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“A Dignidade da Pessoa Humanaea Constitui¢ao JORGE MIRANDA’ dignidade da pessoa humana, base da Reptiblica Circunstancias histéricas de varia indole, a ligacao juridico-positiva entre Burchos fundamentais ¢ dignidade da pessoa humana 36 comega com os grandes tos internacionais¢ as Constituigdes subsequentes segunda guerra niundial. : inge na Carta das Nagdes Unidas (no preambulo); ¢ na Declaragao Univer- afirmar-se que «o desconhecimenta¢ 0 desprezo dos dircitos do homem» am conduzido «a atos de barbaric que revoltaram a consciéncia da Huma- de € que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da fia humana e dos seus direitos iguais ¢ inaliendveis constitui o fundamenta ibe dade, da justica e da paz no mundo» (preambulo}, nos Pactos Interna- gonals de Direitos Econdmicos, Sociais ¢ Culturais e dos Direltos Civis e Poli- : também nos preémbulos) ¢ na Carta de Direitos Fundamentais da Unido upeia (preambulo ¢ art. 1°). Surge em Tesposta «as regimes que tentaram sujeitar ¢ degradar a pessoa i ina» (preimbulo da Constituicdo francesa de 1946) e quando se proclama 2 dignidade da pessoa humanaé sagrada” (art. 1° da Constituigao alema de E vai constar depois das Constituigdes mais recentes'?. essor Catedz atic da Faculdade de Dizcito da Untversiiade de Lisboa ede Untversidade Catdlica Hgbes da fndia (preimbulc}, da Grécia (art. 29, da Bspanhs (art. 10, Sy do Brasi! (art, 16111), da Runge ria (predsabulo} wn? da Bélpica (art. spt 1984 (art. S43, da Namibia {predmbulo e art. 8, da is Roménia (art. 18), de Cato Verde (art. 1%), da Lituante Sar Pera (att. 1), da Russia (art. 218} ln Africa do Sul (arts. 1%, 10¢e 39%), da Poldnts fart. 305), Leste (ars. 1, de Angola (art. 1¥),da Hungria (art, tf da parte sobre libedadee rexponsabihidue), fa Consitulgty da Inlanda (predmobuk), erem obras perats, eft. Lnco var MONCH, La digntdade def hombre en el Derecha Constituciona’, Espatola de Dereche Constitectonal, ang 2, 0? §, Mato-Agasto de 1982, pags 9e segs; FRANCO. va “A Dignidade da Pessoa Humana ea Constituigao JORGE MIRANDA A dignidade da pessoa humana, base da Republica Gr circunstancias histricas de varia indole, a ligayao juridico-positiva entre os fundamentais e dignidade da pessoa humana sé comega com os grandes internacionais e as Constituigbes sabsequentes 4 segunda guerra mundial. rge na Carta das Nacdes Unidas (no preambulo); ¢ na Declaragdo Univer- Safirmar-se que «0 desconhecimento ¢ o desprezo dos direitos do homem» conduzido «a atas de barbirie que revoltaram a consciéneia da Homa- ade ¢ que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da nilis humana e dos seus direitos iguais ¢ inaliendveis constitui o fundamenta ¢m resposta «aos regimes que tentaram sujeitar ¢ degradar a pessoa » (predmbulo da Constituigio francesa de 1946) ¢ quando se proclama ignidade da pessoa humana é sagrada” (art. I? da Constituigio alema de E vai constar depois das Constituigdes mais recentes' Catedsitice da Faculdade de Dizcito da Untversidade de Lisboa ¢ de Universidade Catolica ukibes da india (preimbulo), da Grécia (ert, 28, da Espanhs (art. 10°, n? b, da Belgica ( #1), do Bast! (art. 1-111), da Humgrts, apes 1989 (art. $49), do Namibia (pretmbula e art. 6), da bis (art. I+), ds Bulgéria {predmnbulo}, da Romenta (art. 1), de Cabo Verde fart, 14), da Litainla do Pera (art. Hj. da Russa (art. 219, de Africa do Sul (arts 1%, 10 398), ds Holin(a (art, 30%}, ‘Taste (3 19, de Angole (art. 4), Ua Hungria (art tl da partesobre libertadre responsabilidad. fa Consituigte da Irlanda (prebrubula), srem obras persis, cfs. INGO VoN MONCH, La digntdade dl hombre en el Derecho Constitucional, ite Espatotade Derecho Conittactonal, ano 2,0” 5, MatorAgowto de 1962, pigs 9 e segs: FRANCO oan + LIRER AMICORUM PAUSTO DR QUADKOS Bantoromns, Ladigniea umana come concetto vatorecertituztonale, Turi, 1987; ANTONIO RuGdai ANTONIO SrADANO, Dignite dell wort ¢ giurtyprudenta costieutrionale, In Politica de Drvitte, 1991, p 343 cnegas Fawsr Benton, Dignided humanay derechode la personalidad, in DEN DA, MatMoren, Vo Mrese e Hevne, Handbuch des Verfarsungsrecht der Bundesrepublik Devtichland, trad, Manual de B Constteuctonal, Madrid, 1996, pigs 17 ¢ seg; Paancx Moprawe, La dignité de la pertonne: comme principe constituttonnet dans les Constitutions portugaire et francalse, in Perspecttvat Con; obra coletiva, 1, 1996, pags. 197 segs.; MARER-LUCIE PAVIA, La porte dela consittuttonel principe de dtentte de la peetorme humaine, i La constttutionaitiation du drntt, olwra cnlettwa, Patis-Atx, pags. 133 © segs; CARLOS SANTIAGO NiwO, La Autonoma Constituctonel, in Le Autunomta Perso obra coleciva, Madrid, 2002, pigs. 303 ¢ sega; GIANCARLO ROLLA, El valor normativa del printipls dignidad humana. 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A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA B A CONSTITUIGAO, IL Nao €, porém, nessa esteita das Constituigdes do segundo pos-guerra que a Constituicdo do regime autoritério de 1933 introduz, na revisio constitucional \ de 1951, a expressao “dignidade humana” ao actescentar ao art.6%,comoumadas | + incumbéncias do Estado “zelar pela melhoria das condicées das classes socials mais desfavorecidas, procurando assegurarthes um nivel de vida compativel com a dignidade huraana” (n? 3). Apesar de representar um progresso, parece prevale- cer ajuma linha principalmente assistencialista®. Bem diferente viria a ser a Constirulgiso atual, ao-declarar logo no art. ®, a Repiblica “baseadana dignidade da pessoa humana’. Ao dizer que “todos os cida- dios tém a mesma dignidade social e sio iguais perante a jet” ea0 teitera-lo no art. 269, n® 2: “A lei estabelecerd garantias efetivas contra. utilizagao abusiva ou con trivia a dignidade humana, de informagGes relativas as pessoas familias”. Noart. Goncabes Ferreira Filho, aba cotestva, Sto Paso, 1999, pags. 11 s sega: Toxo Catos Lounsrno, Os genes do ste (des) contentamsento (Digridaste da pcos henamae gente: ORAS deren roceicoh, in Bolettmt da Feeutdede de Ditettn da Universidadede Coimbra, 2001, 1, pags. 163 ¢ segs., maxtme 184 e segs. ;Bexnptta Mc Cronin, recurso do principio da dgnidade ds pesson ketaia na jurisprudéncta do ‘Tribanai Constetuctoral, in Extudacerncomemontgitoda décimo ativersdriosdalicensiatuca em Dieeit da Universidade do Minha, obra cotetiva, Coimbra, 2004, pigs. 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Peftconsttucional da dignidade da pesoa man, i Estos ern honra de Prof. Doutor José de CGiliseira Ascensio, obra coletivs, {, Colmbra, 2008, pigs. 4 « segs: PauLo OTERO, Dispantbdidads Jo préprin corpo e dguidedesta pessoa humana, in Estos cn hos 1ra do Prof Doutos fost de Oliveira Ascenso, obra rr erva, Coimbra, 2008, pigs. 107 esegs.sfosd De OLIVEIRA ASCENSKO, Adlignidideda posse hurnana afandarient dos direitos mana, in Revisea da Order ds Advegades, 2008, pigs. 97 «segs ¢18 Estudasem pomenager up Prof. Doutor Marts de Alonguarguc, bra coletiva, (1, 2010, pgs. 37 esegs.s INES Loninso Ravoso, A dignidede de pessos humana najursprudtncia lo Trbunal Constituczanal, mormente sm marie de Diteitopenal e Dicito processual penal, ix, eatado Luso-Brastletra da Digridade Humans, pags Blesegssf. J. Gomes Canariiato, Dignidader constinuctonslizagta da pessoa humana, 4% Eseudos em hamenagem ae Prof, Damuor forge Miranda, obra colettea, 11, Coimbra, 2012, pags. 283 ¢ segs. > Blueidativo éa parecer da Camara Corporativa (tendo por relator Marcello Caetano), onde sella.“Se a Camara bes interprets 0 sentido do precelto trata-se de anna forma de asseguras 0 dever deaststencia snciatque incombe 10 Estado, em higat de direitod mtsténcta price qe a Constituicao cle 1911 inseevers entre osiireltos ¢ garantias individuals”. # perguntaea: “Que concelta de dignidade homans se contém neste preceitot Qual o critérto de cuinpatibilidads sotre o estile de vida ¢ essa dignidade? Dado queas necessidades humans nos tempos presentes si ilimitadas ¢ Insaclivels, onde acabard exta Fungo do Estado coma promocor do bemeestar individual”. aL da Partido: Popolar Demmerstieo (ort. 1% e também projetos do Centra Sueial (artal®) v do Parcido Soctalista fart. 9). Diterentemente, projetos da Movimento aaa Portugués ~ Comirsto Democratics Blettoral (arr. 1*) ¢ do Partido Comunista Portugues art, 738 “ LIBER AMICORUM FAUSTO DE QUADROS 268, n®3:“A let garantiré a dignidade pesson! ¢ a identidade genética do ser hum * No art. $9°, n® 1, alinea 6): “Todos os trabalhadores, sem distingio de idadey sexo, raca, cidadanta, territério de origem, religiao, convicgbes politicas ou fd oldgicas, tém direit 8) A organizagio do trabalho em condigées socia dignéficantes, de forma a facultar a realizago pessoal ea permitir a conciliat actividade profissional com a vida familiar”. No art. 67", n° 2, alinea ¢):“Ine designadamente, ao Estado para protecgao da familia: (.} } ¢) Regulamen procriagio assistida, em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa z Ou no art, 206%, ao admitir limites & audiéncia dos tribunais para satvag dignidade das pessoas. III. A Constituiggo confere uma unidade de sentido, de valor e de dancia pritica ao sistema de direitos fundamentais. E ela repousa na dignidade: da pessoa humana, ou seja, na concegdo que faz da pessoa fundamento e fim ¢ sociedade e do Estado’. 3 Pelo menos, de modo direto ¢ evidente, os direitos, liberdades e garantias pest soais ¢ as direitos econdmicos sociais e culrurais comuns tém a sua fonte éticang dignidade ds pessoa, de todasaspessoas’. Noentanto, os demuis direitos, atnda projetados em instituigées, remontam também a ideia de prategdo ¢ desenvolvimento, pessoas. A.copiasa extensdo do elenco ndo deve fazer perder de vista esse referencial. ~ Por outro lado, o principio da participagio democratica na vida coletiv quer enquanto subjetivada em direitos individuats, os direitos politicos @ 48? e segs.), quer enquanto elevado a um dos abjetivos da educagao fart. 73%, 2, quer enquanto principio estruturador da organizagio econdmica no tocan aos trabathadores, aos empreendedores € 208 consumidores farts. 80%, alines: ¢ 60%, n? 3}, quer, finalmente, enquanto condigio do sistema democritice 109%) ~ alicerga-se no respeito ena gatantia dos direitos e liberdades fundame sais (arts. 2° ¢ 9°), Nao se prevé a participagio pela participagio; prevé-se ¢ p mave-se como expoente da realizagao das pessoas. ~ 8. 7 Jone Mraanpa, A Constfandgdo de 1976 ~ Formaglo, estratura, principios fundamentais, Lisboa, 19 pag. 348. : Cir. Paves Oreo, Legulidade e Adsninistrayfo Publica, Colnsbra, 2003, pags, 250 segs. José DE MeLo ALBXANDRINO. op, cit. pags. 398 € segs. “sta d também a raaio ~ como obwerva J. Gomes Canorneno, op. cit, ii. cit, pig, 289~ para acolt a categoria do reconhectmento intersubjective radicado na diguidade comy um panto de ap de exercfeta critica para as {nstituicdes internas, um padrdo de aspiragao para a sua reforma ¢ um padi vebratopaaspeliease ria songs ‘econdmicas politicas internacionais, Esta di _ jacional¢ paramétrica das liberdades revela-se de particular importincia io escrutfnio de piibicasreferentes & conformasin ¢ efectivagio de diretnas econdmtces, sockais ¢ culturats® 734 A DIGNIDADE NA PRSSOA HUMANA F A CONSTITUIGA s DIERO. Para além da unidade do sistema, o que conta ¢ a unidade da pessoa’. A con- jugagao dos diferentes direitos e das normas constitucionais, legais e interna- cionais a cles atinentes torna-se mais clara a essa luz. O -homem sinado= do mundo plural, conflitual e em acelerada mutagio do nosso tempo encontra-se muitas vezes dividido por interesses, solidariedades ¢ desafios discrepantes; s6 na consciéncia da sua dignidade pessoal retoma unidade de vida e de destino, IV. Oart. I da Declaracdo Universal precisa e explicita a conce¢do de pessoa da Canstituicdo, recolhendo as inspiragées de diversas filosofias e, particular- mente, de diversas correntes jusnaturalistas: «Todos os seres humanos nascem livres ¢ iguais em dignidade e em direitos. Dotados de raza ¢ de consciéncia devem agir uns para com 0s outros em espirito de fraternidade~. Dotados de razac e de consciéncia - eis o denominador comum a todos os homens em que consiste essa igualdade. Dotados de razdoe consciéncia ~ eis 0 que, para além das diferenciagSes geogrificas, econdmicas, culturais ¢ sociats, justifica o reconhecimento, a garantia e a promocio dos direitos fundamentals. Dotadas de razdo ede conscitncia - eis por que as direitos fundamentais, ou os que esto no set cerne, nao podem desprender-se da consciéncia Juridica dos homens e dos povos. V. Caracteristica essencial da pessoa - como sujeito, ¢ nic como objeto, coisa ou instrumento ~ a dignidade é um principio que coenvolve todos os principios relativos 205 direftos e também aos deveres das pessoas ¢ posigdo do Estado axiolégico fundamental’ ¢ limite ranscendente do poder perante clas. Principt constituinte’, serve também de critério de interpretagdo ¢ integragio®. E isso que explica que ndo aparega no quadro dos ites materiais de revi- sio constitucional fart. 288"). Relativamente aberto como todos os principios - até porque a sua concretiza- gio se faz histérico-culturalmente® ~ nao deixa de encerrar um valor absoluto’. no século XIX, Joaquim Maxis RopRiGues DE BRITO, Flora de Direte, Coimbra, 1873, pigs. 24 ¢ 223 e segs, falando ema “direita de digntdade”. + Manvai de Dirrito Constisasional,11,7* ed., Coleabrs, 2013, pig, 285. * Mhidem, 21, ci, pig. Me > Ch Pauro OrERa, Insticutgber Politicas e Constituctanats, 1, Coimbra, 2007, pigs. 562 € $63 4 Assim. actzd8o nt 105/90 do Tribunal Constituctonal, de 29 de Maxyo, tn Acteddes do Tribunal Constitu- ronal, 5! volume, pag. 367. E, na dantrina, por todos, PeTex Hipeene, A dignidade.., cit. foe. cit, pags. 127 € 150, on J.}. Gomes Canoritito, Dirrite Constttuclenal e Teoria dz Constituisda, 7* ed., Coimbra, 2004, pags. 225-226. © Valea penatranscrever HAweRt 2: -Naturerae cultura devem ser pensadas coapuncariente oa forma da digniciade hamina e no Ambito do Estado constitucional. Ela ¢ “Inara” a existéncla humans ¢ cont- (oI “narureza” do ser humane, Ela constitu, codavia, também “cultura”, atividade de muleas geragdex 738 * LIBER AMICORUM FAUSTO DE QUADROS de de uma pessoa com a dignidade de 9 Pode haver ponderagio da dignida inctplo, valor ou Interesse. pessoa", nio com qualquer outro pri 2. Projegdes da dignidade da pessoa humana : 1.A partir daqui, da consciéncla Juridica geral e de diferentes principios ¢, constitucionais pode enunclar-se os seguintes pontos: A dignidade da pessoa humana é a dignidade da pessoa humana i dual ¢ concreta; 8) Adignidade da pessoa hum 2) Adignidade da pessoa humai soa desde a concegao; 4) Adignidade da pessoa humana ndo gio da biodtica; 2) Adignidade da pessoa humana compreende o respeito das pessoas cidas ou sujeltas a cuidados de satide; PD) Orespeito da dignidade implica a garantia da intimidade pessoal ¢ f @ ana ¢ da pessoa enquanto homem € mut na é tanto da pessoa jd nascida como da Kiar; ® Orespeito da dignidade implica o respelto da orientagiio sexual das pe sas; q A dignidade pressupde autonomia da pessoa, embora nio pressupont capacidade (psicolégica) de livre decisio; ie Cada pessoa vive em relagio comunitiria, que exige o reconheci por cada pessoa de igual dignidade das demais pessoas; Cada pessoa vive em relagio comunitiria, mas a dignidade que pos dela mesma. ¢ nfo da situagio em si; nd J) Adignidade da pessoa, que étambém dignidade social, exige integra participagao na vida comunitaria, inclusio; a 1) Adignidade da pessoa exige condigdes adequadas de vida material m) Q primado da pessoa ¢ do ser, nfo o do ter, ¢ a liberdade prevalece a propriedade; n) Somente a dignidade explica a procura da qualidade de vida; © dos homens na sua toralidade (de "hummanidatte" : sor tnman nani a" de"), 0“sogunda eriagio", A parts dees gto eciprga peste er crempla joo Camus Lourwtno, Odireito a ldentidade gentrica do. ser bamana veal 2000, thva, Cal “ ree td 200 seek bea, 1999, pigs. 26:5 ¢ segs. muastnte 279-280; ou PAUL © Cr mon Sanit, up eft, pag, 130. 736 ADIGNIDADE DA PESSOA HUMANA BA ConsTiTgaD ® Orespeito da dignidade justifica a crt furidicos subjacentes aos direitos fu eneia geral eum vitima; 2) Todavla,adignidade da pessoa comportamentos ilfcitos; ) Adignidade da pessoa é um 1) Adignidade da pessoa esta z minalizagio da ofensa dos hens ndamentais de acorda com a consci- principio de proporcionalidade, ¢ Fequer a protegio ds permanece independentemente dos seus Prius em telagio a vontade Popular, para além da cidadania portuguesa, 1LEm primelro lugar, adignidade da pessoa da pessoa concreta, na sua vida real € quotidiana; nao é de um ser ideal ¢ abstrato. 5 o homem ou a mulher, tal como existe, que a ordem juridica considera irredutivel, insubstituivel e irrepe- Uvel © cujos direitos fundamentais a Constit uigdo enuncia ¢ protege", O valor cmineme reconhecido a cada Pessoa conduz, antes de mais, xisténcia da pena de morte (art. 24%, n° 2} ¢, coerentemente ~ mas quase ine- ditamente em Direity comparado ~ 3 proibigio da extradigao por crimes a que corresponda, segundo o direito do Estado Tequisitante, pena de morte ou outra de que resulte lesto irreversivel da Integridade fisica (are. 33°, n® 6)". aine- ™ Cie, por udos, RamtNoR Anan Caren De SaUsA, Udireit geeai de personalidede, Colmbea, 1995, Pigs. 244-245, Ou Mra Gawro (Goda Homent / wma Rupa) «luxjuirido sobre a sua raga, respemiteu:~ A minha raga sou eu, Joko Passarinha, - Convidadoa explicanse, acrescentins: - Mina saya sou eu mesmo. A pessoa ¢ uma homanidade Individual, Cada homer ¢ uma cega, seabur politicos. " Damesma manelta que nfo do mesmo falar ea dinvitorde homeme dircitus humanes, nd0¢ exatamente a mesmo falar em dignidude da pestoa kumunue em digntdade humana. Aqucla expresssodirige-se aa hnmem concrete ¢ individual; cxta & humanidade, entendida ou como qualidade comum a todos os homens cu como conjunte que osenglobae altrapassa, Declarando a comumdade politica portuguesa sbaseada na Aignidade da pessoa urmanar, a art. Ida Constitulgto afasta e repudia qualquer tipo ds interpretagta transpersonalisia ou elmpleamente sutoritéria que pudesse permitir a sacrificte dos direttn mu até da personalidade individual em nome de pretensos Interesses coletivus, % Comw se sabe, a Constituigto de IVLL. apdsa revisto de 1916, ¢ ade 1933 admirlam pens de morte, ex casu de beligerducta con pais extrangelra ¢ para sor aplicada no teatro da guerra. Kol a Canstienigto de 1976 que a abaltu definitivamente, ” Bo mesmo se verificu em todas as atuais Camatitulgoes dos pafses de lingua Sodan: es b portuguesa: do Urastl (art, 5%x1.¥41), de S. Tomé ¢ Principe (art. 21%, n? 2), de Cabo Verde (art. ar w Dade Chines (art, 864, 0° 1), de Thmor (are, 29%, n* 3), de Mogambique (art, 70%, n* 2) ede 14. 598), Prion, ae por inconstituciona) o art. 6%, n*2,alines 4). da Lel nt 144/99, de 31 de Agosto, # decpelto de o Tribunal Constituclunal (pete acdrdio n° 1/2001, ce 18 de Janetro, in Didrio de Repos, 2 série, de 8 de Hevereiro de 2001) annim o nto ter coosiderado. C&t, v nosy comentario in ODirrito, 71002-2003, paga. 186 c reqs. K, pela menos, com a reviedo vonstituchonal dé 200}.0 norma ficou ferkds de inconsltuictonslidede superventente, a LINER AMNCORUM FAUSTO DE QUADROS Explica a garantia da integridade pessoal contra a tortura ¢ os mau trat as penas civeis, degradantes ou desumanas, incluindo em proceso criminal @ 4324, n?6); 08 direitos a tdentidade pessoal, ao desenvolvimento da personal 3 capacidade civil ¢ ao bom nome ¢ reputagio (art. 26%, n° 1), Assim como fica 0 principio da culpa em Direito penal”, & Veda a suspensio, mesmo em estado de sitio, em qualquer caso, dos di vida, 3 integridade pessoal, & identidade pessoal, capacidade civileacid a nio retroatividade da lel criminal, o direito de defesa dos arguidos aliber de consciéncia ¢ de religido (art. 198, n® 6}. Assim como determina a cons pelos condenados sujeitos a pena ou a medida de seguranga privativas da Ii dade dos scus direitos fundamentals, salvas as limitagbes inerentes 20 sent da condenagio e as exigéncias proprias da respetiva execugto (art. 30%, n® IIT. A dignidade da pessoa é da pessoa em qualquer dos géneros, masca! ¢ feminino, Bm cada homem e cm cada mulher estio presentes todas as fucu dades da humanidade. Por isso e porque continua a haver desig a Constituigdo nio se cireunscreve a declarar a igualdade em geral (art. 13° familia (arts. 36%, n®s 3, 5 € 6, € 678, n° 2, alinca ¢ ¢ 68"} e no trabalho fart! n® 2, alinea b)] ~e aestabelecer a especial protegio das mulheres durante a g: videz ¢ apés o parto fares. 59%, n° 2, alinea 0), ¢ 689, n°s 3 e 4]. Contém outros (apés 1997) a incumbéncla do Estado de promover a Igualdade entre ho! mulheres [art. 9%, alinea A)), designadamente no exercicio de direitos clvicg: politicos ¢ no acesso a cargos politicos fart. 109%). : ualdades que atingem as mulher \ » Como ae Id no actiedto n# 426/91, de 6 de novembro (Uaidrio da Repablice, * série, de 2 de ah 1992),0 prineiplo da culpa deriva de eteenctal dignidade da pesvos humana, que nio pode ser como simples melo para 4 prossecucio de fins preventivos. Assia também aeérdo n* 89/2000, d de (everciro (ibidem, 2! série, de 4 de ourubra de 2000). Ov, como escreve JoRGR DE FicUEINEDO DIAs (Ditetta Penal ~ Parte Geral, [, 28 ed, Cotmbra, 20 OY pig, 83). "A fongto de culpa ea de estabelecer 0 maximo de pena com ax exigencla de preservaqtouis dfignidude da pentoa e do livre derenvolvimento da sua pértonalldade nos quadroe proprios dei Uetado de Direkeo democrittea”, as * A eonsagragto formal do diselto A vida remonta apenas & Consttrusgto de 1933 (are, 8% 9) A Constinuigfes anteriores, talcomo as Constitulgtes francesas auas inspirsdoras, ndo sentiram net deoconsigant, a © Che, Manvan Da Costa ANDRA DH, Um (nove) Direite penal pant os (nuvos) direitos fiundamentady) ‘Asprctosétieos das pesioasem situacao de doence, obra coletiva, Lishos, 199%, pigs. 21 ¢ segs, se * Cfr.a obra coletiva Diretins Hertanos da Mulher, Coimbra, 2008. 238 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA F A CONSTITUIGAO. dignidade da pessoa é tanto da pessoa ji nascida como da pessoa desde a concegio ~ porque a vida humana é inviolavel (art. 24°, n® 1)", porque a Cons- titwigSo garante a dignidade pessoal ¢ a identidade genética do ser huamano (art. 26°, n® 1) ea procriacao assistida ¢ regulamentada em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana (art. 67°, n® 2, alinea ¢)j ¢, porque, para lida nogdo privatistica (art. 66 do Cédigo Civil}, se oferece, assim, um conceito cons tucional de pessoa, confortado, porventura, pelo direito de todo o individuo a0 reconhecimento da sua personalidade juridica (art. 6° da Declaragdo Universal). Nem infirmam esta ideia 0 direito ao planeamento familiar ~ 0 qual, como é evidente, se situa antes da concegao ~ nem « despenalizagao, em certos casos, da interrupgio voluntéria da gravidez - pois, independentemente do debate acerca da sua consticucionalidade”s, nao existe uma relagao necessaria entre constitu- ® Oque d mais que consagrar y direito ad vida 1 Nie faltam, de resto, Autores que sustentam set frrecussvel reconheccr personalidade (ou certs formes de personalldadde juridica) aa ser humano antes do nascimento por exemple, RABINDRANATH CAFELO DE Sous. op cit. pigs. 196 © segs. © 361 € segs; BIGOT TE CHORRO, Concepeto rectista ds personatideds puridica eestatute do naszitero, 1998, pigs $7 c segs, marine S3e segs: Gararen GONGALYES, Dia personatidade jartdica do nasciturn, in Revista de Buculdade e Direits da Universidade de Lisboa, 2600, pgs. S28esegs;Di0G0 Leite OF Camrose STELLA BaRMUAs, Oinicio da pecens humama eda pens, Revista da Ordem doc Advegadst, 2001, pags. 1257 e segs, José OF OLIV EIRA Ascenso, Direite Civil, 5, 2° ed Coline. 2000, pags. 5 segas Mania Gancta, Linitesda Cefncts ~ Adigmdadeda pesos A Erica 32 resporscbidtdade, Sto Pasko, 2004, pags. 184 ¢seBhi Pere Pars DE Vas cance os, Teoria Geraldo Direc Civil, 44 ed., Coimbra, 2007, pigs. 72 sens {Diogo Loxena Brito, A sida pet-natalna jarisprudtacts de ‘Fribunsl Constituctonal, Pario, 2007, pags NG e segs; FRANCISCO Amas at, Acondighapuridica do nascitro no Deoten bractleira, in Dirctzaz fuscdea, numero expecial.20 8, pags. Be segs: MANUEL CABNEIEO DA Frapa,A protecpio jusctrit de vide pré-natat, Sobrev santo, 5 juridice do embrite, sbidem, pigs. 140 ¢ segs Sarimana JURY DE Aggev CHINELATO, Risaturo jurisice de wascitures 0 diveito Seasdcire (Bidens, page IT} e segs: Pauto OTERO, Personalidade Tratade Luse-Brest da Dignidede™ Humane, $16 Pauls, 2008. pags. 1059 ¢ seg) Jos Macar nies, Oprincipteds ignidade da pessoa humana 0 dreio a sda, St Ji frente a0 CAdigo Civil de 1867, Jost TAVARES. Ory 1928, pigs. 21 ¢ segs. lado sobre 4 questio da personalidade juridica do 6 Tribunal Constiiucional poderla tere pronunct masciture no caso consranse de acéird50 nf 357/209, de 8de Julho (Dhasta da Repiiblica, 2* verte, de 17 whe Aosn de 20009), mas nda o fez por nin ret conbeckdn do reciss0, com fandameatoem ene dizer a constituctonaiidade de uma decisSajudicis},ento de ura nocona Juridica Cir Joko Cuma Nee amo, Afnderntagto por danas de murte de nascitur pa concebie cas reperacina constitucionsis de tutela ve ocha dda, in Bstsdes em bomenagee aa Prof Daurar forge rend, Hp 936 5 Chr. on cinca acdr8208 do Tribunal Constituctonal sobse & macéris ¢ 08 votos de vencidos anexpe nt , ‘Deyoa, de 19 de Margo, In Dirie do Repablia, 2! série, de + de Abril de 191: nf H5/95; de D0 de Maio, ididam, % série, de 25 de Joho the 19RS, a* 286/98, de V7 de Abr, tider. sétle-A, de 18 de Abril de [hidem, 1 serte, de 20 de Novembm de 2006, ¢ n¢ 75/2010, de 1998: ¢ x 617/2006, de 15 de Novembro, 1 Di de Fevereiro, ibidem, 2 série, de 26 de Margo de 2010. Emm todus os cinco acétdios se reconheces que tepensar dose ¢Lesix Lest?! auto, 2012, pay 155. rinctpiesfandamecces do Direito Gtrit 12, Coimbra. 239 * LIBER ANICORUM FAUSTO Ds QUADEOS sionalizacie ¢ criminalizag3o. O que no parece admiscivel é passar da nalizapde & iegaiizapto. A laicidade do Retado, a acunfessionalidade, o principio de nde domi de qusiquer visio de mundo sobre as demais podem, no limite, fund ou explicar a despenalizag3o ou a desprotegio penal de qualquer bem jurik quando uma parte da sociedade entenda que ele deve set protegido por formas ou que nem sequer tenha de ser protegido, Em contrapartida, em: dessa mesma laicidade. a confessionalidade ¢ no dominagio pode outra Ga sociedade pretender que nio seja legalizado, ¢ mio apenas tornado ill aquilo que considera ilicito - pois redunda em legalizagio, ¢ nio apenas despenslizagSo ¢ liberalizagao, organizar 3 interrupgio volunniria da até dez semanas por mera opedo da mulher em estabelecimento de satide mente sutorizado™, V. A dignidade ds pessoa nio pode ser apreendida sem consideragia da bie: i ética. a Daidever a lei garantir a identidade genética do ser humano, nomeadai na criagdo, no desenvolvimento ¢ na utilizagio das tecnologias ¢ na experi tacao cientifica (art. 26%, n® 3, 2' parte} e dever regulamentar a procriagio assis tida em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana fart. 678, nt: alinea 9, de novoy*. maa Como a Constituigao fala em ser Aumano, o principio deve entender-se qué. | preservacic da identidade genética engloba tanto o ser humano vive como bens da vida fembrides, fetos, célalas). i Refiram-se a propésito virios textos internacionais: a Declarag3o Universal! sobre o Genoma e 0s Direitos Humanos™, aConvengio Europeia sobre os Direl- 4q » vida humane inrra-oterina ers bem constirucionslmenre pmtegido, ainda que padesse ceder quandé: ‘ereconflito com direitos fundamentals ox com outros valores comstitucionafmente protegidos:e chagall a dudir-se 2 adignidade da vida Intrs-userina- (n° 33 do aaéndto n° 61772006). * Como fez a Lei at 16/2007, de 17 de Abril, criando um verdadciro dircito a uma prestagiodo Etade {como fd antes havia saltentado 0 Jaiz Mério Torres em declaragia de vote junts to arsrdic nt 617/2006) ~odizeitn aque o Estedo propicie, através da lei ¢ do exercicio da fungio administrativa, os melos pars. que 2 incerrupsto vohuntirta da gravides se efetue (er mefhores cundighes para a mulher do que 88. sboro clandesting, mas sempre com o mesmo resultado para o feta). ag © Sobre pblemtica subjacente a estes preceitns, adit adas em 1997, x, cvidio n* 10/2008 do Tribunal ‘Consvituctonal, de 3 de margo, In Dirio de Republira, 2° série, de } de abril de 2009 e, especialmente, & declaragto de one da juiza Maria Licia Araaral, =i ™ Aprovada pela Organizacso das Naghes Unidas pars a Educagdo, a Cléncia ¢ a Cultura em 19978 endossada pelas Nagiies Unidas em 1998. 5 74a A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA B A CONSTITUIGAD tos do Homem ¢ a Blomedicina” # o seu Py Mey cos Fundamenaae de mea Hameo, totocolo adicional” ¢ a Carta de Direi- Daquela Declaracao Unive: genoma humano tem subjace: da faroflia humana, bem c. rsal importa conhecer, pelo menos, nte a unidade fundamental de ‘ome o reconhecimento da sua inerente dignidade & diversidade, Em sentido simbélico, constitui 0 patriménio da Humanidade”, Eoart. 2%:"a) Todasas Pessoas tém direito av respeito da sua dignidade ¢ dos seus direitos, independentemente das Tespectivas caracteristicas gencticas. » Essa dignidade impse que os individuos nao sejam reduzides as suas caracteris- ticas genéticas e que se Tespeite o caracter tinico de vada um ea sua diversidade. Da Convengia sobre os Direitos do Homem e da Medicina, os arts. LIS, 128, 13%, 14? ¢ 18%; Oar 1 *O. todos os membros Art, 1%: “E protbida toda a forma de discriminagao contra uma pessoa em vir- tude do seu patriménio genético”. Art. 12% ido se poderé proceder a testes predictivas de doengas genéticas ou Que permitam quer 2 identificagio do individuo como portador de um gene respon: sdvel por uma doenga quer a deteccdo de uma predisposicio ou de uma suscetibi- lidade genética a uma doenga, salvo para fins médicas ou de investigacdo médica e sem prejuizo de im aconselhamento genético apropriado”. Art. 13°, “Uma intervengio que tenha por objects modificar 0 genoina humana nao poderia ser levada a efeito sendo por razées preventivas, de diagndstico ou tera- Péuticas ¢ somente se nao tiver por finalidade introduzir uma modificagio no genoma da descendéncia”. Art, 14%: “Nao é admitida a utilizagdo de técnicas de procriagio medicamente assistida para escother o sexo da crianga a nascer, salvo para evitar graves doencas hereditdrias ligadas a0 sexo”, - Art. 18%: “I ~ Quando a pesquisa em embrides in vitro é admitida por lel, esta garantird uma protecgia adequada do embrifo. 2 ~ A criagdo de embrides humanos com: fins de investigagao ¢ proibida”. Por seu lado, o Protocolo Adicional a Convencia sobre os Direitos do Homem eda Medicina proibe qualquer intervengao cuja finalidade seja crtar um ser humano geneticamente idéntico a outro ser hamano, vivo ou morto (art. 1°). * De 1997, © De 1998, : . a meee ¢0 Protocolo foram, eu Vartugal, aprovados para zatlficagiia pela Resolugdo n* 1/2001 da Assemblela ds Repabiica, de 3 de janeirn de 2001. * LIRER AMICORUM FAUSTO DF QUADROS Quanto 4 Carta de Direitos Fundamentais da Unido Europeia, além de i mente profbir a clonagem reprodutiva dos seres humanos, protbe as praticas nicas, nomeadamente das que tenham por finalidade a selecgio das pesso profbe também transformacao de corpo humano ou das suas partes, tais, numa fonte de lucro (art. 3°, a? 2), VL A dignidade da pessoa humana compreende o respeito das pessoas cidas de cuidados de saide®, s Donde, as incumbéncias de Estado de disciplinar as formas empres. privadas de medicina, articulando-as com o servico nacional de sauide, por: a assegurar, nas instituigées de sade publicas ¢ privadas, adequados pod de eficiéncia ¢ qualidade ¢ de disciplinar e controlar a produgao, a distribid outros meios de tratamento ¢ diagndstico (art. 64°, n® 3, alineas d) e ¢) da teuigiol. * Cfe. na doutrina portuguesa, GUILABR SE ne O1iwEINs, Aipectos furkdicos de procriajie assistida, Revista da Grdem dos Addvogidos, 1989, pigs, 767 ¢ segs. Juv ne OLIVEIRA ASCENSAG, Direitee Blok 1 Direito da Soide x Biodten, cbra coietiva, Lishow, 1991, pags. 9 ¢ segs. ¢ A Lei nt 92/06 sobve prot sedicamente assissita,in Revittada Ontem dot Advogdos, 2007, pigs. 977 ¢ sages MARLO RA¥SO, Pe asitida, thidem, pigs. 89 ¢ segs: ANTONIO CARVALIIG MaxtiNs, Bioétca ediagndstice pré-natal, Colenb ie '996;Joko Louwnino, Yamemtra ittecdintacdn mbit do ft, Cader de Badia, Abril Jlbade: 1997, pags. Besegs., Odireito identidade genética daser human, in Portugal: Brasil Ano 2000, obwa colecivay Bigs. 263 e segs.; Orgenes.., cit Poilerese mites da genética ~ Actas do IV Semindrio do Consetha Nactondl Eoin para ar Cénciaeda Vda, Lisboa, 1998, ANa Pasha. Gut a Rak, Alguns problemas uridicacrtinat froeriagho minarets aeistda, Comba, 1999; PauiLo Or ERO, Pertonatdadee entidade pessoal egenttea de ser humana, Colmbra, 1999 ¢ Dispantbilidade... cit., lac. cit, pags. 120 ¢ segs; Ferwanno Anadyy,/ procriagdo assstida eo problema da santidade da sida, Coimbra, 1999 e Direito da Biobtca, tn 2 suplemento: 48 Dicionto da Administnsde Piblica, 2601, pigs. 193 e segs: Francisco Anuitan, Oprineipi dadig’ nldade da pessoa fuursana ¢ a determinagaio da filtagita cm procriegdo assistida, in Revistas da Ficuidade de Dircite: 42 Universidade de Lisooa, 2000, pags. 688 0 segs.:JoA0 NUNO Zena Maarins, 0, genoma humanaea: Lanaturatece constttuctonat dela assist ida y as idenonsinadossupuescas dle ungencia vita, © tench santraria nas consen to Revise Espatila de Derecho Conatucfonal, janeivo-abril dle 2008, pigs. 530 segs, 4a A DIGNIDADE DA PRSSOA HUMANA E A CONSTITUIGAO Ea Convengio sobre os Direitos do Homem e da Medicina acrescenta algu- mas normas da mdxima importincla®, VIL. O respeito ¢ a garantla da intimidade das pessoas traduzem-se nos direitos 4 imagem, a palavra ea reserva de incimidade da vida privada ¢ familiar (art. 268, n? 1, 2° parte}; nas garantias contra a utilizagdo abusiva de informagées relativas as pessoas ¢ familias fart, 26%, n® 2); no direito dos cldadaos de acesso aos dados informatizados que thes digam respeito, podendo exigir a sua retifi- cagaa e atualizagio, c no direito de conhecer a finalidade a que se destinam, nos termos da lei {art. 35%, n® 1); na protegdo desses dados, designadamente através de entidade administrativa independente fart, 35%, n* 2); em a informatica nio poder ser uttlizada para tratamento, de dados referentesa convicgdes floséficas ou politicas, filiagto partidaria ousindical, fé religiosa, vida privada ¢ origem étnica, salvo mediante consentimento expresso do ritular, autorizagao prevista por let com garantias de no discriminacio ou para processamento de dados estatisti- cas nao individualmente identificaveis (art. 35%, n 3); na protbigdo de acesso a dados pessoais de terceiros, salvo em casos excecionais previstos na let fart. 35%, n® 4); em ninguém poder ser perguatado por qualquer autoridade acerca das 3 Basta transcxever tres dos seus precetos: Art.5¢ Qualquerincervengia no dominio dasaide 6 pode ser efectuada apés er side prestado pela pessoaem cause 9 seu consentimento livre e esclarecids. Esta pessoa deve receber previamente 2 informagto adequada quanto 20 objective ea narusezs da {arervengio, bem como as suas consequésiciase rik008 [A pessoa emi questo pade, em qualguer moment, rev083r livrementeo seu conseatimento, Art. 6 1.) qualquer incervengto sobre unis pessoa que carega de capacidade para pretar seu consentiment? ” apenas puderd ser efectvada em seu benuefico directo. Art. 10° 1. Qualquer pessoa coma suasatde, 2. Qualquer pessoa tem o delta de conbsver toda Informsagto recothida sobre «ava sade, Todavts, penntade expressa por ansa pessoa de nao cer informada deve se sespeleade. 4A titulo excepctonal, all pode prever, no interests do paclete,restrigges 20 exercicia dos direltos mencionados ho nt 2. ane Nio se poderd proceder atestes predicthvs de doengas genéiicas on que pexxnitam quer identificagto de Indiidee como poreadorde uin gene esponsivel porumadoenga quer adetevio de uma predisposlgto voi ic unea svecttblidade genética aria doenga, salvo para fins madicoy ov de investigagla médica fem prejolzo de om aconsellamento genético apropriada Gir, por exemple, oacérdo nt 607/200, de § de december im Didi de Replica, 2 siete, de 8 de abrilde 2004, rem diteito ao reupelto da sua vida privada no que toca informaydes relactonadas 743 NN NIA RI PALIT tek UL fHae arte eaten ona poitiwoa religiiven, walve para recite de dates extatetcen, MMA mente Wentifiebvete, nem ser pH epuddlowde pow we reetsar a reme fare AN Wh Ay Wadur-ce tainbdin na trvrvhabslidade da domietiin« As onregenAtnne 44") #, nH wedte, Wy Aletin » habanagin qua preserve aiettinidede pessoal, se bvaetdade farnitiar Care O47, WA) , VIN CO reepieiie da diynidade tpl wae reopette da onlentagan sexual dag ernie, mH Bloc rinNiiagbe Cart, 14, 1 2), “ 4, Projeghes de diynidade (eam,) “ HA dygnidate deverinina respon pela liberdads da pesson, pela ce anona A tinge da wutonimia parentetares sobretinte nu ditetta ao desenmlytmentep peromnalidade tant, 264,01)", ne inolabilidads da Wherdade de cnectt) We reliyiiere de culin Cort, AN, 1 fi), na Wherdade de erlagies cultural fares, 4 6 THE WD, Mend bile 9 Merde des aprender e de enaiiar Cart. 444), na Mb duste de er presto 6 infuiiniayse (att. 47%), na Nherdade de escolhia de prot (He 47), na earkiter pscaoal do eufragie Curt, 494, Yd), bem como na ber Wlvideal peranten planeamentn famiiar em condighes que veapaitenn a di dade elie jreworan fatnda art, 67%, 2, alin dy), nid Harem, a digitduile nao prnaupie eupacitade (patcaliysca) de aurodererrnly, Hag Hele du werde putvadae av orlanqus, as quals henefleiam de protege se teddate Arte Vatadi C411, 09%), nem as portadares de anonialia pslqutes [wrth PW A, allne W)) 7 11, Cada person tem, contide, de ser compreendide em relagto com as demals: A Wiynidade de cada poss é incindivel dade todos as outras @ envolve re oalilidade! Henle, en wera, avineulagio das cnttdadas privedas aoe dbeeitos, liberdid dete yaraniian (art, NY, 1), assim cameo diretta de feapusta ¢ de retificagig, Wenner ee hea Puss C1 diveto anions even vnteemeniada peruonalidads tn Hortugal Headtl Ana 2000 btweabet bon Canary 199M, pda I egg a there lavenivalyimenta dls pervanalilade ¢ sbueta, ne twokeule Detar tiga wit pesquisa, tte rind pa alien venice Aus Werden Nlowntiogs soe eateniont CHF JWR De MOL AL Ee asiu tiie Apuvutumagd) IU, phys 492 6 eyes “Hee palerieede Maney Meee (1 Batata Cranmerditen te Otvetta a wsnnfite dae idewlugion S808, ites Vt, AUB hye HIN) “A ene don nui teed aponna nin Blensttt cownan edad eset Hotties Mb AHH eth ole enahing, 1 Ae retin an, debiann aa conellefonnlin HYanaviORoenalina ats WOE ele qa ak HHH Hetritten ® sealaunne ponstyetes vee alu qs pide & aubfettdtidade enn Jitereubjanividede dm valor iby prtivve haniiong, w qual, ese val, pe vet eonatilarade 8 valinefutie ite idan n9 value: 6, ure Hn ee Ute shee Abeta ha nvenine funelamensate! a) A DIGNTDADE DA PESSOA HUMANA B A CONSTITUICAD na impren: " main ea a a a protbigo de organizagées racistas (art. 46%, n° 4), os ctos dost adores no trabalho (art. 59%), os direitos dos consumido- oe = Sea de oe e solidariedade para com os cidadios por- arn 78 n82), ia {art. 71°, n? 2) ou o espirito de tolerancia na educagio Donde, por exemplo, ainda a punigao do lenocinio, porque, afirma o Tribu- nal Constitucional, uma ordem juridica assente na dignidade da pessoa hum no deve ser mobilizada para garantir, enquanto expressio de liberdade de = sicuagdes catividades, cujo “principio” sejao de que uma pessoa, numa qualquer dimensio (seja a intelectual, seja a fisica, seja.a sexual), possa ser utilizada como mero instrumento ou melo ao servico de outra®, Ll - Cada pessoa tem de ser compreendida em relagio com as demais®. Por isso, a Constituicao completa a referéncia 4 dignidade da pessoa humana coma referéncia a «mesma dignidade social» que possuem todos os cidadias ¢ todos os trabalhadores farts. 138, n° 1, ¢ $9%, a! 1, alinea d)], decorrente da insergo numa comunidade determinada” **, fora da qual, come dizo art. 29%.n? 1,da Declaragao Universal, «nao é possivel o livre ¢ pleno desenvolvimento da sua personalidade~, Eaquise fundam os deveres fundamentais {arts 368, 075, 49°, n? 2,662, n¥ 1, etc). Tribundl Consrituctonal, de 10 de Margo (Dideioda Repiblies,2¥ série, de 19 {pio de dignidade da pessoa hurmana. mar de acordo com oan % Apérdao at 14/2004 do de Abril de 2004}. Aquio Tribunal aplicon diretamente © 4 Nao sinha, pols. 1az30 0 Depstado Aménio Reis quando, apesar de s¢ af teido fandamental da expressfo «dignidade dx pessos humane, dizta na Assembleia Constttuinte Sue ela permit introduzir urea dlmensio extr-socal individual e, porvencura, metafisies no texto da Constitulgso (Dtéria, 0° 25, pag. 624)- » Como ji frisava joaquin Mazts RODRIGUES DE BRITO (ep. cit, pigs. 223-224), seado Mentic cen todos 0s homens a riatoreza bnmarta, o homem ne eck dieits efetivos se nila for consideradlo pelos pews semelhantes digno de te assoclar com eles. © A expresso wignldade sactabs velo do projeto de Constirulgt0 do Parsido Socialisa, do art. 3d Constivutgio italiana ¢ do nosso proprio projeto de Constituicdo fart. 18%). : Na Assembleia Conetitninte, chegow 2 &t propost2 $ climinaydo da referdncis + digntdade social Se- sgundo o Depurado Vira! Moreira, lt apoatarls para um concelto socolggicn insussettel de bomoee- vreiaagin através shamna afirmasio juridics Ean contrapartida, 9» Deputsdo José Ls Nanes| justsficon-s, srusrentando que, desde que, se acelEasse 4 ExPrESSIO ae teria que seentender tambérn +2 68% Ignidads sociale. ¥.o debate, fa Didrte.n° 44. pags cccgs. ; Peocntrie, ‘qasegunda revisto conmtituctomal, houve dew propnsesseasupressiado adit ciale, por considerar que ele redurieia = digasdade da pessoa humana 2 ‘emconcety de relator nuiria seu sentido fassim, innervengdes dos Noguesra de: Brito, Macia da. Tcvern . ic Pedro Roseta, in Didrio. v legssiature, 2 sessio legislativa, It série, of 64, reuniio de I+ dignidade do AOL 2192 2195). Pot, conrad, objerado HE lise ceslgava peecisamente eis dobomert enciatmenteinserida| (ancereeagia do Deputade Aatsaio Vitoria ibtdeen, pig. 2192)- 8

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