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S © BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA 64 22 Sem. 1986 associaGao dos geografos brasileiros SAO PAULO BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA NUMERO 64 Sao Paulo 2° Sem. 1986 INDICE EDITORIAL ..............- denen ARTIGOS Ronchezel, J.A. — Estado, diviséo social do trabalho e ha- bitagao (State, social labour division and iodging)...... « Rodrigues, A.M. e Seabra, M. — Habitacao e espaco social na cidade de So Paulo (Lodging and social space in Sepals Santos, R.C.B. — As condigées de existéncia de parcelas da populago trabaihadora - Osasco - Sao Paulo (The existency conditions of taborious population parcel - Osas- co ~ Sao Pauio) Damiani, A.L. — Cubatéo: na busca das favelas 0 encontro do “pedo” que permanece (In searching “favelas” the en- counter of “pedo” that remain)... 2... 0 vee e cece eee Kaupatez, R.M.Z. — Situagao habitacionai no Brasil e a uti- lizagao de processos de auto ajuda e ajuda mitua na pro- dugao de moradias (Habitational lodging situation in Brazit and the use of self-assistence and mutuat-assistence pro-\ cess in lodging’s production) .... 01... 0eeeeeeeeee Maricatto, E. — Indtistria da Construgéo — Refiexao sobre © “atraso” tecnolégico (The construction industry - Refie- xion about tecnologic “retard”) .. 6... e040 ee cee eves ANEXOS Instrugées e normas para a elaboragdo de originals (Instruc- tions and norms for the elaboration of originals) ....... . Boletim Paulista de Geografia — Publicagées recentes (Bole- tim Paulista de Geografia - Recent publications)... . « Representantes do Boletim Paulista de Geografia (Pepe. sentatives of the Boletim Paulista de Geografia 19 59 | 105 115 127 131 133 INDUSTRIA DA CONSTRUGAO — REFLEXAO SOBRE 0 “ATRASO TECNOLOGICO"(*) Erminia Maricato Por que a inddstria da construgéo permanece no estégio manufatureiro? Por que é um setor onde a composicao orgnica do capital & genericamente bai- xa? Ou, como preferem Ascher e Lacoste, por que ele € um setor capitalista re- tardatério? Quais s40 0s obstéculos ao processo de acumulagéo de capital ¢ mo- demizagao tecnolégica do setor? Essa questdo, que preocupa atualmente muitos estudiosos, comega a ser examinada de forma mais abrangente muito recentemente, na década de 70. Os marxistas franceses que se detiveram sobre o assunto so praticamente undnimes em situar dois freios para o desenvolvimento capitalista na indtstria da construgdo: a base fundidria da produgdo e 0 longo perfodo de rotagao do capital (). Embora alguns desses autores tendam a dar importancia absoluta ao obst4- culo fundiério, as andlises que nos chegaram as maos sdo, em geral, bastante afins e desprezam um lado da quest4o que é central para 0 seu exame. Trata-se da natureza do processo produtivo, Sem ignorar os argumentos anteriores, pretendemos mostrar que a recor- réncia também ao processo de trabalho, as relagdes de producao na indéstria da construcao, nos leva a um exame mais completo de uma situagao que € na verda- de resultado de efeitos combinados, internos ¢ externos, ao processo produtivo Q). ‘Vamos discorrer sobre essas argumentagdes que versam sobre as causas do atraso na inddstria da construco no m.p.c. Entre elas hd algumas énfases dife- renciadas mas hé também algumas convergéncias, explicagdes que todos aceitam: ‘a atividade construtiva tem um papel secundario na absorgéo dos lucros. A compra e a escolha adequada de terrenos ¢ a gestio do empreendimento so mais van- tajosos do que a imobilizagao de capital em novas técnicas ¢ métodos produtivos”” (Vargas, 1981: 31). “a renda fundidria seria uma transformagao do superlucro da produgio capita~ lista da habitago que se produziria como condigao externa ao processo de trabalho. Estas condig6es si0 monopolizadas pelo proprietério fundifrio © condicionam 0 de- (1) G. Topatoy, F. Ascher e J. Lacoste. Outros autores marxistas franceses que partilham da mesma orienta- (940 ou do posigdes muito proximas sao: 0. Combes, E. Preteceille, A. Lipiotz e C. Pott (@) Dos autores de que temos noticia, os que deram mais atenedo ao processo produtivo s4o 8. Ferro, com ‘ostudos publicados iniclaimente nas revistas Almanaque 2 0 3 (Ed. Brasiliense - SP 1976); N. Vargas ‘com trabaiha inicial sob forma de dissertagdo de mestrado ~ Cope URRJ~ 1980); M, Ball, autor inglés (ver bibliogratia); J. Oseki (mestrado da FAUUSP — 1989, ver bibliogratia). 07 Transcroveros aqui um caphule revisado da tese de Doutoramento: “inddsiria da construcso e poltica habitacional, de Erminia Maricato apresentada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do So Paulo om 1984. As caracterisicas da inddstria da construgdo que levaran-na a ser classiticada co- Imo atrasada tecnologicamente foram explicitadas em capitulo anterior. 116 senvolvimento técnico da produgao se opondo ao desenvolvimento da produtividade e elevando os pregos de mercado” (Pereira, 1982: 118). “...0 problema da ricionalizagéo da construcdo passa a ser secundério frente aos problemas derivados do comportamento das varidveis financeiras! liquidez mone- ria, poupanca, capital de giro e taxas de juros” (Sarli, 1981: 128). “o processo de producio capitalista da habitaedo apresenta caracteristicas tais que a reprodugio das condicdes de acumulacdo encontram dois obsticulos éspecfficos: or um lado, no que se refere ao perfodo de rotogo, por outro, no que se refere dbase indidria da produgio” (Topalov, in Forti, 1979: p. 54). “Com efeito, na medida em que os lucros extraordindrios tendem a ser.transfe~ ridos ao incorporador, a acumulacao do capital empregado na construgio € baixa, 0 que coloca obstculos 4 sua concentragio € 20 aumento de sua composigio orginica” (Ribeiro, 1982: p. 44), 3 Poderfamos alongar bastante esta coluna de citagdes, pois hd praticamente um consenso entre os estudiosos de que o lucro imobilidrio esté acima do lucro médio, que se verifica em outros setores industriais (Topalov, 1979, p. 71; Li- pietz, 1982, p, 23; Ascher ¢ Lacoste, 1972, p. 39; Pereira, 1982, p. 112) e que a apropriacao desse sobrelucro ou superlucro é feita pelos agentes “improdutivos”: incorporador imobiliério; proprietario da terra ¢ capital financeiro. Esses fatores, portanto, determinariam (ou influenciariam) o atraso no processo de trabalho. A terra urbana “A terra &, portanto, condigéo de vida para a forga de trabalho, da mesma maneira que & ‘uma condiggo de produco para o capital.” Harvey, O trabalho, o capital e 0 conflito de classes em torno do ambiente construido nas sociedades capitalistas avancadas. “Assim como o capital pode se apropriar do trabalho, também pode se apropriar da terra, pode fazer com que ela, que nem é produto do trabalho ¢ nem do capital, apareca dominada por este tiltimo, Mas assim como 0 capitalista pre~ cisa pagar um salério para se apropriar da forca de trabalho do trabalhador, tam- bém precisa pagar uma renda para se apropriar da terra”. (Martins, 1981) A propriedade privada da terra aparece como um obsticulo a livre circula- Go do capital, na medida em que cobra um tributo que € um “direito juridico extra-econémico” (Lipietz, 1974), Esse dinheiro € uma parte do capital que é tornada improdutiva, Apesar de anteceder ao capitalismo, a renda da terra no pode ser vista simplesmente como uma heranga feudal. José de Souza Martins (1982), analisan- do as contradigées entre a propriedade privada da terra e o capital na producao agricola, nota que, se a apropriaco da renda da terra no comega com o capital, ela se transforma com ele (Martins, 1982: 163) e que a propriedade privada da terra s6 poderd desaparecer com 0 modo capitalista de produgio. Ela é condigao fundamental para o dominio capitalista da producdo agricola. Assim como os trabalhadores foram separados dos meios de produgdo, cles também sao separa~ dos da terra, na medida mesma da expansdo do capital na agricultura: “A apropriagio capitalista da terra permite justamente que o trabalho que nela se d4, 0 trabalho agricola, se torne subordinado ao capital, A terra assim apropriada opera como s¢ fosse capital, ela se torna equivalente de capital ¢ para o capitalista obe~ dece a critérios que ele basicamente leva em conta em relacio aos outros instrumentos possufdos pelo capital” (Martins, 1982: 162). 17 Se em sua relacéo pré-capitalista a renda da terra era paga como um tri- buto pessoal, agora ela tem o carter social: paga pelo conjunto da sociedade, a partir da riqueza produzida socialmente através de financiamentos, taxas, etc, Mas como jé destacaram Ascher e Lacoste, se a renda absoluta da terra é um freio acumulagao na produgdo agricola, para a edificagdo cla € um obsté- culo muito mais importante, pois cada processo de producdo exige um novo ter- reno (Ascher ¢ Lacoste, 1972: 45). Entre outros, é preciso distinguir os dois aspectos principais ligados A questo fundidria. Um deles € a disponibilidade da terra, “meio de produgio” para a edificacdo, que se encontra sob 0 poder de muitos proprietérios privados (3). O segundo, ligado em parte a este, esté na necessidade de pagamento de um tributo para o uso da terra, apropriada privadamente. Este tributo é tanto maior quanto maior so os beneficios advindos de lo- calizagao desta terra no contexto urbano, ou beneficios advindos ainda da legis- lagdo de uso e ocupagao que pesa sobre ela. Outros fatores iréo pesar na deter- minagéo do tributo (como as caracterfsticas topogrificas ou construtibilidade) mas é, som diivida, a localizagao do terreno, o mais importante (4). Ribeiro (1980) nota que quando uma habitacdo é vendida (¢ isso vale para edificios de uso comercial ou industrial) 6 vendido também um “ticket” de acesso € participagio aos servicos, benfeitorias, equipamentos piiblicos comerciais ¢ in- dustriais): ““O como ser construfdo passa se subordinar & questio do onde ser4 construf- do” (Pereira, 1982: 112). © sobrelucro advindo dos “efeitos viteis da aglomeragdo” ou das “externa- lidades” nao pode ser obtido pelo capital privado isoladamente. Ele € produto de vérios capitais privados e principalmente do investimento do Estado em equipa- mentos coletivos, redes de pavimentagées, obras de paisagismo, etc. (5). A anarquia resultante desse proceso, orientado por interesses diversos, néio favorece aos setores para os quais a cidade deve funcionar como uma mé- quina (principalmente para o capital industrial) e entra em contradico também com a crescente socializagéo do seu consumo. O Estado capitalista langaré mao de instrumentos principalmente a legislacdo urbana, como forma de atenuar os conflitos existentes e também como forma de regular 0 mercado.de terras. A li- gacdo entre os investimentos piiblicos e a valorizacdo da terra coloca o Estado no centro de uma questo politica que terd como contendores principais: 0 capital em geral que tem certas exigéncias em relacdo a infra-estrutura e ao desempenho do espaco construido; o capital imobilidrio, que se apropria da renda e do lucro imobilifrio © tem interesses especfficos sobre o ambiente construido; e a forca de trabalho que quer do espaco construfdo, fundamentalmente o valor de uso (6). A idéia de que a propriedade privada e a renda da terra so os eixos fun- damentais que explicariam o retardamento da indistria da construgao, além dos principais males da urbanizagdo capitalista, é desenvolvida por muitos estudiosos. Talvez, os autores que levaram mais longe a andlise nesse sentido, relacionando a (9) Luiz Cosar de Ribeiro se refere a “iracionalidade" do proprietario que pode no querer transtormar seu bom torra em mercadoria (Ribeiro, 1962: p. 36). 4) Sem entrar mais profundamente na questfe, vamos aceitar a denominapiio de rendu absoluta ao rfouto ‘que & page ao proprietério funcidrio para quo ole ceda 0 monopélio sabre o uso de seu terreno. Renda dr ferencial 6 a renda de sobrelucro proveniente das vantagens de melhores torrenos em relagdo acs piores. Essas rendas provém de melhores localizacSes; maiores tndices de aproveitamenia, vantagens morfolégh a5, otc. (ver Rodrigo, 1979; Lipietz, 1974; Topalov, 1979; Ribeiro, 1960; Cunha e Smolka, 1976). (6) Vor a respeito Lojkine, 1981; Potier, 1975; Folin, 1977; Ribeiro 1982. Ligadas a essa questo esto no- (20¢8 desenvolvidas por alguns desses autores, dos quals nao nos ullizaremos: “Valor de uso social comple 0°, “capital desvalorizado", “capital social tixo”o outras. (6) Chamamos de capital imobilidrio a reunio do capital de promoeéo imobiliéria, do capital da indstria de onsirugso, do capilal de financiamento imobilidrio e também dos proprietérios ae terra que tém interass@ ‘na apropriagSo da renda imobiliéria. Ver a respolto Harvey 1982. 118 questo fundidria ¢ a industria da construgdo sejam Ascher ¢ Lacoste (1972, vols. LWellb. Para cles as rendas diferenciais no constituem obstéculo permanente a acumulagao do capital na edificagdo. A renda absoluta, entretanto, tem um pa- pel fundamental do “bloqueio da acumulagao capitalista na construgio” (Ascher e Lacoste, 1972: 40): “Se com uma méquina mais aperfeigoada, um capitalista da edificago pudesse Produzir dez. vezes mais iméveis, o valor de cada imével nao seria diminuido em pro- porcio que Ihe conviesse. Num outro setor, ele podcria, antes que a consoi conduza o prego ao seu valor, se apropriar de um sobrelucro igual 3 diferanga entre 0 valor e 0s precos de producao. Na edificagio ele ndo pode porque no segundo imével cle se encontra novamente diante do proprietério fundidrio que reconduz sua taxa de Tucro & taxa média”. Dessa forma nao hé nenhuma vantagem em buscar 0 aumento da produti- vidade se 0 sobrelucro fica com 0 proprietério da terra ou com o incorporador imobilidrio (Ascher e Lacoste, 1972: 45). As possibilidades de romper ou contornar o problema, posto dessa manei- Ta, si0: a) a intervencao do Estado por intermédio de mecanismos como o da desa- propriagao, pagando ao proprietério uma renda absoluta cujo peso recaird sobre © conjunto da sociedade através das taxas. (Além da desapropriacdo hé as terras pliblicas, mas ambos expedientes esto ligados as grandes empresas construtoras, ou seja, as empresas de construgao pesada que trabalham fundamentalmente com obras piblicas); b) as mobile homes, ou residéncias produzidas industrialmente, através de um processo que independe do mercado de terras. © volume II do trabalho de Ascher e Lacoste € totalmente dedicado ao estudo das mobile homes nos Estados Unidos, cujo desenvolvimento se acen- tuou enormemente depois de 1960 quando representavam 7% das unidades construfdas. Em 1969, elas representam 23% de casas individuais produzidas. Em 1972 mais de dez milhdes de americanos habitavam em “mobile homes”. A pro- cura, que continuo aumentando segundo os autores, se deve ao prego, (bem me- nor do que a casa tradicional), a falta de alternativas na drea de habitagao social, 4 proximidade ao local de trabalho ou ao estilo de vida (7). Enquanto algumas unidades de producdo podem produzir 3.000 unidades de mobile homes por ano, uma grande empresa construtora constr6i 540 casas individuais ou 640 habitacdes em iméveis coletivos. Menos de 300 indiistrias de mobile homes realizam por volta de 7.000 vendas, perfazendo 1/3 das casas in- dividuais. Mais de 300.000 empresas produziram os outros dois tergos através da produgiio tradicional. importante notar que os produtores das mobile homes sdo industriais e no empreiteiros. Nao dependem de promotores ou de disponibilidade de terre- no. O sistema de “parks”, onde o local de “estacionamento” da casa € alugado, est4 crescendo bastante no EUA. Assim como a garagem nao diz. respeito aos produtores de automéveis, o terreno da casa nao diz. respeito aos produtores de “mobile homes”. Eles produzem para um mercado, ¢ ndo para clientes. A de- manda tem sido maior de que a capacidade de produgao (8). @) As “mobile homes" so construldas basicamente om madeira, apesar de contarem com ossatura metstica © também com 0 emprego de pléstico. Elas 8m forma de um paralelopipedo retangular que msde dosde 10X2,4 m até 18X$ m. Incluem 0 mobilidrio interna e padem custar 6,000 délares, anquanto poucas habit 9028 tradicionais de 70 m custam menos de 15.000 adlares, em 1972. Elas sao transportadas por cam inhes para 0 terreno onde irdo se fixar, definitivamente ou néo. (8) Aiém das movite homes, os autores notam que nos EUA ganham desenvolvimento também as “modular” @ 188 “sectorial houses”, hig O obstéculo renda absoluta no foi removido mas foram liberadas as con- digdes de acumulagao no setor de produgéo de habitagdes, com a concorréncia atuando para a perequacdo da taxa de lucro, Esse estudo, sem dtivida, muito importante, mostra empiricamente até on- de vai o compromisso entre o proceso de retardamento na indiistria da constru- 40 e a propriedade fundiria. O que desejamos observar, entretanto, € que se a Propriedade fundidria privada é necess4ria para 0 processo de extragéo da Fenda, nio é suficiente para explicar o atraso da industria da construgao. Nem as mobile homes obtém independéncia completa em relacio a terra, nem a superagdo desse “obstéculo” pelo Estado (proprietério da terra) nas obras piblicas também se verifica. Nos edificios pablicos, nos quais a renda da terra nio tem o mesmo papel que tem nas residéncias privadas, 0s processos construti- Vos costumam ser mais avangados, porém ndo de modo significativo. Alguns marxistas de linha ortodoxa tendem a ver 0 proprietério da terra como uma figura de fora do capitalismo, um obstdculo ao proceso de acumula- sao. Embora a propriedade privada da terra apresente contradigdes em relagao ao capital, embora ela seja uma mercadoria nao reproduzivel (9), no julgamos correto enxergé-la apenas como uma heranga pré-capitalista. Como jé vimos, a propriedade privada do solo é condico fundamental para o capital dominar a produgao agricola. Podemos dizer, analogamente, que ela é condigao fundamen- tal para que isso também ocorra com a produgao imobilidria, Nao € por outro motivo que se inicia no Brasil hoje uma tentativa do Estado de controle do uso e ocupagdo do solo urbano, sob inspiragao de setores mais modernos do capital imobilidrio. Mas isso é assunto da segunda parte do nosso trabalho. capital financeiro e 0 capital de promogao O segundo grande obstéculo, apontado nas andlises marxistas, & acumula- 40 de capital na edificago, esté no largo perfodo de rotagao do capital na pro- ducéo e circulago da mereadoria im6vel. O longo perfodo de produgao, que exigiria por parte de cada empresa a imobilizago de um grande capital por um largo periodo de tempo, exige o apare- cimento de um capital de circulacao, um financiamento que venha de fora e que abrevie 0 tempo de giro do capital da construgao. Para a mercadoria habitacdo, 0 periodo de circulagio tende a ser muito longo, exigindo um capital de circulagéo para financiar também o consumo. A circulagdo da mercadoria habitagdo pode durar tanto quanto o tempo de vida ff sica do imével (Topalov, 1974), Essa argumentagéo, se vista isoladamente também € questiondvel: se os bens de consumo tém se desenvolvido no sentido de terem sua vida titil encurtada no m.p.c., por que isso nao acontece com a habitagdo? Se todos os outros bens de consumo tém sua produtividade aumentada e seu valor individual diminufdo (0 que acarreta uma diminuigo no valor da forga de trabalho j4 que esses produtos fazem parte de sua cesta de consumos) por que isso ndo acontece com a casa? (Ascher e Lacoste, 1972). E verdade que de alguma forma os materiais de cons- trugio nfo sio mais tio duradouros € a drea da habitagdo tem diminufdo bastante nas Giltimas décadas, porém, esta mercadoria, se comparada com as outras que fazem parte da cesta de consumo dos trabalhadores tem seu custo sempre au- mentado nos paises capitalistas centrais, enquanto que suas caracteristicas fun- damentais no tem passado por mudangas profundas. (Ball, 1978) 9) Sem aprofundar a quesido no gostarfamos de deixar de observar que o valor de uso da terra (urbana principalmente) & modilicado através de obras de instalagto de equipamentos e infra-estrutura. De alguma forma, so moditicados 0 valor de uso @ o prego da marcadoria tara com a aplicagdo de capital e trabalho ‘nela ou nas proximidades. De certo modo a.terra & “produzida” para uso. Concordamos com as idéies de F. Lofévre expostas om Letévre, 1979. * 120 Sabemos que os edificios industriais so geralmente construfdos com es- truturas pré-fabricadas. Ali onde o tempo de construcdo deve ser abreviado a0 maximo, pois o produto é capital fixo e deve comecar a ser imediatamente amor- tizado, o perfodo de produgio foi reduzido. Na habitacao, entretanto, essa rapi- dez dificilmente se generaliza, como acontece com os galpées industriais. Os custos financeiros da casa tendem a ser muito altos: “... na Venezucla, os custos financeiros de construgfo de uma habitagao produ- ida pelo setor privado, superam 25% do preco de venda e os custos financeiros totais (incluindo os juros de crédito a longo prazo) superam 75% do preco global da habita~ gio" (Sarli, 1981: 128). Ball destaca 0 alto valor da casa como uma questo central para pensar 0 problema da habitagao ¢ do processo de trabalho na inddstria da construgao. Ele € a causa da complexa estrutura de realizagao ¢ consumo da habitagio, Na In- glaterra, a realizaco da habitagao se dé através de varias formas de posse que intermediam a produgdo e o consumo da habitagéo, e muitas vezes definem quanto de mais- valia caberd a quem no processo de realizagéo (10). No Brasil, a limitagio do mercado imobilidrio capitalista, 4s camadas da populagdo de rendas mais altas, € causa e consequéncia do alto preco da moradia, permitindo extrair um super lucro proveniente de fatores como: localizagao va~ lorizada, inovagdes ao nivel dos equipamentos, espagos coletivos ou concepcao arquitet6nica, e outros (Ribeiro, 84), A estrutura complexa de produgdo e realizagao da habitagéo acarretou aparecimento de uma figura, considerada por alguns autores central, no proces- 0: 0 incorporador, maestro da operagio de prover iméveis para 0 mercado pri- vado. Ele planeja a agdo desde decidir as caracteristicas do produto, providenciar © terreno, © projeto, a fonte financiadora, a construtora ¢ por vezes, a venda (11). Na produgao imobiliéria para o mercado de altas rendas, © promotor, como coordenador dos agentes separados, se situa em posicdo privilegiada para absor- ¢40 dos lucros, subjugando, como também faria o capital financeiro, a indistria da construgao (12). Mas, se de fato, na produgio para o mercado de alta renda, que poderfa- mos chamar de mercadoria essencialmente capitalista no Brasil, os lucros dos ca- pitais de promogao ¢ financeiros, bem como a remuncragao do proprietério de terra, suplantam os lucros obtidos no processo produtivo strictu sensu, tomar isso como estrutural ou como regra geral para a producao de habitagoes, e prin- cipalmente explicar 0 atraso na construgio civil apenas a partir daf, 6 estreitar um campo de andlise, que € muito mais amplo. Até mesmo porque outras formas de provisdo habitacional podem dispensar o promotor imobilidrio privado e as vezes até mesmo o financiamento, e nem por isso podem ser classificadas como nao ca Pitalistas: promogao piblica, construgdo por encomenda, autoconstrucéo, etc, Aqui como fizemos antes ¢ preciso lembrar que 0 modo de produgio inclui um modo de distribuigai . “Gragas & profunda imbricagdo entre produgio e distribuigao, a produgio deixa de ser encarada como relagio direta entre 0 homem e a natureza, para ser medida pela maneira pela qual o objeto, 0 instrumento e a prOpria forca fisica dos trabalhadores se distribuem entre os membros da sociedade” (Giannoti 1973: 39) Ao invés de pensar a renda da terra ¢ 0 tempo de giro do capital, ou ainda a figura do incorporador como “obstaculos” ao processo de acumulagio de ca- pital na producao imobilidria, o que leva a mesma a “contrariar” algumas carac- (10) As varias formas de posse, resultado em parte de lutas reinvindicatérias dos trabalhadores, contornam ‘a questéo central co alto valor da casa mas tém um papel ideolégico muilo importante. (11) Para viabilizar essa operagao, 0 incorporador tanga mo de um capital, o capital que podemas chamar de promoséo. No & financeiro, pois nfo financla a produpdo, nem é exalamente comercial (12) Ver a respeito Topalov, 1974; D. Combes, 1977; Ribeiro, 1962. Azevedo, 1982. 121 teristicas da producdo geral de mercadorias capitalistas, se trata de pensar, como lembra Giannotti no referido texto, a imbricagdo entre os agentes da produgio, terra, trabalho e capital ¢ as partes distribuidas, renda da terra, salério, lucro ¢ juros. (Giannotti 1973: 37). Financiamento ¢ terra (bem como a promogio) séo os canais de escoa- mento da mais valia dos setores produtivos para os no produtivos e € preciso notar que essa massa de mais valia ndo vem apenas do especffico processo de construgao de habitacdes mas também de outros setores através de taxas, subsf- dios estatais, etc. No Brasil, o FGTS que € recolhido pelo BNH c investido na produgao do ambiente construido, provém também de outros setores produtivos € também nao produtivos. O processo de trabalho Para diminuir 0 preco da habitagdo seria necessério ndo s6 eliminar os agentes improdutivos que lucram com sua producio e realizado, mas também seria necessério revolucionar © processo de trabalho de forma a aumentar sua produtividade. Porém & 0 caso de perguntarmos: se fosse possivel a eliminacao dos agentes improdutivos que participam da inddstria da construcdo, isto néo colocaria em risco alguns dos baluartes do m.p.c., como € 0 caso da propriedade privada, ndo s6 da terra, mas também dos meios de producto? E mais, revolucionar o processo de trabalho na indiistria da construgao néo implicaria em restringir a maior fonte (seguramente a maior fonte urbana) de produgao de mais valia? (13). Nao serd este (a massa de mais-valia) o pano de fundo para explicar o alto valor dos im6veis e o atraso na indiistria da constru- ‘go? Nao serao as formas de propriedade da terra ao mesmo tempo causa ¢ con- sequéncia dessa situacdo, além de um eficiente canal para drenagem dos lucros? NGo sucede o mesmo com 0 capital de circulaga0? Ha uma racionalidade empresarial compromissada com o lucro “por detrés do arcaico, e da irracionalidade presentes no canteiro de obras, na indéstria da construgo” (Vargas, 1983). Nao é apenas como avango do processo de trabalho, através da racionalizagéo ou da maquinaria, que 0 capitalismo se apresenta nos diversos setores da produgao. ‘Assim como se inverte a explicagdo para desqualificagio da mao-de-obra (que nao é causa mas efeito), inverte-se também a explicacéo que relaciona a manutencao do atraso na indistria da construgdo com a existéncia de oferta abundante ¢ barata de mao-de-obra, sobre a qual o processo de trabalho se em- basaria retardando 0 aumento da composigao orgénica do capital. Outros setores capitalistas industriais, em outros momentos hist6ricos, ti- veram essas condigGes, e nem por isso deixaram de adotar a maquinaria, am- pliando até sua capacidade de exploragao através da incorporagéo de mulheres ¢ criangas no processo do trabalho. Combinado a rotatividade, superexploracdo, inseguranga que caracterizam © violento processo de trabalho na construgao civil, hé 0 zelo excessivo do con- trole policial e da seguranga interna ao canteiro de obras. Além dos guardas de seguranca que mantém a ordem a qualquer prego, até com repressio fisica, a hierarquia de mando no canteiro no se baseia apenas no conhecimento da profi- fo. Sobe de posto quem, além de conhecer as tarefas, sabe mandar. (Souza 1978; Grandi 1979) Atentando para os dados reterentes 4 mao-de-obra na construgao para a andlise que Sergio Ferro e Milton Vargas fazem do processo produtivo, (19) Tanto 8. Ferro (1979) como Riboulet (1970) explicam o atraso da indistria da construgfo como sendo ‘estrutural no m.p.c.: comporta-se como um setor que produz reserva de mais valia 0 que é fundamental pa ra contrarrestar a queda tendencial da taxa de lucro. 122 nao podemos deixar de recusar explicagdes para 0 setor, que nao incluam, tam- bém, aspectos internos. O exagero, que se verifica nos baixos saldrios, na exten- sio da jornada de trabalho, nas condig6es de trabalho, nos acidentes, na rotativi- dade, no emprego, (bastante atenuado nos paises desenvolvidos, € obvio), a0 mesmo tempo que se constata também desorganizagéio no proceso de trabalho, desperdicio, e um impressionante atraso tecnolégico, nao nos permitem o engano de que estes seriam fatores marginais: “A dispersio dos canteiros, a pequena concentracao dos capitais, a renda da terra, 0 ‘predominio’ do mercado, etc., sio causas duvidosas ¢ insuficientes para dar conta do que € classificado como “atraso’ (em funcao do que), falta de planejamento (no reino do plano) ou anomalia (de qual lei?). A forma manufatureira de producao do espaco s6 pode ser explicada como uma das manifestagdes localizadas da luta de classes na produgao, manifestacao diversa e necessariamente contradit6ria. E s6 pode ser mo- dificada pelo agucamento da luta de classes generalizada, também, portanto, na produ- ‘cao. Em particular & reserva contra a queda tendencial da taxa de jucro e fonte privile~ giada para a acumulago e reproducao (aumentada) do capital ~ privilégio acentuado Rela eicema mobili poeive pare o capital no str (Cé fino reduido y". (Ferro, 9:4 Esse pardgrafo, extrafdo da anélise que Ferro faz do canteiro de obras (e do papel de instrumento de dominagao, que exerce o desenho de arquitetura no m,p.c.) toca, infelizmente de forma muito sucinta, em aspectos centrais da ques- to que nos ocupa neste capitulo. A andlise do canteiro revela descaradamente a luta de classes. Apenas um ponto de vista parcial, vesgo e comprometido com a dominagdo (que muitas ve- zes se pretende cientifico) desconhece esse fato, que ocupa as reflexées de Ferro, de Vargas, e que fica evidente também, no capitulo 6 deste trabalho. Outras das afirmagées de Ferro, so facilmente constatdveis. A grande mobilidade do capital na construgao civil (particularmente no sub-setor edifica~ gGes), que € investido em méquinas ¢ instalagdes, em proporgd4o muito pequena, d4 a0 capitalista a flexibilidade de investimento em outras reas que possam apresentar maior lucratividade, dependendo da conjuntura econémica. Nao resta diivida ainda que o setor € fonte privilegiada para acumulacéo e reproducao de capital, fato evidenciado nao s6 pelas altas taxas de lucro obtidas, ‘como pelo niimero de capitais que sio remunerados durante 0 processo de pro- dugao e comercializagao de edificios residenciais. Uma afirmaco, entretanto, embora atraente ainda permanece obscura: a de que a construgdo civil é reserva contra a queda tendencial da taxa de lucro. Apoiados em Marx, alguns autores também atribuem a essa causa 0 atraso nas relagdes de producdo no campo. Pelas informacdes que nos chegaram as maos entretanto, essa assertiva ainda carece de aprofundamento e reflexao. Mas ndo & apenas um aspecto da questio que estd merecendo maior refle- xdo e aprofundamento. E toda ela. O debate dos argumentos utilizados para explicar atraso da indistria da construco evidenciam a impossibilidade de extrair conclusées definitivas atual- mente, Nunca é demais repetir que a questao nao € técnica, isto é, existem muitas propostas técnicas construtivas j4 desenvolvidas ¢ nao € tarefa complexa elaborar Tovas propostas adequadas a cada momento ou lugar. Embora os estudos citados tenham contribufdo para iluminar a questo, de algum modo, o enigma ainda persiste. Seu desvendamento passa sem diivida pela propriedade privada da terra, pelo processo de realizado da mercadoria produ- zida pela indiistria da construgao, pela luta surda que se instala no canteiro para a ‘extraco da mais valia extra, ou pela luta menos surda que se instala na cidade em fungdo da distribuicdo de seus beneficios, de melhores localizagées ou de habita- goes propriamente dita. Nao podemos esquecer inclusive a propagandeada (pelos empresérios) fungdo, que tem a indéstria da construgdo, de valvula amortecedora das tens6es 223 sociais resultantes de situagdes de desemprego. Cremos que a anélise deva passar até mesmo pela funcio da habitagéo (principal produto do subsetor edificagdes) nas sociedades (e nas cidades) pés- industriais. Sua relagao com a estrutura de familia, suas grandes dimens6es para permitir 0 repouso, © preparo dos alimentos, o lazer de uma familia, mesmo que reduzido, mesmo com habitos modernos. ‘Além das dimensoes grandes, hd a necessidade que ela resista ao sol, A chuva, ao vento e abrigue do frio. Nenhum produto industrial de consumo priva~ do, indispensavel A sobrevivéncia, tem 0 porte ¢ custa tanto quanto um reduzido apartamento quarto ¢ sala. Nao € apenas nos paises periféricos que 0 problema da habitagao tem se revelado insoldvel. Em pafses capitalistas que apresentam alto nivel de vida da populagéo como Alemanha, Holanda, Franga, etc., a questo do alojamento per- manece ainda como uma das poucas que mobiliza a populacdo para 0 protesto (principalmente estudantes que invadem edificios residenciais). Castells (Ques- tion Urbaine) chama atencdo para a crise permanente, necesséria ao bom desem- penho do mercado imobilidrio no m.p.c.. A nossa contribuicdo, aqui vai no sentido de ressaltar a relagdo capital/tra- balho no canteiro, que apesar de tio importante € também to ignorada, em ge- ral, nos estudos sobre o ambiente construido ¢ sobre a questo urbana. Acredi- tamos que ao evidenciar a luta de classes que acontece concretamente no canteiro de obras, ajudamos a combater a forma ampla e abstrata que ela assume em cer- tos trabalhos tedricos. Trava-se uma guerra no canteiro com mortos, mutilados, esgotados ou, no minimo, explorados. Sdo “construfdas” as maiores fortunas na- cionais: grandes ¢ poderosas empresas construtoras. Intermedidrios também se fartam com lucros polpudos. Isso tem a ver com a politica habitacional. Isso tem a ver com a técnica construtiva utilizada. Isso tem a ver com as condigdes de ha- bitagdo da populagdo. Isso tem a ver com a forma que caracteriza o crescimento das cidades capitalistas, particularmente nos paises periféricos. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ASCHER, F. LACOSTE, J. (1972) ~ Les producteurs du cadre bati. Gre- noble, Université des Sciences Sociales de Grenoble, vol. I, Ie III. AZEVEDO, SERGIO DE e ANDRADE, LUIZ AURELIANO DE GAMA (1982) — Habitacao e Poder. RJ, Zahar. BALL, MICHAEL (1978) - British housing policy and the housebuilding in- “dustry. Capital and class n? 4. Conference of Socialists Economists, Lon- don. (1981) — The development of capitalism in housing provi- sion, International Journal of Urban and Regional Research, London, nov. 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Acrescenta a estes as- pectos 0 processo de trabalho, levando em conta a baixa composicao organica do capital ea extragdo de mais-valia nos canteiros de obras, e a tio propalada fungao da industria da cons- truco civil como vélvula amortecedora das tensGes sociais. ABSTRACT ‘This paper analyses the technologic “delay” in the general context of productive pro- cess. It refers to studies that estimate it as resulting from land private propriety, land rent, and the width period of capital rotation in production and circulation of this good. It adds to these aspects the labour process in appreciating the capital organic low composition, the plusvalue ‘super-extraction and the so bladed civil building industry function as an escape valve for so- cial pressures. 125 RESUME L’article étude le “‘retard” technologique de l'industrie du batiment dans le contexte ‘général du processus productive. Il se rapporte aux études que considérent ces retard comme Gtant originaire de la propriété privée de la terre, de l'obtention de la rente foncire et aussi du large période de rotation du capital dans la production et circulation de la marchandise ““bati- r". Tl ajoute A ces aspects le processus du travail, en considerant la baisse composition or- ‘ganique du capital et I’extraction de la plus~value aux chantiers aussi bien que la dite function de l'industrie du batiment comme valve de fuite des tensions sociales.

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