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‘A crescente complexidade do mundo contemporaneo cada vez mais exige do legislador um incremento de praticidade na elabo- reer Senna reac ae ren cae oa fundamento desta praticidade no mundo juridico e investiga formas de controle do seu uso na elaboracao, aplicacao ¢ inter- Renee ee eT Mee eee) peed gistrados, a obra val além de simples exposicio teériea de pre- Pere eee Ce RC ae deere eee ection ISBN 978-5-0040-56-5 Yee a Wl Beseetsscast Py | [oe PRATICIDADE NO DIREITO TRIBUTARIO FUNDAMENTO E CONTROLE J 9 Lumen Juris wocurmenjuis.com.br Joapde ne Joao Led Sa Ans cane Ear Lie Artin Grn nor ono Pt ‘orden M Pado ae erating Coste re Vil Mario Pomp. ug dona ante Moa a Rosa ‘sve Cease uss Gatos ltr na ae Oe Ca Cssve Nonna ce Avia Lule Hein Sarma Bubs Soi Sows Casta tae Steal ce orton Manos ssi Peche eine oon Cala sea Eas Pra Mares Posse La Waredo ces Uri sean Cas Fears canine aga de Sos versa Cara Goes Jor Danie Megha Herenes ora iri Rens Staten ato srs reece eo ago ap Canoxs ‘ini Cos Su eran Garcia no ee ina fin Pet od bere Figiusoneno Fito soto Tole Mendes e Aiea robert. Ve Ferere ai ares et Erie Mea ‘Si oar Racha reve raion Chea Jose ase ety Veroest etx Garare Demon Fredarca Pe neh Leomfen 6mm Suze Sacha ‘ny Goer Cansei bere Marcos June ie Sou mers) Conta Cant Calo de ea Lima Franzen dA Maes Feard Mora Gomes Fre oreo Mes de Aether Nero ‘on ats Maris Somes tr 2 eto Gis Souza ra Si: i ge nin nas Gels Olga) fv Poet pas = 88 — Sagi find Soe "ma 705 ce 2007-000 | tea are fon amg vw. 21380040042) 320-2008 Sma att (Dine) (isto ara bin onoropots ~ SC Tea 986 2053 ‘Sto Pao Osbadr ua Sovea na. 75~ ep ovisea20| ar ua = Sat Paio— SF jas 1) SS8-0240 DANIEL ALVES TEIXEIRA PRATICIDADE NO DIREITO TRIBUTARIO FUNDAMENTO E CONTROLE Eprrora Lumen Juris Rio DE JANEIRO. 2016 Copyright © 2016 by Daniel Alves Teixeira Categoria: Diteito Financeiro e Tributétio Pronuicao Boronia Livraria e Editora Lumen Juris Lida. Diagramagio: Bianca Callado ALIVRARIA EEDITORA LUMEN JURIS LTDA. no se responsabiliza pelas opiniges ‘emitidas nesta obra por seu Autor. proba a reprodugio total ou parcial, por qualquer meio ou process inclusive quanto 2s caracterisicas srificas efou editoriais. A violagdo de direitos autorais constitu crime (Cédigo Penal, art. 184 e §§,e Lei n® 6.895, de 17/12/1980), sujeitando-se a busca e apreensio e indenizagSes diversas (Let n® 9610/98). Todos os direitos desta edigfo reservados Livraria e Editora Lumen Juris Ltda Impresso no Brasil Prirced in Brazil CIP-BRASIL. CATALOGAGAO-NA-FONTE “Teixeira, Daniel Alves Praticidade no direito ibutério: Fundamento ¢ controle, | Daniel Alves Teixeita.- 1. ed.» Rio de Janeino : Lumen Juris, 2016. 216 p.; 21 em. Bitografia: p. 195-206. ISBN; 978.85-8440-560.5 1. Diteito Financelro e Tibutério. 2, Fundamento ~ Pratcida de Controle. I Titulo. cpp - 34139 Aos meus pais, Margarida e Octévie, pelo amor e dedicacao desde sempre. A minha esposa, Mariana, Sumario Prefacio. 1 1 Introdugao 5 Primeira Parte... 9 Capitulo 1. Fundamentos da Praticidade.. n 1. Consideracées Iniciais. ul 2. Contexto Contemporanen: ama ética do Dieito sob a luz da Sociedade Moderna... 2B 3.0 que € proticidade?... 7 4. A praticidade ¢ o Direito.. 19 4.1, Perspectiva Teérica... a 42. Da Teoria Trdimensional do Direto de Miguel Reale a) Valor... b) Fato. ©) Norma... € Da dialeticidade entre Fato, Valor e Norma. 5. A praticidade e o direito tributario. 5.1. Referenciais Fundamentais... 5.2. Manifestagoes de Praticidade 5.3, Praticidade e simplificagio... 6. Conceito Capitulo 2. A Relagio entre Eficiéncia e Justica Fiscal... 39 1. Introdugio. z . 2. Justiga 2.1. Consideragbes sobre a keia de Justiga.. 2.1.1. Sincese. as nnnass A 2.2. Projegdes Normativas da Justiga Fiscal... 49 2.3. A opgao da CREBI88 ...ssssesesscsesseee = Sh 3. Eficiéncia — 52 4. Relagdo entre eficgnciae Justigas noo . 53 5. Simplificagao dos sistemas tributaris ea praticidade.... 57 Capftulo 3. Praticabilidade, Igualdade e Capacidade Contributiva... I. Igualdade e Capacidade Contributiva he 2. Contflitos em um contexto de praticabilidade uu 80 2.1. Igualdade Geral e Tgualdade Particular. 81 2.1.1 Igualdade Particular e a capacidade contributiva : » 82 212. Tgualdade Geral e Padronizacéo.. 85 2.1.2.1 Pressupostos. 92 a) Necessidade. vn b) Generalidade 83 ©) Compatibilidade. 95 4d) Neutralidade.... 95 ©) Nio-excessividade .. 7 #) Ajustabilidade 98 2.2. Conflitos decorrentes da capacidade contributiva.... LOL 2.2.1. Conflitos Internos.. ; sevnneee 103 2.2.2. Conflitos externos.. sees 10 2.2.3. Conflitos Mistos; 107 3. Limites & praticabilidade. +108 Segunda Parte... Capitulo 4. Instrumentos de aleance da Praticidade 119 1. Presungoes.. ve 19 2. Fieg 124 3. Conceitos Juridicos Indererminados. eaten 4, Privatizagao da Gestao Tributéria so 128 5. Meios Alternativos de Solugao de Conflitos BI Capitulo 5. Estudo de Casos . 135 1. Regimes Tributétios Simplificados. 135 1. SIMPLES... semen 135; 12. Regime Tributério Simplificado no Direito Comparado. 142 1.3. Consideragées. sone 146, 2. Substtuigio Trbutdria Progressiva ou “para frente”... 148 3. Lucto Presumido. = 157 A, Terps adbee Renda de Pec Mie IRF on UE 5, Pregos de Transferencia ee 172 1 185 Conelusies Referencias Bibliogrdficas ...uncnnneennnnnnnnennses LIS Capitulo 3 Praticabilidade, Igualdade e Capacidade Contributiva 1. Igualdade e Capacidade Contributiva principio da igualdade ostenta o postulado da isonomia. “Trata-se de uma norma fundamental que irradia grande importan- cia por todo o ordenamento juridico, influindo decisivamente em toda a produgao de suas normas. Conforme a ligdo de Klaus Tipke, © Direito justo pressupse principios (regras,crtérios, padres) e sua necessidade é flagrante quando diteitos, obrigagbes, cargas ereivin- dlicagdes devem ser repartidos entre os membros de uma comunida- de, de forma que “reparticao sem princiias éreparticao arbtréria’ Diz-se, entio, que a igualdade nfo pode apresentar apenas seu aspecto formal, perante a lei, obrigando apenas os due deve cumpricla, mas, também seu aspecto material, que consiste em obrigar também o legislador*, impondo a este o dever de legislar de forma que a lei possa proporcionar igualdade na sua aplicago, abstendo-se de fazer discriminagdes ou comparacdes arbitriias, desarrazoadas, baseadas em crtérios subjetivos. Noutto giro, dian- 132 TIPKE, Klaus. YAMASHITA, Douglas, Op cit, nota 15,019. 885 Cebo AntinioBancrs de Mlla,em obra deticata a conte da guaklade,severa sae: "O presto mag dda, co io sido asia, & noma oad ger tomo afiador di el quer ao piri leita. Devens, no x pnt a nora ‘esas rvla andre. as, «fra eg dea asta deve de densa ‘raament ude de esas” BANDEIRA DE MELLO, Celio Anni © Como Surin do Princ dua a. Sto Pauls MalbeiosEatores, 204, 9 69 Daniel Alves Teixeira te de um plano fitico que apresente desigualdade, incumbe-The ‘© dever de tratamento diferenciado com 0 objetivo de restaurar tu proporcionar 2 sonoma. E necessirio pontuar, no entant, {que nem todos entendem por esta diferenciagao, conforme adverte Casalta Nabais, seja porque alguns atribuem a estas categorias um Ambito diferente do mencionado, seja porque concebem esta dis- tingZo em termos completamente diferentes, citando eritérios de diferenciagéo como exterior ou acidental eintrinseco ou essencil- No ideal da revolugao liberal, houve estreita identificagao da ‘gualdade geral com a igualdade fiscal, motivada pela sensivel re- ieigdo A sobrecarga de impostos sobre a classe burguesa diante da fostentagao de privilégios ao clero ¢ & nobreza. Neste periodo, a ideia de igualdade ganha forca e passa a ser projetada na tributa- ‘jo, onde alguns dos aspectos mais televantes aparecem como a necessidade de generalidade ¢ universalidade. A primeira assegura {que todos os cidadios esto sujeitos ao pagamento de tributos sem distingaio de classes. A segunda supde que quando todas estive- rem em condigies de tributabilidade imponibilidade devem ser dlestinatérios dos tributos, de forma que ninguém seja excluido do lever e das manifestagdes de riqueza escolhidas como base da tri- butagdo", assegurado o seu caréter nao diseriminatério. ‘Emm estudo sobre a iguakdade, Humberto Avila aponta a diferen- ciagdo consagrada no bindmio igualdade na lie iguadade perce a Tei, de forma que a primeita consagraria justamente a ideia de justiga formal, onde ali seria aplicada igualmente para todos. Noutro passo, a igualdade peut a lei comporta @ nogio de justiga material, obr- gando o legisldor a nao propor tratamento desigual, proibigio esta formalizada pelos direitos fundamentais salvaguardados na Constitui- sata. © Dever Fundamantl de Pager Inne, Lisbon: Alesina, 2008, p.435 ete, 85 Ihiden, 70 Praticidade no Direito Tributério ‘Go em tipico cariter contramajoritério. O que bem disse o autor € ue no basta a aplicagao uniforme da lei para a garantia da igualda- de, mas ¢ preciso que esta seja isondmica em seu conteto, de forma «que as diferenciagSes introduzidas seam justficadas por medidas de ‘comparagio atreladas a finalidades constitucionais™ Um outro aspecto da igualdade € o de que todos devem ser tributados com base no mesmo eritéro, de forma que seja aplicével a todos os destinatérios do dever de pagar tributos. Neste sentido, Casalta Nabais assinala que nao hé atualmente divergéncia de que deve ser o da capacidade contributiva. Assim, podemos caracte- rizar a capacidade contributiva como sendo uma decorréncia da igualdade, um critério utilizado para a sua aplicagio na tributa- cio". A formagao de tal critério nfo se esvai no simples reflexo da igualdade na tributagao, de forma que a sua composigiio demanda a considerago de outros principios constitucionais em busca de racionalidade e que se aproxime de um consenso razodvel de justi ca que possa estabelecer pardmetros que inibam atbitrariedades e sacrificios & propria dignidade do homem. Neste passo, € possivel coneluir pela existéncia de um fun- damento juriclico-constitucional para a capacidade conéributiva, independentemente da sua previsio expressa na Carta Maior, no se tratando apenas de um ideal ou postulado moral ou ético. E «este fundamento obriga todos os poderes ® sua observincia, tanto © Legislativo ao elaborar leis e crtérios de aplicagio, tanto 0 Exe- cutivo ao aplicé-las e regulamenté-las com estrita abservancia dos 86 AVILA, Humbert, Op ct, nota, p 767. 87 CK TIPKE, Klous, Principio da lualdade ew Idee de Sistema no Dito Tabata li: Brandio Machado (coord), Estudos em Homenagem a Prof. Ruy Bathoss "Nogusta. io Paulo: Saraiva, 1984, p. 57; RIBEIRO, Ricardo Lod-O Princo da CCapacidede Contribute. I: Temas de Dirsto Consttucional Tribus. Reo de Janet: Lumen Juris, 2009, P 212; NABAIS, José Casta. © Dever Fulementa de Pagar Inpotos, Cobra: Alena, 2009. 444 7 Daniel Alves Teixeira parametros que o resultado da aplicagao da norma deve respeitar fe, nos mesmo passo, ao Judiciério no controle de constitucionali- dade dos atos que repercutam efeitos no mundo juridico, condicio nados pelo atendimento a0 mencionado principio. “Trata-se, ento, de um postulado decorrente da iguakdade e que, portanto, carrega a plenitude de eficécia inerente a este © com aplicabilidade imediata™, de forma que sua restrigdo sob 0 :médico fundamento de necessidade de regulamentagio nao leva a ‘outra consequéncia sendo a da inconstitucionalidade. Cuida-se de pressupor, ainda, que, diante de uma concep- io nao somente formal, mas também material de igualdade a ser refletida no principio da capacidade contributiva, e da superagao da ideia de lei como vontade geral dando ao parlamento a supre- macia da “vontade do povo” ante o advento do constitucionalis- mo democritico que elevou @ posigio dos direitos fundamentals através da forca normativa da constituigdo, a concepgo contem- pordnea do referido principio se descola da visto liberal clissica € do positivismo formalista em razio da juridicidade e da sua carga axiolégica®. Assim, da mesma forma se distancia do positivismo socioligico que em meados do séc. XX considerou a capacidade contributiva como instrumento de interpretagdo na busca de um interesse considerado maior: a atrecadagio. Hodiernamente, a hermenéutica juridica mais se aproxima 3 ideia de conciliagso de valores, com a aproximacio dos postulados da seguranca jurtdica e justiga. A Carta Constitucional de 1988 con- substanciou uma série substancial de regras e prineipios que devern set sopesados diante da realidade de forma a se perseguir um razo- ‘SB Nese wneido; COSTA, Regina Helena Prnfpio da Capucade Conenburna, Hed ‘So Paul, Malhios Edo, 2003, 5051 88 CE TEIXEIRA, Daniel, Consiucinano Denccrtcn¢a Tums da Lepldade pea hndiidae no Dirt Brose. Revie de FinansosPablicas,Tebaagho © Desenvolvimento, REPTD v2, m2, 2014 2 Praticidadle no Direito Tribusério ‘vel equilibrio entre os referidos postulados. Outra no pode ser a interpretagéo do principio da capacidade contributiva: o reflexo da igualdade no direito tributério e a sua conciliagao com os principios tributérios e demais postulados constitucionais relevantes & espécie. Nesta linha, perfilhamos da definicfo orientada por Ricardo Lobo Torres, que afirma que o conceito de capacidade contribu- tiva s6 pode ser obtido com a “intermediagio dos principios legiti- maddores da iguldade, ponderagio raoablidade, com a veflexdo sobre 0 fundamento étco juridico e com a consideragdo das limita es constitucionais ao poder de tributar e das possibilidades fticas dda mensuragio da riqueza de cada qual, tudo o que leva & procera de wma saida procedimentalista e discursiva™®, De fato, considerando a carga axiol6gica a ser sopesada para a sua identificaga: int rata, io ¢ posse onsgnar un cone dasoa coxa dda capacidade contributiva. Por isso, alguns autores reduzem a sua importncia ou aplicagao, exortando a indeterminabilidade como Sbice ao relevo de tal principio, justificando-o como “um concei- to de puro poder fético’, na esteira do que afirma W. Leisner" ‘Também rejeitam o princfpio da capacidade contributiva, mas por utras razBes como a sua impraticabilidade ou auséncia de ope- racionalidade juridica pritica em razio da falta de coneretude di critério, Bodenheim, Brinkman e Anint, : Ocorre que a utilizagio de conceitos indetermin: Direito com o objetivo de alcangar e regular a rice eosae nifica novidade. Uma tal concepgio que almeje fechamento de conceitos como critério de adequagio s6 pode desaguar em e5- tagnagio juridica diante da cada vez mais complexa e dini ica 59” TORRES, Rata Ope, nt 5292 91 WLSISNER Yonder ind Ll Legs - de cle No NABAIS, op.cie,, nota 84, n.456. eae 92 Apuel NABAIS, op ct, nota 84, p. 461 B Daniel Alves Teixeira realidade, imobilizando o desenvolvimento do Direito. A rejeiga0 de um critétio induz a uma tributagao cada vez mais assimétrica € ddesproporcional. E, em realidade, o caminho mais curto e imedia~ to para a inconstitucionalidade. CO fato € que o prinefpio da capacidade contributiva é sempre ponderado com a legalidade. Esta tensio é necesséria para o bom cquilibrio entre seguranca e justiga. Qualquer exagero para um ddos polos culmina no esvaziamento do oposto. Este €0 desafio do Direito diante de uma sociedacle marcada pelo pluralismo e dina- ‘mismo: entender e atender esta complexidade. Quer nos parecer que a tejeigao em juridicizar 0 complexo mais se alinha com a tética de evité-o. E isto significa omitir 0 Diteito. De toda sorte, a auséncia de Direito culmina na desigualdade. Casalta Nabais cita a mxima desenvolvida na doutrina e jurisprudéncia constitucio- nal alemf: “néo hé igualdade na ilegalidade, ou melhor, no ndo- «direito (keine Gleichheit in Unrecht)"®. Asseveramos, ainda, que a capacidade contributiva pode apresentar duas acepgses distintas 1 objetiva e a subjetiva". A primeira consiste na identificagao de tum fato que importe em signo de manifestagio de riqueza, deno- tando manifestagao objetiva de capacidade econdmica. Podemos identificar a renda e 0 patriménio como fonte dos variados signos de tiqueza a serem eletos pela norma, Em sua acepgao subjetiva, investiga-se a capacidade de contribuir diante da capacidade eco- némica que ostenta 0 sujeito considerado. "Assim, a verficacio da capacidade contributiva em suas acep- Bes demanda a identificagio de uma manifestagio de riquesa,requi- sito necessério para uma tributagio informada pelos critérios cons- titucionais. Além disto, deve ser perquirida a disponibilidade dessa riqueza verificada objetivamente diante da necessidade cle manuten- 95 Abide, pA. 94 CF RIBEIRO, Ricardo Lai, p-cit, nota 48, p. 27-3. 74 Praticidade no Direito Tributério so das necesiades bisicas do sueito considerado, em stengo a0 minimo existencial, Isto porque, a capacidade contributiva impede que 0 exercicio do poxler de tributar venha a macular a dignidade hhumana do ser humano. Noutto giro, o poder de tributar tampouco pode detrocar outros direitos fundamentais, deforma 2, por exemnpo, aniquilar o dieito de propriedade, ainda que paulatinamente, Considerando, entéo, que a distribuigio da carga tributstia deve ser pautada pela igualdade e que o critério primeiro para 0 alcance dessa igualdade ¢ o da tributagéo conforme a capacidade contributiva, temos que ninguém pode ser tributado sem que os tente a referida capacidade. Também podemos concluir que todos que possufrem a mesma capacidade sero tributaclos sob o mesmo aspecto quantitativo, de forma horizontal, e os que dispuserem de capacidade contributiva pagario tributos distintamente, de for- ma vertical. Sendo assim, como afirma Casalta Nabais, 0 teste de inconstitucionalidade de uma norma tributria com espeque no principio da igualdade, com base na capacidade contributiva justamente porque eabe a0 legisladorestabelecer a sua medida de proporcao, no ocorrerd sob a ética do hinémio norma legala testar x principio constitucional da capacidade contributiva, mas, sim, sob a Gxica do trindmio normal legal que estabelece diferenciagdo ou equi- paragdo x norma que contém a concretizacdo especifica da capacidade contributiva x principio constitucional da capacidade contributiva”: Neste ponto, foi proposto um confronto entre a norma cons- titucional em abstrato e a norma legal que estabelece diferencia- io ou equiparagio. Assim, para efeito de investigagao da correta interpretagao da norma perante o prinefpio da igualdade e perante © principio da capacidade contributiva, podemos nos perguntar: que individuos podem ser considerados iguais? E quais podem ser considerados desiguais? 95 NABAIS, op it, nota 84, p44, 5 Daniel Alves Teixeira Conforme acentua Celso Antonio Bandeira de Mello, as pes- soas passem diferengas Sbvias e que & priprio da lei dispensar tratamentos desiguais, de forma que a norma diserimina situagdes conforme a compreenséo de que umas e outras pessoas si calhi- das por regimes diferentes, tal como os direitos e deveres dos maio- res de idade em relagio aos menores ou como, por exemplo, 20s advogados se deferem certos direitos e encargos distintos daqueles aplicaveis aos engenheitos ou médicos, em razfo da diferenga pro- pria do exereicio de cada profissio™ Considerando estes aspectos da realidade, podemos afirmar que inexiste uma determinagao a priori sobre iguais ¢ desiguais. A consicderago da observncia da norma legal & norma fundamental da isonomia dever4, entao, observar se a discriminagao estabele- cida pela lei resiste, ou no, a critérios de igualdade, verificada na equiparagio ou diferenciaglo assinalada pela norma. Isto vai exigit a tomada de um referencial ou critério de comparagio. Na esteira das ligdes de Humberto Avila, a igualdade € uma relagio entre dois ou mais sujeitos em razio de um critério que serve a ‘uma finalidade”, de forma que os sujeitos podem ser iguais quan- do utilizada determinada medida e desiguais quando utilizada ou- tra, Assim, a anélise do tratamento igualitério dependeré de uma adequaco dos critérios de comparagio & finalidade pretendida e também aos demais valores juridicos. A comparagio, correspon- déncia e proporgao inspira o que Andrei Pitten Veloso denomina de justica relacional, que expressa um contetido parcial da nogio geral de justiga, inconfundivel com a nogao de justica absoluta, Isto porque a igualdade s6 pode ser concretizada & luz da dimenséo da justica referente ao especifico tratamento entre os cidadiios, em uma anélise mais adstrita 4 comparagdo entre pessoas, j4 que na 96 BANDEIRA DE MELLO, op it 0083, etsey 97 AVILA, Humberto, Op. cit, nota 61, p. 40. 76 Praticidade no Direito Tributério justiga geral outros elementos sio considerados, como por exemplo a seguranga juridica que em determinado momento pode conflitar com a propria ideia de igualdade”, Para efeito de identificagao e reconhecimento das diferen- ciagées que mio podem ser feitas sem quebra da isonomia, Celso Anténio prope a anzlise de trés questées: 1) do elemento tomado como fator de desigualagio; 2) da correlagao logica abstrata exis- tente entre ofator erigido em critério de discrfmen e a disparidade estabelecida no tratamento juridico diversificado; 3) da consonfin- cia desta correlagao légica com os interesses absorvidos no sistema constitucional e destarte juridicizados®. Procura, entao, uma investigag’o do que é adotado como cri- tério disctiminatério e, por conseguinte, perquirir se existe justi- ficativa racional e fundamento l6gico em tal critério. Noutro giro, insta investigar a adequago do tratamento juridico oferecido em vista da desigualdade assinalada. Por fim, cumpre averiguar se 0 resultado concteto da norma se coaduna com os demais preceitos constitucionais existentes. Feita esta andlise, o tenomado autor prope a ocorréncia de quatro elementos para que um diserimen legal sejaaceitavel diane da isonomia: a) que a desequiparacéo néo atinja de modo atual e absoluto um 86 individuo; b) que as situagées ou pessoas desequi- paradas pela norma possuam distingdes efetivas, ou seja, tragos préprios diferenciados;c) que exista, em abstrato, uma correlagio logica entre as diferencas existentes e a diferenciacio refletida no regime juridico, estabelecida pela norma; d) que em uma avaliagéo concreta, a diferenciagdo seja pertinente com os interesses cons- 98 VELOSO, Op. ce, nota 45, 7.49. 99 BANDEIRA DE MELLO, Op. cit, nota 83, p. 2. Daniel Alves Teixeira titucionalmente protegidos e tal tratamento juridico seja valioso para o bem piiblico!™. “Analisando os elementos expostos para fins de compatibili- dade de uma diferenciagdo ou discrimen realizado pelo legislador com o prinefpio da isonomia, podemos identificar logo no primei- ro item uma correlagdo com as concepgoes de justiga apresentadas no capitulo anterior. Quando se opta pela ideia de que o Ons da desequiparagio no possa recatr sobre apenas um indiviluo, rejeita-se a concepgao utiltarsta de justiga que almeja o bein co- mum maximizado com o resultado geral positive. Coneordamos ‘com o elemento langado pelo administrativista e consideramos que a CRFB/B8 nao admite uma ideia de sacificio individual, j& Gquealém de garantida a igualdade entre todos tanto na lel quanto perante a lei, também sf0 assegurados os direitos inerentes 2 Ii berdade individual, que restaria maculada diante de um sacriffcio jndividualizado. Cabe destacar que a anotacio feita acerca da in- comipatbilidade com a concepgio de justiga uilitarista encontrs Amparo no Ambito filoscfco, importando mais salientar a posigo scotada na Constituigao, j4 que, como assevera Andrei Pitten Veloso, o fundamento da concretizagao do prinefpio da igualdade ndo sfo as teorias da justiga, mas, sim, os valores constitucionais, tendo tais teorias a importdincia de contribuir para a sistematiza- ao e compreensio de tas valores. Com iso, se quer dizer que a ompreensio da ideia de justiga deve permeat o debate filos6fico nas principalmente compreender a fundamentagio constitucio- nal que embasa a ideia de igualdade. Desta forma, repisamos a concepsio de que o sacrificio individual em nome do grupo niio encontra respaldo diante dos dircitos e garantias individuais. 00 them, pt [01 VELLOSO, Op. cl, nota 46,49. 78 Praticidade no Direito Tributério Outro ponto que merece destaque € a necessidade de conca- tenar os intereses avaliados com a finalidade da desigualacao e os demais interesses constitucionalmente protegidos, 0 que demanda um acurado desenvolvimento de angumentagao pautada por razoabi- lidade. Considerando os intimeros valores albergados centro de uma sociedade multicultural regrada por um constitucionalismo democré- sco, o uso da razonbilidade se mostra como importante mecanismo dle justificacio de decisSes e maximizagio dos intereses envolvides J para Humberto Avila, a completude da igualdade prescri- tiva deve ocorrer com os seguintes elementos: sujeitos, critério ou medida de comparagéo, elemento indicativo de medida de com- paracio e, por fim, finalidade™, de forma que a questo central reside em saber como escolher as medidas de comparagio dentre as existentes ea justficar a sua relagiio coma finalidade dentro de padrGes de razoabilidade objetivamente verificéves. No émbito do diteto tributério, a grande questio que se apre- senta em relagio & igualdade é justamente em relago a0 embate filosofico entre generalisagio ¢ individualizagao. As linhas gerais deste embate jé foram alinhavadas no capitulo anterior quando bbuscamos uma abordagem entre a ideia de justiga e eficiéneia, 0 que acaba justamente por refletir essa ideia de conflito entre os bjetivos da norma e a necessidade de respeito 3s garantias e di- reitos fundamentais. E que a busca pelo aleance dos objetivos da lei tributéria diante dos obstéculos de complexidade da realidade vem adotando como solucéo a adogio cada vez maior de padrbes fiscais que otimizem a aplicagio generalizada da lei, 0 que con- sequentemente implica em desconsiderar as particularidades de todos os contribuintes. 102 AVILA, Humbert. Op it, nota 6, p 2 Daniel Alves Teixeira 2. Conflitos em um contexto de praticabilidade nlados fundamentais da iguallade e eapactdade con- ae eet constituem pilares de observaincia obrigatéria pelo legslador ia elaboragio da norma tributéria. No entanto, ou tos elementos também de ordem consttucional devem set cena: rads na elaboracfo, principalmente quando se intenta uma efetiva reflexao de seus efeitos na realdade. Ideais que também apresentarm fandamental importincia como a seguranga juridica, por exemplo, eve conftar com a perspectiva iad de iguldade, & aren dda ideia de justia vai depender em muitos casos dos postulados valores em concurtso no momento Tefletido pela realdacle. Como jt “iscemos, devido a sta natureza cambiante,o decuso do tempo pode alterar o calibre da importdncia dos valores em jogo. Nada obstante, a apreensho de tas intereses no momento de elaboragso da norma deve necessariamente considerar a sua importncia naquele tempo. ‘Nos dias atunis, © que podemos observar é um crescente ‘aumento de complexidade da realidade. No direito tributsrio, as vvariadas formas de manifestaglo de riqueza demandam do legis- Iador 0 desafo de produce normas eapazes de identifica eis a nifestagbes em respeito 2 capacidade contribuiva © mantendo 8 generaldade e universalidade, distribuir igualmente o encargo da ibutagio entre os cidaddos. ct erecta bios os eet aiden de ise diferentemente consideradas: a igual distribuigao do anus ae rio parao aleance de um bem comum, objetivamente comes _ que resulta representacla pela chamada justiga geal e 2 necessidas de respeitoe garantia aos dies € bela svkis com a garantia de observancia da capacidade contributiva subjetiva, resentada pela justia individual a "A tnpestoal deste debate para o estudlo da praticidade da Jei tributéria € justamente em decorréncia do fato de que para © 80 Praticidade no Direito Tributirio alcance dos objetivos econdmicos da tributagéo, o legislador tem langado mao de técnicas para a simplificagéo da norma de inci- déncia, com a adogio de padres fiscais como pauta de valores, tabelas ou a recorténcia a presungées de ocorréncia e quantidade cde manifestagdes de riqueza. Neste passo, para efeito de alcance da justiga geral para uma equitativa distribuigio do encargo tribu- tio, resta necessirio investiger em que medida a simplificagao da norma tributéria pode macular os direitos e garantias funddamen- tais, mister a capacidade contributiva subjetiva, de forma que seja possivel investigar os limites impostos ao uso da praticidade da norma sem abrir mio do arcabougo de observancia fundamental garantido pela Constituigao. 2.1. Igualdade Geral e Igualdade Particular © bindmio apresentado neste t6pico reflete um dos pontos centrais sobre as questdes que surgem quando se debate 0 tema da praticidade no Direito e, em conformidade com o presente es- tudo, no direito tributério. Isto se di justamente pela esséncia da lei, E que conforme expusemos no capitulo anterior pertiriente & perspectiva tedrica, 0 Direito e a produgao legislativa demandam realizablidade quando a norma € produzida. Do contrétio, uma lei abstrata, descontextualizada do substrato fitico-axiolégico, se dlesconecta da realidade e se toma estéril. Explicamos: ao legsla- dor nfo é dada a capacidade material de prever todas as situagdes ‘com suas especificidades para a aplicagio da norma. Neste passo, deve se preocupar em colher as particularidades médias da socie- dade e, por impossibilidade, desconsiderar outras mais especificas. Conforme assinala José Souto Maior Borges, a lei néo con- segue regular todas as condutas humanas, de forma que a sua ca- racterfstica de generalidade se apresenta como demonstragio de sgtandeza e a0 mesmo tempo de miséria, jf que a generalidade nao 81 Daniel Alves Teixeira ‘excetuada culmina em um sacrificio de justiga’®. E com estas con- “Ses que parece claro afirmar a existéncia de seeter srl qe apo ila s6 conse com- portar uma gama limitada de diferengas € particularidades que se Tefletem no que podemos chamar de padrio medio, € a existéncia de uma igualdade particular, forte no nosso sistema jurfdieo em que contemplados os direitos e garantias individu. Desta forma, a questo ora posta é saber quais os limites pos- siveis para a generalizagao ou, sob outra ética, até ed Cy poste contemplar a guaade particular com acservincia das particularidades individuais diante das Timitagoes materias ¢ da necessidade da realizabilidade do Direit. é No direito tribucério, essa questdo é refletida nas discusses acerca da eficiéncia e tributagéo, a aplicagio de padronizagtes le~ gis € a utilidade e validade dos critérios de comparagio entre contribuintes, por exemplo. Para melhor situar essa questo, passemos a uma anélise da ‘6tica de igualdade particular e geral: fe uma igualdade 2ILL. Iqualdade Particular e a capacidade contributiva ‘A Constituigio da Repiblica de 1988 atribuiu como um dos clementos fundamentais da tributagd0 0 principio da cxpacidade contributiva, estatuindo em seu art. 145, pardgrafo primeiro, o de- Verde sua observncia®, Cumpre reafirmar que tal principio pode ter extratdo da prdpria idefa de igualdade, pelo que a sua construcso JO BORGES, Joxé Souto Major. A tsonont wibutdria na Consiga de 1988. Lv Revie ge Drei Tibet 64 (VIL Congreso Brasieco de Direito Tbursio realizado em 1 de setembro de 1994)- So Paul: Malheitos Editors oe ero eariterpessnle serio grouados ne, feu 8 administasbo jetivos, denis, 104 *§ 18 - Sempre que pose, os impos segue a eapocidade econBmica do contribu mids, capeielmente para confi efeividade a eses 2 Praticidaite no Dieito Tributdrio normativo-axiol6gica independe da redacio do dispositive mencio- nado. Seguindo esta linha, importante anotar como premissa que, entre as discusses doutringtias que gravitam em tomo ca expres- fo “sempre que possfel” presente na redacio do dispositivo, filiamo- -nos ao posicionamento que considera tal expresso aplicével a0 princ(pio da pessoatidade e nfo & capacidade contributival™ Tal concepggo confirma o que foi até aqui exposto acerca da iguakdade no direto patrio ¢ também nos mostra que a sistemética constitucional optou por assegurar a observancia dos direitos e garan- tias fundamentais, que se mostram presentes na tributag&o quando orientam a capacidade contributiva como uma garantia fundamental « consequentemente como tima limitago ao poder de tributar: O fato € que a observincia pelo legislador da capacidade contributiva é obrigat6ria na produgio normativa, ainda que no seja posstvel aferir as miniicias individuais, de forma que a sua apreensio deve se operar no minimo de forma objetiva, nio sen- do possivel a eleicéo de fatos geradores para a formacio de uma obrigagao tributéria desprovidos de conteido econdmico. Assim, a Carta Major assinala a obrigagio de observancia da capacidade de contribuir que s6 pode ocorrer quando relacionada a uma ma- nifestagao de riqueza determindvel. E mais, determinou a natureza de tais manifestagées quando discrimina previamente as compe- téncias dos entes a federagio. que resta claro & que a Constituiggo estabeleceu garan- tias individuais atinentes & tributagio, © que importa dizer que speicalos osdiretosindviduaise nos temos dae, o pated, os endimentoe ox vides evontena do consume” 105 Por todos: RIBEIRO, Ricardo Loi. A Capaciade Corbi como Manito dd Justia Fiscal no Esado Sociale Demaeratico de Deo, In: Trisuago, Dinsitos Fundamencaise Deserwolvimenta org LifeCest Queios, Marcus Livio Gomes — Ted. Rio de Janeiro: LM] Mundo Juric, 2014, p32. Contra: AMARO, Luciano. Dirsto Tibco Basi. 10. ed. So Pa: Sasiv, 2004, p 157 83 Daniel Alves Teixeira se configuta impos a obigago de observa ds caret Cas individu na sua formag,o que nos mete a aay es compreenso de wma chamada justia particular ou indivi grande questio que nos aparece & inerente & propria reali ai fuaslimitagdes, de forma que € impratcével » eompreensio In- teal indviualzada da capacidade cotsbutivn de sols os coneribuintes em todos os casos, Nests casos, cuida-se de smpos sibilidade material de fiscalizacBo e medida ou de excessiva on a sua implementagio™. Nes a Teoria Geral do Divito nos foreceintttos para. a compreensio do raliztvel, de forma que a indeterminaie {kdade de um fato seal nfo deve implicar em uma cota auséncia do Direito, Para a persecugio da estabilidade social e segurane: juridica através da realizabilidade da ordem normativa, adotamse Jo considerados indicios ou apro- cs padtdes legais, de forma que so cons ; ines ‘da realidade nfo conhecida plenamente pelo legistador para a obtengio de efeitos normativos!”, sera eine com 0 que Miss! Der Cimon gu a aes ont Mtl Dt ta denomina de “estado de necessidade adrainistatin ‘onde redinem- ee fine cae cs apie are anlauagiodo aco c poses al hee ri ab nds oD «oman on pe ee paca nin aka de un de vies DERZL, Seon 1p ITO Emad stim Aegina ca i nacre pres fh “ee pr mc go SANG: FERRAGUT, Mara Ras. Penn m0 Fake Quai ain 205, HE fo, Mara Rita Ferragut rach prenongbec no dine but od feces proba, din peelinent> agesctn do amen aur 107 bee ne ‘Dinelto Tribuadri. 2 ed. S80. Praticidade no Direito Tributério 2.1.2. Igualdade Geral e Padronizagao Conforme liminarmente exposto nas linhas acima, a neces- sidade de padres legais pode ser observada diante da indetermi- nabilidade oferecida pela realidade, seja diante da impossiblidade de se conhecer um determinado fato total ou parcialmente, mas também, para eliminar ou reduzir potenciais arbitrariedades na aplicagao do Direito'™. ‘Assim, a adogdo de padrées pelo legislador deve baseat-se em indicios concretos para a constante aproximagéo com a realidade € consequente realizabilidade do Direito. Para tanto, partindo da prépria indeterminabilidade da realidade — que & impossvel de set identificada ou, para tanto, requer excessiva onerosidade ~o legis Tador estaria autorizado a utilizar-se de padrées baseados na apro- ximagdo méxima com 0 mundo dos fatos. No diteito tributario, tas padrdes assumem médias econdmicas posstveis e potenciais e a sua utilizagio nfo € novidade, ao menos na Espanha e em outras partes da Europa, como relata Ferreira Lapatza em estudo sobre a simplificagao tributéria™. 108 Ck AVILA, Humberto. Teoria di Igualdade Tribuunia. Sin Paul: Matheios Editores, 2008, p. 8; GREGORIO, Ricardo Maas ase de Ttsfeencs ~ Arm's Lenght ePaiadade ~ Sto Paso: Quoeier Latin, 201, 275 109 "Puede seen, sn dda, gue el proce de detrminacon deta bas mas el al princi de te apaciad es como ys hemos apontad,aguel que exige la meio ct de la base: aor, rent, venias, ee Pero este rode de deerminacién dela baxeno do er nado em Espana faim as paris de Exo yo feds aoa aa segunda mitad del siglo XIN. en i graoenes ible rendinients de bens ristecs ‘rurbanos nsiquew cuando tle tribute forma apt lndamentl dl iema ‘nibucarioeaatl. Debi findamertalent ales meds destin deles bts de que 3 dei tales puss se configura entonces como inpueson abe rendimients ‘meds, presunos 0 pxencaes. Peo tarp hon, cuendo tls vbuts han pelo im pte desu impor ean nanaformad em erat lees fan dja de concise como tribuos sobre rendinietos medio potencies lo mismo qu secede ‘urbién ahora com a bapuesn local qe gavel eric de las dstnas actividades economics ene unico. la justfcacion deriva ahora de os rts de gestion 9 de 85 Daniel Alves Teixeira Neste passo, significa afirmar que a adogio de padres im- porta em que em determinado momento o legislador assume uma genetalizagio, desconsiderando todos os detalhes da realidade Este processo de simplficagio se faz necessirio em determina- dos momentos e, no diteito tributirio, contribui para a efetivida- dde das normas impositivas. O motivo é que diante da premente dificuldade, ou até da impossibilidade, de fiscalizagiio detalhada fc individualizada dos contribuintes, levar a cabo uma obrigagio de investigaco nestes moldes induziria qualquer administracSo tributdria a ter que escolher quais contribuintes deve fiscalizar ‘Assim, partindo da premissa realista de que diante da auséncia ou deficiéncia na fiscalizagao e cobranga, poucos contribuintes per- manecerio adimplentes temporal e quantitativamente com suas brigagées tributirias, é ffeil concluir que na maior parte 0 sis tema tributério ser custeado pelos contribuintes escolhidos pela administragao tributéria, o que importa dizer que tal sistema & severatente desigual einjusto. ‘Noutro giro, no hé grandes dificuldades em concluir que aelei- ode rendase operagbes medias, desprezadas as nuances invita importa em um determinado grau de sacrificio da justiga individual, jé que fatalmente iré equiparar ‘contribuintes nao exatamente iguais. De fato, diante deste cenério, temos um conflito de idenis, de forma que os crtérios aparentemente se afetam, No entanto, € este justamente o desafio da ciéncia do Direito, j4 que a complexidade so- Gal cada vez mais vai nos apresentar problemticas que no raro apre- sentarfoideais conflitantes entre si, o que demanda uma persecugio do equilbrio, razonbilidade e proporcionalidade tanto na criagio quanto na aplicagdo normativas. Os ideais distinguem-se dos valores Te peta facta queen rac con su inporumcia catia yl cculo deers ls que feca,gnerora a elec de nto tipo de bas” FERREIRA TAPATZA, J} Informe sme La Sinplicacin Del onlenamieno eribuario Base ‘pone ea ere enefisscaes. Baeslana: Marcial Pa, 2008, p37. Praticidade no Direto Tritutério pela sua realizabilidade, como bem afirma Miguel Reale!®, de forma que 6 que se busca nestes€ a sia maiot implementagio possivel. ae eae, ‘co que se deve buscar na criagéo e aplicago do ixima implementacdo dos valores que Ihe so caros, Principalmente os constitucionalmente estabelecidos e sacramen tados como garantias fundamentais, Entretanto, nem sempre € 0 gee podemos constatar em nossa producio e aplicagéo normativa. precisa anilise, Andrei Pitten Velloso atenta para as comu- mente aceitas raztes de ordem econdmica para o afastamento de direitos e garantias fundamentais, que se perem diante de de- mandas por eficiéncia e arrecadagio'" E neste ponto que consideramos i ass: posible de doe de pale eg ares psa non tiva e superagdo de incertezas nfo pode se afastar da realidade, a cantétio, devendo persegul ejustifiarraconalmente os crt, tios com os quais se alcangou o padrao legal. Como jé dissemos, 6 HO Mia ee ee al i on os por bis ne eet sive ao proces hiticn pt sgn, elke, owl Sncnbwine pane Rade poe he ‘no plano ideal, constitul apenas aparéncia de valor; imexcwtbilidaxke pots, pr mai : _que se realize justiga, sempre haved justiga ase realt posted ceo ie vgs ea nner pen "pen a thi rn ps gt Ingenio Jy esi ne Gnas -valoré uma “inencionaludade historiconente dypetnada nop cakes aca, secu ptr dc, ean ro nnd dt asp REALE op cesta 1.9 “Are odes vis et vin ede erm cts eects sae pn ote © pen Da jt rignciio juridica de identificar ¢ respeitar as exigéncias do principio consti wield tonne dei ma deren co deer fn ot justeficar os eratamenos desiguads. Deixa de concretiad-to e. por conse puree ‘inécua, inoperante, vito. Todas as desigualdades peal fs eo hates an rf preg coor peri ensens lfece reee
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