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IDEOGRAMA LOGICA POESIA LINGUAGEM HAROLDO DE CAMI retin Pik 0s Caaic donno Ge Calopto mPa (IP) (Glnart Brat dob, 58 Bes) gee pa hae peg etek ray te ann ed ‘Prd ede dS 188 kept, ime sssicc1704 1. Cnt = arta 2 Ligon 8. Poon 4 Senin 1 cmon Hac 138 ae coat despa cog stems 1. ecg Lngisin Alt Bd. da Ania Rios - Cidade Universtria Palo SP Bead Fax (011) 2114868 / SIBAIS6 / 184160 SUMARIO Nota do Onganizador 9 Hoaroldo de Campos Fenollosa Revisitado u Haroldo de Campos Tdeograma, Anagrama, Diagrama: Uma Leitura de Fenollosa 2B Emest Fenollosa (Os Caracteres da Escrita Chinesa como Instrumento para a Poesia 109 Sierguéi Eisenstein © Principio Cinematogréfico eo Ideograma 49 Sierguéi Eisenstein O PRINCIPIO CINEMATOGRAFICO E 0 IDEOGRAMA Escrever um panfleto sobre uma coisa que nao existe realmen- te € uma procza extraordinéria e maravilhosa. Nao existe, por exemplo, cinema sem cinematografia. No entanto, 0 autor do pan- fleto que precede este ensaio! conseguiu escrever um livro sobre o cinema de um pais que nao tem cinematografia. A respeito do cine- ma de um pais que tem, em sua cultura, um néimero infinito de ca- racteristicas cinematograficas, espalhadas por toda parte, exceto exatamente em seu ... cinema. O presente ensaio trata das caracteristicas cinematograficas da cultura japonesa que permanecem fora do cinema japonés, fi- cando tao distante do panfleto anterior quanto essas caracteristicas © estio do cinema japonés. Cinema: um bom mimero de empresas, tais ¢ tais inversdes de capital, estas ¢ mais aquclas estrelas,tais e tais dramas, Cinematografia: antes de tudo e acima de tudo, montagem. cinema japones esta otimaménte provido de empresas pro- dutoras, atores e argumento. Mas o cinema japonés no tem a me- 1. te eno de Eerie florignlnete pied como “posi” so iro de N, Kaufman, tens Jepont Mosca, 129 [Ehersten parece inguin chee, isin cinematorticn, © ‘inenetai, ngage prepa do clnema (N. do O)} 0 eogrono nor consciéncia da montagem. Nao obstante, o principio da montagem pode ser identificado como elemento basico da cultura figurativa japonesa. Escrita ~ porque sua escrita é antes de tudo figural O hierdglifo. 7 ‘A imagem naturalista de um objeto, tal como o retrata a habil mio chinesa de Ts'ang Chieh, 2650 anos antes da nossa era, esque- matizase ligeiramente e, com seus 539 companheiros, forma o pri- meiro “contingente” de hierdglifos. Riscada com um estilete sobre uma tira de bambu, a imagem de um abjeto mantinha a semelhanca ‘com 0 seu original, em todos os aspectos. Mas depois, por volta do final do terceiro século, inventouse © pincel. No primeiro século depois do “feliz acontecimento” (A. D,)- 0 papel. E, finalmente, no ano 220 ~ a tinta da India Uma subversio total. Uma revolugio na arte de desenhar. E, depois de passar, no decorrer da Histéria, por nada menos de qua- torze estilos diferentes de caligrafia, o hierdglifo cristalizouse em sua forma atual. Os meios de produgao (pincel ¢ tinta da [ndia) de- terminaram a forma. As quatorze reformas seguiram seus ruriios. Como resultado: I awy, No fogoso e pinoteante hierdglifo ma (um cavalo) jé é impossi- vel reconhecer os tiacos do lindo cavalinho pateticamente apoiado nas patas traseiras, no estilo da escrita de Ts'ang Chieh, que os anti- gos bronzes chineses tornaram tio conhecido. Deixemos, porém, 0 lindo cavalinho descansar na santa paz do Senhor, juntamenté com os outros restantes 607 simbolos fsiang- cheng ~ a mais antiga das categorias de hieréglifos remanescentes. (0 Principio Cinemaogrfco eo Ideograme 1 © verdadeiro interesse comeca com a segunda categoria de hieréglifos - a dos huei-i, isto € “copulativos”. ‘A questio é que a cépula (talvez fosse melhor dizer a combina- io) de dois hierSglifos da série mais simples ndo deve ser conside- Tada como uma soma deles ¢ sim como seu produto, isto é como tum valor de outra dimensio, de outro grau; cada um deles, separa- damente, corresponde a um objeto, a um fato, mas sua combinagao corresponde a um conceit. Do amalgama de hieréglifos isolados saiu o ideograma. A combinaga6 de dois elementos suscetiveis de serem “pintados” permite a representagio de algo que nao pode ser graficamente retratado. Por exemplo: o desenho da gua ¢ o desenho de um olho sig- nificam “‘chorar”; 0 desenho de uma orelha perto do desenho de ‘uma porta = “ouvir”, uum céo + uma boca = “latir”; ‘uma boca + uma crianga ‘uma boca + um péssaro = “cantar”; uma faca + um coragio = “tristeza”, e assim por diante*, Mas, isto é ... montagem! Sim, & exatamente isto que fazemos no cinema, combinando tomadas que pintam, de significado singelo ¢ conteddo neutro - para formar contextos ¢ séries intelectuais. Isto constitui um recurso e um método inevitaveis em toda ex- posigao cinematogréfica. E, numa forma condensada ¢ purificada, € © ponto de partida do “cinema intelectual”. De um cinema que busque um laconismo miximo para a re wresentagao visual de conceit 5. Gaudemos entao o método do muito pranteado Ts'ang Chieh como um primeiro passo dado nesses caminhos, Falamos em laconismo. O laconismo nos fornece uma transi- io para outro ponto. O Japio possui a forma mais lacénica de poe- _sia: 0 haicai (que apareceu no inicio do século Xi € hoje conhecido 2. fom Pere Abel Résat, Rehr git a omation de etre hin, Pass SE.) 12. ecgrame ‘como haiku ou hokku) € 0 ainda mais antigo tanca (mitologicamente dado como tendo sido criado a0 mesmo tempo que o céu ¢ a terra). Ambos sio pouco mais que hierdglifos transformados em fra- ses, Tanto que metade de sua qualidade é avaliada por sua caligra- fia. O método de resolugio de ambos é inteiramente andlogo 4 estrutura do ideograma. Como o ideograma fornece um meio para a impressio lacbnica de um conceito abstrato, esse mesmo método, quando transposto para uma exposigio literdria, dé origem a um laconismo idéntico, de agudez imagética. Aplicado a colisio de uma sdbria combinagao de simbolos, 0 método tem como resultado uma enxuta definigio de conceitos abstratos. O mesmo método, desenvolvido no fausto de um grupo de combinagées verbais jé formadas, expande-se num esplendor de efeito imagistico. © conceito é uma férmula, pura ¢ simples; sua ornamentagio (uma expansio devida aos materiais adicionais) transforma a fér- mula em imagem ~ uma forma acabada. Exatamente assim, embora em sentido contrario, como um processo de pensamento primitivo - 0 pensamento imagistico, des- locado até um ponto definido, acabase transformando em racioci- nio conceitual. Voltemo-nos, porém, para exemplos: O haicai é um esboco impressionista concentrado: Um como slitrio Sobre um galho sem olan, ‘Uma noite de outono, Basid (Que aa resplandecete! ‘Atombra dos galho do piezo Sobre a stir Roxas ‘Sopra uma brs vespertina ‘Adgua se encrespa (Conta at perms da grea al Boson (0 Princpl Cnematogrdico¢ deograma 13 Madrag oda : 0 caste et cereado De gion de patorselagens Kroroxu® tanca, mais antigo, é pouco mais comprido: 6 faisto da montana Jongas si as penas que arrastas pelasencostas arboresidas, como longas me parecem a8 noites ‘a cama, slitério, a buscar sono. Hirroxsno()* Do nosso ponto de vista, estas sio frases de montagem. Séries de tomadas. A simples combinacio de dois ou trés pormenores de tipo material produz uma representacao perfeitamente acabada de ‘uma outra espécie ~ psicolégica. E se os gumes bem afiados dos conceitos intelectuais definidos, formados pelos ideogramas combinados, ficam algo indistintos nes- ses poemas, todavia, no que toca & qualidade emocional os conceitos desabrocharam de maneira incomensuravel. Deverfamos observar que a emocio ¢ dirigida para o leitor porque, como disse Yone No- guchi, “é o leitor que faz da imperfeicdo do haiku uma perfeicéo de arte”, Com relagio & escrita japonesa, podese discutir se 0 aspecto predominante é 0 de sistema de caracteres (denotativo) ou o de criagéo grafica independente (pictural, figurativa). Seja como for, criado pela dupla unio do figurativo (quanto ao método) e do de- notativo (quanto a finalidade), o ideograma deu desenvolyimento a esas duas linhas (ndo historicamente consecutivas, mas consecuti- vas em principio nas mentes daqueles que claboraram 0 método). Allinha denotativa prosseguiu em literatura, no tanca, como vi- ‘mos; mas nio foi s6 isso; exatamente esse mesmo mérito (em seu SS Haidy Pens, Ancient end Modes, adstidor¢ anotados por Miamori Astaro, Téquio, Maren {Co 1940 [As moan eiinda pels J.Lo de Joy Ley, que vere para 0 ings ete er si} 44 Freevck Vicor Dickng, Primi and Melia Jeunes Tet, Oxford, Clarendon Pres, 1906 (S. B 5. Yone Noguchi Th Spinto Japan Paty, Loney, Joho Murry, 1944S.)

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