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Néstor Perlongher ~ OQUEE AIDS Copyright © Néstor Osvaldo Perlongher Capa: Isabel Carballo Revisao: Jorge A. de Jesus Emilia Fernandez INDICE Introdugdo 7 A doenga... 13 A fabula das origens 38 A AIDS no Brasil ......... 50 Homossexualidade e poder médico . 67 A ordem da morte na desordem dos corpos 83 Indicagées para leitura ..............-06- 93 editora brasiliense s.a. tua da consolacao, 2697 01416 - sdo paulo - sp. | fone (011) 280-1222 brasiliense| telex: 11 33271 DBLMBR Agradeco especialmente a Edward MacRae Glauco Mattoso, por colocarem 2 minha disp sito seus arquivos pessoais, e a dra. Silvia Be lucci, do Centro de Controle e Investigacao Imi nologica “‘Dr. A. C. Corsini’, de Campinas, pi sua colaborac&o na parte médica. INTRODUCAO Um fantasma percorre os leitos, as paqueras, os flertes: o fantasma da AIDS. S6 a mengao da fatidica sigla (formada com as iniciais de Acqui- red Immunological Deficiency Syndrome, ou se- ja, Sindrome de Imunodeficiéncia Adquirida) basta para provocar uma mistura mérbida de euriosidade e medo. No infcio, a parandia parecia restrita aos cir- cuitos homossexuais norte-americanos. Na cos- ta oeste dos Estados Unidos, justamente na ci- dade de S&o Francisco — epicentro de uma po- tente ‘‘revolugdo sexual’’ que sacudiu as muco- sas do Ocidente e ameacou subverter os castos padrées de dois mil anos de cristianismo —, ve- rificou-se, entre 1980 e 1981, uma estranha sucessdo de mortes. Falou-se em “‘cancer gay’’, em “peste rosa’’, Mesmo a primeira denominag&o extra-oficiai- mente dada a doenca — GRID (Gay Related Im- mune Deficiency ou Deficiéncia Imunolégica Relacionada & Homossexualidade) — recolhia essa espécie de ligagao original entre homos- sexualismo @ doenga (até bem pouco tempo atras, a homossexualidade era considerada em si mesma uma doenga). No entanto, a aparigao de casos em outras faixas da populagdo mudou a orientagao das pesquisas médicas e outorgou @ doenga seu nome definitivo. 9 que 6 a AIDS? Embora o conhecimento cientifico tenha avangado bastante, o mal é ro- deado ainda de um véu de mistério. Sabe-se que é transmitido por contato sexual ou através do sangue. N&o se trata — como pretendem alguns moralistas — de uma ‘‘doenga homossexual’’, mas € Causada por um virus que pode, eventual- mente, ser transmitido a qualquer pessoa. Des- de que se manifeste, a doenca é praticamente fatal. Néo ha até 0 momento cura conhecida para a AIDS, A comogao provocada pela AIDS parece um tanto desmesurada em relagao a sua incidéncia estatistica real. Apesar de algumas projegdes apocalipticas, que chegam até a prever a extin- go da humanidade, hoje a AIDS mata menos. que outras doengas mais conhecidas — desnu- trigéo, moléstias circulatérias, cancer, infec- 96es intra-hospitalares, etc. HA maior probabili- dade de se morrer vitima de um atropelamento na rua do que de AIDS. Mas o horror dos corpos que adoecem e morrem parece se tornar mais pavoroso quando se adivinha, na origem das contorsées da agonia, os espasmos do gozo. Da mesma maneira que a AIDS transcendeu, no inicio, a dor particular de suas vitimas para se estender aos corredores dos ‘’guetos’’ como um poderoso mecanismo de moralizagao e con- trole, derivado das ondas de pAnico, 0 fantasma parece abandonar os difusos limites dos circui- tos minoritérios para apavorar também os hete- rossexuais. Assim, a AIDS, que comecgou sendo vista como uma “‘doenga homossexual’’, 6 ago- fa anunciada como uma ameaga as familias. Folheando os grandes semanarios de atuali- dades, pode-se rastrear facilmente a iconografia desse deslocamenio. A revista alema Der Spie- gel estampava, na capa de um numero de junho de 1983, a imagem de dois rapazes nus, sendo que um deles apresentava a genitalia ocupada por um circulo com uma ampliagéo de micros- edpicos germens (simbolicamente, a morte no alvo preciso do desejo); trés anos apés, em de- zembro de 1986, a mesma publicagdo substi- tula os jovens atletas por um casal heterosse- xual, contra o qual um cupido cadavérico ende- fegava suas peconhentas setas. O panico suscitado pelo virus nao é tao inédi- 10 Néstor Perlong to quanto se anuncia; pesadelos anélogos fo- ram, ao longo da Hist6ria, provocados por su- cessivas pestes. Tampouco a discriminagao 6 novidade. Nas pestes medievais, os judeus eram perseguidos, acusados de infestar propo- sitadamente as Aguas ou por se considerar sua mera existéncia um atentado a Divina Vontade que, uma vez ofendida, vingava-se coma epide- mia. De forma andloga, em 1985 surge a noti- cia de um cabeleireiro expulso da cidade de Ara- guari, em Minas Gerais, sob a acusacao de mer- gulhar malignamente na piscina do clube, nao estando sequer doente. Nem mesmo os argu- mentos celestiais parecem ter mudado. Uma doenga relacionada com o sexual toca num ponto particularmente sensivel para a so- ciedade contemporanea, tao Preocupada coma higiene e 0 cuidado do corpo. A esse pesado es- tigma, marca de miltiplas regulamentagées da ordem social, acrescenta-se, no caso Particular da AIDS, uma outra complicagéo derivada da possibilidade de a doenga ser transmitida pelo sangue. Neste ponto, uma questdo se coloca: apesar da pratica corriqueira de transfusées, 0 medo & mistura de sangues nao mantera, no imagindrio social, a forga do seu simbolismo atavico? Afinal nao faz muito tempo, o nazismo esgrimiu os princfpios do sangue para funda- mentar seu racismo ariano. Alguma sombria si- militude pode talvez esbogar-se entre o atual re- que é AIDS A AIDS em 1983: uma paranoia homosexual ganha as manchetes mais importantes do mundo li IAS Néstor Perlongl fluxo da revolugéo sexual — que coroa uma 6poca avida de experimentacées contestatérias — ¢ a atrevida maluquice das décadas de 20 e 30, os Anos Loucos, que preludiou os horrores do fascismo e a guerra. A emergéncia da AIDS coloca em movimento uma diversidade de articulagées que nado mere- cem ficar restritas ao estreito plano da informa- ¢&o médica. Torna-se necessério, sobretudo, atentar as repercussées sociais e sexuais desse constrangedor problema, que diz respeito as re- lagées dos corpos e seus afetos. Cabe salientar que, pelo fato de a AIDS ser uma doenga nova, toda uma massa de inform: ges, as vezes conflitantes, é colocada em ci culagao crescente dia a dia. Nessas condicées, Poucas verdades absolutas podem ser afirma- das; os enunciados — inclusive médicos — emi- tidos sobre a questo nado podem esconder, até © momento, seu carater provisério. Na medida em que este livro se ressente dessas circunstan- Cias, as hipdteses e interpretagdes aqui levanta- das levam a marca dessa provisoriedade. Longe de eludir a polémica, a idéia 6, pelo contrario, contribuir; s6 de uma discussdo a mais ampla possivel poderfo emanar perspectivas mais lu- cidas para entender e enfrentar a complexidade desse assunto. A DOENGA AIDS — Sindrome de Imunodeficiéncia Adqui- tida — esse nome envolve uma série de concei- (08 medicinais muitas vezes dificeis de com- preender. Para um maior entendimento, segue a decomposicao em conceitos dos termos envol- vidos. * Sindrome: conjunto de sintomas que ocor- fom mais ou menos simultaneamente, tendo uma ou varias causas comuns. A AIDS é defini- da como sindrome porque nao tem uma mani- festagdo unica; pelo contrario, caracteriza-se pola aparigaéo de varias doengas sucessivas é si- multaneas, que ‘‘ocultam’’ a verdadeira doenga. * Imunodeficiéncia: isto 6, deficiéncia do sis- toma imunolégico. A imunidade é a capacidade que tem o organismo para reconhecer e destruir "\nvasores’’ que o ‘‘atacam’’. Por que deficién- Néstor Perlongh que é AIDS na histéria da propria medicina. A teoria unifato- rial acabaria por se impor com a descoberta de que a AIDS — como sera exposto adiante — é causada por um virus. No entanto, é interessan- te destacar um dos argumentos da tese multifa- torial: a doenga nao seria conseqliéncia de um novo agente infeccioso, mas os pacientes adoe- ceram por estar expostos a um ‘‘ambiente biol6- gico'’ extremamente nocivo, caracterizado por quadros de doengas venéreas e outras infec- ges simultaneas. Os cientistas j4 cogitavam de que algumas formas de cancer poderiam ser causadas por um virus. Os virus so agentes muito pequenos (a dezmilésima parte de um milimetro) que nao po- dem sobreviver de maneira independente, preci- sando parasitar células vivas de um outro ser. © médico americano Robert Gallo ja havia eonseguido isolar o virus causador de uma for- ma de leucemia até entdo rara (que, no entanto, estaria também se expandindo agora no sul dos fetados Unidos). Gallo batizou esse virus de HTLV-1 (Human T Cell Leukemia Virus, ou seja, virus da leucemia humana que ataca as células 1; estas sdo encarregadas, entre outras, da de- faa imunoldégica), e acreditou estar, no caso da AIDS, na presenga de uma variante. O virus seria descoberto, mas do outro lado do Atlantico. Coube a equipe do Instituto Pas- teur, de Paris, chefiado pelo Dr. Montagnier, 0 cia? Porque 0 peculiar dessa doenga 6 que esse sistema deixa de funcionar e 0 organismo vé-se exposto a uma multiplicidade de agentes infec- ciosos, muitos dos quais habitualmente inofen- sivos, Mas que, nessas condigdes, conseguem atingir seu pleno desenvolvimento nocivo. A AIDS é justamente uma doenga do sistema imu- nolégico, que causa um desabamento geral das defesas organicas. ° Adquirida: ha formas de deficiéncia imuno- l6gica hereditdrias. No caso da AIDS, a imuno- deficiéncia se da por contagio, isto é, o agente infeccioso penetra no organismo através do sangue, do esperma ou de certas secregées de um outro organismo no qual se encontra pre- sente. A querela das nomenclaturas Uma vez reconhecida e descrita pelos médi- cos como uma moléstia do sistema imunolégi- co, tratava-se de descobrir qual era a causa da nova doenga. Num primeiro momento, discutiu- se nos Estados Unidos se o agente causador era _ Unico (a chamada teoria unifatoria!) ou uma confluéncia de fatores sanitarios e sociais (teo- ria multifatorial) — aliés, discussé0 muito forte oe 17 mérito do achado. Fazendo a biopsia de um gan- glio de um paciente homossexual — que acaba- tia nao desenvolvendo a doenga —, achou-se, em 1983, um virus completamente novo que foi batizado LAV (Lymphadenopathy Associa- ted Virus, ou seja, virus associado a afeccées. do sistema linfatico, do qual os ganglios fazem Parte). Entretanto, Os cientistas americanos prosse- guiram suas pesquisas, conseguindo, em 1984, isolar artificialmente o virus em laboratorio. A descoberta de Gallo é apresentada como ‘um milagre da medicina e da ciéncia americana’’. A equipe de Gallo outorgou seu préprio nome ao virus. HTLV — Ill (Human T Lymphotropic Vi- rus iil). Recentemente tentou-se resolver essa dissidéncia nominalista com a proposta de uma nova designacao para o virus: HIV (Human Im- munodeficiency Virus ou virus da imonodefi- ciéncia humana). Esse sistema tem pelo menos duas grandes fungées. A primeira se relaciona com o meio ex- terior, seus habitantes, suas agressées. A se- gunda esta voltada para 0 interior do individuo, para o préprio organismo, protegendo-o de uma diversidade de processos mérbidos que se de- senvolvem silenciosamente. Ambas formam duas grandes linhas de defesa. A exterior é constituida pela pele e pelas mu- @08as que forram, por exemplo, as vias respira- tOrias, incluindo af as secregées. Se essa barrei- a for ultrapassada e um corpo invasor ingressar fa Corrente sangiifnea, 6 acionado ent&o o se- de imunidade especializada. Embora essas duas grandes funcées paregam estar isoladas uma da outra, elas dependem, em tiltima andlise, de um componente central do sistema especializado de imunidade, um tipo de glébulo branco chamado /infécito T 4 “‘auxi- liar’, A fungao desse linfécito T ‘‘auxiliar’’ pode #eF Comparada a uma central de computador: ele alimenta todos os outros terminais, emitindo informagées para os componentes restantes do glstema imunolégico; estes permitem organizar 4 defesa do organismo atacado pelo corpo es- tyanho. Todo o processo ocorre no sangue. feses terminais-componentes séo muito va- tlados. Alguns, como os linfécitos B, produzem sitlcorpos-moléculas de proteina presentes na O sistema imunoldégico Para explicar o que 6 o virus da AIDS e como age, torna-se necessério falar um pouco do sis: tema imunolégico humano. undo sistema de defesa, 0 interior: as células _ 18 Néstor Perlonglue é AIDS 19 circulagéo sangtiinea, que ajudam a eliminar o: agentes estranhos do organismo, fixando-se ne- les e ‘’marcando-os’’. Assim, em relacao ao vi- tus da AIDS, ha a producao de anticorpos espe- cificos que assinalam e guardam na meméri sua presenga. a Como funciona normalmente a relagao entre linfécitos B e linfécitos T 4 “‘auxiliares’’? Quan do 0 organismo entra em contato com 0 virus d Sarampo, por exemplo, os linfécitos B, apés re: ceber a ordem dos linfécitos T4 ‘‘auxiliares”’ passam a produzir anticorpos contra aquele mi: croorganismo. Vencido o perigo e nao havend mais necessidade de manter a produgdo de anti corpos, sdo também as células T 4 ‘’auxiliares” que mandam informa¢ées para outro tipo de lin As células infectadas podem ser estimuladas fécitos T 8 (’’supressores’’), ordenando cessat por exemplo, com uma infeccdo ‘‘comum”’ © contra-ataque. , ® contribuir para a multiplicagao do virus. Assim, novas infecgdes padecidas pelos orga- fiismos j4 atacados pelo LAV/HTLV-III podem eontribuir para o agravamento da AIDS. Como ha milhares de linfécitos T4, precisa-se ile certo tempo para que o sistema imunolégico Hej perturbado; mas, uma vez desencadeado #88 processo, ele ser progressivamente colo- fade fora de combate. Num dado momento, ja iio festarfo mais células para combater as in- teog6es que o paciente possa contrair. AIDS tem, justamente, uma afinidade especial com os linfécitos T 4 ‘‘auxiliares’’. Uma vez que o virus tenha conseguido pene- trar no interior da célula, ele pode ficar inde’ damente adormecido. Por circunstancias ainda desconhecidas, ele pode comegar a se reprodu- zit massivamente, aproveitando a ativacdéo da maquinaria celular do linfécito T4 ‘‘auxiliar’’ para se multiplicar. Mas, enquanto a célula se divide s6 em duas, o virus se reproduz aos mi- thares, transformando a célula numa verdadeira usina do virus que a destréi. Assim produzido, ele se introduz em outras células, preferencial- Mente linfécitos T e secundariamente em cer- tas células cerebrais. E vai se disseminando. O virus O virus da AIDS ataca de uma forma partic larmente maligna, pois se dirige contra as pr prias células encarregadas da defesa imunolé: ca. Uma vez que 0 virus penetra no sangue, pr cura 0 tipo de células que o acolham (ja que nai pode se desenvolver sozinho, precisando pare sitar determinados tipos de célula). O virus 20 jue é AIDS 21 Os sintomas A evolugao dos sintomas De duas a seis semanas apés a introducdo do virus no organismo, podem ser observadas, em 20% dos casos, algumas manifestagées clini- cas. Entre elas, a sindrome mononucledsica: fe- bres, inflamagao ganglionar e algumas erupcdes vermelhas na pele. Esses sintomas desapare- em espontaneamente apés uns dez dias e sua ocorréncia nao diz respeito 4 eventual gravidade do caso. és Nos trés meses seguintes 4 penetragao do vi- fus, 0 organismo vai fabricar os anticorpos que assinalam o contato com o corpo estranho. Das pessoas contaminadas pelo virus, so- mente uma minoria vai entéo desenvolver as formas graves do mal. Algumas iréo apresentar manifestagdes menores, as vezes nao aparen- {08 @ Outras sob a forma de certos sintomas se- cundaérios, uma espécie de ‘‘quadros benignos' que, em geral, ndo evoluem de forma fatal. Es- #08 quadros podem ser agrupados em duas grandes configuragées: a sindrome de linfade- nopatia crénica, e outra forma mais importante ARC ou SAS (A/DS Related Complex, para os americanos; Sindrome Associada a SIDA, para 08 franceses). A ubiqitidade dos sintomas — podem ser tan- tas coisas! — torna-os incertos como forma de diagnéstico: ganglios inflamados, fadiga ser motivo, perda de peso involuntéria, febres inter- mitentes, diarréias e tosse persistente. Esses sinais clinicos ndo sio exclusivos da AIDS, mas alguns deles podem corresponder a outras doencas, como a tuberculose. Nao 6 pertinente suspeitar de AIDS se se tratar de sim- ples febres, diarréias e suor, comuns a um vasto leque de afeccées. A suspeita se torna consistente Perante a du- fagéo e extrema complexidade dos sintomas, tesistindo a outras explicagées. Entretanto, a maioria das manifestagées do virus da AIDS sao benignas. Mais da metade dos que entram em contato com 0 virus nao de- senvolvem nenhum sintoma nem doenga. Isso nao quer dizer, necessariamente, que eles nao o. tenham, Alguns podem ser os chamados porta- dores sadios (ou assintoméaticos) da doenca, que, sem contrai-la, portam o virus e podem eventualmente transmiti-lo — no entanto, nao h& como determinar em que momento a trans- missao deixa de ser uma eventualidade e passa para o campo da realidade. Néstor Perlont Sindrome de linfadenopatia crénica ou LGP (Linfadenopatia generalizada permanente) Por linfadenopatia se entendem as moléstia dos drgos linfaticos. A LGP caracteriza-se pel aumento de volume dos ganglios linfaticos, que tomam uma dimensao anormal, freqdentemen te superior a um centimentro de diamentro, e diferentes partes do corpo, sobretudo no pesco- Go e nas axilas. Esse aumento pode persistir du- rante meses ou anos: nem sua grandeza net sua duracao indicam hipotéticas evolucdes para formas letais da AIDS. A inflamacao dos gan- glios 6 comum a uma vasta massa de infeccdes; s6 quando se observa um franco aumento de volume néo atribuivel a outras causas 6 que se pode fazer a relagdo com a Presenca do virus da Sindrome associada a SIDA ou ARC Neste quadro, observam-se moléstias meno- tes, sobretudo infeccdes com fungos que atin- gem 0 rosto, as unhas ou a boca, vulgarmente ue é AIDS de se manifestar uma febre prolongada por va- tlas semanas e superior a 38°; ha perda invo- luntdria de peso, ultrapassando 10% da massa corporal; ocorrem suores noturnos abundantes, obrigando a troca dos lencéis. Podem se apresentar, ainda, les6es como a purpura — pequenas manchas hemorragicas Nas pernas —, que correspondem a um excesso. de defesa do organismo, que aumenta desarran- jadamente a produgao de anticorpos, os quais #6 voltam contra as plaquetas sangilineas. Mas flo se trata tampouco de AIDS: os sintomas fo evoluem necessariamente no sentido de um desabamento geral das defesas organicas. fsses dois quadros descritos sao provocados pelo virus da AIDS; porém, nao s&o estritamen- te AIDS. O que acontece é a que a maioria das Mmanifestagdes do virus sao, como ja foi dito, benignas. S6 quando aparecem as manifesta- ges malignas é que se pode falar em AIDS atricto sensu. A AIDS stricto sensu © que acontece com os que desenvolvem fealmente a doenca? Como ha uma queda muito forte das defesas organicas, germens habitual- Mente inofensivos aproveitam para invadir o 23 chamadas de sapinhos (muguet). Também po- Néstor Perlongyue é AIDS a6es; classicamente, aparecem nos membros inferiores. Foi detectada primeiramente nos quetos judeus da Europa central e atribuida a promiscuidade. Ali, o médico vienense Moritz Kaposi (na verdade, um pseud6nimo) reconhe- ou a doenga e legou-lhe seu nome. A doencga esté situada — na expressao do prof. Escande, do Instituto Pasteur — ‘‘nos limites do cancer’. Naramente letal, era considerada uma raridade. J& neste século, foi descoberta uma variante africana do sarcoma de Kaposi, um pouco mais explosiva, caracterizada pela eclosdo de verda- deiros tumores, lesdes ulceradas e gAnglios vo- lumosos. O legado minoritaério que essa doenga carre- gava, seria facilmente transmitido aos homos- sexuais. Assim, a AIDS foi inicialmente conside- ada o ‘’Kaposi dos gays" e, infelizmente, apeli- dada de ‘cancer gay’’, até pelos préprios jor- fais homossexuais da California. No entanto, o Kaposi associado & AIDS tem uma forma muito mais violenta: uma erupgaéo generalizada que se arrasta durante longos me- 468, atacando o rosto e os érg&os internos. A sobrevida média é de apenas dois anos. © desabamento do sistema imunolégico pro- plelado pela AIDS pode favorecer a proliferagaéo de outros canceres, como linfomas (tumores (ue #6 desenvolvem a partir dos ganglios linfé- ie08) que afetam prioritariamente o cérebro. Organismo. Aparecem entdo as infecgdes opor- tunistas, assim chamadas porque nao podem se desenvolver senaonessas condic6es favoraveis. Num primeiro momento, quando a agao do vi- rus ainda no é severa, as infeccées Oportunis- tas limitam-se as mucosas (cAndida bucal, her- pes genital) Ou se expressam na sucessao de in- fecgdes banais mas persistentes, tais como si- nusites, furtinculos, etc. _ Quando a AIDS avanga, as infecgdes oportu- nistas multiplicam-se. Elas podem afetar o pul- mao, © tubo digestivo, o sistema nervoso e, acessoriamente, a pele. No plano neurolégico, as cefaléias prolongadas podem constituir um sintoma sugestivo. Também 6 possivel a pre- senca de um quadro tratavel, se precocemente atendido, de toxoplasmose. Uma das afeccées mais comuns é uma forma grave de pneumonia, causada pelo parasita Pneumocystis carinii. Além desses, alguns canceres, como o sarcoma de Kaposi, comecam a aparecer. O sarcoma de Kaposi Uma das manifestagées mais conhecidas da AIDS, © sarcoma de Kaposi é uma doenga com historia. Trata-se de uma afecgao de aparéncia banal: placas violaceas de pequenas dimen- we é AIDS Definitivamente, a AIDS nao é um cancergeessario que as lagrimas ou a saliva penetras- #0M NO sangue, através de alguma ferida). A po- l@mica criada entre americanos e franceses a fespeito do beijo se reacende. Se para os cien- tistas do Instituto Pasteur o contagio por essa via 6 pouco provavel, seus rivais norte-america- fos, mais cautelosos, costumam desaconselhar 08 beijos prolongados. Versées néo comprovadas sugerem que a AIDS poderia também ser transmitida por um meaquito. Seria, no entanto, bastante dificil — fduzem os numerosos criticos dessa remota hi- pOtese — conceber um mosquito capaz de iden- iifiear as preferéncias sexuais das vitimas. HA uma espécie de hierarquia do risco. O coi- 16 anal seria particularmente perigoso, porque a trlegho do pénis nas paredes do reto produziria mierosedpicas feridinhas, através das quais 0 virus passaria para a corrente sangiifnea; partin- de desse raciocinio, supde-se que o individuo paasivo estaria, na penetragado anal, mais ex- posto que o ativo. Este, porém, nao se acharia a palvo, j4 que o virus poderia também penetrar através de microlesdes no pénis. A mucosa que recobre a cavidade vaginal se- {ia relativamente menos fragil que a do reto. En- tfetanto, a difuséo predominantemente heteros- sexual da AIDS na Africa restaura as duvidas. Nfio hé dados precisos que permitam avaliar 0 tiseo real de transmissao do virus da AIDS atra- das entre as pessoas; no esperma e no sangue virus aloja-se dentro das células, com alguma: condigées de sobrevida. A AIDS 6 uma doeng: relativamente pouco contagiosa; o agente que causa morre em contato como ar ou 0 alcool. maneira mais corrente de adquirir a doencga por contato sexual. Mas também pode set transmitida pela passagem, de um individuo a outro, de sangue contendo células infectadas, Isso explica os casos de contaminagao atravé: de transfusées sangiiineas ou do uso coletivi de seringas por toxicémanos. Existe ainda contagio de mae para filho durante a gravide; Ou a amamentacao, por mecanismos pouco cla: ros até 0 momento. Tém-se encontrado sinais do virus na saliva e nas lagrimas. Porém, as possibilidades de que ele Possa ser carregado por esses l{quidos orga- Nicos sao escassas (no pior dos casos, seria ne- 27 do contato. As fontes consultadas nado regis: tram a presenga do LAV/HTLV-III na urina ne nas matérias fecais. Os contatos buco-anai: costumam ser desaconselhados, embora su; potencialidade contagiante — descontada existéncia de feridas nesse orgéo — nao estej ainda claramente estabelecida. Ha incertas probabilidades de que o virus pos: sa ser transmitido através de tatuagens, trata mentos odontolégicos ou de acupuntura feito: com instrumentos nao convenientemente este. rilizados. Por precaugéo, recomenda-se qui utensilios de uso {ntimo, tais como escova d dentes, lamina de barbear, alicates, etc., usa. dos por doentes de AIDS, nao sejam reutilizados Por outras pessoas. O QUE TRANSMITE A AIDS Contégio comprovado Contagio provavel Coito anal Coito vaginal Contato com esperma Transfusdes de sangue Acupuntura ou tatuagens cor Seringas ndo-esterilizadas instrumentos néo-esteril Contégio intra-uterino (quando zados Relagéo buco-anal Relagao bucogenital Beijo prolongado Contégio comprovada Contégio provavel Lamina de barbear ouescova de dentes usadas por doentes Alicate, tesoura ou navalha néo-esterilizados Instrumentos odontolégicos ou cirdrgicos néo-esterilizados. Lambidas em ferimentos Contato com sangue menstrual Lagrimas (muito pouco pro- vavel) © foto contrai a doenga da mio) O QUE NAO TRANSMITE A AIDS Ar Agua de piscinas Vapor de saunas Hanhoiras Hancow do Onibus ‘Maganotas Privadas Aporto de mao Abragos Hialjon no rosto (evitando feridas) Alimentos Copos Talhoros Praton Houpas de cama Codulas de dinheiro Doar sangue (com instrumentos esteriizados} Néstor Perlongue ¢ AIDS Como nfo se transmite a AIDS f#eja, moléculas capazes de ‘‘marcar’’ o virus. Esse teste parte do principio de que a infec- go pelo virus da AIDS resulta na introdu¢gado de agentes estranhos no organismo. Como respos- i@, Ocorre a produgao de anticorpos especificos destinados a combaté-los. Tais anticorpos per- sistem durante um tempo bastante prolongado # funcionam como sinalizadores da passagem do virus. © teste mais comumente utilizado chama-se TLIGA. A presenga do anticorpo que delata a fassagem do virus é indicada por uma reagado oolorida, Nesse caso, trata-se de uma reac&o. sefopositiva, que deve ser reconfirmada me- (lante novo teste. No entanto, um resultado seropositivo nao in- die necessariamente que a pessoa analisada #steja com AIDS, mas apenas que seu organis- mo teve algum contato com o virus e produziu poertanto anticorpos especificos. Tambén n&o é posalvel saber, se 0 individuo com resultado se- fopesitivo néo apresentar outros sintomas, se #le 60u no um portador sadio do virus. Quando o resultado seropositivo se combina om sintomas caracteristicos de infec¢ado pelo virus da AIDS, outros testes mais complexos sho aplicados — imunofluorescéncia, radioimu- feensaios, radioimunoprecipitagéo, Western lott —, permitindo detectar com mais seguran- 8 @ presenga do virus. Uma infinidade de mitologias procuram expli car as formas fabulosas de se precaver da doen ga. Elas vaéo desde a recusa do beijo ‘social’ ou do aperto de mos, até nao tocar em maga: netas e nao usar privadas onde tenham Passadi supostos contaminados. Igualmente mitica é crenga do provavel contagio numa piscina publi ca, ou através da roupa de cama de um motel. perigo de transmissao através de copos, talh res, pratos, etc., ainda que superficialmente hi- gienizados, é nulo. Tampouco as cédulas de di nheiro oferecem perigo. O teste Registrar a presenca do virus da AIDS no san gue 6 uma operacio dificil e cara. Os testes se- rolégicos ({sangtifneos) comumente praticado: permitem inferir indiretamente a Passagem de virus pelo sangue, detectando anticorpos, ou motivo sequer de preocupacao para os apli- O teste ELISA nao 6 absolutamente seguro, pois pode dar resultados falsos-positivos ou fal- sos-negativos. Se uma pessoa tem um resulta do positivo, isso nao quer dizer que ela tenhi AIDS, mas, apenas repetindo — que possui o: tespectivos anticorpos. Calcula-se que nao mai: do que 15% dos seropositivos possam contrai efetivamente a doenca. Apesar dos freqlentes pronunciamentos mé- dicos a favor de certa generalizagao do test anti-HTLV-III, algumas vezes, no proprio camp! da medicina, alertam contra os riscos dess aplicagao indiscriminada. Num trabalho intitula do HTLV-Iil: Should Testing Ever Be Routine?, Os autores (Miller, Jeffries, Green, Harris e Pin: ching) advertem que os argumentos a favor d: aplicagao sistemdatica de testes de deteccdo d anticorpos do virus da AIDS nao sao tao légico: quanto parecem. Enquanto nenhuma vacina po tente nem tratamento eficaz surgis, o teste in- discriminado traria riscos consideraveis para o: pacientes enquanto individuos, em vista da: conseqiéncias desse ‘‘seropositivo’’: dano: psiquicos, emocionais e existenciais, j4 padeci- dos por numerosos pacientes que, acreditando estar com AIDS, entraram em profundas crises. As possibilidades de reversao desse quadro p: colégico sao muito dificeis, em virtude do pani- co que toma conta deles. Tais processos nao adores de testes generalizados, propensos a pintar quadros apocalipticos. Sensibilizados por faclocinios similares, os integrantes do grupo homossexual carioca Triangulo Rosa recusaram #0 submeter ao teste graciosamente oferecido por uma equipe clinica, duvidando dos benefi- Glo® que sua realizacdo pudesse lhes trazer. Além de sua duvidosa utilidade, a generaliza- ho do teste a toda a populacéo — € oO conse- qUente internamento dos seropositivos, sejam Ou nlo doentes, até a descoberta de uma cura, (proposta feita em So Paulo por um doutor nor- te americano que vaticinava o fim do mundo em eonseqiéncia da expans&o da AIDS!) — signifi- aria um fabuloso empreendimento comercial. No 6 alucinagao perceber, por tras de muitos apostolos do alarmismo, desmesurados interes- #8 em explorar o vasto negécio da AIDS. A esperanga da cura N&io hd atualmente cura conhecida para a AIDS. O Indice de mortalidade das pessoas que ohegam ao estagio definitivo da doenga oscila entre 85 e 100%. A medicina limita-se a tratar, om desigual fortuna, as infecgdes oportunistas @ 68 cAnceres que vao aparecendo, procurando fetardar o mais possivel a morte que se supée. jue é AIDS inexoravel. Corre assim o risco comum a maio- ria das doengas ‘‘graves’’: complicar a morte e tornar ainda mais penosa a agonia. Algumas infecgdes oportunistas, como pneu- moi ({provocada por Pneumocystis carinii), meningite (causada por Cryptococcus neofor- mans) e encefalite (desenvolvida por Toxoplas- ma gondii), involuem parcialmente, mas recupe- ram terreno pouco depois da suspensao dos me- dicamentos. Para outras infecgdes, nao ha pra- ticamente tratamento, como no caso do citome- galovirus, virus Epstein Barre polioma (que pro- voca encefalopatia multifocal progressiva). O sarcoma de Kaposi 6 também dificilmente tratavel, mas em 40% dos casos existem, nos estagios iniciais da doenga, em pacientes que no apresentem infecgdes Oportunistas, algu- mas perspectivas de involugao, mediante apli- cacao de interferom ou quimioterapia (embora esta facilite 0 surgimento de infecgdes oportu- nistas). Tém-se experimentado algumas drogas dirigi- das diretamente contra o retrovirus: HPA 23, sumarin, ribavarin, interferon alfa e AZT (azido- timidina); mas a resultante teduc&o na produgado de virus é geralmente proviséria e nao efetiva nos estagios avangados do processo, podendo ocasionar efeitos colaterais complexos, Na ver- dade, a medicina nao tem progredido muito no escorregadio campo da luta contra os virus. {specula-se bastante a respeito das possibili- Jades de descobrir uma vacina contra a AIDS. ie vez em quando os agentes médicos e a ma- juina de sonorizacaéo das midias arriscam vaga- 0808 prazos: 1, 3, 15 anos. E certo que o em- jpenho dos cientistas é intenso. No entanto, de- alhar as reiteradas tentativas seria entrar num plano demasiadamente técnico. Caberé apenas ebogar as dificuldades que adiam indefinida- iente a concregao dessa ilusdo. 1m primeiro lugar, trata-se de um virus extre- Mamente mutante (o que muta é o invélucro //Otblco que o recobre). Um caminho possivel é 4 fabricagdo de anticorpos especificos; no en- tanto, o virus pode coexistir — como se vé nos lestes — com os anticorpos destinados a neu- tfalizd-lo. A isso se soma a dificuldade de achar Ji) Modelo animal onde as experimentagées pu- (/easem ser testadas. O mais aproximado seria 0 phimpanzé, que pode talvez ser contaminado jielo virus da AIDS, mas a infecg&o em seu orga- ilsmo costuma ser quase imperceptivel. Além (ila, sua manuteng&o é muito onerosa. 4 riscos e os conselhos Perante a auséncia de cura, os conselhos mé- tieos se limitam ao plano da prevencao, reco- jue é AIDS feses conselhos néo sao ‘‘inocentes’’, mas partem de certo modelo médico de pratica cor- poral que tem uma relagao conflitiva com os (4808 Concretos e histéricos do corpo. Mas antes de diseutir seus alicerces ideolégicos, 6 neces- #410 expor a polémica (nao menos ideolégica) quanto 4 origem da AIDS. mendando evitar praticas consideradas peri sas. Enumeram-se algumas das sugestées mi dicas e paramédicas: © reduzir o numero de parceiros: os mais pre miscuos estardéo mais expostos ao contagi | pela lei da probabilidade; ° evitar contato com o esperma: conselho rigido particularmente aos homossexuais ma: culinos, principal ‘‘grupo de risco’’, mas extel sivel a todo ser humano; ° usar camisa-de-vénus (camisinha): recur: — 0 latex impede sua passagem. Se estiver mi colocada, pode deixar vazar esperma ou ra gar-se. Recomenda-se 0 uso com lubrificant Deve ser colocada no pénis ja ereto. Alguns e: permicidas mostraram-se eficazes em experi mentos fn vitro, mas subsistem ainda algum: duvidas; ° utilizar seringas descartaveis individuai: recomendagao para os usuarios de drogas inj taveis; ° abster-se dos atos considerados de mai risco de contagio: (segundo o item ‘’Transmi: so’'): coito anal, vaginal, relagao bucogenital buco-anal e todos os que implicam troca de s cregées. CC A FABULA DAS ORIGENS As origens da AIDS sao nebulosas. A indeci- s&o clinica favorece a proliferagao de mitos cujos limites com o saber so, na sociedad. contemporénea, algo difusos. Os primeiros supostos casos da AIDS teria sido documentados, em setembro de 1979, n sul de Japao e, cinco meses ap6s, no Caribe, Quem tenham sido realmente casos de AIDS 6, & luz dos dados atuais, um pouco duvidoso; possivelmente foram casos de uma forma muite rara de leucemia, cujo virus foi inicialmente as. sociado ao da AIDS e de onde deriva a denomi: na¢gao americana. Entre outubro de 1980 e maio de 1981 d tectou-se no Centro de Controle de Doenga: dos Estados Unidos um aumento inexplicavel na ila provocada pelo protozodério Pneumocystis Swin/i em homossexuais masculinos adultos, até entho sadios, dos estados americanos de No- va lorque e California. Casos similares se obser- ivariam, pouco depois, em imigrantes haitianos. © que poderia haver em comum entre os so- ietioados guetos gays de classe média e os de Migrantes haitianos, que pululavam miseravel- Hente & sombra dos arranha-céus? Tendo em conta que a AIDS se transmite pelo sperma e pelo sangue, duas suspeitas se insi- Aram a respeito dessa conturbadora identida- i de preocupagées entre gays elitizados e imi- antes Negros famélicos. A primeira se apoiava if hipétese do contagio pelo esperma e a se- india remetia ao mercado internacional de ban- 8 de sangue. 0 AGesso espermatico desvelava os resulta- de reiteradas excursdes de gays em férias 1f@ 08 hipersensuais machos haitianos, de eM © escritor dominicano Manuel del Cabral mgistra, no romance &/ Escupido (1970), o ijulho de serem excepcionalmente bem dota- 8) Aquele que tenha o pénis do tamanho de 1) brago sera considerado um “‘falo sagrado’’, 0M direito a mordomias nao apenas libidinosas. Negundo a primeira suspeita, as excursGes de '# americanos para o Haiti teriam voltado aos Winds Unidos trazendo o virus na bagagem.

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