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TEORIA E CRITICA POS- COLONIALISTAS Thomas Bounici ( DISCURSO EO PODER: FOUCAULT E SAID A teoria ¢ a critica pés-colonialistas, constituindo uma nova estética pela qual os textos si0 interpretados “politicamente”, basciam-se na {intima relagio entre © discurso € © poder, Antes, | portanto, de analisar 0 P6s-colonialismo em todos os seus aspectos, necessirio se faz indagar sobre ima faceta do pensamento pos-estruturalista referente & equagio discurso ¢ poder. As forsas pol e econdmicas, o controle ideolégico ¢ social subjazem ao discurso ¢ a0 texto. F evidente que o poder, eqtiéncias, 6 exercido para que surta o miiximo efeito possivel. Geracdes de com todas as suas europeus se convenciam de sua superioridade cultural ¢ intelectual diante da “nucle?” dos aes de homens, praticamente de qualquer origem, tomavam como fato indiscutivel amerindios; ger a inferioridade das mulheres. Nesses casos, estabeleceu-s he (1844-1900) proclama que os individuos primeiro decidem © ques. Jeqtientemente, © homem encontra nas Friedrich Wilhelm Niet . desejam € depois encaixam os fatos em seus objetivos. C coisas somente o que ele mesmo colocou nelas. Para Nietzsche, todo conhecimento express “o ‘Como a verdade ¢ © conhecimento objetivo nao existem, esses dois fatores si0 a camuflar set desejo de poder. Os individuos adotam certo tipo de flosofia ou teoria cientitica quando esti de acordo com a ‘verdade” proposta pels autoridades intelectuais ou politicas contemporaneas, pela elite ou pelos idedlogos. ‘A teoria do discurso de Michel Foucault (1926-1984) une o ceticismo referente ao discurso ¢ 3 abordagem histGrica da interpretacio. Recanhece que o discurso, escrito ov oral, jamais poderia estar .° livre das amarras do perfodo historico em que foi produzido. Ou scja, o discurso esté inerente a) 4 todas as priticas ¢ instituigdes culturais e necessita ca agéneia dos indivicluos para poder ser efetivo. Semethantemente & teoria de Lacan, a subjetividade & construfda através do discurso: o individuo se desejo do poder” apropriados por sistemas de poder pa po ie identifica com ou reage contra varias posicées de sujeito oferecidas por uma variedadle de discursos o(@)uowia urrawAnra num dado momento, Os individwos que pensam ou filam fora dos parimetros do discurso dominate sio definidos como loucos ou reduzidos ao emudecimento, Em A hiséris de lonaa (1961), Vigia ¢ pentr (1975), A hhissvia da sexualidade (1976), Foucault examina os campos discursivos mutantes em que esses problemas se desenvolvem_em_etapas especiticas da historia © chega 2 conclusio de_ gu _ Essas regras, controlindo a escrita e @ pensimento, formam| individual. Nao conhecemos o arquivo da época em que vivemos, porque é sindnimo do inconsciente a partir do qual filamos, Compreencemos © arquivo de outra época, porgue somos absohatamente ‘ diferentes ¢ distanciados dela, Por exemplo, pereebemnos as varias correspondéncias que formam o discutso do periodo medieval; os escritores da Idade Média percebiam os eventos contemporineos ¢ las como nés as vemos atualmente, pensavam através dessas correspondéncias e, portanto, nfo podiam: inta descobrir as regras do discurso de um perfodo especifico e relacioni-las 4 andlise do conhecimento ¢ do poder. O discurso é historizado e a histéria contextualizada. Ele considera a historia em termos de uma luta sinerénica do poder. Para cle o poder nio é necessariamente algo repressivo, mas uma forga produtiva que une as diferentes forcas da sociedade. Nenhum acontecimento nasce de uma causa tinica, mas & 0 produto de uma vasta rede de significantes e de poder, Ademais, a @t6ria e a histéria das idéias sio intimamente ligadas & leitura € 3 produgio de or ih textos, por sua vez, sio a expressio de priticas djscursivas determinadas histérica e materialmente. Esses discursos sio produzidos dentro de um contexto de lita pelo poder. De fato, na politica, nas artes e na ciéncia 0 poder se constr6i através do diseurso e, portanto, a pretensio de que haja objetividade nos discursos € falsa, havendo, entio, apenas discursos mais poderosos € menos poderosos, A utilizacio (QQEORRIED- ca ciéncia ilustrara esse ponto, Quando se analisam ofS dos ‘cartgrafos medievais e renascentistas, percebe-se que eles, com seus contarnos, detalhes e nomes, tornaran tecnologia do império, uma interface grit ves os CD © conhecimento ¢ o saber dio direito as terras prometidas supostamente de “ninguém”, 3 divisio do mundo, ao heroism dos exploradores, & diversidade cultural, & alteridade, ao racismo. A partir da Nawralis Historia (77 d.C.), de Plinio, passando pelo Liber Chronicarum (1493), de Hartmann Schedel, ¢ pelo Systema Nautrae (1758), de « Linnaews, até as obras de certos cientistas do século XIX, especialmente A. de Gobineau, em A 1» desigualdade das rigas humanas (1855), as discussdes diretas ou indiretas sobre o racismo pareciam Sempre tender a comprovar a superioridade das ragas européias e colocar na alteridade o resto do amundo. A apropriagio das ciéncias seguiu 0 mesmo padrio do colonizador, definido como a “inelinagio a dividir, subdividir redividir o seu tema sem nunca mudar de opinigo sobre o Oriente ‘como algo que é sempre o mesmo objeto, imutivel, uniforme e radicalmente peculiar” (SAID, 1990, p. 107). © legado do imperialismo foi construir as estruturas cientificas sobre crengas existentes € herdadas, com a finalidade de indicar e consolidar os supostos donos do mundo. Para Foucault, o saber € 0 produto de um discurso especifico que o formulou, sem nenhuma validade fora disso. As “ver da linguagem Segue-se que ws € constrnido porque as pessoas foram persuadidas a accité-lo como tal. E saber porque o discurso € tio poderoso que nos faz acreditar que sefa aber. O saber, portanto, € produzido pelo poder, Para Foucault, a questio da veracidade ou falsidade de uum discurso nao € importante, ja que a “verdade” € produzida pelo poder. Concentra-se, portanto, na 20" formagto discusiva, ow seja, nas regras pelas quais o discurso & coerente ov nos principios subjacentes a0 “A discutso. Esses discursos determina 0 nosso modo de falar e pensar sobre, por exemplo, a sexttalidade ‘ou a sanidade mental, ¢€ nos persuade para © autopoliciamento e a supervisio dos outros. Funcionando |, independentemente das intengdes especificas individuais (Foucault no esti falando sobre 0 abuso do poder por individuos ou por governos que manipulam seus stiditos e os mantém sob sew controle), 08 224 ed) Teonsta © CRITICA POS-COLONIALISTAS discursos se perpetuam pelos usurios que reproduzem seu poder. Na concepgio de Foucault, o disctrso € internalizado por nés, orgainizando o nosso ponto de vista do mundo e calocando-nos como um elo (inconsciente) na cadeia do poder. ‘odo o discurso del «que influenciou inteiras geracdes Tusas, comecando pela sua, Sueida, até as proezas herdicas dos portugueses nos pontos embriondrios da Africa e da Asia, constréi.a base de sua ideologia da superioridade do curopeu, que, por mandato divino, submete os ‘outros povos 4 sua lei “superior”. Semelhante influéncia exerceu o discurso: a: de GEM isc ourroiniza ¢hiccarquiza os povos limtrotes (os inlandeses), os desonteres tremens ¢ rmufheres clas tavernas) e os habitantes cas longgnguas coldnins (Caliba). Esse fitor seri visto mel contexto do pés-colonialism. Embora o discurso seja repleto de poder, 1 € mune aos desatios owas mudaneas internass é0 lugar de conflito ¢ luta, encarregado de criar € suprimir a resisténcia Ao ser exposto, 0 discurso torna-se trigil e fica mais propenso a ser contrariado, Seguindo os parimettos de Foucault © Gramsci, Edward Said (1935-2003), em Orientalism, publicado em 1978, demonstra como a teoria da desconstrugio poderd desafiar a pretensio de abjetividade no contesto da histéria cultural, Deseonstruindo a natureza do poder colonial, Said (1978) aprofiunda a critica pos-colonialista que se desenvolveu durante os Gltimos quarenta anos. Ele desconstréi a imagen que © mundo ocidental tem do Oriente, imagem essa que foi construfda por historiadores, eruditos mas também as obras liter‘rias, as passagens politicas, os textos jornalisticos, livros de viagens, estudos religiosos ¢ filolégicos” (SAID, 1990, p. 34), Said mostra a construgio do Oriente através de romances, descrig6ies ¢ informagdes sobre a hist Essas formas de escrita ocidental constroem um discurso fouea afirmagées © pressupostos que constituem um suposto saber € pelos quais se constrdi o “conhecimento” sobre o Oriente. Evidentemente, ais discursos, aparentemente dedicados exclusivamente ao saber, estabelecem verdadeiras relagdes de poder. Para Said (1990), as representagies. do Oriente (ou Orientalismo) feitas pelo Ocidente levam consciente © deterministicamente 4 subord escritores, poetas e estudiosos durante varios séculos, Utilizanda “nao s6 os trabalhios ia ea cultura orientais, Iciano, ou seja, um sistema de io, Percebe-se, de fato, um discurso etnocéntrico repressive que legitima 0 controle europeu sobre o Oriente através do estabelecimento de um conta negativo. A esperteza, o Scio, a irracionalidade, a rudeza, a senswalidade, a crucldade, entre outros, formam esse rousinio, em oposicio a outro cousin, positive € superior (racional, democritico, progressivo, civilizado exc.), defendido e difiandido pela cultara ocidental. Encontra-se nesse ponto a hegenonia do discurso ocidental. Segundo Gramsci (1998), a hegemonia é a dominagio consentida, ou seja, 0 miétodo pelo qual os dominadores conseguem oprimir os subalternos através da aprovagio aparente dessas mesmas classes sociais, especialmente pela cultura, © Orientalismo, portanto, legitimou o imperialismo © © expansionismo para os préprios europeus ¢ convenceu os “nativos” sobre o tuniversalismo (a mais adiantada civilizagio do planeta é a européia) da civilizacio européia A teoria de Said (1990) € de outros tesricos pas-colonialistas, quase simultaneamente adotada pelos adepcos de estudos afro-americanos € por feministas, subverte os pressupostos de uma objetividade espriria que sustenta o Ocidente, a unicidade de sua cultura e de sew ponto de vista. y [Binosma de pressupostos hegeménicos dos conquistadores Alls BeSigeionr goa Pd ees wake Code —* en |Hegemonia | ominante)t Js: conseqiientemente, siv aceitos por todas as outras — © sujeito marginalizado pela heyemonia earopela; uma pessoa de raga on emia diferente, [eee ou seja, nfo-branea e nfo-curopéia, 225 eq TJEORTA LITERARIA i Distinta da identidade racial, a etnicidade da pessoa inclui seus aspectos eulturais, como a [Esticidade fo, tradigGes de vestimenta ¢ de comida, Heltanschatung etc oi © testo transformado pelo contexto ou interpretagio: portanto, altamente carregado pela eUEee ideologia dominante, que exclui e degrada qualquer outro diseurso, Freqiientemente, € um termo degradante para significat a pessoa primitiva, pagi, nom Nealivo cdlucada, desprovida de literatura ow cultara [Império A pritica politica e deoligica de uma nagio hegemonica para outremizar 0 nio-europed a E um sistema de supervisto, consequncia do poder sobre o sujeito outremizado, 0 qual € ameagado por toda tipo de reprovagio moral e cultural e de exelusto. Quadro 1. Poder e contol HISTORIA DO POS-COLONIALISMO Iniciou-se © século XX com um triste panorama composto (1) por dezenas de povos ¢ nagdes submetidos ao colonialismo europe, (2) por milhdes de negros, descendentes de escravos, especialmente nos Estados Unidos ¢ na Africa do Sul, discriminados em seus direitos fundamentais, 3) pela metade feminina da populagio mundial vivendo mum contexto patriareal, (4) pelo poder politico ¢ econdmico nas mios da raga branca, cristi ¢ rica em pafses industrializados. Apesar dessa imagem sombria, um dos fatores mais earacteristicos do séeulo XX foi a nitida consciéncia da subjetividade politico-cultural e da resisténcia de povos © nagdes contra qualquer manter a objetficagio ow inicar uma nova modalidae de depend i o (movimento cultural ¢ litersrio entre escritores e artistas norte-americanos, especialmente na cidade de Nova lorque, cuja finalidade foi realgar o interesse na cultura africana ao redor do mundo) nos Estados Unidos nas d&cadas QM rostraarecusa etn deixar» caltera eurocénttca, cree branca continuar definindo o outro em geral e a populacio affo-americana em particular (APPIAH; GATES, 1997) dénticaattude estava por rs ¢oAMMMM cca2 ‘As descrigdes de Fernio. Canteen Do dina e terra do Brasil (edigio inglesa de 1625), Jean de Léry, em Viagem @ tera do Brasil (1578), ¢ Gabriel Soares de Sousa, em Tratado descritivo do Brasil (1587), com sua pretensio de’ objetividade sobre frutas tropicais, esmeraldas, rios e outros temas, como também a atomizagio dos objetos deseritos pelos pintores e botinicos holandeses, como Albert Eckhout, Willem Piso, Johan Niehoff e Georg Marceraf, escondem o discurso imperial A I textos literérios escritos sob @QREEENBEEED or natives que receberamsua educacio na metrSpole e que se sentiam gratificados em poder eserever na lingua do europeu (nessa época nfo havia nenbuma consciéncia de cla ser também do coi ; ED. = GEENA spoons deren Australia sentiam-se privfleradas em pertencer a classe dorminante, ou em ser por ela protegidos, e produziram volumes © de poems ¢ romances. (1601), de Bento Teixeira QM (1769), de Basitio da Gama, sio exernplos clissicos desse fendmeno na literatura brasileira Embora muitos dos temas (0 fato de que supostamente a cultura do colonizado era mais antiga do que a evropéia, a brutalidade do sistema colonial, a riqueza de seus costumes, leis, cantos & provérbios) abordados por esses autores estivessem carregados de subversio, sem diivida os autores io podiam ou nao queriam perceber essa potencialidade. Além disso, a manutengio da ordem ¢ as npostas pela poténcia imperial nao permitiam nenhuma manifestagio que pudesse restrigies| mg > diferente dos critérios candnicos ou politicos. SMR ses soa de exes, 4 parr de ato gan irene. GEMBETIED com 05 padres da metopole. Evidentemente, essas Titeraturas dependiam do cancelamento do poder restritivo, ou seja, comegaram a ser escritas ou umas décadas antes ou a partir da independéncia politica. A oscilagio de “brasilidade” nas obras de Basilio da Gama, Santa « Rita Durio, Clindio Manoel da Costa, dos poetas rominticos e de José de Alencar € muito nitida: a bajulacio a0 colonizador, o estilo literério portugués, o afastamento da retérica camoniana, temas brasileiros, fabricagio da mitologia brasileira. Pela conscientizacio pés-republicana, com Machado de Assis ¢ com 0 Modernismo, ocorre a guinada completa do estranhamento ¢ afastamento da literatura brasileira dos parametros metropolitanos, sejam esses portugueses ou franceses. Devido 4 manutengio da centralizacio britinica, acredita-se que a literatura em inglés oriunda das ex-coldnias Dritanicas tenha ido mais longe em sua énfase na linguagem, na parédia ¢ na sitira. Em Things Fall.» ° Apart (1958), Chinua Achebe ridiculariza o administrador colonial que deseja escrever um livro sobre os costumes primitivos dos selvagens do alto rio Niger, quando 0 autor j havia exposto a ¥ complexidade de costumes, religiio, hierarquia, legislacio e provérbios da tribo dos Igbos na regito r chamada Umuofia f T estos ltetirios produaidos por representantes do poder colonial (viajantes, administradores, esposas das! calonizadores, religiosos). texts literarios prodhzidos por natives, mas sob supervisio colonial (religiosos mativos, classe intelectual educada na metro, protegidos des colonizadores) 3. textos literrios eseritos por nativos a partir de certo grav de diferenciagio dos padres da metrépole, acé sua uprura total (Quadro 8, O: 183 momentos da Ineratura pés-colonial QUESTIONANDO 0 CANONE LITERARIO Quais sio os documentos histéricos ou literirios nos quais a voz do subaltemo € transmitida? Como o colonizado se descreveu durante séculos de submissio? Como o europeu viu a presenga do autro? No cinone literirio 0 colonizado encontrou sua voz ou esta ficou relegada 2 auséncin? Ninguém pode negar que atualmente ha uma verdadeita extensio do cinone literitio, jf que textos de mulheres, indfgenas, escravos e membros de outros grupos historicamente marginalizados comecaram a emergir. Houve tempo em que 0 cinone literfrio estava fechado: somente um 233 nT eonra Lrvendara conjunto de textos, cansagrados comio esteticamente excelentes, era escolhido pelo grupo social e politicamente dominante, ¢ considerado digno de set lido, com a conseqitente exchisio de outros textos que nio coadunavam com o ponto de vista do grupo hegeménico. Um maior nimero de textos esto sendo estudados como representagdes da experiencia e da cultura da mais variada gama de grupos de pessoas. Houve comprometimento nos padrées literirios? Os textos formadores do cinone foram escolhidos pela sua exceléncia literiria ou pela representatividade cultural? E legitimo insistir sobre uma representagio politicamente correta para cada minoria, em detrimento da utilizagio de eritétios literirios? Discutem-se muito, atualmente o cinone fteririo e sus formagio, Enqeant ERD em O cinone ocidenial (1995), insiste sobre SD deplora qualquer ideologia na critica literéria, 4 (multiculeuralismo, m0,_afrocentrismo) (1998), que Sabe-se, contudo, que a formagio do cinone literdrio deuese porque cettas obras fiterrias em’ determinados perfodos hist6ricos.cultuavam. interesses e propésitos. culturais particulates, como se fossem 0 7 ‘como certos textos foram selecionados por interesses, commando-se, portanto, dignos de serem estudados. B 2 permearam as escolas do ensino fundamental, ico padrao de investigagio literiria. E extremamente interessante saber interessante investigar como as idéias de excelencia lite ‘05 exames vestibulares, o curriculo dos cursos de Letras nas universidades. Os romances de José de Alencar (1829-187), o principal escritor da brasileira e expoente maximo do Indianismo, foram apropriados no cinone literirio brasileiro porque nos periodos pés-independéncia e pos-repiblica “necessitava-se de alguém que mostrasse orgulho, amor, defesa da pitria, ¢ criasse arquétipes de uma terra edenica e da unificagio nacional. Na Inglaterra, as obras de Altied Tennyson (1809-1892) naturalmente entraram nto cinone literrio por causa de seu enaltecimento do imperialismo britinico, da coragem de seus soldados e dos arquétipos criados no conjunto de poemas sobre os fundamentos miticos do povo inglés. Por outro lado, muma sociedade patriarcal e machista, os textos ¢ as biografias das escritoras brasileiras do século XIX € do inicio do século XX foram quase todos suprimidos. Suas obras foram literalmente relegadas a0 esquecimento. Somente nestas iiltimas décadas a academia brasileira (especialmente nas universidades federais do Rio Grande do Norte, de Minas Gerais e de Santa Catarina) resgatou a historia € as obras de autoras brasileiras. O mesmo aconteceu no bojo da sociedade branca e enropéia dos Estados Unidos. Entraram no cinone hiteririo estadunidense os textos dos ex-escravos Frederick Douglass (1817- 1895) ¢ Harriet Ann Jacobs (1813-1897) apenas nos diltimos vinte € cinco anos do século XX, devido a interesses de diferentes experiéncias culturais e de formas literirias ARELEITURA A releiuira @ uma estratégia para ler textos literdrios ou nfo-litersrios e, dessa maneira, garimpar suas implicagdes imperialistas ¢ trazer & tona © proceso colonial. A releitura do texto faz emergir as nuangas coloniais que ele mesmo esconde. Quando se 1@ um romance da literatura brasileira do séeulo XIX, por exemplo, nada se depara, 3 primeira vista, sobre os contrapontos da riqueza pessoal dos personagens, da suntuosidade de seus solares e de sua vida folgada, A reinterpretagio ou a leitura conirapontual revela que a origem dessa riqueza esté enraizada na escravidao de findios e negros, no comércio da carne humana, na invasio ¢ violagio de terras alheias, nos castigos horrendos, na manutengio do estado racista. Fundamentando-se mio na intima relagio entre literatura metropolitana (portuguesa) ¢ colonial (brasileira), mas na realidade social e cultural, a releitura € uma volta “ao arquivo cultural (que é lido] de forma nfo unfvoca, mas em contraponto, com a consciéncia simultinea da histéria metropolitana que esti sendo narrada ¢ daquelas outras historias contra (¢ junto com) as quais atua 0 discurso dominante” (SAID, 1995, p. 87). A reinterpretacio é, portanto, uma maneira de reler os textos oriundos das culturas da metrépole e da coldnia para focalizar os efeitos incisivos da colonizagio sobre a produgio litera, relatos étnicos, registros hist6ricos, discursos cientificos e anais dos administradores coloniais, A releitura € a desconstrugio das obras dos colonizadores, de nativos a servigo dos colonizadores € de escritores nacionais, Demonstra como o texto € contraditério em seus pressupostos de raca, civilizaco, justia, 234 3) 3 edd) Teorra © critrea pbs-covomratrsras religiio, Pde em evidéncia a ideologia do colonizador e 0 processo da colonizagdo. Uma desconstrugio de yvela que o colonizador que insiste na selvageria das tribos da Nigéria ¢ um mentiroso, porque o romance de Achebe esta cheio de epis6dios de literatura oral (oraura, provérbios), de leis para ditimir questdes litigiosas, de priticas religiosas, de convivéncia social harmoniosa, A teinterpretagio faz parte da inevitavel tendéneia do académico que trabalha com o pés- colonialismo para subverter o texto metropolitano. As estratégias subversivas revelam (1) a forma da| dominacéo © (2) a resposta ctiativa a esse fato. Isso acontece quando (1) se denuncia o titulo de’ “centro” que as literaturas européias deram a si mesmas, ¢ (2) se questiona ponto de vista europent que “natural ¢ constantemente” polariza o centro ¢ a periferia, E importante desafiar este tlkimo item, ou seja, frisar que mio € legftimo ordenar a realidade dessa maneira, Até meados da década de 1960, Prospero, o duque © mago, em A tempestade (1611), de Shakespeare, eta analisado como um homem maltratado pelo proprio irmio, Prospero é descrito como um pai bondoso, um orientador de sua filha Miranda e de seu futuro genro Ferdinand, um homem que castiga apenas quando a necessidade urge, um cavalheiro que sabe perdoar os inimigos e esquecer 0 mal que The fizeram, Uma leitura pés-colonial, no entanto, comega a desenvolve respeito desse personagem. Prospero revelo Caliba; 0 senhor que escravizou nativo apés seduzi-lo; o controlador da memoria de Ariel, Calibi € Miranda para satisfazer sua ambigio; o déspota que mantém o dominio sobre a sexualidade de sua filha Miranda ¢ de seu futuro genro Ferdinand; o personagem que sai da cena triunfante ¢ imune a qualquer ato de insubordinagio. Essa releitura revela as implicages do encontro entre colonizador € colonizado, as estratégias de dominacio do primeiro, a marginalizacio e a objetificagio do nativo, a resisténcia do escravizado pela utilizacio da Kngua do colonizador e pelo revide fisico. Revela 4 também a incipiente histéria da colonizagio britinica ¢ suas estratégias de polarizagio que serio t desenvolvidas na terrfvel hist6ria do império inglés entre os séculos XVIII ¢ XIX. | A peca QGUSMNMGGANEGMAMD (1587), de José de Anchieta (1534-1597), parece revelar simplesmente um drama singelo © primério com que o missiontio podia facilitar a pregacio da doutrina cristi, Uma leitura pés-colonial traz 8 tona a (SME © / as quais revelam © maniqueismo (ou binarismo) de Anchieta, a objetificagio dos nativos, 0. vilipéndio de sua cultura, a superioridade da civilizagio européia (e da religiio cristi). O texto dramitico expée as claras a ideologia colonial, - Normalmente a leitura de O Atenen (1888), de Raul Pompéia, mostra a hist6ria do internato como reflexo da sociedade no terceiro quartel do século XIX, ou seja, a historia da elite brasileira, “enriquecida pela sctentrional borracha ou pela charqueada do sul”, no contexto de faléncia ¢ da» decadéncia do regime monérquico de base escravista. Uma releitura poderia revelar o sistema educacional curopeu como centralizador e esmagador da personalidade; a resisténcia de uma sociedade oprimida que anseia por uma independéncia verdadeira, em todos os sentidos; a elite traidora da nacionalidade © do povo; a incapacidade de distanciar-se do contexto de dependéncia completo; o surgimento dle sujeitos/agentes que constroem dos escombros a autonomia da nagio. se 0 usurpador que se apoderou da ilha pertencente a 1. Passar de tira aitude que define a literatura como enaltecedara ¢ transcendente para uma visio de literatura inserila no contexte histérico e no espaco geopaltico, 2 Pereeber como as obras de certos auwores aprofundaram o impetialismo, o colonialimo © o pattarcalisma, especialmente quando supéem que os leitores sejam do sexo masculing ¢ brancos, (Chissificar o autor segundo esquema representando os ts momentas da literatura pés-colonial, Detectar na fieéo a ambigidade ameagadora do nativo e da mulher diante da ideologia dominante da conquist, Descobtir o silénicio absoluto, escondendo o sistema escravagista, a objetificagio da mwvlher © 0 aviltamento de nnativos, embora mascaraos ats de manifestagbes de riquezas de patiarcalisma 6. Tnvestigaro aprisionamento do espago colonial e ps-colonial pelo texto europew ox pela teoria literiria oriundos das rmetrdpoles renascentistas ov modernas, ‘Quadro 9. Esratéyias para aalisar uma obra da pont de vise pos-colonial 235 i) conta wivewenee AREESCRITA gua inglesa (porém nao exclusiva A reescrita é um fenémeno literirio, muito utilizado em I desta), que consiste em selecionar um texto candnico da metrépole e, através de recursos da parddia, produzir uma nova obra escrita do ponto de vista da ex-coldnia. A reescrita faz parte do contradiscurso, originalmente usado por Terdiman (1985) para demonstrar os métodos empregados pelo discurso da periferia contra o discurso dominante do centro imperial. A selecio gira em torno de certos textos particularmente preeminentes ¢ simbélicos que © discurso dominante irradiava para impor sua ideologia. A reescrita tem por finalidade a quebra da ocultagio da hegemonia candnica € 0 ‘ “questionamento dos varios temas, enfoques, pontos de vista da obra literiria em questo, os quais reforgavam a mentalidade colonial. Logicamente, a reescrita desemboca na subversio dos textos WS eanénicos e 10 dentro do processo subversive. Virios autores latino-americanos r ram A tempesade, Além das obras de George Lamming e Aimé Césaite, basta menicionar A tempestade, de Augusto Boal, Unopia slvagem, de Darey Ribeiro, a pega Caliban (1997), de Marcos Azevedo, e A-tor-men-ta-do Calianus (2001), de Guilherme Duries. © romance Wide Saygaso Set (1966), da caribenha Jean Rhys (1890-1979), € uma reesctita de Jane Eyre (1847), de Charlotte Bronté (1816-1855); Robinson Cruse (1719), de Daniel Defoe (1660-1731), foi reescrito em Poe (1986), do sul-afficano J.M. Coetzee (nascido em 1940). A subversio do cinone literstio através da reescrita nio consiste em apenas substituir um texto candnico por outro modemno. De fato, 0 algo extremamente complexo, porque envolve pressupostos individuals ¢ cinone em si conté comunitirios sobre a literatura, estilo, géneros literdrios © outros. Esses fatores estio embutidos nas estruturas institucionais © formam as grades escolares, a publicagio de textos escolares, exames para vestibulares, hierarquizagio em mengio € em citagbes pela academia. A finalidade da reescrita € (1) a i | suubstituigio de textos, 2) 2 conscientizacio das instituigBes académicas, (3) a relistagern da hierarquia dos [textos ¢ (4) a reconstrugto dos textos candnicos através de leituras alternativas Robinson Crusoe, uma natrativa “autodiegética”, nao menciona sequer uma vez 0 sexo feminino, mas mostra a grande previdencia e trabalho meticuloso do homem em varias situacies limites. O romance reescrito Foe tem a personage Susan Barton (inexistente no romance candnico) como narradora; cla dé sua versio das aventuras do Robinson Cruso (sic) na ilha desabitada. Na segunda e terceita parte do romance, Susan luta para que o escritor Defoe nio se aproprie da versio feminina \ da narrativa ¢, mais uma vez, anule a vor feminina recuperada, No romance pés-colonial Friday, a0 conttétig do caribenho salvo por Crusoe, ndo € 0 indigena ingénuo que aceita sem nenhuma problematizacio a versio religiosa, comportamental ¢ lingiistica do eutopen. O negro ¢ mudo Friday, agora reescrito, recusa a recuperagio de sua historia pelo homem branco e tenta articular diversos modos de expressio para “escrever” a histéria do negro pelo negro. : a 502), de Joseph Contad, os afticanos sio descritos sob o ponto de vista colonialista, como “um rodopiar de bragos negros, um bater infinito de palmas das maos, de pisar aye. « adoidado de pés, o balangar de corpos, de rolar de olhos, sob a enlanguescéncia de folhagem cansada 2 e imévet Ered TT '58, Achebe reinstala a rica cultura africana, rejeita os ¥ esterestipos criados pelos colonizadores, confitma a complexidade ¢ a ambivaléncia da cultura africana, constr6i uma profunda e criativa etnografia e, acima de tudo, apropriaese da forma do romance (a ferramenta dominante da representagio imperial britanica) ADESCOLONIZACAO +O deslocamento do cinone literitio, a releitura ea reescrita fizem parte de um programa geral de P Enganam-se aqueles que pensam que a declaragio de independéncia politica .o produz, por si, a descolonizagio da mente e que as literaturas nacionais e o ensino da cigncia, da historia e da geografia ficam livres de inscrigBes e de residuos coloniais. Ao contrério do que muita gente pensa, a descolonizagio é um processo complexo ¢ continuo e no ocorre automaticamente apés a independéncia politica. Apés a independéncia politica das col6nias, ios poderosos, sempre latentes, das forgas resquai 236 ed) Terra € CRITICA POS-COLONTALISTAS calturais © institucionais que sustentavam o poder colonial. Como em geral os defensores € proclamadores da independéncia sentem-se herdeiros dos modelos politicos europeus ¢ relutam em. rejeitar a cultura importada, nfo podem escapar de uma profunda cumplicidade com os poderes coloniais dos quais quetiam se libertar. Em muitos casos, portanto, a libertagio pura e simples dos liames coloniais, (modelos econdmico, politico ¢ cultural) nfo ocorre. Historicamente, isso aconteceu mais nas colbnias de povwadores do que nas colaias de socedades fnvadidas. Embora nestas dltimas a descolonizagio fosse mais radical ¢ abrangente, profundos resicuos ainda existem, 1 Contestago cs interpretagbes eurocéntricas. 1 Reescritura auto-reflesiva da historia da colOnia na qual se pereebe que a realidade do passado tem influenciado 0} presente 2, Desafio 3 centralidade, & universalizagio e 3s forgas|2, A marginalidade ou excentricklade (raga, género, hhegeménicas. nnortmalidade psicaldgica, exclasio, distinct social, hibridisio cultural) uaa fonte de energia crates alla com os discursos existentes| 3. Instalagio do contradiseurso pela iransgressio 3, A ironia e 2 parddia Uissolugio das formas Iteririas eusopZias ov suns] ¢, 20 mesino tempo, os con fronteras ‘Quadro 10, Os prineipios da descolonizagio. Aeestratégia do poder colonial é deixar uma elite nativa que perpetua sua ideologia e seus paradigms. Operando através do antigo conceito de omprador, © neoclonialimo torna-se manifestagio das operacSes da globalizacio do capitalismo ocidental ¢ a estratégia para controle global. Pode-se dizer que a globalizagéo da economia mundial baseia-se (1) no fato de que as mudancas no controle econémiico € cultural nio ocorreram ¢ (2) ma coniviegio de que a formagio da elite comprometida com as nagbes hegem@nicas era premeditada ¢ realizarase através de discriminagées, lutas classistas € priticas educacionais, Adermais, 0 eurocentrismo continuou influenciando a mentalidade das nagdes " politicamente independentes com seus modelos culturais, especialmente pelo binarismo (literatura ¢ oratura;linguas européias e kinguas indigenas, inserigGes culturais européias € cultura popular ete) 1. Apropriagio da lingua colonial pelo eseritor oriunda] “0 escritor[africano] deve ser capaz de moldar a lingua do daexcolénia colonizador pats que poss transmitir a sua esperiéncia specifica” (ACHEBE, 1975). 2, Recusa de adotar a lingua do colonizador “Qual € a diferenga entre um politico que afiama que a Alvica nfo se deseavolve sem o imperialismo ¢ 0 escrit ‘que afirma que a Affica necessita das linguas européias (NGUGI, 1986), 3. Recuperagio e reconstrucio da cultura pré-colowial. | Spivak (1995) © Bhabha (1984) argumentam sobre a impossbilidade dessa recuperagio devido a processos de mmiseigensgio cultural durante o periodo colonial 4. Aceitgio pelo esertor de uina idemtidade wansmacional | *O impé ‘¢ 20 mesmo tempo, o aprofandamento ca erica diate capitalismo mundial para os intelectuais da periferia? Nao é possivel que a intima ligagio entre pos- ¥". 2) modernismo © pés-colonialismo, este considerado o filho do primeiro, acontega nio por novas (sf perspectivas sobre a cultura ou de uma reviravolta do poder, mas apenas um pretexto, ou s¢ja, por causa da visibilidade crescente de intelectuais dos paises emergentes como inovadores? Essa problematizacio nio invalida a atitude ¢ 0 esforgo do académico brasileiro, profissional de Letras, em seu comprometimento para descobrir como os povos estio fixados em estruturas opressivas e para descortinar a subjetificacio de tais individuos (nea)colonizados. O seu esforgo para a flexibilidade da teoria existente € 0 surgimento de outras teorias autéctones so de grande valia para reinterpretar todes 0s textos pré- ¢ pés-independncia politica oriundos da inserigio colonial (BONNICI, 2000). Tendo como prinefpio que descolonizar nio € simplesmente livrar-se das amarras do poder imperial, mas procurar também alternativas mio repressivas 20 discursoimperialista, a descolonizagio da literatura ¢ da critica literéria dario um nove € mais aprofindado entendimento 0 académico. £ andlogo ao sentimento do escravo afro-americano Frederick Douglass (1817-1895), quando descobriu o segredo da escrita. “Houve uma nova ¢ especial revelacio, explicando coisas até entio obscuras e misteriosas, contra as quais © meu entendimento juvenil tentava vishumbrar, mas lutava em vio. [..] Foi uma grande vitoria, estimada por mim sobremaneira. A partir daquele momento, entendi o caminho da escravidio para a liberdade” (DOUGLASS, 1988, p. 78). 238 REFERENCIAS ACHEBE, C. Morning yes om eration cay. NewYork: Doubleday, 1975, APPIAH, K. A; GATES, H. L. The dictionary of global culture, New York: Knopf, 1997. ASHCROFT, B.; GRIFFITHS, G.; TIFFIN, H. 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