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André custédio ou I ina Mota NA FONTE CaP sRASi. CATALOG GA Mores DE LIVROS, RD sr na ab Naidu de toned cl tas stg se Fr ae ses) Inch biogra [56N 978-85-7996 088-2 esd eensina 2.Lhnos letra Bras. aura bras bynes ie, Nede Luiz de. I Jover Feros, ‘a Mai Ar. I. Boze fit sere 3167 Grae cou: 82 140313 200813 ossset ovens PARABOLA EDITORIAL Rai te 34-Ianga strane pb 25 50-2075 12585 home | ape wengaibcaadhorlce ee er ‘ut pasboputectttlconty Farol ar es 'SEN:97885-7934-064-2 Medico, 21 . 2 reimpresss agosto de 2017 © dotexto: Mare Amel 2 la Dali Neide Luza ti: Prdboa Editorial Sto Pale Seen Mi Jone hiahes 2013. Capitulo 2 Eu gostaria de enfatizar o fato de que, dentro da existéncia de uma sociedade humana, ‘ietoccentraljum poder, represonta um con- junto de valores que no s80 comparéveis verdadeiramente a nenhum outro, valores fundadores de uma cultura, criadores de inumeraveis formas de arte (Paul Zumthor) _ Introdugao A questo proposta neste capitulo est diretamente li- Sada a discussao de cénone aliada & metodologia do ensi- No de literatura. Nao so questdes faiceis de serem aborda- das; se, por um lado, ha uma vasta reflexiio sobre cénone, Por outro, metodologia de ensino de literatura, entre nds, brasileiros, é alvo de preconceitos por parte de candnicos © nao candnicos. Nao discutiremos a formacao do canone em suas diferentes nuances — éticas, estéticas, de género, ‘ideol6gicas. Em principio, néio negamos 0 cdnone, antes, achamos que ele necesita ser ampliado, incluindo em seu Corpus, entre outras manifestagdes, parte significativa da , ais especificamonty no : * No 6, si dofendemos a presenca da qa” “aay ss brasileira, om da literatura a a ra da levadas & escola, espago candnicg Por Portanto, respondendo diretamente & Primeirg pana pont ta feita no titulo deste capitulo, devemos jer pergunta fei © levap a espaco escolar toda Ce verre ee ED or scrito. E por que fazé-lo? Porque toda vivéncia an escrito. ; Uistica, gy qualquer Nae en ttineeCOetei nae mbém 6 Necessérig ter o cuidado de nio aplicar & literatura ligada mais forton, 5 lente tradig&o oral critérios que no Iho so adequiados, oriundosq. sentido, escolhi a literatura de iit COMO exemply do que ler na escola e, no caso dessa Proposta, articulando., com obras da literatura canénica. Até Porque os didlogos entre elas séo bem mais significativos do que imaginamos, Discutiremos um PoUuco o contexto desta manifestacao ar. tistica na escola e, a seguir, apontaremos algumas Possibilida- - Situando a questao Nenhuma historia da literatura brasileira, desde a cléss ca obra de Silyi ‘Vio Romero (1980) 3 6 Verissim® (1976), Ronald dec, , passando por Jos cional, organizada Por F; Ee concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, trowne ais matéria de estudo a literatura oral de maneira gera reales rm particularmente, a literatura de cordel. Na tT cee) a A literatura no Brasil, dirigida por Afranio Coutinho (198 6. | fiteratura de cordel é citada no ensaio 4, do volume 1: “O folclo- re: literatura oral e literatura popular”, assinado por Camara Cascudo. 0 apanhado feito é dos mais concisos, detendo-se um pouco mais em cinco narrativas “destinadas ao ptblico letrado desde o século XV e quo, mesmo antes, tornaram-se vulgares distribuidas sem nome de autor, banalizadas em edigdes po- bres e alagaram o Brasil inteiro” (p. 190). Afora a importante obra de Luis da Camara Cascudo, Introdugdo @ literatura oral, que nao se voltava propriamente para a formacio escolar, toda a literatura que circulou no meio do povo ficou & margem dos estudos literdrios ¢ dos contetidos tanto do ensino basico quan- to do universitario. Apenas duas mais antigas trazom a litera tura de cordel para dialogar com outras obras literérias: 0 livro Literatura brasileira em curso (Riedel et al., 1968) ¢Diddticada, 37 literatura(Dantasy-1982), ambos de modo ainda muito timido. Aprimeira obra traz o importante folheto O romance do Pavao Misterioso, de José Camelo de Melo Resende, como componen- te de um nucleo temético voltado para o amor. Sem duivida, trata-se de um avango, tendo em vista, sobretudo, que na 6poca em que 0 livro foi publicado nao estavam postas entre nés as importantes discussées sobre 0 enone literdrio. O capitulo da obra de Dantas (1982) realiza uma leitura do folheto O assas- sino da honra ow a Louca do jardim, de Caetano Cosme da Silva, numa perspectiva estrutural (lanca mao do modelo de Claude Bremond). Portanto, trata-se de aplicar um modelo de andlise a um texto de origem popular, 0 que como proposta didatica para © ensino da literatura de cordel parece-nos de pouco aleance, O que let Por qua? No contexto mais amplo da divulgagéo da literatura de cor. del, no meio intelectual e académico, nio podemos esquecer a Mportante antologia de folhetos organizada por pi uisadores 0 i P 1¢ Rui Barbosa, na década de 1960, sob a ban jigados 8 CSt te iterério Manoel Cavalcante de Pret’ do respeitade ente muitas antologias tém surgido, org Be (1980 n eonunt® mais amplo de poetas, ora com solo, a s de an dinico poeta, como @ colegio Cordel, edie Outro fato novo ¢ & publicacdo de folhetos cna e cordel por grandes editoras visangg { de livros para a escola. Hedra. ieee ede antologias de compras governamentals Contemporaneamente, alguns livros didaticos trazem ia mentos de um ou outro folheto, mas a abordagem que dispes, sam a essas obras é bastante limitada*. Neste contexto de au. sencia, duas questdes so postas em discussao: ado podera ter a leitura de obras de nossa a) que signifie: ds ie cordel nas diferentes series do ensino fun- literatura di damental e médio? b) Que procedimentos metodolégicos podem ser articula- dos quando se deseja trabalhar com a literatura de cor- del? Muitas outras questdes podem ser Jevantadas, mas fiquemos com estas duas como norteadoras de nossas reflexdes e sugestées. Sea literatura de cordel traz uma vivéncia peculiar de deter- minados grupos sociais, se traz questdes humanas que interes sam nao apenas ao grupo a que esteve ligado em seu nascedot ro, certamente ela podera ~ Fes, uma vez que apresenta uma experiéncia humana de pesse® simples, mas nem por isso desprovidas so bre determinadas instituigdes ou sobre fendmenos da nature ntologia ® Trata-se de dois volumes: uma antologia e um livro de estudos. A 2 do cod? ainda a mais abr Os prima erangente e reine o que se pode denominar 0 cénon® 5 3s Sessenta anos do século XX iscutimos a pr wiiasie ne No cordel no livro didético no artigo “Literatura 4° one artistica ou autoritarismo?" (Alves, 2011). | Jo mais 4 ta io pede uma reflexéo mais ampla, aten' ratura de cordel esteve sem im dado da maior importan- A segunda quest ‘os histéricos a que a lite sses aspect aos aspect pre ligada. Dentre e: cia é 0 fato d ‘A literatura de cordel, n0 contexto dos primeiros cinquenta anos do século XX, foi apre- ciada em sua quase totalidade _colaridade. Os folhetos eram normalmente cantados ou recita- dos em pequenas comunidades de leitores nos mais diversos pontos da regido — feiras, fazendas, casas de moradores, fa- rinhadas, encontros no ambiente de trabalho, como rocados ete, Mesmo escritos, os folhetos tinham uma recepgao marcada pela voz, e, muitas vezes nos espagos de venda, sobretudo nas feiras, através da apresentagdo ao vivo do vendedor. Uma con- soquéncia metodolégica dessa marca do folheto devord ser a de se buscar sempre, em situagao de ensino, dar-the voz, testar maneiras diversas de realizagdo oral e até de encenagiio. Res- tringir o folheto a leitura silenciosa — como se faz com a poesia em geral — é limitar seu poder de comunicagao, e, portanto, enfraquecer sua recepgao. 8 Essa conviccdo nao nasceu de uma teoria, mas de uma vi- véneia — primeiro, como crianga e, na idade adulta, como lei- tor. Fla confirmou-se teoricamente em muitas reflexes, como as de Paul Zumthor (1993, 1997, 2005, 2007), de Alfredo Bosi (2003), de Mikel Dufrenne (1969). Para Zumthor (2005), queer? Por quar + Embora no se referindo 3 poesia popular, as reflexdes de Bosi e Dufrenne tem um alcance que pode abranger as mais diferentes formas que 3 poesia assu me. Para Bosi (2003: 469), "se 0 leitor conseguir dar, em vor alta, o tom justo 20 Poema, ee teré feito uma boa interpretacéo, isto é uma letura ‘afinada’ com ¢ spirto do texto". Ja para Dufrenne (1969: 68), “reconduzir a poesia s suas or ‘Sens, aquém da escrita que faz dela um simbolismo visual, consequentemente, de nosso povo no inicio do ‘ulo — a situacdo econémica de grande parte da populagao, a arrogincia do estrangeiro, a es- perteza como um procedimento de sobrevivéncia, dentre ou- tras questdes. Outra possibilidade de abordagem, ainda envolvendo folhe- tos classicos, 6 a leitura comparativa de um folheto de cordel ¢ de um romance. Sao eles: O romance do Pavao Misterioso — José Camelo de Melo Resende; A botija — Clotilde Tavares, A leitura do folheto, como sempre, deve vir primeiro. A se- guir, a leitura do romance. Observar episédios que sfio retoma- dos, 0 aproveitamento da musicalidade do cordel, mas também atentar para mudangas, elementos de enredo que sio amplia- dos ou diversificados. Sobre essas duas obras, veja-se a leitura analitica de Farias (2009). Agora voltemo-nos para um poeta contemporaneo, cuja obra 6 uma das mais importantes da literatura de cordel atual. Trata-se do poeta Anténio Francisco, que tem uma vasta obra, toda ela de grande valor estético ¢ forte apelo social. 0 folheto que escolhemos para uma abordagem também de carter com- parativo foi A arca de Noé. 0 poeta reconta o episédio biblico de uma perspectiva totalmente inovadora, trazendo, inclusive, © pouso da arca para terras brasileira. O bloco de leitura ¢ discussio seria o seguinte: A arca de Noé — Anténio Francisco; A arca de Noé — Vinicius de Mora Episédio da Arca de Noé — Biblia. Observar as diferengas entre os trés textos — tanto de cardter formal (dois em verso, um em prosa) quanto tema- tico (um com forte apelo religioso, outro, mais politico), e o 43 O que er? Porque? Al —_—_"—"_—sK$§—sMs&Ssf Jost Helder Preio Alves & s aborda 0 tema a partir de um viés Esses procedimentos ¢ nuances reins eve ela poema de Vinich ea capacidade de cla proporeiy Map postic a rique? a da literatura oxporiencias peculiares. yg a um tema classico em nossa tradigao litergy, ia, Passemo: : do em obra do autores nordestinos. Trata-se datemétig, sobretut das socas das grandes 008 Os leitores em geral come mitica pelas maos de ir essa tel ~ tematica wi abordada de modo pioneiro ™ No entanto, essa nossos poetas populares Leandro e Jo&o Martins ja no inicio do século XX. Poderfamos ter aqui um conjunto de obras mais abrangente, como por exemplo: 4 seca no Ceard — Leandro Gomes de Barros; 0 retirante — Joao Martins de Athayde; A morte de Nand — de Patativa de Assaré; Vidas secas — Graciliano Ramos; O quinze — Rachel de Queirés; Morte e vida severina — Joao Cabral de Melo Neto. Aqui 0 leque de possib observar a imagem que cada poeta e escritor tem da seca — como a caracteriza, que cenas sao destacadas, que avaliagées sio feitas ete. Depois, atentar para aspectos da linguagem de versos e estrofes @ fei chee oe ‘sme qwyeona 0 efeito alcangado. Observar também @ ; s 0 personagem 6 narrador e se ha algum efeito dite rente e1 : eS fie m cada uso do escritor. Essa tematica jé motivou varios Ini ‘5 295 Sugestes de ativida Sinos fundamental e médio p ides com folhetos para as mais diversas se" 2 »odem ser encontradas em Pinheiro & ‘Marino 2" a Todos os folhetos que constam nessa pequena lista podem ser lidos também Individuatmente — pensamos mama fitu- -erudita dialogam com a literatura popular. Praticamente todas essas sugestes foram testadas em diferentes momentos e es- pagos — como em cursos de pés-graduagao sobre literatura de - cordel, encontro com estudantes do ensino médio, minicursos para professores de rede piiblica e particular de ensino etc. Faz-se necessério, cada vez mais, quo a universidade, além- do trabalho de formagao do leitor critico, também forme o pro- escola bésica. E fundamental pensar procedimentos que fujam da tradicional aula expositiva de literatura, das abordagons que tm como ponto de partida nio 0 texto, mas informacoes 4g histéricas, formais, teméticas sobre autores e obras. B impres- -cindivel sempro partir do texto literdrio — procurar, no Ambito da escola, realizar o que Colo- mer (2007) chama d tras palavras, estimular © jovem leitor ou a crianga a se pronunciar sobre 0 texto, a dizer seu ponto de vista, a dialogar com 0 texto e com - 0S colegas. Essa perspectiva 6 devedora de diferentes teorias desenvolvidas ao longo do século XX, tais como a busca de uma de Paulo Freire, ¢ a mudanga do foco da ‘eitura literaria para a contribuigao do leitor, empreendida pela estética da recopgao, © quale? Por aur Ateraturae se esino Indicamos a leitura de duas dissertagdes de mestrado de- fendidas no Programa de Pés-Graduacdo em Linguagem e En- sino da Universidade Federal de Campina Grande. A primeira, de autoria de Alyere Silva Farias, realiza um experimento com 48 seguintes obras: 0 conto A volta do marido prédigo — Joio ———— | ¥ José Helder Pinheiro Aves & -_qraes Rosa, 20 livro Sagarand — © 0s folhetog de de Fogo ® restamento de Cancdo de Fogo, any, lag ance Pers de BaTTOS Aexperiéncia ocorreu com Pa dey andro no médio. Destaco aqui algum, tun, ensi ejro ano do ° 5 a do ter das pelos jovens leitores, entre uma ha ol Ira , jes, percebidas Pt Hee duas obras da literatura popular. O xperimenty aa a que 6 possivel aproximar literaturas que a0 longo ¢g hua foram vistas como distantes. Claro, esse distanciament ¢ em seu bojo w 1 Largo P aria ‘A segunda dissertagao, de Fernanda Chaves Bezerta g. Moura, retoma sextilhas populares, Cuja tematica se 4, para os mais yariados passaros e bichos de nossa fauna, leva esse material para uma sala de aula da 4° série do 2 sino fundamental — hoje 5° ano. A leitura das sextilhas as criangas teve uma recepeao bastante Idica, prazerosy _ musicalizagao das sextilhas, elaboragao de jogos dramétion ‘eilustragdes!, Nos dois experimentos, fica claro que, primero, a liter duas experiénei També cmnsitundose yo tae oral dos poomas foi 0 carro-che® madas dos textos g Procedimento que estimulou varias ror Calas tuanves gy censecuentemente, percepeoes novas © uma primeira leitura seriam desca™ As du Hs dissertacg ses Podem ser acessadas no site:

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