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ste tao aguardado livro descreve, com o auxilio de varios exemplos de casos, 0 conceito ¢ o uso da mais recente, ¢ talvez mais significativa, contribuigao de Rajan Sanka- ran, Os sete niveis de experiéncin, que permite que o ho- meopata saiba, em relagao a cada caso, por onde comegar ¢ por onde seguir. Esse modo de trabalhar fornece um caminho definitivo para a toma do caso, um meio pelo qual se observam ¢ se ut St OM Celso nS eae OEE KODee OM Ore lane Caosnneenmcacente ht maos € os movimentos do corpo), além de um modo de combi- nar 0 nivel do paciente com a dinamizagao necessaria lomontae Con Outro componente essencial desse sistema esta relacionado a en- trar € permanecer em sintonia com as sensagdes do paciente. Ha certa energia em determinada sensagio ou em sensagdes relaciona- CODES LUGO Dra LnCST oon ReanCeecrete COMCCC eT eo eCeCcn ome TTC Cer tT cnorme significado, O doutor Sankaran nomeou-as de sensacdes Vitais, que ndo sio meramente os sintomas fisicos ov as on elealee mas sim as sensagdes comuns que conectam a mente ¢ o corpo. De fato, o nivel vital € mais profundo que a mente ou o (eee esta no ponto central do estado de adoecimento, SCTE TU TCO COBO aor CU er Maye (elas eR Com NTT Tenome [ect modo, levam-nos diretamente a fonte do remédio propriamente dito. Vitais Ds O sistema do doutor Sankaran incorpora a classificagao dos mias- mas ¢ dos reinos (vegetal, animal, mineral, nosédio, etc.), bem como os “niveis”, em um modo BUOYED een TCO) LCS ere Lo CME ROMEO SRC (ec tare re Cech oes CON ucccl moo teen ome cat] salto quantico na compreensio da doenga. Os resultados mos- tram um aumento consideravel de prescrigdes bem-sucedidas CRM CenCodRs (Om Ue MeO TECeCMe Ton Ce ecMms NSTC TeOMe etn ete da nao muito bem experimentados, ¢ outros que ainda nao sio bem conhecidos. Em muitos outros casos, 0 homeopata con- segue ser capaz de utilizar antigos remédios sob uma 6tica com pletamente nova ¢ com uma compreensio muito mais profunda. 978-85-86625-44.2 ih Ii dreasse BUM RAM@N TOT x = < ee Z = a RAJAN SANKARAN A SENSACAO EM HOMEOPATIA Editora Organon Editora Organon Copyright Editore Organon © 2010. Todos os direitos reservados Nenhuma parte deste fvra pode ser utiizads ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, sea mecénica, eletrénico, foldcopes ou gravagdo, nem apropriada ou estacata em sistema de banco de dados sem a expressa autonagao do Editor Amparo legal: Le! 2.6 10/98; Incisas AXVIE @ AAV do artigo 5° da Consttuicdo Federale artigos 184 e 185 do Cédigo Ponal Brasileira Depdsito Legal - Biblioteca Nacional ” f B ‘ = Editor: Ariovaldo Ribeiro Filho Editora Oganen Caixa Postal 12.947 CEP 04010.970 Sao Paulo - SP Tel.: (11) 5084-9397 www.editoraorganon.com br Traducao: Maria Inés Garbino Rodrigues Revise técnica: Alessandra J. Gelman Ruiz Diagramagao: Ricardo Serraino Capa e projeto grafico: Tami Arita Fugimoto aralogagto na Pubicacao (IP) ca do Livro, SP. Bras) Sankaran, Rajan. ‘Asensacao em homeopatia /Rajan Sankaran [tradugdo de Maria Inés Gatbne Rodrigues] / $80 Paulo: Editora Organon 2010. ISBN 978-85-86625- 442 Titulo original: The Sensation in Homoeopathy, \-Homeopatia 2. Homeopatia -Doutrina Tule cou. 615532 Indiges para catsiogo sistemitico: 1. Homeopatia: Doutrina e prética:Ciéncias médicas 6155 2. Homeopatia: Douttina eprética : Ciencias médicas W530 CONTEUDO Agradecimentos......0 6-6... Nota ao Jeitor. 0.02.00 0 2. Introdusao . PARTE | O espirito do Homeopatia . Casos ilustrotivos. PARTE Il A sensagao vital... . . beeen eee Cosos ilustrativos . . . PARTE III Sesdo 1 Capitulo 5 - Percepgies mais profundos Capitulo 6 - Uma introduéo aos niveis Copitulo 7 - Um caso da pratico . Capitula 8 - Resumo dos conceitos............ Copitulo 9 — Novos percepedes sobre soide e doenga. . . 265 . 289 Copitulo 10 - Miasmas . . Capitulo 11 ~ Sensacé0 vitol e o$ reinos Segao2 Capitulo 12 - A tomo do caso . ee Capitulo 13 - A sensagéo em Homeopatia ......... Capitula 14 - O mundo do absurdo ... « {o mundo da origem) Capitulo 15 - Acompanhamento de pacientes . Capitulo 16 - Situagdes ogudas.. 2.2... Capitulo 17 - Cosos clinicos com criangas .. . . Capitulo 18 - Esclorecendo divides... .... bees Capitulo 19 - Conclusdo.. 00ers 217 229 224) -.251 253 ..315 -421 » S17 . 589 659 ..671 679 . 687 Apéndices O espectro miasmatico ..............- Um resumo dos miasmas . Um grafico des miasmas . Os miasmas de Dr. Sankaran (ilustrados pele Dr. Andreas Holling) Tabela das sensasdes (familias dos vegetais) Tabela dos miasmas e dos remédios (familias das vegetais) Diagrama do precesse da toma do caso. ..... indice dos remédios. 699 700 702 .703 . 708 715 716 717 ASENSAGAO EM HOMEOrATIA Conto taoista O duque Mu do Chin disse a Po Lo: “Vocé estd agora avangado em anos. Ha algum membro de sua familia que eu possa contratar para procurar cavalos em seu lugar?”. Po Lo respondeu: “Um bom cavato pode ser escolhido por sua compleigéo e por seu aspecto. Mas 0 cavalo excelente — aquele que nao levanta poeira e ndo deixa rastros—é algo evanescente ¢ fugaz; elusivo como ar. Os talentos de meus filhos esto em um plano inferior de modo geral; eles podem reconhecer um bor cavalo quando encontram um, mas ndo conseguem reconhecer um cavalo excelente. Eu tenho um amigo, entretanto, Chiu-fang Kao, um vendedor de carvito e vegetats, que em assuntos rélativos a cavalos no é de modo algum inferior a mim. Por favor, veja-o”. O duque Mu assim fer, € logo depois o enviou com a tarefa de buscar um corcel. Trés meses depois, o homem retornou com a noticia de haver encontrado um cavalo. “O animal estd agora em Shach’iu”, disse. “Que tipo de cavalo é ele?”, perguntou o duque. “Ab, uma égua castanha’, respondeu. Entretanto, a pessoa incumbida de buscar o ani- mal encontrou, na verdade, um garanhao preto como carvao! Muito contrariado, 0 duque mandou chamar Po Lo. “Aguele amigo seu”, disse ele, “a quem paguei para procurar um cavalo, fez uma grande confusio. Ele nao consegue distinguir nem mesmo 4 cor ou 0 sexo de um animal! Como pode entender alguma coisa sobre cavalos?” Po Lo suspirou com satisfagao. “Ele realmente chegou a esse ponto?” gritou. “Ah, entéo, ele vale dex mil vezes mais que en. Nao hd comparago entre nds. O que Kao mantém em mente é 0 mecanismo espiritual, Assegurando-se do que é essencial, ele se esquece dos minimos detalhes; atento as qualidades internas, ele nao vé 0 que é externo. Ele vé 0 que quer ver, ¢ nao 0 que nao quer ver. Ele observa as coisas que tem de observar e negligencia aquelas que ndo precisam ser observadas. Kao é um juiz de cavalos tao bom gue estd nele julgar algo melhor que cavalos’, Quando o animal finalmente chegou, acabou se mostrando, de fato, que era excelente. RAJAN SANKARAN, A SENSACAO EM HOMEOPATIA PREFACIO Ha uma piada de que gosto m P:"Por quanta tempo um médico deve clinicar? R: Até acerlar.” A chave para se obter resulrados consistentes ¢ a compreensio mais profunda da doenga e da cura, assim como do desenvolvimento dos métodos de toma e da anilise do caso que reflitam essa compreensio mais profunda, Em minha propria pratica, percebi que quanto mais profundo 0 nivel alcangado de um determinado caso, melhores eram as chances de sucesso. Minhas primeiras obras, a saber, The Spirit of Homoeopathy, The Substance of Homoeopathy ¢ An Insight into Plants representam um passo no aprofundamento de minha compreensio da Homeopatia. Os tiltimos quatro anos testemunharam uma mudanga importante, e este livro regisrra essa mudanga e o método que surgiu a partic de entao. Doenga é um estado de ser que se expressa como um estado mental, com sinto- mas fisicos. O estado mental ¢, amidde, vivenciado como estresse, que nao surge a partir das realidades externas (embora parega ser assim), mas da maneira indivi- dual com que cada um de nés percebe essas circunstdncias externas. A verdade ¢ que a realidade externa nao €a “causa” da maioria das rensées e dos conflitos que ocorrem em nossa vida. Se considerarmos os extremos da vida ou observarmos as coisas mais dificeis da realidade externa, observaremos que, nesses momentos, caramenre ha al- gum conflito dentro de ads. Na verdade, nessas situagdes parece que a pes- soa sabe quais s4o os fatos e também sabe exacamenre o que deve ser feito. (Sabe-se muito bem que a incidéncia de suicidios e de doengas mentais cai durante a guerra.) Por exemplo, se a casa de uma pessoa estd pegando fogo, nao existe quase nenhum conflito nessa circunstancia. A pessoa sabe 0 que é o melhor a ser feito e faz aqui- lo. Pode-se dizer que h4 certa unidade e harmonia internamente. E como se, nes- sas circunstancias, uma voz interna tinica dissesse qual a a¢ao a set tomada. Nesses momentos, raramente hd algum tipo de conflito interno ou inquietagao. Vamos considerar outro exemplo: se alguém esté sendo perseguido por um animal sel- vagem, nao hé duas mentes dizendo o que fazer. A pessoa nao se preocupa com a situagao; 0 foco esta na ago, e a pessoa simplesmente age! Portanco, podemos RAJAN SANKARAN: Prefécio RAJAN SANKARAN, 10 ASENSAGAO EM HOMEOPATIA dizer com seguranga que, em uma situasio realmente dificil, em que o problema ¢ distintamence externo, a mente parece saber naturalmente “o que” fazer (ao ponto de até saber “como” fazer). Entao, como ou em quais circunstancias surgem 0 estresse ou 0 conflito? O estres- se ou o conflito surgem quando a realidade externa difere de modo significativo da percepgao interna ou individual daquela realidade, Em face de tal disparidade entre a realidade interna e a realidade externa, a unidade e a harmonia internas (tao evidentes nos exemplos acima) cessam ¢, em vez disso, a pessoa vivencia dua- lidade e conflito. Ela vivencia duas voves internas: uma voz que diz “o que (aquilo realmente) é”, ¢ outra que arcicula sua percepcdo interna “do que é”, que é muito diferente dos faras da sua realidade externa. Por exemplo, um individuo financeiramente estavel parece, de um panto de vista objetivo, nao tet nenhuma razdo para se preocupar com dinheiro. Encretanco, se sua percepcio préptia interna ou individual é a de que, a despeito de sua riqueza, ele é pobre e financeiramence inseguro (uma contradigao entre a realidade externa e suas préprias percepg6es), ele vai vivenciar duas vozes contradicérias dentro de si. E esse debate interno, esse conflito interno, que produz estresse. Vamos considerar outro exemple: o de uma jovem que constantemente nao se sente amada pelo mundo. Objetivamente, ela tem pais que a arnam., a insticui¢ao & qual pertence também cuida bem dela, e, mesmo assim, ela mancérn o sentimento de que ninguém a ama. Subje- civamence, ela se sence ndo amada. A voz da rcalidade externa (“o que €”) é contradira pela voz da sua “realidade interna” (ou seja, o que ela percebe como 0 caso). Essas duas vores contraditérias ctiam tumulto ¢ estresse em cada nivel da pessoa. Portanto, podemos dizer que aquilo 0 que vivenciamos como estresse ou conflito em qualquer situagao tem pouco a ver com “o que é” (a situagao externa), € mais ver com “0 que parece ser” (nossa forma individual de ver ¢ vivenciar aquela ‘Simuago). Quando nossa prépria percepcio individual difere acentuadamente da situacao real, estamos de fato sofrendo de uma “ilusdo”, uma percepgio falsa da sealidade, que tinge a forma como as coisas se apresentam a nds. Podemos com- parar isso ao uso de dculos colorides, com os quais tudo o que vemos tem a mes- ma cor. Ter uma ilusdo é como usar éculos coloridos o tempo todo, sem nunca tiré-fos. Vernos todas as situagdes da mesma “forma colorida”. Torna-se a rotina, a forma didtia que nos percebemos e percebemos nosso mundo. Portanto, parece que na base do escresse ou do conflico esti a ilusdo, uma percep- Gio falsa da realidade, Vou explicar 0 mecanismo desse esttesse um pouco mais detalhadamente: cm uma determinada situac30, nossa mente ¢ nosso corpo ten- dem, primeiramente, a perceber a situagao e depois a avaliar 0 que aquilo significa em cermos de nossa sobrevivéncia. Assim, sabemos como nos adaptar é responder a situagao, Esse é, de certa forma, um processo automatico. Por exemplo, quando uum inseto pica vocé, seus sentidos percebem a picada e vocé automaticamente A SENSAG AO FM HOMEOPATIA mexe a mao para esmagar o inseto. Nao ha conflito nem dualidade. Hé4 acao no momenro. A situagio € percebida e resolvida apropriada e proporcionalmente. A mente e 0 corpo percebem e reagem por meio da realidade “como ela €”. O incidente ou a situaco passa sem deixar qualquer vestigio ou consequéncia. Isso € satide em termos de adaptabilidade, liberdade de estar no momento, no qual mente e corpo sabem o que fazer € 0 quanto fazer. Voltando ao exemplo da casa de alguém que pega fogo: nessa situacio, podemos vivenciar ansiedade e medo, mas essas emogées seriam proporcionais e evocariam respostas especificas e apropriadas. Elas desaparecem quando a situagdo acaba. Entretanto, 0 caso é diferente quando a pessoa age a partir de uma ilusio; nessa situagao, ela ¢ incapaz de ver qual € a realidade. Em vez disso, ela tende a ver a situagdo de sua prdépria maneita, colorindo e obscurecendo tudo por meio do filtro de sua ilusdo. Dessa forma, ela reage inapropriada ou desproporcionalmente A situagao presente. A sicuagio evoca algo em sua mente, excita lembrangas do passado lembrando-a de varias coisas que aconteceram antes, de varias situagées, cada qual rendo sido vivenciada nas mesmas cores e sombras da situacao presente. Além disso, a situagdo presente confirma e reafirma sua ilusao, € esta fica ainda mais profundamente gravada em sua lembranga para o futuro. Por conta de sua “maneira enganosa de ver”, uma parte da pessoa fica incapaz de viver no momen- to, a realidade presente; entretanto, outta parte dela fica incapaz de negar aquela realidade, o “que € na verdade”. Essa dualidade entre “o que é” € “o que é perce- bido” provoca um conflito profundo dentro da pessoa. O resultado é 0 estresse. Portanto, ¢ a percepcao e a reacdo inapropriadas da pessoa que estao na base do estresse, nao a situagao propriamente dita, Se formos capazes de viver 0 momento, perceberemos a nao hd conflito, ¢ a situagio pode ser enfrentada ¢ resolvida quase que autonia= ticamente (como no caso de esmagar © inseto!). A situagao, entao, permanece uma situagio € ndo s¢ torna um problema. Uma situacio sé patece se tornar um problema quando € associada ao passado € = quando confirma uma percepcao falsa_ da realidade, fixando-a, assim, ém nossa meméria, Assim comeca o processo em que cada situacao se torna.um_problema,.conectada a. um problema de toda a vida, uma percepgo fixa ¢ falsa da realidade, uma ilusio que tege 2 vida de um individu. Uma vez a ilusio estabelecida, independentemente da situagzo que’ ocorra, la sempre serd vista A luz dessa ilusdo, e a reagao cotrespondence sera pee ropriada. Cada um de nds tem sua prépria ilusao, que influencia tudo” e a forma como frabalha, suas relag6es inrerpessoais, ete., a0 ponto de os estados emocionais, medos, ddio ¢ alegria serem baseados em Gande arte nessa ilusao. A ilus’o também est4 tepresentada em nossos sonhos, pesadelos ¢ e fantasias. O interessante ¢ que essas ilusdes parecem ser compartilhadas por toda _ a raga humana, Podemos observas, examinando a histéria, que as ilus6es nao so espectficas do individuo, m mas so compartilhadas por toda a raga humana. Séo- Prelacio RAJAN SANKARAN VW Prefacio RAJAN SANKARAN 12 A SENSAGAO EM HOMFOraTLA, globais. Elas transcendem limites geogréficos e remporais, e parecem estar expres- sas na ererna € sempre atraente mirologia, nos contos de fadas, na literatura, arte, cinema e em rodas as outras formas de imaginacao humana. Entretanto, vemos tudo o que vivenciamos na vida 4 luz de nossa ilusao pessoal. Nossa percepgo interna falsa realmente ecoa com certos eventos, petsonagens e eras da historia ¢ até da mitologia. Também nos identificamos com certos perso- nagens de romances ou filmes, cuja forma de agir ¢ zeagir ecoa de certa maneira com nossa prépria histéria. Assim, a ilusdo nos leva além de nossa experiéncia pessoal € nos conecra com outros individuos por toda a histéria humana. Vou ilustrar isso com um exempto, Um jovem pode descrever que seu estado € in- feliz no local de trabalho. Esse ¢ seu sentimento. No interrogatétio mais detalhado, quando pedimos que descteva essa infelicidade com mais profundidade, ele pode dizer que sua experiéncia no trabalho € semelhante a de ser capturado € torturado. Quando pedimos para descrever as palavtas “capturado € rorturado”, as varias ima- gens que podem vir 4 sua mente sao as imagens de escravos africanos sendo levados pata os Estados Unidos ou para campos de concentragao durante a Segunda Guerra Mundial, ou da forma como os romanos tratavam seus prisioneiros. Essas imagens de pessoas que foram capturadas ¢ torturadas sao de eras diferentes, mas fizeram parte da experiéncia humana (€, portanto, da consciéncia) por tempos imemoriais. Quando petcebemos isso, compreendemos que essa experiéncia nao esté limitada ao individuo, mas é verdadeiramente global. Toda a humanidade vivencia isso. Embora 0 individuo esteja desctevendo um nivel profundo em si mesmo que € pessoal ¢ particular, 0 cumulto que descreve € comum a todos e € encontrado em toda consciéncia humana. Entio, ao mesmo tempo em que chegamos a um plano que é incensamente pessoal ¢ individual, também descobrimos que esse plano esta ligado & toda humanidade. E tanto pessoal quanto global. A ilusdo, portanto, nao estd limitada por tempo e espago. Ela repetidamente se manifesta em diferences eras pot intermédio de pessoas diferentes na histéria hu- mana. Desde o inicio da civilizacao, situagées similares se tepetem de varias for- mas; as expressdes podem varias, mas 0 mesmo padrao se manifesta. Por exemplo, toda eta na histéria de cada pats testemunhou exemplos de individuos que neces- sitam ser os mais poderosos e se empenham para isso. Em comum a eles, e a tan- tos outros como eles, est a demonstragao de poder, o uso da captura, da tortura e da regra do medo, vistos em todos os paises ¢ culturas 20 longo do tempo. Essa ¢ a razaq pela qual a mitologia continua sendo significativa para nés, mesmo depois de séculos. As pegas de Shakespeare também parecem transmitir varias ilusdes humanas, por meio de personagens e situacSes construidas de modo tio refinado, que continuam a ser validas hoje como eram na época em que foram escritas. As iluses humanas transcendem todas as barreiras de tempo, espago, linguagem, nacionalidade e cultura. ASENSACAO EM HOMEOPATIA Prefécio E comum haver tentativas de localizar a origem dessas ilusdes. Enquanto alguns as atribuem a incidentes e traumas sofridos na infancia, outros as atribuem a vi- das passadas. E compreensivel que busquemos encontrar a fonte desses padrées recorrentes € repetitivos de percepgdes e comportamento. Encretanro, fazendo isso, seguimos um caminho linear que tem 0 conceito basico de causa ¢ efeito: isso. ocorreu porque aquilo aconteceu, mas entao 0 que causou aquilo que aconteceu, e assim por diante. Algumas vezes, nosso questionamento continuo de “por que?” produz resposcas na forma de adivinhacées brilhantes. OQ mais comum é produzic apenas reorias, j4 que nunca poderemos ter certeza das respostas. S6 podemos fazer conjeturas. RAJAN SANKARAN Em minha maneira de entender, hd uma pergunta que € muito mais util do que “por que?”, que éa pergunta “o que?” A verdade é “o que €” no momento presen- te. Viveros no momento presente ¢ essa realidade presente é a unica verdade que se pode conhecer. E rude o que € acessivel a nds. Nao h4 como saber fundamen- talmente o motivo pelo qual a realidade presente é da forma que é. O “que ¢” € mais que suficiente do que temos de tentar perceber claramente. Existem formas de psicotetapia que tém como objetivo tornar o individuo cons- cience de sua ilusio of mostrar a ele seus padrées fixos de percepgao e comporta~ mento. Mas 0 perigo disso € que esse conceito pode ser compreendido intelectual, €n4o experimentalmente. Embora uma compteensio intelectual dé um conforro temporirio, ela nao € eficaz no longo prazo. A razao € muito fundamental — uma ilusdo nao é intelectual. Ela nao surge de um processo de pensamento, nem se origina de emogGes como medo, ansiedade, ddio e alegria. Uma ilusao surge de um plano muito mais profundo. Emogées séo, na verdade, expressées da ilusio e nao a fonce dela. Na verdade, ao nos aprofundarmos, conseguimos observar que a ilusdo nao esta confinada ou limitada a mente, e nem sutge dela. A ilusio propriamente dita é parte de uma experiéncia muito mais profunda — uma sensagao que abrange a mente ¢ 0 corpo — um nivel de Jonge mais profundo, “sentido nos nossos préprios ossos”, por assim dizer. Por exemplo, se tivermos uma ilusao de que um leo vai nos apanhar, nao é algo que é sentido simplesmente no nivel emocional ou in- telectual. Aré a imaginagao dessa experiéncia provoca a sensag3o daquele ataque iminente, uma sensagdo que reverbera na esséncia mais profunda de nosso ser. Nosso comportamenro como um todo, nossa atitude, nossos nervos ¢ glandulas endécrinas sao afetados por essa sensagao. Por isso, vim a compreender que essa experiéncia da ilusao é, na verdade, uma exptessao de uma sensagao ainda mais profunda, mais subjacente. Essa sensagio € unica para cada individuo, e é sentida tanto no nivel da mente quanto do cor- po. Essa experiéncia ¢ muito mais profunda que uma experiéncia “mental”. E ainda mais profunda que uma expetiéncia especificamente humana, j4 que nao 13 Pretacio RAJAN SANKARAN: 14 ASENSACAO EM HOMEOPATIA est4 confinada & mente. E uma experiéncia que o ser humano compartilha com animais, plantas e minerais — as coisas que comp6em esta Terra. Por exemplo, quando um ser humano vivencia a sensagao de ser aracado por um leao, é uma experiéncia que nao esr4 confinada apenas aos seres humanos, mas que também é compartilhada por muitos animais. Outras sensagdes sdo ainda mais basicas (por exemplo, gravidade, pressdo, contragao, expansao) e sao compartilhadas com todas as coisas na Terra, incluindo os minerais. A sensagao nao ¢ s6 mental, emo- cional ou psicolégica. E, na verdade, algo mais fisica, ou seja, instintiva ¢ basica. Esse padrao ou sensagio, do qual nossa ilusdo surge, parece ser quase a voz do espirito de algo dentro de nés. Ele rege uma parte da nossa vida humana e colore nossa experiéncia. Parece uma nota dissonante. Pode-se considerar a analogia de duas vozes cantando duas melodias diferentes dentro de nés 0 mesmo tempo. Uma melodia é humana e estd em seu local adequado. A outra melodia, embo- ra também bonita, esté simplesmente fora de lugar dentro do ser humano. E, assim, essas duas vozes cantam juntas — que cacofonia! Essa desarmonia pode ser chamada “conflito” ou “estresse” na linguagem moderna, Se quisermos tentar remover ou erfadicar esse estresse, precisamos chegar a esse nivel mais profundo de percepcio. Comecei a ver que o que consideramos doenga, a totalidade de sinais € sintomas mentais e fisicos, gerais ¢ particulares... tudo vem de um disturbio basico. E que © disttirbio nao est4 na mente, nem no corpo; € algo mais profundo que ambos. Nesse nivel, a pessoa fala uma linguagem que é tanro mental quanto fisica. O cor- po ea mente podem, entao, ser vistos como uma expressao desse nivel (sensagao), ea linguagem, na verdade, nao é nem mesmo a linguagem de um ser humano. E uma linguagem que vem de uma fonte diferente do ser humano: de uma planta, de um mineral ou de um animal. Se comegarmos a ouvit essa linguagem com crescente profundidade ¢ clareza, se nos concentrarmos nessas palavras € nes- ses gestos que nao séo humanos, € que so, portanto, muito peculiares (aquilo © que chamamos de peculiares, estranhos, raros no jarg’o homeopitico), entao comecamos a ouvir outta linguagem, uma linguagem que € diferente da lingua- gem humana. E, se nos concentrarmos nessa linguagem, podemos ouvir a fonte propriamente dita. Assim, fica claro se a pessoa est4 adotando uma linguagem. mineral, uma linguagem animal ou uma linguagem vegetal. O préximo passo éa diferenciagao ainda mais profunda para verificar se é um mamifero, ou uma aranha, ou uma cobra, ou se € Anacardiacea ou Euforbiacea, erc. Aquilo o que nao é humano em um ser humano, a base do estresse, isso ¢ 0 que eu compreendo como doenga. A doenga € a cangao nao humana que est4 sendo cantada dentro de nés, a melodia de outra substancia da natureza. A cangao ¢ per- feita como é, mas, quando est4 no ser humano, encontra-se no local errado. Essa cangéo néo humana nfo deveria estar ai. Nossa prépria cangZo inata, a cangéo ASENSACAO EM HOMEOPATIA humana, encontra-se em seu local correto, e sé ela deve estar sendo cantada no ser humano. A cangao nao humana tem de ser diluida até finalmente se enfraquecer € cessar, e apenas a melodia humana ser ouvida. Esse ¢ o papel do temédio. Tendo como base o principio homeopatico de semelhante cura semethante, seleciona-se um remédio preparado de uma substancia cuja cangao é semelhante a cango nao humana do paciente. Esse remédio, com o tempo, tem o efeito de diminuir a can- G40 nio humana, de forma que a cacofonia ou 0 conflizo ou o estresse desaparega, € apenas uma melodia, a melodia humana, seja ouvida distintamente. Quando isso ocorre em um nivel mais profundo, a disparidade entre a percepgao da reali- dade ¢ a realidade objetivo também cessa, ¢ 0 individuo responde 4 sua situagdo de maneira apropriada, como visto no caso de esmagar 0 inseto, ou apagar o fogo da casa, ou escapar de um animal selvagem. A luz dos conceitos mencionados acima, pode-se dizer que cada um de nés vive duas vidas a0 mesmo tempo. A vida principal é nossa vida como ser humano, como parte de uma familia que é bem inserida na sociedade. O homem é um “animal social” por nacureza, de forma que sua existéncia depende de sua intera- ao com a sociedade. Ao mesmo tempo, estd em sua natureza inerente cumprir seu “papel” em scu ambiente proximo. Lado a lado com a execugao desse seu papel, ele desenvolve seu proprio “ego” ¢ sua “identidade”. Assim que as necessi- dades de seu ego alcangarem um grau de satisfagao, ele procura crescimento espi- ritual. Essa é a coisa mais fundamental que o diferencia de outros animais. Tudo isso o chega naturalmente, dando-lhe uma caracterfstica inerente. Essa ¢ cangao de um ser humano. Ela inclui * A execugao de seu papel. * A educagao de sua familia. dade. * Sua contribuigao a so + Seu empenho em causas sociais. * Com 0 objetivo mais essencial ¢ pessoal de autoaprimoramento, o desenvolvi- mento de seu ego € o progresso no caminho do desenvolvimento espiritual. Como ser humano, essa é a tinica cangao que deve ser cantada dentro dele como sua cang4o, sua melodia e sua esséncia. Entre essa tribo, ¢ interessante ver como todos nés como seres humanos temos qualidades e caracterfsticas similares, medos € aspirag6es similares, pensamentos ¢ sentimentos similares, e, mesmo assim, hd tantas variagées individuais. Cada um é muito diferente do outro. Um compo- nente muito importante dessa variacéo humana é que, a despeito dessa tribo, cada um de nds tem uma parte que nos torna individuos tinicos. E essa parte — uma pequena parte que nao é especifica do ser humane — que caracteriza cada um de nés. Ha também certas qualidades encontradas em um determinado individuo em Prelacio. RAJAN SANKARAN 15 RAJAN SANKARAN é o 16 ASENSAGAO EM HOMEOPATIA proporg6es diferentes. Por exemplo, uma pessoa pode ter mais agressividade, outra pode preferir a cor preta, outta ter um forte desejo por doces, etc. Essas variagbes individuais no so fendmenos isolados e aleatérios. Quando conferimos todas essas caracteristicas “desproporcionais” da percepcao e das reagdes de um deter- minado individuo, vemos um claro padrdo que se mantém para aquele individuo em particular, um padrao que é um reflexo de outro fendmeno, de uma entidade que parece manifestar uma energia completamente diferente daquela de sua vida humana na sociedade, conforme descrigio acima. A dualidade resultante é ral que, pot um lado, cada individuo tem sua vida como ser humano e, por outro lado, também ha uma histéria toralmente diferente, outto mundo dentro dele. Esse outro mundo, 0 espirito dessa outra substancia dentro de nds, esse padrao energético que confere individualidade a cada um de nés, tem seu local aproptia- do na natuteza, mas n3o em nés. Mas emprestamos esse padrao de energia para que possamos lidar com a forma como percebemos a realidade — é nossa estratégia de sobrevivéncia, dada nossa ilusio. Dessa forma, esse padrao de energia nao é inato nosso, mas sim a “fonte” na natureza de onde o emprestamos. Portanto, parece que o espirito da fonte ocupa alguma parte de um individuo, dando-lhe caracteristicas individuais. Mesmo que essa parte seja pequena, compa- rada 4 magnitude da parte humana, ela diferencia esse ser humano de outros seres humanos; fica evidente, como alguém que usa um chapéu estranho. O chapéu estranho ficaria evidence mesmo se formasse uma pequena parte do set humano. Essa outra parte (que € um reflexo da fonce da natureza) tem sua propria cnergia, melodia, cangdo que est4 constantemente vibrando dentro de um ser humano, E comum a cangaéo humana normal set a que vibra na vanguarda da vida didria A outra cango, entao, fica relegada a segundo plano, mas ela é audivel por meio das palavras caracteristicas e metaforas que usamos com frequéncia. Ela também se revela nas sensagdes que vivenciamos e expressamos em varias situagdes, junta- mente com gestos que usamos para indicar essas sensagées € sentimencos internos, As vezes, ocorre que as pessoas centam fazer dessa cango a principal cangao das sua vida, escolhendo uma carreira ou situagdo ou um companheiro em que esta cangao possa ser expressa com conforto. Uma pessoa cuja cangao ¢ agressiva pode escolher uma profissio que precisa desse tipo de agressividade. A pessoa, entao, pode viver suas duas cangées na vida didria — af hé certo grau de harmonia em sua vida. Mas, na maioria das vezes, nao somos capazes de viver mais que uma pequena porcentagem da outra cangdo na nossa vida didria. Endo, sob essas circunstncias, o ser humano expressa a “outra cangdo em seus passatem- pos, hobbiese inceresses, ¢, especialmente, em seus sonhos. © conflito seguido por tumulto ¢ desarmonia comesa quando a outra cangio nfo consegue uma saida para se expressar. Sua intensidade se torna tao elevada A SENSAGAO EM HOMEOPATIA que fica humanamente impossivel expressar uma grande parte dela. Entao, a par- te que ndo consegue ser expressa se precipita e se cristaliza na forma de patologia fisica ¢ mental. Como essa patologia € uma manifestagao dessa “outra cangao”, ela tem 0 mesmo padrao de energia, a mesma sensagao e a mesma melodia. Pode- mos dizer que essa outra cang&o, essa meledia nao humana expressa no humano pode ser mais bem ouvida por meio da linguagem da doenga. E essa linguagem da doenga em uma pessoa pode ser ouvida pela maneira como a pessoa expressa suas queixas, a sensagao exara de suas dores e incémodos ou outras queixas, Po- de-se observar também a peccepgao que a pessoa tem de sua situacao, as palavras que ela usa para descrevé-la € 0 efeito da situacao sobre ela, juntamenre com sua reacao aquela situagao. Vou ilustrar esse conceito com um exemplo. Uma mulher que trabalhava como executiva em uma empresa me procurou com queixa de dor intensa durante seu perfodo menstrual. Quando lhe pedi para descrever a dor, ela disse que a dor era como a do recuo de uma mola. “E como quando vocé puxa algo flexivel ¢ isso recua — e bate em vocé quando recua.” Essa ¢ uma descrigao incomum de dor e, assim, possivelmente expressa sua cang4o interna. Ao entrar em detalhes sobre sua vida, ela diz que € muito sensivel a ser empurrada ¢ acotovelada em lugares com muita gente. Para realizar suas atividades e tarefas didrias, ela tem de passar por lugares cheios de gente. Em sua opiniao, as pessoas no 330 civilizadas porque elas empurram e puxam, passam empurrando na busca de espaco. Seu impulso instintivo ¢ empurrar e passar atropelando, mas ela nao faz isso porque sente que é civilizada e, portanto, nao deve fazer isso em retaliacao. Desse modo, a cangao que ela tem dentro de si tem a energia de emputrar e passar atropelando, de uma agressividade que tem como objetivo um mecanismo de sobrevivéncia em uma situagao de ter de lutat para encontrar seu préprio espago na multidao. Podemos observar que essa ¢ a mesma linguagem que se expressa em sua queixa fi- sica, em sua patologia. Esse aco de empurrar e set puxada de volta (recuo da mola) é tipicamente um fendmeno observado em cabras dentro de seu grupo. A cabra precisa estar com seu rebanho, mas precisa encontrar seu proprio espaco, ¢ faz. isso forgando para passar e empurrando. Esse ato de puxar e empurrar ¢ essencial para sua sobrevivéncia. Essa senhora vivencia 0 mesmo fenédmeno em sua vida, e faz disso “sua cangio (ndo humana) interna”, Mas ela nao permite que essa cangio se expresse em sua vida didria. Como nao se expressa externamente, 6 armazenada internamente, necessitando de um escape para se expressar. Essa cangao interna armatenada encontra express’o em seu corpo fisico na for- ma de menstruagées dolorosas. Ela se manifesta na forma que ela descreve a si mesma, os varios aspectos de sua vida, seus outros sentimentos e sensagGes ¢ nos gestos manuais que usa para descrever essas sensag6es. O comportamento e a Jinguagem do corpo que a caracterizam, as palavras que usa com mais frequéncia, & f 8 RAJAN SANKARAN, 7 3 RAJAN) SANKARANI 18 8 SENSAGAO EM HOMEOPAT FA, os exemplos que sao dados fora do contexto, esse fenémeno todo como uma totalidade... funcionam todos como notas-chave da cangao que est4 vibrando dentro dela. Portanto, esse fendmeno do reino animal, um fenémeno especifico da famflia das cabras, parece ter encontrado um caminho dentro dela, ou, mais aptoptiadamente, parece que ela incorporou uma parte da energia da familia das cabras. O espirito delas de alguma forma se adapta e ajuda sua sobrevivéncia na situagdo que ela (inconscientemente) percebe estar. Essa é sua “outra cangao” em sua prdpria forma, embora fora de seu local natural. Outro caso que me ocorte é 0 de uma jovem de 25 anos, cuja queixa principal era. a irregularidade das evacuagées. Ela, alternadamente, tinha constipagao e diar- reia. Quando lhe pedi que falasse sobre como isso a afetava, ela respondeu que a constipacao fazia com que ela parecesse gorda. Estar gorda para ela significava nao usar roupas bonitas ¢ se sentir menos attaente. Quando lhe pedi que falasse sobre o sentimento de estar menos atraente, ela explicou que se ela ficasse perto de uma pessoa gorda, nao gostava, porque “aquilo refletia nela”. As pessoas iriam dizer “gorda, gorda”. Da mesma forma, no escritério, ela nao andava com as pes- soas que ela chamava de “sideys”.! Para ela, um “sidey" é alguém estiipido e sem arrarivos. Sex visto com eles “tefletia-se” nela. Se ela andasse com eles, significava que ela era igual a eles. Como a expresso “reflete em mim” surgiu com bastante frequéncia, centei entendé-la de seu ponto de vista. Ela disse que “refletir” era uma palavra comumente usada por seres humanos para indicar qualquer coisa que refletisse de volra, como vidro, jd que ele reflete o que esté dentro € 0 que esté fora dele, Ela rambém explicou que tinha uma imagem estabelecida de como sua vida de- veria ser, e uma imagem estabelecida de sua propria imagem. Tudo tinha de escar naquela ordem estabelecida; s6 assim a pessoa pode ficar focada. Pedi que ela descrevesse a palavra “focada”. “Focada é 0 oposto de embagada”, ela disse. Ela explicou que “embagado € quando vocé tira os éculos ¢ nao consegue ver; foco é quando vocé coloca os dculos de volta e tudo parece estat em ordem novamente”. Ao pedir que falasse sobre situag6es estressantes de sua vida, ela contou a histéria de uma relago que ndo tinha dado certo. Isso a afetou profundamenre porque ela tinha ficado tao envolvida que quasé rinha se esquecido de quem ela era. Tudo passou a ser “o que ele era, eu era’; cla tinha se rornado ele. As situagdes de sua vida didria, que ela considerava particularmente estressantes eram reunides e apresentaces. Ela sentia uma grande ansiedade, j4 que eta extre- mamente preocupada com sua imagem; ela sentia que as pessoas estavam olhando para ela e que isso refletia-se nela. Essa atitude é tipicamenre um comportamento “semelhante ao vidro”. Com 0 comportamento semelhanre ao “vidro”, a pessoa 1 Sidey. giria para designar uma pessoa esttipida que se senta afastada das pessoas. ASENSACAO EM HOMFOPATTA tem de ter cuidado com o interior ¢ com 0 exterior (apresentagao da ansiedade) para que ele nao se quebre. Além disso, ele reflete o que est dentro (com amigos) de forma que, na verdade, nao ha nada de seu propriamente dito ~ sé reflete 0 que est em sua frente (como aconteceu com seu relacionamento). E importante saber que essa outra cangao concomitante existe, e é impressionante ver como podemos reconhecé-la palavra por palavra, nota por nota, melodia por melodia. E cutioso como tentamos harmonizar e viver nossa vida externa em concordancia com essa melodia interna. Enttetanto, quando isso nao € possivel, vivemos uma vida diferente externa e internamente. Isso cria dicotomia e desar- monia, que é a raiz do estresse. Quando vamos as profundezas do caso € vemos a fonte do remédio nos falando com sua voz, a selegéo do remédio é muito mais seguta, e os resultados, muito mais consistentes. A queixa principal é a melhor forma e a via mais direta para se acessar a cangao nao humana ou a sensagao em um paciente. O reconhecimento da importancia da queixa principal foi um grande passo para mim; isso nos salva de nos per- dermos nas emogGes, situagées ¢ histéria do paciente. Podemos usar a queixa principal para chegar diretamente A sensagao no Amago da doenga do paciente. A queixa principal pode levar diretamente 4 melodia néo humana do paciente. Embora seja uma rota direta, nem sempre ¢ uma rota facil e, as vezes, ela pode até nao ser possivel. Ha muitos casos em que a queixa principal nao nos leva a nenhum lugat, e, nessa circunstancia, temos de usar um “atalho”. Sendo assim, pode-se ter de encontrar primeitamente as emogées ¢ a ilusao, para finalmente chegar & sensacao, Mais profundamente que a sensagdo, na esfeta que provavelmente corresponde 2 forca vital, encontra-se um distirbio de energia. Aquilo 0 que vivenciamos em nossa mente € em nosso corpo, “em nosso préprio Amago” como sensagao, é vi- yenciado nesse nivel como um padrao anormal ou perturbado de energia. Esse padrao anormal de energia ressoa com a energia proveniente da fonte. Em um paciente, o padrao de energia pode ser avaliado especialmente por meio dos gestos das mios. Eu considero os gestos das m&os como os mais indicativos da verda- de interna do paciente. Palavras podem ser enganadoras as vezes, especialmente quando o paciente tenta ser “légico”, mas os gestos das maos normalmente so espontaneos, e, especialmente se forem repetitivos, nunca séo enganosos. Sem haver nenhuma légica ou raz4o por tras deles, eles sao sintomas mais peculiares, indicando vividamente a energia da fonte. Observar-se-4 que o paciente usa esses gestos de mAos em situagées diferentes, contextos diferentes ¢ por meio dos varios niveis: fisico, emocional, na ilusao ¢ na sensagio. Este livro descreve em detalhes esses conceitos, 0 processo da toma do caso, e as técnicas empregadas nessa toma de caso, com exemplos de varios casos. As vezes, pode haver uma repetigao das ideias. Isso foi feito com o objetivo de esclarecer z 8 3 RAJAN SANKARAN 9 Prafécio. A SENSAC:AO FM HOMEOPATIA as ideias de diferentes formas. Também tentei discutir todos os problemas possi- veis ¢ as duvidas que possam surgir na pratica desse método, j4 que usamos esse método hé crés anos. Também inclui os comentarios de alguns colegas que vem trabalhando dessa maneira. Esses comentrios foram muito uteis para mim e para outros colegas. RAJAN SANKARAN Venha, vamos nos unir na alegria da descoberta. Rajan Sankaran 21 de outubro de 2004 20 A SENSACAD £24 HOMEOPATIA, AGRADECIMENTOS Tenho muita sorte de ter 0 apoio ¢ o amor de muitos colegas ¢ amigos, o que é vital no meu trabalho, Apresentei essas ideias pela primeira vez em um workshop internacional realizado em Bombaim, em novembro de 2001. Depois, em workshops realizados em no- vembro de 2002 e de 2003. Com a presenca de profissionais bastante expetien- tes, esses workshops foram uma experiéncia incensa, na qual pude demonstrar, ao vivo, por meio de 11 casos consecutivas, como 0 conceito e 0 método podem ser empregados de modo consistente. Esses colegas, entao, aplicaram 0 método ao retornar para suas clinicas. Seus resultados ¢ recornos corroboraram, indepen- dentemente, com meu trabalho, o que € muito necessdrio. Entre os que me en- viaram seus casos e comentarios est4o os notdveis Jayesh Shah, Sudhir Baldota, Sujit Chatterjee, Linda Johnston, Andreas Holling, Laurie Dack, Jeff Baker, Bert Lefebre ¢ Mary Gillies. Um softwase (Vital Quest [Busca vital]) baseado nessa técnica foi desenvolvido por mim e por Paresh Vasani. Nossas discussdes sobre o assunto ajudaram a deixar 0 método mais preciso. Rashmi Jaising, que foi testemunha dos varios estagios do desenvolvimento, e que editou 0 livto The System of Homoeopathy, ficou encarcegada de organizar este livro, € suas perguntas sagazes ajudaram a esclarecer muitas questes. Devo dizer que ela levou todo 0 trabalho em seus ombros, € 0 resultado esté agora em suas Maos. Ao meu querido amigo Misha Norland, que constantemente me incentivou, deve ser dado 0 crédito da sugestao do titulo um tanto quanto pretensioso deste trabalho. A capa foi desenhada por Cheryl Feng, que deu expressao artistica aos conceitos. Neil Tesslet, editor, Simillimum, fez uma entrevista esclarecedora comigo para 0 jornal do ano passado. Coloquei algumas citagdes dessa entrevista em determina- das partes deste livro, com a permissao dele, e the sou grato por isso. Com todas as pessoas acima mencionadas € com varias outras que me ajudaram, eu eo leitor temos uma divida de gratidao. “" RAJAN SANKARAN, 21 22 A SENSACAO EM HOMEOPATIA NOTA AO LEITOR 1. Este livro representa uma progressio de ideias do autor. Aconselhamos ve- ementemente que o leitot estude com critério os conceitos fundamentais sob os quais este trabalho se baseia, a saber: discurbio central, ilusdo, reinos, miasmas, sensacao, exc. O resume desses conceitos apresentados no primeiro capitulo destina-se principalmente a beneficiar aqueles que j4 esto familia rizados com eles. Recomenda-se aos iniciantes que leiam os primeiros traba- Ihos do autor, a saber: The Spirit of Homoeopathy, The Substance of Homoeo- pathy, The System of Homoeopathy ¢ An Insight into Plants, antes de iniciat a leitura deste livro. 2. Os conceitos e os mapas ajudaram a sistematizar a Homeopatia. O leitor deve ter em mente, entretanto, que os conceitos propostos neste livro ¢ nos livros anteriores do mesmo autor se originaram estritamente dos fundamentos da Homeopatia. Por vezes, a simplicidade dos conceitos faz. com que os recém- chegados acreditem que a filosofia homeopatica, a matéria médica € 0 reper- t6rio sejam, todos, dispenséveis. Essa concepcao equivocada leva, em ultima instancia, ao fracasso. O autor gostaria de reiterar que as ideias deste livro vém da cristalizagao do conhecimento da filosofia homeopatica, da matéria médica e do repertério. O sistema que cle segue em sua pratica foi construido sobre a sdlida base desses principios basicos, e este livro apresenta apenas uma visio geral desse sistema. Deve-se fazer uma mengao especifica ao conceito dos reinos, que parece sim- ples ¢ atraente aos iniciantes. A compreensao do Dr. Sankaran da tabela pe- riddica realmente simplificou a prescrig¢ao dos remédios minerais, mas suas ideias € prescrigées emergem de uma base experimentada em filosofia, matéria médica ¢ repertério. Por exemplo, ele propds que o tema principal de Aurum fosse ser capaz de se sustentar em suas préprias bases e assumir a responsa- bilidade para si mesmo e para os outros; isso € corroborado pelos sintomas bem conhecidos de Aurum: “Ilusdo de negligenciar seu dever”, “Transtornos por responsabilidade incomum”, “Conscienciosidade“, ete. O reino vegetal foi totalmente derivado dos sintomas registrados nas varias matérias médicas e experimentagoes, conforme explicado no livro An Insight into Plants. Os conceitos sobre 0 reino animal também sao, da mesma maneira, fortemente confirmados por sinromas e casos. Além disso, todos esses conceitos foram verificados por ele em sua propria pratica clinica ao longo de 20 anos, bem como por intermédio de casos de seus colegas. RAJAN SANKARAN, 23

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