Boletim Operário

Caxias do Sul,
1 de setembro Edição nº 666
de 2021

O Estado do São Paulo Além destas medidas de prevenção o

Greve Doutor Chefe de Polícia procurou
São Paulo
acalmar os ânimos, conferenciando
1891 16 de maio de 1891. com alguns dos chefes da greve,
aconselhando-lhes prudência e
Porto de Santos Edição nº 4.862 Ano XVII tratando de conseguir um acordo entre
Capa os patrões e os operários grevistas. A
tarde foi recebida nesta capital um
Greve telegrama dizendo que mais de
Correio Paulistano quinhentos operários da Estrada
Tem tomado um caráter ameaçador a
São Paulo, 15 de maio de 1891. greve dos trabalhadores de prancha Inglesa haviam também aderido a
que há dias se manifestou em Santos. greve. Constava a última hora que os
Ed. 10.403 trabalhadores das pedreiras do cais
Anteontem pela manhã, os
Capa trabalhadores das obras do cais estavam munidos de dinamite que
aderiram também a greve, exigindo o haviam tirado das respectivas obras.
Santos aumento de 500 réis nos seus salários. Ontem mesmo enviamos a Santos um
Como não fossem atendidos, dos nossos repórteres.
Continuou a greve dos trabalhadores
de prancha, sem ter havido desordens. retiraram-se do serviço desmontando - As notícias que durante a noite
antes os trilhos da linha férrea recebermos irão publicadas em nossa
Página 3 construída para o serviço do cais. Dizia- seção telegráfica.
Continuando a greve a Associação se que este último grupo pretendia
incorporar a greve os operários do Página 2
Comercial dirigiu-se por telegrama ao
governador pedindo providências arsenal empregando, para isso, meios Telegramas
diante do silêncio do chefe de polícia. persuasivos. Os administradores da
O comércio está paralisado espera-se empresa do cais conferenciaram com o Santos, 15.
que haja conflito. Senhor Delegado de Polícia, e este
Continuou hoje a greve. Durante o dia
telegrafou ao Doutor Chefe de Polícia,
houve conflito entre empregados da
pedindo um reforço de praças, capaz
Companhia Industrial e grevistas que
de abafar qualquer conflito que se
os queriam impedir a trabalhar. Houve
pudesse dar. A Associação Comercial
tiroteio; dez ou onze ferimentos leves.
telegrafou também ao Doutor
A polícia dispersou-os e prendeu os
Governador do Estado, pedindo
cabeças agressores. A cidade está calma
providências e comunicando que, com
agora de dia; o comércio e repartições
a greve, o comércio de exportação fora
públicas fecharam-se. O chefe de
completamente paralisado. Em vista
polícia amanhã garantira o trabalho aos
destes fatos o Doutor Chefe de Polícia
não grevistas. Dispõe atualmente de
seguiu para Santos e de lá requisitou
duzentos e trinta praças bem armadas,
um esforço de permanentes e do 10º
que serão distribuídas nos pontos
Regimento. Logo depois partiram em
principais da greve. Espera-se que tudo
trem especial 80 praças. Entretanto a
termine amanhã.
greve continuava a generalizar-se. Aos
trabalhadores da prancha havia-se já
reunido todos os operários do cais, os
do cemitério, os do matadouro, os das
obras particulares.
As três horas da tarde os grevistas
percorreram as ruas em grandes
magotes, alarmando a população.
Consta que se projetava um ataque a
Alfandega e a mesa de renda, o Doutor
Chefe de polícia mandou fechar
aquelas repartições e tomou logo
outras medidas que o caso exigia. A
guarnição do vaso de guerra Primeiro
de Março foi posta de prontidão para
desembarcar em caso de necessidade,
devendo então ser auxiliada pelas
praças do destacamento e pelo reforço
que partira desta capital e que chegou à
gare de Santos depois das 3 horas.

Página 1
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Correio Paulistano
São Paulo, 16 de maio de 1891.
Edição 10.404
Página 2
A Greve em Santos
Recebemos ontem...
Santos, 15 – Todos os trabalhadores
em greve. Chefe de Polícia vem com
força. Luiz Mattos.
Santos, 15 – A greve está ameaçadora.
Tentativas de assalto são realizadas. A
Alfandega e bancos estão fechados,
bem como os armazéns da Estrada de
Ferro Inglesa. Grandes magotes de
grevistas rodam pelas ruas precedidos
de uma bandeira intimando não
apresentarem ao trabalho amanhã.
Tendo sido assaltadas as obras do cais,
foram suspensas. O Chefe de Polícia
veio de manhã com o Secretário e três
ordenanças. Apenas viu tudo sem
poder fazer nada, por ser
imprevidente. Consta que à tarde chega
força, o que tem sobressaltado a
população. A polícia é censurada. Há
paralisação completa e o número dos
grevistas sobe a 2000. O Nacional.
Ontem à 1 hora da tarde seguiu para
aquela cidade uma força de 100 praças,
comandadas pelo Capitão Jesus e mais
três oficiais.
Correio Paulistano
São Paulo, 17 de maio de 1891.
Capa
Edição 10.405
A Greve em Santos
Em aditamento aos telegramas que
ontem publicamos lemos nos jornais
daquela cidade mais os seguintes
pormenores: Há dias que aquela
cidade presencia senas desagradáveis.
Há muitos dias que a população está de
sobreaviso, motivada essa exaltação
pelos boatos que corriam
insistentemente de que a greve tomaria
proporções enérgicas. A vista disso a
Associação Comercial as autoridades
do lugar e muitos Diretores da
Companhia telegrafaram aos Senhores
Governador e Chefe de Polícia.
Reuniu-se a Associação Comercial e
deliberou levar ao conhecimento da
autoridade superior o que se passava:
os prejuízos que estava tendo o
comércio pedindo garantias de modo a
voltar o trabalho a normalidade de
sempre. A essa reunião assistiram o
Delegado de Polícia, representantes da
imprensa local e os jornais fizeram
público o que aí se passou.
Os grevistas não encontrando a menor
resistência conseguiram afastar do
trabalho grande número de
trabalhadores. Circulando a notícia de
que pela manhã de anteontem ali
chegaria o Doutor Chefe de Polícia,
acompanhado de força a população
confiou nessa previdência do governo.
Mas grande foi o desapontamento do
povo e das classes prejudicadas quando
viram desembarcar apenas o Chefe de
Polícia, com o seu Secretário e
ordenança. Os grevistas logo souberam
do ocorrido e já se reuniram
ameaçadores, em vários pontos. Ao
meio dia ocorreu na Rua 15 de
Novembro a notícia de que os
trabalhadores das pedreiras da
empresa do cais incorporados em
número superior a 200 caminhavam
em direção à cidade, forçando os que
encontravam ocupados em obras em
construção e pedreiras a acompanha-
los; o nosso repórter, momentos
depois, confirmava essa notícia.
Seguiram pelas Ruas de S. Francisco,
São Leopoldo, S. Bento, Largo de
Monte Alegre, mais de 400 homens,
obrigando aos operários que
encontravam em serviço a largar o
trabalho, com ameaças e espancando-
os quando estes não aderiam e não se
incorporavam a eles. O número de
grevistas crescia extraordinariamente.
As 3 horas era já superior a 600
homens; armados de paus, revólveres,
alavancas, facas, navalhas, descansos de
carroças, etc.
O boato alarmante foi chegando ao
centro da cidade e as 2 horas mais ou
menos na Rua 24 de Maio, um grupo
superior a cem dirigiu-se às obras do
cais, armados, tendo à frente bandeiras
brancas e vermelhas, em gritos, em
vozerio. O mesmo grupo dirigiu-se ao
escritório do órgão do governo onde
estava o Chefe de Polícia e aí declarou
categoricamente que não fazia
desordens, mas que não consentiria
que os demais trabalhassem. Em
seguida, dirigiram-se para os lados de
Itororó, passando no Edifício da
Escola da 3ª Cadeia Pública, onde
conferenciou com os grevistas o
Senhor Carlos Escobar, aconselhando
que fossem prudentes. Seguiram então
para a Rua de S. Francisco e
acometeram os empregados da
Industrial de Santos, travando-se um
tiroteio entre as duas forças, houve
muitos tiros, pedradas, navalhadas,
ficando feridos alguns indivíduos.
Avisada a autoridade compareceu ali
uma força de 32 praças, sob o
comando do Senhor Capitão Carvalho,
Comandante do Destacamento.
Página 2
Edição nº 666
A força formou à distância, em linha e
os grevistas em grande número
internaram-se pelas matas do Monte
Serrat. Na ocasião em que chegou à
força foram indigitados como chefes da
revolta os indivíduos Fernandes Ruas,
espanhol, que se achava armado de um
revólver ainda com algumas capsulas
descarregadas há pouco e João
Carvalho da Motta, português, de 20 e
poucos anos. Foram presos e
apresentados ao Chefe de Polícia. A
primeira hora da tarde como fosse
grande o número de grevistas pelas
imediações dos armazéns da Estrada
Inglesa, atacando carretões e
espancando os carroceiros, resolveu o
Chefe da Estação suspender o
trabalho, fechar os armazéns e colocar
a seguinte inscrição em uma tabuleta:
“Em consequência de força maior está
suspenso o recebimento de
mercadorias nesta estação”. Às 2 horas
da tarde estava fechado todo o
comércio. A Alfandega fechou a 1.1/2
da tarde. A Mesa de Rendas fechou e
suspendeu os trabalhos ao mesmo
tempo. O Chefe de Polícia pediu o
auxílio da tripulação do Cruzador
Primeiro de Março, ancorado naquele
Porto. O Comandante recusou-se visto
como necessitava de ordem superior a
qual chegou mais tarde, ficando aquele
cruzador no posto até nova ordem. A
força de cem praças chegou aquela as 5
e 45 minutos da tarde. O Diário de
Santos e O Nacional escreveram que
causou péssima impressão a população
de Santos a chegada do Doutor Chefe
de Polícia aquela cidade sem que
levasse forças apesar dos constantes
pedidos da Associação Comercial e
outras pessoas. O comércio sofreu
enorme prejuízo conservando-se
paralisado, não efetuando transações,
estando fechados todos os Bancos e
parado o comércio de exportação e
importação. Aqueles dois ilustrados
colegas atribuem sensatamente esses
prejuízos sofridos pelo comércio a
pouca consideração que o poder
competente do Estado ligou as
reclamações da importante classe
comercial daquela cidade.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
O Estado do São Paulo
São Paulo
17 de maio de 1891.
Edição nº 4.863 Ano XVII
Capa
Greve em Santos
De uma desenvolvida notícia publicada
pelo Diário da Manhã sobre a greve
operária de Santos, extraímos com
devida vênia os seguintes trechos:
“Logo que chegou a Santos, o Doutor
Pedro Lessa conferenciou largamente
na redação do Diário da Manhã com o
Senhor Delegado e demais autoridades
locais, dirigindo-se depois a Praça do
Comércio, onde conferenciou com os
seus diretores que haviam telegrafado
ao governador, pedindo providências,
e aos quais declarou estar enfronhado
nos fatos que se passavam e haver
pedido para São Paulo uma força de
100 praças que viesse garantir a ordem
e a liberdade do trabalho. Nesse
momento soube-se que os empregados
da Companhia Industrial unidos aos
grevistas da véspera, formando
magotes compactos, cruzavam as ruas
da cidade, conduzindo bandeiras
vermelhas içadas no topo de altos
bambus, soltando exclamações, ao
passo que impediam o serviço dos
camaradas em todas as obras e
pedreiras, mesmo as de propriedade
particular, e que os camaradas, assim
coagidos, incorporavam-se a grande
massa dos proletários sublevados. Ao
meio dia invadiu o grupo os armazéns
da São Paulo Railway, obrigando o
Chefe da Estação a fecha-los, pelo que
ficou totalmente paralisado o serviço
de saída de cafés e entrada de
mercadorias. No pátio da estação
subdividiu-se o grupo, indo parte para
as respectivas casas, e parte,
incorporadas, penetrou nas obras do
cais, pelos fundos do telegrafo
nacional. Ai chegados tentaram
levantar os trilhos por onde corre a
locomotiva que conduz pedras, e
quiseram arrombar o portão que fecha
o recinto na Travessa do Carmo, sendo
dissuadidos de ambos os intentos por
pessoa do povo que lhes aconselhou
calma e prudência, convidando-os ao
mesmo tempo a vir até esta redação
onde se achava o Chefe de Polícia, a
espera de oportunidade para se
entender com os maiorais do
movimento. Veio então o grupo, já
reduzido a cem trabalhadores, aos
quais, porém, se ligou, em frente a
nossa redação, um outro grupo que
vinha dos lados da Rua da Penha.
Todos conduzindo bandeiras e grossos
cacetes, levantaram vivas a nossa folha,
e se conservaram na expectativa
aguardando o resultado da conferência
que uma comissão de três deles estava
tendo com o Doutor Pedro Lessa. Esta
autoridade, com louvabilíssima
prudência, fez ver aos revoltosos que a
sua missão em Santos era toda de paz
que não de provocação; que o novo
Código Penal não considerava crime a
greve dos trabalhadores desde que ela
sempre conservasse em atitude
pacifica; que os operários não deviam
temer a intervenção da autoridade,
uma vez que não promovessem
conflitos, mas que, se eles,
arbitrariamente impedissem
camaradas que desejavam trabalhar de
prosseguir no seu serviço, e se fizessem
desordens, ele ver-se-ia obrigado a
intervir severamente no movimento,
reprimindo os desmandos dos
grevistas. A comissão protestou que
não promoveriam os proletários
nenhuma desordem; que
conservariam tão somente arredados
do trabalho, em plena paz até que
fossem atendidos. Sendo esta comissão
composta apenas de empregados de
uma das pedreiras do cais, o Doutor
Pedro Lessa marcou para as 3 horas da
tarde uma nova conferência em nosso
escritório, com uma comissão
composta de membros dos diferentes
grupos de trabalhadores. Nesse
momento o grupo que estacionava em
frente ao Diário da Manhã começou a
destruir os andaimes das obras da
Notre Dame de Paris, exigindo que os
obreiros largassem o serviço. Graças à
intervenção de várias pessoas do povo,
os trabalhadores acalmaram-se, e se
retiraram em ordem, aguardando a
hora da nova conferência.
Nisto o administrador das oficinas
Mayrink apareceu, denunciando ao
Chefe que um troço de trabalhadores
ameaçava de invadir as referidas
oficinas, para obrigar a largarem do
serviço os operários que lá
trabalhavam. Foram imediatamente
dadas as precisas providências. Pouco
antes de se dirigirem os grevistas para o
nosso escritório, o Senhor Delegado
Porchat, tendo comunicação de que
eles pretendiam assaltar o edifício da
alfandega, dirigiu-se a esta repartição e
participou ao inspetor a informação
que obtivera. Foi prontamente
ordenado o fechamento da repartição,
participando o Senhor Inspetor o
ocorrido a tesouraria de Fazenda de
São Paulo. Foi posta de prontidão uma
força de remeiros e guardas da
alfandega, que, coadjuvados por força
de polícia, guardaram o edifício.
Página 3
Edição nº 666
A Mesa de Renda também fechou as
suas portas, sendo informado disso,
pelo respectivo administrador interino,
o tesouro do estado.
Do Diário da Manhã dirigiu-se o
Doutor Chefe de Polícia ao quartel,
onde teve uma conferência com o
comandante do cruzador Primeiro de
Março, a quem pediu auxílio de bordo,
desde que obtivesse licença do
Ministro da Marinha a quem ia
telegrafar nesse sentido. O comandante
respondeu que também telegrafaria e
que estava pronto a auxiliar a
autoridade logo que tivesse ordem do
ministro. Nesse sentido foram
despachados telegramas ao Ministro da
os
Marinha e ao Governador do Estado.
Acabava essa conferência, quando pelo
telefone foi cientificada a polícia de que
nas pedreiras da Industrial os grevistas
promoviam grande conflito.
Efetivamente, um grupo de grevistas,
superior a 200, haviam-se dirigido a
Cocheira da Industrial, em frente
se
mesmo a pedreira, aí chegaram
intimaram os carroceiros a não
continuarem no serviço do aterro.
Declararam estes – que eram apenas
em número de 20 – que não se
conformavam com a imposição e que
não aderiam a greve, os insurgentes
agrediram-nos violentamente a tiros de
revólver e garrucha, sendo repelidos
com energia a pedradas, pelos vinte
carroceiros. Travou-se então um
vivíssimo tiroteio de parte a parte,
sendo pelos grevistas disparados mais
de 200 tiros. Ficaram feridos:
José Verissimo da Silva, administrador
da cocheira, que apanhou uma
pedrada no peito;
Caetano de tal, carroceiro, que ficou
baleado numa das pernas;
Lemos, carroceiro, que tomou uma
pedrada no braço direito;
Domingos Marquis, carroceiro, que
ficou baleado no pé;
Rozendo Esteves, que foi ferido com
bagos de chumbo na região peitoral
esquerda;
Um trabalhador cujo nome não
conseguimos obter, que recebeu na
nuca um profundo golpe de navalha;
Um outro, que levou um talho de faca
no peito;
Além desses há vários outros feridos
cujo nome não foi possível sabermos;
Todos os feridos foram medicados na
Farmácia Galeno, pelo Doutor Manoel
Maria Tourinho.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Na Farmácia Silva Pinto, a Praça José
Bonifácio, foi também medicado um
português ferido com navalhadas no
rosto e no lado esquerdo do abdômen.
Avisada a polícia, todas as autoridades
se dirigiram para o lugar do conflito,
acompanhadas de uma força de 32
praças, sob o comando do capital
Carvalho. Logo que os avistaram, os
agressores refugiaram-se às pressas nas
matas do Monte Serrat, ficando
muitos, em grupos compactos,
sentados nos barrancos, a observarem,
de lá do alto, o que se passava cá por
baixo. Foram intimados a se dispersar
os grupos que restavam, sendo nessa
ocasião presos: o cidadão Fernando
Ruas, que muitas pessoas viram dar
tiros, e em seguida atirar para o
capinzal do Itororó a garrucha, que foi
logo encontrada; e o cidadão José
Carvalho do Amor, por obstar-se a
prisão do outro e ser indigitado como
um dos desordeiros. Em seguida o
Senhor Subdelegado do Oeste, José
Moreira de Sampaio foi fazer auto de
corpo de delito nos feridos, enquanto a
força conduzia os presos para a cadeia,
com ordem de fazer fogo sobre quem
quer que quisesse obstar a prisão deles.
As 5 e 45 minutos da tarde chegou a
esta cidade o trem especial (que sairá
de São Paulo as 2 e 10!) conduzindo
100 praças de polícia, municiadas, sob
o comando do Capitão Jesus, ao qual
acompanhavam os Alferes Simão e
Claudio. Vieram também o Tenente
Ozorio, os nossos colegas José Maria
Lisboa Junior, correspondente do
Jornal do Comércio, e repórter do
Diário Popular; e Nabor Mattoso,
repórter do Estado, especialmente
incumbidos de noticiar aquelas folhas
os fatos que aqui se davam. Foram
distribuídas patrulhas pelas empresas
ameaçadas de ataque e pelas
repartições públicas.
À noite recebemos do Rio o seguinte
telegrama do nosso ativo
correspondente:
Rio, 16.
Segue hoje para Santos o couraçado
Bahia levando 50 fuzileiros navais para
desembarque.
Amanhã seguirá para o mesmo porto
cruzador Liberdade, conduzindo 25
fuzileiros para desembarque.
A chegada do nosso repórter que fora
a Santos tivemos mais as seguintes
informações sobre a greve:
Anteontem, as 9 ½ da noite, o Senhor
Pedro Lessa, Chefe de Polícia, recebeu
do governador do estado um
telegrama, participando-lhe que o
Ministro da Marinha dera permissão
para que ficasse a sua disposição as
praças de guarnição do cruzador
Primeiro de Março.
Os fatos do dia de ontem foram estes:
Ao amanhecer o Capitão Jesus
comandante da força que daqui partira,
distribuiu patrulhas, completamente
municiadas pela Rua Xavier da Silveira,
onde era maior a aglomeração de
grevistas, e pelas outras todas.
As 8 horas o Doutor Chefe de Polícia,
acompanhado pelo comandante da
força e o Delegado de Polícia, dirigiu-
se a todos os grupos de grevistas que
concentrava, ordenando-lhes que se
dispersassem para não perturbar o
serviço dos que queriam trabalhar.
Soube-se então que os estivadores e
empregados da Companhia de
Curtumes da Vila Nova haviam
aderido à greve.
Os primeiros exigiam aumento de
20$000 em cada mil sacas que
embarcassem.
Três horas depois soube o Doutor
Chefe de Polícia que os empregados da
Companhia do Caís, que trabalham na
Pedreira e aterro do Jabaquara,
estavam armados de dinamite e
promoviam desordens. Imediatamente
em um comboio, cedido pela
companhia referida, partiram para lá o
Chefe de Polícia, Delegado e mais
autoridades locais, levando consigo
uma força do Primeiro de Março,
composta de 34 praças, e comandadas
pelo Tenente Pio da Silva Torelli.
Ai chegando foi garantida a liberdade
de trabalho aos que não aderiram à
greve, fugindo os turbulentos. A força
apesar disso, ficou posta ali para
impedir distúrbios.
O Chefe de Polícia logo que voltou a
cidade fez distribuir forças para a
Alfandega, Companhia do Cais,
Estrada de Ferro, Serraria Mayrink,
Mesa de Rendas e em outros lugares
onde a ordem podia ser alterada.
Desde então entrou a cidade em
tranquilidade, grande parte dos
paredistas voltou ao trabalho, e
começou o embarque de café.
Página 4
Edição nº 666
Calcula-se em 4.000 o número de
trabalhadores que ainda sustentam a
parede, mantendo atitude pacifica a
maior parte.
Numa greve anterior a esta a polícia
conseguiu acalmar os trabalhadores,
conseguindo para estes, aumento de
salário, o que não aconteceu agora.
Os paredistas pertencem às seguintes
empresas:
Companhia do Cais, Empresa
Mayrink, Estrada de Ferro,
Companhia de Transportes,
Companhia de Curtumes da Vila
Nova, mas o seu maior número são
trabalhadores de pranchas a que
aliaram os estivadores.
As 4 e 25 da tarde voltou para esta
Capital o Doutor Pedro Lessa,
acompanhado pelo Tenente Arthur
Osório, que daqui seguira como seu
ajudante de pessoa, ficando toda a
força à disposição do delegado local.
Sua Senhoria parte amanhã outra vez
para Santos.
Correio Paulistano
19 de maio de 1891.
Capa
Edição 10.406
Greve em Santos
Consta-nos que tendo o Doutor Chefe
de polícia recebido ontem à noite um
telegrama de Santos no que se dizia
que a greve havia reaparecido, segue
hoje para aquela localidade pelo trem
da manhã aquela autoridade.
Página 2
Parte hoje para Santos o Senhor
Francisco Amaro, digno vice-
presidente do Centro do Partido
Operário desta Capital e Deputado ao
Congresso Paulista, a fim de tratar dos
interesses dos operários grevistas
daquela cidade de acordo com a União
Operária Santista.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Correio Paulistano
São Paulo, 19 de maio de 1891.
Página 2
Edição 10.406
A Greve em Santos
Sábado e domingo nada ocorreu na
cidade de Santos. A polícia apenas deu
cerco no Jabaquara, onde foi preso um
indivíduo. Pela manhã às dez horas
mais ou menos seguiu na máquina de
conduzir terra, em companhia do
Doutor Souza, Engenheiro das Obras
do Cais, o Chefe de Polícia,
acompanhado de uma força que
desembarcou do cruzador “Primeiro
de Março”, composta de 30 Praças, sob
o comando do 1º Tenente Pio Torelli,
até o barracão onde são alojados os
trabalhadores daquela empresa, na
Vila Mathias. Chegando ao alojamento
o Chefe de Polícia intimou os
indivíduos que não pretendiam voltar
ao trabalho a retirarem-se; quase todos
recomeçaram o serviço, somente cinco
ou seis, recusaram-se, alegando
ganharem pouco. A força permaneceu
aí, até a noite; regressando à cidade as
autoridades, empregados e Albino
administradores das obras do cais.
Os trabalhadores da estiva exigiam
mais salário para pegarem no trabalho.
Durante o dia foi diminuto o
movimento de carga e descarga dos
navios surtos no porto. O Delegado de
Polícia prendeu os principais autores
da greve que, segundo consta, serão
deportados.
Parte hoje para Santos o Senhor
Francisco Amaro, digno Vice-
Presidente do Centro do Partido
Operário desta capital e Deputado ao
Congresso Paulista, a fim de tratar dos
interesses dos operários grevistas
daquela cidade de acordo com a União
Operária Santista.
O Estado de São Paulo
São Paulo
19 de maio de 1891
Edição nº 4.864 Ano XVII
Capa
Greve
Além dos feridos durante os últimos
conflitos em Santos, já noticiados por
nós, há ainda os seguintes, segundo
relata o Diário da Manhã:
“Joaquim Maria, espanhol, empregado
na Pedreira do Jabaquara, que recebeu
duas facadas, uma no abdômen e outra
nas costas. O seu estado é muitíssimo
grave.
José da Costa Seraphim, empregado na
pedreira das Duas Pedras, ferido com
um golpe de navalha no pescoço,
quando se travou a luta frente ao
portão da Industrial. É também grave o
seu estado.
João Salgado, trabalhador de obras
particulares, baleado na coxa esquerda.
Foram todos eles medicados pelo
Doutor Eboli, sendo-lhes feito auto de
corpo de delito pela autoridade”.
Foram presos, como autores principais
das desordens na pedreira industrial:
Santos Danca, espanhol, idem, idem.
Antônio Miguel Raso, espanhol,
empregado do cais na pedreira do
Jabaquara;
Salvador Ramos, espanhol, idem dito;
Augusto Garcia, espanhol, empregado
do cais na pedreira das Duas Pedras;
Francisco Lopes, espanhol, empregado
na pedreira do Jabaquara.
Justino de Oliveira, português,
empregado na pedreira industrial;
Marques, português,
empregado na pedreira do Senhor
Paes da Costa;
João Moraes, português, empregado na
pedreira do Jabaquara.
Segundo os telegramas recebidos pelo
Doutor Chefe de Polícia, a greve
continuou ontem durante o dia, com
caráter pacifico.
Entretanto a diretoria da praça do
comercio recebera uma carta anônima,
ameaçando-a de fazer saltar o edifício a
dinamite.
Às 3 horas da tarde o Club Operário
realizou uma sessão à qual assistiu o
Delegado de Polícia Senhor H.
Porchat.
A 1 hora e 50 o Doutor Chefe de
Polícia recebeu o seguinte telegrama:
O Tenente Vinhaes a frente dos
grevistas pediu que fossem recolhidas a
força aos quartéis, garantindo a ordem
e responsabilizando-se pelos grevistas.
Mandei recolher a força deixando-a,
entretanto de prontidão. Ainda não há
necessidade de requisitar as praças do
cruzador 1º de Março.
H. Porchat, Delegado.
Página 5
Edição nº 666
À noite como não chegassem notícias
de Santos, o Doutor Chefe de Polícia
telegrafou para lá, recebendo as 7 horas
a seguinte resposta:
“Respondo telegrama agora recebido.
Durante a noite nem uma novidade,
parte do dia de hoje nada se deu, ao
meio dia chegou o Deputado Tenente
Vinhaes, que marcou conferencia para
as 6 horas da tarde. Os grevistas que
ainda não quiseram trabalhar
preparam-se para comparecer.
É possível que Vinhaes acalme a greve,
mas é provável então, caso não haja
combinação completa, que haja
conflito.
Apareceu na Praça do Comercio uma
carta anônima prevenindo-a de que
serão lançadas bombas de dinamite ao
estabelecimento, caso até 1º de junho
não haja aumento de salário. Até o
presente, 5 horas, nem um conflito. Os
grevistas não tem trabalhado,
conservando-se em expectativa,
reunidos em pequenos grupos. Não
houve embarque de café. A força está
de prontidão. Depois, conferencia
darei resultado.
Fala-se que carroceiros e cocheiros
declarar-se-ão em greve, não há visos
de verdade.”
Capitão Jesus
Correio Paulistano
Capa
São Paulo, 20 de maio de 1891.
Edição 10.407
A Greve em Santos
O Nacional publicou o seguinte sobre
a greve naquela cidade:
“Todos se iludiram, todos que
julgavam que a greve estava terminada
– que ontem se recomeçaria em paz o
serviço comercial da cidade,
paralisando há muitos dias, com
gravíssimos prejuízos para a praça.
Diversos vapores tem saído sem carga,
por falta de trabalhadores. A força aqui
destacada para garantir o trabalho aos
que quisessem trabalhar, foi ontem
desde cedo distribuída pelos diversos
pontos que constituem na cidade os
centros de trabalho. Entretanto tudo
continuou como nos dias anteriores e
nenhum serviço se fez, mantendo-se os
grevistas a sua atitude.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Segundo nos consta chamado na
qualidade de Chefe do Partido
Operário, o Senhor Tenente José
Augusto Vinhaes, veio do Rio, para
ouvir as razões dos grevistas e
aconselhar-lhes a medida que mais se
adequasse com as circunstâncias do
momento. Disseram-nos que logo de
manhã na Rua Xavier da Silveira,
tendo-os ouvido, o Senhor Tenente
Vinhaes lhes fez ver que absolutamente
não deviam trabalhar enquanto seu
pedido de aumento de salário não lhes
fosse satisfeito. Mais tarde, porém, o
Senhor Tenente Vinhaes julgou que
devia ouvir as opiniões do comércio e
dirigiu-se então a Associação
Comercial, que estava justamente
funcionando com uma concorrência
numerosa, tratando de assuntos
referentes ao pagamento em ouro.
Antes, porém, responsabilizando-se
pela ordem o Senhor Vinhaes obteve
do Senhor Delegado Porchat o
recolhimento das patrulhas a quartéis.
Na Praça do Comércio ouviu o Senhor
Vinhaes dos comerciantes mais
distintos e mais importantes da cidade
a exposição fiel e justificada dos fatos, a
falta de razão do lado dos
trabalhadores e os grandes prejuízos
advindos a cada um, a todos, ao Estado
e ao país, como consequência imediata
das ocorrências destes últimos dias. E
o Senhor Tenente Vinhaes que ali se
achava como intermediário entre o
operário e o exportador a fim de ver se
estabelecia um moduz vivendi que
viesse pôr termo a crítica situação
comercial da praça, - aceitou com
louvável critério as verdades que
ouviu, achou que faltavam as bases da
revolta contra o salário estabelecido, e
prometeu que as seis horas da tarde
teria uma conferência com os chefes da
parede, conferência em que,
mostrando-lhes a sem-razão do seu
procedimento, os aconselharia a voltar
ao trabalho, de que são distintos
representantes na cidade de Santos.
Entretanto durante o dia a paralisação
foi completa e grupos numerosos de
grevistas andavam pelas ruas centrais,
postados uns aqui, outros acolá em
atitude de quem espera qualquer coisa.
O receio ainda não desapareceu da
consciência da população que, ao seu
labutar, assistiu em diversos postos
diversas disputas, palavras
ameaçadores, pequenos começos de
rolos que felizmente não se deram.
Consta que à Associação Comercial foi
enviada uma longa comunicação
manuscrita e anônima, em que se
garantiam várias coisas feias em nome
dos trabalhadores sendo entre elas uma
das menores – a continuação da greve
enquanto os patrões se não resolverem
a aumentar o salário. Essa
comunicação anônima apenas como
fonte de informações foi enviada a
polícia única competente para
providenciar e manter a ordem sempre
que for preciso.
Correio Paulistano
Página 2
São Paulo, 20 de maio de 1891.
Edição 10407
Santos
O nosso estimável colega do Diário
Popular recebeu ontem os seguintes
telegramas sobre a greve:
Santos, 19, 2 da tarde.
“A notícia de ter chegado o “Bahia” e
“Liberdade”, foi espalhada para
amedrontar os desordeiros. Esses
vasos são esperados hoje.
Esta manhã houve um pequeno
conflito na Rua Xavier da Silveira, no
ponto de embarque de café. Esse
serviço até agora está inteiramente
paralisado. Os grevistas ameaçam
ocultamente aqueles que trabalharem.
Chegou o Chefe de polícia que,
acompanhado das autoridades locais,
foi até a Rua Xavier da Silveira, onde
estava o Tenente Vinhaes, que
aconselhava os grevistas solidariedade
e completa liberdade de trabalho.
Vinhaes pediu a retirada da força,
responsabilizando-se pelos fatos da
Alfandega. Mesa de Rendas, que
estavam funcionando. No momento
em que o Doutor Chefe de Polícia
voltava da Rua Xavier da Silveira, foi-
lhe comunicado pelo gerente da Casa
Wanshaffe que esta noite forçaram a
porta do depósito que aquela casa tem
na Bocaina, no outro lado da baía, e
onde existem 400 caixas de dinamite.
Um empregado que dorme no
depósito amedrontou os assaltantes
disparando tiros. A cidade está em paz.
Os grupos de trabalhadores percorrem
as ruas centrais em atitude ordeira.
Página 6
Edição nº 666
Santos, 19, 4 horas da tarde.
Quintino Lacerda, chefe dos
trabalhadores das pedreiras do
Jabaquara prometeu ao Doutor Chefe
de Polícia arranjar até amanhã cedo de
80 a 100 homens para o serviço de
embarque de café. Uma força de 100
praças distribuídas nos pontos de
embarque garantirá esse serviço. O
Comandante do Cruzador Primeiro de
Março recebeu ordem para fornecer
um escaler com marinheiros nacionais
para garantir o Depósito de Rodolpho
Wanschaffe, assaltado na noite de
ontem. O escaler durante esta noite
rondará as imediações daquele lugar.
Pelo trem da tarde segue para essa
Capital o Chefe de Polícia. Está aqui o
Deputado ao Congresso deste Estado,
Francisco Amaro, Chefe do Partido
Operário de São Paulo.
Está se orientando de todos os fatos e
pretende trabalhar de acordo com a
União Operária de Santos, que foi mal
recebida ontem pela Diretoria da Praça
do Comércio. Reina completa paz na
cidade. Consta que o Tenente Vinhaes
vai novamente conferenciar com a
Diretoria da Praça do Comércio.
Santos, 19, 4 ½ da tarde.
O Tenente Vinhaes, confiado na
imunidade de Deputado Federal, anda
por toda a parte, no meio do seu povo
que é estrangeiro a discursar contra os
paulistas.
Neste momento na Culty, após
vociferações suas e contestações
enérgicas do Doutor Vicente de
Carvalho, o Tenente Vinhaes insultou
o Cidadão Quintino de Lacerda que
ofereceu gente para substituir os
grevistas.
Vinhaes foi obrigado a fugir para outro
local, sob pena de ser desatacado.
Há grande indignação contra ele, a
quem se atribui a relutância dos
grevistas.
Enorme multidão de povo apinha-se
na Rua 15 de novembro.
 1 de setembro de 2021
O Estado de São Paulo
São Paulo
20 de maio de 1891.
Edição nº 4.865 Ano XVII
Capa
Greve
A greve dos trabalhadores que estava
quase extinta, reapareceu novamente,
parecendo que contribuiu para isso a
notícia de ter chegado o Tenente
Vinhaes, Chefe do Partido Operário
do Rio. O Tenente Vinhaes, chegou a
Santos no dia 16, hospedando-se no
Hotel do Globo, onde foi logo
cumprimentado por uma comissão da
União Operária. Nesse mesmo dia, as
7 horas da noite reunida a diretoria
dessa associação no edifício onde
funciona, expos o recém chegado os
fins que o traziam a Santos; desejava
por um termo a greve dos
trabalhadores procurando estabelecer
um acordo entre patrões e
empregados. Para obter o resultado
que se pretendia a diretoria nomeou
uma comissão composta dos cidadãos
Antônio Militão de Azevedo, Manuel
Duarte de Almeida, Elias Pinto
Ribeiro, João Braz de Azevedo, e
Palião Lopes da Silva, servindo de
presidente o Senhor Vinhaes.
Os fatos de anteontem nós já demos
resumidamente. Pedimos, porém,
permissão ao nosso distinto colega
Diário da Manhã para transcrever a sua
desenvolvida noticia:
“Ontem, constando que os grevistas, já
reanimados com a presença do chefe
dos operários, pretendiam perturbar o
trabalho dos ensacadores de café na
Rua de Santo Antônio, vários
comerciantes pediram a polícia o
necessário auxilio sendo então postada
naquela rua uma força de 50 praças
municiadas que foram distribuídas em
grupos. Os ensacadores de café,
porém, parece que amedrontados com
a notícia do projetado ataque dos
grevistas, não compareceram aos
armazéns, pelo que ficou o serviço
quase parado.
A Casa Lacerda, querendo embarca
café, arranjou 50 homens, e enviou a
mercadoria para o ponto de embarque,
mas um grupo de grevistas impediu
que entrassem a bordo mais de 4 sacas.
Nessa ocasião não havia força
nenhuma naquele local, visto que a
autoridade para experimentar a
disposição dos grevistas evitará destacar
polícia para ali aguardando os
acontecimentos.
Boletim Operário
Em vista, pois, da atitude que
assumiam os grevistas foi mandada
para os quartéis uma força de
cinquenta praças municiadas que foi
distribuída por toda a extensão do cais
de embarque. As Casas Auguste Leuba
& Comp., Hard, Rand e outras que
quiseram também embarcar café, não
o conseguiram, porque o seu pessoal,
receando conflitos retirou-se todo.
Pouco depois do meio dia o Senhor
Vinhaes, acompanhado da Comissão
da União Operária, dirigiu-se aos
quartéis e aí conferenciou com os
estivadores e trabalhadores de prancha
em greve. Quando com eles
conferenciava, um cidadão do povo,
que o não conhecia e que tinha ouvido
falar da sua chegada, referiu-se a Sua
Senhoria de forma pouco lisonjeira o
que deu em resultado uma áspera troca
de palavras entre ambos. O Senhor
Vinhaes, exasperado com a discussão,
chegou a gritar que ali ninguém mais
trabalhava e que rebentaria a cabeça do
primeiro que se atrevesse a pegar no
serviço. Isto captou-lhe para logo a
adesão incondicional daqueles pobres
trabalhadores que, a falarmos com
franqueza, andam nesta questão toda
oscilando para todos os lados, sem
saberem bem o que desejam, ora
pacificando-se ora exaltando-se,
concedendo um pouco agora, exigindo
mais daí a um pouco.
Dos quartéis, o Senhor Vinhaes,
acompanhado da comissão e de um
grande número de trabalhadores, veio
até a Praça do Comércio a entender-se
com a sua diretoria. Os grevistas, nessa
ocasião, invadiram com grande
algazarra o recinto da Praça, pelo que
um dos seus sócios manteve uma
desagradável discussão com o Chefe do
Partido Operário. Este, para evitar
acontecimento de maior vulto, pediu
que os revoltosos evacuassem a sala, o
que se deu, estacionando todos na rua
em frente ao edifício. Conferenciando
com os diretores da praça, e grande
número de exportadores, estes lhe
declaravam que tinham firmemente
resolvido não ceder um ponto na
questão, pois, tendo cedido em duas
greves anteriores, parece que foi esse
precedente que animou os
trabalhadores a fazerem nova
imposição. Que trabalhadores há que
ganham nas épocas de safra perto de
30$000 por dia, e que pouco mais do
que isso gastam eles por mês, tendo,
portanto, margem para fazer não
pequenas economias. Que o comércio
fortemente onerado já com impostos,
não pode ceder ainda uma vez, mesmo
para evitar com a sua relutância futuras
imposições.
Página 7
Edição nº 666
O Senhor Vinhaes procurou convence-
los da necessidade de uma concordata
amigável entre as duas partes, mas o
comércio manteve inflexivelmente a
resolução de não atender aos grevistas.
Saindo à rua, o Senhor Chefe do
Partido Operário comunicou aos
trabalhadores o resultado da
conferência, e aconselhou-lhes calma,
e resistência passiva. Ao mesmo tempo
convidou-os para uma conferência a
noite no salão da União Operária.
Dirigiu-se em seguida ao cidadão
delegado de polícia, pediu-lhe que
retirasse aos Quartéis a força que lá
estava, pois que ela podia servir apenas
para excitar os ânimos. Declarou que
se responsabilizava pela manutenção
da ordem, sob sua palavra de honra. A
autoridade, acedendo ao seu pedido,
tomou o prudentíssimo alvitre de
mandar recolher a força ao quartel. A
especulação oposicionista, porém, não
deixou passar esse fato longe do
alcance das suas garras. Espalhou pela
cidade que o delegado obedecendo
covardemente a uma imposição do
Senhor Vinhaes, pelo que não faltaram
dichotes e censuras contra o critério da
digna autoridade. Desmentindo, no
entanto, a calunia oposicionista, o
Senhor Tenente Vinhaes, ao saber do
que corria, enviou-nos
espontaneamente esta declaração:
Ao Público
A última hora constou-me que corria
com certa insistência de que o digno
cidadão delegado Henrique Porchat
mandou hoje retirar a força das ruas
por imposição minha. Só indivíduos
menos refletidos poderiam aventar tal
proposição, pois a maneira sobremodo
cavalheiresca, e a retidão com que até
este momento há procedido o digno
delegado, não autorizam que se lhe
increpe de tal proceder. Julguei dever,
eu fazer público estas linhas a fim de
subtrair a autoridade insinuações
menos airosas.
Santos, 18 de maio de 1891.
- José Augusto Vinhaes
A tarde circulando o boato de que os
trabalhadores do caís pretendiam de
novo agremiar-se aos grevistas, o nosso
repórter procurou o engenheiro da
empresa Doutor Souza e pediu-lhe
informações a respeito. Foi-lhe
respondido que era infundado o boato,
pois que os trabalhadores, que de livre
vontade haviam tornado ao serviço, já
tinham chegado a um acordo e estavam
muito satisfeitos.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Pediu o Doutor Souza, que
afirmássemos também ser inexata a
notícia que corre de que Sua Senhoria
não paga ao empregado que se
despede antes do fim do mês os dias
que trabalhou. Disse também que
havia despedido 15 empregados,
cabeças da greve afastando assim para
longe dos trabalhadores esses
elementos de desordens. Às 7 horas da
noite realisou-se na União Operária a
anunciada conferência do Tenente
Vinhaes, que ocupando a tribuna cerca
de três quartos de hora, aconselhou aos
grevistas a mesma coisa que nós lhe
aconselhamos logo no princípio do
movimento: que se conservem, se
assim o podem, em atitude de
resistência passiva, mas não
provoquem desordens, nem impeçam
de trabalhar aos companheiros que
fogem a solidariedade da classe. O
vasto recinto da União Operária
achava-se repleto de operários e
comerciantes que aplaudiram com
entusiasmo o orador. Após a sua
conferência, foi lido o seguinte,
assinado pelos membros da comissão:
Ao Povo
A Diretoria da União Operária de
Santos com o fim de deliberar a greve
dos operários e trabalhadores, agitada
nesta cidade, resolveu nomear uma
comissão de alguns dos seus membros,
a fim de, como intermediária, fazer
chegarem em acordo, tanto patrões
como operários. O nosso intuito foi
baldado, porque os interessados, não
compreendo nosso fim, não chegaram
a um acordo. Nossa missão esta finda;
e a responsabilidade da greve correrá
por conta dos interessados. Na greve
não estão incluídos nenhum dos
agremiados a União Operária,
portanto nosso fim, que foi só de
conciliação, está findo.
A greve dos estivadores originou-se no
fato de quererem eles, uma vez que seja
aumentado o salário aos carregadores –
ganhar 70 réis por saca estivada, em vez
de 50 como atualmente. Desde que se
conserve, porém, o atual preço para os
carregadores, eles deixarão por seu
turno de solicitar aumento. A
Companhia Industrial despediu alguns
dos seus empregados, como cabeças de
movimento. Há mais de 50.000 sacas
de café no mercado, com ordem de
embarque, mas que não tem sido
carregadas por causa da greve. Se bem
que os jornais do Rio tenham noticiado
a saída dos vasos de guerra Bahia e
Liberdade essas embarcações ainda cá
não haviam chegado até anteontem a
meia noite.
A polícia prendeu ontem mais alguns
dos grevistas desordeiros. José Maria,
ferido na cocheira da Companhia
Industrial, tem melhorado.
O dia de ontem correu agitado. Logo
pela manhã circulou a notícia de que
tinham dado entrada no porto os vasos
de guerra esperados do Rio. Parece
que está notícia foi espalhada para
intimidar os desordeiros, porque nem
o Bahia nem o Liberdade até a tarde
tinham chegado. O comércio de café
esteve paralisado durante todo o dia, e
os grevistas ameaçavam ocultamente
aos que se dispunham a trabalhar. A
Rua Xavier da Silveira continua a ser
teatro de distúrbios. O Chefe de Polícia
teve comunicação de que durante a
noite fora assaltado o depósito da Casa
Wanshaffe do outro lado da Bahia,
onde há grande porção de dinamite.
Os assaltantes foram rechaçados por
um homem que dormia no
estabelecimento, que lhes disparou
vários tiros.
Por essa razão um escaler com força do
Primeiro de Março rondará pelas
imediações. Quintino de Lacerda,
chefe dos trabalhadores das pedreiras
do Jabaquara, ofereceu ao chefe de
polícia 80 a 100 homens, para o
embarque de café.
Esses trabalhadores serão garantidos
por 100 praças.
O Popular recebeu ontem, à tarde, o
seguinte telegrama:
“O Tenente Vinhaes, confiando na
imunidade de Deputado Federal, anda
por toda a parte, no meio do seu povo
que é estrangeiro a discursar contra os
paulistas. Neste momento na Culty,
após vociferações suas e contestações
enérgicas do Doutor Vicente de
Carvalho, o Tenente Vinhaes insultou
o cidadão Quintino Lacerda que
ofereceu gente para substituir os
grevistas. Vinhaes foi obrigado a fugir
para outro local, sob pena de ser
desacatado. Há grande indignação
contra ele, a quem se atribui a
relutância dos grevistas. Enorme
multidão de povo apinha-se na Rua 15
de Novembro.
A Cidade de S. Paulo publicou este
telegrama:
O comércio vai reunir-se na Praça
Comercial, tendo por fim esta reunião
pedir ao governo que seja intimado
para sair desta cidade o Tenente
Vinhaes. Acaba de dar-se um grave
conflito na rua 15 de Novembro. O
espirito público está muito
sobressaltado.
As notícias que recebemos a noite irão
publicadas na secção telegráfica.
Página 8
Edição nº 666
Página 2
Telegramas
Serviço Especial do “Estado de São
Paulo”
Santos, 19.
Mais de 1.200 pessoas, sendo na maior
parte negociantes, pediram hoje ao
Doutor Chefe de Polícia a retirada do
Tenente Vinhaes. Vinhaes seguiu para
São Paulo pelo trem da tarde, sendo
enormemente vaiado na estação.
Houve embarque de café. A cidade
está tranquila.
Santos, 19.
Vinhaes saiu daqui acompanhado por
um capoeira, conhecido por Bijou que
deve ser preso aí.
Chegaram os vasos Liberdade e Bahia.
Há esperanças de começar amanhã
trabalho.
Correio Paulistano
Capa
Edição 10.408
São Paulo, 21 de maio de 1891.
A Greve de Santos
A greve em Santos está circunscrita aos
trabalhadores do embarque de café.
No dia de anteontem a alfandega e
mesa de rendas funcionaram. Pela
manhã, foi esbofeteado pelos grevistas
um trabalhador que pegou no trabalho
de embarque da Internacional de
Santos, cessando incontinenti o
serviço. Pelas ruas continuavam os
grandes grupos de trabalhadores e, os
boatos corriam como sempre, dando
assunto a discussões. O prejuízo é
extraordinário. Junto a Praça do
Comércio, havia aglomerados mais de
100 operários. Nas Ruas Xavier da
Silveira e Quintino Bocaiuva
permaneciam também grandes grupos.
Entre os embarcadores, falou-se em
organizar uma turma de 250 homens
para o trabalho; estes, porém, só se
prontificavam a isso se lhes fosse
garantido, não serem agredidos.
Depois de organizada a referida turma,
consta que foram intimados pelos
grevistas a não fazerem o trabalho e
tiveram de recuar. Pelo comboio das 9
e 55 da manhã chegou à cidade o
Chefe de Polícia.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
O Tenente Vinhaes esteve anteontem
na Praça do Comércio e sobre ele
escreveu o Diário de Santos:
“O Tenente Vinhaes esteve ontem na
Praça do Comércio; aconselhou
solidariedade aos grevistas, mas quer
que sejam garantidos os que desejam
trabalhar.
Todos acreditavam que a presença do
Tenente Vinhaes concorresse para que
a greve nesta cidade acabasse de um
modo satisfatório para as partes
interessadas.
O seu prestigio de Deputado e
sobretudo, de Chefe do Partido
Operário tão afamado, dava direito a
uma tal expectativa.
Entretanto, assim não sucedeu.
Em vez de termos em Sua Excelência
um elemento conciliador para o
restabelecimento do trabalho, Sua
Excelência só conseguiu convencer a
maioria da nossa população pacata e
ordeira, que a sua permanência nesta
cidade pelos incidentes que provocou
só era prejudicial e pouco
tranquilizadora.
Assim pensando, a nossa Associação
Comercial deliberou ir em comissão ao
Senhor Doutor Chefe de Polícia pedir
a retirada do Tenente Vinhaes,
baseando seu pedido no incidente
havido entre aquele Deputado e o
conhecido Cidadão Quintino de
Lacerda, do qual não tivemos um
conflito a lamentar devido a
intervenção de vários cavalheiros
presentes.
O Senhor Doutor Chefe de Polícia
respondeu que já estava resolvida a
retirada do Tenente Vinhaes, o que a
nosso ver, foi uma medida de
prudência, espontânea ou não”.
A cidade chegou também em
Companhia do Doutor Chefe de
Polícia o Deputado ao Congresso deste
Estado, pelo Partido Operário, cidadão
Francisco Amaro. Estão organizadas
pelo cidadão Quintino de Lacerda,
turmas de homens de cor que deviam
ontem pegar no serviço. Deste modo
recomeçará o trabalho.
“A hora da partida do expresso havia
na gare da estação inglesa, grande
número de pessoas; seguia o Doutor
Chefe de Polícia, o Tenente Vinhaes e
uma parte da população que ali foi no
intuito de assistir naturalmente ao
conflito de que se falou e que se daria
na estação, por ocasião da partida do
comboio. As autoridades, prevendo
algum distúrbio, mandaram uma força
armada e municiada, que se acha
formada no Largo Monte Alegre.
Felizmente nada ocorreu de grave,
limitando-se o fato uma manifestação
de desagrado ao Tenente Vinhaes,
depois destes embarcado, quando o
trem ia sair. O resto da tarde correu
calmamente”.
A noite a força foi distribuída em
contingentes pelos pontos mais
ameaçados da cidade. Como
noticiamos ontem fundearam no porto
os vasos de guerra, Bahia e Liberdade.
Correio Paulistano
São Paulo
21 de maio de 1891.
Edição nº 10. 408
Página 3
Santos, 20 – A greve está terminada.
Devido às providências enérgicas,
muitos grevistas ofereceram-se para
voltar ao trabalho.
O Estado de São Paulo
São Paulo
21 de maio de 1891.
Edição nº 4.866 Ano XVII
Capa
Greve em Santos
São já tranquilizadoras as notícias
ontem recebidas da greve de
trabalhadores em Santos. A cidade
ficou pacificada e garantida a liberdade
de trabalho; os descontentes poderão
continuar a greve se a julgarem
necessária, contanto que não
perturbem a ordem, com preceitua a
lei vigente. Todos os cidadãos tem a
liberdade de reclamar ou protestar
contra qualquer coisa; mas para que
tenham força e possam agir com justiça
é necessário, é indispensável que
respeitem a opinião contraria e não se
oponham por meios violentos as
resoluções alheias. Há quatro dias,
quando voltou de Santos o Doutor
Chefe de Polícia, a cidade tinha ficado
em plena paz, e os grevistas haviam
prometido repegar no trabalho no dia
seguinte.
Página 9
Edição nº 666
Infelizmente, chegou a Santos o
Senhor Deputados José Augusto
Vinhaes que se diz Chefe do Partido
Operário com a intenção aparente de
acalmar os ânimos e resolver a questão;
mas com tal desazo procedeu, tais
argumentos expos, tão pacifica foi a sua
intervenção – que a greve extinta
recomeçou imediatamente, os ânimos
atingiram uma exaltação ainda não
vista, reiniciaram-se conflitos e o
trabalho ficou completamente
desorganizado. Com Chefes deste
quilata, com tais amigos ursos estará
bem aviada a classe operária. A Classe
Operária, pelo menos a do Estado de
São Paulo, tem no seu seio quem
dignamente a possa representar; não
precisa de quem tão desastrada e
ineptamente defenda os seus
interesses, incitando-a a desordem,
colocando-a fora da lei, sacrificando-a à
sua ambição de renome, fazendo dos
seus ombros escada para galgar
posições que porventura outros
méritos não justificariam. Porque, é
preciso que se saiba: o Senhor Vinhaes
nunca foi, não é operário, foi Tenente
da Armada e noticiarista d’O Paiz;
atualmente é diretor de um Banco
Operário e chefe do contestado partido
operário do Rio. A sua intervenção foi,
portanto, indébita na crise de Santos;
mas, assim mesmo indébita, poderia
ser tolerada se fosse conciliadora. Não
o foi, porém, como se viu e os fatos
sobejamente demonstraram.
O Senhor Vinhaes levou a Santos a
desordem e a luta, insultou cidadãos,
ameaçou trabalhadores pacíficos, e
terminou por fazer uma tristíssima
figura, desmoralizando, como alvo de
uma assuada e de uma vaia ao sair
expulso da cidade, a sua posição de
chefe. Enfim, é nestes desastres e
nestes tremendos fiascos que os
audaciosos incontestáveis podem
aprender um pouco de prudência que
depois os livre, pelo menos, do ridículo
que apupa os ineptos ou os
especuladores. As enérgicas e
acertadas providências do Doutor
Chefe de Polícia e das autoridades de
Santos, conseguiram da primeira vez
restabelecer a ordem, sem nenhuma
violência; a chegada do Senhor
Vinhaes tudo se alterou, houve
conflitos, e teria havido talvez uma luta
séria se não foram a calma, a prudência
e a energia daquelas dignas
autoridades, que, como tudo e todos
aconselhavam, trataram de eliminar
prontamente o elemento perturbador.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Agora, que tudo se acalmou de novo, o
trabalho da força pública em Santos
consiste em manter a ordem à custa de
quaisquer sacrifícios, deixando aos
carregadores a liberdade de
trabalharem ou não conforme os seus
interesses sem influência, má ou boa,
de quaisquer conselheiros intrusos que
mais atuam para si e para o país
poderá, empregar a sua atividade e a
sua filantropia. Mantenham-se as
autoridades nessa posição legal e terão
o aplauso de todas as classes laboriosas,
a que as agitações de rua prejudicam
sempre. Adiante transcrevemos do
Diário da Manhã, circunstanciadas
notícias das ocorrências de Santos.
Página 2
Greve
Extraímos do Diário da Manhã de
ontem:
“Com a chegada do Senhor Vinhaes,
conforme noticiamos ontem, a greve,
que parecera declinar notavelmente,
recrudesceu, assumindo um caráter
mais sério. Pela manhã a Casa de
Lacerda, a Companhia Internacional e
outras enviaram carretões com café
para embarque, mas não conseguiram
pôr a mercadoria a bordo porque logo
que os trabalhadores dispostos ao
serviço começaram a trabalhar os
grevistas cercaram-nos, impedindo-os
de prosseguirem na tarefa. Deu-se
então um pequeno conflito, do qual
resultou um dos grevistas pespegar
uma valente bofetada num dos
carregadores.
O receio apoderou-se dos demais
trabalhadores, ficando assim
interrompido o serviço.
Convém contar que, em vista da calma
que o Senhor Vinhaes aconselhará,
pedindo-lhes que não obstassem o
trabalho dos outros, o delegado de
polícia supôs que podia, continuar
ausente do caso a força de polícia.
Ficou, porém, demonstrado que, ou os
conselhos do chefe do partido operário
não produziram efeito no espirito dos
grevistas, ou então esse chefe ao passo
que a vista do público e da autoridade
formulava uma opinião, por detrás, às
ocultas fazia o seu plano de
desorganização. Pelo que vai exposto
no correr desta noticia fica provado
que o Senhor Vinhaes não cumpria
com um fito ilusório a comerciantes e
autoridades.
Pelo expresso da manhã chegou a esta
cidade, acudindo a um chamado
telegráfico o Senhor Delegado, o
Doutor Pedro Lessa, digno chefe de
polícia. Vieram com ele o Senhor
Vicente Reis, correspondente d’O Paiz
em São Paulo, e o redator principal
desta folha. Aqui chegando, Sua
Senhoria em companhia das
autoridades locais, dirigiu-se ao quartel
de polícia, onde depois de ciente do
que ocorria na cidade escreve e
entregou ao Senhor Delegado o
seguinte oficio:
“Quartel de Santos, 19 de maio de
1891.
Cidadão. – Tendo chegado a esta
cidade em data de hoje e tendo-me
informado dos acontecimentos que
aqui se tem dado, e das reclamações
que tem sido apresentada declaro-vos
que o que convém fazer por enquanto
é colocar todos os dias até que cessem
os receios de perturbação da ordem, a
força policial aqui estacionadas nos
pontos em que as possibilidades de
impedirem os trabalhos e ao caso de
qualquer grupo tentar impedir de fato
o serviço do embarque de café ou
qualquer outro, é prender
imediatamente os insubordinados e
recolhe-los a cadeia, fazendo fogo
sobre qualquer magote de pessoas que
tentem opor-se à prisão ou tomar os
presos – Santos, 19 de maio de 1891.
Assinado – o Chefe de Polícia Pedro
Lessa.
Daí Sua Senhora dirigiu-se para o cais,
onde o serviço de embarque estava
inteiramente parado. Fazia-se apenas o
serviço de descarga de navios, que
desde anteontem funciona com
regularidade.
Ali encontrou-se com o Senhor
Tenente Vinhaes que foi apresentado
pelo cidadão Porchat, e aquela
autoridade o chefe dos operários fez as
mesmas declarações que as havia feito
ao delegado e ao público.
Em seguida o Senhor Chefe
observando magotes de trabalhadores
parados, a eles se dirigiu, perguntando-
lhes se queriam trabalhar? Alguns
responderam negativamente, e outros
afirmativamente, acrescentando,
porém, que tinham receio de pegar no
serviço porque os grevistas
ameaçavam-nos de pancada.
Recolhendo-se a capitania do porto, o
chefe de polícia conferenciou
largamente com o respectivo capitão
sobre medidas a tomar com relação a
força naval, se fosse requisitada pela
autoridade.
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Edição nº 666
Quando voltava da capitania, ao passar
em frente a alfandega recebeu o chefe
uma comunicação verbal do
negociante importador e exportador
Senhor Rudolpho Wanaschaffe de
que, em à noite anterior um grupo de
grevistas tentara arrombar o depósito
de dinamite da casa de que é sócio
aquele comerciante, e que é situado do
outro lado da baia, quase perto ao da
Bocaina. Pressentido pelos
empregados que ali dormiam e que
dispararam uns tiros de revólver para o
ar, os grevistas puseram-se em fuga,
ganhando a nado o outro lado do
porto, quase no Paquetá. Então, o
Senhor Doutor Chefe de Polícia,
tomando em consideração a denúncia
requisitou por oficio do comandante
do cruzador Primeiro de Março que
dispensasse um escaler com quatro
praças para durante o dia e durante a
noite ficar de ronda perto do referido
deposito. Esse escaler lá ficou de vigia
toda a noite de ontem. Após haver
providenciado nesse sentido, veio o
Doutor Lessa ao Diário da Manhã de
onde telegrafou ao governador do
estado e ao Barão de Lucena,
comunicando-lhes o estado da cidade,
até aí de inteira paz. Querendo por um
termo definito à greve, a digna
autoridade, de combinação com vários
negociantes mandou chamar o popular
e estimado cidadão Quintino de
Lacerda, chefe do ex-quilombo do
Jabaquara, que lhe constava dispor de
uma boa turma de trabalhadores. De
fato, esse cidadão comprometeu-se a
arregimentar para o serviço de
embarque hoje, cerca de oitenta
cidadãos, ganhando o mesmo salários
que os grevistas.
No entanto o Tenente Vinhaes, fiado
nas suas imunidades de deputado e
com as costas quentes por um grosso
capoeira negra, de alcunha Biju inflava
o ânimo dos trabalhadores,
aconselhando-os a persistirem na
greve, todos unidos que dentro de
poucos dias alcançariam a cobiçada
vitória.
Para esse fim, e para auxilia-los durante
dos dias da greve abriu uma caixa para
a qual entrou com 200$ em nome da
União dos Operários do Rio e angariou
vários donativos até a quantia de
40$000 aproximadamente. Por volta
de 1 hora da tarde já ciente de que os
grevistas estavam substituídos em parte
pela turma do Quintino, dirigiu-se a
Rua 15 de Novembro, sempre seguido
por grande número de trabalhadores, e
a falar alto e a gesticular com
impertinência.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Entrou na Casa Culty onde Quintino
Lacerda tomava cerveja em companhia
do cidadão Affonso Vergueiro. Dirigiu-
se aquele chefe abolicionista com a
arrogância pedantesca de que nunca se
despiu desde que pisou terra santista,
supondo isto aqui uma localidade
atrasada do sertão, e perguntando-lhe
se na verdade estava eleve incumbido
de pôr um terno de trabalhadores
substituindo os grevistas recalcitrantes.
Quintino respondeu-lhe com a sua
habitual delicadeza que assim era, o
que deum em resultado o Senhor
Vinhaes ameaça-lo com represálias se
tal fizesse, e descompô-lo de negro e
safado para cima. Quintino reagiu
contra os insultos e o desordeiro
avançou então para o cidadão Affonso
de Vergueiro que se levantou para
segura-lo, sendo este obstado a isso por
várias pessoas que o agarraram.
Prorrompeu então o maluco do
tenente Vinhaes em impropérios
contra as pessoas presentes, que eram
muitas, chamando as quidants, e contra
o valente chefe abolicionista. Então o
redator-principal desta folha observou-
lhe que era deputado paulista que,
portanto, não permitia que se insultasse
a Quintino de Lacerda, que é uma das
nossas mais brilhantes tradições na
história do abolicionismo. O Senhor
Tenente respondeu-lhe que não se
referia a sua pessoa e diante da grande
massa de povo que invadira o
estabelecimento e que estacionava na
rua, continuou fiado na navalha do
capanga que não o largava, a insultar
asperamente a Quintino.
O histórico chefe do ex quilombo do
Jabaquara, tomado de uma cólera
tremenda que lhe agitou todo o corpo
e lhe chamou lagrimas nos olhos,
cresceu para o tenente Vinhaes, mas foi
cercado de pronto por um grupo de
amigos que não o deixou sair. O
tenente vendo aquele musculoso negro
decidido a pega-lo, escafedeu-se
repentinamente por entre a compacta
multidão. A exacerbação popular subiu
ao seu auge. Naquela massa populares
que interceptava o trânsito da rua 15 de
novembro, só se discutia com
indignação, as bravatas do tenente que,
escorado em suas imunidades
parlamentares e no seu Biju, não
satisfeito com desorganizar o trabalho
de embarque, vinha ofender em terra
paulista uma das nossas glórias mais
dignas de respeito e de veneração.
Formou-se um grupo de mais de mil
pessoas dispostas a intimar o tenente
Vinhaes a retirar-se incontinenti de
Santos, mas nesse momento soube-se
que a Praça do Comércio ia reunir-se
em sessão extraordinária para pedir ao
governo a retirada do desorganizador
do trabalho, visto ter ele declarado em
público que não consentiria que os
operários de Quintino de Lacerda
encetassem o serviço de embarque no
dia seguinte. Sabendo-se dessa
resolução da Praça, o público esperou.
Ciente do ocorrido, o Doutor Chefe de
Polícia achou de urgência inadiável a
retirada do cabrião pelo que mandou
chamar o Tenente Torelli, oficial do
Primeiro de Março, com quem teve
uma conferência no Diário da Manhã,
e a quem pediu para convidar o Senhor
Vinhaes a vir até esta redação entender-
se com a autoridade. Esse digno oficial,
desempenhando-se da sua
incumbência, dirigiu-se ao Hotel do
Globo, aonde já se havia recolhido
aquele cidadão e deu-lhe conta do
ocorrido. O Senhor Vinhaes recusou-
se a vir até esta repartição, declarando
recear que durante o seu trajeto fosse
alvo do desagrado do público, e que
por isso esperava que o Doutor Chefe
de Polícia, o procurasse no hotel. Este
para lá se dirigiu em companhia de
outras pessoas e autoridades, e narrou-
lhes o estado de agitação em que se
achava a cidade, pediu sua retirada
imediata, visto que a sua permanência
na terra por mais algum tempo punha
em risco iminente a sua vida e o
sossego público. De fato, meia hora
após o incidente na Casa Culty, não
havia mais armas para vender na
cidade. O Tenente Vinhaes declarou
que se reboraria para S. Paulo no
mesmo trem em que partisse o chefe
de polícia.
Também já era tempo o povo,
formando uma grossa massa de
cidadãos de todas as classes e
profissões, impaciente com a demora
da reunião na praça, desembocava
ameaçadoramente na Rua 15 de
Novembro para a de Quintino
Bocayuva, disposto a intimar o chefe
do partido operário a sair de Santos no
trem prestes a partir. Encontrando-se,
porém, o povo com o chefe de polícia
que voltava da conferência, grande
satisfação reinou ao saber-se que se
retirava o agressor de Quintino de
Lacerda, o perturbador da
tranquilidade da população. Nesse
momento uma comissão da Praça do
Comércio, de negociantes e de
Quintino de Lacerda, ainda não ciente
do resultado dessa conferência pediu
também em nome da ordem pública
ao chefe de polícia a saída do tenente.
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Edição nº 666
Durante essa nova conferência o
doutor chefe de polícia disse ao senhor
Affonso Vergueiro que tendo Sua
Senhoria avançado que as cenas que
passavam eram devidas a Santos não
ter autoridades, não podia admitir que
se fizesse sem protesto seu, uma
injustiça às dignas autoridades que com
tanta valentia e prudência tem-se
conduzido na melindrosíssima questão
da greve. Replicou o Senhor Affonso
de Vergueiro que isso pensara até a
chegada do chefe ali presente. Então o
cidadão Henrique Porchat apelou para
o testemunho de todas as pessoas
sensatas que elas dissessem se fora ou
não correto o seu procedimento.
Apoiados gerais se ouviram. Em
seguida as autoridades dispersaram o
povo reunido, o qual se dirigiu para a
estação da estrada de ferro a aguardar a
chegada do banido pela justiça popular.
A gare ficou completamente cheia.
Chegaram passando por entre alas de
povo, o doutor chefe de polícia, o
tenente Vinhaes e o seu inseparável
pretarrão de nome Biju. Tomaram o
trem, e, um minuto antes do comboio
mover-se, o povo soltou os seguintes
entusiásticos vivas:
- Viva a independência paulista!
- Viva o brio santista!
- Viva a pátria paulista!
- Viva o chefe de polícia!
- Viva o delegado Porchat!
E logo em seguida prorrompeu em:
- Fora o especulador!
- Fora o intruso!
O apitou soou, a locomotiva mexeu-se
nos trilhos e lá se foi o tenente Vinhaes
debaixo da mais tremenda assuada a
que temos assistido. E em paga o seu
factótum dobrou um dos braços num
movimento pouco parlamentar para o
povo que ficava...
Com o fim de sindicar dos fatos, e
comissionado pelo Centro do Partido
Operário de São Paulo, chegou ontem
a esta cidade o operário Francisco
Amaro, deputado estadual.
Sua Senhoria deu-nos o prazer de sua
visita e durante a palestra que tivemos
manifestou desacordo absoluto com as
providências tomadas pelo tenente
Vinhaes, cuja intervenção em negócios
paulistas achou indébitas. O cidadão
Francisco Amaro demora-se aqui
alguns dias, para de acordo com a
União Operária, procurar solver a
greve. Agradecemos a Sua Senhoria a
visita com que nos honrou.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
O Biju não sabia a sorte que o
aguardava em S. Paulo, à sua chegada
triunfal. Tendo informações de que
esse companheiro de Vinhaes é um
conhecido capoeira do Rio, o doutor
chefe de polícia ordenou ao delegado a
sua prisão – caso ele ficasse em Santos.
Verificando-se, porém o seu embarque
a autoridade por telegrama mandou
que uma força o esperasse na estação
em São Paulo, para prendê-lo. A esta
hora já deve estar engaiolado.
As 6 horas da tarde fundearam neste
porto o cruzador “Liberdade” e o
encouraçado “Bahia” vindos do Rio
conforme já notícias para garantir a
tranquilidade publica no caso de
perturbação por parte dos grevistas.
Devido a gentileza do Senhor
Henrique de Pupo Nogueira,
comandante dos guardas da alfandega,
o nosso repórter conseguiu fazer-se
transportar a bordo daquele navio. No
Bahia conferenciou o nosso repórter
com o contra almirante José Marques
Guimarães, comandante em chefe da
esquadrilha composta daquele
encouraçado e dos cruzadores
Primeiro de Março e Liberdade. Sua
Excelência declarou que as instruções
que recebera limitavam-se a pôr-se às
ordens das autoridades daqui, e de
acordo com elas, manter a paz em
Santos. O estado-maior do senhor
contra almirante é composto do 1º
tenente João Carlos Mourão dos
Santos e do guarda-marinha (ilegível) o
Bahia o capitão de fragata Gaspar da
Silva Rodrigues. É seu imediato o
capitão-tenente João Pedro da Costa
Ramos. A oficialidade compõe-se do
1º tenente Augusto Pereira, segundos
tenentes Abdon Caminha e Durval
Melchiades de Sousa, médico Doutor
Castro Lima, comissário Salustiano de
Carvalho e Henrique Spyer, 1º
maquinista Antônio Ferreira Batista. A
guarnição do Bahia e de 73 soldados
navais e 70 marinheiros. Dispõe de
dois canhões e calibre 150 de tiro
rápido e 2 metralhadoras. E
comandante do Liberdade o capitão
tenente Pereira e Souza, tendo por
imediato o segundo tenente Mario
Jayme da Silveira. A sua oficialidade e
composta dos segundos tenentes Mello
Marques e Lemos Lessa e guarda
marinha Honório de Barros. É médico
de bordo Bento Garcez, comissário
Leopoldo Condia e 1º maquinista
Inocêncio de Carvalho. Conta o
Liberdade uma guarnição de 103
praças e um destacamento de 25
fuzileiros navais.
Monta 2 canhões retro carga em
rodizio e uma metralhadora e
espingardas Richards.
Cumprimentamos os oficiais de ambos
os vasos de guerra que vem ao nosso
porto, agradecendo-lhes a gentil
hospitalidade com que acolheram o
nosso repórter.
Podemos garantir que hoje haverá
plena liberdade de trabalho porque a
polícia guarnecerá o cais com 150
praças. Existe no mercado prontas para
ser embarcadas 70.000 sacas.
Acham-se ancoradas no porto à espera
de mercadoria para carregar os
seguintes vapores: Paranagua, Trent
Ville de Buenos Ayres, Zichy, Ville de
Manterideu, Kueln, Pharos, Humboldt
e Salerno.
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Edição nº 666
Correio Paulistano
Edição 10.409
São Paulo, 22 de maio de 1891.
Página 2
A Greve em Santos
Sobre a terminação da greve em Santos
escreve o Nacional de ontem:
“Dissemos em nossa última notícia que
a greve teve anteontem a sua nota mais
intensa, que veio dar-lhe, por assim
dizer, a última pá de terra ao seu
cadáver.
Parece que não nos enganamos.
Ontem, como ultimas vibrações do
grande movimento, houve apenas um
outro fatozinho sem importância,
tentativa de impedimento do trabalho
alheio por parte de alguns grevistas,
encontrando pela frente a polícia que
soube manter o direito dos que
queriam trabalhar.
Como é natural, a coisa não se fez sem
algumas prisões e sem algumas
‘refladas’.
Entretanto, isto é tão pequenino que se
pode dizer que a tranquilidade voltou e
com ela o trabalho, embora esse
trabalho esteja ainda longe de satisfazer
as exigências comerciais de um porto
como o nosso.
A exportação do café e um serviço que
se faz dividido em diversas partes, das
quais as mais importantes são:
I – O ensacamento nos armazéns,
confiado a uma classe de
trabalhadores;
II – O transporte para as carroças
(encarroçamento), outra classe;
III – A condução até as pontes
(pranchas) onde os navios mercantes
estão atracados;
IV – Nova condução para bordo
(serviço de prancha), e, terminado o
processo;
V – A colocação das sacas, em pilhas,
no fundo dos referidos navios, estica,
donde o nome dos estivadores à turma
de homens que os colocam.
Cada um desses serviços é feito por
uma classe a parte, independente em si
mesma, porém harmonicamente
relacionada, presa aos interesses do
conjunto, à classe dos trabalhadores
marítimos.
Todas essas classes se uniram na greve,
umas por moto próprio, outras,
sujeitando-se as ameaças da maioria.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário
Dado o sucesso de anteontem, era
natural que o trabalho fosse ontem
muito e muito incompleto, tal qual
aconteceu, havendo, entretanto, paz
em todos os ângulos da cidade.
Quintino de Lacerda forneceu número
de trabalhadores capaz de manter
relativamente uma boa cifra de
embarque, tanto que, apesar de tudo,
foram ontem embarcadas cerca de 10
mil sacas.
É verdade, e o dizemos com satisfação
e louvor aos que voltaram ao trabalho;
é verdade que muitos, que numerosos
dentre os rebeldes – uniram-se ontem
aos novos trabalhadores, com eles
trabalhando em paz.
A primeira secção de serviço marítimo,
o ensacamento, foi feita em algumas
casas mui limitadamente e por pessoal
estranho, em maioria a esse trabalho.
A segunda, terceira e quarta secções
(encarroçamento, transporte às
pranchas, condução a bordo) foram
desempenhadas regularmente, embora
muito abaixo das exigências da saída de
café, pois mais de 80 mil sacas aí estão
à espera de seu destino.
O serviço da estiva, quinta secção,
serviço que, com o transporte nas
pranchas, constitui o embarque, foi
feito igualmente estranho, gente de
bordo, auxiliada, entretanto por um ou
outro dos antigos estivadores.
Assim, por mais incompleto que tenha
sido, o mais completo desses diversos
ramos da exportação do café foi o que
pertence a quarta secção, o trabalho da
prancha.
Foi ele desempenhado quase que
totalmente por gente nova, pelos
trabalhadores arranjados por Quintino
de Lacerda, que desenvolveu uma
grande atividade e que trata de arranjar
o maior número possível de homens
que possam substituir aquelas que não
queiram voltar as suas secções.
Sabemos que tanto de um lado como
de outro, do lado do comercio e do
lado dos trabalhadores, as intenções
são as melhores possíveis, o que indica
que a greve desapareceu de fato, tanto
mais quanto o serviço recomeçou de tal
modo que, pode-se afirmar, nestes dois
ou três dias – estará completamente
reorganizado, bastando às
necessidades de nossa vastíssima
circulação comercial.
Essa é que é a verdade das coisas”.
Santos, 21 – 13:30min. da tarde
A greve julga-se já extinta. Muitos
grevistas procuraram as autoridades,
pedindo trabalho. O Serviço de
embarque de café está sendo feito com
a regularidade do costume.
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Edição nº 666
O Estado de São Paulo
São Paulo
22 de maio de 1891.
Edição nº 4.867 Ano XVII
Capa
Greve
Continuamos a extrai do Diário da
Manhã as notícias referentes a greve
dos carregadores de café de Santos:
“Conforme o compromisso que tomou
perante o chefe de polícia e a Praça do
Comercio, Quintino de Lacerda
apresentou ontem para o trabalho do
embarque 70 homens. Imediatamente
começaram eles a carregar café para o
Vapor Ville Buenos Ayres, atracado na
ponte Laubé, mas logo que deram
princípio a tarefa vários grevistas
tentaram opor-se ao serviço encetado.
O Senhor Alferes Souza, que
comandava uma força de 50 praças ali
destacadas, deu-lhes voz de prisão,
mandando-os conduzir para a cadeia.
Até a hora do almoço foi esse vapor o
único carregado.
Em vista da atitude da polícia foram
pouco a pouco chegando ao serviço
mais trabalhadores de Quintino e
antigos carregadores de prancha que
não tinham aderido a greve. Durante o
resto do dia foi embarcado café nos
vapores Humboldt, Koeln e Salerno.
O serviço foi moroso não só pela
pouca prática dos novos trabalhadores
como também pelo seu pequeno
número e porque o serviço de estiva
em alguns navios foi feito por
marinheiros de bordo não
acostumados a isso. Foram
embarcadas nos navios acima 6.300
sacos. O Vapor alemão Paraguaçu que
saiu ontem do Porto de Santos, levou
lastro de água visto não ter podido levar
café. Este vapor tinha contratado para
levar para Hamburgo 1.500 sacas. Fora
a prisão dos grevistas principais, o
serviço correu sem perturbação séria.
Consta-nos que hoje grande número de
grevistas irá trabalhar, tendo alguns
chefes de turma procurado Quintino
de Lacerda – a cujo encargo esta
exclusivamente doravante o serviço –
para oferecer de novo o seu trabalho
pelo preço antigo. A polícia, prudente
sempre fez ontem a noite rondar o
Jabaquara uma força de 20 praças de
polícia para evitar que os desordeiros
de qualquer forma Quintino.
 1 de setembro de 2021 Boletim Operário Edição nº 666

Pelo fato de não terem os jornais de Correio Paulistano

São Paulo noticiado a chegada de
Edição 10413
Vinhaes aquela capital, circulou o
boato de que esse chefe operário tinha Capa
do Alto da Serra regressado a Santos,
com intenções hostis. Esse boato São Paulo, 27 de maio de 1891.
avultou, mas, no entanto, é desfeito por Santos
este telegrama que recebemos ontem à
noite do nosso ativo correspondente. Consta ali que assumira a delegacia de
polícia o Capitão Benedicto de
São Paulo Carvalho, 2º Suplente àquele cargo.
Vinhaes seguiu hoje para o Rio. Vai - O destacamento dali está composto
publicar na Gazeta um resumo dos atualmente de 110 praças sob o
fatos que se deram aí. Foi recebido comando daquele capitão. Parte da
ontem na estação sem a menor força que ali tinha ido por ocasião da
importância. Pois nós, e o público de greve já regressou a esta Capital.
Santos, esperamos o seu resumo para
o contestarmos, caso seja menos exato - Os Cruzadores Primeiro de Março e
na narração do que aqui se passou. Liberdade e o couraçado Bahia
seguiram ontem para o Rio.
É de esperar, pelo que temos narrado,
que termine hoje essa formidável - A União Operaria festejou o seu
greve, é incontestavelmente, a maior e aniversário.
mais poderosa greve que tem havido
no Brasil, não só pelas suas proporções
que assumiu, como pelo prejuízo que
causou ao nosso comércio. A greve
durou de 9 de maio até 20, isto é, 11
dias, durante os quais esteve
completamente paralisado o
movimento comercial.

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