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I. AS HUMANIDADES E A EDUCACAO LIBERAL Neste terceiro capitulo trataremos dos principais graus da educacéo: o ensino ele- mentar, as humanidades, os estudos superio- res. Quanto ao segundo grau, — as humani- dades — discutiremos alguns problemas rela- tivos ao colégio (college)! e o programa de estudo; quanto ao terceiro grau — os estudos superiores — esbogaremos a idéia de uma uni- versidade moderna, considerada como tendo em vista a realizacéo da educac&o liberal. 1 — OS RUDIMENTOS As esferas do Conhecimento Observemos, a propésito dos trés primei- r0s graus do ensino, que existemi na educacao trés grandes periodos nataralmente distintos, que poderiam ser assim designados: 1 —_—_—_—___ . 2 Os quatro anos do colégio americano sie intermedi: entre as classes superiores dos Liceus € os primeiros anos de estudos univ rios fran- ceses, } 5 } \ i t ' A sncques MARTEAIN 1 hos rudimentos (ou educagao ele- mentar); 2) as humanidades (compreenden- do educacio secundaria e 0 colé- gio); ; = 0 ensino superior (ministrado © pelas Faculdades que conferem 0s graus universitarios — gra~ duate schools — e pelas escolas superiores especializadas) Esses pericdos correspondem néo s6 a trés periodos eronolégicos naturais no ereseimen- to da crianca e do jovem, mas também a trés esitras naturalmente distintas e qualitativa- mente determinadas, de desenvolvimento psi- cclégico e, por conseguinte, de. conhecimento.. A estrutura fisica da crianca nao é a do adulto em miniatura A crianca nq é um anéo, Nem tampouco~9 adoleseente.) B isto € muito mais verdadeiro e mais importante ainda em relacdo & estrutura psicologic que em relacio a estrututa fisica. are fisica, ao 100 tisico, a psicologia animal e experimen- tal, @ educacao contemporanea compreendet cada vez mais perfeit im filho do mais, amente que um fill a hemem no é simplesmente tum homem em ‘io 0 compreenden aind: asin re ainda nas dg confeg foneetem 20 dominio spiritual dade, nag earn, Porque, para dizer’ a ver- atividaag, 24 interessada ‘na psicologia das Sendo igeonPtuais, Que fazer, portanto, Bm priegrat é8e dominio © aire . a conhecimene squecemos que a ciéncia Ges que se ne AO S40 um conjunto de no. “stam a si mesmo, existindo ro é duplo,_ UNION DN EDLENEIO 103 por sua propria conta no estado de abstracio e separadas do homem. A ciéncia e 0 conhe- cimento nao existem nos livros, mas nos es- pititos, Sdo energias vitais e internas, deve, peis, desenvolver-se de conformidade com @ estrutura espititual do sujeito no qual existem. Em segundo lugar, agimos como se a ta- refa de educar fésse de infundir na erianca ‘ou no adolescente, apenas resumindo e con: centrando, a ciéncia do adulto, — isto é a ciéncia e 0 conhecimento do fildlogo, do his- toriador, do gramatico, do fisico ete., em uma Dalavia, dos peritos mais especializades. & assim que nos esforcamos por encher @ juven- tude de um caos de nocdes adultas simplifi- Bidas que ford, ou condensadas, dosmati- “ZAWGis e divididas em partes de manuais, ou, ‘ao contratio, de tal modo facilitadas, que per- dem todo, valor, Como resultado, corremos 0 isco de formar, ou um ando, intelectual, ins truido e assustado, ow um ando ignorante,.a brincar de boneca.com a ndssa clincia, Num ensaio recente 0 professor Douglas Bush bra a “classica anedota da mova a quem per- guntaram se podia ensinar Historia da Ingla terra, — 0”, Sim, respondeu la jocosamente Ja aprendi duas vézes: uma na argila, na areia”!, mento a ser infundido na juven-. © connecimento a ser sntundige ne 9 tude ndo é o mesmo que itosophy and Reli- 1 Dantas Rash, Seienee, Phitogovhy amd $s one gion, Secuud Symposium, Nova ¥ ao sAcQUES MARITAIN conhecimento intrinsecamente e fundamental. conve diferente * que n&o se encontra em Rado de ciéncia, tal como & possuido pelo fspitito do adulto, mas conhecimento tipica- mente proptio a vivificar e aperfeicoar o uni- yerso original de pensamento da crianea e do Adolescente, Por conseqiiéncia, nao seria de. mais insistir sébte o fato de’ que, em cada grau, o conhecimento deve ser de uma quali- dade tipica, adequada aqueles que aprendem, € coneebido como atingindo sua perfticéo ho seio de seu universo de pensamento, num pe- riodo determinado de seu desenvolvimento; m lugar de ser concebido como estabelecendo 0s fundamentos de uma s6 e tinea esfera de conhecimento que eresceria de modo continuo ¢ uni se transformar na ciéncia do », na qual atingiria sua perfeicao. . B A Crianca , -smagQ,tnlverso da crianca é o universo da paatiaedo, — que, tvolut progressivamente pas al. O conhecimento que Ihe de ney mmimistrado°é sob a torma de’ lenda,- Si aac, Contada, uma apreensic imaginat 's e dos valéres do mun- Poe com dy sR combecimento ditere tandamental shecenbecimenty adult. quant. A maneing de eae mece, oa downturn ea perce trarte M9 conhecimento, Se se teatarne oat Cee emir arensgaatae Pace Cameniaat3G8 8 comhecer, deverianos Hien eee sacri fle ha es gcggoramen atirmar como saa ve que do a Jnstrucio ‘universitara” ;i0_ nivel mais en ent ii ¢ Education betwen”: clon br he. Alexander Meihi mo. Cir. Alerunder Meiktelohy arldy (Nova, York, 1942) RUMOS DA EDUCAGKO 105 go. A mentalidade da crianca pode, sob cer- tos aspectos, ser comparada com a do homem rimitivo, mentalidade essa que tende por si Biesma para a magia e, por muito que 0 pro- Tessor se esforce, Seu ensino corre sempre 0 isco de ser tragado e engolfado num gceano magico. Na tarefa que € sua, de civilizar o éspirito da crianca, deve éle, pois, submeter rogressivamente a imaginacdo Tei da ya Po, lembrando-se sempre, 20 mesmo tempo, de que o trabalho, — enorme relativamente as suas forgas — do espirito da crianca que se esforca por aprender o mundo exterior, realiza-se sob a lei vital e perfeitamente nor- mal da imaginacio. — acrescentariamos que a beleza é a atmos- fera mental e a {orca inspiradora apropriada & educacdo de uma crianca e deveria ser, por assim dizer, a perpétua base, contraponto vi- vificante e espiritualizada dessa educacao. A beleza faz com que a inteligibilidade surja, - “sem’o sabermos, da atencdo dos sentidos’ em virtude da seducdo das belas coisas, elas agdes e das belas idélas, que a crianc deve ser conduzida edespertada para a vida” intelectual e moral. pas Por outro lado, @ vitalidade ¢ a intuitivi- dade do espirito sio extremamente vives ‘na - ctiatiga e por vézes atravessam o mundo de seu pensamento imaginativo, os mais puros © admiraveis relampagos, como se o espirito, no estando ainda fortificado e organizad> pelo exercicio da razdo, gozasse de uma espé-_ cie de liberdade entusiasta, caprichosa ¢ 10- Gide. (4o_mestno tempo, entetantoy @ ee” lo instinto na sua imaturidade, € a VIO~ 108 numos pa enceagio wt séneia an naturena tornam a crianica capa de encie df vanimosiaade, de maldade ¢ miilti- cennecimento que tende para todas as coisas ume fore goes), Deverse-e cOnsiderar essa onnestno tempo, pelo instinto natural da in~ pitiigade do espirito um, fator inestimavel Rigencia.CA atmosfera mental da adolescén- amtaicede fg etapas da. eduicacdo, Mesmo de teller rcer a da verdade a ser abracada no um _pontde te a eristetiOes 2 eee ia deve ‘primeira deecoberta, A verdade 6 a um pontedevgravidade misteriosa e expec: ardor da Dora que. a eaucaggo €a Juren- tante da crianga e suas capacidades para a {ore peg egsencialmente, — a verdade vida espiritual negligenciadas ou espezinha- mais do que @ erudicéo ou o conhecimento fas peles adultos, ou em conseqiiéneia de al- mais do Go°ai mesmo, — a verdade que pe- frum preconceito positivsta, out porque acham reflexive ft yalidade das coisas ¢ delds se que é seu dever, quando delas se ocupam, ser Jetiiere, mais do que a verdade objetivamente rE Spoesa a que visa cada uma das cléncias. Es- eee agus em presenca de um jmpulso natu- rate jstintivo para alguma yerdade que ude _ Sbraga e nos comunica todos os segredos 2 — AS HOMANIDADES aoisas, Impulso que deve ser formado pouco a ; wueo a yeflexdo critica, mas que comparamos, Teer Pics dé tude, cdm a tendeneia des primeiros pensadores da antiga Grécia para um mundo “0 universo do adolescente representa um erate indiferenciado de ciéncia, sabedoria e poesia. estado de transi¢éo para 0 universo do ho- mem. A capacidade de julgar e o vigor inte- © senso comum e a faculdade de penetracéo -lectual esto se desenvolvendo, mas néo fo- espontanea da viséo natural da inteligéncia e ram ainda realmente adquiridos. Tal universo do raciocinio natural, no ainda técnicamen- - ansioso e mutével evolui sob a ordem dos im- te formado, constituem a unidade dinamica pulsos e das tendéncias naturais da inteli- do universo de pensamento do adolescente, an- géncia — de uma inteligéncia que nao possui tes que a sabedoria possa realizar no homem uma unidade mais estavel. Assim como a ima- ginacio constituia o eéu mental da infancia, assim também, agora, a razdo natural que vai Surgindo com seu frescor e audacia, com suas ainda a maturidade e a forca devidas a essas poderosas atividades internas que sao as cién- cias, as artes e a sabedoria, mas que é fresca, ~ penetrante, avida de julgar sdbre todas as cok prinel a s Sas, confiante ¢ exigente ao mesmo tem6 Sa eet = famini visdo intuitiva, O conhecimes adclesces e que se deve desenvolver no adolescente ¢ 4 =, finpulso natSeaPaue dove ta conser &m um tipo particular e que, éle todo, apela par? beneficio da educacéo, ao mesmo tempo que 0s podéres"é para os dons naturals do espitit estimulando e disciplinando a raza0. 108 numos pa enceagio wt séneia an naturena tornam a crianica capa de encie df vanimosiaade, de maldade ¢ miilti- cennecimento que tende para todas as coisas ume fore goes), Deverse-e cOnsiderar essa onnestno tempo, pelo instinto natural da in~ pitiigade do espirito um, fator inestimavel Rigencia.CA atmosfera mental da adolescén- amtaicede fg etapas da. eduicacdo, Mesmo de teller rcer a da verdade a ser abracada no um _pontde te a eristetiOes 2 eee ia deve ‘primeira deecoberta, A verdade 6 a um pontedevgravidade misteriosa e expec: ardor da Dora que. a eaucaggo €a Juren- tante da crianga e suas capacidades para a {ore peg egsencialmente, — a verdade vida espiritual negligenciadas ou espezinha- mais do que @ erudicéo ou o conhecimento fas peles adultos, ou em conseqiiéneia de al- mais do Go°ai mesmo, — a verdade que pe- frum preconceito positivsta, out porque acham reflexive ft yalidade das coisas ¢ delds se que é seu dever, quando delas se ocupam, ser Jetiiere, mais do que a verdade objetivamente rE Spoesa a que visa cada uma das cléncias. Es- eee agus em presenca de um jmpulso natu- rate jstintivo para alguma yerdade que ude _ Sbraga e nos comunica todos os segredos 2 — AS HOMANIDADES aoisas, Impulso que deve ser formado pouco a ; wueo a yeflexdo critica, mas que comparamos, Teer Pics dé tude, cdm a tendeneia des primeiros pensadores da antiga Grécia para um mundo “0 universo do adolescente representa um erate indiferenciado de ciéncia, sabedoria e poesia. estado de transi¢éo para 0 universo do ho- mem. A capacidade de julgar e o vigor inte- © senso comum e a faculdade de penetracéo -lectual esto se desenvolvendo, mas néo fo- espontanea da viséo natural da inteligéncia e ram ainda realmente adquiridos. Tal universo do raciocinio natural, no ainda técnicamen- - ansioso e mutével evolui sob a ordem dos im- te formado, constituem a unidade dinamica pulsos e das tendéncias naturais da inteli- do universo de pensamento do adolescente, an- géncia — de uma inteligéncia que nao possui tes que a sabedoria possa realizar no homem uma unidade mais estavel. Assim como a ima- ginacio constituia o eéu mental da infancia, assim também, agora, a razdo natural que vai Surgindo com seu frescor e audacia, com suas ainda a maturidade e a forca devidas a essas poderosas atividades internas que sao as cién- cias, as artes e a sabedoria, mas que é fresca, ~ penetrante, avida de julgar sdbre todas as cok prinel a s Sas, confiante ¢ exigente ao mesmo tem6 Sa eet = famini visdo intuitiva, O conhecimes adclesces e que se deve desenvolver no adolescente ¢ 4 =, finpulso natSeaPaue dove ta conser &m um tipo particular e que, éle todo, apela par? beneficio da educacéo, ao mesmo tempo que 0s podéres"é para os dons naturals do espitit estimulando e disciplinando a raza0. 108 sacguiis MARITAIN a 5 deveriam is sio as consideragdes que deveri Tas Gqueadores da juventude no perfodo jar 05 suk importante e dificil de sua tarefa, que Tasste em determinar 0 modo segundo o ‘os instrumentos do pensamepto e as UR Hiberais devem ser ensinadosLA quali- Gade do modo ou do estilo do ensino é de eitto maior importineia do que a quantidade Gas coisas ensinadas, “Ela constitui a alma ‘mesma do ensino, ‘preserva sua unidade e 0 toma vivo e alegre. Se buscamos caracteri- zar 0 objetivo geral da instrucdo no perfodo das humanidades ou da educacio do colégio (college), poderiamos dizer que ésse objetivo € menos @ aquisiedo da ciéncia ou da arte do gue a apreensio de seu significado e a com- preensio da verdade ou da beleza que trans- mitem, Trata-se menos de participar da ati- vidade mesma do sébio ou do poeta, do que se nutrir intelectualmente dos resultados de seus esforcas. Menos ainda, de desenvolver sua pré- pria habilidade mental e seu proprio gosto, & maneira de um diletante, adquirindo uma no- figeeuherlcal dos processes artisticos e clen- ou vias e meios da gramatica, da Jégica ¢,d2 metodologia do artista e do sabio, 0 fos esta conte aficacdo de uma ciéncia ot arte gue cinlido na verdade-ou na beleza especifica gue las nos ‘oferecem/O objetivo da educacéo vertiade ou esta dlventude apreenda essa naturals do sos beleza pela gapacidade e dons ral Sgntuitiva de sua razio animada por todo cional, SY enim. Sendo, uma educagio liberal 'géncia natural do adolescente noMos pa EDveAGKo 9 nos tracos das virtudes intelectuais inda nao possui e que sio o mérito que nente do sébio e do artista verdadeiros. A crndigao pratica para tudo isso é muito mais cofprear-se por penetrar tdo profundamente quanto possivel nas grandes realizacoes do Spirit humano, do que aspirar a uma eru- Sitgo materiale memorizacio atomizada. Digamos, pois, que o adolescente deve apren- sche gonhecer miisica, muito mais para com- preender sua significagao do que para ser um Fompositor em perspectiva. E Eisica, mais para compreender 0 sentido gela, do que para Ser um fisico. Déste modo, a educacgo do ciclo golegial pode manter seu carater neces- sario de universalidade compreensiva, @, 20 - mesmo tempo, exercitar e cultivar a mente téda, que se torna disponivel e animada para as futuras tarefas do homem. avancat que éle aii © cardter universal da educagéo libera: Numa ordem social baseada na dignidade do homem, a educacio do ciclo colegial, edu- cacdo liberal! deveria ser dada a te maneira a completar a preparagdo dos jovens 1 “J& que a educacio liberal é a que capacite 9 homem a pensar tio bem quanto o,permiter suas fecaldades' naturals, por definicao € apropriada & todos os homens. Nao és para os Ficos, nem para a elite intelectual,» Uma. sociedade livre ue Festringe a um pegueno erapo de ses cidadies, ¢ ne perigo de sua sobrevivéncia.” 5: ar Heport of the President, juho de, 1942, St. Joh College ‘Annapolis, Maryland, p. 14. " \ | que entrom na Haade aduttal Introd amie Snag nese dominio é ima ay 14 ede dh juventuAde, De fAt0, » joven ia 40 mpor si propslo SUA especialidade's scone nia sua formacao profissional, eien, presen tecnica tanto mais répida e perter, itis fe quanto mais sua educacio tiver sty _ijural e universal. A juventude deve sr Uerega nas aries Uberais a fim de mele ENpreparar para o trabalho e as diversiee jumanas. Mas uma especializacdo premature, mata uma tal educacdo! eon sem duivida, uma certa Jatizagd deve ectabelecer se. progtessivamente quate o adolescente, tendo terminado seus ‘studs Giementares € adiantando-se na edticacao co. legial, toma gradual Saran " gradualmente as dimensoes de um homem, Mas esta espécie de especializa- céo é simplesmente aquéla que é escolhida _ 1 Visto que para viver hem, © mesmo part £ aar a vida, é mecessario que o homem pense, a = vt 9 liberal & a preparagéo bisica para a vida ‘nas e um trabalho que exige o tempo todo do aluno € que nao pode ser convenientemente realizado por instituicdes que se proponham a dar, ao mesmo tempo, uma instrucdo profissional e aquilo que, s° comprazem em chamar de conhecimentos “Pritt cos”. Esta espécie de conhecimento pode ser Tani damente adquirida, ow no trabalho ou numa, escolt profissional de extensdo universitaria, pelo, hore’ ‘tie aprenden a pensar. Pelos outros, ela ndo Pose” Taser adquirida senao de maneira dificil ¢ imsde, tiiada, 0 prego que a sociedade contemporipe pagou, por ter omitido essa educacao niimero sempre crescente de especial exercitados que sao homens fundame efucedos sem aptiddo para as multiples bilidades da exigéncia.” Ibidem. asia, sistas ltt intalment® responsi nuwos pa Eneereko im e

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