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ce os Aprendizagem O que € aprendizagem? Como ocorre? E possivel promové-la? Existe um 56 tipo de aprendizagem? Essas e outras tantas perguntas tem gerado uma série de pesquisas, sob diferentes perspectivas tedricas diferentes metodologias de investigagao. Para inicio de conversa, po- demos dizer que aprendizagem refere-se a modificagao, e modifi- cago remete a uma comparacio entre dois estados: antes € depois; ou seja, € a comparagao entre um. estado ou condigdo anterior e um. estado ou condigdo atual. Por exemplo, uma crianga que nio sabia ler € escrever, apds passar por um processo basico de ensino, apresenta essas habilidades que antes ndo estavam presentes em seu repertdrio. Antes, nao sabia ler e escrever, agora consegue ler e escrever. How ve, portanto, uma mudanca claramente identificdvel no repertério da crianga. A nogdo de que algo se modificou no individuo aprendente € basica ao se falar em aprendizagem. E uma nogio importante e neces- Saria, porém nao suficiente para entendermos o fendmeno, conforme Veremos a seguir. 79 Ss 3a Uma introdugao a definigao de aprendizagem No fendm ficar uma série de elementos envolvidos, tanto explicitos qu, ato neno que chamamos de aprendizagem, podemos ident i. implicitos: um individuo que nao possufa determinadas habilidades, mas que possui um repertério inicial que possibilita a construgao de dete, minadas aprendizagens; » um procedimento de ensino, qualquer que seja esse procedimento; » um resultado verificavel e que identificamos como sendo conse. quéncia do procedimento de ensino adotado; » 0s processos basicos envolvidos no ensino e os processos basicos envolvidos na aprendizagem; » uma interagdo entre um individuo que nao apresentava determi- nado repertério e um individuo que detém um procedimento para ensinar; » condigdes ambientais que permitem a interagdo € o uso do proce dimento de ensino; » pelo menos um modo de verificagao e garantia de que as habilide des ensinadas foram aprendidas; » pelo menos um modo de verificagdo de que as habilidades apte™ didas passam a ocorter em outros contextos diferentes dagquele que se aplicou o procedimento de ensino; » pelo menos um modo de verificar que as habilidades aprendidis permanecem ao longo do tempo, ou seja, niio desaparece™ © tepertério do individuo; » pelo menos um modo de verificar que as habilidades aprent alé ; lém de permanecerem, sofrem alteragdes qualitativas que atin vas: no exemplo da leitura/escrita, 0 individuo col segue escrever com mais desenvoltura e amplia seu vocabulério, apresen- tando autonomia no uso dessas habilidades em seu dia a dia. Vamos, em seguida, tratar de cada um desses aspectos. Nosso objetivo é apenas de aprofundamento, uma vez que serao retomados mais adiante, tanto discorrer brevemente sobre cada um deles, sem a pretensdo no presente capitulo quantos nos capitulos posteriores. zal A aprendizagem, para ocorrer, precisa de um elemento fun- damental: o individuo que aprende Apesar de aparentemente 6bvia, essa constatagao € um ponto de partida importante. O individuo € 0 lécus por exceléncia da aprendizagem. De um ponto de vista estritamente biolégico, € um organismo vivo que se modifica em interagdo com o ambiente que o cerca. De um ponto de vista social, é um individuo que apresenta possibilidades diversas e que vai se modificando de acordo com as complexas experiéncias vividas em seu meio social, cultural e politico. E um ser marcado por uma histéria e que se faz na propria historia grupal em que esté mergulhado. De um ponto de vista psicolégico é um individuo com possibilidades de enriquecimento de seu repertério basico, que traz desde o nascimento, e, portanto, com possibilidades de modificagao em seu modo de ser e de agir no mundo. E um indi- viduo cuja subjetividade, isto é, aquilo que o marca e o delimita como sujeito impar, é fruto das experiéncias que o afetam de um modo par- ticular e, de certa maneira, diferente do modo como outros individuos sero afetados em experiéncias semelhantes. A aprendizagem, portanto, depende desse organismo vivo que se comporta ~ de inicio como um conjunto articulado de reflexos e de Processos fisiolégicos ao nascer — e que, imediatamente em contato com o mundo, passa por mudangas qualitativas e quantitativas: de um simples organismo passa a constituir-se em pessoa, em individuo r—} 81 Ee Te Sas as que ndo s6 responde ao meio que © cerca, mas interage ¢ modifeg 0 proprio meio: é um individuo que se complenifica cada vez ge em interagdo continua com o mundo. Resumindo, um individuo cujg caracteristica basica é a possibilidade de modificar-se. 3.2 Um individuo que pode modificar-se a pastir do contat com procedimentos planejados de ensino E possivel planejar situagdes para que as pessoas se modifiquem. Nio fosse isso possivel, desmoronaria toda a educagao. Nao houvesse a pos. sibilidade de elaborar procedimentos de intervencdo no repertério dos individuos, nao existiria 0 papel de professor e de educador. Podemos analisar essa afirmagdo sob diferentes angulos. De um ponto de vista amplo, conforme vimos nos dois primeiros capitulos, a educagio é um empreendimento que ocorre em toda a sociedade. Ou seja, nio se restringe a sala de aula. Podemos falar em educacio planejada quando a midia lana, ostensivamente e durante um certo periodo de tempo, determinados contetidos (visuais, auditivos, viso-auditivos. Cinestésicos etc.) que objetivam modificar opinides, introduzir valo- res, aumentar a venda ou consumo de determinado produto ou bert. lancar modas, aumentar 0 uso de determinados vocabutliios no col diano das pessoas ete. Podemos, também, verificar a aplicagao de procedimentos planejados de ensino quando uma determinada agremiagio religiosa incentiv® seus fidis (através de palestras, cultos, cdnticos e ritwais) a seguirem determinados preceitos de z :40, reproduzirem determinados disct” 80s, explicarem os fatos da vida a partir de um ponto de vista mot! apresentarem comportamentos considerados aceitaveis e contere™ Comportamentos considerados pecaminosos. A familia também pode Planejar situagdes de ensino: os Pais podem, por exemplo, incentiv 0s flhos a agir de maneiras especificas durante as refeigdes, dando 82 De ee << i entivos para os que se comportam conforme o que foi instrufdo ou in nindo comportamnentos considerados inadequados, pul Seja como for, dentro da escola formal ou em situagées sociais ex- traescolares, podeimos to do que aprendemos foi fruto de experiéncias planejada lentificar diver exemplos que demonstra que mui de ensino. As experiéncias nao planejadas de ensino, ou experienc incidentais, serdo abordadas em outro momento neste capitulo, 333 Procedimentos de ensino podem ser eficazes Uma das buscas constantes dos professores € por estratégias, recursos etécnicas que garantam a aprendizagem dos contetidos traballiados em sala de aula*. De qualquer forma, torna-se importante, desde j4, refletir acerca do que chamamos de um ensino eficaz. Para algumas pessoas, um ensino eficaz é entendido como o resultado da aplicagao de procedimentos adequados que garantem o aprendizado de deter- minados contetidos ou habilidades. Essa concep¢a0, embora aceitavel dentro de certos limites, parte do pressuposto de que o individuo aprendente € um mero repositério de saber, ou seja, um ser passivo que se molda aos procedimentos de en- sino e responde com docilidade as contingéncias de ensino que foram programadas. E como se houvesse uma correspondéncia direta entre ensinar e aprender ou, em outras palavras, uma relagao direta entre a aplicacdo de determinados procedimentos de ensino e a aprendiza- gem de determinados repertérios. Caso isso fosse integralmente possi- vel, poderiamos dizer que parte significativa dos problemas escolares &staria resolvida. ra ensino individualizado pode garantir a escolha de um conjunto le i ; Procedimentos especificos que sejam adequados a um aprendente That _ aie i ‘temos mais sobre essa questo no capitulo 6, quando abordarmos a organizagio oe) " sino e da aprendizagem na escola a Tae eee

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