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teologia dos ministérios MISSAO DA IGREJA E MINISTERIOS ECLESIAIS Missdo da Igreja e ministérios eclesiais se entendem 10 somente numa reciproca in- terdependéncia. A Igreja, para realizar sua mis- sdo, assume e organiza servicos, que o Espiri- to Santo suscita (cf. 1Cor 12,47). Tais servi- gos ou ministérios valem enguanio brotam da propria missao da Igreja e sdo meios adequa- dos @ realizacao desta miso. Eles se estrutu- ram historicamente condicionados a diversos fatores, entre os quais a interpretacao das ne- cessidades da comunidade crista numa aber tura ao Espirito Santo presente na comuni- dade e uma teologia que favoreca colocacdo dos ministérios em funcao efetiva da missao eclesial, Examinaremos, a seguir, a missdo da Igre- ja procurando salientar alguns pontos (I) que ajudem a perceber a emergéncia dos ministé. rios da prépria missdo, seja nos primérdios da Igreja seja no decorrer de sua hist6ria até hoje (I) I. A MISSAO DA IGREJA A missao da Igreja é aquela que Jesus confiou aos apdstolos e que vem comemorada nos Evangelhos sob diversas formas: “Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura...” (Mc 16,15); “Ide e fazei que to- das as nagdes se tornem discipulos...” (Mt 28,19); “Assim esta escrito que o Mesias de- via sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamada a convers4o para a remiss&o dos pecados a to- das as nagdes, a comecar de Jerusalém...” (Le 24,4647); “Como 0 Pai me enviou também eu vos envio... Recebei 0 Espirito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser- -lhes-40 perdoados, aqueles aos quais nao per- doardes ser-Ihes-4o retidos” (Jo 20,21-23). Tra- tase sempre de ser enviado por Jesus para anunciar a Boa-nova de que, pela morte e res- surreiggo de Cristo, os homens esto reconci- liados ‘com Deus (Cl 1,20) e, uma vez conver- tidos, pela agao do Espirito Santo podem ser uma humanidade nova em Cristo (Puebla 330- 339). &, pois, anunciar o “mistério” da von- tade salvifica de Deus (Ef 1,9-10), mistério que estivera escondido e foi manifestado em Pe. José Maria Fructuoso Braga Cristo e pela pregacéo apostélica (Cl 1,26) E 0 mistério de Cristo agindo na historia para atuar 0 projeto de Deus. 1. O mistério de Cristo e a Igreja visivel © mistério de Cristo é uma totalidade di- namica. Pela encarnacéo o Filho de Deus as- sumiu a humanidade inteira e toda criacdo, Por sua morte e ressurreigdo restabeleceu a comunhéo dos homens com © Pai (CI 1,20). E a Jesus ressuscitado Deus fez Senhor ¢ Cristo (At 2,36), “Senhor do mundo e da his- t6ria” (Puebla 195). Agora os homens podem, “na forga do Espirito”, realizar 0 projeto de Deus de reunir todos em Cristo (Ef 1,10) atra- vés da comunhdo e participagao (Puebla 195). E © projeto de reunir todos os homens numa fraternidade “capaz de abrir a rota de uma nova histéria" (Puebla 193), de que todos se- jam sujeitos (Puebla 274) na comunhao e par- ticipagdo. Tal ¢ 0 mistério de Cristo na sua totalidade, compreendendo a encarnacéo, a morte e a ressurreicéo de Jesus e a acéo do Espirito na comunidade cristé e na histéria dos homen: A Igreja visivel é 0 sacramento do mis- tério de Cristo. Ea comunidade dos batizados que, confessando a Jesus como Senhor e Cris- to, procura realizar 0 projeto de Deus na his- toria, “Batizados em Cristo Jesus”, os cristéos foram “sepultados com ele para ressuscitar também com ele na ‘vida nova’” (Rm 6,3-4) da comunidade de fé. E esta ¢ chamada a “educar homens capazes de forjar a historia segundo a prdxis de Jesus” (Puebla 279). A Igreja se diz sacramento enquanto esta aber- ta a acdo do Espirito de Jesus ressuscitado, vivendo comunitariamente 0 projeto de Deus e dinamizando este projeto dentro da socieda- de. Nisto se situa a propria missao da Igreja. 2. A Igreja é missao A Igréja, mais do que tem uma missio ou esté em missio, é missdo: é 0 Povo de Deus enviado. “Na forga da consagragao messianica do batismo, 0 Povo de Deus é enviado para servir ao crescimento do Reino nos demais povos. E enviado como povo profético que a VIDA PASTORAL — MAIO-JUNHO DE 1981 — 23 eT nuncia o Evangelho ou faz discernimento das vozes do Senhor no coracdo da historia. Anun- cia onde se manifesta a presenca de seu Es- pfrito, Denuncia onde opera o mistério da i qilidade, mediante fatos e estruturas que im- pedem uma participacdo mais fraterna na cons- truco da sociedade e no desfrutar dos bens que Deus criou para todos” (Puebla 267). Tam- bém é povo sacerdotal que celebra a fé no mis- tério de Cristo na histéria e atua essa mesma fé através do empenho de realizar 0 projeto histérico de Deus. 3. A Igreja-missdo nao é fim em si mesma Compreendendo a Igreja como Missao e1 tendemos que ela nao existe em funcio de si mesma, porém a servico da realizacdo do pro- jeto de Deus. Ela ndo é fim em si mesma, é antes meio para atuar este projeto de comu- nhao e participag&o dos homens entre si e com Deus, o.que em ultima andlise € 0 projeto do Reino de Deus. Este projeto possui uma mensfo histérica e uma outra dimensio pés- chistérica. Atua historicamente dentro da_so- ciedade para transformé-la numa sociedade fraterna e justa, Esta fraternidade manifesta © Amor que é Deus dentro das ambigiiidades da histéria. Ao mesmo tempo esta fraternida- de é semente do Reino de Deus, que alcancaré sua plenitude somente na consumagao da his- toria, como a Jerusalém celeste descrita no Apocalipse (Ap 21,1-22,5). Esta fraternidade ha de ser vivida pela Igreja como sacramento do projeto de Deus para toda a humanidade. E é missdo da Igreja testemunhar e anunciar este Projeto aos povos. 4. Missio de testemunhar Por isso mesmo a Igreja é chamada a ser Povo que testemunha o mistério de Cristo. Para tanto ela se guia por dupla lei: a lei da encarnagéo € a lei do Espirito. Pela lei da encarnagdo ela reconhece Je- sus presente como Servo de Javé (Is 53) no povo que sofre as injusticas da sociedade: Jesus, Filho obediente de Deus “encarna, pe- rante a justica salvadora de seu Pai, o clamor de libertagéo e de redencdo de todos os ho mens” (Puebla 194). E 0 Povo de Deus sen- tese igualmente chamado a se encarnar com Cristo em todos os problemas do povo sofre dor e se torna uma comunidade encarnada ¢ comprometida com os homens que Deus ama. E por isso que a Igreja latino-americana, con- tinuando a prdxis de Jesus (cf. Puebla 196), privilegia os mais pobres ¢ fracos, que nao so apenas pessoas individuais, mas constituem uma classe de marginalizados pelo sistema se- gundo o qual esta organizada nossa sociedade. Pela ei do Espirito acredita no amor e 0 testemunha, em primeiro lugar procurando ser comunidade “corpo de Cristo”, em que os cri: tos experimentam-se como “membros uns dos outros” (Ef 4,25), assumindo cada qual sua func&o, para que todo o “corpo” cresca em amor (Ef 4,16), Acredita no amor e o testemu- nha lutando também, “na forca do Espirito”, pela libertagao integral dos oprimidos. Este seu testemunho consiste particularmente na “firmeza permanente” da acéo nao-violenta, participando da construcao do projeto de Deus com todos os que buscam retamente a justica, mesmo com aqueles que nao chegam a profes- sar a fé. Acredita que também nestes se en- contra a “forca do Espirito” de Jesus ressus- citado. 5. Missao essencialmente religiosa Na sua carta aos Bispos do Brasil, de 10/12/1980, 0 papa Jodo Paulo II assim e: creveu: “a Igreja ¢ portadora de uma missdo essencialmente religiosa e cumprir essa mis- so é seu dever prioritério. E certo que a mis- sdo da Igreja ndo se confina nas atividades de culto e no interior dos templos. Desde os tempos apostélicos, ¢ certamente inspirada na acdo do proprio Jesus, ela sempre procurou inserir-se na comunidade humana, sempre se debrugou sobre a humanidade, a imagem do ARTIGOS RELIGIOSOS Grande sortimento de novidades sobre o aniversério de 150 anos da aparicdo de N. Sra. das Gracas (Medalha Milagrosa) de diversos tamanhos. Correntes de ago — Tercos de Nylon — Medalhas Tipo Vaticano — Cruzes para Movimentos Religiosos — [mas — Chavei- ros — Imagens de Gesso — Componentes para Tercos — Medalhas a0 Mérito — Medalhas sob Encomenda. 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E is- to aconteceria se ela deixasse de “anunciar o Absoluto de Deus, pregar o nome, 0 mistério de Jesus Cristo, proclamar as bem-aventuran- gas € os valores evangélicos e convidar & con- versio, comunicar aos homens 0 mistério da graca de Deus nos sacramentos da fé e conso- lidar esta fé, — em uma palavra —, evangeli- zar e, evangelizando, construir 0 Reino de Deus”. Por isso mesmo, a Igreja assume a sua missdo de construir a fraternidade pela comu- nhdo e participacéo também dentro da socie- dade por causa do Reino de Deus, a partir do mistério de Cristo presente dentro da histé- ria, Seus membros se organizam ao lado até mesmo dos que ndo chegam a professar a fé, porque eles se compreendem chamados a “for- jar a historia segundo a praxis de Jesus” (Pue- bla 279). De fato a Igreja perderia sua identi dade, sua credibilidade e sua eficdcia verdadei ra se deixasse de amunciar Jesus Cristo, seja nao mostrando que o Reino de Deus s6 alcan- card sua plenitude além de nossa historia, seja omitindo a necessidade de urgéncia de lutar pela construcdo de uma sociedade fraterna co- mo semente e inicio do Reino de Deus na co- munhio e participac&o dentro da hist6ria dos homens. Este é o préprio ensinamento do Papa nos seus discursos quando esteve no Brasil € seu pensamento dominante nesta carta di- rigida aos nossos Bispos. Com muito acerto os Bispos latino-americanos tinham afirmado em Puebla: “Nao podemos desfigurar, parcia- lizar ou ideologizar a pessoa de Jesus Cristo, nem fazendo dele um politico, um lider, um re- volucionério ou um simples profeta, nem re- duzindo ao campo privado aquele que é 0 Se- nhor da Historia” (Puebla 178). A Igreja é enviada a testemunhar e anunciar a totalidade do mistério de Cristo. Conclusio da 1 parte © fruto da missdo é a “conversdo para a remisséo dos pecados” (Lc 24,47). Os conver- tidos pela pregac&o apostélica passaram a for- mar comunidade (At 2,42), que vivia profun- damente 0 amor fraterno e onde “ninguém considerava seu 0 que possufa, mas tudo era comum entre eles”. Deste modo “nao havia en- tre eles indigente algum” (At 4,34). A conver so, pois, j4 trazia um novo estilo de vida so- cial, atuando 0 projeto de Deus na comuni- dade, cujo testemunho causava profunda ad- miracdo ao povo (At 5,13). Também hoje, na América Latina, “evangelizados pelo Senhor em seu Espirito, somos enviados para levar a Boanova a todos os irméos, especialmente aos mais pobres e esquecidos. Esta empresa evangelizadora nos conduz & plena conversao € comunhao com Cristo, na Igreja; ela impregna- ra nossa cultura; levar-nos-4 & auténtica pro- mogio de nossas comunidades e a uma pre- senga critica e orientadora diante das ideolo- gias e politicas que condicionem a sorte de nossas nag6es” (Puebla 164). Il. OS. MINISTERIOS ECLESIAIS A propria missio da Igreja de realizar 0 projeto de Deus, sendo ela mesma comunidade, “corpo de Cristo”, em que os cristdos experi- mentam-se como “membros uns dos outros” (Ef 4,25), exige ministérios diversos para a prépria edificacéo do Corpo de Cristo até que este chegue & plenitude (Ef 4,11-13). E sua di- menséo missionéria de “instrumento do Se nhor, que dinamize eficazmente em direcdo a ele a histéria dos homens e dos povos” (Pue- bla 280), pela atuacéo dos membros da Igreja na transformacao da sociedade segundo o pro- jeto de Deus, faz a Igreja toda de certo modo ministerial a servico do Reino de Deus. 1, Como entender os ministérios eclesiais A Igreja é missio enquanto comunidade de fé, encarnada na histéria, procurando atuar © projeto de Deus. Dentro da realidade his- torica da comunidade, em meio as necessida- O ORGAO ELETRONICO ITSON Faz o ritmo. E vocé o sucesso. — epresntante INOUE ELETRONICA LTDA. ua Inécio Pereira da Rocha, 109 -Pinheiros Fone:813.8751~210.6806 - Sao Paulo VIDA PASTORAL — MAIO-JUNHO DE 1981 — 25 des da mesma, 0 Espfrito Santo suscita dons e carismas e ela organiza diferentes funcoes. Estas funcdes e servigos ¢ que vao constituir 0s ministérios eclesiais, aqueles que compdem © ministério hierdrquico, cuja origem remonta aos tempos apostdlicos e aqueles que a Igreja foi criando através dos tempos. © tedlogo Leonardo Boff tenta ajudar a compreenséo da organizacéo da Igreja imagi- nando dois momentos, que n&o s4o. cronolo- gicamente distintos, mas antes duas dimens6es da realidade eclesial': “Num primeiro momento vigora uma igual- dade fundamental de todos. Pela fé e pelo ba tismo todos so inseridos diretamente em Cris- to; o Espirito se faz presente em todos, crian- do uma comunidade e uma verdadeira frater- nidade, na qual todas as diferencas de sexo, de nacao, de inteligéncia, de posi¢ao social nao contam (Gl 3,28) porque ‘todos sao um em Cristo! (Gl 3,28). Na comunidade todos so en- dos, nao somente alguns, todos sao respon- saveis pela Igreja, ndo apenas alguns, todos de- vem santificar, ndo apenas alguns”, “Num segundo momento surgem as dife- rengas ¢ jerarquias dentro da unidade. Todos s&o iguais mas nem todos fazem todas as coi- sas. Manifestam-se inuitas necessidades que devem ser atendidas, H4 encargos, funcdes e servigos" (cf. Rm 12 e 1Cor 12), Todos esses ministérios, na sua variedade, exigem na co- munidade a presenca do ministério da coor- denacao ou unidade. 2. © fundamento dos ministérios Jesus Cristo € 0 alicerce da Igreja (1Cor 39-17). A comunidade crist esta edificada so- bre este alicerce qual “templo de Deus” e 0 Espirito de Deus habita nesse templo (1Cor 3,16). O alicerce é Jesus Cristo anunciado pelo Evangelho que os apéstolos levaram as comu- nidades por eles fundadas. Por isso, o alicerce é esse Evangelho, de tal forma que este é “norma” para discernir qualquer futuro aniin- cio A comunidade (cf. GI 1,89). Na epistola aos efésios vem afirmado que os apéstolos e os profetas séo o fundamento da Igreja, de que Jesus Cristo é a pedra an- gular (Ef 2,20-22). E sobre este fundamento se ergue 0 edificio, a comunidade crista formada de judeus e de gentios, como “habitacdo de Deus no Espirito” (Ef 2,22). Os profetas do Novo Testamento (cf. Ef 3,5; 4,11; Rm 12,6; 1Cor 12,2829) e os apéstolos formam a gera- so dos testemunhas que receberam a reve- lagao do projeto de Deus (de ambos os povos, judeus e gentios, fazer um sé povo) e anun- ciaram o Evangelho da comunhio e participa- cdo. Jesus Cristo é a “pedra angular” que faz a comunhdo. Os profetas e us apdstolos, como fundadores das primeiras comunidades cris- tas, — tanto de judeus como de gentios —, sdo 0 fundamento da Igreja, das Igrejas que eles fundaram e das Igrejas que depois se- riam estabelecidas em todo mundo. Eles cons- tituem “norma” para a Igreja de todos os tem- pos. Mas eles mesmostém por norma tltima Jesus Cristo. Deste modo entendemos que o fundamento da Igreja € cristico e é apostdlico, € cristico pela mediacdo apostdlica. O ministé: rio de Jesus Cristo foi continuado no minis- tério apostélico e este continua no ministério dos sucessores dos apéstolos, que tém como norma — a que eles mesmos precisam subme- terse —, a Palavra de Deus recebida dos apés- tolos (cf. DEI VERBUM 10). Na fonte de to- do ministério eclesial esté 0 ministério de Je- sus Cristo mediatizado pelo ministério apost6- lico. Os novos ministérios que através dos tem- pos o Espirito Santo suscita na Igreja tém a garantia de serem formas de continuar 0 mi: nistério de Jesus, quando autenticados pelo ministério apostdlico conservado no ministé- rio dos sucessores dos apéstolos 3. Como se elaboram historicamente os ministérios Nos tempos apostélicos as Igrejas funda- das pelos apéstolos aparecem organizando-se com servicos e fungdes diversas sob a aca do ARTESANATO COSTA IMAGENS — CRUCIFIXOS PRESEPIOS — MENINO JESUS FONES: 247.8713 e 548.8047 Rua: Domenico Palma, 168 CEP 04651 - Cidade Ademar SAO PAULO - SP. 26 — VIDA PASTORAL — MAIO-JUNHO DE 1981 Espirito Santo (cf. Atos dos apéstolos e epis- tolas paulinas). Paulo coloca sempre em pri- meiro lugar o ministério dos apéstolos e da lugar de maior importancia aos oficios da Pa- lavra. Sé depois ele enumera outros servicos (cf. 1Cor 12,28). Progressivamente os ministérios foram se institucionalizando nas formas e denomina- Goes que chegaram até nés. O ministério hie- rdrquico ordenado, constituido pelo ministério do Bispo, do presbitero e do diécono, sem diivida remonta aos tempos apostdlicos, em- bora a figura e oficios de cada um desses ministérios tenham sido definidos também pro- gressivamente. Da mesma forma o supremo ministério da unidade exercido pelo Bispo de Roma, de instituico origindria em Jesus Cris- to, se estruturou historicamente até chegar ao modo como hoje é exercido. No século XVI, o Concflio de Trento — como resposta ao protestantismo e na falta de uma mais profunda teologia da Palavra —, deu realce ao aspecto cultual do ministério do presbitero, tendo deixado em segundo plano a dimensio do antincio da Palavra pelo presbi- ero. Atribufu ao Bispo, como minus primor- dial, a pregacio do Evangelho. © Concilio Vaticano II é que representou um verdadeiro progresso na compreensao dos ministérios episcopal, presbiteral e diaconal, numa amplitude que foi muito além da pers- pectiva cultufal. Deu grande relevo ao minis- tério da Palavra. Ressaltou a colegialidade e- piscopal eo sentido e lugar do presbitério na Igreja Particular. Atribufu ao diécono o mi- nistério da caridade. Evidenciou a missio da Igreja no mundo contemporaneo. Ressaltou 0 “sacerdécio comum” de todos os cristéos e 0 lugar dos leigos na misséo da Igreja. Abriu a possibilidade da ordenagdo de leigos casados para o ministério diaconal permanente. 4. Os novos ministérios No clima de renovacao pés-conciliar, em diversas Igrejas Particulares do Brasil leigos de um e outro sexo foram instituidos minis- tros extraordindrios da Eucaristia e mesmo do Batismo, e ainda ministros da Palavra. Para toda a Igreja os ministérios de leitor e de acé- lito, ja revigorados dentro de uma maior com- preensdo da miso da Igreja, substituiram as ordens menores e 0 subdiaconato como de- graus A ordenac3o presbiteral e se abriram também aos leigos. A ordenagao do di4cono Ieigo permanente se introduziu em algumas Igrejas Particulares. Mas é sobretudo nas Comunidades Ecle- siais de Base que os ministérios diversificados, nGo-ordenados, surgem das préprias neces dades do Povo de Deus sob a acdo do Espiri to Santo, com muito menor risco de “clerica- lizagao” dos ministros, do que ocorrera em certos casos em Ambito paroquial ou diocesa- no — com ministros principalmente da Euca- ristia. Esses ministérios, os ja reconhecidos oficialmente e outros ainda sen denominagao especifica, foram sendo assumidos em comu- nhao com 0 Bispo e presbiteros responsavei ndo faltando pois a mediagao apostélica. José Marins e equipe, na obra comunid: des eclesiais de base: foco de evangelizacdo libertagao"?, distingue varios tipos de mini térios nas CEBs: 0 ministério de coordenacdo ou presidéncia da comunidade, “exercido em nome da sucesso apostélica, em conex4o com © Bispo ou sacerdote responsdvel pela Area’ © ministério de evangelizacao, que “faz a co- nexiio entre os problemas da vida real e 0 Evangelho”; 0 ministério de oracdo e liturgia, representado em geral pela equipe de liturgia, celebrantes do batismo, ministros extraordind- rios da Eucaristia, os rezadores de capelas etc.; 0 ministério de caridade e promogao, desde a assisténcia aos desabrigados, alfabetizacao, educagdo de base, até 0 servigo de promocao dos direitos humanos e a pastoral da terra. Ha sempre necessidade de forte conscién- cia e espirito de comunhio e participagao para que os ministérios no sejam exercidos como servicos isolados, mas se situem de fato na vida e missdo da comunidade. 5. Servigos eclesiais em ordem a construcao de uma sociedade justa Na América Latina a Igreja-instituicdo tem assumido diversos servigos diretamente ligados a construcéo de uma sociedade justa. Quando as conferéncias episcopais denunciam as injus- tigas da doutrina de Seguranca Nacional ou a CNBB aponta as falhas do Estatuto do Estran- geiro propondo alteragdes concretas dessa lei, a Igreja esta exercendo uma diaconia politica. Quando conferéncias episcopais, e outros ér- Béos a elas ligados ou alguns Bispos em suas Igrejas Particulares denunciam determinadas situagdes de injusticas, tomando posicao con- tra a expulsdo de posseiros de suas terras, contra 0 desrespeito aos indios ou a repressdo a greves justas, a Igreja est exercendo a di conia profético-critica. Também, com muita freqiiéncia, a Igreja exerce a diaconia da de- fesa dos direitos humanos sobretudo através das comissdes de Justica e Paz’, Os Bispos do Brasil estdo vigilantes para que as CEBs nao sejam instrumentalizadas por partidos politicos. Doutra parte, est4 sur- gindo a preocupacéo de que também as co- munidades cristas, sem se tornarem partidé- rias, eduquem seus membros para a agao po- Iitica e oferecam critérios para uma eventual opedo partiddria que seus membros viessem a tomar‘. Tais servicos situam-se dentro da misséo da Igreja no mundo, para o qual ela ha de 28 — VIDA PASTORAL — MAIO-JUNHO DE 1981 ser sobretudo sacramento do projeto divino de comunhio e participacdo. A miss&o evan- gelizadora responsabiliza a Igreja por uma evangelizacao libertadora que transforme a so- ciedade segundo o projeto de Deus. Nessa perspectiva a Igreja é sujeito do ministério de evangelizacio, competindo aos leigos a acéo direta na efetiva mudanca das estruturas da sociedade (cf. Puebla 786-799). Concluséo da 2 parte Os ministérios se elaboraram historica- mente, alguns remontando aos tempos apos- t6licos e outros surgindo de acordo com no- vas necessidades da Igreja. O ministério hie- rarquico ordenado — do Bispo, do presbitero e do didcono — assim como 0 ministério do Papa so reconhecidos de instituicao divina, sendo que sua configuracdo histérica e sua compreensdo teolégica passaram por diversas etapas desde a Igreja conhecida pelos livros do Novo Testamento até a Igreja hoje. © Vaticano II trouxe a preocupagao de salientar a Igreja como Povo de Deus, a Igre- ja comunidade, a Igreja atuando no mundo. Isto veio contribuir para o surgimento de novos ministérios néo-ordenados e nova com- preensao, bem mais dindmica, dos ministérios ordenados. O ministério hierarquico agora é visto sobretudo a partir de sua dimensao evan- gelizadora. CONCLUSAO GERAL A inter-relacdo ministérios-missdo ja ficou 20 menos acenada na 2+ parte deste artigo. Ela depende, na pratica, da preparacdo dos ministros baseada numa atualizada teologia da misséo e dos ministérios. Os ministros ndo-ordenados porém apren- dem os fundamentos desta teologia dentro do proprio engajamento pastoral, sem recusar a ajuda dos especialistas, que poderdo oferecer- thes critérios para um discernimento mais ob- jetivo até mesmo da pratica pastoral. Isto su- pondo que se trate de especialistas abertos As reais necessidades do povo. Os candidatos ao presbiterato, por exigén- cia de sua formagdo intelectual, durante um periodo prolongado permanecem sem muitos encargos junto ao povo. Nao thes pode faltar, porém, um conhecimento da realidade que nao seja meramente tedrica e uma pratica pasto- ral em que possam exprimir, progressiva e cri- ticamente, a sua caminhada nos estudos teo- logicos. Tanto os que se preparam para os minis- térios ordenados como os que se preparam para os ministérios diversificados ndo-ordena- dos, tém necessidade de um crescimento espi- ritual adequado. Porém, toda espiritualidade dos ministros se fundamenta na vida crista e sé a partir desta é que se especifica como espiritualidade presbiteral ou como espiritua- lidade laical ministerial. Na base est sempre © sentido de Igreja-missao. Missao ¢ ministérios se tornam reciprocos na vida da Igreja muito mais do que na siste- matizagao teoldgica. 1 Borr, L., Ecleseogénese, Ed. Vozes, Petropolis, 1977, 4243, 2 MARINS, José & Equire, Comunidades ecle- siais de base: foco de evangelizacdo e libertagao, Ed. Paulinas, S. Paulo, 1980, 103-106. * Seguimos a linguagem adotada por Leonar- do Boff na obra A fé na periferia do mundo, Ed. Vozes, Petropolis, 1979, 8691. 4 Cf, Sugestoes para a atuagdo pastoral _na politica partiddria, equipe da Prelazia de Séo Felix do Araguaia, O SAO PAULO, n. 1.301, p. 5. BIBLIOGRAFIA consultada, além das referidas nas notas José Comblin, Teologia da missdo, Ed. Vozes, Petrépolis, 1980; René Laurentin, Luz do Novo Testamento sobre a crise atual dos ministérios, CONCILIUM 80 (1972), 1242-1251; Franz Schnider — Werner Stenger, A’ Igreja como edificio e a construgao da Tgreja, CONCILIUM 80, 1252-1264; André Lemaire, Dos servicos aos ministérios: Os Servicos eclesidsticos nos dois primeiros séculos, CONCILIUM 80, 1265-1277; Peter Kearney, 0 Novo Testamento estimula uma ordem eclesidstica di- ferente? CONCILIUM 80, 1278-1289; Alexandre Ga- noczy, *Grandezas e misérias” da doutrina triden- tina dos ministérios, CONCILIUM 80, 1300-1309; A. Antoniazzi, Os ministérios na Igreja hoje, Ed. Vozes, Petrépolis, 1975 AS PRIMEIRAS PALAVRAS DA FE DE JESUS A IGREJA — Jacques Guillet — Col. “Crer e Compreender” — 0 livro aborda o aspecto da palavra, das formulas pelas quais a Igreja expressa a sua fé. Trata, também do nascimento e da elaboracao das diversas formulas através das qui i if se exprimiu inicialmente a fé da Igreja primitiva. Colocando- -se as palavras e as férmulas em seu meio de origem e nas situagdes que elas pressupdem, consegue-se, além i dos textos e palavras, captar a experiéncia da fé vivida na 1 - comunidade. — 160 paginas, Cr$ 170,00. VIDA PASTORAL — MAIO-JUNHO DE 1981 — 29

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