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A vegetação de Marte, educada em parques gigantescos, sofria grandes modificações, em comparação
com a da Terra. É de um colorido mais interessante e mais belo, apresentando uma expressão de tonalidade
avermelhada em suas características gerais.
Na atmosfera, ao longe, vagavam nuvens imensas, levemente azuladas, que nos reclamaram a atenção,
explicando-nos o mentor da caravana fraterna que se tratava de espessas aglomerações de vapor d'agua,
criadas por máquinas poderosas da ciência marciana, a fim de que sejam supridas as deficiências do líquido
nas regiões mais pobres e mais afastadas do largo sistema de canais, que ali coloca os grandes oceanos
polares em contínua comunicação, uns com os outros.
Tais providências, explica o Espírito superior e benevolente, destinam-se a proteger a vida dos reinos
mais fracos da natureza planetária; porque, em Marte, o problema da alimentação essencial, através das
forças atmosféricas, já foi resolvido, sendo dispensável aos seus habitantes felizes a ingestão das vísceras
cadavéricas dos seus irmãos inferiores, como acontece na Terra, superlotada de frigoríficos e de matadouros.
Todavia, ao apagar das luzes diurnas, o grande templo de Marciópolis enchia-se de povo. Observei que a
nossa presença espiritual não era percebida, dai podermos examinar a multidão, à vontade, em seus
mínimos movimentos.
Todos os grandes centros deste planeta, esclareceu o nosso amigo e mentor espiritual, sentem-se
incomodados pelas influências nocivas da Terra, o único orbe de aura infeliz, nas suas vizinhanças mais
próximas, e, desde muitos anos, enviam mensagens ao globo terráqueo, através das ondas luminosas, as
quais se confundem com os raios cósmicos, cuja presença, no mundo, é registrada pela generalidade dos
aparelhos radiofônicos.
Ainda há pouco tempo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia inaugurou um vasto período de
experimentações, para averiguar a procedência dessas mensagens, misteriosas para o homem da Terra,
anotadas com mais violência pelos balões estratosféricos, conforme as demonstrações obtidas pelo Dr.
Robert Millikan, nas suas experiências científicas.
A palestra esclarecedora seguia o seu curso interessante, mas os movimentos na praça acentuavam-se,
sobremaneira.
No horizonte, surgia uma grande estrela de luz avermelhada, enquanto os dois satélites marciáticos
resplandeciam.
Todos os olhares fitavam o céu, ansiosamente.
Aquela estrela era a Terra.
Uma comissão de cientistas iniciou, da tribuna maior do santuário, uma vasta série de estudos sobre o
nosso mundo distante. Aparelhos luminosos foram afixados, na praça pública, ao passo que presenciávamos
a exibição de mapas quase irrepreensíveis dos nossos continentes e dos nossos mares. Teorias notáveis com
respeito à situação espiritual do planeta terrestre foram expendidas, entendendo-se perfeitamente as idéias
dos estudiosos que as expunham, através da linguagem universal do pensamento.
A Terra enviava-nos a sua claridade, em reflexos trêmulos e tristes.
Observamos, então, que os marcianos haviam colocado em seu templo poderosos telescópios.
Enquanto os melhores aparelhos da América possuem um diâmetro de duzentas polegadas, com a
possibilidade de aumentar a imagem de Marte doze mil vezes, a astronomia marciana pode contemplar e
estudar a Terra, aumentando-lhe a imagem mais de cem mil vezes, chegando ao extremo de examinar as
vibrações de ordem psíquica, na sua atmosfera.
A nossa grande surpresa não parou ai, entre os mais avançados aspectos de evolução e de cultura.
Enquanto a luz avermelhada da Terra tocava a nossa visão espiritual, víamos que todas as multidões do
templo se haviam aquietado, de leve... A Ciência unida à Fé apresentava um dos espetáculos mais belos para
o nosso espírito.
Vimos, então, que ao influxo poderoso daquelas mentes irmanadas no mesmo nível evolutivo, pela
sabedoria e pelo sentimento, formara-se sobre o santuário uma estrada luminosa, em cujos reflexos
descera do Alto um mensageiro celeste.
Recebido com as intensas vibrações de júbilo divino e silencioso, a figura, quase angélica, começou a
falar, depois de uma prece comovedora:
— “Irmãos, ainda é inútil toda tentativa de comunicação com a Terra rebelde e incompreensível!
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Certamente valeu-se o codificador, inclusive, da comunicação dos Espíritos Mozart e Bernard Pallissy,
que se diziam encarnados em Júpiter, em mensagem canalizada pelo médium e teatrólogo francês Victorien
Sardou. Segundo eles, Marte seria o planeta mais inferior do Sistema Solar, de precárias condições de vida,
habitado por criaturas subumanas.
Alguns anos após, mais precisamente em 1935, viria a lume a obra Cartas de Uma Morta, uma coletânea
de mensagens psicografadas pelas mãos de Francisco Cândido Xavier, na qual o Espírito Maria João de Deus,
sua querida mãe, entre outros temas, nos descrevia com riqueza de detalhes a vida marciana. Atentemos
para o trecho que se segue:
Todavia, o que mais me admirou não foram as expressões físicas deste planeta, tão adiantado em
comparação com o vosso. Nele a sociedade está constituída de tal forma, que as guerras ou os flagelos
seriam fenômenos jamais previstos ou suspeitados. A vibração de paz e de harmonia que ali se experimenta
irradia aos corações felicidades nunca sonhadas na Terra. A mais profunda espiritualidade caracteriza essa
humanidade, rica de amor fraterno e respeito ao Criador.
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Mais tarde, novamente através da mediunidade segura de Chico Xavier, em crônica datada de 25 de
julho de 1939, integrante da obra intitulada Novas Mensagens, o Espírito Humberto de Campos nos trazia
informações complementares, corroborando o relato acima;
Conforme se depreende facilmente, as duas últimas mensagens supracitadas, de fonte mediúnica
comprovadamente fidedigna, opõem-se frontalmente às instruções recebidas por Victorien Sardou,
considerado pelo Professor Rivail como "um desses fervorosos e esclarecidos adeptos" (Revista Espírita, ano
I, n1 08, agosto/1858). Entretanto, de posse de seu peculiar bom senso, Kardec jamais conferiu às
orientações dos Espíritos o caráter de verdades absolutas, consciente de que o tempo traria novas
revelações ou descobertas científicas que haveriam de modificá-las ou ratificá-las, pois que, à época, a
Doutrina Espírita apenas acabara de desabrochar.
E, certamente, as investidas espaciais nos têm dado relevante contribuição. Durante meses diversas
imagens nos foram transmitidas, entretanto, em momento algum foram encontrados quaisquer indícios de
vida orgânica, nem, tampouco, de "criaturas subumanas".
Ante o exposto, uma dúvida naturalmente se estabelecerá: Se nos é defeso, enquanto encarnados,
visualizar aspectos da civilização marciana, mesmo de posse dos mais hodiernos recursos da tecnologia
astronômica, a que espécie de vida, afinal, se referiram os Espíritos Humberto de Campos e Maria João de
Deus em suas revelações?
Recorramos, primeiramente, à questão 181, de O Livro dos Espíritos, na qual o mestre de Lion
indaga: Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos? A que os
Espíritos respondem: "Sem dúvida possuem corpo, porque é preciso que o Espírito esteja revestido de
matéria para agir sobre a matéria. Porém, esse corpo é mais ou menos material, de acordo com o
grau de pureza a que chegaram os Espíritos. E é isso que diferencia os mundos que devem percorrer;
porque há muitas moradas na casa de nosso Pai e, portanto, muitos graus (...)".
E mais adiante, à questão 186, Kardec questionaria: "Há mundos em que o Espírito, deixando de habitar um
corpo material, tem apenas como envoltório o perispírito? ...tendo obtido o seguinte esclarecimento: -Sim,
há. Nesses mundos até mesmo esse envoltório, o perispírito, torna-se tão etéreo que para vós é como se não
existisse. É o estado dos Espíritos puros.
Percebemos, destarte, que os Espíritos que ora habitam o planeta Marte, ainda que não se encontrem
num patamar evolutivo de absoluta pureza, certamente se fazem revestir de um corpo de matéria tão
quintessenciada que nossa limitada percepção visual não consegue atingir.
Ademais, aguardemos, por orientação futurista do próprio codificador, os avanços científicos que,
gradualmente, confirmarão todos os fundamentos espíritas, pois que, contradições, quando se
apresentam, são mais na superfície do que no fundo, o que atesta a essência irrefutavelmente divina
do Espiritismo, apanágio que, em última análise, constitui seu inabalável alicerce
2. Quando Jesus disse: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Há muitas
moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.
Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que
onde eu estiver, também vós aí estejais" (João, 14:1 a 3), o Mestre estava nos ensinando o princípio da
pluralidade dos mundos habitados, de uma maneira cristalina, para não deixar dúvidas.
A constituição física dos diversos planetas
3. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e
oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos
Espíritos. Em função disto, diversa é a constituição física de cada mundo e, conseqüentemente, dos seus
habitantes. Cada mundo oferece aos que o habitam condições adequadas e próprias à vida planetária. As
necessidades vitais num planeta poderão não ser as mesmas, e até opostas, noutro.
4. O mundo que habitamos faz parte de um séquito de planetas e asteróides que acompanham o Sol em sua
viagem pela vastidão incomensurável do espaço. Mesmo assim, as distâncias entre os planetas que formam o
nosso sistema planetário são imensas. Para se ter idéia, enquanto a Terra gasta aproximadamente 365 dias
para promover uma volta ao redor do Sol, existem planetas que gastam para completar uma revolução ao
redor do mesmo Sol entre 88 dias e 25 anos terrestres.
5. Nosso sistema planetário não ocupa, porém, senão um ponto ínfimo no universo. Haja vista que ele
pertence a um grupamento estelar, ou galáxia, chamada Via-Láctea, onde existem bilhões de estrelas,
algumas das quais tão grandes, mas tão grandes, que uma só ocupa espaço igual ao ocupado pelo Sol e quase
todos os planetas que este arrasta consigo. (N.R.: A estimativa mais recente feita pelos astrônomos revela que
existem na Via-Láctea cerca de 400 bilhões de estrelas.)
As diferentes categorias dos mundos habitados
6. Dos ensinos dados pelos Espíritos resulta que muito diferentes umas das outras são as condições dos
mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há os em que
seus habitantes são inferiores aos da Terra, física e moralmente. Outros possuem a mesma categoria que o
nosso e muitos lhe são mais ou menos superiores.
7. Nos mundos inferiores, a existência é toda material e as paixões reinam soberanas, sendo quase nula a vida
moral. À medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que nos mundos mais
adiantados a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
8. Evidentemente, não podemos fazer uma classificação absoluta das categorias dos mundos habitados, mas
Kardec nos oferece uma que nos permite uma visão geral sobre o assunto:
A) Mundos primitivos – Nos mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma
humana, a vida, toda material, se limita à luta pela subsistência, o senso moral é quase nulo e, por
isso mesmo, as paixões reinam soberanas. A Terra já passou por essa fase.
B) Mundos de expiação e provas – Nesses mundos o mal predomina. É a atual situação da Terra,
razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.
C) Mundos de regeneração – São mundos em que as almas que ainda têm o que expiar haurem
novas forças, repousando das fadigas da luta.
D) Mundos ditosos ou felizes – São os planetas onde o bem sobrepuja o mal e, por isso, a
felicidade impera.
E) Mundos celestes ou divinos – São as habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente
reina o bem, visto que todos que aí vivem já alcançaram o cume da sabedoria e da bondade.