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L.A onlem do discurso, 1999 Mictel Foocault 2 Sete ligdes sobre 0 ser, *2000 Taoques Maritain 3. Arissteles no séeulo XX Enrico Bert 4. As ragbes de Ariasteles Enrico Berti S. 0 que 6.4 filosofia antiga? howe Hadot 6. Aristételes o logos Barbera Cassin 7. A metéfora viva Paul Ricoeur 8. Transformacao da filosofia Filosofia analitica, Semistica, Hermentuticn Kasl-Otto Apel 9. Transformagio da filesofa I ‘A priori da comunidade de comunicaglo Karl-Oo Apel 10.0 oficio do filésofo esdico Rachel Gazolla 11.0 saber dos amtigos —Teoria para os tempos aruais Giovanni Reale Paul Ricoeur A METAFORA VIVA Trad: Diow Dawn Maceo Titulo original: La Métaphore vive © Editions du Seu, Paris, 1975, ISBN: 2-02-002749, 1" publication) Revisio Cristina Pros de Bras Sonia Alexandre Renate Rocka Casas Consuttores Cari Arh Rien ds Nosinento Havin de Campo Pes Olin ie Sancta PRladelpho Meneses Vie Cth Machine Diagracacio Adonir Pena aides Loyola Ru 1892 n° S47 ~ Ipiranga (04216.000 Sto Palo, SP Caixa Postal 42.355 — 01208970 Sio Paulo, SP (ort) os1992 Fase (0811) 61684075, Home paige e verdas:wweloyola.com.br ‘emul: fopols@ibm net rose Anite reserva, Neamt parte desta obra ode so pri raw or qualquer forma fo quasguer eis (erin 0% mec, into Joep grncho} argv em qualquer stone fw banc de das som pervs st: da Ear ISHN: aB-1B 019804 © EDIGOES LOYOLA, Sio Pavlo, Bras, 2000 Sumario Preficio 1 3 5 6 Eso | Entre retorica ¢ poética: Arist6teles © desdobramento da retirion da postica (0 nicleo cornu ptica ca erica: “a epifora do tome” ‘Um enigma: metdfora ¢ comparago (eiken) © lugar “retSrica” da és 0 lugar “postico” da fis Esrwwo Tt (O declinio da ret6rica:a tropotogia (0 *medelo” retérico da tropologia FFontanier,o primado da iin eda palavra “Tropa figura Metonimia, sinédogue, metafora A familia da metifora ‘Metaforaforgads e metéfora de invensio ” 24 2 50 * 83 87 93 102 Esrepo IIL A metafora ea semantica do discurso 1. O debate entre semintca eseoni6ica. 2, Semantica eretérica da metifors 3. Gramatiea iggicae semantic. 4. Critica litera e seria Esrwvo IV A metéfora ea semantica da palavra 1. Monismo do signoe primado da paavra 2. Logica elingtistic da denominaso 3. Ametafora como “mudanga de sentido” 44 Ametaforae os postulados saussurianos 5.0 jogo do sentido: entre a fase e a palavra Estwvo V Ametafora ea nova retorica I. Desvio e graureirico zero. 2.0 espago da figura 3. Desvio e redugio de desvio : 440 Fancionamenta das figuras: a anaie “semica Esren0 Vt O trabalho da semethanca 1. Substnuig e semedbanga 2.0 onesie “icdnico” da metatora 5.0 process feito semelbaniga 4. Defesa da semelhanga, ~ 108 13 1a 157 163 m2 188 195 24 m 21 243 261 288 293 296 5. Psicolingistica da metifora 6 cone imagem Esrepo Vit Metifora e referéncia 1. Os postulados da referéncia. 2. Argumentagdo conta a referéneia 3. Uma teora da denotagdo generalizada 4 Modelo e metifora 5. Por um conceito de “verdade metaiica™ Espo Vit Metéfora e discurso filoséfico | A metstorae a equivocidade do ser: Aristéeles. 2A metafora © a “analogia ents": 4 onto-tlOgi8 son 3. Meta-férica e metafisica 4.4 Imtersccydo das esferas de discurso 5. Explicitacio ontologica do postulado da referencia A.ores citados 307 SIT 331 339 349 376 416 a2 433 485 Prefacio 5 esron0s QU 56 SEGUEM sho moves de um seminstio| realizado na Universidade de Toronto no outono de 1971.50 ‘os auspicios do Departamento de Literatura Comparada. Nessesen- ido, devo manifestar meus vives apradecimentas uo professor Cymus Hamil, mew anfiido em Toronto. Estas investigagces cont ram a progredit durante os cursos dados posteriormente na Univer- sidade de Lovvsi, depois na Universidade de Pari-X, no ambito de meu Seminario de investigasdes fenomenolégicas, © enfim na Universidade de Chicago, na edtedns John Nuveen. Cada um destesestudos desenvalve um ponte de vista deter nade consitui um todo, Ao mesmo tempo, cada um & 0 segmento <4e um dniea tinerério que tem inicio com a eric cissica, pas pela semioticae pela semnrica, para alcangar finalmente a herme- néutica, A passagem de uma disciplina a out segue a das enti Brmehp Dass aloe emp, Maar ren peices nad Cesta ear a dela ‘io popes Um moo apopra crespnie see etapa ee a Ned do Drips sapien be no dy orn 0 define 809 et esas ren aie Ens sotreuds © gar ea oo peo os Tien at prs ot ena oe ess uma fa eno tho pcs neva crcnds les st rca ree ig oma es OSes eee ane eas ls Meno. 5 crm es fest cea ee om pone Eanespne mp de cs pact”) A spc pul" io evga se err, sla antes de eeu ln ‘Sete raced suegense sen se cx Araceae oe ‘Ve sou iene Emo a dig cep ea 21928 Se Ya [seis 22.24 Ariel ao un nosis We eo sk HG de ete pr pe a de doe dence ae econ dt gto de Seo “eore ne” qe def eH ha ean. A Merson Vi sido possivel empregar (se 20 menos ela existe cla € sempre ‘luplamenteestranba, por emprésimo de uma palavra presente © por substtugio de uma palavza ausent, Estas dus significagdes, fembora distintas, parecem constantemente associadas na teoria retirica © no proprio Aristtees; asim, os excmplos de desloca- incnto de sentido so freqientemente ralados como exemplos de Substituigio: Homero diz de Ulisses que ele praticou “rnilhares de belas foganhas” em vex de (ani) “muitas” (1457 b 12) da mesma manta, a taga esté pare Dionivo come o escudo esté para Ares, pode'se empregar © quarto termo “em vec" (anti) do Segundo e reciprovemente (1437 b 18). Aristtteles quer dizer que ‘oempréstimo de uma palavra metaférica presente & sempre ecom- panhado pela substiuigao de uma polavra nfirmetaférica ausente? Se sim, o desvio sempre seria uma substituigdo e a metafora seria uma variagho livre & dsposicio do poeta®. [A ida de subsituigSo parece solidamenteassoviada & de em préstimo, max no deriva dela necessariamente, na medida em que ‘comport excegses, Em dado momento Arist6eles evoca 0 e380 fem que nio existe palavra corrente substiuivel & palavra meta ‘lca: assim, « exprestdo “semeando una luz Giving” pode ser ane Tisada segundo as regras da metdfora proporcional (B es para A. ‘como D esté para C) 0 que a sol faz est para a luz como 0 semear std para a semente; mis o termo B aio tem nome (ao menos fem grego. pois em portugues pode-se dizer dardejar). Arisiceles designs aqui uma das fungoes da metéfora, que & preencher uma Ti Sone wren da wnat em Ariat of 1658 6 36 kts quam sea sen oun eern esas puna €o fen Veen ne peste epic ona thomen) no esos woes oer [jure eve seglse 9 vet de bla npuece so 8 perm. metas TEasat 16h shee Une 2, met a, 2) meta i. 26). |x tutniaign fnctns no dis ston da tava cen pala aa ea {pore crete: “Out n palavn enrages, neers ecu xls de teres ion verses ude vorlae sosras or eas de> (ht i381) A ta epee ea conapade beset aor ds eo nme por metfoe de gere “ano” 36 Exo arn roo: Arms lacuna semfntica; na radio posterior, etsa fungo seré acrescen- {ada a de omamento. Se Aristoteles no se detém aqui, 6 porque «2 auséncia de palavra para um dos termos da analogia nfo impede © funcionamento ds propria analog, unicamente 0 que The inte essa aqui & qual esta excegio teria podido fazer objego: “Em certo nimero de casos de analogia ndo existe nome, mas no se ‘einard de exprimir do mesmo modo a relaglo” (1457 b 25-26) ‘Ao menos podemos preservar esta excegao em vista de uma eetica rmodema da iia de substuigto, Em conclusio, a idsia aristotlice de alors wade @ aprox mar ts ideias distin: aida de desvio em relagdo a0 us0 ordi fio, a idéia de empréstimo a um dominio de origem, ¢ a de subs ‘uigdo em relaglo a uma palavra comum ausente mas disponivel, Em contraparida, « oposigao familiar & wadicie pesteior entre sentido figurado © sentido préprio no parece af implicada, Ea ‘défa de subsituigho que parece 2 mais prenhe de conseqiéncias, pois se, com efeito, 0 temo metaérico € um tenmo substiuto, informasio forecida pela metsfore é nula, 0 termo ausente podea do ser restiuido caso exista;e, se a informagio € mola, a metatora tem somente um valor omamental, decorativo, Essas dus conse- igocias de uma teoria puramente substttiva caracterizarbo 0 a tamento da metéfore na retrica classics, Sus rejeigio seguir a Fejeigdo do conceito de subsituigdo, ele mesma ligado 20 de um deslocamento que afeta 0s nomes, (Quarto trago: ao mesmo tempo que & iia de epffora preserva 4 unidade de sentido da metéfora, uo conrsrio do trago de clasii- cagdo que prevaleceré nas taxionomias posterires, uma tipologia dda metdfora € esborada na continuidade da defiicdo: « tansfe 22 anata se oc tora como tert dena | aude um pie “smo de wa ct eros denne. Os xemps burda (Fic. V2 sig de umes «de ing, do es PS ‘ge pr por © pcblen ¢ vad expense 90 cape Se anti de Rf ufos cp. 3st cox ro mindy ea plane dear UW em wie Uta, es pa 7 A Mecsas Ye FRacia, diz el, vai do género & especie, da espécie a0 género, da especie & espécie, ov $e faz segundo 2 analogia (ou proporcio). Uma enumerigio e um desmembrarento do dominio da epifors si assim esbogados, ¢ conduzrdo a retrica posterior a no deno- rminar metéforasenio uma figure aparentada& quarta espécie def rida por Arist6teles, a Unica que fax expressemente referencia & semelhanga: © quarto termo comports-se em relagio ao terceiro da mesma mancira (homoids ebkei, 1457 b 20) que o segundo em ‘elagao ao primeiro — a velhioe est para a vids como ature esté para o dia, Reservamos para mais tarde a questio de saber se & Jdéia de ume identidade ov de uma similtude ene duas relagies cesgota a de semelhanga e se « tramsferéncia do gnero a espécie ‘ete. ndo repousa também ela na semelbanca (cf. adiante Estado VI, 4). O que nos interessa para 0 momento € a relagio entre essa Classiticagio embriondria eo eoneeito de transpasigao que €ons- tit a uridade de sentido do género “metaléico™ Dos fatos devem ser notades: 0 primeira & que os polos entre ‘os quais a transposigao opera so polos kigicos. A metifora surge em uit ordem jé constttda por péneros ¢ por espécies. por um {Joo id regrado de elagbes:subordinacdo, coordenagao, propexcio- ralidade ou igualdade de relaghes. O segundo fato & que a metato- +a consiste em uma violagio dessa ordem e desse jogo: dar ao g¢- nero 0 nome da espe, a0 quarto termo da relacHo proporcional 0 nome do segundo, e eciprocamente,é simlaneamente reconhecer « wansgredr a estrutur lgica da linguagem (1457 b 6-20). O anti — evacade acioa — no indica somente a subsituigdo de ama palavra por ouia, mas o urvamento da classificaso nos casos ext {que no se tata somente de dissimular a pobseza do vocabulaio. © proprio Avistéiekes nfo exploron a iéia de uma transgressto ‘ategeril que alguns modernos aproximardo do canceito de cate- ‘goremistake em Gilbert Ryle Sem divida porque Aristreles, ‘st mais interessado, na linha de sua Podtoa, na vantagem seman sica vinculad & transferéncia dos nomes do que no custo Kégico da 75 Gib Rye, The Goney of Mind, pp. 16. 33, 7278, 152, 18,206, rs eg ETOUEA ERNIE: AnstONDEs __ ‘operaglo. O avesso do processo é, no obstante, ag men0s tho in teressamte de deserever quarto 0 dieito, Aida de transpressio ca- fegoral, se perseguids, conserva muitas supresas, Proponho ts hipétesesinterpretativas: em primeira Ingar, ola comvida a considerar em toda mevifora nio somenie a palavra ox ‘2 nome tnico, cujo sentido & deslocado, mas ¢ par de Wermos, a8 © par de relages, entre 0s quais a transposigio opera: do género a especie, da espécie ao género, da espécie 0 espécie, do segundo fermo ao quarto tenno de uma relagdo de proporcionaidade ereci= procemente. Essa observagio vai fonge: como dria os autores att glo-saxbes, so nevessirias sempre duas idias para fazer uma me- téfora, Se sempre hi algom equivoco na metafora, se se wma uma visa por outs por um tipo de erro calculado,o fendmeno €essem> cialmente discursivo. Para atingir uma Unica palasra, a metifora deve desmanchar a rede por msio de uma atibuigio aberrant, Do ‘mestno modo, iia de transgressao cateporial permite enriquecer 1 desvio que nos pareceu estar implicado np processo de transpo- sigdo.O desvio, que parecia de ordem puramente lexical esté dora ‘vant ligado a um estorvo que smeaga a clasifeagto. © que not ‘esta para pensar € a elugdo entre 0 avesso eo direito do fendmeno: entre o desvio Iigicoe a producto de sentido designada por ATi {eles como epifora Esse problema reccbers solugio satsfasis somente quando se reconhecer plenamente o caater de enunciado {de metéfora Os aspectos nominais poserdo ser ensto plenamente vinculudos &estrunua discursive (ef diame, Estudo TV, § 5). Commo se ver, 0 proprio Anstoteles convida a tomar essa via quando sproxims, na Reviriea, a metéfora da comparagao (elkin). cv caréter discusivo ¢ aparente, ‘Uma segunda tina de reflexio parece sugerida pela idéia de Uanspressio categoria, compreendida como desvio em relagio a ‘uma ordem I6gica jit constitu, como desordem na classificag, Ess ttanspressio somente inteessa porque produz sentido: como diz a RevSrica, pela metéfora 0 poeta "nos insu e nos dur co- _hecimento por meio do género” (Il, 10, 1410 b 13). A sugestio » _ A Niro Ya £1 seguinte: nfo se pode dizer que a metéfora desfaz uma ondem somente para inventar outra? que 0 exo categoria € somente 0 ‘avesso de urna ligica da descobera? A aprosimagio operada por ‘Max Black entre modelo e metafors, dio de outro modo, entre um -conceto pistemol6gicoe um conceto posto, nos permitrd explo- ‘ura fundo essa ideia que vai diretamente de encom a toda red ‘elo da metéfora a wm simples “omamento™. Caso se leve até o fim

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