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COMO FAZER UM RELATÓRIO DE LABORATÓRIO DE

FÍSICA I – FSC 5141


(Prof. Celso Y. Matuo – 2008/2)

Em princípio um relatório deveria possuir: Introdução, Objetivos, Teoria,


Procedimento Experimental, Resultados, Questionário, Conclusões e Bibliografia.
No caso do curso de Laboratório de Física I, exigimos apenas que sejam
apresentados a Tabela de Dados, o Gráfico solicitado e o Questionário respondido. Um
relatório completo como o descrito anteriormente será exigido para os cursos seguintes:
Laboratório de Física II, III, IV e Laboratório de Física Moderna.
Aqui apresentaremos, como devem ser preenchidas corretamente as tabelas de
dados e como apresentar os resultados. Para isso segue abaixo um experimento disponível
no Laboratório Didático, mas que vocês não irão realizar. É um roteiro de experimento
similar ao que vocês irão receber quando forem fazer as experiências programadas no
curso. O roteiro consiste de Objetivos, Teoria Básica, Bibliografia, Procedimento
Experimental e Questionário.
Após o roteiro do experimento, apresentaremos como devem ser feitas as medidas,
como dever ser preenchidas as tabelas e como fazer um gráfico adequado.

INÍCIO DO ROTEIRO
___________________________________________________________________

TENSÃO SUPERFICIAL

1 – OBJETIVOS

- Medir a tensão superficial de um líquido utilizando o método dos capilares.


- Interpretar os dados experimentais coletados, bem como os resultados finais.

2 – TEORIA BÁSICA

As moléculas de um líquido ficam próximas uma das outras devido às forças de


coesão. Estas forças diminuem com a distância, tornando-se desprezíveis para distâncias
superiores a 100 Ǻ (angstron – 1 Ǻ = 10-10 m). Este limite é chamado raio de ação
molecular. Uma molécula de um líquido é atraída pelas suas vizinhas em todas as direções
e a atração sofrida por ela no centro de massa dessa molécula possui resultante nula (Figura
1). Porém, uma molécula que esteja a uma distância inferior a um “raio de ação molecular”
da superfície possui uma força de atração diferente de zero. Para levarmos uma molécula
do líquido desde o interior do mesmo até a superfície é necessário gastar energia. Isto
significa que para aumentarmos a superfície do líquido com a introdução de novas
moléculas nela, devemos realizar trabalho. Dizendo de outra forma, a superfície do líquido
possui uma energia potencial proporcional à sua área. Como resultado das forças de atração
intermoleculares há uma contração do líquido que determina as propriedades da superfície
dos líquidos e que chamamos de TENSÃO SUPERFICIAL.

Figura 1

O trabalho que devemos realizar para aumentar a superfície de um líquido é


proporcional a este acréscimo. Chamamos coeficiente de tensão superficial, σ, a esta
constante de proporcionalidade.

dW = σ. dA (1)

Consideremos a Figura 2. O quadro ABCD é fixo, mas a linha EF pode se deslocar


livremente sobre ele. O quadro ABEF é uma fina película de um líquido qualquer
(membrana). Se quisermos aumentar a área, deslocando EF para a direita, devemos aplicar
uma força F sobre o referido segmento, produzindo um trabalho dW, dado pela equação:

dW = F.dx (2)

Relembrando que a membrana no dito quadro possui duas superfícies, as soma dos
dois segmentos é dada por:

dA = 2.L.dx (3)

Substituindo 2 e 3 na equação 1, obtemos

F.dx = σ.2.L.dx

σ = F.dx / 2Ldx

ou

σ = F / 2L (4)
A E C

F
L
dx

B F D

Figura 2

Quando imergimos um tubo de pequeno diâmetro interno (capilar) em um recipiente


contendo um líquido, constatamos duas possibilidades: há umas ascenção capilar (diz-se
que o líquido “molha” o capilar, Figura 3a ou há uma depressão capilar (o líquido não
“molha” o tubo, Figura 3b).
Estudemos mais detalhadamente o exemplo da Figura 3a. Pelo que estudamos
anteriormente, na superfície do líquido temos uma força resultante voltada para cima
diferente de zero dada por:

F = 2π rσ

Consideremos que o volume de líquido no capilar seja simplesmente o volume de


um cilindro de raio r e altura h; então se µ é a massa específica do líquido, o peso da coluna
de líquido será:

P = µVg = µ πr2hg

Para que esta altura de líquido esteja em equilíbrio é necessário que as duas forças
sejam iguais (Lei de Newton),

2 πrσ = µr2 πhg

µrhg
σ= (5)
2

Este método traz a vantagem de podermos medir a variação do coeficiente de tensão


superficial com a temperatura o que o método do anel não permite pois no método do anel
o líquido deve estar em repouso absoluto.
A equação 5 também é conhecida como Lei de Jurin, cujo enunciado diz o seguinte:
“A altura de ascensão de um líquido em um tubo cilíndrico varia na razão inversa do raio
do tubo”.
D = 2r

(a) (b)

Figura 3

3 – BIBLIOGRAFIA

- Sears, F. W., Zemansky, M. W & Young, H. D. – Física 2 – Mecânica dos Fluidos, Calor,
Movimento Ondulatório.

- Sears, et all – Física: Mecânica – Hidrodinâmica. Vol 1.

4 – PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

1. Você recebeu um conjunto de cinco (5) capilares. Classifique-os em ordem


crescente de diâmetro, anotando-os na tabela. O capilar de menor diâmetro será
utilizado na primeira medida.
2. Introduza, verticalmente, o capilar no recipiente contendo líquido à temperatura
ambiente (certifique-se que o capilar está limpo e seco antes de introduzi-lo no
recipiente).
3. Meça com um paquímetro a altura (h) da coluna de líquido no capilar, anotando-a
na Tabela.
4. Retire o capilar do interior do recipiente, secando-o por dentro.

IMPORTANTE: Não sopre através do capilar para evitar sujá-lo, o que prejudicará suas
medidas.

5. Repita os procedimentos 2, 3 e 4 para os outros capilares.


6. Anote o nome do líquido utilizado e sua temperatura na Tabela.
7. Complete a Tabela, calculando o raio (r) de cada capilar, o inverso deste (1/r) e a
massa específica (µ) do líquido utilizado.
8. Linearize a equação 5. A partir da equação linearizada e dos dados da Tabela,
calcule a equação da melhor reta que represente os pontos experimentais.
Represente-os graficamente, junto com a melhor reta. Apresente os cálculos no
verso do gráfico.

5 – QUESTIONÁRIO

1. A partir do valor obtido para o parâmetro angular da melhor reta, calcule o


coeficiente de tensão superficial (σ) do líquido utilizado. Calcule o erro percentual
para o valor obtido.
2. Quais as principais causas de erro nesta experiência? Dê sugestões de como evitá-
los.
3. Escolha um dos capilares e faça medidas da altura do líquido no capilar para quatro
diferentes temperaturas. Descreva o que acontece com a tensão superficial do
líquido.

________________________________________________________________________
FINAL DO ROTEIRO

MEDIDAS E PREENCHIMENTO DA TABELA:

Ordenando os capilares em ordem crescente dos capilares fornecidos, obtivemos os


seguintes valores:

CAPILAR 1 2 3 4 5
D (cm) 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100
h (cm)
r (cm)
1/r (cm-1)

Líquido
T (o C)
µ (g/cm3)

Neste caso os capilares já foram fornecidos com os respectivos valores. Então os


valores devem ser colocados na tabela sem o erro da medida.
Ao inserirmos um a um os capilares no líquido, verificamos a ascensão do líquido
em cada um deles. Podemos medir a altura h utilizando um paquímetro. Nesta situação
poder ser utilizada a haste do paquímetro usualmente empregada para medir profundidades.
Neste experiência posicionamos a haste do paquímetro paralelamente ao capilar e medimos
a altura atingida do líquido, desde a superfície do líquido no recipiente (e não no fundo do
recipiente) até o menisco do líquido dentro do capilar.
Lembrando que o paquímetro utilizado em nosso Laboratório Didático é um
instrumento não analógico e o seu erro é a menor divisão de escala, que no caso é 0,05 mm.
Sendo assim em todas as medidas feitas com o paquímetro, o algarismo duvidoso deve ser
ou 0 ou 5.
Para evitarmos erros, fazemos as medidas de h com a escala do paquímetro (mm) e
depois fazemos a conversão para preenchermos a tabela de dados. Exemplo: A primeira
medida utilizando o capilar de diâmetro D = 0,020 cm, apresentou h = (148,00 ± 0,05)
mm. Para converter para centímetros, dividimos, tanto a medida como o erro por 10,
resultando: h = (14,800 ± 0,005) cm.
Utilizando o procedimento experimental para todos os outros capilares, obtemos a
seguinte tabela preenchida, com os valores de h, a temperatura T medida e o valor da massa
específica tabelada para a temperatura em questão:

CAPILAR 1 2 3 4 5
D (cm) 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100
h (cm) 14,880 ± 7,440 ± 4,960 ± 3,720 ± 2,980 ±
0,005 0,005 0,005 0,005 0,005
r (cm)
1/r (cm-1)

Líquido H 2O
T (oC) 22,0 ± 0,5
µ (g/cm3) 0,997801

O próximo passo é preencher totalmente a Tabela fazendo os cálculos necessários.


Lembrando que se o valor de D fosse fornecido com o seu respectivo erro, os valores de r e
1/r poderiam ser dados com os seus respectivos erros calculados (propagação de erros).
Mas como os valores de D foram fornecidos sem o seu erro, devemos preencher a Tabela
respeitando o número de algarismos significativos adequados. Exemplo: D = 0,020 cm,
possui 2 algarismos significativos, e como r = D/2, o resultado deve ser escrito com 2
algarismos significativos: r = 0,010 cm. Da mesma forma 1/r = 100 cm-1 deveria ser
escrito com apenas 2 algarismos significativos. Mas vamos manter este número escrito
desta forma (com três algarismos), mas indicando que este valor possui apenas 2 algarismos
significativos: 100. Fazendo desta forma, preenche-se a Tabela:

CAPILAR 1 2 3 4 5
D (cm) 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100
h (cm) 14,880 ± 7,440 ± 4,960 ± 3,720 ± 2,980 ±
0,005 0,005 0,005 0,005 0,005
r (cm) 0,010 0,020 0,030 0,040 0,0500
1/r (cm-1) 100 50 33,33 25 20,0

Líquido H 2O
T (o C) 22,0 ± 0,5
µ (g/cm3) 0,997801
LINEARIZAÇÃO:

Agora com a Tabela totalmente preenchida, devemos linearizar a equação (5),


identificando as variáveis dependente e independente, e os parâmetros angular e linear.
Note que a medidas de h foram feitas a partir de um valor determinado do diâmetro
D do capilar. Portanto a altura h depende do valor do raio do capilar r.
Assim: h é a variável dependente e r é a variável independente.

Linearizando a equação, obtemos:

Y=h
A = 0 (teoricamente)
B = (2σ/µg)
X = 1/r

Para obtermos um gráfico linearizado, devemos fazer um gráfico com os valores de


h e com de 1/r, que no caso, já foram calculados para preencher a Tabela.

GRÁFICO:

20,000

18,000

16,000

14,000

12,000
h (cm)

10,000

8,000

6,000

4,000

2,000

0,000
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
-1
1/r (cm )
Para fazer o gráfico, as escalas dever ser escritas com a mesma precisão (número de
casas decimais) que os valores da Tabela. As escalas utilizadas para fazer o gráfico devem
ser múltiplas de 1, 2 ou 5.
As coordenadas dos pontos experimentais NÃO devem ser escritas na escala.
A reta traçada (única) no gráfico é a melhor reta calculada pelo método do mínimos
quadrados (MMQ), cujos resultados são dados abaixo. Quando é solicitada a melhor reta,
deve-se traçar apenas a obtida pelo MMQ, e não aquela traçada “a olho”.

ΣX = 228,333
(ΣX)2 = 52135,95889
ΣX2 = 14636,08889
ΣY = 33,98
ΣXY = 2177,93168

A = 0,00193048952
B = 0,148775461

Quais são as unidades e com quantos algarismos significativos devem ser escritos os
parâmetros A e B?
A possui a mesma unidade e a mesma precisão (número de casas decimais) que os
valores de Y, ou seja, possui três casas decimais e a unidade é cm.
A unidade de B é obtida dividindo-se a unidade de Y, que no caso é cm, pela
unidade de X, que é cm-1, resultando cm2. Como em uma divisão, o número de algarismos
significativos é igual ao número de algarismos significativos da parcela mais pobre em
significativos, o resultado deve ser escrito com 2 algarismos significativos. Portanto:
A = 0,002 cm
B = 0,15 cm2

Com os valores de B, µ e g (aceleração da gravidade local = 979,15 cm/s2), podemos


determinar a tensão superficial σ da água destilada utilizada no experimento:


B=
µg

Bµg
σ=
2
σ=
(0,15)(0,997801)(979,15)
2

σ = 73,27 g/s2

Como a tensão superficial deve ser escrita com dois algarismos significativos, pois o
valor de B é a parcela mais pobre em algarismos significativos, σ deve ser finalmente
escrito como:

σ = 73 g/s2
Comparando com o valor tabela a 20 oC que é 72,75 dinas/cm, obtemos o seguinte
erro percentual:

73 − 72,75
E% = × 100
72,75

E% = 0,34%

Observação: as unidades g/s2 e dinas/cm são unidades equivalentes. Verifique isso!

Aqui neste exemplo de relatório não são respondidas as questões 2 e 3. Isso ficaria
por conta de vocês.

Então, resumindo temos:

• Ao preencher as tabelas, todas as MEDIDAS REALIZADAS, devem ser


escritas com os respectivos erros de escala dos instrumentos utilizados;
• Medidas indiretas, não necessitam apresentar erros de medidas, mas devem
ser escritas com o NÚMERO ADEQUADO DE ALGARISMOS
SIGNIFICATIVOS;
• Os gráficos devem ser confeccionados com as escalas adequadas (múltiplas
de 1, 2 e 5). As escalas devem representar a precisão das medidas realizadas
(indicadas pelo número de casas decimais das medidas). Enfim, o gráfico
deve ser construído de acordo com as informações fornecidas nas aulas de
Gráficos.
• Os cálculos dos parâmetros angular e linear da melhor reta, devem ser
fornecidos com as respectivas unidades e número adequado de algarismos
significativos. As somatórias utilizadas para o cálculo da melhor reta
também devem ser apresentados junto com os valores de A e B.

APÊNDICE:

Neste relatório não foi solicitado o cálculo do erro na tensão superficial, mas
poderíamos calculá-lo através de dois modos:

1o – Poderíamos escolher um ponto da melhor reta, com os respectivos erros da ordenada e


da abcissa, e fazer a propagação de erros. Poderíamos escolher: 1/r = 50 cm-1, que equivale
a r = 0,020 cm, e obter o valor de h, que no caso é igual a 7,440 cm. Assim, temos:

∂σ ∂σ ∂σ ∂σ
∆σ = ∆µ + ∆r + ∆h + ∆g
∂µ ∂r ∂h ∂g
No caso deste experimento, os valores da massa específica µ, do raio do capilar r, e
a aceleração da gravidade local g, foram dados sem os respectivos erros, portanto só nos
resta fazer a derivada parcial em relação à variável h:

∆σ =
∂σ
∆h =
µrg
∆g =
(0,997801)(0,020)(979,15) = 0,048849842
∂h 2 2

Escrevendo o resultado com apenas 1 algarismo significativo, obtemos:

σ = ± 0,05 g/s2

Finalmente, escrevemos:

σ = (72,67 ± 0,05) g/s2

Sendo que o valor da tensão superficial foi obtido sem fazer o arredondamento no
valor do coeficiente angular, obtido pelo método dos mínimos quadrados.

2o – Poderíamos calcular o erro na tensão superficial através do erro do coeficiente angular,


e fazendo o cálculo da propagação de erros. Neste caso, para obtermos os erros nos
coeficientes angular e linear, deveríamos utilizar as expressões fornecidas no Apêndice 4,
do livro Introdução ao Laboratório de Física (referência principal do Curso de Laboratório
de Física I), ou através de um programas de computador disponíveis no Laboratório
Didático, tais como Regressa e Memq. Geralmente as calculadoras científicas mais simples
que fazem regressão linear, não fornecem os erros no coeficientes angular e linear. Abaixo
seguem os valores de A e B com os respectivos erros, obtidos pelo programa Memq:

A = 0,0019304895 ± 0,0015368623

B = 0,148775461 ± 0,0000284058

Escrevendo os erros com apenas 1 algarismo significativo e fazendo os


arredondamentos necessários, obtemos:

A = (0,002 ± 0,002) cm

B = (0,14878 ± 0,00003) cm2

Como σ = (Bµg)/2, podemos obter o erro em σ pelo cálculo da propagação de


erros:

∂σ ∂σ ∂σ
∆σ = ∆B + ∆µ + ∆g
∂B ∂µ ∂g
Novamente, como os valores da massa específica e da aceleração da gravidade local
foram fornecidos sem erro, basta fazer a derivada parcial em relação ao coeficiente angular
B:

∆σ =
∂σ
∆B =
µg
∆B =
(0,997801)(979,15) (0,00003) = 0,014654952
∂B 2 2

Escrevendo o erro arredondado com apenas 1 algarismo significativos, temos o


seguinte resultado final:

σ = (72,67 ± 0,01) g/s2

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