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‘E | CADERNOS JEEDUCACAO DE INFANCIA > ARTIGO CRESCER COM PARALISIA CEREBRAL Alexandra Alves . Terapeuta da Fala; Ana Cadete . Médica Fisiatra; Helena Figueiredo. Fisioterapeuta; Carla Gabriel Fisioterapeuta; Lia Jacobsohn. Fisioterapeuta; Anabela Oliveira. Fisioterapeuta; DavidPatinha. Terapeuta Ocupacional; Paula Valérie A Paralisia Cerebral (PC) néo é uma doenga, mas ume sindrome que associa ‘alteragdo do movimento e da postur resultante de uma lesdo cerebral ado pragressiva, mas definitive, que atinge um cérebro em desenvolvimento. Este lesto pode surgit em qualquer fase do desenvolvimento cerebral da crianga, nomeadamente nos periodos pré, peri & pés-natal e a sua etiologia ¢ miiltipla (quadto 1). evidéncia mostra que cer- cade 70 a 80% so de origem pré-natal , apesar das diferentes etiologias apre~ sentadas no quadro 1, @ grande maioria 6 de etiologia desconhecida, Quadro 1: Etiologia PRE-NATAL > Malformagies congénitas > Infecgio materna (rubéola, toxoplasmose) > Agentes téxicos/teratogénicos >Alteragies placentarias >Gravideres miltiplas > Trauma abdominal > Mae com atraso mental, epilepsia, hipertiroidismo NEONATAL > Prematuridade > Muito baixo peso > Atraso de erescimento intrauterino >Infeegio >Bradicardia e POSNATAL >Trauma >Infeegio > Hemorragi > Coagulopatias Actualmente, a PC é principal cause de deficiéncia na crianga, com uma incidén- 15 coeerncs ae tascagie de nfncia nt? 0/04 Fisioterapeuta, (Servigo de Medicina Fisica ¢ Reabilitagdio do Hospitel Fernando Fonseca) cinge2-3por 100 rscmertos spa | erinsas tim ume intligteia norma ses industralizados, a qual se fem man- tido constante desde a década de 80. 0 diagndstico clinico € sempre baseado nas alteragdes matoras, mas podem-se encontrar associadas outras patologias, taiscomo epilepsia (80%), défice eogn'- tivo (50%), alteracées visuals, cuditivas « pulmonares, entre outras APC classifica-se cliicamente de acor- do com 0 envolvimento neurolégico, ‘apresentando formas espésticas, dis~ ‘quinéticas, atdxicas e mistas. As formas espésticas caracterizam-se por um aumento do ténus muscular, $80 ‘as mais frequentes (75%) e dividem-se em diplegia, tetraplegia e hemiparésia Na diplegia hé habitualmente uma his téria de prematuridade. Existe um en- volvimento predominante dos membros inferiores e com frequéncia prablemas de coordenagio dos membros superio~ res, lterasies visuais, epilepsia edéfice cognitivo. A hemiparésia caracteriza-se pelo envolvimento de um hemicorpo com predominio do membro superior onde estado frequentemente associadas alteragdes visuals, perceptivas e sen- soriais, sendo na sua maioria de origem pré-natal (70-90%). Na tetraplegia hé um envolvimento de todo o corpo com predominio dos membros superiores. & a forma mais grave e é acompanhada com grande frequéncia de défice cognitive significativo, epilepsia (50%), altera- ges da matricidade oral e problemas alimentares. A sua etiologia ¢ habitual- mente prée peri-natal. Nas formas disquingticas e atéxicas (atetose, coreia, distonia, ataxia) hé dificuldades na regulagéo do ténus, no controle postural e na coordenagéo do movimento. Correspondem a cerca de 25% das Formas de PC e tém como pa tologia associada a surder neurosenso- rial, gronde envalvimento da motricida- de oral com dificuldade na articulagao verbal, controlo da baba e degluticéo. De salientar que na sua maioria estas o que frequentemente passa desperce- bido pela dificuldade de comunicagao e expressio. Nas formas mistas, tal como o nome in- dca, encontramas os dois quadros clini cos acima mencionades APC nao se cura e 0 tratamento tem como objectiva promover 0 desenvolvi mento da crianga a um nivel méximo de fungao motora, intelectual e social. Ain~ tervencao deve estar centrada na crian~ ga ena familia, sendo esta tltima parte integrante da equipa terapéutica. Como foi referido inicialmente, a PC é uma lesGo néo progressiva, mas tendo em consideragdo que a erianga esté em per rmanente crescimento, as manifestagées do quadro clinica pa «que implica uma orientagao terapéutica individualizada e adaptada ao longo do tempo para cada crianca erianga com PC vai necessitar da in- tervengdo de diferentes profissionais de saiide e de educogao (Fig. 1), 08 quais sero determinantes nas diferentes fases do desenvolvimento da crianca. Fé necessidade de uma articulagaa dos diferentes profissionais envolvidos, definindo-se em equipa estratégias de intervengGo com objectivos realistas de acordo com cada erianca/ familia, procurando minimizar a limitagao da actividade ea restrgo da porticipagio 1a sociedade. Fisioterapia/ Terapia da Fala/ Terapia Ccupacional AFisioterapia (FT) centra-se no andlise eavaliagio do mavimento e da postura baseadas na estrutura e fungéio do cor- fo, utilizando modalidades educativas e terapéuticas especificas, como objecti vw de ajudar 0 atingir a maxima funcio- nalidade e qualidade de vida. CG movimento € determinante para funcionalidade da crianga em geral e de cianga com leséo cerebral em particular : ARTIGO CRESCER COM PARALISIA CEREBRAL Arealizagdo do movimento abrange ain- teracgdo de trés Factores essencias = Factores individucis, relacionados com miltiplas estruturas e processos cere~ dais, dos quais fazem parte a percep- do, cogni¢do e acgdio; Factores relacionados com @ tarefa, ‘que determinam o tipo de movimento necessério; ~ Factores do ambiente, que podem se: (1) reguladores que téma ver como pr6 prio movimento (forma, tamanho, peso, tipo de superficie) e (2) ndo reguladores que podem infiuenciar a performance (barulho, luminosidade...), Através da interacgao destes Factores resulta um movimento haimoniso, ef~ cat e funcional Desenvolvimento da crianga Desenvolvimento do controle motor tal ‘como 0 prégrio processo de desenvolvi- mente da crianga, ndo é linear nem con- tinuo, caracterizando-se par avancos € recuos. Por trés de cada aspecto visivel do desenvolvimento hi uma série de ac~ tividades de preparagdo e de integracao que sao a base das aquisigdes. No de- senvolvimento no é suficiente analisar 4 etapas sequenciais, sendo essencial perceber os mecanismos que as possibili~ tame os factores adversos que as impe- oo 16 cademos de educasie de itencien’r2 outros im __ a <=£_— dem, $6 minimizando os factores de risco e favorecenda 0s factores que preparam aintegragao das tungBes, ou seja.a sua maturagao, podemos favorecer o éptimo desenvolvimento da crianca Nas primeiras fases a crianga aprende ‘acerca de si prépria, passando de uma fase para outra do desenvolvimento sem ajuda e de uma forma natural. Cada no- va experincia prepara o caminho para executar tarefas mais complexas, refor- cando a aprendizagem pela repeticao e prazer na execugao dos movimentos, ACrianga com PC Uma lesdo ao nivel do Sistema Nervoso Central condiciona uma disfungao sen~ sério-motora que se tradue, na crianga com PC, por alteragées ao nivel da pos- tura e do movimento. 0 resultado é um movimento descoordenado, pouco eficaz com grande gasto energético. Acrianga com PC pode ter dificuldade em explorar o.ambiente porsis6, necessitando de ser ajudada. Precisa de ver, tocar, sentir € experimentar texturas ¢ ambientes dife- rentes, de forma a participar em todas as, situagdes do dia-a-dia, desenvolvendo a sua auto-estima, responsabilidade, independéncia ¢ integracdo na socie~ dade. Para promover 0 desenvolvimen- to da crianga e facilitar a aquisigao de 2 Equipa Educativa movimentos ¢ funsiio, existem diversas estratégias de manejamento/handling € posicionamento, Estas estratégias devem ser planeadas com a equipa de Saiide e de acorda com as necessidades de cada crianga/familia Estratégias © Manejamento é 0 moée de lidar com a crianga de acordo com as suas copacida- dese dificuldades. Pode mudar ofeedba- ck aferete, isto €, a sensagio que tem € pode influenciar @ output mator, isto é0 processo de aprendizagem motor. deste modo uma estratégia poderosa quando lidamos com eriangas com PC, Manejaras nas actividades da vida dria (AVD) como a vestir/despirem que podemos utilizar di- ferentes tipos de movimento. Por exemglo, na crianga com espasticidade, 0s movi- mentos devem ser suaves gentise rurca bruscos erépidos, a vor deve ser tranquil, baixa, para nao alterarot6nus. Nacrianga atetésica, os movimentos e a voz devem ser firmes e seguros de modo a marter 0 ténus. O manejar permite dcrianga aus~ taro seu corpo nas actividades didrias, 0 reforco de posturas e padrdes de movi- mentos adequados. Deve proporcionar 0 bem-estarfisico e emocional, seguranga ce confortoe também promover a fungéeo OPosicianamento é uma estratégia cue tem como objectvo prevenirodesenval- vimento de contracturas € deformidades osteoarticutares. Farnece informacao proprioceptiva das regides do corpo em apoio efacilita a mobilidade dos seg- rmentos livres. Existem vérias posiciona~ mentos utilizados: 0 decibito ventral, dorsal eo lateral (ato. ees9,), a posi~ Gio de sentado © a posigio de pé. Cada Lum promove e prepara para a funcao. 0 deciibito ventral (OV) promove a esta bilidade anterior, o controlo da cabega, 0 desenvalvimento da extensdio contra gravidade, 0 estabilidade escapular e ainda prepara a posigtio de pé. No de- senvolviento “normal” dacrianga a po- sigao de deciito ventral éinicialmente do pela flexao dos membros inferiores. Mais tarde, e com 9 inicio da extensao ds ‘assumida com apoio na face, provoca- | | { ‘cabeca eda parte superior do tronco, a Melhoraras fungdes do sistema nervo- s0 auténomo, cardiovasculares e diges- tivo; -Preveniro aparecimento de contrectu~ ras musculares € deformidades osteo- ariticulores. Globalmente podemos afirmar que as Ajudas Técnicas servem para melho- rar a qualidade de vida da pessoacom deficiéncia e promover a integragdo na escole/eomunidade, & de salientar que a selecgao de uma ajuda técnica deve ser sujeita a uma avaliagao cuidadose erigorosa por par- te da equipa que segue a crianga, Esta ARTIGO CRESCER COM PARALISIA CEREBRAL selecgdo deve ter em conta as capacida- des fancionais, necessidades e meio en- volvente do utilzador,o treino da ajuda técnica atribuida bem como a adequa- gf € sucesso no sua utilizagao. Seguem-se dois quadros que identificam algumas ajudas técnicas utilizadas por estas eriangas (quadros 2 3). Quadro 2: AJUDAS TECKICAS FUNGKO: Posicionamento + standing — frame + plano ~inclinada + cadeiras~ adoptadas + cadeiras stondarizadas + baneo triangular + cadeira transporte tipo maclarem* + cadeira transporte tipo cruiser + feeder seat + mesa recortada ajustavel + prancha decitito lateral + pranchas 5 + Faixes + rolos + cunhas + pegas abdugo * Nota: ts cadeiras de trensportet urges (pos ianamento € moti uae ince) FUNGHO: Mobilidade | scadeira de rodas manual | “cadeira de rodas eléetrica | + prancha de rodizios | + andarilhos + canadianas + tiipés = pixdimides + ticiclos adaptados + motoretas adeptados + carros adaptados + tdbua de transferéncia 20) caderos de tucasso de tinia 2. Ow04 Te z Quadro 3: AjUDAS TECNICAS FUNCHO: Alimentagio + tolheres adaptados, de cabo en- grossado, exgonémicos + tolher de Nelson + engrossador de cabos + bofsa palmar para colocar talheres + pratos com rebordo + copos adaptados (pega bilateral) + individuais antiderrapantes FUNGRO: Migiene + cadeira de banho + adaptagdes para sanita + adaptogdes para colgar meias suri FUNCKO:Ortétees, Préteses + colete termomoldavel + tolas de barbas | = alas posterores | FUNCAO: Comunicagio + unidades de vor + sintetizador de vor + teclades + computadares + software de uso maltiple + quadro de simbolos «livros de simbolos + tabelas de simbolos FUNGAO: éserita, Desenho | + bolsa palmar tala em neoprene | + adoptadores para canetas/lépis | + capacete com ponteiro para adap- tar canetas, etc. Profissionais de Saude ~ Educat Familia ~ Crianga 0s profissionais de Saude de Educagao, em parceria coma crianga e familia, tém ‘ras mos um desafic ~ Prevenir para Promover. O conceito de saiide actual exige que cada individuo e seus familiares directos sejam elementos ectivos, participatives e co-responsdveis de todo. processo des cuidadas de sade. A filosofia da inter= venga atempada, centrada na crianga em posceria com afamilia, esta baseada ‘na partilhadas descobertas relativas as, diferencas individuais de cada crianga tendo em conta as suas necessidades. As decisdes deverdo ser partilhadas eas, estratégios de intervengao definidas de comum acordo, e de um modo realista. Referinciax Bibliogrdficas ‘judas Técnicas para Pessoas com Defici- ncia. ClassificagdoISS0, Secretariado No- cional de Reabilitacdo. Dezembro, 1990. ‘Amiel -Tison, C.; Neurologie Périnatale, 2° €d. Massom, Bowden, Vicky ; Dickey, Susan 8.; Green~ berg, Cindy S..Chldven and their families the continuum of care 1998. W.B. Saun- ders Company. Campbell, Suzann k. The Infant at risk for Developmental Disability, Decision making in Paediatric Neurologic Physi- cal Therapy. 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