You are on page 1of 59
TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA 0S DESVIOS FONOLOGICOS Helena Bolli Mota 30 em Fonoauiologa da UFSH Dislirbos da Commicagao Humana da UPS esquisadora do Cig e da FAPERGS REVINTER Terapia Fonoaudiolégica para os Desvios Fonolégicos Copyright © 2001 by Livraria e Bditora RevinteR Ltda, Todos os direitos reservados. 1 expressamente proibida a reprodugdo deste ivro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o consentimento por escrito da Editora, ISBN 85-7309-462-1 A preciso das indicagdes, as reagdes adversas e as relagbes de dosagem para as drogas citadas neste livro podem sofrer al- teragies, Solicitamos ao leitor que reveja a farmacologia dos medica- mentos mencionados. Envidamos todos os esforgos para nos mantermos figis a0 mate- rial recebido, Caso, inadvertidamente, tenha havido alguma omissio, faremos os ajustes necessérios, de bom grado, na pri- ‘meira oportunidade Livraria e Editora RevinteR Ltda, |ttp://www.revinter.com.br INTRODUGAO ‘gica na avaliagio e terapia das as abordagens puramente fonémicas que enfi diferentes posigdes na pala pois de uma variedade de o' considera esses problemas como bi € que adota, como unidade de corregao, 0 som isolado. Ocone, eutica, is vezes, nfo leva ‘tempo para que os mes icam-se casos de criangas que, apés passa- ipo recebendo atendimento fonoaudiolégi- ‘mos sejam alcangados. Ve rem um longo periodo de 0, io capazes de produzit que apresentava problemas, mas no conseguem incorporar esses sons corretos em sua linguagem espontiinea. A partir de meados da década de 70, no entanto, a literatura especia~ lizada trouxe como proposta uma visio diferente dos transtornos de fala, buscando na fonologia uma explicagao para alguns desses proble- mas, Um marco dessa mudanga foi a publicacio de Ingram (1976) que sugeria um enfoque um pouco diferente: aquilo que antes era visto sem- pre como um transtomo de articulagao, passou a ter uma outra possivel interpretacao, ou seja, a ser visto como um problema fonologico, isto é, ‘um problema ao nivel da organizagao mental do sistema de sons da ‘gua. Essas mudangas tiveram repercussdes nas formas de avaliagio tratamento das alteragdes de fala. Linglistas fonoaudi6logos comega- ram a trabalhar em conjunto com o objetivo de desenvolver novas abor- dagens para avaliar as desordens de fala e de aplicar essas abordagens analiticas como base para a elaboracao de planos terapéuticos, todos eles com suporte tedrico na fonologia, 0 objetivo deste livro ¢ o de apresentar alguns dos principais mo- delos de terapia de fala com base fonoldgica, dando énfase para aqueles {que j foram aplicados no Brasil. No Capitulo 1 abordamos os desvios fonolégicos com um breve historico e sua caracterizacio. O Capitulo 2 traz informagdes sobre a avaliagio e a descrigo dos desvios fonolégi- cos. O Capitulo 3 apresenta as bases de qualquer terapia fonolégica. No Capitulo 4 sao descritos diferentes modelos de tratamento com base fo- nolégica com a aplicagdo pritica de alguns deles. No Capitulo 5 apre- sentamos algumas consideragdes finais e as implicagdes deste tema pa- ra a pritica fonoaudiolégica. SUMARIO Capitulo 1 05 DESVIOS FONOLOGICOS 6... veces vee eens Lt Capitulo 2 AYAMIAGAO E DESCRIGA DOS DEEVIOS FONOLESICOS. . «+ v7 Capitulo 3 TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS. 25 ule 4 NODELOS DE TERAPIA FONOLOGICA, vee verso ess . 4 Capitulo 5 CONSIDERAGOES FINAIS 66sec nebo c eee ees snes 99 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS INDICE REMISSIVO Foo vee eee 107 SODDOTONOY SOIASIC SO V¥d | VOIDOTOIGAVONON Vid VHAL AAAS 8:1 RESIS) RR ROE AY) OS DESVIOS FONOLOGICOS HISTORICO Parte da tarefa de adquirit uma lingua envolve o aprendizado de quais so 0s sons usados e como esses sons so organizados. A maioria das criangas executa essa tarefa sem dificuldades e por volta dos 5 anos 48 produz.os sons da lingua ambiente adequadam aiiéncias permitidas. No entanto, ha uma signific obstaculo a vencer. Existem diferentes grupos de criangas que apresentam nos sons da fala, Entre eles, ctiangas com deficiéncia m ciéncia auditiva, com les6es focais no cérebro, com autismo, com le- s8es orginicas nos drgios fonoarticulatorios. No entanto, hé também criangas cujos problemas de fala no esto associados a nenhuma des- is de problemas ne sm o foco central deste pregavam o termo “desordem artic: = aos problemas dessas criangas. No feria-se apenas ao fato de que a causa da di fala era desco- nhecida. Entretanto, muitos dos estudos iniciais supunham que o déficit ‘era devido a um aprendizado defeituoso dos gestos articulatorios. Esses estudos consideravam as limitagdes motoras ¢ perceptuais como causas 1 2_TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS do problema. Porém, supunham que uma vez que a crianga atin- zgisse 0 ponto de maturago, no qual os sons poderiam ser produzidos fem sua forma adulta, os erros persistiriam em razio dos habitos que a crianca tinha formado. ‘Até meados dos anos 70, a maioria dos terapeutas da linguagem considerava a fala com desvios como o resultado de diferengas entre sons isolados em vez de diferencas fonolégicas. Em nomenclatura fo- izica, esses desvios eram chamados de “ cae fonologia é m 08 DESVIOS FONOLOGICOS 3 som tenha sido usado em chave mas niio em saia indica que a organiza s%o do sistema de sons da crianga néo é apropriada. Leonard (1995) ressalta o fato de que, na linguagem de ct com dificldades de fala, 0s erros de omissa0 e de substituigao so tomas freqiientes do que os erros que constituem di faca uma distingdo tebrica fundamental entre andlise fonética e andlise ise fonética chega-se a uma descrigao deta- sticas e articulatdrias da fala por Tal descrigio proporciona infor- idades, 0 potencial eas restrigdes do ‘mecanismo de produgdo de fala da crianga. Porém, esse tipo de descri- sao nfo traz nenhuma informagio de “como” esses recursos fonéticos esto sendo utilizados na comunicagiio através da linguagem falada. A |» fonologia descreve a organizagao e as fungdes dos recursos fonéticos da fala, Uma andlise fonoldgica da fala de uma crianga com desordem & aquela que proporciona, portanto, uma deseri¢ao dos padrdes de pro- rincia usados na linguagem € a desordem. Assim, a andlise fono! mnais dos padrdes de prontincia com desvios que se manifestam na marcagio das diferencas de sons necessérias para comuni- igdes de significado, 1985), no entanto, uma distingo bindria entre fonéti- simplista € ndo serve como modelo de produgdo le fala, nem como base para identificar os componentes envolvidos no lesenvolvimento e nos desvios de proniincia. O autor propde um mode- fo composto de trés componentes: A fonologia, que & 0 mai ais, no qual as palavras sua representacao fon imagem estocada de seus constituintes fonolégicos — é o nivel cognitivo. A fonttica, que 60 estigio intermedirio, no qual os constituintes fo- ieos silo convertidos em seqiéncias de movimentos para a pro- envolve, portanto, selego, ordenamento ¢ se- jienciagao de padrdes motores estocados — 6 0 nivel organizacio- nal do controle e coordena¢ao motores. 4. TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS ico, que 6 0 estigio periférico da produgto da fala, quando suladores produzem os movimentos que resultam nos sons da € 0 nivel observavel da producao da fala. Conforme Stoel-Gammon & Dunn (1985), “artic Ividos na producio da fa ‘mais amplo, é usado como um termo geral referindo-se a todos ‘9s aspectos do estudo dos sons da fala, incluindo a percepgio e a produ- ao da jm como os aspectos cognitivos motores da mesma. A. Iaioria dos trabalhos sobre o desenvolvimento fonolégico das criangas adota a definigio mais ampla de fonologia. Dessa forma, entende-se & aquisigdo articulatéria como parte do desenvolvimento fonolégico— a parte que envolve 0 dominio da habilidade motora para produzir corre tamente os sons e seqiiéncias de sons da linguagem adulta. Ao adqui 10s padres articulat6rios do adulto, a crianga deve aprender a controlar a corrente de ar proveniente dos pulmdes ao passar através da laringe a fim de produzir sons sonoros e surdos; a abertura ¢ 0 fechamento da ve- faringe para produzir sons orais e nasais, © os movimentos d gua. ‘Além dos movimentos fisicos que entram na produgdo da fala, os 4 ctos organizacionais (ou estruturais) do sistema de sons sm precisam ser aprendidos. A crianga deve saber, por e (p], como em “prato” —> {patu} 3. As simplificagdes das estruturas complexas do adulto levam a perda de contrastes fonolégicos e, juntamente com outras re zagées, podem levar a perdas miltiplas de contrastes fonolégi- cos. Por exemplo, |pr| — [p], como em “prar so produzidas como [patu] ‘bato” produzidas com {pat} Em relagiio a estabilidade das produgdes das criangas com desvios fonolégicos em relagdo ao sistema adulto, as caracteristicas s8o as se- ‘guintes: nas realizagdes de alvos 1], como em “sapo”” produzido como [sapu] e como [tapu 2, Em alguns casos a variabilidade potencialmente progressiva, Por exem- [tapu) ou itros casos, a varial > [t, d], como e dade nao & progres sapo” produzido lade extrema acontecé quando existem varias realiza- entes para um alvo. smas de criangas com desvios fonoldgicos tendem a ser mas estiticos. Sob uma perspectiva evolutiva, os desvios fonologicos podem ser classificados em trés categorias gerais: # Desenvolvimento atrasado: a crianga desenvolve os padres de pro- niincia normais, porém com uma velocidade mais lenta do que o es- perado. estigios diferentes do desenvolvimento fonolégico. Alguns padrées podem estar apropriados para a idade, outros podem estar atrasados ou avangados (desencontro cronol6gico). Desenvolvimento diferente: a crianca usa padrées que no ocorrem habitualmente no desenvolvimento fonolégico normal; estes padrdes Desenvolvimento varidvel: a crianga usa padres de dois (ou mais) 8 DESVIOS FONOLOGICOS 9 io incomuns e atipicos e podem ser considerados como idiossincra- ticos. As criangas com desvios fonolégicos podem apresentar um desen- volvimento atrasado, varivel ¢ diferente em relacdo ao desenvolvi- ‘mento das criangas com aquisigao fonoldgica normal. ‘Uma outra classificagao evolutiva mais especifica, que considera 0 uso de processos fonolégicos pela crianga com desvios fonoldgicos, en- sloba cinco eategorias: * Processos normais persistentes: 08 padrdes normais permanecem nas produgdes da crianga até idades em que estes normalmente jé te- riam desaparecido. Por exemplo, a presenga do processo de anierio- rizagio de fricativas em uma crianga com 5 anos de idade. ‘© Desencontro cronolégico: processos mais iniciais co-ocorrem com padrées caracteristicos de estigios mais tardios do desenvolvimento. Por exemplo, a presenga do processo de plosivizagao, que deveria set suprimido por volta de 2 anos e 6 meses em uma crianga de 4 ‘anos, que jd produz encontros consonantais. smuuns: presenga de padrdes que raramente acontecem imento normal. Por exemplo, o processo de africagao, as so produzidas como africadas, inde- to pendentemente do ci Preferéncia sistematica por um som: uma tinica consoante ¢ usada no lugar de uma ampla gama de alvos, tendo como conseqiiéncia a perda de varios contrastes fonolégicos, Por exemplo, toda a classe das fricativas sendo produzida como uma fricativa velar — |, v, 8,2, s,2| [xh Uso varidvel de processos: mais do que uma realizagao é usaiia para a mesma consoante alvo. Por exemplo, @ consoante s) produzida como [s] ¢ como [t] — ‘‘sapo” = [sapul, [tapu], Farias (1997) realizou um estudo com o objetivo de verificar as ca- racteristicas ev no uso de processos fonolégicos de 30 criangas ‘com desvios fonolégicos falantes de portugués. Os resultados demons- traram que 100% das criangas estudadas apresentavam processos nor- mais persistentes, 70% apresentavam desencontro cronolégico e apenas F 5% das criangas faziam uso de processos ineomuns. Nao houve nenhu- ma ocorréncia de preferéncia sistematica por um som e 0 uso varidvel de processos nao foi ido nesta pesquisa, Estes resultados mos- tram que a maioria das criangas com desvios fonolégicos apresentam padrdes de fala semethantes aos das criangas com desenvolvimento fo- ; nolégico normal, porém encontram-se atrasadas em termos de idade em relagdo a estas 10 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS Pesquisadores como Ingram (1976, 1981, 1987) e Grunwell (19 1982) mostraram que as diferengas entre criangas com desordens f logicas e as normais no esto tanto nos tipos de processos eviden dos, mas, sim, no uso desses mesmos processos. As criancas com desvios podem apresentar processos em idade em que esses jé de desaparecido, podem apresentar um desenvolvimento irre- gular ou fazer uso de processos incomuns. Para Leonard (1992) estas criangas nao sto radicalmente diferentes das criangas com desenvol mento normal, a nao ser no que diz respeito a dois aspectos: tém siste- itados do que se esperaria em relagdo ao tamanho de seus vocabulérios e fazem uso mais freqiiente, porém menos sistemético, de padres incomuns. Semelhangas e Diferencas entre Desvios Fonolégicos e Aquisicao Fonolégica Normal De acordo com Leonard (1995), de um modo geral, as caracteristi- cas fonolégicas das criangas com desvios fonolégicos assemelham-se ds das criangas mais novas com desenv« ento normal. No entanto_ existem alguns detalhes importantes sobre a fonologia destas criangas ‘que as tornam um tanto quanto diferentes das criangas normais. ‘As principais semelhangas entre criangas com desvios for as com desenvolvimento fonolégico normal sio: ‘© Segmentos corretos: criangas com desvios fonoldgicos, em sobre consoantes, poucas investigagBes abordam o uso de Vogais por criangas com desvios fonologicos. Existe um consenso geral de que as vogais observadas mais cedo e com maior exatido ne fala de criangas normais so também produzi- ddas com mais preciso pelas criangas com desvios fonolégicos. Tragos distintivos: comparagdes dos padres de erros de tragos distintivos de criangas com desvios fonologicos e de criangas normais revelam muita semelhanga, Por exemplo, Menyuck (1968) relatou que criangas ‘mento fonol6gico freqiientemente do que 0s tragos estridente]. (Os mesmos padres sio também validos para eriangas com des- vios fonologicos. F 05 DESVIOS FONOLOGICos " Processos fonolégicos: 0s processos que so mais fala de criangas pequenas com desenvolvimento fon: mal geralmente so os mais freqiientes na fala de criangas com desviog fonolégicos. Por exemplo, redugdo de enc nantal, semivocalizagio, apagamento de consoante gamento de silaba étona ocorem com percentagens rel ‘mente altas na fala de criangas com desenvolvimento fonolégico normal aproximadamente com 24 meses de idade, sendo que os dois primeiros processos persistem por mais algum tempo. Esses mesmos processos estio entre os mais freqiientes na fala de criangas com desvios fonolégicos. Leis implicacionais: varios estudos examinaram a composigao dos inventérios fonéticos de criangas com desvios fonol com o objetivo de determinar se esses inventirios permi imposigao de leis implicacionais, ou seja, se a presenga de uma distingdo fonética particular em um inventétio implica a presen- ¢¢a de outro tipo de distingao, Dinnsen et al. (1990) adotaram essa abordagem em um estudo sobre os inventirios fonéticos de 40 criangas com desvios fonolégicos, a fim de investigar se as leis implicacionais para as criangas com desvios fonolégicos cram as mesmas implicitas nos inventarios de criangas com de- senvolvimento fonolégico normal. De acordo com os dados ob- tidos por esses autores, quan das Ges acima. Distingdes de (nasal] eram vistas somente quando es acima, incluindo [continuo], estavam presen tes, Finalmente, se distingdes de [estrident 1bém estavam presentes. ue essas leis implicacionais eram as mesmas sugeridas para os inventérios de criangas menores com desenvolvimento fonol6- gico normal estudados por outros investigadores. Distingdes subfonémicas: nem todas as mudangas que ocorrem za proniincia de criangas com desenvolvimento fonolégico nor- ‘al, 20 Iongo do tempo, so aparentes em uma anilise em nivel de fonema, Em alguns casos, mudangas que se aproximain do sistema adulto sto observadas somente em um nivel subfonémi- co através de andlise acistica. © mesmo parece ser verdadeiro para criangas com desvios fonolégicos. Por exemplo, as produ- ses de plosivas vozeadas ¢ nio-vozeadas iniciais por criangas normais as vezes diferem em valores de voice onset time (VOT) 12 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS ‘mesmo quando sio siva vozeada, Res ppara criangas com desvios fonolégicos. Ci mais, 03 alvos ndo-vozeados foram prodazi Tongos. Vogais que precedem consoantes plosivas vozeadas fi- sm duragio maior do que as que precedem plosivas fin -vozeadas, Para algumas criangas com desvios fonolégicos, assim como para as eriangas normais, essas mesmas diferencas podem ser detectadas mesmo quando as consoantes finais so omitidas ou produzidas como uma plosiva glotal. Outras dife- rengas observadas nos desvios fonologicos que se equivalem a ‘mudangas de desenvolvimento incluem diferencas na fr € velocidade de transigao do segundo formante de [| versus | diferengas no aumento do segundo formante em vogais prece- dendo aivos com uma plosiva velar versus alvos sem nenhuma consoante e diferengas espectrais entre os primeiros 40 milisse- ‘gundos de um {| versus um [k|inicial EvitagGo: Leonard et al. (1982) examinaram a questo da evita- ‘so em um estudo comparando criangas com desvios fonolégi- 08 € eriangas com desenvolvimento fonolégico normal, empa- relhadas em termos de tamanho de vocabulério expressivo comprimento médio de enunciado (MLU). Ambos os grupos produziram mais palavras que eram consistentes com suas fono- logias do que palavras que nao o eram. A performance de com preensdo no variou de acordo com a composigio fonolégica da palavra para nenhum grupo, Sensibilidade & lingua ambiente: criangas com desvios fonol6- ‘gicos assemelham-se as com desenvolvimento fonolégico nor- mal no fato de que os erros em ambos os grupos sio influencia- mnscritas como produzidas como um nas criangas nor- dos pelas caracteristicas fonéticas dos fonemas que estio sendo 3 adquiridos, assim como pelos tipos de sons da lingua ambiente ‘que poderiam servir como substitutos plausiveis. O fato de que 198 erros produzidos por eriangas com desvios fonoldgicos sto geralmente fonemas foneticamente semelhantes ao som que é substituido sugere que essas criangas tém alguma sensibilidade aos detalhes fonologicos da lingua ambiente. Tais resultados so importantes porque sugerem que os erros dessas criangas pode- riam ser mais adequadamente caracterizados como compromis- 08 fonotaticamente licenciados e ndo simplesmente como ges- tos articulatérios ndo adequados. Tomando por base as se especificas que as criangas fazem ou nao fazem, pode-se dizer que as criangas com desvios fonoldgicos se caracterizam, em Noe s semelhantes tém sido encontrados scom VOTs mais FO DESVIOS FONOLOGICOS 3 Ingar, como aprendizes de um sistema fonol6gico par- ja do inglés, portugués ou outro) ¢ somente depois como portadoras de falhas no processo. Segundo Leonard (1995), as criangas com desvios fonoligicos di- © ferem das criangas normais nos seguintes aspectos: nto: eriangas com desvios fonolégicos no so tdo pro- ‘quanto criangas normais de mesma idade quanto & hs lade de produzir contrastes de vozeamento em plosivas it Em uma comparagio entre criancas com desvios fon cos ecriangas com desenvolvimento fonolégico normal, co ventérios fonéticos do mesmo tamanho, Ingram (198: que o vozeamento pré-vocdlico é um erro freqiiente apenas no ‘grupo de criancas com desenvolvimento normal. Schwartz et al. (1980) encontraram evidéncias de vozeamento pré-vocdlico'na fala de criangas com desvios fonolégicos e com desenvolvimen- to fonolégico normal, entretanto, ao contrério do que acontecia no grupo de desenvolvimento normal, este erro nunca foi o mais freqente para as criangas com desvios fonolégicos. Mais recen- temente, Ingram (1990) examinow o contraste de vozeamento através de uma andlise dos tipos de distingdes que apareciam ios consonantais de um grande grupo de criangas grupo de criancas constatou que as di bes de voreament fonolégico normal, enquanto que 0 contririo era verdadeiro para as criangas com desvios fo- nolégicos, isto é, as distingdes de vozeamento antes das distin- g6es de ponto. Estes achados deixam claro que criangas com desvios fonolégicos apresentam maior habilidade para produzir contrastes de vozeamento do que eriangas pequenas com desen- volvimento fonolégico normal. Uma explicagao razoavel para essa vantagem & que nesses estudos as eriangas com desvios fo- estavam mais avangadas no desenvolvimento neuro- que as plosivas vozeadas (short-lag) permi- lade considerdvel na coordenacio dos movi- mentos laringeos e orais, enquanto que plosivas nio-vozeadas (long-lag) exigem um maior grau de coordenagao neuromuscu- Jar. Uma vez que as criangas com desvios fonolégicos so mais velhas do que as criangas com desenvolvimento normal nesses estudos e tém um desenvolvimento fisico aparentemente not- volvimento fonolégico norm onto apareceran antes das eriangas com desenvolvim 14 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS © Erros incomuns: criangas com desvios fonolégicos so ma ‘mal, parece provével que elas tenham um nivel de desenvolvi mento neuromotor também mais alto. propensas a produzir erros de matureza ineomum. angas com desenvolvimento fonolégico norm: incomuns por razSes que vlo além de sua baixa freqi ‘ocorténcia. Alguns deles envolvem sons de aparecim ‘quando a produce ii uma adigZo a forma adulta ou ainda quando a crianga produz. consoantes néo encontradas na lingua ambiente (ou em nenhuma lingua natural). itico: a variabilidade é uma das marcas registradas ial da crianga ¢ as criangas com desvios fonolé- criangas com desvies fonologicos tém mais probabilidades de apresentarem variabilidade do que criangas com desenvolvi- mento fonolégico normal, mesmo quando o contexto fonético das palavras ¢ 0s inventérios consonantais das préprias criangas »porcionam razo para isso. Um exempl ide 60 estudo de Martin (1991) de uma gico que usava 6 consoantes iniciai sentando uma total auséncia de contraste nesta pos bém evidéncias de que os padrées incomuns so adotados me- nos sistematicamente por criangas com desvios fonol6gicos. Fonologia e léxico: uma tiltima diferenga entre criangas com fonolégicos e criangas menores com desenvolvimento 0 normal esté na relago entre desenvolvimento fono- égico e desenvolvimento lexical. Ingram (1987) propés que extensiio do desvio fonologico de uma crianga é uma const qliéncia de uma relagdo inversa entre o estigio de desenvol mento fonolégico da crianga ¢ 0 tamanho de seu vocabu Esta proposta ainda nfo foi testada diretamente, Além ritica, o diagn6stico de um desvio fonoldgico & geralmente fe to independentemente do tamanho do léxico da crianga, No en- tanto, a proposta de Ingram centra-se em um ponto crucial: cri angas com: cos em geral funcionam com um vo- cabulério muito maior do que as eriangas pequenas com desen- 0S DESVIOS FONOLOGICOS 18 volvimento normal que apresentam aproximadamente as mes- embora criangas com des- fonologicos sejam, em ger seu desenvolvimento fonologico fica, tipicamente, bem ‘tris. Deve ser apontado que as proprias dificuldades fono- as poderiam ter um efeito adverso no desenv Gathercole c Baddeley (1989) apresentaram. que a performance de criangas em um teste de meméria fonol6- gica imediata (repetigdo de palavras sem sentido) serve como idade de vocabulério. Em um estudo subse~ 3 investigadores observaram que as criangas com icaistém performance pior em testes deste tipo. Uma vez que; em estoque até que uma representacio seja formada, déficits de meméria levam a um decréscimo do novo material antes que a representagio seja formada. Assim, cada palavra deve set en- contrada varias outras vezes para uma representagdo adequada, ‘um proceso que retardaria o desenvolvimento de novas pala- ‘yras, E preciso estabelecer, & claro, que as dificuldades de erian- desvios fonologicos incluem limitages na meméria fo- ‘Uma vez que varias criangas com desvios fonolégicos {am apenas atrasos minimos ou nenhum atraso no desen- volvimento lexical, no se pode prever quantas criangas apre- sentaro evidéncias deste tipo. AVALIAGAO E DESCRIGAO DOS DESVIOS FONOLOGICOS A avaliagdo & um dos maiores instrumentos dos terapeutas da fala € linguagem, e, como tal, se usada apropriadamente, pode facilitar muito rabalho a ser executado. Uma boa avaliacao leva a um diagnéstico preciso, & identificagdo da etiologia e proporciona as bases para uma in- tervengao eficaz Ao avaliare analisar as caractetisticas dos desvios de fala, o terapeu- ta deve ter um conhecimento detalhado dos padrées de prontincia nor- is de sua comunidade de fala, bem como conhecer 05 padres normais de desenvolvimento da linguagem. Para se avaliar a fala de um paciente & essencial que, inicialmente, sejam obtidos os dados apropriados. Isso envolve a amostra de fala a set coletada e a maneira de registré-la e de transcrevé-la pelo terapeuta. Accoleta de dados de fala para uma anélise fonologica pode ser feita através da conversagdo espontinea ou através de um procedimento es- pecialmente construfdo para a obtengio dos dados que se constituem em testes de nomeaciio de figuras ou de repeti¢ao de palavras, Cada um desses métodos tem suas vantagens e suas desvantagens. ‘A conversacio ou fala espontinea é 0 método mais natural eém geral, resulta em uma amostra mais tipica da fala da crianga. Atraves desse procedimento de coleta, 0 terapeuta tem possibilidade de obser- var a fala encadcada e os possiveis processos fonolégicos que aconte- ccem entre palavras, tem oportunidade de observar ocorréncias repetidas 7 18 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA 08 DESVIOS FONOLOGICOS AVALIACAO E DESCRICAO DOS DESVIOS FONOLOGICOS 19 ddas mesmas palavras em diferentes contextos fonol6gicos e gramaticais que podem demonstrar a variabilidade de produgo da crianga e pode constatar a sclecao lexical feita pela crianga e a presenga de estratégias de evitagio, As desvantagens apresentadas por esse método de coleta de dados incluem o fato de que criangas com dificuldades de f dem relutar em engajat-se em conversagées, tornando-se di tengo de uma amostra significativa, Além disso, por ser um método ‘mais espontineo, nfo & possivel um controle do material de fala, o que faz com que nem todos 0s sons da lingua aparegam na amostra ¢ isso é acentuado pela estratégia de evitagdo feita por criangas com desvi la que tendem a evitar palavras que contenham sons mais dificeis para ela, Acrescenta-se, ainda, como uma desvantagem da fala espontinea, 0 fato de esta ser de dificil compreensdo nos casos de alteragdes mais se- veras, ficando 0 terapeuta sem uma referéncia para reconhecer a pala- vrevalvo que foi tentada pela erianga, Outro tipo de coleta de dados de fala é 0 exame de articulagdo repe- , no qual o terapeuta da o modelo e a crianga repete logo em segui da. As vantagens deste método sao: rapidez na sua aplicagao, possi dade de obtengiio de uma amostra com todos os sons da as posigBes em que estes ocorrem e oportunidade de avaliar as capaci- dades fonéticas da crianga, uma vez que, se o som é produzido por repe- isso indica que a crianga tem condigdes articulatérias de produ- zi-lo. A principal desvantagem da repeticdo € que a produgao da crianga tende a melhorar quando recebe 0 modelo imediato do terapeuta, nfo representando, assim, suas reais condigdes fonolégicas, Além disso, a repetigdio no é um contexto de fala natural e nfo permite a observagio da fala encadeada. tipo de coleta de dados mais utilizada em contextos cli nomeagio de figuras. Este método é répido, as palavras proporcionam uma amostra significativa da fala da crianga na qual apa- recem todos os sons da lingua nos diferentes contextos e, mesmo nos ‘casos de fala inintel © terapeuta & eapaz de reconhecer a pala- vra-alvo tentada pela erianca. Dentre as desvantagens da nomeagao sa- lienta-se 0 fato de que, em geral, as produgdes da crianga so expres- sées de uma palavra, nao havendo fala continua; em geral ha apenas ‘uma produgio de cada palavra, o que ndo permite a investigago da va- dade da fala da crianga; as palavras escolhidas devem ser repre- is em figuras, 0 que leva a uma preponderancia de nomes sobre ‘yerbos e outras classes gramaticais neste tipo de amostra A solugdo ideal para que se obtenha uma boa amostra de fala é que se colete dados de fala espontnea, de repetigio e de nomeagio e se ‘compare os resultados, o que, muitas vezes, no contexto cl ). Um procedimento itil € a utlizagio da chamada “nomeago espon- que tem por objetivo a obtengao de um conjunto representative c previamente determinado de palavras, mas que dugdes de uma s6 ges de fala es; Crianga — AF procedimento de col pontinea, ‘avas, Hemandorena & Lamprecht (1991) é um de dados de fala que se vale da nomeagio es- Quanto ao registro dos dados, na pritica clinica de rotina, a grava- ilo em Audio & a mais usada, mas convém ressaltar que as gravagées em video podem trazer informagies adicionais muito relevantes ao terapeu- ta, As gravagdes da amostra de fala devem ser feitas em ambiente silen- cioso ¢ com uma aparelhagem que poss ior fidelidade Evel Em relagao a transcrigdo fonética dos dados, sempre que possivel, & | importante que esta seja feita simultaneamente & gravagio da fala, pois alguns detalhes fonéticos podem nao ser detectados claramente nas fi- 1 aspecto a ser considerado & a conflabilidade das trans- crigdes fonéticas, uma vez que @ andlise dos dados ¢feita com base nes- tas transcti¢des. Atualmente, os estudos que envolvem transcrigo fo- | nética de fala utilizam varios transcritores e procuram estabelecer uma de concordancia entre esses transcritores. Ingram (1989) sugere que se deva usar mais de um transcritor e que ambos este- jam presentes nas sessbes de coleta de dados, o que, na prética clinica, & __ praticamente inviavel. A solugdo 6 que os terapeutas tenham um bom treinamento fonético que Ihes possibilite serem os tinicos transcritores © Thes assegure a consciéncia dos fatores que podem afetar a objetividade das transcrigdes. Idealmente, deveria se usar uma transcri¢do fonética detathada, usando mecanismos como os diacriticos, que registram os E. fendmenos fonéticos que ocorrem na fala de criangas com desvios. Na | pritica, o sistema de transcrigo ampla é mais utilizado. istrados e transcritos fo- ica, Usando um modelo de andlise fonologica na avalia- ‘lo dos desvios fonolégicos, o terapeuta é capaz de descobrir regulari- { dades nos dados e perceber a sistematicidade das fonologias com desor- dens, chegando, assim, a um diagnéstico mais preciso. Uma vez. que se | obtenha um diagnéstico correto, & possivel planejar um tratamento mais, efetivo, 22 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS AVALIAGAO E DESCRIGAO DOS OESVIOS FONOLOGICOS 23 necessério admitir que criangas muito pequenas, no inicio da aquisigao jlégica, aplicam muito mais regras do que as criangas maiores que ‘no apresentam tantos processos operando em seu sistema, Tal pro- posta tem sido muito questionada na medida em que se encontram evi- déncias, nos dados das criangas, de que, muitas vezes, elas nio possuem ‘a mesma representagiio de superficie do adulto. Por exemplo, as varia- g8es [t?ko] e [ci*ko] para o alvo “tric6”, que podem ser encontradas na ifo do portugues no Rio Grande do Sul, realizadas por criangas po, obter informagées fonéticas ¢ fonologicas, dada a natureza dos 0s. Destaca-se que, através dessa andlise, uma nova caracteristica pode luzida ao conceito de desvios fonolégicos: oaspecto da regul bilita uma comparagao entre o sistema fonolégico com desvios ¢ o sist ‘ma considerado padrio. Outros trabalhos sob influéncia da fonologia gerativa padrao sur ram, como os de Dinnsen (1984) ¢ de El t (1986), que uti erativa para caracte havendo tealizagdes como [ jo a representagio do encot natural, nfo fica clara essa distingdo, pois 0s ajustes, em cada caso, seriam: , que tem como pri da crianga com o si tema fonolégico padrio, analisando a distribuigo dos fones nas tas posigdes da palavra ¢ 0 inventério fonético até chegar ao sistema de fones contrastivos. No Brasil, um modelo adaptado ao portugués, desenvolvido por Hemandorena (1990). A partir de meados dos anos 70, o segundo modelo citado anterior mente, da Fonologia Natural de Stampe (1969), teve forte impacto descrigéo das desordens fonologicas. Essa cionados aos fonemas ¢ também aqueles rel libica. Os processos de substituigao des adultas ¢ as da crianga, enquanto os de estrutura sildbica explicitam plificagdes na mesma. Apesar de questionada em alguns de seus fun entos, a teoria da Fonologia Natural tem-se apresent produtiva como cas atuais 6 possivel fazer, mais claramente, 0, todos os provessos passam por uma nova e alguns processos que antes ficavam como is como epéntese, metitese, assimilacdo © coa- ‘céncia, recebem tuma andlise mais adequada, levando, muitas vezes, i ia fonolégica e para a construgao de jodelo de processamento da linguagem. Numa proposta de teoria laba atual, a andlise acima ficaria assim, de acordo com Mota & ‘com processos encontrados na aquisigao normal ey (el caracterizando um desenvolvimento diferente do padrio. A maior critica & analise por provessos fonolégicos € o fato de que este modelo supée que as representagées fonologicas subjacentes da crianga sejam idénticas as representagdes de superficie do adulto. A cri- anca teria uma representacio correta da palavra, no entanto, os proc ‘S05 que operam em seu sistema, se aplicariam sobre esta representa correta, fazendo que a forma de saida seja incorreta. Neste caso, set 24 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS ‘A presenga do espaco da segunda consoante no nivel prosédic« (camada CV) demonstra que, apesar de no produzir 0 encontro conso- tal pela auséncia da liquida |r na camada melédica (dos segmentos) ianga tem a representago do encontro na subjacéncia. TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS BASES DE UMA TERAPIA FONOLOGICA Embora exista uma variedade de diferentes procedimentos de ava- io que podem ser usados pel 3,05 principios terapéuticos que derivam destes so fundamentalmente os mesmos. Isso ocorre porque velar a organizacéo subjacente a esses padrées, uma avaliagdo deve identificar os desvios e inadequacies nesta organizacdo e um tratamen- ‘to deve ser planejado para mudar esses aspectos deficientes da organi- aslo. ‘Grunwell (1985) postula alguns prinefpios bisicos de uma terapia fonoldgica: 1. 0 programa terapéutico baseia-se sempre em uma avaliagao e andli- se fonolégicas e estas definem os objetivos do tratamento. 2. A terapia baseia-se no prineipio de que existem padrées ¢ regulari- dades na fala da crianga. . A terapia baseia-se no prin. drdes fonoldgicos & comuni mentos de sons ¢ estruturas a: io de que a principal fungdo dos pa- to &, as diferenas entre os seg- alam diferencas de significado. 25 26 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS 3. A terapia tem por objetivo mudar os padrdes fonolgicos da crianga no sentido de construir um sistema de contrastes de sons mais ade quado. 4, A terapia é planejada para usar a organizagio dos padrdes fonolégi- cos da forma mais efetiva possfvel, introduzindo e estabelecendo ‘mudangas nos padrées da crianga através do emprego de classes na- turais de fones e estruturas contrastivas. ‘As nogées te6ricas que subjazem a esses prinefpios terapéuticos di- ‘zem respeito & natureza da fonologia ¢ do desenvolvimento fonolégico 3. Ao aprender a fonologia, uma erianga esté organizando seu sistema fonolégico e niio apenas aprendendo a proniincia correta das pala- esti descobrindo semelhangas entre os sons contrastivos € ‘de sons, 0 que Ihe dé as bases para agrupar sons em clas- ses e seqtiéncias em estruturas. 4, O objetivo da terapia é, portanto, facilitar a reorganizago cognitiva do sistema fonolégico da crianga. As mudangas na produgdo devem acontecer no tanto na boca, mas sim na mente da crianga. ‘As nog6es acima descritas mostram claramente a necessidade de se fazer uma avaliagio € uma andlise fonolégica como base para o trata~ ‘mento de desvios fonolégicos em criangas. Indicam também a necessi- dade de se conhecer melhor a natureza do desenvolvimento fonol6gico tanto normal como com desvios, a fim de que se possa ter uma m: compreensio do mecanismo de aprendizagem e dos processos envolvi- ddos quando as criangas esto aprendendo a pronunciar ou tendo dificul- dades nisso, Segundo Stoel-Gammon & Dunn (1985), uma terapia fonolégica caracteriza-se pelos seguintes aspectos ‘© Baseia-se na natureza sistematica da fonologia: uma terapia fo- noldgica enfatiza a natureza sistemética dos padres de sons na fala da crianga. Os segmentos de sons ndo so considerados como unidades isoladas, mas, sim, em relagdo ao modo como so usados contrastivamente e como se combinam em diferentes estruturas. Essas fungGes sto verificadas através de padres que afetam grupos de sons com caracteristicas semelhantes de pon- to, modo ou sonoridade, isto é, os padroes geralmente envolve classes naturais de sons (ex: substituigao de plosivas por fricati- | abordagens lingt * preferéncia por’ ggica, argumentando que os terapeutas de fala se ocupam somente com | nava muito sub: TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS 7 vas) ou estruturas de nal). Dessa maneira, se de sons ou llavras (ex: apagamento de consoante fi- smento estard dirigido para uma clas- > i & g intivos, processos fonolégicos. ides sejam conceitos abstratos que no podem ser observados. diretamente, 0s padrdes superticiais levam a supor que a crianga no tem conhecimento subjacente de que os sons contrastam significado Tem como meta final a generalizagio: em uma terapia fonoldgi- ca bem-sucedida deve ocorrer generalizago, que é a habilidade de produzir fonemas ou palavras nfo treinadas que apresentam 0 trago ou fonema-alvo. A generalizagio também implica a produ- 0 correta de unidades lingiifsticas no treinadas no nivel da conversagio, em situagdes fora do contexto de terapia, B um conceito terapéutico muito importante, pois, uma vez que produ- «ees corretas possam ser obtidas sem que sejam treinadas direta~ ‘mente, o tempo de tratamento pode ser reduzido. © processo terapéutico dos desvios da fala baseava-se, antes das as atuais, primordialmente na produgao fonética. Os fonemas eram tratados isoladamente, depois em silabas, palavras © frases, finalizando com a fala esponténea, A mudanga para o novo alvo 6 se dava apés a automatizagao do primeiro. Os tratamentos eram, em conseqiiéncia, longos demais. As abordagens analfticas com base lingiistica tiveram influéncia na formulago de modelos de terapia com base na fonologia gerativa e modelos bascados nos processos ‘modelos tém em comum a nocao de reorganizacdo de um sistema fono- ligico com desvios e a capacidade de generalizagao da crianca. Edwards & Shriberg (1983) relatam uma série de estudos que utili- zaram anélises fonéticas funcionais e contrastivas com o objetivo de en- © contrar padrées desviantes e proporcionar um plano terapéutico ade- quado. No entanto, apesar da importincia de tais estudos, nas décadas © de 70-80, ainda havia resistncia dos terapeutas em se valerem dos mesmos. Shelton & McReynolds (1979), por exemplo, salient “desordem de articulago” em vez de desordem 5 ima parte da fonologia, a que diz respeito ao desenvolvimento de um inventario fonéti 28 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS 29 sua opinido, a impostagdo fonética (colocagao articulatéria adequada nta que esse tipo de tera ente articulatério, pode no condu- zir aos resultados desejados. Muitas vezes, as criangas, apés longo tem- po de tratamento, sabem produzir isoladamente os fones-alvos mas nao ‘conseguem incorpora-los & fala espontinea. cas fonéticas que podem ou no ser necessé- rias, a depender de cada caso, & necessério levar em conta principios hie- rarquicos da lingua que sio fundamentais na elaboragao do plano tera- eutico. Pim Além disso, Grunwell (1997) aponta alguns aspectos importantes que também devem ser levados em conta na elaboracao de um plano de terapia com base fonologica: 1 lade deve ser enfocada, com 0 objetivo de estabele- 2. O sistema de contrastes deve ser expandido para aumentar as 8. ibém deve ser expandido. ruturas devem ser introduzidas, usando-se consoantes elecidas, Quando possivel, o programa de tratamento deve seguir a se- qiigncia do desenvolvimento fonolégico normal Quando for o caso, os padres a serem enfocados primeiro devem ser aqueles que mais diferem dos padres normais de desenvolvi- ‘mento ou que mais prejudicam 0 processo comunicativo. Existem quatro mecanismos basicos de mudanga fonoldgica que podem ser induzidos pela terapia fonolégica. O primeiro deles & 0 me- canismo de estabilizagGo pelo qual um padrio de promincia variavel se toma estavel. Busca-se estabilizacdo em sistemas nos quais ha ins dade ou variabilidade. O segundo mecanismo de mudanca fonoligica & a desestabilizagdo, que envolve a quebra de um padrio estavel para de. E indicado quando ha padres estéveis inad lizago leva a uma mudanga que resulta em varia Jidade a qual sera resolvida pela estabilizago do padrio correto. O ceiro mecanismo é o de inovacdo, que se refere & introdugio de novo padrio o qual levard a uma mudanga progressiva pela desestabi zagio de padrdes existentes e/ou pela estabilizagao do novo padrao. O quarto mecanismo de mudanca fonologica que pode ocorrer com a tera- pia é 0 de generalizagdo, que envolve a transferéncia de um padro de F tem por objetivo fa __vés do tratamento dos processos e nfio dos sons incorretos separada- fala de um contexto para outro, Este mecanismo é indicado quando um 0 € realizado corretamente em um contexto ¢ deveria estar ocorrendo {em outro contexto como, por exemplo, em outra posigao na estrutura, Processos Fonolégicos na Terapia Uma abordagem terapéutica baseada em processos fonolégicos iar a emergéncia de novos padrdes de sons atra- ‘mente. A principal hipétese de uma abordagem terapéutica bascada em pprocessos ¢ a de que o tratamento é maximizado pela generalizagio que f ocorre através dos sons afetados por um processo particular, quando apenas poucos sons que sofrem aquele processo so ensinados. Su- pée-se que a eliminagéo de alguns sons incorretos especificos produz luma mudanga no processo subjacente responsdvel por aqueles erzos. Conseqiientemente, outros erros que se originam do processe podem também ser eliminados sem um tratamento direto. Os procedimentos de uma terapia com base fonolégica tém muita coisa em comum com aqueles em modelos tradi dete- pia articulatéria. Basicamente, dois aspectos sio essenciais nesses, tratamentos, a saber: * Percepedo: tomar a crianga consciente das caracteristicas percep- tuais do som-alvo. izar um nimero suficiente de produgdes corretas do som-alvo até que a crianga use esse som de forma consistente na fala espontinea. iferencia um modelo de terapia baseado na fonologia de um I 6 que a selegto dos processos e dos -se em hipdteses sobre a estrutura organizacional do sistema fonol6gico da crianga, Uma terapia baseada em processos fonol facilitar o desenvolvimento de um sistema vez de aperfeicoar fonemas gico de uma crianga com prol sma de proniincia comera a asseme- Ihar-se ao sistema-alvo do adulto através da supressio de processos fo- nolégicos durante o tratamento. A medida que um processo fonolégico vai sendo gradativamente suprimido, sua freqiiéncia de aplicago de- E cresce. Por exemplo, a medida que o processo de plosivizagaio de frica- tivas é suprimido, a freqiiéncia com a qual as fricativas sio substituidas por plosivas diminui e conseqtientemente aumenta o niimero de produ- Ges corretas de fricativas. No entanto, a diminuigo da freqiiéncia de icago de um processo pode ocorrer sem que haja produgao correta, 32 Previsio: ensinar fricativas faré com que haja uma produgao mais pre- . cisa de plosivas. Exemplo: uma crianga ndo produ com preciso as fricativas [f,», J e as plosivas [dk & Tratamento: ensinar a produgdo de [f v, 5}. Previsao: a produgao das plosivas [d, kg] também methorard Previsio: ensinar obstruintes sonoras (plosivas, fticativas, afticadas) faré com que haja uma produgio mais precisa de obstruintes surdas. Exemplo: uma crianga néo produz com preciséo [i] ¢ [g). Tratamento: ensinar a produgio de [g). Previsao: a produgdo de {k] também methorard. Previsio: ensinar um som emn uma determinada estruturasilébica pode 14 resultar na utilizagdo de outros sons que ocorrem nesta mesma estru= tura Exemplo: uma crianga nao produz [s} e [r] em FSDP. Tratamento: ensinar [r} em FSDP. Previsao: a produgito de (5] em FSDP também melhorard Previsio: ensinar um som em uma determinada posigdo sil tard na produco desse som em outras posigdes sildbicas. Exemplo: uma crianga nao produz [r] em nenhuma posigio silabica Tratamento: ensinar [r] em FSDP. Previsio: a producio de [r] em ISDP e FSFP também melhorard. Previsio: ensinar sons fonologicamente “desconhecidos” resultaré em ‘mudangas em aspectos no tratados do sistema de sons. ventério contra a producao de fricat légico desta crianca refere-se as fr Tratamento: ensinar a producao de fricativas. Previsio: a produsio das fricativas methorard, bem como os ou- tros aspectos ndo tratados do sistema de sons, ou seja, a produgiio de losivas e liquidas. O menor conhecimento fono- Selegao das Palavras-Alvo Com a énfase nas abordagens baseadas na lingiistica, o nivel da palavra tornou-se © ponto de partida para as atividades terapéuticas, TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS B TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS: 33 pois é no nivel da palavra que os sons exercem sua fungio de diferenci- ar significados ¢ as criangas conseguem perceber a fungao dos sons na F comunicagao. Alguns aspectos sao importantes na escolha das palavras que sero usadas na terapia, 40 a0 contexto fonético é importante selecionar palavras nas quais nfo aparega mais do que uma dificuldade fonética, ou seja, { nfo deve haver, nessas palavras, nenhum outro som que a crianga apre- 30, deve-se levar em conta 0 ico da crianga, pois estes revelam o que a cri- F anca & capaz de produ: f vras de realizagao _ tes ao som-alvo na palavra; quanto menores 03 Etre 0 som-alvo e os sons circunvit fio que 0 som-alvo ocupa na palavra ou na sua produgao, existindo algumas posigdes que sto mais fi ridas por cada crianga. Ainda em relagdo ao contexto fonét tes de produgio en- Eo coniexto. A posi- As palavras selecionadas devem, ainda, ser significativas para a crianga, pois esté comprovado que, quanto mais desconhecido o signifi- ‘ado, maiores as chances de erro. Palavras emocionalmente significati- F vas para a crianga como, por exemplo, seu nome, dos amigos, de animais, de estimacdio, de atividades preferidas podem ser tteis para facilitar 0 trabalho terapéutico. ‘Além disso, as palavras-alvo devem ter poténcia comunicativa, ou F seja, quanto mais funcional for a palavra mais possiilita a generaliza- G0. Assim, verbos e conjungdes devem fazer parte do inventério de pa- f lavras’selecionadas, além dos tradicionais substantivos conhecidos pela F ccianca, pois so mais funcionais em termos de comunicacdo, apresen- tando alta freqiiéncia de ocoréncia. F Os principios aqui apresentados permitem abordar o sistema foné- F mico e nao fones isolados, pois, ao se trabalhar, por exemplo, uma fii- cativa, espera-se que uma classe de fricativas emerja. No entanto, € impor- ‘ante reforgar alguns aspectos que viabilizam uma intervencao baseada na linguagem ¢ permitem uma mudanga na fala esponténea com maior seguranga. — O inicio da intervengo no nivel da palavra, envolvendo atividades F de alta fungdo comunicativa, é um desses aspectos. O uso da palavra 34 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS ERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS 35 fonémico é trazido a tona em situagdes na prejuizo a comunicaglo. Se, além disso, as aividades proporcionarem a descoberta através do lidico ¢ 0 uso do treinamento fonético for con- de de a crianga ficar motivada para a nova agem ir faciitar a mudanga de seu sistema fonolégico e auto- matizagio dessa mudanga na fala espontinea. E preciso, portanto, aban- donar as téenicas que so magantes, onde a repetigao e a auséncia do Iie dico tomam o trabalho articulatério sem sentido e, muitas vezes, odiado ou temido pelas eriangas. Os nomes de um amigo ou de um brinquedo queridos podem, por exemplo, ser um motivador diante de um pedido de repato por parte do terapeuta. “Acertar” deve representar um ganho comunicativo para a erianga Js 0 erro na escolha traz GENERALIZACAO Para Elbert & Gierut (1986) um dos aspectos fundamentais na sele- fo de fones-alvo & a possibilidade de generalizago que se caracteriza pela ampliagao da produgdo ¢ uso correto de fones-alvo treinados em outros contextos ou ambientes nao treinados. A generalizagio ser4, por- tanto, ocr importante 20 se medira eficdcia terapéutica, Para o cli de generalizacéo leva a uma terapia mais eficiente, tem dois enfoques difer em criangas com desordens fonol as propriedades estruturais da gener quais cla ocorre. O outro enfoque e da generalizagdo ou como esta é usada por uma erianga para modificar seu sistema fonol6gico, as. Um deles procura identificar Componentes Estruturais da Generalizagao Os componentes estruturais constituem-se em condigBes na lingua sob as quais a generalizacdo ocorre. Algumas delas sio: Generalizacao a Itens ndo Utilizados no Tratamento Quando a crianga € capaz de usar 0 padrai lavras que nilo as trabalhadas em sesstio terap, ralizasdo, as criangas nao produzem os sons-alvo apenas nas palavras fem que estas foram treinadas, mas também usam esses sons em outras alavras nao tratadas, Esse tipo de generalizagio indica que sao neces- sérias poucas palavras para se ensinar um determinado som, pois set Fuso pode ser transferido para muitas outras palavras Generalizagao para Outra Posigao na Palavra Quando, ao aprender um fone em uma determinada posigao da pa- lavra, a crianga o realiza corretamente em outras posigSes no trabalha- is em sesso, O uso do som nao fica restrto apenas & posicio em que é ‘tabalhado, Por exemplo, a0 aprender o [r] em inicio de sflaba dentro da alavra, a crianga comeca a realizé-lo em final de silaba, Generalizagao para Outras Unidades Lingiisticas £ 0 uso dos sons tratados em unidades lingtisticas de ide. Geralmente, o tratamento centra-se em um niv lar como, por exemplo, a produgo correta do som em palavras. izacio, a produc4o do som é transferida para ou- icos mais complexos, como a sentenga ou a conver- ‘uma vez que 0 objetivo final do mesmo é levar a crianga com desordens fonolégicas a usar os sons corretamente na conversaca0. Generalizagao dentro de uma Classe de Sons Esse é um tipo de generalizago que ocorre quando a crianga, a0 aprender um som, estende esse apréndizado a outros fones pertencentes ‘mesma classe do som trabalhado. Por exemplo, a erianga aprende a Je inicia a realizagdo de todas as demais fricativas. Esse tipo 120 indica que sons que se relacionam entre si podem ser s sem que haja uma intervengao direta em todos eles. Indica jue 0s sons incorretos, nos desvios fonolégicos, funcionam e ¢ modificam de forma muito semelhante, Assim, tratando-se apenas im Som incorreto ou apenas um aspecto de todo o padrao de erro, varios ‘outros sons incorretos podem ser corrigidos, trazendo, como resultado, um tratamento mais eficiente. | Generalizacao para Outras Classes de Sons Esse 6 um tipo de generalizagao mais complexo que ocorre quando a crianga, ao aprender um som, estende esse aprendizado a outros fones na produc correta da liqh 36 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS 37 Generalizagao para Outras Situages Quadro 3-1. Leis Implicacionais E 0 uso de sons tratados em novas situagdes, novos contextos ou com novos ouvintes. O ensino da produgio correta dos sons geralmente ocorre em um ambiente de clinica, guiado por um terapeuta, mas a cri anga é capaz de usar corretamente esses sons em outras situagdes fora ica, como, por exemplo, em sua casa ou na escola. As produgdes corretas também acontecem com outros ouvintes que nao o terapeuta, ‘como pais, professores ou amigos. A producdo correta dos s ‘em diferentes ambientes e com diferentes ouvintes € muito para o objetivo da terapia. Lei implicacional Exemplos ossul ocontraste de Generalizagao Baseada em Relagées Implicacionais de generalizagio observado dentro de uma me smbém para outras classes baseia-se nas relagbes plicacionais existentes entre os sons. Relagdes implicacionais ref em-se a um fenémeno lingiiistico pelo qual a ocorréncia de um deter minado som ou classe de som, em uma ling) outro som ou classe de som naq (es que ele ocupa na palavra Componentes Funcionais da Generalizagao Este enfoque -gia 0s aspectos funcionais da generalizagao ou ‘mplementada por uma determinada crianga. i, som marcado & considerado o membro mais dificil do par; © que & adquirido mais tarde no processo de aquisigéo fonolégica ¢ ‘corre com menor freqiiéncia nas linguas do mundo. A abordagem funcional da generalizagao desenvolveu-se a partir de estudos sobre diferencas individuais na generalizacdo das eriangas. Mesmo sendo consistentes os aspectos estruturais da generalizagao, ob- servam-se diferengas quanto a quantidade e a extensdo de generaliza- 56s que acontecem para cada crianga, ou seja, enquanto 0s tipos de ge- ira pela qual as produgdes corretas ‘orporadas no sistema fonol6gico da crianga é um processo tinico ‘para cada crianga e bastante variado entre as criangas. O enfoque fun onal, portanto, centra-se nas diferencas observadas entre as eriancas, em termos de generalizacto. & Elbert (1984) observaram que, ensinando a produsio correta de fi cativas, as criangas também produziram corretamente plosivas incorr sigdo da classe no mareada (no caso, as p ‘verdadeiro, pois o trabalho com o membro no mareado (plosivas) ndo. icdo do membro matcado (fricativas). Entre as variéveis funcionais relacionadas com a generalizaio ais estudadas esté 0 conhecimento que a crianga tem do sistema fono- igico. Parece que 0 conhecimento fonolégico que a crianca traz para a tarefa de adquirir a produgo correta dos sons influencia a quantidade, a extenstio e 0 tipo de generalizagio, Estudos analisando 0 papel que 0 conhecimento fonolégico exerce na generalizagio mostraram que os pode ser itil para se identificar quais sfo 0s sons que facilitardo a gene- ralizagio. Considerando os fone lingua portuguesa, pode- resumidas no Quadro 3- 38 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS. sons mais conhecidos pela criangas sao os alvos mais fregiientes de ge- netalizagao. Um dos estudos que se destaca, nesses Edwards & Saxman (19 vés de andlises aciisticas, 1égico das criangas © mapear tais resultados com a evolugdo das mes- mas na terapia fonolégica. Observaram que os dados provenientes das ‘uma vogal precedente a uma consoante sonora na tentativa de realizar tal consoante. Assim, é possivel saber qual a consoante que a crianga tentando e pode-se es a € sua motivagao, podendo levar a maiores dificuldades na general G40. Os autores, contudo, ressaltam que, nos casos em que o tratame pode ser longo, as criangas beneficiam-se do tratamento de sons menos conhecidos fonologicamente. Portanto, comprovaram algumas previ ses de outros autores de que o.trabalho com fones desconhecidos, em- bora possa ser mais longo, leva a uma maior generalizago em fungéo idade estudada nas criangas com desvios fonolégicos ‘que apresenta interesse terapéutico é a capacidade de analisar unidades lingiifsticas, em especial a consciéncia fonolégica. Entre as habilidades testadas estio a sensibilidade a pedidos de reparo ou falhas na comuni cago, a compreensio e produgdo de linguagem figurativa ¢ a realiza ‘¢40 de ajustamentos em fungio do ouvinte. ‘Um estudo abrangente com criangas portadoras de desvio lingi 0 foi o realizado por Kamhi (1987). Nesse estudo, foram abordadas vvado que as hal cm silabase silabas em sons esto prejudicadas nestas eriangas Magnusson (1991) critica tl estudo por pedir a definigdo de alguns sogmentos além da habilidade de segmentar, pois coloca @ erianga com desvio em desvantagem, chegando & conclusao geral de que, entre cr ERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS 39 ingas normais € com desvios lingiifsticos, a tarefa de segmentar era mais fécil para as mais velhas em ambos os grupos. Especificamente em relacao a segmentagio de sflabas em fones, as criangas escolariza- das sairam-se-melhor, demonstrando que este é um aspecto funcional importante para a generaliza¢do. A autora ressalta a possibilidade de abordar esse tipo de conhecimento com as criangas antes de trabalho de produgio no tratamento. Em Ramos (1991), onde foi aplicado o modelo de ciclos modifica- , observou-se que, de palavras com o fone-alvo para estimulagdo au- as criangas alfabetizadas, ao serem questionadas sobre igéncia da crianga e as- pectos motivacionais que apresentam correlago estreita com condigdes ‘emocionais s&0 extremamente relevantes durante a evolucio da terapia, fio sero abordados aqui pois precisariam de um capitulo & parte, com contribuigdes de outras ciéncias que ndo a Lingilistica, MODELOS DE TERAPIA FONOLOGICA MODELO DE CICLOS (© Modelo de Ciclos foi inicialmente proposto por Hodson e Paden (1983) e, mais tarde, modi or Tyler, Edwards & Saxman (1987), No Brasil, este modelo foi aplicado por Mota (1990) € por Ramos (199) “Uma abordagem fonémica tradicional, na qual os fonemas so en- sinados como unidades isoladas, geralmente em seqiiéncias nao relacio- nadas ¢, as vezes, sem levar em conta o ambiente for quer anos de treinamento para criangas com fala em um aprendizado fragmentado das formas superf Uma abordagem fonolégica, por outro lado, busca ensinar os pa~ drdes-alvo, utilizando-se das formas superficiais (fonemas e seqiiéncias éspecificas) como exemplos, capacitando a crianga a incorporar, mais, tarde, novos fonemas ou seqiiéncias de fonemas nestes padroes, através da generalizagio. Procedimentos Basicos do Modelo de Ciclos Desde as primeiras tentativas de se tratar problemas de fala, os tera peutas utilizam dois procedimentos basicos de terapia: consci paciente das caracteristicas do som-alvo ou combinacao de sons a crianga a produzir corretamente o som um mimero suficiente de vezes até que se tome capaz de utilizé-lo na fala espontnea. Portanto, o trata a 42__TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLOGICOS a-se na estimulagdo ¢ na produgdo. O Modelo de Ciclos este enfoque basico, porém usa algumas técnicas dif gir os objetivos esperados. Estimulagao © processo de estimulagio engloba a audigdo, 0 tato ¢ a visio. A ilagdo auditiva 6 0 meio mais natural e primatio através do qual maioria das criangas adquire 0 de sons de sua lingua, Port as criangas com desordens fonoldgicas precisam de uma estimul intensa nesse aspecto. E bem provavel que estas criangas tenham tid oportunidades de ouvir inguagem tanto quanto as criangas norm: que pode acontecer & que essas criancas necessitem de uma estiml ‘mais concentrada e mais intensa do que o normal. Por isso & que f cluido neste programa terapéutico o chamado “bombardeio audin «que consiste em a crianga ouvir Vérias palavras contendo o-som-alvo seqiléncia de sons-alvo com uma pequena amplificagio, Esta estimula- ‘do auditiva ndo se limita 4 fase inicial do tratamento, mas acontece du- rante toda a terapia, no inicio € no final de cada sessio. O terapeuta ‘uma lista de palavras contendo o alvo daquela sessao ea crianca ouve sem tepeti-las. Devem ser palavras que a crianga compreenda e devem ser lidas de maneira clara, mas no exagerada, Para Hodson & Paden (1983) é importante que a cri te 0 bombardeio auditivo, pois estudos como os de (1982) demonstraram que as criangas com desordens fonolgica: dem ter grande dificuldade em perceber os sons sem alguma ampli do. A amplificagao sonora, usada de forma apropriada, é um me ciente para ajudar a crianga a concentrar-se no padrio de som desejad 3 fones de ouvido ctiminam os outros ruidos do ambiente que podk fam distrai-a ¢ a amplificagdo salienta as caracteristicas do som- facilitando o estabelecimento dos contrastes. ‘Além da estimulacdo auditiva, que deve ser 0 meio mais enfatizado para se desenvolver a consciéncia do som, algumas criangas necessitam de outros tipos de estimulagio para que isso acontega. A estimulacao: til € uma delas; utilizam-se pistas téteis quando novos sons-alvo sfo apresentados pela primeira vez a crianga. Essas pistas vao sendo retira- das a medida que Vai-se tomando mais facil para a crianga a produgi do som, Pela estimulaga crianga obtém informagdes adicionais, agem do som-alvo através da sensac mim” ou “Veja o que os meus labios esto fazendo” ou “Othe no espe MODELOS DE TERAPIA FONOLOGICA 43 tho e ponha sua lingua na : osigdo em que a minha est” algum instrugGes dadas A crianga seams 40 se ensinar um novo som. Produsao ‘Ao mesino tempo em que a crianga desenvolve a consciéncia de lum novo padrao de som, ela necesita exercitar a produgdo deste som a fim de internalizar as imagens cas fas criar um siste- ma proprio de autocontrole. Dai, a impor crianga produzir 0 som ou a seqiiéncia de sons o mais corretamente possivel. Uma prod. so incorreta pode reforgar uma sensaco cinestésica incorreta para o som que est sendo tentado. © Modelo de Ciclos concentra-se, principalmente, em maneiras de facilitar as produgdes corretas da crianga. Uma selegio cuidadosa das palavras-estimulo que a erianga deverd produzir e a utilizacao de pistas auditivas e téteis, quando necessérias, so métodos que ajudam a crian. sa @ alcangar sucesso em suas produgdes. Ao selecionar as pala. vras-alvo de cada sessio é importante considerat 0 contexto fonético fem que se encontra o som. Certos fonemas adjacent dugiio de algumas classes de sons; deve-se procurar tirar vantagem dis- $0, escolhendo palavras que provavelmente levatio ao sucesso mais fa- imente Programa Terapéutico A terapia tradicional dos transtornos de fla tem por objetivo trei- nar a crianga para que ela seja capaz de produzir corretamente cada um dos sons que apresentam problemas. Em geral, os sons a serem treina- dos seguem a ordem da aquisigdio normal e slo trabalhados um de cada vez, até que a ianga consiga produzi-los adequadamente ¢ estabili- os em sua linguagem espontiinea. ‘A abordagem terapéutica proposta por Hodson & Paden (1983) di fere da tradicional em dois aspectos principais: 1. Como em qualquer tratamento fonol6gico, nao se trabalha com cada som errado; procura-se aproveitar a habilidade das crian- sas em fazer generalizagées c trabalha-se apenas 0 mimero sufi- ciiente de fonemas dentro de um padrio, a fim de estimular essa tendéncia Centra-se no objetivo principal de facilitar a emergéncia de pa- drBes fonol6gicos, em vez de “teinar”segmentos fonemicos, A incorporago de um padrdo, no sistema da crianga, & algo que ela faz por si mesma, mas de forma gradativa; por isso, usa-se 0

You might also like