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O que personalidades tio sobre whi = 3097 A enxada ¢ a langa é *um daqueles livros que j nascem este livro £ classicos, no sentido de que, situando-se no plano das grandes obras universais, conquistam desde logo um lugar permanente ¢ definitive em qualquer biblioteca de cultura*. Wilson Martins “Estudo sem paralelo em lingua portuguesa.” Fale Irossard “A enxada ea lana honra ¢ entiquece nossa precéria con- tribuigao ao saber histérico.” Haula Francis “O livro mais importante que li na vida.” tissin Laveia “Nunca mais seremos a mesma pessoa depois de ler esse livro-monumento.” fielto Gunyal “Uma biblia da terra.” lgostinho ti isan sil 4 i 78 Alberto da Costa e Silva A EMAADA EALANCA A AFRICA ANTES ODS PORTUGUESES | Alberto da Costa e Silva H EAARDA EALANCA A AFRICA RATES ODS PORTUGUESES 3° EDIGAO, REVISTA E AMPLIADA A Nova RONTEIRA © ty Albeo Vaeconcello i Cot Dinits de dio da cre em lng pomages aude Prono SA, Tororo dios ree det ca poder pep crc dedidsou pr edi lenin, de foacpi, See Neon p Bis eae sh (2) BISECIIT ~ Pe (21) 2286-4755 Ieee ul sa@noraleontin come DOACGAO 96 s586e Bed. smL Sinan Nasional dos ores de Lis RJ S878 Sia, Alben da Cos ¢ Siva «ac eit pds 26 1. Ati SubSrr - Hina = Até 1500 2, Bc ag 223097 Ao Pedro Miguel Sursrio Um poema de Agostinho da Silva em louvor deste liro: Preficio a I" edigio eee cchann A préchistéria Querma Napata e Méroe Nok Axum A expansio banta (Os reinos cristios da Nubia, Gana Exigpia, a Alea Mali 3s licorais do fndico. Ao redor do lago Chade A regito dos Grancles Lagos 15. Zimbabué 16. Os haugis Ife 18, Igbo-Ukwa 19, No alto rio Lualaba 20, No baixo Zaire e nos planaltos de Angola 21, O cavalo e a canon: os mosis e os songais. 22. Benim: 23. Os reinos do Torubo. 24, O reino ctistio da Exiopia. 1300 Posficio a2 edisao Posficio 5 3° edisfo Bibliografia Lista de mapas e ilustragdies Um poema de Agostinbo da Silva em louvor deste livro A onsada ea lange ode breve a livro de Embaixador aque nunca larga 0 Poeta que de Deus Ihe foi favor nos diz nele Costa e Silva como era Africa em geral antes de ali se ter dado chegada de Porrugal toda a histéria sabe geografia palmo a palmo com saber apaixonado a0 mesmo cempo que calmo mas 0 que mais the louvamos ao livro de bom narrar €6 principal intento {que permite formular para termos definido © que o Brasil nos vai ser como faisca do mundo que do nosso vai nascer 12S Amsade ¢ lana pelo toque brasileiro ‘ode dfdiva e de amor 1 de alegria na vida ¢ de divino esplendor em que crianga em nés mande em que inteiraliberdade por milagre de subir nos faga ser a verdade ado livro que iri Iendo com fervor e com carinho como srma biblia da cera 0 sex amigo Agostinho, Preficio a 1 edigao Gp sal ited emer rere eh mento da Africa. Por isso, este volume nao contém, se tanto, uma dezena de ee cee eee smos em tans ourras. De repente, I estava eu a falar de lubas ¢ lundas, de ambundos ¢ ovimbundos, de congos e quiocos,e de suas sao € 0 desbordamento que puna em rudo: que eu escondia saber aquelas coisas, que ahaa obriggao de nfo yualirk passim, de pola no papel de contrbuir para disoverajgosinca que no Brasil se tnka da Aca, ainda Aewxade ea lange freqlente a natrativa ¢ nela se imiseua, é porque & também importante con- tar, 20 lado do que se julga ter realmente sueedido, as imaginagSes que se fizeram fatose os fatos que se vestiram de imaginario, porque se incorpora- ram 20 que um povo tem por origem erastro,e, por isso, 0 marcam, define « distinguem. Orania, Xang@, Tsoede, Cibinda Iunga aparecem como pet- sonagens neste livro de histéria porque pertencem iniludivelmente a realida- de dos iorubés, dos nupes e dos funds e quiocos. Eles estio aqui como Enéias e sua viagem de Tréia 20 Lécio, « como Réia Silvia, a loba, Rémulo Remo, nos compéndios sobre histria romana, cujos autores os sabem ‘mitos, mas nio ignoram que fecundaram um destin. A cescassez ea fragilidade dos dados com que se busca descortinar © passado africano impdem uma prosa entremeada por advérbios de divide. Hipdteses de maior ou menor duragio véem-se contrariadas ou suplantadas pot ourras, para de novo voltarem, ligeiramente diferentes, & flor das Sguas, outta vez submergirem. A imprecisio dos testemuhos ea volubilidade das suposigBes agusam o interesse¢ 0 sono, e nfo apenas naqueles, como Henry Adams, para quem os fatos sio falsos, quando contradizem 0 que sopra a beleza, Se é vetdade que toda narraiva histrica é uma aproximagio hipoté- tica de acontecimentos que 0 autor nfo viveu — o papel escrito, embora parega neutro, & quase sempre parcial e, como as tradigdes que a meméria coletiva guarda e adulera, cambém mente, dissimula calae ude, além de set lido de modo distinto de geragio em geragio —, esse relativismo se acres- cena, a0 trarar-se da Africa, pis os menos obscuros dos testemunhos de sua antiguidade sio os objetos ¢ as imagens de cerimica, bronze, lato, madeira ‘ou pedra, a indicarem o alto nivel de mesteia técnica ea agudleza de sensibi- lidade e inteligencia que Ihes deu origem. [Ni faltars, por isso, quem estranhe tantas notas com indicagbes de fontes, neste volume de yaticinios sobre o pasado. Quis deixar claro onde 0s colhi, embora sem abusar cas referénciase registrando, em geral, somente tam dos autores de quem recebi a informagio, Evito, assim, que se tome por fantasia minha o resultado de investigagies € conjecturas de outros e Ihes tendo reconhecimento ¢ homenagem, além de estender wm convite & leitura de seus eabalhos. Nas notas de pé de pagina, 0 letor esbarrari com antropénimos, ‘opdnimos ¢ etnénimos com grafias distintas das que figuram em meu texto Bacrero para a tee eens de Ugh pewetignene, Binatial tants, que sign a repea vernécula e aportuguese, se possvel, as palavras. Isto sucede _quase sempre com os nomes das personagens histbrieas ou lendirias: ortografo Troazié em vez de Toha Zie ou Tohajiye, Quisra por Kisea, Piangui no lugar de Piankhy, porque escrevo Fidias, Catio ¢ Carlos Magno. Conservo, po- Pacis dU algo 17 rém, Ibn Khaldun, por ser esta a grafia habitual, ea maior parte dos nomes frabes, uma ver que formas como Muhamed, Abdul, Ibrahim, Malik ou Hussain sio correntes em textos em idioma portugués. Ponho Gana, Songai Zimbabué e nfo Ghana, Songhay ¢ Zimbabwe, Cartum endo Khartoum, pel mesma razdo que Inglaterra em vez de England, e Bordéus no lugar de Bordeaux. Mas mantenho Kano, como uso Kentucky ¢ Ohio, ¢ também Sanje ya Kati, Bab-el-Mandeb, Ekiti, Bahe-el-Ghazal e Uitkmost, no s6 porque jamais ganharam — 20 contrisio de Quiloa, Queto, Mogadixo © Tombuct — grafia portuguesa, mas também para evitar que nesta fiquem dificikmence reconheciveis. Prefiro Oi6 a Ayot, Eyo, Ayaux, Ailleau, Aillot cu outta feigio que tome 0 topénimo que figura nos mapas modernos da Nigéria como Oyo. Ponho iorubé e nto Yoruba, ibo e nfo Igbo, xona nfo Shona. E uso jalofo, que tem bom foro no portugués desde 0 Quinhentos, deixando de lado Wolof, Ouolof ou Uolofo. Dos antropSnimos ¢ etnénimos, dow em noras algumas das variantes mais comuns ‘Minhas hestagdes na graffa de ceros nomes — sobretudo quando ha deles, no nosso idioma, virias formas, como aug, auya, hauga, hauss, hatissa, haussé ¢ ussé — somaram-se a repetidas mudangas no texto, em busca de concisio e clareza, para dar ainda maior trabalho a Alayr Furtado Os6rio, Maria d’Aguiar Amorim e Maria da Graga Candeias da Gama, que repetida- mente 0 datlogralaram. Agradegocthes 0 cuidado © 0 carinho com que aju- dara a preparar estas paginas para 2 impressio. E também a Octivio de Andrade Queiroz Neto, meu sobrinho, pelos mapas que desenhou para 0 volume, Anda que os mapas mastrem alguma vez a toiidade da Africa € indiquemn reas e lugares 50 norte co Sara, ese livro se restringe 4 parte negra do continente e aos povos que viviam ao sul do grande deserto. N3o que nogue a importincia findamental que cave 0 Egito no desenvolvimento clas culturas nibias, nem a influéneia do Magrebe e da Libia na expansio do islanisiio © de novos 1uodelus politivus wo Sael ea savana sudaneaa, mas histétia dos egipcios,libios e berberes, das coldnias fenicias, grepas e roma- nas, e dos érabes e arabizados pertence a um outro universe: 0 do Mediter sfineo, Para os povos do norte da Afvica, as paisagens além do Saara ea oeste ddo mar Vermelho sempre estiveram clstantes esempre foram exétieas. Como alistantes © exoticas para os brasletos, a0 interromper-se, no fim do século XIX, 0 demorado convivio com a outra margem do Atfintico, se foram tomando as ters de tantos de seus avés, enroupadas de preconceto, infi- iia e remorso. E de saudade e mit. Lisboa, em 29 de marco de 1990. A paisagem eo bomen Affica é wm continente macico. As linhas de seu contomo sio simples «¢ precisas. Desenham um litoral sem grandes reentrancias ou salitn- cias, quase sem golfos, baias, peninsulas, o pontas estreitas. Ao norte, 0 golfo de Gabés ¢ 0 golfo de Sidra ou Sites; 20 sul, as baias de Delagoa, Walfish ¢ Mossel; no golfo da Guiné, 0s golfos do Benim Biafra; junto a Gibraltas, o cabo Sparte; frente As Canrias, 0 cabo Jubi; na Mautitinia, 0 ‘eabo Branco; no Senegal, o cabo Verde; ao sul do continente, os cabos da Bon Esperanga e das Agulhas; no extremo da peninsula da Somilia, 0 cabo Guardafai © Mediterrineo, Mesmo a parte mais acidentada, a que se volta p nio se compara as margens européia e asiética daquele mar. A concisio da costa norte-africana contrasta com a complexidade ¢ a exuberncia dos lito- rais mediterinios da Europa da Asi, ase agtarem e fragmentarem,net- ‘vos0s, sobre © mapa, enguanto, na margem sul, hi uina aspirasio de simpli- cidade eepouso. Algae, pour ill stumpastan » tage nitido do contorno af «ano, ou dele se distanciam: os arquipélagos da Madeira, das Candis e do Cabo Verde, Femando P6, Si0 Tomé, Priacps, Anobom, Santa Helena, Reunido, as Mascarenhas, as Seychelles, Mafia, Zanzibar, Pemba, Socotor ¢, maior de rods, quase um continente, Madagiscar. No muita, portant, a acentuar a austncia de recortes no licoral. A muaioria, de origem vulcinica Madagésear, Sacotori e mais algumas, prolongumentos do continent, Pouico acima do equador, as massas dispSem-se a0 longo dos parale~ fos, enquanto, para baixo, se arrumam na diregio dos meridianos — que di a Africa uma conformasio equilibrada, pois avangam em sentidos distin tos dois blocos de superficies semelhantes. 20 A enxade ca lage ‘Mas nio & esta a divisto que mais importa no antigo continence de Gonduana, do qual se desprenderam, segundo Wegener, 3 Peninsula Arsbi- aa fia,» Austrilia eo Brasil. O que realmente fiz da Africa do £0 enorme deserto, a estender-se do Atlintico 30 mar Vermelho, dletenmina no continente diss reaidades: a meditersnica © a subssatiana, limite ene elas tem sido tragado a 22° de latitude norte, linha que atravessa Africas que zona mais nua ¢ inéspita do deserto. ‘A impressio de mole compacta confirma-se, 20 olhar-se 0 interior desse grande continente (30.259.752km?). E quase todo ele um escudo an- cel, um bloco planiltico coeso,s6 pereurbado pelas extensas falas tigo ees recxdnicas a cortélo de sul a norte, para os lados do fnlco. Essas fiararas profongam-se desde o lago Malsui (Malavi, ex-Niassa) até 0 mar Mort, passando pela Etidpia, pelo mar Vermetho e pelo rio Jordio. As linhas da falha ocidental podem ser acompanhadas pela série de lagos compridos € profundes — dos mais compridos ¢ profindos do mundo — que comesa ‘no Mali e termina no Alberto (ou Onekbonyo). A oriental, menos nicida ‘cana accdentada, descreve uma curva aberta,entee 0 meio do hago Maui ¢ © Turcana (ou Rodolfo Entre as dias fina de rani, eth 0 maior ago 0 Vitéria ou Nianza (68.100kn) Es sltina de fahasraxgao chamat teto da Aftic e conti para african dar ainda maior emogio a uma paisagem arrojada, na qual e sai da estreita planici costa do Indico — larga apenas na Somilia — pata 38 alturas dos es extintos de Kilimanjaro (5.895m) e Quénia (5201) dos mont o pico calminante, o Sranley, tem 5.122m); da floresta wopi- ~e eterna; ds desertos para os planaltos sobrelevads vale Ruvena6ri cal para os cumes de dda Exipia Dramaticamente dilacerados por fundas fraruras, os altos tabuleiros cetfopes sobem, a0 norte, a mais de 4.500m. A sudeste, ceeminam ‘mente num alto muro, A face ocidental, nfo to a pique, é mesmo assim am acsombro, © avito que vai de Adis Abeba a Carcum parcee vot baixo, poi brupta- permite & vista distinguir bosques e clareiras. De repente, porém, sem aviso, terra cai. Cai de enorme altura, 20 longo de paredes que parecem quase verticals. LA embaixo, muito embaixo, apenas se reconhecem agora © amare~ lado das savanas do Sudo e — um risco fino de lipis no papel — o Nilo Azul, com suas margens verdejantes Para o sul, prossegue o planalt, prosseguem as faa, Estas atingem, em certos pontos, arguras de oitenta quilémetros e passam de alguns pal: ‘mos de profundicade para muitas centenas de metros. No lago Tanganica, pot exemplo, a funclura méxima vai aos 1.435m. Em muitos trechos, pode- se Seguir a fimbria da fatha por vérias Kguas, pode-se acompanhar o claro A paisagem ¢0 mem 21 spuds poise ocnos dlesnivel das teras,rastrear sem dificuldade a parede de pedra nua, marco do deslizamenta de tim plano 20 outro Na parte mais ata dos planaltos, que ascendem para ost, estio os grandes lagos — Turcana (8.600km:), Alberto (5.400km:), Ruero ou Eduar- G Quivu (2.650km?), Vitra, Tanganica (32.893km?), Moero (4920km"), Maliui (30.800km!)— e os lagos menotes, alguns deles lite- ralmente cobertos de flamingos. ‘As terras vio baixanda, em sgraus, a diregio do Indico, mas conti- snuam clevadas para o sul, entre as bacias do Zaire e do Zambeze. Os altos ‘terragos, com rios em garganta e grandes quedas-d4gua — como as catara tas de Vit6ria—, s6 se abrandam entre o Save e o Limpopo, para novamen- te se erguerem, formando o vasto planalto meridional, limicado a les, sul e 22 Acnxada ea lange ‘este por virias cadcias de montanhas, entre as quais o Drakensberg. A bor- ds oriental do plana, a Grande Escarpa, abrupta eimponente, acompa- nha 0s ltoras indicos de toda a Affica do Sal. Do outro lado do canal de Mogambique, evanta-se a itha de Mada- giscar, a reproduzir a geografia da Aftica Oriental. lest, tiras estreitas de terras baixas, seguidas de altas escarpas. Do centro, cuja paisagem é em cudo semelhante & das montanhas do Burundi, descem pata oeste os planaltos, até se fazerem nas planicies junto 20 mar. ____ Em contraste com essa paisagem elogtiente, quase todo 0 resto da Aftica um chapadio monétono, de mil metros de altieuce média, com uma ou outra elevagio a destacar-se — 0 monte dos Camardes (4.070m), por cexemplo, estemunho de forte atividade vuleiniea. A enorme massa planiltica é dividida em amplas bacias, crcadas por montanhas ¢ elevagies dispostas em anfiteatr, cujas partes interas esto, portanto, deprimidas em relagio & ora: aco Saara Ocidental a do Nilo, do Chade, a do Zaire ox Congo, a da Aftica Meridional. As planicies cost em geral estreitas. Do lado do Atlintico, classe alargam no Senegal, na Gimbia e na Guiné-Bissau. Voltam a expan- dirse na Costa do Marfim e no leste de Gana, de onde se prolongain até ‘quase a fronteira dos Camardes. festa diltima uma io de ltorais baixos « imprecisos, cheios de bancos de aia, axecifes, restingas,lagunas ecanais ‘que se entrlagam. No delta do Niger, a planicie costeira cantina com o rio € 0 seu trbutirio, o Benue, até bem dentro do continente. Mais para o sul, toma a dilaar-se entre Duala ¢ Benguela De modo geral, transposta a faixa costeira, as terras comegam a subir para o planalto,¢ as cachociras ¢ corredeiras sucedenvse a poucos quiléme- tros da foz dos vios. Aqui ali, © planalto acaba no oceano — um planalto ‘que, no lado ocidental da Africa, s6 se alteia no Futa-Djalon, na regiio de Jos, nas montanhas cos CamarSes, em Angola, na Namibia e na extrema ‘nesidional do. continence. No Futa-Djalon, em ponto selacivamente préximo a0 Atlintico, nas ce o Niger. E segue, lento ¢ amplo, na diresio nordeste, para o interior do continente, que percorre em grande arco até langatse, muitos quilémetros 20 sul, no mesmo oceano junto ao qual surgiu. Em passado remoto, 0 chegava ao mar. Extinguia-se na depressio saariana do Araune, proxizns a Tombuctu, no que hoje se chama delta interior om delea moeco, inundado pelas Sguas do rio, no verio. Ali juntouw-s, por capeura ou transbordamento, outro curso d’égua, nascido perc, ¢ foi engrossar-Ihe a torrente na dites30 sudeste Ito explica o estranho comportamento do Niger, ao longo de sua vasta curva (4.1 60k) histria de seu caminhar faz-se ao invetso do anda- A puizagen ¢ 9 hoon 23 ‘mento dos demais ros de planalto — é largo ¢ vagaroso no curso superior © ripido no inferior ‘Mais 20 norte, 0 rio Senegal cumpre um dificil destino. Ao aproxi- smar-se do mat, perde-se em pancanos,alagadigos e bragos mortos. Como se isso no bastasse, encontra o delta hartado por cordio de dunasltorSneas,¢ +6 as logea romper gragas is enchentes que o reforgam. ‘Mais para oeste, os ris de drenagem interna da grande bacia do Chas ‘como 0 Chari e © Logone, levam para 0 grande lago as suas Aguas Raso, com dois metros de profundidiade média e seis metros nos pon tos miximos,o Chade estende-see contrai-se entre os 11,000 ¢ 05 25.000km® Sua volubilidade € aman, que se Teto pode alterar-se da noite para o dis uum largo trecho digua, que se atravessa de canoa, esvazia-se em poucas horas e se volta numa terra pantanoss, que comega em certos pontos a secar ea quebrarse Para a parte deprimida de outra grande bacia, entre 0 planalto de Darfur e as montanhas da Exipis, as Sguas afluem em abuneincia. Para ali dirigem-se, meindeieos, © Bahe-el-Ghazal, ou “rio das Gazelas”, vindo de teste, © Bahr-el-Gebel, ou Nilo da Montanha, proveniente dos altos lagos de Alberto e Vitéria, ¢ 0 Baht-cl-Azrak, ou Nilo Azul, descido da Eti6pia primeiro juntasse 20 segundo para formarem © Nilo Branco, e este Vai ligarse ao terceiro, a0 norte de Cartum, Por algum tempo, ento, a Sguas do Nilo cortem divididas 20 meio, tal como ocorre, no Amazonas, apis a jimgio do Negro com o Solimées: de um lado, as ignas cinzentas do Nilo Branco; do outro, as esverdeadas do Nilo Azul — até que as correntes se confundem. Na parte mais baixa dessa érea de convergénecia de Sguas, ali onde os formadores do Nilo Branco pesdem metade de seus volumes, nada parece fixo. © Sud — como é chanmada — revela-se um verdadero labirinto de canis, agos, charcos, onde o que parece terra pode ser na realidade vegeta- 0 Alunantc, © io densa, que bloqucia por vezes o2 caminhoo der Sguac. Sua als, quer dizer barragem. De todos os lados, véem-se massas ¢ masses ‘espessas de papiros, canigos ¢ outras plantas aquiticas, por entre as quais 38 com dificuldade logram passar as canoas. No entanto, proximo a essas guas abundances esto deserto, com os tabulcitos de peda e cascalho, as dunas, os relevos erodidos ea escassa vegetagio espinhenta. Mas nio é o Nilo, com seus 6.670km de extensio, 0 eixo do maior sistema fluvial da Aftica, ¢ sim o Zaite ou Congo. A bacia do Zaite (3.700,000km2) 56 é inferior &s do Amazonas e do Parand-Paraguai. Ester de-se desde as montanhas e lags da regio das grandes falhas ocidentai até «© Adlintco, do Bahr-c-Ghazal, no nordeste, a0 planalto de Angola, no sul 24 A ema ea lange © centro da enorme bacia€ plano, com cerca de trezentos metros de altitude iéia, Nas suas bordas em anfiteatro, as terasclevamese para [.000 ou 1 200m, © Zaire © seus afluentes ¢ formadores — 0 Lualabs, o Ubangui 0 Cassi, ¢ Cuango, 0 Lulua — sio rios largos, com enorme volume de Agua, afeitos 3s inundasies. Em toda a vasa regito por eles drenads, os pantanas, 6 alagadigos, os lagos e as lagoas tornam a 4gua ainda mais presente no conjunto da paisagem. ‘A parte mais deprimida da bacia ests logo aps as quedas-d’igua de Stanley. Dali, 0 rio caminha lentamente até o Stanley (out Malebo) Pool, onde pira, antes de cortar a orla ocidental do anfiteatro. Seu pereurso seri doravante tumultuado, pois se contam 32 cortedeitas até 0 langar-se no Atfintico, por umm dos poucos estuirios africanos. (Os outros estuirios importantes s30 os do Gambia e do Gebs. Quase todos os demais rios desiguam no oceano através de deltas ou de diffceis bancos de secimentos. Uns drenam bacias extensss, como © Zambeze, que vem dos planaltos de Angola e da Zambia e corta pela metade Mosambique ‘Ou como 0 Orange, de que &afluente 0 Vaal: parte das montanhas da Affica cdo Sul, nas vizinhangas do indico, para dersamar-se no Atlintico, Outros rios sio bem menores: 0 Volta, em Gana; Ogué, no Gabi; 0 Cuanza ¢ 0 ‘Canene, em Angola; 0 Limpopo, em Mogambique. Muitos s20 os que des ‘em, curtos, das montanhas para a costa: 0 Tana, no Quénia; 0 Rovuma, na fronteira entre a Tanzfnia € Mogambique; 0 Save Também no que diz respeito 20 clima, sio as grandes clevagBes € 38 falhas tectdnicas da Africa Oriental que introcuzem 38 maiores excegBes swum esquema de relatva simplicidade A forma compacta da Africa ¢ seu prolongamento desde acima do trépico de Cancer até abaixo do tr6pico de Capricémio fizem com que seu clima se caracterize pela continentalidade ¢ pela tropicalidade. A Afvica & basicamente tropical. So as latiudes que nos informam sobre a temperatura cea plaviusidade, puslendu dizer-se qu, im aon pate da Altay 0 Gastar snento da nha equatorial se traduz num abrandamento ca temperatura eno aumento da duragio do perfodo de seca. Vai-se, praticamente numa suces- 10 de faixas climaticas a se ordenarem pelos paralelos, do clima equatorial timido a0 clima temperado do tipo mediterrinico do extremo sul do conti- niente, Por outro lado, a amplitude de temperatura ea inconstincia das chu- ‘as aumentam quanto mais 0 visjante se distancia de oceano e caminha para o centro da Africa Proximo a linha do eq intero, os céus tém nuvens. dor, 0 clima é quente etimido. Durante 0 ano hi més em que ni vezes violentas, as chuvas. Em grande parte da Repiiblica Democtitica do caiam, grossas e muitas A prisagen ¢0 bomen 25 Congo, do Congo-Brazzaville, do GabZo, da Guiné Equatorial, dos Cama- r5es ¢ do sul da Nigéria, o indice pluviométrico é superior a um metro por ano, No monte dos Camares, anotam-se dez metros de chuvas anuais. Por toda pare, as temperaturas so altas © pouco variam. Esse tipo de clima repete-se mais 20 norte, no, golfo da Guiné, para conde os ventos que sopram do sul levam grande volume de umidade, De Bissau até Gana, nas regides proximas ao litoral, as chuvas sio abundances, ¢ pequenas as variagfes de calor, abrandado, porém, pelas frescas brisas do rmar. A estas seca reduz-se a trés ou quatro meses, ¢ em seu inicio situa-se © auge do calor. O harmati fri, & noite sopra do deseo resent. E quent, dedi, © Fi.o resto do litoral, dese 0 oeste de Gana até as proximidades de Lagos, aa Nigéris, apresenta outeas caracteristicas. Sem relevo que detenha as mongGes timidas, sobre ele decresce a pluviosidade, Estamos diante, nessa rea, do elima tropical sudanés, eujo dominio se alongs, para o interior, até 0 sul da Repiiblica do Sudo, ¢ para o norte, até uma linha ondulante que term por referencia 0 paralelo de Dacar Ao atl do equador, 0 elima tropical reaparece nas costas do Congo- Brazzaville e toma a porgio média da bacia do Zaire até 0 inicio dos planal- tos de Angola e do Catanga ou Chaba. Do lado do {ndico, ressurge no sudeste da Tanzinia, na maior parte de Mogambique ¢ no noroeste ¢ centro cde Madagascar, Ei todas a8 regibes dominadas pelo clima tropical hi uma estagio seeae outrachavasa. Daeante a épaca das chavas, nada as distingue d dle cima equatoriak: as mesmas nuvens, as mesmas pancadas gus, a mesma uumidade, © mesmo crescimento lasuriante da vogetasio. © periodo seco & Pporém, muita ntido © aumenta a medida que se galgam os paralelos e se ninha pata o interiot. No sul do Senegal e do Mali, em Bucquina Faso (exalto Volta), no serio da Guiné-Conaeri, no norte da Costa do Marfim sn Garis, 0 Toyo, ost Replica do Benny season parte da Nigéia, nas srcassctentriomais dos CamarBes e na Repibliea Centro-AMficana, sopra 0 hharmatl. Nos htomis, tanto atlanticos quanto indices, as brisas moderam 2s temperatura, que se clevam no fim da estagio seca. A noite, pode fazer fio nos grandes chapadées do interior. ‘Com o afastamento da linha equatorial, aumenta a duragao da seca. A austncia de chuvas chega a see de oito a nove meses, na longa faixa que vai de Dacar, no Adiatico, a Massaua, no mar Vermelho. Em alguns pemntos, nfo chove nunca, Em outros, h permanente incerteza sobre o advento da esta- fo chuvosa. Quanto maior é 0 tamanho do petiodo seco, maiores slo a itregulatidade ca inconstincia das chuvas. E mais ampla a possibilidade de

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