sobre a organizagio desses dados ¢ sua analise, pro- cesso que nem sempre tem merecido os cuidados exigidos pelo método cientifico, ‘Com efeito, foi sempre 0 requisito fundamental de qualquer ciéneia, que se adotem sempre procedimentos rigorosos na organizacao ¢ principalmente na and- lise de qualquer material obtido. No caso da Histéria Oral, tais procedimentos deveriam acompanhar o pro- cesso, desde a transcrigdo até a interpretagao final para caracterizar a andlise como cientifica, 0 que nem sempre ocorre. Apontarei aqui, rapidamente, os principais “crimes” que tenho presenciado contra entrevistas desse tipo para depois sugerir, a partir de um exemplo pratico, 1 Veja-se por exemplo, SIMSON, O. R. M. von (1981) ou Thompson (1993), Canervos CERU. Série 2,.n. 11, 2000. 149 algumas formas de se escapar aos perigos que rodeiam 0 pesquisador, encantado com a aparente facilidade das “novas” metodologias. Nao tenho a pretensao de ter respostas as mais adequadas para os problemas que estou levantando, nem de esgotar assunto de to vastos desdobramentos. ‘Tento apenas colaborar com minha experiéncia de pesquisa para alimentar um debate que se faz necessério e que esta mesa tem o grande mérito de suscitar. Acredito que os problemas que envolvem 0 momento da andlise das hist- rias de vida (¢ também de depoimentos € outros tipos de entrevistas gravadas) podem ser agrupadas em duas grandes questoes: 1 — a questo da transcrigdo do discurso do entrevistado; 2. a questo das teorias que iluminam ou deveriam iluminar a andlise desse mate- rial e conseqiientemente a interpretagao. No que se refere a transcrigdo, j4 demos uma primeira contribuigao, neste mesmo cvento, em 1996, quando apresentamos — meu grupo de pesquisadores ¢ cu jicagaio “A transcrigao da fala do homem rural: fidelidade ou caricatura? (Whitaker et al., 1996). O texto apresentado Aquele momento denunciava o cardter etnocéntrico e sociocéntrico das transcrigdes, nas quais se perpetram erros ortograficos, tentando reproduzir a fonética do discurso obtido, como se tal fosse possivel com alfabeto de 23 signos. Preocupava-nos aquele momento o fato de que, a pretexto de respei- tara fala do “outro”, comete-se verdadeira delinqiiéncia académica, altamente des- valorizada do discurso obtido, o que desvirtua 0 material colhido, numa atitude e procedimento anticientificos. Chamévamos atencao também para 0 fato de como tais preconceitos traves- tidos de ciéncia, afetam especialmente a fala dos sujeitos da zona rural, uma das maiores vitimas do urbanocentrismo das ciéncias em geral ¢ da sociologia em par- ticular. O tema é complexe (ha uma c6pia daquele texto em anexo e no vou aqui repetir todas as suas observagdes e sugestées), Direi apenas que tal distoredo re- pousa principalmente no fato de que muitos pesquisadores se esquecem de que quando as pessoas falam nao esto escrevendo, logo nao podem cometer os erros ortogréficos que Ihe sao atribuidos na transcrigdo. Eo mais curioso é que tais trans- crigdes, supostamente “foné .6 atingem a fala dos sujeitos das camadas so- ciais vulnerdveis. Quando 0 pesquisador reproduz a fala dos seus pares o faz. com a perfeigdo ortogrifica requerida, principal requisito requerido para a andlise. Realmente, como analisar um discurso que mal se consegue ler? Resumin- do aqui o contetido da nossa primeira contribuigao, passo a outros atentados que se cometem contra esse delicado material de pesquisa. Por exemplo, a edigao. Nesse caso, 0 texto transcrito é violentado para ganhar a Iégica ¢ a coeréncia que o pes- quisador gostaria que ele tivesse. 150 WHITAKER, Dulce C, A. Andlise de entrevisias em pesquisa’, Ao resumir e reformular 0 discurso, 0 transcritor realiza entdo uma “corre- a0” ¢ esta sim desrespeita a fala do outro. A sintaxe original (que deveria ser reproduzida) torna-se “correta”, desaparecem as hesitagdes, que expressam em geral rupturas, sofrimentos, diividas, contradiges... Reiteragdes de temas ou palavras, elementos importantissimos para andlise do discurso so eliminados, as énfases se desvanecem, trechos truncados siio desprezados. Enfim, pasteurizado, o discurso perde seu carater dialético, a trama que configura o correr da vida se simplifica ¢ 0 cotidiano do narrador se banaliza. Suas ‘opinides contraditérias ndo podem mais ser exploradas, enquanto as palavras trun- cadas que revelariam sua autocensura jé nao podem ser detectadas. ‘A praticidade c onipoténcia do transcritor pode resumir tanto 0 material que cle se tora inécuo. Hé transcrig6es ainda que climinam as perguntas colocadas pelo entrevistador, Na Ansia de adequar seu trabalho ao padrio de ndo-intervengao que caracteriza algumas historias de vida, alguns pesquisadores suprimem um dos pélos da interlocug30. Conforme nossa experiéncia, o interesse do entrevistador tem que se manifestar, muitas vezes, a partir de perguntas que animam o narrador, criando ¢ recriando a interlocugao, sem a qual a narrativa pode estancar. Quando se confia a tarefa da transcrigdo a leigos, todos os perigos aqui apontados ficam potencializados. Mesmo um estudante de humanas pode ser tio imaturo do ponto de vista cientffico (e nada sabendo sobre os procedimentos ou sobre o projeto em pauta) que produzird uma transcrigo obviamente distorcida. Ima ginem agora alguém de outra drea do conhecimento, que tipo de material produzir Assim, uma histéria de vida, contaminada pela impericia, pode se tornar um conjunto de dados distorcidos, tanto ou mais do que qualquer documento pro- duzido pela ideologia do momento vivido pela dominagao que o produziu. Ou pior ainda: um material indcuo, carente do seu significado original e com pouca infor- magio. Mas o pior mesmo € quando a transcrigao nem acontece. Num procedimen- to totalmente destituido de rigor cientifico, 0 pesquisador uve a gravacio, extrai dela o que confirma suas expectativas em relacdo ao tema e parte diretamente para a redagio final do seu trabalho. Cai ento no grande erro de buscar no discurso apenas os elementos que comprovam sua proposta, sem nenhuma atuagio para evidéncias contrérias, o que invalida conclusdes ou no mfnimo distorce resultados. Aqui preciso recordar alguns ensinamentos de Kar] Popper, embora nao se preci se concordar exatamente com sua l6gica positivista. Para Popper, apoiado em Ronald Fisher, toda experiéncia cientifica deve ser uma “tentativa deliberada de refutar a hip6tese que estd sendo testada” (apud Beveridge, 1981). Ha um evidente exagero nessa imposigo I6gica de Popper, contestado pelo proprio Beveridge que discute bem essa questo, No entanto ela € vlida para momentos cruciais da pesquisa e os cientistas sociais, levados por suas intengdes, nem sempre conseguem “localizar” dados que as contrariam. Refletir um pouco sobre 0 conceito de “hipétese nulal faria bem a qualquer jovem pesquisador, apesar do aparente positivismo da pro- ‘Caneenos CERU. Série 2,11 posta. Afinal, a nova cigncia esta af para mostrar com as teorias da complexidade que um fen6meno nunca ¢ isso ou aquilo. Pelo contrario ele pode ser “isso e aqui- Jo” ao mesmo tempo. Por que entio atribuir a um entrevistado a coeréncia que os fatos no exibem? O segundo conjunto de problemas refere-se &s teorias que devem iluminar as andlises e principalmente as interpretagdes. Dados nao falam por si, o que signi fica que sem teoria nao hé ciéncia, Nao pode haver um “take for granted” do que esté dito numa entrevista. O respeito para com o narrador nao implica que devamos considerar suas afirmagdes como explicagées definitivas sobre © processo que ¢s- tamos investigando. Elas sao representagdes ¢ como tais devem ser respeitadas. Nosso respeito por elas implica também considerd-las dignas de serem analisadas e relacionadas com a totalidade historica & qual pertence o narrador. E interessante ainda que alguns pensam estar “fazendo ciéncia” apenas co- Ihendo historias de vida e publicando o material obtido, sem qualquer analise. claro que tais publicagdes podem ser Gteis a outros pesquisadores que estejam na mesma trilha daquele que publicou seus dados expondo suas fontes. Mas aqui € possivel perguntar: que valor possui uma fonte para quem nao investigou 0 contexto ao qual pertence? Como interpretar dados sem saber em que situagao foram colhidos? Como chegar ao sujeito do discurso se pouco ou nada se sabe em relaco ao seu atual modo de vida, as implicagGes estruturais de sua inte- gragao c/ou lutas, 0 universo da pesquisa, os propésitos do pesquisador que esco- Iheu os dados, etc. Enfim, como realizar a triangulagdo exigida por qualquer andl se de discurso para checagem de resultados? E mais: como iluminar 0 discurso com a teoria, sem ter participado do cam- po teGrico que suscitou a coleta do dado? Deste ponto de vista (do campo teérico), considero indcua a analise de qual- quer depoimento por pessoas que nao tenham participado da sua produgao dentro de um projeto solidamente embasado por teorias compreensivas. Até porque, en- trevistas de qualquer tipo apresentam expressivos momentos a serem aproveitados do ponto de vista teérico, enquanto outros momentos pouco ou nada dizem a res- peito daquilo que estamos investigando. Por exemplo, se o tema em pauta leva em conta o conceito de cultura, uma politica cotidiana aparentemente sem importancia pode ganhar significados ines- perados. Se 0 conceito de trajetéria de Bourdieu est sendo aplicado, fatos aparen- temente insignificantes, num passado remoto, podem ser fundamentais. Se a ques- tio & a luta politica, tais elementos nem sempre sao relevantes. E a partir das teorias adotadas que 0 pesquisador decide quais so esses momentos. E entio sim, os recortes sao feitos (a partir do material fortemente trans- crito). E a partir desses recortes que 0 pesquisador vai tentar compreender os pro- cessos que esta estudando (sem perder de vista 0 conjunto do texto transcrito). O pesquisador nfo produz qualquer alteragao do discurso. Mas obviamente procura 152 WHITAKER, Dulce C.A, Andlise de entrevistas em pesqurisas nele as ligagdes com 0 universo pesquisado que esta sendo observado a partir de outras técnicas e do enfoque te6rico mais adequado, Dessa forma, o real se insinua até nas entrelinhas do discurso: cada pausa, cada tema reiterado, cada palavra com alta freqiiéncia num determinado momento, cada interrupgao ou truncamento, cada idiossincrasia tem um significado para 0 qual o pesquisador precisa ter muita sensibilidade — uma sensibilidade que 6 se aprimora com 0 teoria mais adequada ao tema investigado. E evidente que nfo vou entrar aqui na questao tedrica. E tema para outro artigo. Passarei a um caso concreto, um trecho de uma hist6ria de vida, cuja andlise permite demonstrar como até o ritmo do discurso pode ser revelador de rupturas € processo de reconstrugo cultural. O Sr. Geraldo Ant6nio Pio é um assentado do nticleo IV da Fazenda Monte Alegre (SP), na regido de Araraquara, cujos assentamentos estamos investigando hd mais de 10 anos. E importante registrar logo sua passagem por Guariba— cidade dormitério de cortadores de cana, na qual participou de momentos muito espe os famosos levantes de trabalhadores de cana que assentaram o establishment nos anos 83 ¢ 84. O grupo que veio de Guariba € um grupo de assentados muito especial, cuja marca sociolégica fundamental se refere a esta luta na passagem pelo corte de cana, Iuta esta que compde suas identidades em formagio. Recoriei um irecho altamente significativo de seu discui pressa com énfase o que desejo transmitir agora: 10 porque ele ex- Sr. G.~"Eu nasci em Santa Bérbara do Monte Verde em 1939. Comecei a trabalhar com a idade de seis anos... Trabalhando pouco... assim... na realidade trabalho era esse ~ carpr, og, plantar e colher..” Entrevistadora ~°O sr. plantava 0 qué?” A entrevistadora teve a sensibilidade de perguntar algo extremamente esti- mulante, conforme veremos adiante. Aqui o narrador interrompera sua fala, cis- mando, talvez sobre a ambigilidade do seu trabalho aos seis anos de idade. Pode- mos sugerir essa explicago com certa margem de certeza porque as historias de vida cothidas na zona rural mostram que os adultos de hoje comegaram a trabalhar muito cedo, mas que esse trabalho tinha cardter educativo e muitas vezes ltidico (conforme nos lembra Ariés para 0 campesinato curopeu medieval — Ariés, 1979). Tal sugestio vai se expressar melhor em outro momento da entrevista quan- do o narrador recorda: “O meu brinquedo era trabalhar mesmo,” Conforme se sabe a meméria no é cronolégica & muito menos analitica. Assim os temas se dispersam pela entrevista conforme sfio evocados ou provoca- dos. Dafa necessidade de ter 0 texto todo transcrito A dispos idas ¢ vindas da andlise. para as sucessivas Capresos CERU, Série 2, n. 11, 2000, 155 Mas voltemos ao momento que estamos analisando. O narrador recorda que comegou a trabalhar aos seis anos. Mas reflete em diivida sobre o carater desse trabalho. “Trabalhando pouco” (pausa). Apés essa pausa vem um assim que supde © modo como era feito esse trabalho. Supde que o entrevistador sabe 0 que é 0 trabalho de uma crianga. Nova reticéncia e entio “Na realidade” expressa essa sugesto novamente (a de que todos sabem sobre a questo). A diivida est4 nas entrelinhas. Mas de repente 0 narrador se anima e resolve dizer concretamente 0 que fazia. E ento o discurso flui: “carpir, rogar, plantar, colher”. Apis explicar concretamente 0 que fazia, 0 narrador fica mudo, cismando sobre 0 que disse, conforme jd sugerido, Mas a questo proposta pela entrevistadora é altamente estimuladora, j4 que pede mais concretude sobre um tema que ¢ fundamental para sujeitos sociali- zados na zona rural: o trabalho em sua relagdo com a terra, produzindo alimento. Ea sua resposta vai por A luz. dramaticas rupturas em sua trajet6ria de vida: Sr.G.—“Plantava mitho, arroz,feijao...e depois que apanhei um tamanho eu me casei interei mais uma ano em Minas Gerais, Daf vim pro Parand, No Parana... novamen- te a lavoura, Fomos derrubar mato... enfrentar a terra, 1é? Fomos demubar mat ‘Tocar a mesma vida... Plantar milho, aroz, feijao, girassol, mamona.. Tudo isso nds Jutava... Inerei 23 anos no Parand... Vi que ndo dava, Enfrentei, Vim pra Guariba, Servigo péssimo, n/é? Cortar cana, Desgostei de cortar cana, Achei que melhorava aqui pra essa uma (assentamento), Estou aqui, enfrentando a Reforma Agraria, nao é O trecho recortado acima revela as rupturas sofridas pelo narrador. Ao re- cordar 6 que plantava, sua mem

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