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| O portugués — | mete el coune a lingua que estudamos te CoM TArAUoMe[OLM celles Cappright® 2006 Rode Hart @ Menate Hasso nos 1s diteitox dboatn edi Falitona Comtesto. (Fito rvatlon a aaky Hola) Hsoragito de capa 0 violeira’, 1899 (leo sobre teh) Montagem de capa ‘Anionio Kehl Projeto grafico ¢ diagremagiio Gustavo S, Vilas Boas Revisio Lilian Aquino Ruy Azevedo jonais de Catalogagio na Publicagio (CI) do Livro, SP, Brasil} i, Rodolfo © portugués da gente + a lingua que estudamos a Lingua que falamos / Rodolfo Tlari, Renato Basso. — Sio Paulo: Contexto, 2006. Bibliogeafia, ISBN 85-7244-328-2 1. Portugués — Brasil 2. Portugués ~ Estudo ¢ ensino 3. Portugués — Histétia 4, Portugués ~ Uso 5, Portugués ~ Variagio 6. Sociolingiifstica 1. Basso, Renato. I, Titulo. 06-2343, CDD-469.798 indice para catélogo sisternét 1, Portugués do Brasil : Uso + Lingiifstica 469.798 . Forrora Coxrsxto Diretor editorials Jaime Pinsky Rua Acopiara, 199 — Alto da Lapa (5083-110 — Séo Paulo ~ si" papx: (11) 3832 4838 contexto@editoracontextoycom.br "br Proibida a reprodu,in total ott parcial Os infeatores setae processados ria forma da et “ As origena © longo caminho entre as orlgens I © portugues arcaico © portugues clissica A difusae do portugués através depos ke ‘fege d ie’kela ve pa u ‘kampu, ajuda meu paj ajudo a Mece'fle ‘kampe. ‘este. ‘pongo alam'brado, alam'bromo, judo ‘el alam'bra dlos'po ‘kuande ‘mofte alyum ani'mal a'sudo oli a kuori'a | le'gemo pra fs, pra a ‘stansja | dos'pos tra'jemos as ‘haka ke re'sejn ‘deru) ‘kria pa... pra orde'pa i dos'po tra'Somos us ter'nura [sic] pa as ‘kaza pa ‘otro ‘dia di ma'pa orde'pa. Dopois que chego da escola vou para 0 campo ajudar meu pai. Ajudo a tecorrer campo. Isso. Ponho alambrado, alambramos, ajudo ole a alambrar. depois, quando morre algum animal ajudo ele a courear ¢ chegamos para as para a estancia E depois trazemos as vacas que recém deram cria pa... para ordenhar e depois trazemos os terneiros para as casa para outro dia | de manhé ordenhar. —SITUAGHO EM 1-7-1960— © coca | quenquém © guiné © galinha-d'angola + caque eacene Variagao diastratica Aeon ° \ principal conclusao da secao “Variagao diatépica” € que, no Brasil, ys encontramos verdadeiros dialetos no sentido diatépico do termo. oninimos, em compensacao, uma séria diferenga entre o portugués falado |) parte mais escolarizada da populacao (que, nao por acaso, é também a fe mais rica ou menos pobre) € pela parte menos escolarizada. Eo Homeno que os lingiiistas chamam de variac&o diastratica Hnologicamente: o tipo de variagdo que se encontra quando se comparam Jeicntes estratos de uma populagio). Referida as vezes como “portugués {hpaudro” ou “portugues sub-standard’, a variedade de portugués falada |i populagao menos escolarizada foi descrita por varios estudiosos, nie cles C: Algumas amostras de um dialeto de tran: iGao: portugués/espanhol Quando se fala de transigao entre espanhol e portugués, as pessoas pon imediatamente no portunhol, que 6 uma distorgao deliberada mediante a qu falantes de uma das duas linguas tentam aproximar-se da outra. © portunhol ni nesse sentido, o vernaculo de ninguém. Ha, contudo, na regido noroeste do Uru alguns falares vernaculares que combinam tragos das duas linguas ibéricas, E9) falares so conhecidos localmente como carimbao, basajio ou simplesmente brasil Nessa regido foi sempre muito forte a penetragao de brasileitos vindos do Rio Gra do Sul, ¢ ela foi a ultima a receber colonos uruguaios. No final da década de 1990 linguista uruguaio Adolfo Elizaincin e seus colaboradores (1987) descreveram algu dessas variedades. Do material que ele levantou na época, transcrevemos (utiliza © Alfabeto Fonético Internacional) 0 trecho que segue, no qual o entrevistado, adolescente, explica como ajuda o pai nos trabalhos do campo: q stilho,!” que enumera assim suas principais caracteristicas: Fonética © queda ou nasalizacao da vogal dtona inicial: incelenca por exceléncia; © queda de material fonético posterior A vogal tdnica: figo por figado, Cigo por Cicero, centimo por centimetro, © perda da distincao entre vogal e ditongo antes de palatal: pexe por peixe: * monotongacgio de ditongos crescentes em posi por substdncta; © uso de fj] por [é1: ['foje] em vez de ['fodel; 0 final: sestanga Morfologi * perda do os di desinéncia da U8 Priel pessoa pl © anteposi¢to do adveibie de Tin summa, quinde Taitamiee de qualquer variante sub siaidand do Qigues brasileira, @altios dinnte de outro codigo, © mo de eros, low hs limitagdes mentais dos Individuos que o empregsim, Do ponto Visti pedagogico, & fundamental perceber que os alunos que chegam ola falando uma variante: subpadiao precisam aprender a variedade J como uma especie de lingua estrangeira; isso nao significa que de Giianeas devam ser poupadas do aprendizado da lingua padrio, J} valor cultural @ inegivel; significa apenas que a crianga que sempre Jou calipe, para chegar a escrever , tera de aprender essa {ivir como uma palavra nova e, portanto, tera de dar dois passos em) / de apenas um. Infelizmente, muitos de nossos mestres de primeiras fis nao param para pensar nesse tipo de dificuldade; com isso, € sesivel que acabem gastando muita energia no uso de estratégias dagogicas equivocadas ou que tendam a subestimar a capacidade de 44 alunos, quando o problema é outro. sdades subpadrio de uma lingua tém poucas chances de "na escrita, por isso, se quisermos encontrar exemplos escritos de itugues subpadrao, teremos de procura-los ou em entrevistas fcitas velos lingiiistas, precisamente com a finalidade de registrar sua existénc! ou. em trabalhos de autores que a utilizaram para fins estéticos (por exemplo, puna acterizar determinados tipos humanos). Damos a seguir um exemplo dle cada caso: 0 primeiro € a transcricdo de uma entrevista feita com um idolescente de Goiania, que viu um colega ser baleado pela policia militar, ‘ante uma batida na favela; no outro, aparecem as letras de dois sambas de Adoniran Barbosa. comparagio a adjetives CompataliVos: Mais Mi ony ver de eon a Sintaxe: © uso de uma tinica mare de plural nos sintagm, e-austncisidle marca decrncrdice ts HOMINIS CoMpTEX« : na 3° pessoa do ph articularmente com sujei 3 pessoa do plural de ver! parton la ohendeoe Posposto (os doce mais bonito sau b indo chegou os bombeiro fa nao ti wa pra fazer etre fd nao tinha mais nada * negacao redundante com indefi is i Se is te com indefinidos negativos (nineuem ndo sabia), aparecit ; He oe Segundo advérbio de negacao depois do vetle e eventual queda do advérbio de negaci rena ae egacdio ante 2 nck pa ‘Bacao anteposto: ndo vem nav ou * a oragio relativa adota as construcé ona e Bae adota as construgdes conhecidas como corti piadora: @ casa que eu morei ou a casa que eu morei nela (e da construc4o padrao a casa em que morei); a * uso dos pfonomes do caso iSO reto na posi e ‘ mulher xingou eu. Posicio de objeto: eu vi ele, a adora Ou Por raz6es tanto pedagégicas como cientificas, é importante que as formas e construgdes do portugués See fea ae uma variedade de lingua que tem uma gramati propria, e a cad i permite uma comunicagaio muito eficaz. No portugues ry aa fea fala no Brasil, a conjugagio verba) reduziu-se, é werd a ance aed » a duas formas; eu —___—-—> falo voce ele /ela nds / a genie fala woces eles / elas Antologia Entrevista sociolingilistica com menino de rua de Go Entrevista sociolingilistica com menino de rua de Goidnia ‘Antecedentes da pesquisadora: urbano Antecedentes do menino: ‘rurbano™ Estilo: semimonitorado Evento de oralidade __Comparado com @ representacio da gramdtica normativ: seis formas e seis pronomes diferentes, esse paradigma a mus raz para parecer pobre. Mas o inglés ¢ © francés falado tambér ae ou trés formas, ¢ ninguém se lembraria de dizer que isso ‘ a para aquelas linguas. Note-se que a variante subparitis. ae ee problema cantamo de néis cantemo consegue distinguir oriole : i ade 2 do verbo (o presente € © pretérito perfeito), uma diferenes impog yn ee © portugués brasileiro Culto nao consegue marcar e que See marca por uma distingo de nasalidade. He 0 Portugués europen Pesquisadora: Vocé quer contar como os policiais mataram 0 Adauto? Menino: Néis tava dormino 4 em casa, as treis hora da manh, i os pu chegaro, deu um tiro na porta, pego na perna do “fulano” ai em seguida ez arrebenté a porta, af deu oto tiro, pegd na cabega do Adauto, ez viro que tinha Soe rtado @ Adaute. Falare: ‘Vame wal fora que oerté 0 Menino aqui". said tudo earenG G8 policials, af desol de cima do armétio, cortt na porta pa Ve @ @U Vid © RUMerO da Viatura déze mas num conwegul, voltel lé 0 Adauto ia fava quase parano 0 coragao dole, tz massage nolo, Consegui deixa ele viveno mais um poco, foi ou © “fulano” busca socorro pra elo. Pesquisadora: E onde vocés foram? Menino: Néis fomo nu'a casa, | deu sistenga pra nds. Pesquisadora: E? Levou o menino lenino: Levou os dois. Pesquisadora: Ah, e ai? Menino: Af eu fui dormi la no horto, af no oto dia que eu vim aqui na Catedral e contei pro povo aqui, at ful no hospital c’a tia, af vio Adauto 4 no on,‘2 Esse texto € a transcrigéo de uma ent convengGes grdficas correntes da pesquisadora, que se exprossa na variedade padra Menino se perde numa transcrig&io desse tipo, notavels. O quadro a seguir resume as dif comparacao ponto a ponto. fol eue ld em frente, al o homo pro hospital? revista oral, utilizando 0 alfabeto o do portugués escrito, por . Alguma coisa da fala mas ainda assim as diferencas Formas tipicas da variante-padrao | Formas tipicas da varlanie néo-padrai (fata da pesquisadora) (fala do menino) | 08 infinitivos terminam em =r 9 =r final dos infinitivos | nao € pronunciado: deixé viveno, bused socorro @ desinéncia da 3* pessoa do singular do pretétito perfeito 6 ou; fevou do pretérito perteito 6 -6: PeQ6, arrebentd a desinéncia da 3° pessoa do plural do pretérito perfeito 6 ~aro: falaro aparecem como contragées de preposigées + artigos nu’a, (em + uma), pro (para + 0), ca (com + a) Notem-se ainda, na fala do menino, os seguintes tragos, tipicos da fala nao- * 88 formas tava, sistenga, oto, massage e home, 0s gertindios terminam em —no: dormino, viveno: a consirugao consegui Glelxd ele viveno (com o pronome ele em fungao de objeto direto); auséncia de concordancia entre o sujet @ o verbo (au tudlo corre © uS0 da preposi¢ao em depois do verbo ir (fomo numa casa), | a desinéncia da 3° pessoa do plural do pretérito perfeito 6 =aram: mataram aparece a contragao (preposi¢ao + artigo) pro | | Access padrao: no os policiais); isso € mais facil ler as (al ferengas que encontramos num @ desinéncia da 3° pessoa do singular do Arnesto y now convidd samba ele mora no Bras furmo mas nao encontremo sutra veiz néis num vai mais + ulto dia encontremo co Amesto je pidiu descurpa mas ndis no eitomus, #0 nilio se faz Amesto joi néio se importa ‘Mas vocé devia ter ponhado um feondo na porta Lim tecado ansim 6i: i lurma, num deu pra espera Avluvido que isso nao faz ma Num tem importanoia Num faz ma Avsinado em cruiz porque num sei osorevé Arnesto oul an ia Ut Barbosa Saudosa maloca Se 0 sinhé nao est lembrado Da licenga de conta Que aqui onde agora esta Este adificio alto Era uma casa velha Um palacete assobradado Foi aqui seu mogo Que eu, Mato Grosso € 0 Joca Construimos nossa maloca Mas um dia Nem quero me lembra Veio os homens cas ferramentas © dono mandé derruba. Peguemo tudo as nossas coisa E fumos pro meio da rua Aprecié a demoligao Que tristeza que eu sentia Cada taubua que caia Doja no coragao Mato Grosso quis grita Mas em cima eu falei Os home ta coa razio Néis arranja outro lug& S6 se conformemos Quando 0 Joca fald Deus dé 0 frio conforme 0 cobertor E hoje néis pega paia Nas grama do jardim E pra esquecé Nés cantemos assim Saudosa maloca Maloca querida Dim dim donde néis passemo 08 dias feliz de nossa vida. Mulla caraoteristions stieas estas dias letras de Adoniran Barks: caracteristions lingil desta dias | I ia ona | oneontiadas No depein ment aif Haacrieok lao, Notas ett de Golania, @ 6 Isilor nao teré dill variagho diumésion Compreende, antes de inais nada, as profundas tendéncia para suprimir 0 —rom a ae ven fuga, que apontam pal que se observa entre a Hingua falada ea Fingua esert. Unie lo palavi ‘ - muons 7 nai tld aresatittome, verter, dosteme-e f a também no caso dos subatel igh eacoltr HERMON As pesboas A vigkte a escritt © a lar outras formas d oreontena 8 do protérito parfeito respondents do presente do indicalivo (om rorioguée on Alenedo & fala, por isso muita gente pensa que fala da mesma acontece); concordancias como ndis arranja out padrAo inse Hue esereve, Na fala, as pessoas dizem coisas como “He, “océis”, i ‘anja outro lugac, © aa speiel tte terceira pessoa do singular concorda cot i ugar, om que um vert be “tequinico’, pensande que dizem, “nde &°, “voces”, disseram’”, plural. Note-s m um pronome i do primei @ ainda a sentenca ndis nao so i Pome Chae no se impor i em que 0 se 0 Unico pronome reflexive, i Deleted Oe © Mas a diferenga entre © escrito ¢ 0 falado vai muito além dos Entre o escrito € 0 eos que dizent respeito & forma das palavras. | fa cima diferenca irredutivel de planejamento. Quando produzimos um texto escrito podemos pensar previamente Satrutura em partes, podemos decidir em que ordem essas partes serio. Variagéo diamésica duis, podemos avaliar formulagoes aliernativas. Se, Com tudo isso, O | wactito ainda nos parecer inadequado, podemos corrigi-lo € modificd- © o resultado final, para aqueles que tém alguma habilidade na escrita, é dvalmente um texto que se des enrola linearmente € quase nao apresenta dios © redundancias. Além disso, © texto escrito € tipicamente um jo que tera de falar por si € que ndo supoe por parte do seu destinatario No balango das dimenso oe le dimensdes a0 longo das quais as linguas pov ,a “atlacao No tempo, no espa i es ee fe , NO Espaco e por niveis de escolar Res ynOmiicos), nilo poderia faltar uma dimensdo que €2 ieee i le se refere aos varios veiculos ou meios de utiliza. Em paralelo com os adj S Vezes esqued ce expresso que a lin) . vos diacrénica, diatopic 3 que foram ados e “ni , diaiopica e dic ene utilizados © definidos em parigrafos anteriore: jastrali\ jominar esse tipo de variagdo de varia Pee at Bose ee ico diamésica (ctimologicamen| a0 uso de diferentes meios ou veiculos). | vonhecimento muito exato da situagao em que foi produzido (a menos jp essa situagio seja descrita no proprio texto). Isem diferente € 0 caso dos textos falados: eles podem tirar partido da Juncao de fala de varias maneiras (por exemplo, dispensando a necessidade © descrever os objetos € pessoas que estao presentes na atencao dos além disso, os textos tipicamente falados sao planejaclos & O falado e o escrito Hierlocutors Jhivalida que sao produzidos, por isso 0 mais comum é encontrar neles um. grande jumero de reformulagdes sucessivas e sempre parciais de um mesmo contetido: sina mesma informacao que foi apresentada inicialmente de forma incompleta Aik i bu inexata vai sendo reapresentada em seguida de maneira mais pertinente, llustragao ao lado, extraida de Silva (2003), Feproduz uma pagina do manuscrito de jim processo de corregdes, acrescimos ¢ reformulacdes que nao tema ver com ee = . at oe ree ei linha curva’, conto de Machado de » sentencas bem acabadas e totalmente explicitas que os gr maticos costumam, - Coe sernass Coch at oe eee vate em seus exemplos, Em oposicdo ao desenvolvimento “retilinco” do texto Fy cael chamado a atengao dos criticos e Sone iad cactito, ja se disse que o desenvolvimento mais tipico dos textos falados traga “ a da literatura, como um meio importante de eritender ima espécie de espiral que atropela a si propria. 3 ee ea de criagao literaria. Mas emendar textos : : fal tos 6 algo que todos fazemos ao redigir. O objet ie Siiiso chegar @ um texto correto, fiel ao P mento € possivelmente elegante a or eo rm sua forma tna. Na toma fal dos critos (@ diferenga do que 08 textos falads), as tontaivas de rodagae cag Is tativas de re a foram abandonadas nao aparecem. rat Helare que, por lingua filuda, entenceme weiquia Tague verdict nem toda thensagem que nos Chex pelo ouvido Ce nao pelos ide uma mensagem faladiy o tele jomal, O8 discursos elas con politicas, as Conversas tclefonieas Com que nos atone exemplo, sto exemplos de lingual lid, isto &, de lingua que fot escrte posteriormente falada, e suas caracteristicas sao outnas, E muito dificil, nao s6 para os leigos, Falack na ver wnt o telemarle mas tambon pit especialistas, pensar qualquer aspecto das grandes Iinguas ocidental evocar, de maneira automéatica, uma de tantas represent agoes traced construidas em sua maioria com base na lingua escrita, Es: ais represent as perguail estudioso, 0 que é confortavel, mas nao levam neces: ‘triamente a fh descobertas. Devido a essa situagao, e ao peso que os te sempre tiveram na claboraco de modelos para a atividade especificidades da lingua falada fi tradicionais costumam trazer respostas Prontas pari XLOS CHE lingiiistle icaram, por muito tempo, inyisiveis, Passo gigantesco para reverter essa situagao, no Brasil, foi dado co) Projeto da Gramatica do Portugués Falado, uma grande iniciativa de r coletiva, ideali pesq da e coordenada pelo lingiiista brasileiro Ataliba Teixi de Castilho, Esse projeto ja produziu varios volumes de estu preliminares, em que se descrevem diver S caracteristicas da ling) falada,* mas seu final, prometido para breve, seri uma grande gram de consulta, que dara & sociedade brasileira uma representagao fiel lingua que ela fala e permitira reformular o ensino em bases mais ob Antologia Uma transcrigdo direta da lingua falada Uma boa maneira de perceber a enorme diferenga que hd entre a lingua escrita ¢ a lingua verdadeiramente falada consiste em ler uma transcrigéio néio editada de um auténtico episddio de fala. E 0 que se propée na leitura que segue. Trata-se de um trecho de entrevista gravada pelos pesquisadores do Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta (Nurc), um vasto projeto que comegou no final dos anos 1960, ¢ que visava @ determinar como falam as pessoas cullas das grandes cidades brasilciras, Da entrevista participam duas pesquisadoras e uma informanto, e o tema sao as experiéncias da informante em matéria de espetaculos (teatro, televisao, cinema); no trecho selecionado, a informante narra um episédio que marcou sua adolescéncia: a Participagao como membro do corpo de baile num espetaculo em que uma companhia Tussa epresentou 0 balé “O passaro de fogo”. Para maior facilidade de leitura, numeramos os tumos (T1, T2... 115); as duas documentadoras e a informante so identificadas, respectivamente, pelas siglas ‘Doc A’ e ‘Doc B’e ‘Inf. (TH) Int (12) Doo A (13) Doc B (14) Int (15) Doc A (T6) Inf (17) Doc A (78) Inf (9) Doc A (110) Inf eome ‘Half yeeé ja imaginou para ((rulde dé garganta)) para {iat A Page Hair’ quanta gente que nao fol... dh dh nto fol oh brepareda all... porque o grupo que trabalha om ‘Hair’ 6 enorme: nO... Vous NAo asalstiu? voce assistiu né? uhn uhn assist / tenho improssao que ali levou tanto tempo de ensaio... bom eu quando tinha uns dezoito quinze a dezoito anos eu estudei balé... ¢ tive oportunidade de trabalhar fazer uma cena com 0 0 0 bale tusso... eu era alu/ aluna da Maria Ulineva... entao para mim era uma noviDAde né? teatro porque s6 estudando estudando estudando quando chegou o balé russo aqui em Sao Paulo eles pediram que as alunas do do do da Prefeitura que éramos nés aquele grupo TOdo fosse fazer cena num num num dos nimeros que eles apresentaram era ‘Passaro de Fogo’ me parece... eu achei aqullo horraroso viu? me chocou tremendamente porque... éh por detras dos bastidores é Uma coisa horrivel né?... 6 tudo 1Ao... parece tdo tao mascarado sei la e quando aparece em cena © puiblico vé uma coisa totalmente bonita né?... aquelas luzes... quer dizer aquilo me chocou era tao crianga eu me lembro que eu... j& achava... diferente 0 Municipal era LINdo maraviLHOso visto do lado de ca né? uhn hn do outro lado e qual 6 esse outro lado a que a senhora se refere? eu digo os camarins a preparacéo toda para entrar... principalmente no no corpo de baile né? de... que 0 pessoal todo tem que se exercilar e mudar muito de roupa... eu ach ... quer dizer eu tive pouco pouco tempo eu estudei acho que uns trés anos balé trés ou quatro... e nao tive assim apresentagao em teatros nem nada... depois eu larguei mas nessa vez que 0 Balé Russo veio para cA que nds fomos fazer fundo com eles para eles... eu achei aquilo me chocou... sei lé achei... por detrés dos bastidores uma coisa medonha uma baGUNga treMENda... aquelas cenas que eles mudam rapidamente quer dizer é um mundo de gente a trabalhar né?... ea atrapalhar também ((risos)) e onde 6 que as bailarinas se trocavam se maquiavam? ha um ecifico ou n&o? : oes camarins né? @ ld nos camarins ¢ a coisa mais bagungada que tem... ((risos)) é roupa 6 uma correria danada 6 sei [4 eu achei aquilo me chocou tanto viu... porque a gente ve t€0 bonito né? (TH) Doe A uhn 112) 4 (M12) Int eu ache. ma® au tive pouco tempo viu Com... Eom BBA assim do balé au... @U @stucal maw NAO me apreKentel qué | nada... apesar de gostar multo 8 lor goatado né? 1a) ~- poe ((riso8)) (T13) Doc A ia Dona |. passande assim mais agora para o canpe ies - eu queria saber qual o tipo do o que mais chama ale a ae No que diz respoito a cinema? nao 6? eu sel senhora jd a senhora ja disse c que nao goste ‘a | eae gosta de drama gy (114) Inf comédia TH (T15)Doc A Porque de drama jé chega a vida ta? ((risos)) } {inquérito Nure oi sp 234) Embora a entrevista se} ‘a Seja uma pessoa lucida @ articulada, o t é if a 0 texto é de dificil Precisamente porque n&o foi escrito para ser lido. Como 6 ti ae - ico na fala, encontramos ni | ‘alsos comegos”: eu era alu... (T4); * “marcas de hesitac&o”: por exemy 96 “marca plo, as repetigoes “esi Peace ig6es “estucando, estudan | om a nas reformulagGes: fixemo-nos no trecho em que a entrevistada explica mais impressionou a informante em sua patticipagao no espetaculd ‘me chocou tremendamente aquilo me chocou, me chocou, sei lé eu achei [aquilo horroroso, eu achel | aquilo, + achei | por trés dos bastidores uma coisa medonha, | ie ; - . uma bagunea tremenda| i plea ‘Compactar” todos esses trechos para entender que a do mais marcante resultou da visa f o do que acontecia atré a i , q ecia atras dos Bs tongs © que a cena Impressionante nos bastidores 6 a agitacao de i que precisam, a0 mesmo temps, trein: it s , , treinar mi * particulas como né, viur?: ene ene * expressdes como (eu) acho ou sei Id: expresses intercaladas, como bom (T) ou agora (T13) Todos esse mE ie sete Gesapareceriam se a informante estivesse produzindo um Ease {alo diffcultam nossa leltura da transcrig&o do didlogo. Na lingu | } Porém, eles so necessarios @ altamente funcionais: : oe sabe eee do fato de que a fala é planejada © executada eae Bal re 2 Mesmo tempo em que é produzida; por sua vez, coming eesti a mages trazidas por enunciados sucessivos de im Ser processadas cumulativamente; + partieulas Gome f@ @ viu SAO UMA forma de monitorar 4 atangao do interlooutor & Medida que 6 didlogo se desenrola, garantindo, por assin dizer, que ele nao ‘lasligou, Tam A mesma fungao que, numa convorsagdo tolofOnica, seria reservada A perguntas como "ood esta ai? vod esta me ouvindo?® (lecnicamente, esse controle de que “a ligagao nao caiu” € conhecide como “fungéto fdtica"); oxpross6es interealadas como bom ou agora (T4 @ 713) anunciam uma e sentido tém um papel que corresponde, na mudanga de tépico en osorita, ao do recuo da linha; usando expressdes como eu acho ou sef Id, a informante procura evitar que suas opiniées sejam tomadas como excessivamente categéricas, ou inegoctaveis, o que poderia ser interpretado como uma forma de arrogancia, passando uma imagem negativa de quem fala; quanto as repetioGes que interpretamos como marcas de hesitagao (pausas cheias), elas evitam um siléncio que poderia ser interpretado pelo interlocutor como final de turno: recorrendo a elas, a informante consegue “segurar’ © turno, que de outro modo seria facilmente “capturado” por um interlocutor mais interessado ¢ afoito. Os géneros ‘Todas essas observacdes convergem para um mesmo pontor a idéia de jue existe uma “gramdtica do falado”, que nao coincide com a “gramatica do actito”. Essa € uma das principais descobertas feitas desde que se comecou a esplorar a variagao diamésica das Inguas, mas nao é a tinica. Na variagao diamésica podemos também enquadrar outro importante fator de variacao da Jingua:0 género discursivo. Conforme 0 géneroa que pertencem, os textos, sejam oles falados ou esctitos, apresentam um vocabuldrio € uma gramitica proprios. aqui, nao estamos pensando em géneros literarios, Ao falar em géner mas sim em tipos de textos que podem ser encontrados na vida de todos os dias, e que se caracterizam porter determinadas funcdes e por ter como autores: «receptores individuos que compartilham interesses mais ou Mens previsiveis. Perguntemo-nos, por exemplo: como € a lingua do discurso politico? Como Ga lingua da burocracia? Gomo é a lingua que se escreve nos jornais e nas andes revistas de informacao e entretenimento? Como sido escritos os cnsaios “cientificos” (entre eles, as teses € dissertagdes ligadas aos graus académicos € 2 carreira universitaria)? Como se exprimem os u sudrios do e- mail e dos grupos de chat que surgiram depois do advento do computador? como siio apresentadas as informagdes nas paginas da internet? Nao ha necessidade de andlises aprofundadas para perceber que esses diferentes géneros tém uma tradicao propria ¢ utilizam uma linguagem da pela natureza do veiculo adotado em sua transmissao. fortemente marca Jamieas sobre un Humero safle de decisbes pol jem sido respansavel plat Ufa Un hon exemplo disso & o trakimento que eles dio fauile que pode fete a vida ce todas fis: @ Taxa ce juroe chamar de informagoes complementires: Uind tose Universitirh pode informagoes complementiares coma ane xo (ho fina D ou como notide no texto principal, as mesmas informacoes seria interpretadas digress6es, e obrigariam a mobil se usam para assinalar as digres 200 UN Ol UL dos recursos Ling istien es ¢ patra justiticd-las num texto (do tipo“ agora tratar de um assunto ligado a nosso tema Principal... voltamos agar tema principal de nosso estudo”); © jornal ¢ a revista de entretenimenta, sua vez, podem trans formar as digressées em boxes, isto &, caixats que tt textos marginais relacionados, mas independentes (dlo tipo “para cntend: episédio” ou “saiba mais sobre este assunto"); nas paginas ca inter possibilidade de abrir um ntimero indeterminado de “janelas” ou “links! com que oleitor-usutio se situe desde os primeiros cliques em pleno hiperte Todos esses géneros, além de ter marcas exteriores propr obedecer a conven¢oes interpretativa 1s, @ proprias, fazem também um uso 11) particular dla lingua, chegando as vezes.a desenvolver uma sublingua exclu Asublingua de um género caracteri maior de certas palavras se normalmente nao s6 pela freqii) reflexo de uma inevitavel concentracao determinados temas, mas pode ser marcada também pela alta freqliénci construcdes gramaticais que nao seriam comuns em outros géneros. De no} estamos falando de coisas que pertencem & nossa expe: leitor iéncia didria: talve lembre da primeira vez que precisou ler um boletim de ocorrén policial (¢ ficou pasmado em ver que seu carro nto vinha na mdo, mas proceé pela mo de direcdo, ou que todo individuo de comportamento suspeito imediatamente recla Sificado como um elemento); ou talvez o leitor se lemb da primeira vez que precisou ler o manual que, segundo dizem, “orienta preenchimento da declaracao do imposto de renda pata pessoas fisicase acho} que estava lendo um texto em lingua estrangeira sao situagdes pelas qi muita gente j4 passou e que tém em comum uma sen: cdo de estranhamente causada pela linguagem. Esse “choque” € 0 melhor sintoma de como é difiel lidar com a variac&o diamésica da lingua. Antologia Trechos da ata da 93° reuniao do Gopom, 17-18/4/2004 Para entender melhor como os géneros utilizam uma lingua por assim dizer “propria”, Propomos ao leitor a leitura de alguns paragrafos de “economés”. Eles foram extraidos de um documento bem mais longo, a ata da 93%, Reuniao do Copom, 0 6rgae do Banco Central do Brasil que responde pelo controle da inflagao no pais, € Fyalugao recente da Inflagho r fo do 80 estabilidade na evolugao 4, No atacado, observou'se & : ve va, ao variar 0,75% om janeiro, ante 0,74 do mes eine a Esse comportamento {oi resultante do recuo nos pee agricolas e da continuidade da elevagao pos nig a industriais, O iagricola registrou variagao de ee janeiro, apés alta de 0,59% em dezembro, refle} > ‘ is principalmente, as quedas nos pregos Hore eee eite @ ovos), que derivados (aves, bovinos, leite Hoa Jes nos itens alimentos in . compensaram as elevag’ J Hee a a egos industriai 16 e feljao. A variagao dos pI a 42 ‘, ante 0,8% em dezembro, mostrando elevagao palo 2%, 8% ; ° a terceiro més consecutive. Esse grupo é afetado pels elevacao nos pregos de commodities, movimento que ; nto reflete na elevagdo do indice de pregos no eae bens de pr ito direto nos pregos de See finais. Nesse to dos produtos : como pelo encareciment hele Noe i se no resultado do ira indu: sentido, destacaram-se ni ; in janeiro asaltas observadas na industria metalirgica (ferro, a8 e derivados e metais nao ferrosos), quimica inate A il itros) € material de transp. lasticas, fertilizantes @ ou t No ramo tecidos, vestuario e calgados, a variago ite! estabilizou-se, mas continuou elevada pelo jeigeromie consecutivo, ainda refletindo os efeitos do aumento prego do algodiio. 6. A variagao do niicleo para o Ipc em janeiro, calculado pelo método das médias aparadas, também nesta inalando variagao de 0, estavel em patamar alto, ass i ante 0,72 em dezembro. A variagéo apunuletie (noe ; 10.47%. A mesma medida, \iitimos doze meses atingiu a MeL qa calculada sem 0 procedimento de suavizagao ba ie proestabelecidos, apresentou aceleragso Be jerceiro més seguido, tendo variado 0,63% em jar anto 0,54% nos Ultimos doze meses. ; 7. A variagdo para 0 niicleo de inflagéo a ° re : Ao Gettilio Vargas (Fev) calculado pela Fundacéo ! : método das médias aparadas simétricas, elevou 7 : 0,65% em janeiro, ante 0,46% em dezembro, acumulando alta de 8,89% nos ultimos doze meses trou varlagao = variou, moatrou 4. © impacto do airefecinents ranente dos pregos cla Jairo responsavel par dar Alguma infarmagao (regia lo de. jesle para FecoNhecer o tant flimantagao ~refletindo 0 inicio dat sara @@ clasaoeleragao mee es Wiienar sie Jo para o portugues comum: e ha ne! dos pregos in natura = tende a atenuar o8 efeitos de mae qu Rate cor wea nee es pressdes quo ainda persistem sobro os indices de pregos porlugués comury, 6 Balla Nominal @ Normalmente ovitado; f em fevereiro. Nos indices do pregos no atacado, ease {exto, quo retranscravemos aqui em (1), soatia mais ou menos como i): Movimento ainda 6 percebido polos rosullados parcials divulgados até o momento, devendo a quoca dos pragos agricolas intensificar-se ao longo do més. Por outro lado, a evolugao dos pregos industriais deve continuar rotletindo, Principalmente, os reajustes de insumos utilizados pelo Setor. Em relacao ao irca deverao contrapor-se a evolucéio favordvel dos pregos da alimentagdo, de maneira destacada, os efeitos dos reajustes de precos no grupo educagao, dos planos de satide e das tarifas de ligagses telef6nicas de fixo para mével. ai jar 0,75% ()) “No alacado, observou-se estabilidade na evolugdo do tea, ao variar 0, a i és anterior’; ‘om janoiro, ante 0,74% do més f Se (i) Em janeiro, os pregos subiram 0,75% no atacado; em dezembro tin! subido 0,74%; 0 aumento foi praticamente o mesmo. A variagao na variagao iagdo pr ao lei ais duas: Hicerramos este capitulo sobre variagdo propondo ao leitor mai: sextos va-lo a fazer conosco duas fines de textos, Com isso, pretendemaos leva-lo a fazer conosco du : ; Ao diacrdnica, diat6pica, $ que possam © documento em questao foi um dos primeitos textos oficiais de seu gol Produzides depois que Luiz Inacio Lula da Silva se elegeu president desencadeou uma série de criticas de intelectuais de esquerda que espord que a nova administragéo adotasse um discurso menos técnico o 1 Compreensivel para a populago. Como era de esperar, essas pessoas dein marcada sua irritagéo com o abuso de expressdes técnicas que poderiam, Principio, significar qualquer coisa (como 0 método das médias aparadas siméi jetalicocs importantes. A primeira ¢ que a varia: ner Sinitica © diamésica convivem: clas nao Seo) castigestis ‘ ee ) iplicadas em separado a alguns textos € ndo a outros. ae qua qt ao é 2 e vista diacrnico, vlucao verbal é simultaneamente marcada do ponto de vista d i di itico e diamésico. Para mostrar como isso acontece, propc as ys Alapico, s one Sra ) leitor se detenha antes de mais nada na letra de um rap ov t es : mos anos do século xxi, “Terceira Joosso entre os jovens, nos primeiriss ismo it is latini : slo art rilha Sonora do Gueto. ter notado © uso do latinismo in natura e de outros possiveis latinismos coma | pic’, cantado pelo grupo Trilha Antologia A terceira opgao da Trilha Sonora do Gueto mas também contribuem para tomar 0 texto bastante opaco para o leigo. Se quiséssemos caracterizar melhor a “sintaxe do economés” a partir doste texto haveria muito mais a observar: 1) 0 uso constante de parénteses para introduzit_ subclassificag6es (...indtistria metaltirgica (ferro, ago @ derivados e metals nao ferrosos)...); 2) a aplicagéo de sintagmas nominais determinantes ao substantive determinado, sem a mediagao da preposigéo (0 ramo tecidos, vestudrio @ calpadog em ver de 0 ramo de tecidos, vestudrio e calgados); 3) e a alta incidéncia de oragées reduzidas de gerlindio (a variagao mensal continuou elevada{ ..] refletindo os efeitos do_aumento do_algodao, 0 1c-Br elevou-se a 0,65% em janeiro, ante 0.46% em dezembro, acumulando alta de 8.89%) Acima de tudo, © que marca este texto 6 o chamado “estilo nominal’, Com efeito, na maioria das sentengas do texto, 0 verbo tem pouco ou nenhum valor informativo (6 allamente previsivel) ¢ limita-se em uitima anéilise a introduzir 0 substantivo que é 0 Celular, dktoc na mao, do zé povim 6 uma arma poderosa nisso eu acredito sim embocamo num assaito de pistola e matraca @ eu gruidei logo 0 gerente com a quadrada engatilhaca © meu parosiro com @ matraca dominava 0 saléo 26 povim era mato tudo deitado no chao ; néis achava que é 0 seguinte que 0 baguio tava agiientado mé engano sangue bom, tava memo era secado tinha Rota tava 0 Gor @ pM mais 0 GA tava tipo aquela fta que cé viu na reportagem @ eu grudado cum refém, comecei raciocinar os motivos que fizeram eu no crime ingressar residente do Capo, ser humano pique j40 Aue NAG (ave Ui OUHUFE UA bem educagao ae de Ura Taal Fue aprenden morrer por ela 00,8 Comedia AAG) BaTreKOr que num dé quel Vollando para a real, eu frie vi lege enquadrado E Me lombroi ni um minute que au fava ni um aBsalt escutava a gritaria "vamd pega @ lixar - vagabundo nito tem vaga nesse mundo que Dus da" vola bem coms as coisas ningudm tinha coragio iy S6 ou, © Dous sabia da minha situagéio at Be pe quadrada fui pra guerra cum o sistoma © seguinte sempre existe um dilema a vida traigoeira me pregou uma ligéo © $6 tinha 2 minuto pa vivé 3 opca0 Se eu saisse pelo fundo eu mortia assassinado Se eu vazasse pela frente pelos bico era lixado © a 3° opeao, era eu engatilhar @ quadrada na cabega e eu mesmo me matar SO que Deus tava presente acredite eu nao me en ©m fragao de 2 segundos eu bolei aquele plano e ‘Al xara, 6 0 seguinte eu 56 vou me eniregar quando aquele sem futuro do Datena vim filmar ‘6 ligado que prucéis, eu nao valo um real 86 que cé seis invadi, 0 refém vai passa mal ele ta todo borrado té mijado té com medo ‘a pagando até com juros o racismo e 0 preconceito’ derrepente, pa pa carafo que tiroteio ca fique! com a cabega & mil bateu um desespero Parece que 6 hoje, quando eu da cena lembro mint "oupa chela de sangue eu algemado méé veneno xado pelos bico, com ajuda dos gambé desacerto no crime eu t6 ligado qual que 6 um dia 6 da caga o outro do cagador ditado que meu pai jd herdara do meu v6 Quando eu era pivete, me lembro ele dizia que um homem moral sempre entra numa fria mas SO que eu cresci desandei virei ladrao 8u 86 tinha 18 quando eu fui pra detengao Gés devern ia ashanda que isso 6 ibope ibope 6 trabalhay, eu em cana eu ara \oque ‘os manos na ventana gritava ‘val morrer triage na eadela Be Nao liver proceder fol IA que eu conhec! a tal da rua 10 também fol IA que eu li, a historia de Moisés ‘© tompo foi passando, eu fui me adaptando © quando eu {ui notar j4 passara 7 anos bom que meu pai dizia ‘filho 0 tempo € rei tontei te dar o melhor me desculpe se eu falhei aquilo na minha mente, batia tipo Tyson viver na detengao, tem que ser homem de ago ‘0 homem so 6 grande, quando ele se ajoelha diante do senhor pra tomar puxao de orelha naquela madrugada eu nao consegui dormir fazendo um castelo liberdade vem ni mim © tempo foi passando, meu corpo foi cansando 0 dia clareando na seqiiéncia eu fui deitando (Colagem: “Mas se eu salir daqui eu vou mudar Da meu revolver enquanto Cristo nao vem “Mas se eu salir daqui eu vou mudar) Houcas paginas atrés, analisamos a letra de duas cangdes de Adoniran Barbosa. |yso nos permitiu observar mais de perto uma variedade de lingua que tem servido de inoio de comunicago para uma ampla faixa da populagdo urbana @ suburbana de Sito Paulo. Na época, 0 sucesso das milsicas de Adoniran Barbosa deu visibilidade a ssa lingua, cujas chances de aparecer na “grande” literatura (¢ mesmo nas letras da inusica popular) sempre foram pequenas. Hoje em dia, as letras de rap utilizam uma linguagem parecida com a de Adoniran, mas que, do ponto de vista diamésico, € profundamente diferente. O rap 6 executado sem variagdo de melodia e com uma leitura altamente cadenciada. Como 6 facil verificar por esta letra, os versos das letras de rap nao tém hecessariamente o mesmo ntimero de silabas (na nossa amostra o ntimero de silabas varia entre 13 e 16), de modo que 0 efeito de cadéncia tem de ser obtido mediante uma leitura que “encontra” os acentos (0 final 6 0 do meio do verso) em intervalos de tempo regulares. Bastaria esse tipo de leitura “forgada’ para mostrar que temos aqui um tipo de letra musical bem diferente do que foi usado por Adoniran Barbosa ou na musica caipira ou no samba carioca de morro. Mas as diferengas sao também de Al chodue, a rua ta d ’ . laquele jeito 6. Uma pa di crete, . Uma pa de mano armado nao enxer, pes erate Pensa que é super-ladréo, super-herdi. $6 que ai ito, es Pa vo ne Gt 08 eat iudiso. O diabo dé pé pa sugar até aaima, & ny on ® Parcsiro lado a lado comigo ai pra debater minha loucura me 3 a mord’. tematica, pois 0 rap fala freqientemente da violénoia urbana pela voz das pessoas que a vivem — @ udo isso tem reflexos linguiisticos ébvios. © que chama mais imediatamente a atencdo nesta verdadeira “trilha sonora do gueto” séio, como sempre, as peculiaridades de tipo lexical que causam problemas

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