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ALCALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIS Processos de reducGo da dureza ESTANISLAU BLUMBERG JOSE M. DE AZEVEDO NETTU Engenbeiros do D.A.E. CONSIDERAGOES GERAIS Na natureza a dgua nunca é encontrada em estado de absoluta pureza. A Agua de chuva, que mais se aproxima da Agua pura, contém pequenas quantidades de matéria organica e gases dissolvidos da atmosfera. A composig&o do solo, sobre o qual ou através do qual ela escda quando cai na terra, determina as impurezas adicionais que ela absorve. Desde os tempos primtivos a Agua fol considerada como o melhor dos sol- ventes. Os antigos filésofos gregos consideravam que tédas as coisas tinham rigem na gua e para ela voltavam. Esta crenea, sem divida, era baseada na observacio de que quasi tédas as substancias se dissolvem na Agua, em maior ou menor grau, deixando um residuo de minerais na evaporacio. Praticamente a Agua exerce uma aciio dissolvente sdbre todas as espécies minerais, mas ataca também as substdncias orgénicas. A superficie da crosta terrestre contem grande quantidade de sais minerais, tals como: carbonatos e sulfatos de calcio e magnésio, que sio dissolvidos pela Agua. As aguas profundas, geralmente, contém mais substancias minerais dis- solvidas do que as aguas de superficie, mas menor quantidade de matérias em suspensio, estas ultimas sendo removidas na penetracio ou filtragio da Agua através da terra. COMPOSICAO DAS AGUAS NATURAIS Do que fot dito, concernente & ac&o dissolvente da Agua, torna-se evidente que as aguas naturais podem conter quasi tédas as substAncias em solu¢io. Quando cai a 4gua na forma de chuva, ela nfo somente tava parcialmente a asmosféra carregada de poeira e bactérias, mas também dissolve os gases normal- mente presentes, e quando alcanga a terra, jA se encontra saturada com oxigénio, nitrogénlo e pequenas quantidades de aménea. Esta agua misturando-se com a matéria orginica em decomposi¢So que esté sempre presente na superficie da terra, torna-se ainda mais carregada de CO, e outros produtos de decom- posicdo, iniciando assim, sua viagem através das camadas da terra, para for- mar os lengéis subterrneos. & devido a ésse contetido de CO,, a grande acio dissolvente da agua sdbre as rochas caledreas. © calcio, que é 0 principal constituinte causador da dureza na gua, & proveniente de trés fontes principais: Pedra caledrea (CaCO,), gypsum e clo- reto de cAlcio. A pedra caledrea é sohivel na dgua na proporcdo de 13 ppm. | Na presenca de CO, a solubilidade pode aumentar para 1000 ppm. Gypsum ’ (€a80,} solivel na proporcio de 2000 ppm e o cloreto de calcio é tao al-* we REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS tamente solivel que pode tornar a agua absolutamente impropria para a ali- menteeio. © magnésio é encontrado nas aguas naturais em concentragbes de 5 a 20% sObre o teér de calcio: CaCO, + CO, + H,O > CalHCO,), (solivel) MgCO, + CO, + H,O > Mg(HCO,), (solivel) Alcalinidade relativamente alta e dureza baixa, bem como, a presenca de silica, alumina e possivelmente ferro e manganés, sic caracteristicos de aguas primérias, isto é, Aguas que estiveram em contacto com rochas primarias da crosta terrestre: os granitos, basaltos e gneisses. As Aguas secundarias sao aquelas que estiveram em contacto com rochas secundarias, isto é, rochas for- madas pela decomposi¢ao das rochas primarias, As rochas secundarias incluem as pedras calcareas, dolomites etc. Agua em contacto com essas rochas tornam- se impregnadas com bicarbonatos de cdlcio e magnésio e com cloretos que causam dureza. © ferro é mantido em solucaéo nas 4guas profundas no estado de bicarbo- nato ferroso (Fe(HCO,}2), que sé é soliivel na auséncia de oxigénio. Na pre- senca de oxigénio o bicarbonato ferroso ¢ rapidamente oxidado para hidréxido férrico (Fe(HO),) que é altamente insolivel. A presenca de ferro nas aguas é comum devido a larga distribuigéo do ferro como hematita (Fe,O,), na na- tureza, e & sua soluciio pelas Aguas contendo CO,. No quacdro seguinte estao indicados os compostos mais comuns, presentes nas aguas naturais: Compostos Formula quimica Bicarbonate de calcio Carbonate de cAleio Sulfato de calcio Cloreta de cAlelo Nitrato de céleio Bicarbonato de magnésio Sulfato de magnésio Carbonato de magnésio Cloreto de magnésio Carbonato de sddio , Cloreto de sédio NaCl Sulfato de sédio Na,SO, Bicarbonato ferroso Fe(HCO,). Outras substdncias podem ser encontradas em pequenas quantidades, tais como: potassio, silica, manganés, aluminio, aménea, fluor, bari, bromo e iodo. ‘Tédas essas substncias ocorrem em estado de combinagéo ou apresentam- se livres, como elementos, Além disso as aguas naturais de superficie contém uma variedade de micro- organismos, dependendo do clima, substéncias nutritivas etc.. ALCALINIDADE DAS AGUAS NATURAIS A alcalinidade das aguas naturais é devida principaimente 4 presenga de carbonatos, bicarbonatos e hidrézidos, ¢ em alguns casos também a fosfatos, boratos e silicatos. Frequentemente a alcalinidade da agua é devida somente aos bicarbonatos de calcio e magnésio, de forma que a alcalinidade nesse caso é igual & dureza, tendo sempre em vista que a dureza é devida aos sais de cdicio e magnésio, Ex- AICALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIN 65 cetuam-se 0S casos em que os bicarbonatos de sddio e potassio contribuem para a alcalinidade sem influenciar a dureza; neste caso a alcalinidade excederd a dureza. Na pritica a determinacao da alealinidade das aguas pode ser feita com © uso de indicadores, idénticos em principio, aos que se empregam no ensaio do pH. A diferenea, entretanto, é que o grau de alcalinidade é mantido determi- nando-se a quantidade de Acido normal necesséria para neutralizar a alca- linidade. As solugoes diluidas de “bicarbonatos” tém valores de pH de aproximada- mente 8. Os carbonatos normais e os hidréxidos produzem pH acima de 8. O indicador fenolftaleina é incolor em pH inferior a 83, mas adquire co- loragdo résea com pH entre 8,3 e 10, e portanto serve para indicar alcalinidade devida aos carbonatos normais e hidrdxidos. As solugées diluidas de CO; tém um pH préximo de 4,0, os valores infe-~ riores a 4, sendo mais devidos aos acidos minerais livres do que ao CO, e bicar- bonatos, e assim as Aguas alcalinas possuem PH acima de 4. © indicador metilorange muda de cér de alaranjado para vermelho, em pH = 4,4 ou proximo de 4, e portanto, mostra a alcalinidade de bicarbonatos e indica a acidés, devida a Acidos minerais livres. O quadro abaixo, baseado na concentracao dos ions de H, (pH), e subdi- vidido em quatro zonas distintas com respeito a acidés e alcalinidade das aguas, torna mais facil a compreensdo do assunto. pH acima de 9,4 Alcalinidade de hidratos e carbonatos normais Bicarbonatos = 0 CO, livre = 0 Alcalinidade caustica pH de 83 a 94 Alcalinidade de carbonatos e bicarbonatos Alealinidade caustica = 0; CO, livre = 0 pH entre 44 € 83 Alcalinidade devida intelramente aos bicarbonatos CO, livre: presente | Carbonatos normais: ausentes PH abaixo de 4,4 Presen¢a de acidés mineral A 4° zona nfo corresponde as d4guas naturais, mas as aguas tratadas com. alcali caustico, tal como a cal que reage com o CO, e bicarbonatos para for- mar carbonatos normais. O excesso de cal produz alcalinidade caustica. TITULACAO DE UMA AMOSTRA D'AGUA Os processos de determinag&o da alcalinidade, usando-se acido “standard”, fenolftaleina e metil-orange como indicadores, pode ser discutido em térmos do quadro. 6 REVISTA DO PEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS Para ilustragio, vamos admitir que a amostra examinada acusou um pH de 85. De acérdo com o quadro podem existir carbonatos e bicarbonatos. Adicionando-se fenoiftaleina, verificamos a mudanca para coloragao résea. © Acido é adicionado até desaparecer a coloragéo résea, 0 que acontecera quando o pH cair para 8.3. A quantidade de dcido empregada sera a alcalinidade 4 fenolftaleina. Numa outra poreéo de amostra adicionamos metilorange. Produz-se uma coloragéo amarelo-alaranjada com 0 pH de 85. O dcido standard é adiciona- do até que o metilorange mude de cor amarela para vermelho, o que se da no pH 4,4. © Acido empregado para ésse fim representa a quantidade requerida para neutralizar téda a alcalinidade da agua, e assim seria a medida da alcalinida- de total. Os dols valores (alc. & fenolft. e ao metilor.) podem ser usados para caleular os trés tipos possiveis de alcalinidade que sao: Alealinidade cdustica, carbonatos e bicarbonatos. ALCALINIDADE CAUSTICA Vamos admitir, por exemplo, que sdmente a alcalinidade cdustica esté pre- sente (PH acima de 9,4). O Acido reagira com a alcalinidade caustica para formar sal neutro: Ca(OH), + H,SO, > CaO, + 2H,0 A fenolftaleina mudaré de réseo para incolor quando essa reaco for com- pleta, o que se dara no pH 8,3. Uma ou duas gétas de dcido abaixaria o pH para 4,3 porque nao existe mais nenhum aleali para reagir com 0 acido adicionado. fiste acido adicionado mudaria a cér do metilorange de alaranjado para ré- seo avermelhado. Portanto, a mesma quantidade de dcido ajuntada & agua que possue alea- Hinidade c4ustica mudaria a cér de ambos os indicadores, ou em outras pala- vras, a alcalinidade & fenolftaleina e ao metilorange sio iguals. Por isso, quando a alcalinidade 4 fenolftaleina, fér igual a alcalinidade ao metilorange, s6 existe alcalinidade caustica. A alcalinidade a fenolftaleina é usualmente representada por “P” e a al- calinidade total ou ao metilorange, por “T”. ALCALINIDADE DEVIDA AOS CARBONATOS: Uma amostra de agua contém por exemplo, somente carbonatos. Quando se adiciona H,SO,, usando-se como indicador a fenolftaleina, esta se torna incolor quando todo o carbonato for transformado em bicarbonato: 2Na,CO, + H.SO, > 2NaHCO, + Na,SO,. A adigio de mais Acido, entretanto, transforma o bicarbonate em mais sul- fato e CO, : 2NaHCO, + H,SO, > Na,SO,, CO,, H,0. Verificamos, pois, que duas vézes mais acido é necessdrio para a reacio completa. AFCALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIS ro Portanto, a alcalinidade é devida sdmente aos carbonatos normais quando a alcalinidade & fenolftaleina é exatamente a metade da alcalinidade total, ou ao metilorange: T Poy ALCALINIDADE DEVIDA AOS BICARBONATOS: Admitindo-se que numa amostra de Agua exista somente bicarbonatos, 0 pH estard compreendido entre 4,4 e 8,3 devendo existir CO, livre. A fenolftaleina ser4 incolor quando adicionada 4 amostra, sendo portanto Acido a ésse inicador. Empregando-se metilorange, verificamos que a mudanca de coloracac de alaranjado para vermetho se opera quando tado o bicarhona- to for neutralizado, transformando-se em sulfates neutros e CO, : 2NaHCO, + H,SO, > Na,SO, + 2H,CO,. Neste caso, vimos que a alcalinidade a fenolftaleina = 0 e a alcalinidade dos bicarbonatos é igual a total ou & do metilorange. Vamos ilustrar o calculo dos diversos tipos de alcalinidade com exemplos: 1 — Ale. & fenolftaleina =0 Alc. ao Metilorange = 18,5 ppm Portanto, alcalinidade caustica = carbonatos 0 bicarbonatos 18,5 ppm 2—P = 28 ppm T 86 ppm, portanto temos: Ale. cdustica, 90 Ale. de carbonatos, 4; Ale. bicarbonatos>"8é — (2 x 28) 56 ppm = 30 ppm 3 — Quando a alcalinidade a fenolft. é exatamente a metade de metilorange: P T Bicarbonatos: 0 alc. cdustela: 0 Carbonatos: 144 ppm 72 ppm 444 ppm, portanto: 0 0 144 ppm 4 — Quando a alcalinidade 4 fenolft. 6 maior que a metade da alcal, ao metilorange, a alcalinidade caustica é duas vézes a alcal. & fenolft. menos a ale. ao metilorange; a alcalinidade de carbonatos é duas vézes a diferenca entre a fenolft. e metilor. e a alc. de bicarbonatos é 0. Exemplo: vf Alc. cdustica : 2 x 150 — 196 Alc. carbonatos: (196 — 150)2 = 150 ppm = 195 ppm 104 ppm 92 ppm 5 — Quando a alcalinidade ao metilorange e & fenolftaleina sao iguais, 86 existe alcalinidade caustica. a REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS PROPORCOES DAS SUBSTANCIAS ALCALINAS EM TERMOS DOS TRES TIPOS DE ALCALINIDADE (*) Quantidades de alcalis presentes como: ___ Hidratos Carbonatos Bicarbonatos Tr T — 2P 0 0 1 — | | = alealinidade 4 fenolftaleina. T = alcalinidade ao metilorange. DUREZA A Gureza das aguas ¢ devida A presenga de compostos de Cielo © Magné- slo, entre os quals: 1 — Bicarbonatos de cAlclo (solugéo de CaCO, pedra caledrea, em aguas contendo CO,}. 2— Bicarbonatos de magnésio (solugéo de magnesita, MgCO,, em aguas contendo CO,). 3 — Sulfate de calcio (na forma de CaSO, . 2H,0, conhecldo como gypsum). 4 — Sulfato de magnésio (na forma de MgSO, . 7H.0, conhecido como sal de Epson). Algumas vézes séo também encontrados cloretos e nitratos de calcio e smagnésio. ~ ‘A dureza constituida pelos bicarbonatos de cdlcio e magnésio se denomina frequentemente dureza tempordria, e a formada por sulfatos, cloretos e nitratos, dureza permanente, A soma das duas constitui a dureza total. A dureza perma- nente é relacionada a “incrustantes”. A dureza temporaria pode facilmente ser removida por um simples processo de ebulic&o, enquanto que a dureza permanente sé poderé ser removida por um processo de tratamento adequado. DUREZA E ALCALINIDADE As duas qualidades sio devidas a compostos como indicam o quadro resu-~ mido abaixo: Caracteristica | Prineipais responsdveis Hidréxides | De Ca, Mg Alcalinidade Carbonatos Fosfatos, boratos, Bicarbonatos | + Bicarbonatos Na, K Silicatos ‘Temporéria || Carbonatos Choretos Dureza Bicarbonatos +De Ca, Mg I cioretos © Permanente || sultatos i | (NOTA: — Bate processo muito embora sea a mals unsal, no apresenta grande prcisio, baseando~ se cn hipéteses. “que carecem de right clentifico ALCALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIS ° CLASSIFICACAO DA DUREZA Segundo o Servicgo Geologico Americano, a dureza das aguas para fins do- mésticos ou uso industrial pode ser classificada como segue. Classificagéo da dureza das aguas (Servico Geoldgico Americano) Dureza, ppm Classificagio Mole Levemente dura Moderamente dura Muito dura Na regio de Séo Paulo a dureza das Aguas é bastante baixa, classificando- se na categoria I. As aguas mais duras do Estado so utilizadas na cidade de Pompéia (300 ppm), onde existe uma instalacko para redugko de dureza — pelos zeolitos. As substAncias que produzem dureza reagem com o sabao formando com- postos insoliivels. A espuma sé aparece depois de completada a precipitacao dos sais responséveis pela dureza. ‘A reagéo que se passa é a seguinte: Sabdo solivel Sabdo insolivel 2C,,H,,COONa + CaCO, > (C,,H,,COO).Ca + Na,CO, 2x 304 100, Observa-se que 100,1 partes de CaCO, destroem 608 partes de sabio puro, formando um precipitado que nao espuma, e portanto.nao possue propriedade detergente. Os sabes comerciais geralmente contém 50% de sabéo puro; portanto o desperdicio de sabio com 4gua de 100 ppm de dureza seria de 1216 g, ou sejam, mals de Cr$ 50,00 por metro ciibico de agua usada, As desvantagens econémicas das 4guas duras séo grandes. Além do prejuizo causado pelo desperdicio do sabao, ela é nociva em muitas atividades indus- triais, especialmente na alimentacdo de caldeiras, devido as incrustagdes, cor- rosao perigo de acidentes e desperdicio de combustivel. Na lavagem de roupas, o grumo de sabdo insolivel adere ao tecido, tornan- do-se dificil a remocgio; combina com a gordura dos pratos, dificultando a sua limpeza; produz depdsitos nas paredes das banheiras, depdsitos de dificil remo- ao, e tem um efeito irritante sobre a pele. DETERMINACAO DA DUREZA H4 varios processos para sé determinar a dureza das aguas; 0 mais simples e rapido é 0 processo da titulacéio da amostra com uma solucdo standard de sabao. Enquanto nao for adicionado a amostra suficiente sabéo para reagir com todo o calcio e magnésio presentes, a espuma nao poder ser produzida. Portanto, a concentracio de célcio e magnésio pode ser avaliada medindo-se a quantidade de sabao necessaria para produzir a espuma. 0 REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS METODOS DE EXPRIMIR OS RESULTADOS NA DETERMINACAO DA DUREZA Os americanos exprimem os resultados em ppm, em térmos de carbonato de calcio. As relagdes entre os varios métodos sfio indicadas no quadro abaixo. | ppm ou | grain/us | graus graus graus \ mg/t | gal. Clark | Franeés. | Alemaes ppm oumg/) ff 1 | 0,058 007 0,10 0,056 grains/US gal wi} 1,00 12 am 0,96 graus Clark 143 0,83 1,0 1,43 0,80 graus francéses | 10,0 | 0,583 07 1,00 0.56 graus alemies | 178 L 1,04 1,25 1,78 1,00 REDUGAO E REMOCAO DA DUREZA A redugdo ou remogio da dureza é um tratamento especial a que se subme- tem as aguas, para eliminar ou reduzir os compostos que dio origem dureza. A remocdo da dureza é essencialmente um problema econdmico e ao se pro- jetar uma instalacio de tratamento deve-se contrabalancar o malor custo da Agua corrigida com as economias que a agua tratada poderia trazer. Essas economias se classificam: a) Menor consumo de sabiio; b) Menores gastos de conservacio e aproveitamento de caldeiras e nos sis- temas de agua quente; ) Economia produzida pela menor destrui¢éo de roupas e tecidos que se \ javam com Agua mole, assim como as loucas e outros utensilios de ¢o- sinha. No que diz respeito ao consumo de sabdo, um autor americano diz que uma familia de 5 pessoas usando agua de 80 ppm de dureza em vez de outra com 270 ppm, economisa somente em sabio cérca de 50 délares anualmente. Hoover formulou uma equagio para determinar o grau de dureza de uma Agua natural, cuja remogaio de dureza até 75 ppm (dureza final) paga econo- micamente o custo do tratamento apenas com a economia que se verlfica no consumo de sabio: + 15 F D X : Dureza da Agua natural, em ppm, o tratamento da qual seré pago somente pela economia de sabio; 15 : Dureza final da agua em ppm, conseguida com o tratamento; F : Consumo de sabao por habitante e por ano, por cada ppm de dureza; C : Gastos fixos, incluindo superintendéncia, por habitante e por ano; D : Custo dos produtos quimicos por hablitante e por ano, para cada ppm de dureza. METODOS DE REDUCAO OU REMOCAO DA DUREZA (SOFTENING) Os métodos principais usados na remogdo da dureza sao: I — processo da cal e soda. II — Processo dos zeolitos ou permutitas. ALCALINIDADE — DURFZA DAS AGUAS NATURAIS a FIGS. 1 € 2: Principais inconvenientes da dureza excessiva das Aguas: Tncrustagdes das cunelizacSes ve lavagem imperfelta de ulensilios (Cortesia da Permutit). n REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS I — Processo cal e soda Reagdes que se realizam quando a cal é adicionada as Aguas contendo calcio e magnésio: Ca(HCO,) + Ca(OH), Mg(HCO,), + Ca(OH), MgCO, + Ca(OH), > Mg(OH), + CaCO, MgCl, + Ca(OH), > Ca(OH), + CaCl, ‘MgSO, + Ca(OH), > Mg(OH), + CaSO, Reagées que envolvem 0 uso de Na,CO, : caso, +Na,CO, > CaCO, + Na,80, cacl, +Na,cO, > CaCO, + 2Nacl Ca(NO,), + .Na,CO, + CaCO, + 2NaNO, Os dados analiticos necessérios para determinar as quantidades aproxima- das de cal e Na,CO, requeridas para remogao da dureza de agua contendo cAlcio e magnésio, sho: 1 — €O, livre 2 — CO, semicombinado (44% da alcalinidade) 3 -— Dureza dos nao carbonatos’ 4 — Magnésio total. As quantidades tedricas de cal e Na,CO, podem ser calculadas partindo- se das reacdes indicadas. 2cacO, +: 2H,0 > > Mgco, + Caco, + H,0 > > FIG. 3 Fotografia da instalagio de Cincinnati, Ohio, mostrando os decantadores mecanizados. (Cortesia de Dorr-Oliver Co.) ALCALIMDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURATS 3 Ensaios de laboratério em pequenos frascos podem ser itels na determina- go das quantidades de reagentes. Por ésse processo pode-se obtér agua com dureza residual de 60 a 80 ppm, sendo possivel chegar até 30 ppm empregando-se reativos em excesso de 30 a 40 ppm. Como resultado désse processo obtém-se um precipitade de carbonato de cAlcio e hidréxido de magnésio, que se elimina por decantacéo. A 4gua decantada contém sempre uma pequena quantidade de CaCO, e Mg(OH), em suspensdo; e além disso ha sempre a tendéncia de produzir mais precipitado, porque o equilibrio das reagdes quimicas sdmente se aleanca muito lentamente. Para evitar que na areia dos filtros se produzam depésitos de carbonato de cdlicio, trata-se a agua com CO, antes da mesma entrar nos filtros. Esta etapa do tratamento se denomina “recarbonatacdo”. Os precipitados de CaCO, e magnésio sio novamente dissolvides, aumentando um pouco a dureza final. Segundo Hoover, uma Agua tratada e carbonatada até o pH 84 e 8,6 nao Produz incrustagées na areia dos filtros. A eliminagdo das matérias coloidais e em suspensdo pode ser feita ao mesmo tempo que a remocdo da dureza, usando-se coagulantes de aluminio ou ferro. Este processo é usado para 0 tratamento de Aguas turvas, contaminadas ou contendo outras impurezas. As vantagens sdo as seguintes: 1 — Aumenta a eficiéncia da clarificagio, melhorando a coagulagao das matérias em suspensdo; 2 -— © precipitado volumoso de CaCO, e Mg(HO). agrega as particulas em suspensio, as bactérias, sedimentando-as rapidamente: 3 — Reducdo apreciavel nos sdlidos dissolvidos; 4 —O uso de excesso de cal tem efelto germicida; 5 — A agua tratada por ésse processo néo contém CO,livre, sendo por- tanto, muito reduzida a sua acdo corrosiva. Desvantagens: 1 — Necessidade de um técnico para contréle da marcha do processo, va- riando as dosagens dos reativos; 2— & econédmico para reduzir a dureza até 80 — 90 ppm, mas nfo para chegar a 40 ppm, devido ao excesso de reativos. © gas carbénico para a recarbonatacio se obtém empregando-se os gases de combustao e utilizando-se como combustivel 0 coque, éleo combustivel, gas, querozene ete... I — Processo dos zeolitos ou permutitas Os zeolitos ou permutitas sio silicatos complexos de sddio ¢ alumipio, que tém a propriedade de trocar o sddio por outros ions metdlicos como o cAlcio e 0 magnésio. Esta propriedade segundo a qual se “permutam” os ions entre si, deu origem a0 nome de “permutitas”. Quando o sédio dos zeolitos foi todo substituido, 0 processo pode se tornar reversivel colocando-se 0 zeolite em cantacto com uma solucio de grande con- centragio de ions de sédio. ™ REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS Em resumo, a reducdo da dureza pelos zeolitos consiste em trocar os ions de cAlcio e magnésio que constituem a dureza de uma Agua, por ions de s6- dio, e apés os zeolitos terem cedido todos os seus ions de sddio & dgua, inverte-se © processo, colocando-os em contacto com uma solucao concentrada de NaCl. A instalagdo para remover a dureza com os zeolitos é bastante semelhan- te a um sistema de filtros rdpidos, com duas variantes que consistem em substituir o leito filtrante de areia por um leito de zeolitos e colocar na parte superior déste um dispositivo para distribuir a solucdo regenéradora de NaCl. Para as pequenas instalagées podem ser usados filtros de pressiio ao passo que os filtros de gravidade s4o preferidos, no caso de grandes instalacdes. Se designarmos pela letra “2” todos os componentes do zeolito, com ex~ cegdéo da base intercambidvel, podemos representar as reacgdes de Temogaéo da dureza da seguinte forma: 1) Na,Z + Ca(HCO,), > CaZ + 2NaHCo, 2) Na,Z + MgSO, > MgZ + Na,SO,. Na regeneracdo dos zeolitos, as reacdes podem ser expressas como segue: 3) Caz + 2NaCl -> Na,Z + CaCl, 4) MeZ + 2NaCl > Na,Z + MgCl,. Tanto o cloreto de calcio como o de magnésio s4o eliminados no tratamento. Com as unidades de zeolitos a dureza pode ser reduzida a 0. Em quasi tédas as instalagées déste género, trata-se sdmente parte da dgua, que em seguida é mis~ turada @ outra porgdo ndo tratada, em proporgées tais a se obter a dureza final desejada. Este processo ¢ recomendado para Aguas limpas, visto que as particulas res- ponsdveis pela turbidez colmatariam rapidamente o material até anular os seus efeitos na remocdo da dureza. As vantagens do tratamento pelos zeolitos sio as seguintes: 1 — Nao exige pessoal permanente; 2 — Nao deixa residuos que devem ser eliminados, embora seja necessdrio evacuar os liquidos da regeneraco; 3 — Podem ser instaladas novas unidades & medida das necessidades; 4 — O funcionamento 6 praticamente automatico; 5 — Pode-se conseguir efluentes com dureza priticamente nula; 6 -- Sendo possivel reduzir a dureza a 0, pode-se obtér o efluente com a dureza desejada, misturando-o com 4gua nao tratada; ‘7 — Alguns zeolitos, especialmente as “green sand” tém também a proprieda~ de de eliminar o ferro e 0 manganés. Os principais inconvenientes sho: 1 — A gua tratada 6 mais agressiva que a agua “in natura”; 2— O processo aumenta ligeiramente o contetdo salino em vez de dimi- nui-lo como no caso do processo da cal-soda; — Necessita que a Agua seja limpa; TIPOS DE ZEOLITOS Ha dois tipos de zeolitos: os naturais e os sintéticos ou artificiais. A escolha do material a ser empregado depende dos seguintes fatéres: 1 — Capacidade de remocao da dureza; 2 — Consumo unitério de sal; 3 — Velocidade de redugdo da dureza; 4 — Consumo de agua nas regeneracées; 5 — Vida do material. ALCALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIS 6 Capacidade de remogdo da dureza Os zeolitos naturais, comumente chamados “areias verdes” (“green sand”), possuem a capacidade remover a dureza entre 64 € 9,2 Kg de dureza em CaCO, por metro cébieo de zeolito, tomando-se para projeto 7.0 Ke/m". A capacidade de remogao dos zeolitos sintéticos varia de 18,4 a 27,5 Keg/m’, adotando-se para calculos 23 Kg/m?. A maior capacidade de remoedo dos zeolitos sintéticos se atribui a sua maior porosidade, pureza e melhor utilizagio da base permutdvel. Consumo unitdrio de sal © consumo unitérlo de sal para regeneragio dos leitos é um dos fatéres mais importantes a considerar, visto ser uma das despésas mais considerfveis no tratamento. Os zeolitos naturais requerem 3,0 a 3,50 Kg de sal por Kg de dureza eliminada, @ og sintéticos de 2,0 a 2,5Kg de sal/Kg de dureza. O consumo teérico de sal seria da ordem de 1,2 Kg. © menor consumo de sal pelos zeolites sintéticos se deve maior eficiéncia, melhor aproveitamento do sal no periodo da regeneracao. Velocidade de remocdo da dureza: Taxa de escoamento A quantidade de 4gua natural que passa na unidade de tempo através da unidade de superficie se denomina “velocidade de abrandamento”. Frequentemente estas unidades trabalham & razio de 18) a 450 m/m? por 24 horas. A maior velocidade corresponde menor tempo de contacto, néo devendo se esquecer que o contacto é de suma importancia na eficiéncia do tratamento, pois as altas velocidades corresponderfio balxos rendimentos. Outro fator importante ¢ a perda de carga. O zeolito natural sendo de menor tamanho e maior péso especifico do que o sintético, tem maior tendén- cia de compactar-se do que o ultimo. Consumo de dgua nas regeneragées A espessura dos leitos de zeolitos geralmente fica compreendida entre 0,80 e 1,80 m. - 4 SP EWTRADA DE AGUA. FIG. 4 Esquema de uma instalagio de zeolites. 6 REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESOOTOS Como a Agua necessdria para regeneragio é fungao direta da superficie, consumindo-se razio de 4,1 m*/m2, com velocidade de 0,0037 a 0,0054m/seg, aproximadamente, resulta que o mesmo volume a tratar em leitos de espes- suras iguais, as unidades com zeolitos sintéticos tm menor superficie; 0 con- sumo de agua de regeneracdo sera, pois, menor no caso de zeolitos sintéticos. Segundo A. S. Behrman, nas unidades com material sintético 0 consumo de Agua ser de 5 a 10% da dgua com dureza reduzida a 0. Vida do material A escolha de um ou outro tipo de material é uma questao econdmico- técnica. Sob o ponto de vista de economia deve-se considerar o custo inicial dos produtos zeoliticos, das instalagdes requeridas, os gastos com sal e Agua para regeneracgdo, bem como as perdas de carga e vida do material empregado. Tratando-se de zeolitos naturais pode-se estimar as perdas anuais de 2 a 3% ao passo que para os sintéticos 5%, aproximadamente. As consideracgées ja feitas referem-se a unidades de corrente descendente semelhantes aos filtros rapidos. Pode-se também projetar unidades de corren- te ascendente, o que vém a exigir estruturas mais dispendiosas e de manejo mais delicado, no que diz respeito a perda de material; estas unidades porém admi- tem maior velocidade de abrandamento do que os valores médios indicados. Duas séo as modalidades de aplicag&éo da salmoura; ela pode ser introduzida pelo sistema de drenos & maneira dos filtros répidos durante a lavagem, ou de cima para baixo através de um sistema de canalizagdes perfuradas. Este iiltimo sistema tem sido preferido pela sua simplicidade e independéncia de comando. A concentracgéo da salmoura usada para regenerac&o dos leitos é de 5 a 10% em NaCl. A solucdo saturada contém de 25 a 26%. INSTALAGOES — DADOS PARA PROJETOS Dimensées usuais das unidades a) De presséo (aco): Diametro 0,75 a 3,50 m. b) De gravidade (concreto): Tais como nos filtros rapidos. A profundidade de material geralmente esté compreendida entre 0,80 e 1,80 m. A altura livre acima da camada de zeolitos deve ser pelo menos igual a 50% da espessura daquela camada. A camada de zeolito repousa sébre uma camada suporte de pedregulho de 0,35 a 0,50 m.: 015 m . 8a 1/4" 0,15 m ---.. 1/4a 1/2” 0,15 m. vo. 2a” Fundo da unidade. Drénos As unidades podem ser feitas com fundo falso ou com um sistema de ca- nalizagées._ (drenos). A Grea dos furos corresponde geralmente a 0,16 — 0,18% da area da uni- dade. Furos de 3/6” cada 15 om satisfazem a essa condicdo. A perda de carga nesse sistema, durante a lavagem com 470 m#/*. dia, corresponde a 2,40 m.c.a. \ ALCALINIDADE E PUREZA DAS AGUAS NATURAIS a Tara de escoamento As unidades so projetadas para funcionar com taxas de escoamento compreendidas entre 180 e 480 m*/m? dia. Os valores mais usuais sio de 240 m®/? dia para as unidades com escoamento de cima pata baixo e 350 m*/m? dia para as outras. FIG. 5 Instalagdo tfpica de eotitos (Conesia da Permotit), Perda de carga maxima Nas unidades de pressdo a perda de carga permitida pode atingir 5 a 8 me- tros. No caso das instalagbes de gravidade as perdas ficam limitadas a carga disponivel. Instalagéo para regeneracdo A instalagio compreende um ou dois silos de sal. Na parte inferior de cada silo existe uma camada suporte de pedregulho, disposta sdbre o fundo de chapa perfurada ou acima de canalizagées perfuradas, com uma granulo- metria dequada: 0,075 Mo... cee ee eee eee ee eee eens Tam. 11/2” O25 Mo eee eee eee 1/4 a 1/2” 0,100 mo... eee eee . V8 a 1/4” Depois de se carregar o silo com sal introduz-se Agua para formar uma solucko saturada. Essa soluco atravessa a camada de pedregulho (sem arrastar os graos de sal) e vai ter a um tanque de solucio com capacidade suficiente para a regeneracéo de uma unidade de zeolito. Admite-se na pratica uma solubilidade média de 25%, correspondente a uma densidade de 1,19. Nessas condigdes cada litro de salmoura saturada con- tém aproximadamente 300 gramas de sal. B REVISTA DO DEPARTAMENTO DE AGUAS E ESGOTOS 350 300 opie Zone ndo corr Zone de ppssivel corposdo 10 HO OP SBJ0/OA Alcalinidade em mg/l de COs C2 FIG. 6 ALCALINIDADE E DUREZA DAS AGUAS NATURAIS » Essa salmoura antes de ser aplicada deve ser diluida até 5 a 10%. © consumo de sal geralmente é admitido entre 2,5 a 3,5 kg de sal por kg de dureza removida. Com base nesse dado caleula-se a quantidade de sal, o volume de solu- cdo saturada e a quantidade de agua para diluir a solugdo até 5%. A regencracio é precedida de uma lavagem da unidade, com 4gua a contra- corrente, feita com o objetivo de livrar o leito ativo de impurezas e substancias extranhas e de tornar o material mais solto. A taxa de aplicacdo de agua a contra-corrente sendo de cérca de 470 m?/m?. dia provoca uma expansao do leito de 30 a 50%. Nas unidades que funcionam normalmente com escoamento de agua de bai- xo para cima pode ser dispensada a lavagem prévia a contra-corrente, aumen- tando-se periédicamente a taxa de escoamento até 470 m*/m? dia. Apés ess lavagem esvazia-se a unidade e se introduz a salmoura pelos proprios drenos da unidade ou por um sistema de canalizagdes perfuradas pre- visto para ésse fim, acima do leito do material. Neste caso a salmoura escoa através do leito de zeolito. ‘Tratando-se de zeolitos naturals a solucéo de sal deve escoar através da unidade, continua e lentamente. No caso de zeolitos sintéticos costuma-se mantér a salmoura no leito do material durante 5 a 15 minutos. Apés a passagem da salmoura a unidade entre novamente em servico, pondo-se fora as primeiras aguas, até que a dureza no efluente seja reduzida a menos de 20 me/litro.

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