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Maria de Lourdes Viana Lyra A UTOPIA DO PODEROSO IMPERIO PORTUGAL E BRASIL: BASTIDORES DA POLITICA 1798 - 1822 SETTE LETRAS 1994 by Maria de Lourdes Viana Lyra Copa Luciana Araujo Buitoragao Eletrénica: Jorge Viveiros de Casto Revisto: Patricia Lanna Lyra Pedro Suscekind Viveiros de Castro C1P-Brasil. Catalogacio-na-fomte Sindicato Nacional dos Editoes de Livros, RJ Lys, Maria de Lourdes Viana L998 ‘A utopia do poderoso império : Portugal e Brasit bastidores da politica, 1798-1822 / Maria de Lourdes Viana Lyra. ~ Rio de Janeito : Sette Letras, 1994, 2569. Incl bibliografia ISBN 85.85625-10-4 1. Brasil - Histéra -Império, 1822-1889, 2, Brasil Histéria - Pefodo colonial, 1500-1822. I. Titulo CDD - 981.04 94.0528 cbu- 981 LIVRARIA SETTE LETRAS LTDA Rua Maria Angélica 171 loja 102 Jardim Boténico ~ Rio de Janeiro ‘CEP 2470-200 - Tet, (G21) 537-2414 ‘Meu agradecimento especial ‘aos colegas e amigos que contribuiram com observacdes, criticas e sugestdes preciosas & elaboracao deste trabalho. APRESENTACAO - € assim lancariam 0s fundamentos do mais extenso, ligado, bem defendido e poderoso império, que é possivel que exista na superficie do globo no estado atual das nagdes que o povoam...” (Hipotito da Costa. Correio Brasiliese. 1813) No alvorecer do século XIX e no momento em que se transferia para o Brasil a sede do governo colonial portugués, o jornalista Hip6lito José da Costa escrevia de Londres externando o sentimento de expectativa em relago ao glorioso futuro de um “poderoso impé- rio” com perspectivas de fundaeZo no Novo Mundo. A ctenga num, destino promissor para o Brasil, explicitada com énfase por um dos agentes ativos na fase inicial do processo de Independéncia, chama a atengdo € desperta o interesse na busca de maior esclarecimento so- bre o seu sentido politico. registro desse termo, que remete & idéia de um porvir ventu- +050 para o Brasil, é encontrado ndo apenas no texto de Hipélito da Costa, mas em escritos de outros agentes que se destacaram na con- ducao da mesma politica desde os iltimos anos do século XVIII como, por exemplo, D. Rodrigo de Sousa Coutinho ¢ José Bonifiicio de ‘Andrada ou, ainda, na fala de Gongalves Ledo que atuou com desta- que no momento da ruptura, ou seja, da Independéncia em 1822. As- sim pareceu oportuna a reflexto mais aprofupdada sobre as concep- 7 4 UTOPIA DO PODEROSO IMPERIO $8es entdo correntes de império, no intuito de melhor apreender os componente histéricos que levaram & inslituigfo de um império no Brasil ¢ mais, de um império fundado sob perspectivas de um glorio- 0 destino, © tema do império, cotocado em questio pelo Prof. Pierre Vilar (Professor Honorério da Ecole Pratique des Hautes Etudes de Université de Paris) numa troca de idéas, revelou-se instigante des- eas primeiras diligéncias nessa direg4o. Passou entdo a merecer mai- “or atengio o estudo da particulaidade do processo de formacso do Estado imperial do Brasil no context histrico da evolugdo das col6- nias espanholas e portuguesas na América ‘Ao cardter singular da formagio do Estado nacional ~ em cons- titur-se império - somava-se naquele momento o esforgo entéo em- Preendido para a manutengao da unidade politica do seu vastoterrit6. Tio e a énfase acentuada nas potencialidades do Brasil que, com 0 acirramento da crise européia e a conseqiente mudanga da corte por. ‘uguesa para o Rio de Janeiro, passou imediatamente a ser nomeado de “vasio” e de “poderoso império”. Mesmo levando-se em conta 0 peso da transferéncia da sede da metrépole portuguesa para o Brasil, em 1808, ¢ da consequente forma de governo entio adotada pelo Es tado brasileiro, em 1822, permanecia, ou reforgava-se, uma questao fundamental: por que a instituigdo do Império do Brasil e nio do Rei- no do Brasil? Em busca de respostas ’ essa questio identificamos no projeto politic para a regeneracao do Estado portuguts, elaborado ém finais do séeulo XVIII - segundo os pressupostos do reformismo ‘tustrado e que propunha a edificacao de um império atlantico, um im- Dério que uniria o Velho e o Novo Mundo portugues -, 0 embasamento Dolitico-ideolégico de um projeto posterior de fundagdo do “império brasitico [Nessa perspectiva, buscamos verificar os condicionamentos desencadeadores do proceso de transformagdo da colonia em impé- rio erefletr sobre a origem, ou as origens, da interligagdo estabelecida Brasil versus Império. Ao ampliar a discussSo sobre a particularidade do proceso de Independéncia do Brasil, tema fundamental a historiografia brasileira, consideramos oportno repensar também a ‘dia de ambigtidade que parece caracteizé-lo no contexto das inde- pendéncias coloniais 18 APRESENTACAO ‘A Independéncia politica do Brasil apresenta particularidades para as quais dedicamos atencio especial: ocorre num movimento de aproximagio € ndo de rejeicdo & antiga metr6pole; manteve 2 unidade politica de todo o territério que compunha a América portuguesa; se Constituiu em Império adotando a forma de governo mondrquica, for- ma essa estranha ao Novo Mundo, Tais singularidades s2o entendidas pela historiografia como uma conseqiiéncia “nataral” do fato inusita- «do da transferéncia da sede do governo do império colonial portugues para 0 Brasil, no inicio do século XIX. Mas, somente esse fato teria ‘al poder explicative? Em busca de novos elementos elucidativos um ‘outro esquema interpretativo foi sendo formulado, A anilise da documentagao ¢ da historiografia nos sugeriu uma rediscussio tanto da conjuntera politica, do quadro ideol6gico e das cconcepgbes de Estado recorrentes nos finais do século XVIII e inicio dlo século XIX, quanto do papel desenvolvido pelas utopias, crengas © mmitos no pensamenta politico da época. Através do enfoque de algu- mas questdes essenciais referentes ao posicionamento critico da for- rma de pensar o homem ¢ as insttuigées na nova ordem sugerida, bus- ‘camos situar 0 tempo histérico em que diferentes visdes do mundo se ccolocaram e definiram um novo pensamento ~ cuja marca foi a andl se racional da natureza e do homiem em sociedade. A visio do con- texto europeu de difusio das “novas idéias” possiblitou a identifica- ‘0 dos fundamentos ideologicos do projeto reformista claborado em No reinado de Joio V (1707-1750) o ministro D. Luis da Cu- nha constatando a debilidade do Reino Taso questionava: “Que é Por- ‘gal? respondendo, com ceticismo, no passar de “uma orelha de terra” euja sobrevivéncia dependia “totalmente das riquecas do Bra: sil". E aconselhava, por ser “mais cémodo e mais seguro estar onde se fem 9 que sobeja”, a transferéncia do ret para o Brasil para que “nele tomasse 0 tito de Imperador do Ocidente”.+ E, tem-se not cias de ter sido preparada uma esquadra para transportar para 0 Bra- | sil, em 1762, 0 rei D, José I, ante o perigo de invasdo do Reino pelos cexéreitos da Franca e Espanha.* Nessa conjuntura, a evidéncia da cri- se do sistema diante da Independéncia das colénias inglesas, indicava a0 conde Aranda, embaixador da Espanha em Paris, a iminéncia da perda do império colonial levando-o a sugerir ao seu rei que propu- sesse aos Braganca a troca do seu territ6rio europeu ~ que se agrega- ria a Espanha ~ pela parte meridional das colénias espanholas da ‘América, onde poderia ser “grdo-senhor e semt as riscos de cé (...) € onde mais dia, menos dia, seria maior que no canto da Lusitania” * a) A Trajetéria Histériea da Utopia do Novo Mundo. A idéia tantas vezes aventada era novamente retomada como sai da nica & preservagao do pequeno Reino, que naquele momento crucial encontrava-se, no entender de Silvestre Pinheiro, exposto a “hidra entio nascente, que jurava a inteira destraigao das antigas di- nnastias da Europa” nao thes restando, entdo, “outro recurso (...) Se- do 0 de procurar quanto antes nas suas col6nias um asilo” seguro.? Em 1801, quando jé fracassara a segunda coalisio das poténcias eu- ropéias contra a Franga napolednica ¢ as exigéncias da diplomacia francesa, para assinar um tratado de paz com Portugal, excediam o limite da soberania lusa, o marqués de Alorna escrevia ao principe 108 0 Novo IMPERIO LUSITANO regente opinando que a grave alteragio do quadro conjuntural ~ “os céleulos de hi dee anos saem todos errados na era presente” - torna- ‘va urgente e imprescindivel uma atitude salvadora do trono para que “no suceda a sua Coroa, 0 que sucedeu a de Sardenha, a de Napo- les (...) a todas as Coroas de segunda ordent na Europa”. Convém anotar que a Convengio de Paz assinada em 6 de janeiro de 1801, em Badajoz, impunha a Portugal, além da perda de Olivenga na Europa, perdas no territ6rio colonial em beneficio da Guiana Francesa (cerca de sessenta milhas) ¢ a proibigdo da entrada de navios ingleses em seus portos.* ‘A consciéncia quanto 4 condigio inferior da Monarguia portu- guesa aliada & percepeao da fragilidade de Portugal como metrépole e da falta de opgao frente aos interesses das grandes poténcias, além da conscigneia sobre a importincia das colénias no jogo politico eu: ropeu, levou 0 marqués a sugerir uma estratégia de falsa ameaca, como sinica saida disponive: “V.A.R. tem um grande império no Brasil, € 0 mesmo ini- igo que ataca agora com tanta vantagem, talvez que trema e mude de projeto, se V.A.R. 0 ameacar de que se dispoe a ir ser Imperador naquele vasto territbrio adonde pode facil ‘mente conquistar as colénias espanholas e aterrar em pouco tempo todas as poténcias da Europa”. E seguia instruindo que, para criar a aparéneia de real partida € impor ao inimigo o recuo, principe regente deveria “mandar armar com toda pressa os navios de guerra” e neles embarcar com a “prin- cesa, seus filhos e tesouros”. No caso da encenagio nao convencer 0 inimigo, nada mais Ihe restaria a ndo ser realmente retirar-se “para os sews Estados do Brasil e a nacdo portuguesa sem- pre ficard sendo naso poruiguesa porgue ainda que as cin co provincias padegam algum tempo dentro do jugo estran- geiro V.A.R. poderd criar tal poder que the seja facil resgaté-las, mandando agui um socorro que junto com 0 ‘amor nacional se liberte de tudo”. AA iminéneia da vexatoria encenacao assinalava a precdria situa- 0 do Reino luso, cuja opeio de sobrevivéncia restringia-se & retira 109 4 UTOPIA DO PODEROSO IMPERIO da da sede da Monarquia para o Brasil. E no quadro de agravamento da situacio de impasse, que evolufa em ritmo e em consondncia a0 do Cconfronto Inglaterra/Franea, 0 reformismo ilustrado assumiw 0 coman- do da discussio ¢ encaminhou a reflexdo sobre a crise em termos ra- clonais, invertendo o quadro humilhante de encurralamento ¢ fuga na imagem positiva de uma atiude “nobre e resoluia” do povernante que, atéato a0s compromissos assumidos em defesa do seu Reino e dos seus siditos, sabia buscar os meios cabiveis para 98 salvar. Este foi o tom dos argumenios utilizados, por exemplo, por D. Rodrigo de Sousa Coutinho para indicar ao principe regente a sibia estratégia de retira- da da Corte de Lisboa e imediata transferéneia da sede da Monarquia para o Brasil “Quando novos riscos e iminentes perigos se aproximam ara a conservacdo da independéncia da Monarquia (...) quando se considera que Portugal por si mesmo muito de- fensavel, néo é a melhor parte da Monarquia; que depois de devastado por uma longa e sanguinolenta guerra, ainda res- 1a ao seu soberano, ¢ aos seus povos o irem criar um pode- roso império no Brasit, donde se volte a reconquistar 0 que ossa ter perdido na Furopa”."' Ante a retomada da guerra entre Franca ¢ Inglaterra, em 1803, urgia uma definigao de Portugal, ¢ a (ransferéncia da monarquia por. tuguesa para 0 Brasil colocava-se como a alternativa certeira, pelas perspectivas que se abririam. E Sousa Coutinho nao poupou esforcos para argumentar serem maicres os riscos da conservagio da Corte na Buropa do que os perigos, possivelmente advindos, com a sua trans- feréneia para o Brasil: " Quaisquer que sejam os perigos, que acompanhem wna 120 nnobre e resoluta determinagio, os mesmos sao senipre mui- to inferiores aos que certamente hdo de seguir-se ao da en- sada dos franceses nes portos do Reino, e que ho de tra- zer @ abdicacdo de V.A.R. a sua Real Coroa, a abolicao da Monarquia ou wna opressao fatal, qual a que geralmente se ue experimentam os napolitanos e a dilaceracao dos vastos dominios da Coroa de V.A.R., nas ilhas contiguas & 0 Novo ImpERIO LusiTANO Europa, na América, na dfrica, ena Asia, procurada pelos ingleses para se idenizarem da fata de comércio com Por- tugal e para se apropriarem das produsBes de to intres- santes dominios ultramaritos, que tmerto os franceses qui ram fazer seus” © quadro descrito pelo ministro demonstra o grau de conscién- cia sobre os reais interesses eri jogo na guerra entre as grandes po- tencias, além do pleno conhecimento da vulnerabilidade de Portugal ‘no contexto europeu. Tanto a condigao de “segunda ordem” entre as ‘monarquias européias, como a de completa dependéncia econémica da ‘metrépole a produczo colonial - sintomas de uma mesma realidade ~ colocavam a metr6pole lusa nun beco-sem-saida, ou melhor, frente @ ‘uma tinica ope: transferir-se para o Brasil. Por mais extemporanea ‘que pudesse parecer, a transplantagdo da metr6pole para a col6nia constituia eficiente estratégia para assegurar o dominio da parte mais, rica do império ~ 0 Brasil e, sobretudo, salvar o Reino, ea Monar- quia portuguesa. ‘Competia 20 governo saber agir no momento certo para evitar a catistrofe do aprisionamento pelos franceses. O plano consistia numa postura de cautela inicial “a prudéncia exige que se evite o quanto for possivel o chamar mais fortemente a atengaio do governo francés” ¢ continuidade da politica de neutralidade. A entrada dos franceses na Espanha seria o sinal de agressio e Portugal reagiria, iniciando 0 ata- (que a partir do Brasil, com o “instantdneo ataque pelas capitanias do Rio Grande do Sul e pela de Sao Paulo sobre as margens do Prata” pasando, entio, a fomentar a “guerra nacional” através de wm cha- ‘mamento prévio de “cada individuo @ defesa da sua religido, seu so- bberano, 0 seu governo, a sua propriedade ¢ a independéncia de sua nacao”, Nessa empreitada, a a¢30 dos parocos nos “pilpitos e con- {fessionérios” seria complementar a dos “folheros. que sem compro- ‘meterem V.A.R. dispuséssemas espiritos para 0 movimento” ¢ incu- tisse em todos 0 emperiho a lua pela sobrevivéncia da nagdo lusa: “milhares de papéis que pintassem debaixo das mais justas e negras cores as vistas das franceses, a sua anbigao, a sua associagao com os esparhdis, a perfidia desses iltimos, os projetos de se senhoriarem de Portugal, de reduzir os povos ‘a mais cruel escraviddo (...) nao esquecendo de fazer conhe- ul 4 UTOPIA DO FODEROSO IMPERIO. cer os esforcos que V.A.R. tem mandado praticar, para pro- ‘curar por todos os meios evitar a guerra e assegurar a neu- tralidade”. Observemos que 0 plano de ajo seguia o camino modernizante de uiligago das formas mais avangads de dvalgaco de ies. 0s Panfets impress. Evideniemente com o devido cuidado quanto 20 Seu uso, para a formagio de uma opindo publica fevordvel ao desig. nos do governo, que naturalmenteseriam os mesmos,sja os deca indivduo, sea 0 6 toa 3 nagde Na defesa dessa esata ministo Sousa Coutinho hou com ardor desde 1801, quando comesara a argumentar que “transportar a capt do Inpério para o Bra” era uma saida mats dignaehonrrosa do que “aceitar condides daras ¢ ignominiosas” dos iimigos.* A posigdo do minisio, no enani, encontraia ores resistencias, Os Imereadores © a ndbreza se opunham & poli de favorecimento 0 Brasil, que ensejava o fim dos monopdliose dos coneatos reais de conde auferiam huctos vltsos --c nfo admiia a hipsese da perda, para Portugal, do staus de sede da Monarqia.” Ao mesmo tempo. 2 Situaglo de encurtalamento de Portugal levava a0 profundamente Jos conftos no grupo do poder em relaio & posigdo a ser adotada por Portugal face a Inglaterra ou Franga. A poi de alianca com a Espana na guerra conra a Franca, em 1792, eustara enormes pes, dasa Portugle, desde eno, duns corenesdistinas se posiiona face 8 neutalidade com Franga ou fideidade &lnglaterea ‘\policadeendida pelo miisro Sousa Coutinho apresentava fe coincident a dos ingests, que desde 1801 jé se dispunham ofa mente a asseguraro embarque da Core portuguesa para o Brasil. Ta xado de angléfilo, 0 entéo super-ministro Sousa Coutinho, que cumulava as pastas da Marinha e Ultramar, dos Negécios Estrang ros ¢ da Guerra e, ainda, a presidéncia do Real Erério, se viu forgado @ afastar-se do governo, Interessava particularmente & Inglaterra a transferéncia da Mo- narquia portuguesa para o Brasil, Além de assegurar a continuidade do comércio com a providencial aliada, tal medida significaria a sua livre entrada nos mercados do Brasil ¢ 0 apoio estratégico das costas brasileiras as suas operagdes navais. Para a Inglaterra, que se via ameagada pela Franga de estrangulamento nas rotas comerciais, as- 12 0 Novo IuPERIO LUSITANO segutar 0 acesso aos portos do Brasil tornava-se questio vital. O all ‘mirante inglés, Donald Campbell, em correspondéncia ministerial, ja anotava “a extrema importancia de impedir que os franceses se apos- sassem do Brasil” , uma ver que as costas brasileiras, do Cabo de Sa0 Rogue ao Cabo Frio, compunham “a mais decisiva posi¢do geogréfi ca.do mundo” e sua utiliza¢ao significaria 0 completo dominio da na- ‘vegaca0..° O que revela o graut da importincia estratégica, para a In- alatersa, da transferéncia da sede da monarquia portuguesa para 0 Brasil A diplomacia inglesa participou e pressionou, com firmeza, a mudanca da sede do império portugués para o Brasil, chegando a reinvidicar a autoria da idéia e, evidentemente, a co-participacdo nos Frutos da instalacae do império no Novo Mundo. Bastante sugestivo & © teor de um discurso do ministro inglés, William Pitt - chamado 0 “segundo Pit” e que disigiu a politica inglesa entre 1783-1801 e 1804- 1806 ~ por revelar o grau de envolvimento da Inglaterra nos negécios de Portugal: “Muito de antemdo e com muito vagar, tem a Gra-Bretanha feito considerar com precisa e minticia, assim matematica, como politicamente, todo aquele pais ou regiao, chamado América Meridional, onde 0 nosio antigo aliado e amigo Portugal temi assente 0 seu Império Portugués. Oh, nobre e magnanimo projeto pelo qual a dinastia de Braganca seria respeitada nas quatro partes do mundo {...) onde o princi- pe, do Brasit pode reconquistar seu Reino; & de 14 que ele pode ditar as leis & Europa e com cetro de ferro pode casti- ‘gar a Franca por causa de seus crimes ¢ a Espanha por cau- sa de suas perfidias”.'* Ao entusiasmo demonstrado pelo nobre e magndnimo projeto 0 rministro explicitava a real inten¢io do governo inglés: “Colocadéo 0 trono de Portugal na América, entao a Gra-Bretanha junto ao seu an- tigo aliado, aumentaria 0 Império”. E, se_alguma diivida ainda res- tasse quanto a firmeza das suas intengdes, 0 ministro objetivamente a desfazia ao declarar que a indecisio do principe regente: “ignorante dos seus verdadeiros interesses ou corrompido elas proposigdes pacificas da Franca, ndo anuir as propo- 13 4 UTOPIA D0 PODEROSO IM PERIO sigdes da Gra-Bretanha, esta fard desembarques e invasoes, uma no Brasil, ourra no Par”. Ameaga que nto seria concrtizada caso 0 principe recolvease “anuir ao importanissino plano, evidentemente demonstrado pela Gra-Bretana” 0 qu signifcava por em execugto a estatégia de tor- aco “Inpério da América do Sule a GrosBretana (.) igadosetr~ rnamente,fatendo estas das poténcias un comércio exclisivo™ Certo do seu poder de persussa0, em decorréncia do ditto his- toricamente adquirido ~ ante a preeminéncia assumida nos negScios portugueses = para definir os noves rumos, o politico inglés insruia Que 30 “Inperador da América” competi “apoderarse ago de to- das as possesses da Espana” e evidarimeditamente da edifcagto Ge uma cidade, uma "Nova Lisboa", no cento doterrtsio, qual se Tigariam, por estadas devidamente aberis “Caiena, Pard, Olinda, Rio de Janeiro, Callan, Lima e Santiago” . Cab a0 principe regente D. Jafo a exeeusio do *sabio plana” go contrtio, “estaia perdido para sempre”. E, neste mesmo tom, divulgou-se em Londres, em 1807, um folheto andnimo escrito em francés “Réfletions sur la condhite de Prince Régent du Portugal” com a clara inten de for Gata transferéncia éa sede da Monarquia sa: “E no Brasil que Por- Iugal se tomar uma poténcia (.) 0 Brasil €0 seu redo inexpugn- vel contra a tirana da Europa”, pregavao folheto,aconselhando a0 Principe tomar a “magndnina e sabia resoucdo” > O intereste em formar um grande mercado na América do Sul atendia 3 fundamentago da prpria natureza do Estado ingles, que, se- undo H, Meriva, um politic ingles do ssulo XIX, cosistia em a= pliar as reas de sua auacdo para o desenvolvimento do seu comércio: “Diinstinct, nous pensons que le destin de notre nation n'est as ici, dans la petite ile que nous occupons; que Uesprit de L'Angleterre est volatile, non pas fixe: qu'il vit par notre langue, notre commerce, notre industrie, dans tous ces réseaiex de communication par lesquels nous emibrassons et unissons une vaste multitude d'Etais dans le monde entier, les civilisés et les autres” © que reforga a concepeao de império formulada por Adam Smith. As novas relagdes deveriam se basear numa relacao de ampla 14 0 Novo IMPERIO LUSITANO parceria, tendo como objetivo o incremento da produgo e do comér- cio. E oportuno anoiar que jé em 1792, de passagem pelo Brasil como memibro da comitiva diplomatica a caminho da China, o ingles John Barrow observou e registrou em seus escritos, publicados em 1806, as potencialidades excepcionais da colénia portuguesa “essa orci da América do Sul, una das regides mais fereis do globo” cexpressando suas certezas quanto ao futuro promissor do império lus, desde que unido ao Brasil estou certo de que se a Corte portuguesa tivesse bastante ‘energia e atividade para transferir-se para o Brasil (...) un poderoso e brilhante império poderia ser rapidamente cria- do na América do Sul” © que fazia coro a0 acalentado sonho dos portugueses sobre a edificagio de um “poderoso império” lusitano, a partir do Novo Mun- do ¢, possivelmente, aguardando benéficos frutos para o seu pais, a Inglaterra, parceira tradicional do Estado portuguts. ‘A Franga, no entanto, no convinha uma aproximagdo maior centre Portugal e Inglaterra. E 0 Tratado de Fontainebleau, assinado em 27 de outubro de 1807, entre Franea e Espanha, prevend a parti- Iha, entre elas, do territério portugués na Europa e das suas posses- s6e5 coloniais ~ 0 que transformaria o rei da Espanha em “/mperador das duas Américas” ~ representava um wltimawwn inconteste.”” Em 12 de novembro, por exemplo, 0 jornal "Le Moniteur”, érgao oficial do governo buscava desestimular os portugueses atacando duramente a itica inglesa e pondo em divida a seguranga de suas aliancas: “0 Principe Regente de Portugal perde seu trono; perde-o por causa das intrigas dos ingleses (...) Que faz, pois a In- (laterra, essa aliada paderosa? Olha com indiferenca o que ‘se passa em Portugal. Que fara, quando Portugal for toma- do? Iré apossar-se do Brasil {...) A queda da Casa de Braganca constituird mais wna prova de ser inevitdvel a per- da de todos quamtos se unirem aos ingleses” A contingéncia da guerra ¢ a situaglo de encurralamento de Por- tugal no jogo politico das grandes poténcias européias - face & peque- us A UTOPIA DO PODEROSO 1MPERIO rez do Reino e & potencialidade das suas colénias ~ é um dado con- vincente 20 entendimento da pressio exercida pela mudanca da me- épole para a colénia mais procminente, o Brasil.” Mas no explica por sia identidade, imediatamente estabelecido, entre o Brasil e a idéia de nove e poderoso império. ‘A particularidade do processo histérico de formacio do Estado brasileiro em consttuir-se império, ¢ 0 esforco empreendido para a ‘manutenc3o da integridade do vasto terrtério que compunha a Ame rica portuguesa, so normalmente vistos, pela historiogratia con- ‘cernente, como decorréneia natural ¢ imediata ds instalagao da sede ‘da Monarquia metropotitana na colénia, fato que, aliado & vastidso 4o territrio e 8 imensidao de recursos existentes, teria vocacionado Brasil 8 condigdo de império.* Dat o habito de ler-se a referéncia “im Pério do Brasit” como um projeto novo, s6 pensado a partir da trans- feréncia da Corte portuguesa, em 1808, letura que limita a compee- ensto do processo de Independéncia e de formagao de um Estado monsiquice imperial no Brasil do século XIX. ‘A reconhecida importincia dos fatores acima mencionados na ‘opsdo pela forma imperial do Estado independente nao explicaria, no fentanto, a adesio de todas as provincias ¢ de suas representacaes lo- «ais a0 projeto da Corte do Rio de Janeiro, nem tampouco identifica ‘ inleresse central pela unidade, forca mantenedora do império. A én- fase acentuada aos recursos da coldnia, que passava a ser automatica- mente nomeada de Império, nos instiga a0 alargamento da investiga- io para melhor entender a dimensio histérica,seja das conseqUéncias da transferéncia da metr6pole para o Rio de Janeiro, seja da concep- cio de império do Brasil, Esta é uma questdo fundamental 8s nossas reflexdes € consttui um dos aspectos de maior abrangéncia na apre censdo do pensamento e da acio dos agentes definidores do processo politico de formacio do Estado nacional * Observemos que enguanto a Inglaterra‘e a Franga, no combate travado pela hegemonia do poder na Europa, disputavam também a supremacia do comércio nos mercados da América, em detrimento dos interesses das mais antigas e enfraquecidas metrdpoles ~ e nestester- 6 0 Novo suPeéRIO LustTaNo ‘mos concebiam a forma de dominagao imperial ~ a luta travada por Portugal, neste contexto, situava-se muito mais no campo da auto-pre- scrvacio, Portanto, resguardar a posse dos seus dominios na América consttuia 0 objetive imediato. Uma vez instalado no Brasil, 0 gover- no teria condigdes de reaver o tervt6rio luso na Europa. Assim, con- vietos todos de que salvar a colénia Brasil representava salvar o im- pério portugués, transferiram para o Rio de Janeiro a Corte, os tesouros reais todo o aparelho de Estado portugues. Notemos que desde © momento inicial de sugestio pela mudanga, os discursos jé carrezavam na adjtivagio do “grande” “poderaso” “wasto™ impétio, cenfatizando o potencial disponivel nos domfnios da América, para a salvagéo do Reino na Europa. De qual império, entio, estaria falando D. Rodrige de Sousa Coutinho, a0 afirmar, em 1803, que aos portugueses 6 restava “cri- ‘ar um poderoso império no Brasil"? Qual a intengao da referéncia ob- jetiva de criagdo de um "poderaso impéria” no Nove Mundo? Se cri- ‘acto pressupunha algo novo tratava-se, ento, de um outro projeto de dominagio, sem relagio com o programa reformulador proposto no final dos setecentos? Qual seria a real posigio da col6nia Brasil no contexto do “paderoso império"? Tentemos refletir sobre estas ques tes para maior compreeasio da problerratica historica da Indepen déncia e da concomitante instalago de um império nos trépicos ‘A reunigo de extensos territ6rios coloniais sob a dominacio de ‘uma meitépole curopéia conferiu is terras do Novo Mundo, desde os tempos iniciais da colonizagao, a noga0 de impérios ~ porque unidos © governados, 8 forga das armas, por um s6 soberano. Desde entio, consiruiu-se no siovo e longinguo pundo um sistema de relagdes poli- ticas, econdmicas e socias, identificado as meteSpoles européias, 0 que remetia a idéia de impérios elassicos, cuja matriz era o Impétio Romano.” Desde a antiguidade, 0 carter de universalidade ¢ o de divinizacio dos soberanos conferiu a0 titulo de imperador grande fas- ‘ini, pelo sentido de poder que encerrava: “rei da totalidade” na [Assiria; “rei dos zeis” na Etiépia; “rei universal” na india.” O rei da Franga considerava-se “enpereur en son rayaume” € n0 século XVI, Felipe 11 desejou ver-se coroado “Imperador das tndias”. Em Por- tugal, sempre que se pensou na possibilidade da transferéneia do rei para a América, o titulo de imperador era cogitado, em funcao da vas tidao do terrtério e como simbolo de poder e gléria. O ideal de reali- 7 4 UTOPIA DO PODEROSO IMPERIO zagio de “wm grande império ao lado ocidental do Atlintico” acalen- tou o sonho de grandeza imperial nfo apenas entre as governantes por- tugueses, mas, também, entre os ingleses como bem anotou Adam ‘Smith, em 1776. E para a concretizagao desse ideal, projetos inova- dores foram elaborados. Quando o principe regente aportou no Rio de Janeiro, em 1808, foi saudado com vivas de “Imperador do Brasil” e versos que diziam “América feliz tens em teu seio / do novo império o fimdador subli- me”, Ao declarar, do Rio de Janeiro, guerra a Franga, © governo anuneiava: “A Corte levantard a voz do seio do novo império que vai criar”. E um dos primeitos escritos a relatar a “triunfante entrada do primeiro soberano da Europa na mais aforunada cidade do Novo Mundo” & enfético ao apontar a “fuaura gléria da Monarquia” pela criagio, no Brasil, de “um grande império”, explicitando a esperanga latente no “Novo Império Lusitano, que Vossa Alteza Imperial veio criar na América Meridional” langando, assim, 0s: “fundamentos de um grande império, 0 qual pelos constan- tes desvelos, justo e sdbio governo do seu augusto sobera- no, iré gradualmente elevando-se ao maior auge de forca, riqueza e consideracdo politica, tal que em periodo nao mui: | 12 longo de anos tomard lugar na ordem das primeiras po- téncias do Universo". (ra, jrefletimos anteriormente sobre o significado do novo na ‘concepeio de império portugués. Vimos, entlo, que em finals do sé- culo XVII, quando a Mustragao lus ira formulou a reorgani zagio do império portugués indicou com precisio o novo sentido da < unidade pretendida: uma unidade atlantica imperial baseada numa pretensa relaco de parceria reciproca para a defesa dos interesses ‘comuns. Naquele momento, ndo estava em jogo o deslacamento do eixo europeu como entreposto comercial ¢ centro politico da unidade do império. Alids, essa era precisamente a base do quadro conceitual do novo império. No entanio, a transferéncia da sede desse império para a colénia, fato sem precedente na hist6ria das metropoles euro- péias, significava profunda modificagao nos planos da Ilustragdo re- formista ¢ conferia um sentido completamente novo ao império por- tugués, a partir de entdo, sediado na América. ‘OX us 0 Novo IMPERIO LUSITANO ‘Com a transplantagao da Corte para 0 novo continente, o Reino portugués perdera o seu papel de nexo da unidade imperial. Esse era uum aspecto novo e devia ser considerado, com bastante alencao, nos novos rumos tracados. A perda da condigao de cabeca do império constitufa, para o Reino luso, 0 rompimento da sua tradigao historica, 40 mesmo tempo em que acarretava & necessidade de reinterpretacao dos principios basilares do Estado-Naco portugués. Portanto, a0 go- vyerno ilustrado, sediado no Brasil, cabia, além do desenvolvimento de um programa de a¢do que traduzisse recompensa.a0s prejuizos ime iatos sofridos pelos portugueses do Reino, reelaborar 0 esquema te- 6rico embasador do novo inpério lusitano. Em paralelo, a imagem referencial de grandeza do Novo Mun- do, sempre recorvida nas situagdes de crise extrema da Monarquia por- tuguesa, além de configurar uma situacao nova no programa do reformismo ilustrado, conferia um sentido especial a este império do Novo Mundo, a partir de entZo, objetivamente enunciada como nova. Assim, como na época dos descobrimentos, quando a expresso “Novo Mundo” substituiu a de “outro mundo” (entdio empregada por Colombo) para exprimir o sentido de renova¢ao do mundo entio vivi- do, a uilizagao do termo “novo império” expressou nao apenas o sen- tido da mudanga acontecida na estruturagao do império reformulado ‘mas exprimiu, principalmente, a imagem de renovacio da Monarquia Portuguesa, que se sentia revigorada pelas novas perspectivas que se abriam com 6 dominio absoluto das imensas riquezas de suas posses- s0es coloniais.® Essa expectativa aparece com nitidez no discurso da Tlustragdo, que procurou reforgé-la ¢ nela embasar 0 esquema te6rico das relagies, enti estabelecidas entre a antiga ¢ a nova metrépole. Percebe-se, endo, que foram os proprios agentes do governo ‘que passaram a reforgar a idéia, nomeando de novo império, 0 gover no instalado no Novo Mundo. E a forca desse discurso (estreitamente caleado na situagao de mudanga) marcou, tanto 0 processo de forma- ‘20 do Estado independente ao assumic a forma imperial, quanto a in- terpretagdo da historiografia tradicional, que entendev como destino natural a tcansformagao da colénia Brasil em império do Novo Mun- do, deixando de questionar os condicionamentos histéricos do proces- soem anélise. 19 A UTOPIA DO PODEROSO INPERIO comtexto da crise enfrentada por Portugal, no inicio dos oito- Centos, era grave. Estava em jogo a existéncia do Reino, da Monar- quia e, conseqientemente, do Império ~ quadro que se assemelhava a0 da crise atravessada no século XVII, quando Portugal enfrentou a Espanha para restaurar a Monarquia ¢ a autonomia do Reino, e resta- belecer 0 império colonial, Naquele momento, para estimular os por lugueses & guerra da Restauragao, o Pe. Ant6nio Vieira langou a uto pia do Quinto Império, sob a égide de Deus e de Portugal. Considerando que “o maior servico que pode fazer wm vassalo a0 rei é revelar-the o futuro”, © mais ilustre conselbeiro de D. J030 IV langou mao da crenga mistificadora, de origem biblica e jé fecun- dada em Portugal pelo sebastianisino, para instigar os paticios & lua pela autonomia e reerguimento do império portugues. Conelamando 0s contemporineos “Vivei, vivei, portugueses, vés os que mereceis viver neste venturoso século”, o Padre Vieira reinterpretou as trovas de Bandarra e previu: “como hd de ser Portugal wm tao grande Inpério, posto que tem ja vindo todo o Reino que era (...) wn novo Inpério, ao qual pelas razdes que se verdo a seu tempo, chamamos de Quinto”. Para fundamentar a sua predi¢ao, propds-se a contar uma “nove histéria” onde se encontcariam as explicagdes de “ndo ser do mundo, sendo $6 de Portugal” o impétio esperade: “Porque a methor parte dos venturosos futuros que se espe ram, & a mais gloriosa deles seri nao s6 prépria da nacido Portuguesa, sendo inica e singularmente sua”, por ser Portugal “o centro, 0 principio e fim destas maravithas e ins- trumento prodigioso delas, os portugueses” , aqueles que ergueriam 0 Quinto Império. Utiizavase Vieira da Historia para demonstrar a cxisténcia de uma identidade (gloriosa) portuguesa e, em fungdo dela, incitar 0s “valorasos” patricios, de glérias passadas, a luta, na cert za de glorias futuras 120 0 Novo 1ePERIO LUSITANO “0 grego lé com maior gosto as historias da Grécia, 0 ro- ‘mano as de Roma, ¢ os barbaros as de sua nagao, porque Ieem feitos seus e de seus antepassados. E Portugal que com novidade inaudita ierd nessa hist6ria os seus e os de seus vindouros, com quanto maior gosto @ contentamento, com quanto maior aplauso e alvorogo tera razdo que 0 faca? Por- rentosas foram cntigamente aguelas facanhas, 6 portugueses, com que descobristes novos mares, e novas terras, e destes a conhecer 0 mundo ao mesmo mundo. Assim como lieis en- tao aquelas vossas histérias, lede agora a minha, que tam: bem é vassa. Vas descobristes ao mundo o que ele era, e eu vos descubro a vis 0 que haveis de ser” E, para maior validade de sua versio, Vieira acrescentava: “Em nada 6 segundo, ¢ menor este novo descobrimento, se- 1ndo maior em tudo; maior cabo, maior esperanca, maior in perio. Tal é a historia, portugueses, que vos apresento, e por isso na lingua vossa”* Conhecendo profundamente quais os elementos constitutivos da nagio a serem evocados ¢ ressaltados para despertar no individuo o sentinento de pertencimento a um grupo, a um territério, 0 de sen: tir-se parte integrante de uma mesma hist6ria ~ lingua, histéria e glé- rias comuns = elementos esses, necessérios para induzir o portugues luta pelo proprio reerguimento, o Padre Vieira argumentava que, em vez de viver da gléria passada todos deviam mirar o amanha, uma ver, que aqueles “ditosos tempos” das navegagdes e conquistas ultra marinas haviam sido “menos ditosos que os do fururos”. Assim, divi diu a “Histéria do Futuro de Portugal” em sete livros “No primeiro se mostra que hii de haver no mundo wn novo império: no segundo, que império hé de ser: no tercetro suas grandezas, efelicidades: no quarto os meios por que se hd de introducir: no quinto em que terra: no sexto em que tempo: no sétimo em que pessoa. Estas sete causas sao as que hi de examinar, resolver e provar a nova historia, que escrevemos, do Quinto Império do Mundo”. I

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