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‘Copyright © Lilia Katt Moritz Schwarcz capa sobre fotografia da Rua General Carneiro em 1907 (Arquivo Ms) Repos f Baby Siguira brio” Maria Lea Favret Licio Flavio Mesqita AN autora apace so Masco Imagem edo Som ao Argivo de O Estado d pela cess das ustrages do eademo de ots oso iis desta ei reservados 3 Rus Bandeira Palisa, 702, ‘www companbiadsletras.com he Para o Luiz O NEGRO NAS DIFERENTES SECOES DOS JORNAIS: UMA VISAO SINCRONICA INTRODUCAO a uma anélise das represent jorais, seria importante qu rm ande freqiiéncia e lo envolvido em varios © diferentes espacos 10 violento que se evadiu, 0 negro que € centro de noticias ndalosas, © negro dependente € servigal que € oferecido er to “‘peca de bom funcionamento” ou mesmo o negro “obje: to” de discurso dos editoriais cientiics Cada uma dessas segdes, por ped ver, parece oferecer como de significagdo, que se amoldam uns aos outros ou sgandose, mas que de t6da forma ps je de caleidoseépio onde, com um Gn: nos elementos, formam-se miltiplas ima recem construir uma esp €0 jogo, e com os mi gens. Assim, esses jornais, que pareciam & primeira vista total s, ganham no meni wentados € compostos por segdes is decorrer d varias segdes de “todo difuso” contradize: ‘momentos de maneira, as vezes, até fun: terligando-se em alg Desse conjunto de locais ¢ espagos o interessante nio € re tirar uma imagem sé e dominante mas antes a propria diversi: 1 apresentado. ! dade com que 0 elemento negro era enta OS EDITORIAIS E SECOES "SCIENTICAS Os jornais do séc parecer a partir de nossa primeira descrigo, a uma colorida mis tura entre curiosidades, remédios ¢ debates partidarios. Ne questées mais polémicas do momento eram debatidas de forma ecorrente em local bastante reservado: os editoriais e seqdes ‘scientificas Assim, principalmente a partir da década de 1880, essa se io vai ganhando novas fungée: dos jornais, transformando-se aos poucos, de parte fria e desim- portante (jé que nela transcreviam-se atas, leis e discursos dos jetrados do imp sas folhas noticiosas, onde se reproduziam discursos de autores esrangei ros, mais distanciados da realidade imediata © cotidiana que preenchia a maior parte dos jornais. jo xix no se resumiam, como poderia 10 interior da dinmica interna io"), no local “sério e teérico” dé A “SCIENCIA — 0 GRANDE MITO DO SECULO XIX Enos editoriais que poderemos encontrar com maior fre aliéncia referéncias as novas teorias cien © pensamento europeu da época. A “sciéncia”, conjuntamente com todo um ideétio evolutivo vista, parecia nesse momento dar conta, de forma abso- las diferentes questdes que assolavam o pais, questionando e disputando entio as grandes “fontes” dos discursos “fechados” e “compe. "da época. ficas que “iluminavam’ ppagos inclusive com a religiio ¢ a Igreja, até ten A Scincia ¢ a religito (..) ofa a religido que para trivnphar derrama tanto san. gue e leva tudo a ferro e fogo deve estar em completo antago: nismo com a seigncia que sempre calma e imponente vae crean do adeptos como evangelio da paz, do amor ¢ do trabalho’ (Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1893) 100 Segundo Eric Hobsbawm, a importancia da ciéncia era tao global ¢ completa nesse momento que “a descrenga em Deus tornou-se relativamente fécil (....) j4 que © progresso e a eman. cipagdo da tradigio pareciam implicar numa ruptura com as antigas crengas”.? Para esses homens que se “embeveciam” com as idéias de Spencer e Darwin, toda religiéo era considerada uma “explica gio a priori do universo” (Provincia, 24 de dezembro de 1882), 4 que como tal “cré-se nao se discute. O dogma é implacavel (Provincia, 19 de margo de 1884) Nessa batalha, o grande vencedor final parecia ser esse no vo discurso cientifico, “detidamente comprovado Assim, mais uma vez formulava-se um tipo de discurso ra supunha © dilogo e sim @ mera afirmago, com certeza aquilo que Cruz Costa definia como “idolatria pela cigncia”. * dical, que & semethanga do “falar religioso” nao pre Era principalmente na A Provincia de Sao Paulo que todo esse novo discurso cientifico poderia ser mais facilmente encon: trado. Esse jornal buscava nic s6 questionar a religido como tam ém adotar largamente essa nova filosofia positivista, sendo que Augusto Comte, como seu principal expoente. era incessantemen. te elogiado. Definido ora como “Aristételes moderno” (5 de se tembro de 1883) ou como “o maior imortal de "Q de setembro de 1885), era sem divida considerado pelos redato- res dessa folha como um dos grandes pensadores do momento Varios textos continuamente explicavam para um pablico leigo a importancia e abrangéncia dessa filosofia e a cada ano comemo: morte do fil6sofo com longos ¢ inflamados discursos, como este, por exemplo, do dia 5 de setembro dé 1884: usto Comte Completa hoje 27 annos que morreu Augusto Comte. clogios].... parente intelectual de Hobbes considera como fim de seiéncia o conhecimento das leis que regem os phenomenos. Ver para prever, procurar o que para concluir © que seri 6 objeto de todas as suas pesquisas Prova que 0 estado definitive do espirito humano € 0 estado positive. A razio nio sobre principios aprioristicos mas so- bre dados experimentaes Essa corre! ma a cincia, jf que o suposto da imutabilidade das le ¢ filosofica, por sua vez, subordinava-se cla mes is da na. tureza e toda a teoria “constitufam-se em uma justificagio filo- s6fica das ciéncias experimentaes” ¢ baseavam-se na visio hist6 rica do progresso evolutivo, sendo 0 método positivo, ou cient fico, o triunfo do tiltimo dos estégios. * Essa filosofia tio adotada na Europa parecia adaptar-se também & nossa realidade, pois, como diz Sérgio Buarque de Hollanda, “condizia com a mentalidade das clites brasileiras: amor de forma definitiva, do definitivo das leis gerais cue cit cunscrevem a realidade complexa dificil Esses periédicos, porém, nao podiam enaltecer © positivis mo sem se referirem largamente as ciéncias naturais € em espe Gial® teoria que parecia representar o avango da cigncia “Fia da evolugao, Esta excedia claramente os limites da biclogia ¢ nisto residia a sua importancia. Através de uma terminologia aces Te que permitia facil popularizagao, reduziam-se as mudangas nna sociedade humana a regras de evolugio bioldgica, adaptadas perfeitamente as conjunturas politica e ideoldgica daquele mo- assimilavel, pois dava subsidios a um grupo dirigente confiante € rgulhoso de “sua sabedoria™ € que século-definia” seus concettos-de nagio e cidadania Assim, também merecia louvores por parte dos jornais. Considerado “um dos maiores homens do século x1x", um “immortal”, Darwin, 20 le ses momentos de fim de Darwin, o grande “te6rico da evolugdo’ do de Comte, parecia dividir as atengdes dos leitores dvidos por A teoria de Darwin era entdo transmitida numa linguagem que permitia a qualquer leitor inteirar-se dos conceitos de evo- lucie (...) © resultado de descoberta da lei da evolugio foi a der rota completa do theologismo (...), Evaporam-se como em blemas diante do sol nascente, Esse sol nascente é © evolucio nismo que surge na alvorada da consciéneia moderna. “A con: ‘a foi brutalmente substituida, O yniverso in cepsio theol6si sbalmente pela lel da evolugéo Até 0 espirito hhumano, até a humanidad) aquella lei geral. Tudo & evoluti v0". (Provincia de Sao Paulo, 29 de abril de 1882) As leis invariéveis de Darwin serviam até de tema para poemas, que tocariam sem divida aqueles leitores que no se adaptavam & anélise de discursos mais elaborados. Letras © Artes Darwinismo em acgéo. Na lucta pela vida o forte vence 0 fraco é a Ie. Quem nao trabalha no tem direito a vida Méximas Darwinianas Hei de applicar-te oh rei a lei darwiniana A ti que és darwinista a ti que é& soberano A lucta pela vida € para 0 ser humano, © que € para 0 animal a raga simiana Mas p'ra lucta mister ser forte, a forga emana Do sangue e do trabalho, e tu sabio sigano Pela lei do ativismo és fraco: & feniano Por tua educagio catholica romana, Pois bem! Agora v8. Sia fraco vence 0 forte Si a lei da selecgao se estende até a morte Quando 0 rijo operario © povo o antigo Scynther Souber que o throno é o altar de um maripango abjecto Hi de quebralo como um insecto ‘Ou como de um festem se expelle’ Genérico dos Santos (Provincia de Sao Paulo de 1877) de janeiro Assim, Darwinianas enquanto na Provincia reproduziamse as “Méximas no Correio grandes listas de livros da famosa Ii: vraria A. L. Garraux (que incluiam as obras recentes de Charcot Darwin e Spencer) passavam a fazer parte do cotidiano do jorna, Nao faltavam também nesses jornais continuos exemplos de ‘orilas brancos (Provincia de Sao Paulo, 25 de fevereiro de 1886) ‘ou homens-macacos com caudas e pélos, que serviam para con firmar os pressupostos ¢ as teorias de Darwin, 103

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