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“0 artista ea sociedade”” — eu me pergunto se ficou claro ciedade” se esconde de qualquer maneira 0 ‘muito mal, pois o artista, como critico da ese permit, Som tea ingeuidade,brinca dieicamente com a colocago das questdes e as antinomias da moral... 0 com a moral — e assim com a politica — e assim com 0 pro- blema da sociedade. Dificilmente poderia repreender oar afirma no ser problema dele a coreydo do mundo no sentido moral. Oartista “corrige” o mundo de uma maneira totalmente diferen- ( te da que faz a doutrina moral. Ele o faz fortificando em pala imagens e em pensamentos a sua vida —e, num modo substitutivo, a vida em geral — conferindo a ela sentido e forma und Newes, Kline Pro- se ele insistir em que a tarefa da ar sentidos — e nada mais. E, Goethe, falou graciosa e corretamente sabr aioria dos assunts do mundo, [tse com clareza: “E bem possivel que uma obra de arte tenha conseqiiéncias morai ‘muito pequeno. O perigo que esp lar da arte e da critica, sobre a qual devem ser E sabido que muitos artistas so a0 como seu procurador ido um elemento critico, — indispensével ‘a examinar estetizando ea .contra-se na esfera da poe- feqlientee mais fortemen- 10 pode estar vinculado & lo seu dizer, &esponta- -a em si mesma uma flecha do aret acerta, e vibrando esté assentada no al icomoda para o mund relagdo do artista coi ‘THOMAS MANN 3 €conjurado a palavra. De fa mento de superioridade sobre 0 exis +08 formais e espirituais, ele desenv« 1a subordinarao critica ao real sobre todo © estético reivindica até a qualidade moral pode parecer mais cho- cante e mais imodesto. Ainda assim, é verdade que ao criticismo 1eadere algo moral, que evidentemente deriva ds de “bom”, igualmente natural no mundo do estético e do ét Bom emalvado — bom ¢ mau Nietzsche fe muita ceim- nia psicolégica sobre este par contre tar se ms cle admitiu. No mundo est tropo sardénico, o cruel e seja, icioso; e tio logo o crticismo da arte Ita para fora, to logo se torna social, se torna moral, 0 ar- tista se transforma num moralista social. ‘Conhecemo-1o ha muito por esta qualidade. O género e forma da arte literéria hoje dominante €0 romance, ¢ quase pela nature- 2a, quase eo ipso, € um romance da sociedade, a dade. Ele 0 era © ¢ em todo lugar onde floresceu, 1ado ao social, e ao lado do romance semtou, como se sabe, 0 género introspectivo do romance de instrugao ¢ desenvolvimen- due grau esta também € uma descrigao da sociedade, co- mo uma sublimagao do ingénuo romance de aventuras, most ao artista uma presuneao de praticar a critica igbes socials. Onde ele o fez uma vez, como na selva- gem cena em prosa do Fausto, nunca fundida em versos, onde ele fustiga a crueldade da sociedade contra a moga que caida grita ‘aos céus em desespero, ele o reprimia de bom grado: Mas nao ¢ possivel negar-Ihe 0 instinto de sociedade, seu interesse social ‘0 mais profundo conhecimento do destino da sociedade. E no que se refere & politica... No que se refere & politica, mesmo ad artista contra cla, ele também era incapaz. de solucionar o insohivel ¢ abolir a relagdo que existe forgosamente entre arte € politica, entre espiri- 2 ENSAIOS toe politica. Aqui atua simplesmente a totalidade do humano que ‘A belicosidade de Goethe contra os caprichos do sigdo a ‘‘verdadeira” politica, & polit to”. Com isso $6 se confirmard ait ge todas as esferas. Nela 0 estético, o moral, o politico-social so uma unidade. E agora, através justamente desta unidade, descobrimos uma do espitito ¢ sua atitude para com o problema da hum: Pois 0 espirito tem muitas facetas, ¢ Ihe € possivel cada at para com o problema do homem bem como a da inumanidade e que ele possuia nita, na qual aquele preconceito de que a literatura e 0 progresso séo idénticos se manifesta juntamente com a concessio de que com ‘© maximo talento, com a graga eo brilho mais imagindvel, pode- se encurtar elogiador da inumanidade, o carrasco, a fo- gueira, a inquisigdo, 0 que o progresso e o liberalismo chamam de reino das trevas. ‘Tomemos como critério um acontecimento politico-social, como a Revolucio Francesa: quantas diferengas se manifestam entre a atitude de um Michelet para com este fenémenoeade um ‘Taine, com a sua acertada critica aos jacobinos, ou também de um Edmund Burke, o autor de Reflections on the Revolution in France, traduzido para o alemAo pelo romancista politico Frie- ‘THOMAS MANN 3 drich von Gentze que exerceu enorme influéncia— por to longo fato, 6 um livro de primeira de algo em cujo nome se muito boa ‘Nao podemos esquecer também que a critica da sociedade de predominantemente ita”, — como entiio um produto da sociedade burgués- ‘como o Bardo de Nucingen, pode ser criti lectualismo ¢ tudo isso, antes de tudo af Jé € tdo amigo do alemdo que, quando setomou um traidor da patria. Ninguém que conhecesse realmente obra de um grande poeta — poderia estar surpreso fe caminho espiritual ¢ como destino pessoal. Deve-se ape- carneceu, nos ‘allo, somo Vicer Hugo ¢Clndsiona, Contuda,oque ia 1835 ‘era uma atitude estética interessante, paradoxo e belas-letras, tomnou- se, em 1933, uma politica aguda e obscureceu grave e dolorosa- ‘mente um universo poético. Parecido com o fenémeno de Hamsun é o de Ezra —um outro exemplo excitante da profunda divisdo do espit relacdo ao problema social. Artista ousado e vanguardist atirou-se também nos bragos do fascismo, propagou-o durante a ‘Segunda Guerra Mundial como ativista pol litar da democracia, — esta problematica para a propria democracia. Um juiri dos mais distinguidos escritores anglo-americanos conferiu ao con- denado, e preso como ceituada, o prémio Bollinger, e com isso manifestou em alto grau como o julgamento estético & independente da politica. Ou serd que a politica néo estava tdo distante deste julgamento como pa- ia? Certamente ndo sou o tinico que gostaria de saber se este © prémio Bollinger, se Ezra Pound fosse ‘Uma observagio como esta jé € suficiente hoje, sem di 4a, para levar aquele que a faz 8 sus peita conferir-me-ia injustica — ou, se quisermos, honra demais, Estou muito mal equipado para me entregar aos comunistas, — Pn ENSAIOS ‘meus escritos estdo repletos de todos os vicios repudiados jcismo, inclinagBes 1gur-lo aqui. O comunismo distorcida cujas raizes, porém, alcangam mais fun- do que o marxismo ¢ 0 stalinismo, e cuja rea cia e tarefa a humanidade. Ent inegavelmente, o moralizar politico de um artista tem algo cémico, ea propagacio de ideais humanitarios o leva forgosamente fs cercanias — endo apenas as cercanias — da futilidade. Isso cheguel tendéncias soci for como um parado ico e seu modo de pr do que benevoléacia p se ndo se indaga, quem foi oeseritor es sate, Joseph de Maistre ou Victor Hugo. coloca-se uma outra: se, em assuntos fa necessidade humana, depende-se tanto do interesse e ndo mais da bondade, ‘Almost too good to be true”, assi Toynbee chamou a posicio politica em que‘ igo do Observer,“ jovem Toynbee esta cer tudo, é um pouco discutivel o queexiste nela de otimismo, demo- cratismo, humanitarismo e credibilidade humana—emesmo com {elagdo & minha World Citizenship. Pois meus livros sao desespe- alemies, eo que neles fol introduzido de questdes politico- través de urna modéstia natural, mas ‘da escola de Scho- to na crenea, porém mui e pode ser justamente 0 produto do desespero. THOMAS MANN ica”, se esta pala oderia dizer “bondi jirum protesto contra a concepsio, porque, ele sen- © desespero. A arte, por mais amarga que seia 3 mais profunda que esteja a sua queixa da cor- bom, parente da sabedori provoca riso nos homen: aspiragdo A perfeicao, ela é dada & hu ‘mo uma acompanhante, ¢ esta nunca podera desviar t da sua inocEncia os olhos turvos de culpa,

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