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  • Compulsão Alimentar

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    Mylena Ribeiro de Lacerda
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    Compulsão alimentar

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    CONSIDERAGOES PSICANALITICAS SOBRE A COMPULSAO ALIMENTAR Fen al SSshemos que todo sintoma esti inserido em vim tempo, espago © conteato cultural. No mundo contemporineo, © excesso, a rapier, 0 ‘onsuimo eo individualism tém lugar privilegiado Nas palavras de Ana Maria Sigal (2009), tatase de manifestagdes que hoje aparecem ma ‘nea em decorrénca de diversas mudangas historicas que produziram, importantes efits na produc da subjeivdade (ito fala de uma paciente: (Ontem fl mas um dia daguees; com o tempo todo em frente a0 computidor enquanto abalhava esaustvamente, O mundo corporativo ¢ assim e logo eu no vou ser a "loser"! Sai da empresa acabada,bebl todas, fumel a noite tele etve a maior ‘compulsio da minha vida, Com tudo aque via na aia frente, Alesesperadamente, até me empanturare ful dormir triste © me sentido fracasada. Agora eu te pergunto; di pra ser feliz desse selto? © que ela nos diz? A medida, o ritual, a eseotba, 0 tempe mio caer sais no dia a di, “isso 6 coisa de loser” A ibe agora ¢ outa: cater, consti, fazer, veneer. N3o a invesinento sine, nada x eseae, tudo se incorpora, seguindo a liea do consumo e do excesso (que se ranifesta mesiante o uso dos mais vatkados ebjetos: trabalho, sexo, comida, leool, drogas), na busea desenfteada de tamponar os vazios fntermos falta fundamental, marea da condigh humana, INesse contesto, 0 feito manifesto € 0 softimento, com todas as roupagens sintomitias que imadem a nossa clinica sob a forma de emanda, Nao a demanda de reposicionamento subjeto, de artcwlar palavzas, de ecriarosimbelico, masa demanda de se livrar do mal-etar: Nod pra ser feliz dese et” Embora as compulses retratem com tanta propriedade a ligioa de funcionimento da cultura posmoderna, nJo se pode dizer que a ccompulsio alimentarseja um sintoma novo épossivel que sempre tenha ‘esto, Relatos histrieos comprovam, por exemplo, a presenea de comportamentos semelhantes 1m Roma antiga, com deserigio das ‘hamadas “orgs allmentares” nos pales romans No deconer da histria do Ocidente, outos relatos apresentarnm ‘quadros com earacterstics de hipertagia, aptite voraz ¢ ingestio de alimentos em intervalos mito curt, tpios de compulsio alimenta. No fentanto, a tentativa de compreender esses comportamentos & ‘elativamente moderna (BUCARETCHI & WEINBERG, 2009). primera escricio tintin dacompulsioalimentar foi realzada por Stunkard, em, 1959 (BORGES & JORGE, 2000), ‘Acompilso alimenta:tanstomo ou satoma? ‘No othr da psiqulatia compules allmentares regulares caraetesizam tum “transtomo alimentsr", O recente DSBLV (Manval Dingndsticn « Estatsico de Doengas Mentas ~ 5. ed.) modiicon 03 exitéxios iagnésticas do TCAP (Transtorso da Compulsio Alimentar Peri agora, bastando a ocoméncia do episdio 1 (uma) ver por semana no petido de 3 (tres) meses para earactetizaro ranstomo, No que se refere ao quadto clinic, o paciente sente uma necesidade Incontrovel de ingerir grande quantidade de alimentos. ingesto feta As pressas, sem preparo, ritual ou escolha; s6 hi descontele. © pactente tomna-se dependents e eseravo do seu sintoma, envolvida iim processo repaitvoe destrutiv, aparentemente sem soluao “Ba estou aqui buscando trtamento, mas siaersiente, seredito que possa mudar. Ha vinte sno vivo esse dilema com 3 comida e, até hoje, apesar das infmerastentativas, nada mudou.” 2 justamente esse incontrolivel, essa auséncia de signfiacio, esse enigma, que jutifica a busca do trabalho em anise. O inconsclente eseapa a toda tentativa de racionalizag, da midanga eomportamental Aesprovida de signifcagaoe da medivalizagio do sinton assim que, a todo momento, nos deparamos com ffocass08 nas tentativas de inibir e represar o sintoma sem o tratamento de sua causa fundamental “Bu tomava remédio, flava sem fome, mas corti para o shopping... Ae invés de comer ew fazin compres, gastava muito além do que eu podia e volta culpada, eta utto tipo de sofrimento..” “Depois que eu fiz a cirurgin bavitrica passei a vomitar compulsivamente. Aquees picos de éxaseealsiopassaram a ser ‘o meu novo eto de extrevasa. (5 casos de insucesso nas medicagdes para emagretere “eontet" as compulsées, as graves consequéncias psicol6gicas da cirurgia baritrica ‘al indicada ou relizada sem a preyaracio psieolégica do pacient,estio Dresentes no cotidiano da caltura e da nossa elinia, surpreendendo queles que buscam uma respesta aquém da subjetvacio, Acompulsio allmentar hz da pseandise néstico de “Wranstomo" pode criar um viés negativo de categorizgio, no sentido de vitimizar 0 sujelto que se vé retratado em ‘uma eassifieagio, mas também pode trazer ganhos seeundévios para o paciente, E nesses termos que ser “doente” ot "vitina de nn transtorno” & ‘uma maneira usual de jusiicar o mal-star sem necessidade de fmplieagio, de assumir a responsablidade pelo sofrimenta que o same, Pode ser mals cOmodo acreditar que fol acometido por una doenga, como algo externo de que se ¢ vitima, do que ser chamado para entender 0 significado subjacente de um sintoms,sendo convocado a responsabilizar- se por ele. Fazer andlise¢ trabalhosot “TE QUE EXISTIR UA REMEDIO PARA AMINHLADOENCA” 6 justamente numa cultura que hostilza a falta e iealizaa busca de solugdes migicas ¢ imediatas para qualquer tio de malestar, que a redicalizagao do sintoma sem 0 eomprometimento do paciente € 0 acalento das “mentes desesperadas"; mas, como toda migica efémera por sua propria natureza, o conto de fadas termina, e, na via veal, o final 6 Infiz: medicamentos que no coutém o excesso pulsional, dseursos prontos que nao se sustentam, angistia que invade, Essa é a azo de txistr da psicondlise. A voraciade alimentar fala em nome de umn seta aque no consegue se fazer ouvir, que nfo tem ieia do que se passa no ‘eampo da subjetividade, ¢justamente por Iso, mantém o sintoma vivo & vigoros. Sobre as contribulgSespsleanaltas. rend, no decorter de sua obra, nfo abardou espeiieamente a compulsio aimentar, mas deu substrato metapsieolleo para fituras & importantes constragées tericas, do onde retiramos elementos de base para a consiragio dena psteaniise da eompulsio alimenta, Karl Abraham, se fel seguir, desenvolven um estado sobre as fases pré-genitis do desenvolvimento, descrevendo o que chamou de Em 1924, Abraham silentou a iportanela da relago mie-bebé com fénfase na funcio alimentar, confirmada mais tarde por autores contemporaneos (© periodo de sucyio pode ser uma époea extremamente

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