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ANOMALIAS BRANQUIAIS: REVISAO DE 23 CASOS BRANCHIAL ANOMALIES: A REVIEW OF 23 CASES Rogério Aparecido Dedivitis, TCRC- André Vicente Guimaries* ‘Simone Remesso Cunha” Alessandra Midori Wagatsuma? RESUMO: A anomalia branguial &a doenga congénita mais comum vista pelo cirurgo de eabega e pescogo. Vinte €trés pacientes portadores de anomalias branquiaistratados no periado de 1994 a 1997 foram revisados, O diagnéstica clio foi {documentado por ult-sonografia e comprovade pelo exam histopatoldgico, Encontramos seis anomalia de primeito arco (2664); 16 do segundo arco (69,54); « uma do terceiro (4,5%). Nao houve anomalia do quarto arco, Apés um seguimento {que variou de trés a 43meses, ndo houve caso de recidiva. A prevaléncia de anomalias do segundo arco é compativel com literatura, pom, oi alta a ineidéncia do primeiro arco. O emprego da técnica cirirgica adequada, com a ressecgio de todo trajeto Fistuloso, mostrou-se efi Unitermos: Cists e fistulas branguiais. INTRODUCAO Anomalias congénitas dos arcos branquiais so muito frequentes, manifestando-se habitualmente como fistulas e cistos cervicais.* Apresentam fisiopatologia desconhecida e podem aparecer em qualquer idade, com evidéncia de trans- 1issio autossémica dominante.? A maioria dos casos (72%) € diagnosticada antes des 30 anos de idade.* Correspondem 10,54 das afecgbes de cabeca e pescogo,’ e acerca de 17% dias massascervicas na infincia. A cinurgia nical 6 crucial, que a taxa de recorréncia pode atingir 22% nos casos de res- secciio incompleta“O objetivo €avaliaraincidéncia dos diver- 0s tipos de anomalias branquiais os resultados cinirgicos ‘A panir da terceira semana, quando 0 embrisio mede cerca de Sinm, surgem cinco arcos branguiai, consttuidos pelos 8s folhetos germinativos, de cada lado da regio cer- ‘externamenie por fendas e, no interior, vical, que oe defin pelas bolsas faringeas, O aparetho branquial origina inimeras estruturas da caborae pescogo.? O quinto arco, mal definido, € considerado integrante do quarto arco ** algumas teorias para.a formagdo da anomalia: presen- ‘yade remanescentes da bolsa branguial; ruptura da membrana dda bolsa; regressio incompleta do sistema branquial’; faba na fusdio das fendas; persisténcia do seio cervical; e remax nescentes do dueto timico? Os cistos ¢ fistulas congénitos relacionam-se as estruturas que serio originadas por cada bol sa, Assim, os de segunda bolsa estio em relagio com as tonsilas palatinas. O trajeto da respectiva fistula pode seguir enlre acardtida intemae externa, J4 0s de terceira bolsarela- cionam-se ao seio pirforme, passando medialmente dcarGtida interna’ e, para 0 correto diagndstico, é imperativaa pesquisa de uma comunicagio interna com 0 eio piriforme.* stima-se que 95% das casos sio do segundo arco, 5% de primeiro e terceiro, sendo as anomalias do quarto arco excep- cionais. A origem das fistulas de quarto arco € no seo piriforme. com trajeto descendente até hipofaringe, caucalmente a0 mts culo cricotiresideo.? As fistulas podem classificar-se em completas (quando apresentam oriffcio na pele ena faringe); externa (com orificio na pele torminando em fundo de saco): ¢ interna (o oposto).? Massa cfstica ou oriffcio que se apresente ao longo da borda anterior do mtisculo esternocleidomastsideo na metade fem geral, uma fistula do se- ‘Bundo arco branquial.* & discretamente mais predominante no sexo feminino © A dircta, havendo casos de veort fait? 1. Chet do Servigo de Cirurgia de Cabesa e Pescoco clo Hospital Ana Costa. Mesite pelo Curso de Pés-Graduagio em Cirurgia de Cabesa ¢ Pescoyo do Complexo HospitalarIetiGpoti. 2. Cirurgio de Cabega e Pescogo do Hospital Ana Costa, 5. Académica da Faculdade de Citneias Médicas de Santos da Fundagie Lusiada, Revebido em 17/598 Aceito para publicasio em 9/7/98 Trabalho realizado no Servigo de Cirurgia de Cabega e Pescogo do Hospital Ana Costa ~ Santos ~ SP. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgides — Vol. XXV ~n® 5 — 339 OGERIO APARECIOO DEDIVITIS E COLABORADORES 0 coloboma auris ou fistula da primeira fenda & encon- trado como um processo fistuloso com orificio externo em regio pré-auricular, contornando o pavilho auricular por cima, terminando freqiientemente no conduto auditivo exter- tno, Clessivamente, ests fistula estende-se da regia supra hididea lateral ao conduto auditivo externo."" O diagndstico diferencial deve ser feito com higroma citico, na faixa etéria peditrica ecom linfadenopatiainlama- \6ria, principalmente causada por tuberculose ou neoplasia, Dever ainda ser considerados cist e fistula do ducto treo- _losso que, encontrados em geral na linha média do pescogo, podem lateralizar-se apés recidivas ou infecgGes repetidas. Lipomas, neurofibromas e tumores do corpo carotideo devem, ser ainda considerados.'* Métodos de imagem podem ser uilizados em caso de ddavida diagndstica, Pouca atengao tem sido dada 3 tomogratia computadorizada, que é um método com alta acurdcia, nao invasivo e dispendioso Otratamento ¢cinirsico cletivo” com excelentesresul- tados e complicagtes pds-operatérias escassas.” A indicagiio E-estélica, pela deformidade cervical, pela drenagem crénica das fistulas ¢ pela possibilidade de infeegio e abscessos, rela tivamente comuns, Casos infectados dever ser tratados clini- isseogio nestas condi ccamente antes da cirurgia, poi € mais dificil” Malignizagzo é incomum.* Pode-seinjetar uma soluco com azul de metileno e per xxido de hidrogénio para melhor individualizar 0 trajeto a ser dissecado.' As fistulas sio tratadas partir de ineisto eliptica a0 redor do orificio externo."" A excisto do coloboma auris envolve freqiientemente uma parotidectomia parcial com pre- servagio do nervo facial A excistio completa do cisto,trato ou fistula € necesséria para evitar recorréncia da doenga.™? MATERIAL E METODO Foram estudados 23 pacientes portadores de anomalias branquiais, tratados no perfodo de janeiro de 1994 adezembro de 1997, no Servigo de Cirurgia de Cabega e Pescogo do Hospital Ana Costa de Santos. Houve 15 pacientes do sexo feminino coito do masculino, A distribuigdo por faixa etéria ‘mostrou uma maior incidéncia do diagndstico na segunda e terceira décadas, contudo, houve casos desde a primeira a6 aitava (Tabela |). Houve ainda predomfnio da raga branca, com 21 pacientes e dois pardos. ‘Tivemos quatro casos de bilateralidade, de. direita e Aesquerda. A manifestado clinica foi de fistula em dez 10 nos outros 13, O diagnéstico foi clinico, com queixa de nédulo cervical ou de oriffcio fistuloso com safda intermitente de secresio serosa, a0 nivel da borda anterior do misculo esternocleidomast6ideo. Dois pacientes apresen- taram-se com cisto abscedado, que necessitou de antibiotico- {erapiasistémica. Todos os casos foram documentados por ulira- ietico dae sonogratia, que permitiu earacterizar 0 componente lesbes. O tamanho dos cistos variou de 1,8em a 6,0em. Tabela 1 Distribuigdo dos aoe conform a fina eis ade (anos) [__Nimero de casos 0-10 2 21-30 31-40 2 41-50 71-80 L Toul 2 tratamento foi cinirgico, com cervicotomia ¢ indivi ualizagdo de cistoe fistula, Em trés casos, devido a grande cextensio da fistula, foram realizadas incisdes escalonadas. (Os dois casos de fistula do terceiro arco foram diagnosticados, no intra-operat6rio, em que se observou comunicagio com o seio piriforme. Todos foram comprovados pelo exame histo- patol6gico, Em nenhum dos casos de fistula do primeiro arco, {oi necesséria a realizaglo de parotidlectomia parcial RESULTADOS Encontramos, em nossa casuistica, seis anomalias de pri- aire arco (26% do total do casos), sando dois casos bilate tais; 16 do segundo arco (69,5%), sendo dois bilaterais; e um do terceiro (4,5%). Nao foram encontradas anomalias do quarto arco. Dos 16casos de anomatia do segundo arco, a localizago decisto ou orificioda fistula foi. 1 av nfvel da wictade cial do misculo esternocleidomastéideo, e cinco, na caudal ‘Nenhum paciente permaneceu mais de um dia internado! 15 permaneceram um dia, enquanto oito tiveram alta hospitalar ‘no mesmo dia. Nao foi utlizada antibioticoprofilaxia de rotina, lexcelo em cinco casos em que 0 cisto rompeu-se durante 0 ‘ato cindrgico, Em todos os casos, foi mantido um dreno de Penrose fino, que foi retirado aps 24 horas de p6s-operatério, Tnfecgao foi observada em apenas um caso, que foi tratado ‘com antibioticoterapia sem necessidade de drenagem cirirgica © com boa evolugio, Nfio houve outras complicagses pos. s. Apés um seguimento que vatiou de trés a 43, jo houve caso de reci DIScUssAO © diagnéstico das anomalias branquiais costume m0 ropresentar maior dficuldade. Pode ser dificutado na vigéncia de algum processo infeccioso agudo, que deve primeiro ser mente Histéria & palpagin enidadasas perm tem uma avaliagio adequada. A ultra-sonografia rai natureza efstica da lesio, sendo utilizada para confirmar diagndstico clinico. Na nossa experiéncia, concordante com a literatura, a rmaioria dos casos fei do Fiatula do segundo arco, jé que seguiam alé orofaringe, a0 nivel da regio amigdalina. Nao 340 — Revista do Colégio Brasileiro de Cinurgioes — Vol. XXV -n? 5 Tabela 2 Disuibuige dos eases confarme 0 arco brangua aeometido ‘Aco branguil ‘Numero de casos | Porcemagem (6) fc 5 26 » 16 9s y 2 45 * o a Thal 2 100 conseguimos correlacionar, contudo, a localizagao do cisto ‘ou da fistula externa com 0 arco branquial andmalo, Nesse sentido, entre os casos do segundo arco, os orficios externos localizaram-se indistintamente ao nivel da borda anterior do ‘misculo esternocleidomastideo, desde aregiio cervical alta ABSTRACT ANOMALIAS BRANQUIAIS: REVISKO DE 28 CASOS ‘até a unio sternoclavicular, Encontramos uma incidéncia de anomalias do primeira arco branquial (26%) acima da habitualmente relatada pela, ‘maioria dos autores. Para estes, a incidéncia de alteragées do primeiro arco aio pouco freqtiontes, jé que aa do segundo arco chegam a 95% do total! ‘Nao utilizamos em nenhum dos casos ainjego de corante tipo azul de metileno, que & recomendada por alguns autores para facilitar a individualizagao do trato. Nem por isso houve naires dificuldades para dissecga, em nossa casutstic, Finalizamos confirmando que nesta série houve um pre- domfnio (69,5%) das anomalias de segundo arco, porém, a incidéncia das do primeiro arco (26%) foi acima daquela rela- lada pela literatura e que o tratamento cirdrgico é definitivo, sendo que a total excisio do trato fistuloso evita a recidiva, The branchial anomalies are the most conumon congenital neck mass. Twenty-three patients treated between 1994 and 1997 were reviewed. Clinical diagnosis was confirmed with wlrasonography. First branchial anomalies were seen in 26% second in 69.5% and third in 4.5%, There was no fourth ema. The follow-up was from 3 1943 months with no cases of recurrence. The prevalence of second branchial anomalies was according to he terauure, but we hula high incidence offrst ‘anomalves, The surgical management wuh complete excision was estential fora suecessful oucome. Key Words: Branchial cysts and fistulae REFERENCIAS |. Boysen ME, Bosche A, Djupesland, etal —Interal cysts and iste ‘of branchial origin. J Laryngol Oto 1979393:333-9, ava AS, Andrade Sobrnno J, Kapopon A, etal = Clos e Hstlas ‘angus. An Paul Med Cir 1981; 108 (47-56 Porezp JA, Henning LE, Valencia CV, etal ~ Quits de la segunda ‘endidarabrangual: revision de 32 casos oporads. Rev Med Chile (Choi $8, Zalzal GH ~ Branchial anomalios: a review of 52 eases Laryngoscope 1995:105:909-13. Godin MS, Keams DB, Pransky SM, e al ~ Four branhisl pouch ‘sinus: Pieiples of agnosis and management. Laryngascope 1990; 100: 174-178 Lin J, Wang K — Persistent thin! branchial apparatus. 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