You are on page 1of 34
Tom Jobim cD1- 4. Ai Quem Me Dera (com Edu Lobo) - 2.13 - Tom Jobim ¢ Marino Pinto ~ 618520 (Ps obi mise 2. Por Causa De Vocé (com Nana Caymmi)* - 3.08 - Tom Jobim ¢ Dolores Duran - 3. Chega De Saudade - 3.48 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 654594 (7196 Anput 4. E Preciso Dizer Adeus (com Edu Lobo) - 4.18 - Tom Jobim e Vinici (9257 (P94 Baerpe de Moraes - 61585202 (PAGEL Apa 5. Tempo Do Mar - 5.10 - Tom Jobim - «rsp 9)175 Jobim Music 6. Desafinado (com Jodo Gilberto e Stan Getz) - 4.00 - Tom Jobim e Newton Mendonga - 285207 W196 Apu 7. A Fel idade (com Nelson Riddle e sua Orquestra) - 2.11 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 61200611 (P1967 Arad (com Elis Regina) - 2.45 - Tom Jobim - «5769123 cos" Jobim Muse Regina) - 2.12 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 6120128301974 arma 10. Samba De Uma Nota S6 - 2.16 - Tom Jobim € Newton Mendonca - 60542209 119% Jobin Muse/Desto Sh) 11. Brigas Nunca Mais (com Elis Regina) - 1.36 - Tom Jobim ¢ Vinicius de Moraes ~ (120138 (197 Jobin Naina 42. Dindi (com Nelson Riddle ¢ sua Orquestra) - 2.34 - Tom Jobim e Aloysio de Oliveira - (6560575 (P96 Jobim Msc 13, Meditacdo - 3.15 - Tom Jobim e Newton Mendonga - 6146019 1964 Jobim Music Dito Sh 14. 0 Que Tinha De Ser (com Elis Regina) - 1.40 “Tom Jobim e ius de Moraes - (S7OUIT (ETA Jobie Musings + Fonograma gentiimente cedslo pela EMLODEON cD2 1. Por Toda A Minha Vida (com Elis Regina) - 2.02 65715 CITA Arp Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 2. Lamento Do Morro - 2.41 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes ~ 679900 (1967 hin Nose 3. Soneto Da Separacdo (com Elis Regina) - 2.18 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 6151 74 Jobin Mosc Tenge 4. Amor Em Paz - 3.34 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes 5. Corcovado (com Astrud Gilberto, Joao Gilberto e ~ 61463980 (195 Jobim Moses Stan Getz) - 4.13 ‘Tom Jobim e Gene Lees - (2852019 1964 Jobin Music 6. 0 Grande Amor (com Joao Gilberto € Stan Getz) - 5.24 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - {62851995 (1964 oti Masons 7. Agua De Beber - 2.48 - Tom Jobim e Vinicius ce Moraes ~ 61663999 (1961 Jobim MasierTonss 8. Insensatez - 2.54 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - 6122 (9 Join Muse/Tong 9, $6 Dango Samba (com Joao Gilberto ¢ Stan Getz) - 3.31 - Tom Jobim e Vinicius de Moraes - eas 1196 Jobin Masog 410.The Girl From Ipanema (com Joao Gilberto, Astrud Gilberto © Stan Getz) - 5.13 - Tom Jobim, Vinicius de Moraes € Gimbel - 6285251 (961 jobim MosTong. 41, Samba Do Avido (com Nelson Riddle e sua Orquestra) - 2.11 = Tom Jobim ~ i757 (67 Join ase 12. Ela E Carioca (com Nelson Riddle e¢ sua Orquestra) - 2.35 - Tom Jobim ¢ Vinicius de Moraes - (56776111957 Job Mas Tongs 13. Indtil Paisagem (com Mie 44. 0 Morro Nao Tem Vez - 3.20 - Tom Jobim € Vinicius de Moraes ~ 11461796 Joe Msi Tonge is Regina) - 3.11 - Tom Jobim e Aloysio de Oliveira ~ «79131 (1774 im Tom Jobim O HOMEM - OU A VENTURA DE SER TOM m um negécio na Biblia que é muito sério: separou 0 homem de sua obra, de seu trabalho, para que ele nao se envaidecer das coisas que fizesse.” ‘aras, em 12/11/1993 Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom, nasceu na Tijuca, zona 5 de janeiro de 1927, e morreu em Manhattan, Nova nbro de 1994. Dois extremos geogrificos pelo menos ue sempre o viram como um homem de Ipanema, mundo como de fato foi. (© nasciment -se de forma menos circunstancial do que 0 proprio Tom gi na verdade eu deveria ter nascido em Copacabana”, dis ultimas entrevistas, “mas na época. minha familia pass@@™por uma débdcle financeira terrivel. Ja entao os aluguéis eram carissimos € fomos parar na Tijuca” Levando-se em conta que Copacabana era um vasto areal nos anos 20 € que Ipanema mal existia; levando-se em conta, também, que os aluguéis na Tijuca - sobretudo 0 da bela casa na Conde de Bonfim em que Tom nasceu - eram mai caros que os da Zona Sul, pode-se concluir que outros foram os motivos que levaram os Jobim para la, De qualquer forma, as lembrangas de infancia sao as de praias limpas e mares azuis, de um Arpoador onde se mergulhava entre arraias-jamantas € cagdes, de uma Lagoa Rodrigo de Freitas de 4guas tao despoluidas que o menino Tom ia pescar nela goretes € curimas Mas nao foi uma infancia de todo feliz, como o Tom das ultimas entrevis i fazia parecer. A separagdo dos pais, quando ele tinha trés anos de idade, seria penosa para ele e para a irma Helena. Nao tanto pelo lar desfeito, jf Tom Jobim um compositor para mu: ar sua peca em versos Orfeu da Concei¢do, na qual transpunha para os morros cariocas 0 mito tragico de Orfeu, “Tem um. dinheirinho nisso?", perguntou Tom assim que Vinicius lhe falou do projeto. Se 0 poeta € Léicio se escandalizaram - “falar em dinheiro quando era a arte que estava em jogo” -, para Tom a pergunta era a mais natural do mundo: mal tinha para pagar o aluguel, e quando se sentava no Vilariio, enquanto os outros tomavam o melhor scotch, ele bebia a cerveja mais barata Orfeu da Conceicdo estreou no Teatro Municipal do Rio em 25 de setem- bro de 1956. Foi o comego da parceria Tom & Vinicius. Interrompida quando o poeta, servindo como diplomata em Paris, deixou o Brasil, € foi retomada em 1958 para o disco Cangdo do Amor Demais, com misicas dos dois interpretadas por Elizeth Cardoso. © que veio em seguida aconteceu rapidamente € projetou Tom Jobim até ele se tornar, 20 anos depois, uma instituigao nacional: Bossa Nova, obras primas de parceria com Vinicius, a sinfonia dedicada a Brasilia, o concerto no Carnegie Hall de Nova York (do qual participou praticamente coagido pelo Itamaraty), a Palma de Ouro e 0 Oscar conferidos 4 versao cine- matogrifica de Orfeu (em cuja trilha sonora foi lancada “A Felicidade”), 0 interesse dos jazzmen americanos por sua miisica, os repetidos convites para ele proprio gravar nos Estados Unidos, 0 éxito planetario de “Garota de Ipanema’, a proposta telefénica com a qual Frank Sinatra o surpreendeu no Bar Veloso (hoje Garota de Ipanema) para que fizessem juntos um disco, que acabaria sendo dois (0 segundo, quatro anos depois do primeiro). De Orfeu a Sinatra foram dez anos. De ascensao permanente, mas também. de contratempos. Como tantos, Tom nao conseguia ser profeta em sua propria terra. Admirado, quase endeusado no exterior, onde muitos reco- nheciam nele a estatura dos maiores compositores populares de sempre, 0 brasileiro Tom tinha de enfrentar, em sua propria casa, a incompreensao ¢ a intolerdncia de criticos que viam em seu triunfo internacional um fato culturalmente colonizado. Nao aceitavam que, em vez do samba tradi- cional, preferisse fazer sua propria misica, Nao o perdoavam por cantar em inglés. Nao compreendiam por que gravava tanto l4 fora e tao pouco aqui. Talvez por nao saberem que o samba mais tradicional nao era neces- sariamente mais brasileiro que Tom, nem que 0 inglés era uma forma de tornar sua arte mais universal, nem que ele s6 gravava la fora porque aqui seus discos eram considerados caros € pouco comerciais: “A Gnica saida = DT CCR CeCe canizara, gravando com musicos ee Rome UC et de que ele bebia nas mesmas brasileiras fontes do mestre Ary Cee ee ete versdo de “Garota de Ipanema”. Tom Jobim as frases mais famosas para o Brasil € 0 Galeao”, disse ele numa de s daqueles tempos. Tudo isso culminando com ‘Tom e Chico Buarque sendo vaiados no “Sabia Maracan Jizinho, em 1968, quando * obteve o primeiro lugar no III Festival Internacional da Cangao (os criticos ditos mais politizados torciam , de Geraldo pela vitoria de “Para Nao Dizer que Nao Falei de Flor: Vandré, por achar que tinha um sentido quase revoluciondrio, sem perce- berem 6 quanto de politico se escondia por tras dos versos nao tao expli- citos de Chico). Muitos nao notaram o quanto, nas duas décadas subseqiientes (dos anos 70 aos anos 90), Tom - 0 homem e o artista - mudaria sem se dobrar um milimetro ao peso das criticas, Mudou sua maneira. Mudou para continuar sendo ele mesmo. O artista, que sera melhor estudado adiante, passou a trabalhar em varias frentes: gravando, escrevendo trilhas sonoras para cine- ma ou televisao, fazendo show multiplicando parceiros, participando de discos de outros artistas, excursionando ao exterior, Nesse percurso, tomou- se mesmo uma instituicio nacional. Ganhou prémios, homenagens, comen- das (uma delas na Franca) e passou a ter na musica brasileira - aqui sem distincao entre popular ¢ erudita - 0 status antes s6 alcangado por Villa~ Lobos (que, curiosamente, também teve de vencer criticas, vaias, incom- preensoes € intoleranc até poder ser profeta em sua propria terra). A mudanca do homem foi ainda mais imperceptivel que a do artista. Foi também mais lenta, mais gradual. Em 1976, ja separado de Teresa, © quan- do ja tinha um neto do casamento de Paulo, casou-se com Ana Beatriz Lontra. A mulher 25 anos mais moga ¢ os filhos que nasceram do casame! to (Jodo Francisco, em 1980, € Maria Luiza, sete anos depois) como que obrigaram Tom a se reciclar, a permanecer jovem, na miisica € na vida Assim como novos casamentos e a parceria com Toquinho haviam recicla- do e rejuvenescido um Vinicius que, nos anos 70, j4 era apontado por muita gente como poeta € letrista acabados. No caso de Tom, a nova familia forgava-o a manter-se aceso, de antenas ligadas, apostando em novos projetos, trabalhando sempre mais. O Tom desse periodo, porém, s6 é jovem por dentro, dai a mudanca ter sido aparénc pouco notada. Por fora, envelhecia, engordava, descuidava-se ¢h e da satide. Dei va 6 Moco bonito de tempos atras transformar-se num homem dissipado, fisicamente quase irreconhecivel. De certo modo, tais Ce eC CM aM ell Pee CUO oe Rae et ety Te mC oe CU e ce a. Af cee TST) PU oe Rte UT Ere eta pagées de um ar Dc Peet ee Tio ce CRC Ury CeCe eT) PRC) Oe Tom Jobim descuidos acabariam lhe abreviando a vida. Mas o Tom interior brilhava. O dos tltimos anos converteu-se como 0 parceiro Vinicius tinha sido tempos atras - numa figura centralizadora nos papos de bar e restaurante, ass umindo uma postura proverbial entre os ioria das amigos que lhe freqiientavam a mesa. Sao dessa tiltima fase a ma frases que criou e passou adiante, inteligentes sempre, generosas quase sempre, sabias as vezes, queixosas outras, Nao esquecia, por exemplo, os criticos do passado e o estranho pais que amava: “Carrego nas costas a cangalha de fazer misica brasileira e me acusam de ser estrangeiro”. Ou:"0 Brasil persegue as pessoas que fazem sucesso”. Ou entdo:"Quanto mais brasileira é a musica que fago, mais me chamam de americanizado”. Ou ainda: “Vivo me justificando das coisas que nao disse”. Ou mais: “Vocé ama, ama, ama 0 pais, e 0 pais te tortura, te tira as coisas’ O Tom interior dos tltim anos é, também, 0 Tom apaixonado pela natureza, ecol6gico antes mesmo que o primeiro ecologista profissional comegasse a prestar atengdo no verde: “Nao vejo esperanca para o indio nem para o bicho nem para as plantas do Brasil”. Ou: “Acabar com a natureza e oprimir a mulher, sdo os habitos mais constantes do homem’”. Ou: “Tenho falado de serra, mato e passarinho, mas o brasileiro s6 se inte- Sem sermos moralistas, estame ressa por automovel e apartamento”. Ou vendendo Deus: ou seja, vendendo a natureza, vendemos 0 que nao fize- mos”. Ou: “O futuro jé era; vou acabar em plena Amaz6nia, toda asfaltada, com um matita-peré empalhado no dedo”. Ou: “O pais que me inspirou nao existe mais; tinha paz, carinho, morenas lindas e nao tinha bomba atOmica”, Ou ainda: “Sem mato, ar e bicho, nao ha misi: Hé todo um mundo de palavras no miisico Tom dos tiltimos tempos, ele que dizia ter comecado a fazer miisica para fugir das palavras. O proverbial centralizador das mesas de bar ¢ restaurante mortia sem que nos déssemos conta, e, aos poucos, como havia mudado, Mas morreu, apesar das queixas, reconhecido. Mais que reconhecido, admirado, amado, idolatrado quase. Uma instituigdo. Talvez tivesse plena consciéncia disso. possivel percebé- lo no prazer com que se sentava ao piano, no rosto alegre com que des filou como enredo da Mangueira ou nos gestos largos que exibia, entre uma e outra baforada de charuto, na intimidade dos papos com os amigos. A Deve ter sabido. Do contrario, nao teria dito, como se a autodefinir-se; vida é boa - 0 homem é que teima em complicé- Tom Jobim O MUSICO - OU A ARTE DE SER UNICO Eu vou morrer um dia, a milsica vai ficar...” Ao jornal O Estado de S. Paulo, 30/7/1986 Antonio Carlos Jobim foi talvez o mais desengajado de todos os misicos institucionais brasileiros. Desengajado e, em varios sentidos, nico. A um balanco apressado, pode parecer que nao, ma s © maestro sempre nadou 20 largo das correntezas estéticas de nossa mtisica popular. Se nao, vejamos: Fez samba-cancao lento, de ritmo quase subliminar, numa época em que da rea outro institucional, Ary Barroso, empunhava a bandei samba tradicional (‘Samba sem telecoteco, nao € samba”, sentenciava Ary na letra “E Luxo $6”). Ajudou a consagrar a Bossa Nova quando muitos de seus amigos - Lticio Rangel a frente - se batiam pela volta da velha bossd Partiu para vos orquestrais mais complexos no momento em que espe- ravam vé-lo na base do banquinho e viokio em defesa da proposta simpli- ficadora do bim-bim-bom de Joao Gilberto. Abriu, com sua miisica, bracos € coracao para um Brasil de rios, matas € céus quando, j4 em meio a uma carreira internacional bem-sucedida, todos apostavam na sua americanizagao sob as béngdos dos jazzistas da West Coast e do big boss Frank Sinatra. E quando ja se acreditava que aqueles vos orquestrais 0 levariam a proje- tos mais audaciosos (quem sabe sinfonicos, 4 maneira de Villa-Lobos, 0 que ele chegou a ensaiar em alguns discos), criou uma banda familiar, com vozes femininas e poucos instrumentos, para com ela vivenciar os tiltimos shows e discos de sua carreira. Nao que Antonio Carlos Jobim fosse um artista “do contra”, intencional- mente interessado em opor-se As regras vigentes. Se ndo se considerava um bossa-novista € porque achava, sem falsas modéstias que sua partici- pacdo no chamado “movimento” tinha sido pouco intensa e algo fortuita Se sua passagem pelos palcos dos festivais foi meteérica (numa época em que todos os compositores do pais viam naquelas disputas musicais 0 meio mais eficaz de mostrar seu trabalho ao grande ptiblico), 0 motivo nao foram as impiedosas vaias a premiada “Sabid”, mas a certeza de que aquela nao era a vitrine que servia As suas cangdes feitas para se ouvir, e nao para Tom Jobim animar torcidas organizadas. E se nao tomou conhecimento do Tropicalismo nao foi por oposigao a ele, mas por achar que nada tinha a ver com seu perfil de homem e de misico: “Para falar a verdade”, disse numa entrevista da época, com aquele alheamento tipicamente seu, “nem sei bem 0 que é” Houve, por ocasido de sua morte, uma inevitivel preocupagdo de rotular- lhe a obra, de classifica. Jo, de enquadra-lo em determinado movimento, escola, tendéncia, ou fase da miisica popular brasileira. Criticos, exegetas, teéricos de ocasido, ndo nos demos conta, num primeiro momento, do. desengajamento que sempre permeara a obra de Jobim. Dos tempos de arranjador anOnimo a tiltima ida ao piano Os discos continuam sendo o melhor meio para se viajar pela musica de um compositor brasileiro, Antonio Carlos Jobim principalmente. Ele nao tentava ser modesto ao dizer que sua participagdo na Bossa Nova fora pouco intensa e algo fortuita. Cangdo do Amor Demais (1958), 0 disco que historicamente deflagra 0 chamado “movimento”, ndo pretendia ser mais do que uma coletanea de cangées inéditas de Tom & Vinicius, na voz de Elizeth Cardoso, com arranjos do proprio Tom. Seria, em principio, um disco afinado com a forma do samba-cangao romantico dos anos 50 - aqueles que Jobim andara fazendo, j4 ao largo da correnteza dos tradi- cionalistas: “Outra Vez”, “Esperanca Perdida”, “Por Causa de Voce”, “Foi a Noite”, “Se Todos Fossem Iguais a Voce”, esta da peca Orfeu da Concei¢do, 0 primeiro sucesso da parceria com Vinicius de Moraes. Eram muito criticados es es sambas-cangdes com pouca énfase no ritmo e muita nas invencdes mel6dico-harmOnicas. Por nao terem telecoteco, eram chamados de “samboleros”. E seus cultores, Jobim entre eles, ganhavam 0 rotulo de nao-br: sileiros, quando nao de antibrasileiros. A mania de rotu- lar, evidentemente, nao é nova. Dois detalhi contribuiram para que o disco de Elizeth acabasse fazendo hist6ria. E ambos, como lembraria Jobim, fortuitos. Um deles foi o dinheiro contado que Irineu Garcia, dono do selo Festa, tinha para pagar os miisicos. Foi por essa razo que, ao escrever os arran- jos, Jobim limitou-os a poucos instrumentos,12,14 no maximo. Constataria depois, deliciado, que o resultado nao poderia ter sido melhor: a orques- tragdo contida, parcimoniosa, cameristica e exata, muito diferente das que ele mesmo havia criado para discos de Dick Farney, Dalva de Oliveira e Tom Jobim outros, vestia admiravelmente a voz morena de Blizeth € 0 carter quase intimista das cangoes O outro detalhe foi 0 violao de Joao Gilberto em duas faixas: “Chega de - a tal “batida dife- a Nova Saudade” ¢ “Outra Vez”. Suas transgressdes ritmi rente” - fariam da primeira uma espécie de instante seminal da Bos: e da segunda o simbolo da conversio do “sambolero” ao novo estilo (6 mba-cangao tinha sido gravado cinco anos antes por Dick Farney, em ritmo bem lento e arranjo nada econdmico do mesmo Jobim) Da semente do disco de Elizeth, a Bossa Nova floresceria, de forma mais nitida ¢ definitiva nos trés primeiros discos de Joao Gilberto (1959, 1960 e 1961), todos com participagio fundamental de Jobim, E nao sé nas com- posigdes, mas sobretudo nos arranjos simples, para poucos instrumentos, coadjuvando a voz e 0 viokio de Joao. O inicio da arreira internacional de Antonio rlos Jobim é 0 capitulo seguinte, Foi mais a Bossa Nova, em geral, do que Jobim, em particular, que atraiu a atengao dos americanos para © novo tipo de miisica que se fazia no Brasil, O saxofonista Stan Getz © 0 guitai rista Charlie Byrd jé ha- viam gravado, numa igreja de Washington, 0 hoje clissico LP Jazz Samba curio: (que incluk mente, duas miisicas de Jobim € duas do antibossa novista Ary Barroso) - e Getz j4 gravara também Big Band Bossa Nova, LP com arranjos de Gary McFarland ¢ a nossa Carmem Costa a cabega - quando 0 produtor dos dois discos, Creed Taylor, convidou Jobim para gravar aquele que seria Antonio Carlos Jobim, the Composer of *Desafinado (1963), sua estréia como intérprete solista, Um esquema simples: Jobim solando 12 composig6es suas em “one finger piano”, com suaves arranjos de cordas de Claus Ogerman e, para garantir 0 carter bossa-nova do proje- to, Edison Machado na bateria, O LP foi um sucesso e abriu as portas dos Estados Unidos para Jobim, que gravaria li mais 16, sem contar os que ele faria camuflado de Tony Brazil. Os cinco LPs solo que se seguiram tiveram propostas diferentes. The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim (1965) contou com arranjos de Nelson Riddle, 0 favorito de Nat King Cole, Frank Sinatra ¢ de quase todo mundo. Neles, prevaleceram os sopros, € embora 0 clima bossa-nova s mantivesse, a economia fora posta de lado, para ser retomada nos trés pro- jetos seguintes. Os dois primeiros, A Certain Mr. Jobim © Wave (ambos de 1967) marcaram 0 reencontro de Jobim com Claus Ogerman, o orquestrador que se tornaria sua alma gémea musical nos projetos americanos. Foram produzidos quase simultaneamente a Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, « consagracao definitiva do compositor no exterior. Todos com um mesmo sotaque: arranjos com base de cordas, batida bossa-nova de Dom Um Roma, intimismo, suavidade: “Nao canto suave assim desde que tive laringite”, comentaria Sinatra ainda no esttidio de g Avacao, Tide © Stone Flower (ambos gravados em junho de 1970, mas langados com intervalo de quase um ano) es so ma para Nelson Riddle do que para Claus Ogerman. Como nos demuis, as musicas sao todas de Jobim, mas sua participagdo no piano ou guitarra é discretissima, j4 que os arranjos de Eumir Deodato privilegiam os sopros, sobretudo nos solos de Urbie Green Hubert Laws, Joe Farrell e até de Hermeto Pascoal em uma das faixas de Tide, S40 08 dois mais jazzisticos discos de Jobim, se se pode dizer assim E Ihe val m mais criticas nacionalistas, embora estas agora ja nado fossem Wo ouvidas. Um segundo aval de Sinatra viria pouco depois com o LP Sinatra & Company, metade do qual o cantor divide com Jobim e suas cangdes, agora com arranjos mais pesados de Deodato substituindo © soft sound de Ogerman, Sempre ao largo da correnteza, eis que Jobim, nos dois trabalhos seguintes, Matita Peré (1973) e Urubu (1976), transforma definitivamente em passado suas ligagdes com a Bossa Nova. Jit no ha nestes discos as batidas diferentes de Edison ou Dom Um, como se estas tivessem sido uma exigéncia dos americanos nos primeiros tempos de importacao da Bossa Nova (uma prova de que 0 “movimento” fundamentava-se na transgressio ritmica criada, ou pelo menos sacramentada, pelo violao de Joao Gilberto) Jobim estava certo: a nao ser pelos primeiros discos americanos ou por sua breve (trés anos) associagdo em disco com Joao, nao pertencia a Bossa Nova mais do que a ele mesmo, artista em permanente transformagao, a procura de uma além e acima das novidades, das ondas, das rte maior modas, dos ismos e dos rétulos. Matita Peré {oi o primeiro grande passo nesse sentido. A partir dele, 86 com uma dose grande de ma-vontade ¢ outra de insensibilidade se poderia negar a Jobim a condicao de grande artista brasileiro. E nao s6 por ele nao cantar em inglés, tanto em Matita Peré como em Urubu. Os dois discos foram produzidos com dinheiro do proprio Jobim, juntando centavo por centavo para que o resultado fosse exatamente 6 que desejava. Foi grava- Tom Jobim nde do nos Estados Unidos porque li ainda sobrevivia o respeito pela g orquestra (aqui, ja estivamos nos tempos dos sintetizadores polivalentes que faziam as vezes de mil mtisicos) ¢ também porque era Ié que sua alma gémea estava, disposta a investir no projeto. Jobim ¢ Claus Orgeman tra. halharam em estreita cooperacao nesses discos, criando juntos pratice mente nota por nota, F impressionante como 0 arranjador, um alemao de Ratibor (hoje Polonia) enha captado tao profundamente o espirito brasileiro dos dois discos, 0 primeiro deles nao por acaso dedicado a Guimaraes Rosa, Carlos Drummond de Andrade ¢ Mario Palmério. Ao homem do sertao de um, a0 amor pela palavra poética do outro € aos confins interioranos do terceiro comega a fazer de “Aguas de Margo” uma espécie de hino dessa fase criati- va do compositor. E 0 surgimento do “Tom ecolégico”, como ja disseram os que tein am em classificé-lo, De um Tom que, gravando na América: tem olhos presos na natureza brasileira que ele sinceramente amou. Um ‘Tom sintonizado com o sertanejo de pés no chao. Madrugada fria de estranho sonbo Acordou Joao, cachorro latia, Jodo abriu a porta . O disco mistura todos esses sabores brasileiros, na musica € na letra, € O sonbo existia Tom Jobim HA nos dois discos, além desse abrago musical no Brasil de Guimaraes Rosa, Drummond e Palmério, pecas orquestrais ambiciosas que faziam antever um Jobim seguindo os passos de Villa-Lobos e tornando-se cada ite de temas vez mais proximo das salas de concerto: “Tempo do Mar’, a s do filme A Casa Assassinada, “Saudade do Brasil”, Arquitetura de Morar’, “O Homem’, esta tiltima uma releitura do trecho de sua primeira incursio, 25 anos antes, 4 miisica orquestral mais elaborada, Brasilia, a Sinfonia da Alvorada, que JK encomendara a ele e Vinicius Mas nao. Para surpresa dos que Ihe acompanhavam os passos, nao foi por este caminho que Jobim se embrenhou. Depois de seu tltimo disco com Claus Orgeman, Terra Brasilis (1980), Album duplo no qual inventariava sua obra até entdo, seguiram-se projetos diversificados com parceiros varios (Edu Lobo, por exemplo), participagdes especiais em discos alheios, © Giltimo show com Vinicius (ao lado de Miticha e Toquinho) e, por fim, a inesperada formacao da Nova Banda, com seus filhos ¢ amigos chegados, mais a mulher, a mulher do filho as mulheres dos amigos chegados, para gravar preciosidades que nada tinham com nada, nem com o velho samba- cangdo, nem com a Bossa Nova, nem com o jazz samba, nem com a misi- ca sinfonica. $6 com ele mesmo Esta tiltima fase comeca com Passarim (1987), no qual 0 Tom brasileiro e ecol6gico se faz presente nao s6 nos temas poéticos, mas também na miisica de instrumentacao rica em sua simplicidade (piano, flauta, violoes, celo) e mais uma vez desengajada, as vozes femininas soando novas num tempo em que se diziam superados os grupos vocais No mesmo ano, em outro inventario, Jobim gravou com seu conjunto familiar um Album duplo, brinde de Natal: Tom Jobim. £ a reafirmagao de de seus arranjos simples, de suas aventuras pelos mistérios da naturezs sua fé nas vozes humanas, na sua conviccao de que seus rumos tinham de im até o tlti- ser tracados, mesmo ao largo das grandes correntezas. Foi a mo disco, Antonio Brasileiro (1994). Que formidavel desengajamento este, que fez de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim um artista Gnico e imenso. — —_ ‘Sas seein o— ow eR, oF on Tom Jobim E VENTURE OF BEING TOM leiro de Almeida Jobim, Tom, was born in Tijuca, North on January 25‘, 1927, and died in Manhattan, New York, on ber 8", 1994. Two geographical extremes that might seem strange to vho always thought of him as the man from Ipanema, and not as the of the world that he really was covered music when he was 15 years old. His mother bought an piano for the college where she was a principal, the Brasileiro de 1a, and on it the young Tom began, playfully at first, to work out har- “What an interesting thing that was, harmonising sounds on a black hite keyboard Soon the toy turned into real study. He studied, first with Lucia Branco and, from 1941 on, with Hans Joachin Koellreutter, the German who brought the secrets of atonality to Brazil, If Tom learned them, he never used them in his music: “Not Koellreutter, not the popular American composers, as they like to say. My greatest influences go further back to Chopin, Ravel and Debussy By 1946, he was already playing the piano in bars and clubs. Of course it was the popular music of that time and place: slow sambas, boleros, fox trots and the more digestable variety of jazz. “My mother didn’t approve of my life as a club pianist: she thought that all musicians died in misery, drunk, and in the gutter. My stepfather, on the other hand, supported me This support was very important when he abandoned his architectural course to devote himself entirely to music. In 1949, only 22 years old, he married Tereza Hermany, a teenage sweetheart. A year later their first child was born, Paulo (Elizabeth, the second child, would be born in 1957). That w is when the hard times started for the arranger of the Continental Record Company. At the same time, young Tom was composing mainly with Newton Mendonga and Billy Blanco. Tom Jobim Some of his compositions had already been recorded, and at least one of them, “Teresa da Praia”, had been in the charts, when he had his historic meeting with the poet Vinicius de Moraes at a table in the Bar Vilarifio, in the centre of Rio. Vinicius was looking for a composer to set to music his verses for the play Orfew da Concei¢do, in which he transposed the tragic myth of Orpheus to the hillsides of Rio. “Is there any money in it?” asked Tom as soon as Vinicius began talking about the project. If the poet and Liicio were shocked at his “mentioning money when art was at stake", for Tom it was the most natural question in the world: he hardly had enough money to pay the rent. Orfeu da Concei¢do had its debut at the Teatro Municipal in Rio on the 25% of September, 1956. It was the start of the Tom & Vinicius partnership, Interrupted when the poet, serving as a diplomat in Paris, left Brazil; it was taken up again in 1958 on the album Cancao do Amor Demais, with their songs interpreted by Eliseth Cardoso. After that everything happened fast, projecting Tom Jobim on to become, 20 years later, a national institution: the Boss -Nova, masterpieces in part- nership with Vinicius, a symphony dedicated to Brasilia, the concert at the Carnegie Hall in New York (in which he was practically coerced to partici- pate by the Brazilian Foreign Ministry), the Palm D’Or at the Cannes film festival, and the Oscar awarded for the film version of Orfew (on the soundtrack of which “A Felicidade” was released), the interest of American jazzmen in his music, repeated invitations for him to record in the States, the worldwide success of “Girl from Ipanema’, the phone call to the Bar Veloso (today Garota de Ipanema) in which Frank Sinatra invited him to make a record with him, which would end up being two (the second four years after the first). Ten years separate Orfeu and Sinatra. He was a: huge success, but that brought many setbacks too. Like many others in Brazil, Tom did not man- age to be a prophet in his own land. Revered almost as a god abroad, where many recognised in him one of the most important popular com- posers of all time, the Brazilian Tom had to face, in his own country, the incomprehension and intolerance of critics who saw his international tri- umph as having “sold out” to the gringos. They could not accept that, instead of doing traditional samba, he preferred to play his own music. They did not forgive him for singing in English. They did not understand At sixteen, he got his first piano. And he would never stop playing. why he recorded so much abroad and so litle here. Perhaps because they didnot realise that the more traditional samba was not necessarily more Brazilian than Tom, nor that English was a way of making his art more universal, nor that he only record- ed abroad because here his records were considered expensive and not very com mercial Many of us would fail to notice how much in the subsequent decades (the 70s to the 90s), both Tom the man and Tom the artist would change without giving in so much as an inch to the critics, He changed in his own way, changing in ting a closer look at order to remain the same. The artist, who we'll be on several fronts: recording, writing soundtracks for cinema began working and television, doing shows, working with innumerable musical partner: taking part on other artists’ records and touring overseas. On route he indeed became a national institution. He won prizes, tributes, commend tions (one of them in France) and went on to achieve in Brazilian music - here without distinction between popular and erudite - the status only reached before by Villa-Lobos (who, curiously, also had to face criticism, incomprehension and intolerance, till he became a prophet in his own country), ‘The change in the man was even more imperceptible than that in the artist It was also slower and more gradual. In 1976, already separated from ‘Teresa, and already with a grandchild from Paulo’s marriage, he married Ana Beatriz Lontra. This wife, 25 years younger than him, the children from that marriage (Jodo Fransisco, in 1980 and Maria Luiza, seven years later), forced Tom to recycle, to remain young, in his music as well as in his life. In Tom's case, the new family forced him to keep the ball rolling, betting on new projects, always working more and more. Tom, during this period, however, was only young on the inside, and so the change was hardly noticed. Externally, he aged, grew fat, neglected his appearance and his health, He left behind that handsome youth to become a dissipated man almost physically unrecognisable. In a certain way, such neglect would shorten his life. But the inner Tom shone through. The Tom of the last years became - like his partner Vinicius had been some time before - a central figure of bar and restaurant talk, assuming a proverbial posture amongst friends who joined his table, ‘The majority of the verses he created and passed on to us are from this period, always intelligent, almost alw S generous, sometimes wise, other times complaining. He did not forget, for example, the critics of and the those the pa trange country that he loved. “Brazil persecut who are successful”. Or: “The more Brazilian the music I create, the more they call me Americanised.” Or again: “You love your country and your country tortures you, taking things away from you” The inner Tom of those last years is also in love with nature, ecological even before the first professional ecologist went green: “I don't see any hope for the indians, animals or plants in Brazil”, Or: “We are selling God. or should I say, selling nature, that is, selling something we did not make” Or again: “Without forests, air and animals, there is no music” Se eck g that his friend Oscar Niemeyer PCa eo Cm Ce eon Eng the Carnegie Hall and, soon after, reached world fame with the Boss Pau Uy Pe ca tre Se CRUE familiar with many Ce CU) , bs Reo nc) v7 ees Tom Jobim THE MUSIC, OR THE ART OF BEING UNIQUE Antonio Carlos Jobim was perhaps the most uncommitted of all the Brazilian musicians that became institutions. Uncommitted and, in several ways, unique. A rapid appraisal might not perceive this, but the maestro kept well away from the aesthetic trends of our popular music. Let's see He wrote slow samba-cangao with an almost subliminal rhythm at a time when another institution, Ary Barroso, held up the flag of traditional samba (Samba, without that ‘telecoteco’ beat, is not samba”, Ary claimed in the lyrics of “E Luxo $6”. He helped establish Bossa Nova, when many of his friends - with Ltcio Rangel out in front - fought for the return of the old bossa He went for the most complex orquestral flights at a time when they were hoping to see him armed with just a guitar, like Joao Gilberto, His music celebrated a Brazil full of rivers, forests and skies, when he was in the middle of a very successful international career, with everyone bet- ting on his Americanisation under the blessings of the jazz musicians of the West Coast and of the big boss, Frank Sinatra. And when it was believed that those orquestral flights would take him onto more daring projects, he set up a family band, with female voices and hardly any instruments, to live out the last shows and albums of his career. Not that Anténio Carlos Jobim was an artist deliberately set on opposing the established rules. If he did not consider himself a bossa- nova man it w: because he thought, without false modesty, that his participation in the so- called movement had not been very intense, just fortuitous. If his passage on stages of festivals was meteoric (at a time when all composers in the country saw in those musical competitions the most effective way of display- ing their work to the public at large), the reason was not the merciless boo ing with which “Sabia” was received, but the certainty that that was not the window to show off his songs, which were made to listen to, not to animate fan clubs. And if he became conscious of Tropicalism it was not just out of opposition to it, but more out of the discovery that it had nothing to do with him, as a man or as a musician. “To tell the truth”, he said in an interview at the time, with that typical alienation of his, “I’m not sure what it is” There was, at the time of death, an inevitable concern to label his work, to ify him, fit him into a certain movement, school, tendency or phase of Brazilian music. Crit , commentators or part-time theorists, none of us perceived to begin with how uncommitted Jobim’s work had always been From the time he was an unknown arranger till his time at the piano Records continue to be the best way of travelling along the musical trail of a Brazilian composer, particularly Antonio Carlos Jobim. He was not trying to be modest when he said that his participation in the Bossa Nova was not very intense and rather fortuitous. Can¢do do Amor Demais (1958), the record that historically began the so-called “movement”, did not pretend to ici be more than a collection of unpublished songs by Tom & Vi sung by Elizeth Cardoso with arrangements by Tom himself. The original idea to make a record in the line of the romantic samba-can¢ao of the 50s - those which Jobim had already been writing, far from the mainstream: “Outra Vez", “Esperanca Perdida”, “Por Causa de Voce”, “Foi a Noite’, “Se Todas Fossem Iguais a Vocé”, this last song, from the play Orfeu da Conceicdo, having been his first success in partnership with Vinicius de Moraes. These sambas-cangdes were much criticised for the lack of empha- sis on rhythm and their preference for the inventive melodies and har- monies. For not using the traditional “telecoteco” samba beat, they were called “samboleros”, while their cultivators, among them Jobim, were labelled non-Brazilian, when not downright anti-Brazilian. The obsession for labelling, evidently, is not new. Two details contributed to Elizeth’s record making history. And both of them, as Jobim remembers, were fortuitous. One was the small amount of money that Irineu Garcia, the owner of the Festa label, had to pay the musicians. That was the reason why Jobim limited the number of instru- ments,12, 14 at most, when writing the arrangements. He later discovered with pleasure that the result could not have been better: the laid-back orquestration, parcimonious, chamberlike and exact, very different from those he himself had created for the records of Dick Farney, Dalva de Oliveira and others, admirably fitted the dark voice of Elizeth and the almost intimate character of the songs. The other detail was Jodo Gilberto’s guitar on two tracks: “Chega de Saudade"and “Outra Vez”. His rythmic transgressions - the “different beat"as it was called - made of the first track a kind of seminal moment of the Bossa Nova and of the second the symbol of the conversion of “sam- bolero” to the new style . In the last decade of his life, Tom grew more worried about the rich Brazilian envi- ronment and also put together a band with friends and members of his family, inaugurating a whole new fase in his career. Tom Jobim Tom Jobim From the seed of Elizeth’s record Bossa Nova blossomed, in a more defini- tive way, in the three first records of Joao Gilberto (1959, 1960 and 1961), all with Jobim as a major participant; not only in the compositions, but above all in the simple arrangements, for few instruments, collaborating with Joao’s voice and guitar. The beginning of Anténio Carlos Jobim’s international career is the next chapter. It was more Bossa Nova in general than Jobim in particular that attracted the attention of Americans to the new type of music being pro- duced in Brazil. Saxophonist Stan Getz and guitarist Charlie Bird had already recorded, in a Washington church, today's classic LP Jazz Samba and Getz had also done Big Band Bossa Nova, an LP with Gary McFarland arrangements. Then, the producer of the two records, Creed Taylor, invited Jobim to record Antonio Carlos Jobim, the Composer of “Desafinado"(1963), his debut as a solo performer. The idea was simple: Jobim performing solo, 12 of his own “one finger pian " compositions, with Claus Ogerman’s soft string arrangements and, to guarantee the bossa nova character of the pro- ject, Edison Machado on drums. The LP was a success, opening the door to Jobim in the States, where he would record more than 16 records, not counting those which he would do as Tony Brazil The five solo LPs which followed had different purposes. The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim (1965) was arranged by Nelson Riddle - Nat King Cole's, Frank Sinatra’s and almost everyone else’s favourite. On them the wind instruments prevail and although the Bossa Nova atmosphere is maintained, economy is put to one side, to be taken up in the next three projects. The first two, A Certain Mr Jobim and Wave ( both from 1967) marked the meeting up again of Jobim with Claus Ogerman, the orchestra- tor who would become his musical twin soul in American projects. Almost simultaneously Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim was. pro- duced, the definitive consecration of the composer abroad. All with the same accent: arrangements based on strings, Dom Um Romao’s bossa nova beat, very intimate and smooth; “I've not sung so smoothly since I had laryngitis”, Sinatra commented in the recording studio. Tide and Stone flower (both recorded in June of 1970, but released with an interval of almost a year) were more Nelson Riddle than Claus Ogerman. As in all the others, the compositions are Jobim’s, but his participation on piano or guitar is discreet, since Eumir Deodato’s arrangements gave promi- Tom Jobim nence to the wind section, above all in the solos of Urbie Green, Hubert Laws, Joe Farrel and even Hermeto Pascoal on one of the tracks of Tide. They are both Jobim’s jazzy records, if one can call them that. And they brought him more nationalist criticism, even though to a lesser degree than before. A second Sinatra surety would come a little later, with the LP Sinatra & Company, half of which the singer divides with Jobim and his songs, this time with heavier arrangements by Deodato substituting the soft sound of Ogerman Always distant from cur- rent trends, in his next two albums, Matita Peré (197: and Urubu (1976), Jobim puts behind him his links with the Bossa Nova e records Already in thes the different beats of Edi- son or Dom Um are not to be found, as if they had been imposed by the Americans when Bos a Nova was first being imported, proof that the move- ment was based on the rhythmic transgression created, or at least consecrat- ed, by Joao Gilberto’s guitar), Jobim was right: if it hadn't been for the first American records or for his brief association with Joao (three years), he would no more belong to the Bossa Nova than he did to himself, an artist in permanent transition, searching for a greater art, beyond and above nov elties, waves, trends, isms and labels Matita Peré was the first giant step in this direction, and thereafter, to deny Jobim is a great Brazilian artist would be extremely grudging and insensi- tive. Not only because he doesn't sing in English on Matita Peré or on Urubu. The two records were produced with Jobim’s own money, saving up every cent to get the exact result required. They were recorded in the States, where respect for big orquestras still existed whereas in Brazil we were in the days of the synthezisers, which can produce the sounds of a thousand musicians, and also because his twin soul was there, disposed to invest in the project. Jobim and Claus Orgeman worked in close coopera- tion on these records, virtually creating them note by note Tom Jobim ‘The record mixes all these Brazilian flavours in its music and lyrics, and begins to turn “Aguas de Marco” into a kind of hymn of the composer's cre- ative phase, It is the rise of “Tom the Ecologist’, as he has been referrred to by those who fear to ck ify him. From a Tom who, recording in America, has his eyes glued to Brazilian nature which he sincerely loves ‘The album also contains some ambitious orquestral pieces that give a pre- view of a Jobim following in the steps of Villa-Lobos, getting closer and closer to the concert hall: “Tempo do Mar’, the suite from the film sound- track A Casa Assassinada, “Saudade do Brasil”, “Arquitetura de Morar” and “O Homem” To the surprise of everyone who accompanied his steps, Jobim did not pur- sue this path further. After his last record with Claus Orgeman, Terra Brasilis (1980), a double album on which he would catalogue his work up tll then, diverse projects followed with several partners (Edu Lobo, for example), special participations on other artist’s records, the last show with Vinicius and, finally, the unexpected formation of the Nova Banda, with his sons and close friends, as well as his wife, the mother of one of his sons, and the wives of his close friends, to record gems that had nothing to do with any- thing, neither with the old samba-cango, nor with the Bossa Nova, nor with L amba, not with symphonic music. Only with him. This last phase begins with Passarim (1987), in which Tom the Brazilian and ecologist appears not only in poetic themes, but also in scores rich in simplicity (piano, flute, violins, cello) and, once again, uncommited, the female chorus sounding refreshingly new at a time when vocal groups were said to be out. In that same year, in another inventory, Jobim recorded with his family group a double album, a Christmas present: Tom Jobim. It is a reaffirmation of his simple arrangements, of his adventures among the mys- teries of nature, of his faith in human voices, of his conviction that his path had to be traced far from the major trends. That’s how it was, through to his last record Antonio Brasileiro (1994). This formidable ability to keep away from the prevailing tendencies was what made Antonio Carl Brasileiro de Almeida a great and unique artist Tom Jobim D3 1. Valsa Do Porto Das Caixas (com Nelson Riddle ¢ sua Orquestra) - 3.20 - Tom Jobim - 2. Vive Sonhando (com Joao Gilberto e Stan Getz) 3. S6 Tinha De Ser Com Vocé (com Elis Regil = Tom Jobim - 62x51985 (71964 joie Mase - 3.50 - Tom Jobim e Aloysio de Oliveira - 4, Bonita (com Nelson Riddle € sua Orquestra) - 2.09 - Tom Jobim e Gilbert - rss 967 bin msc 5. Surf Board (com Nelson Riddle e sua Orquestra) - 2.25 - Tom Jobim ~ 6756s cn967 jin Muse 6. Triste (com Elis Regina) - 2.38 - Tom Jobim - «sins 7, Wave - 2.50 - Tom Jobim - 65537 (71967 in Mase 8, Retrato Em Preto E Branco (com Elis Regina) - 3.02 4 Joli Muse fom Jobim e Chico Buarque - 61959 VTA Jobin Nase Au 9, Sabi - 3.20 - Tom Jobim e Chico Buarque - 6155574 (7157 jv Mose Ate 10. Chovendo Na Roseira (com Elis Regina) - 3.10 - Tom Jobim - «96 (rw jun tae 11, Pois E (com Elis Regina) - 1.45 - Tom Jobim e Chico Buarque - s12128 0 12. Tide - 3.39 - Tom Jobim - «rie cov jim muse 13. Sue Ann - 3.04 - Tom Jobim - 6y 14. Ana Luiza - 5.25 - 7 m Jobim ~ 61859524 (P)973 Jobim Mos ca 1. Aguas De Marco (com Elis Regina) - 3.29 - Tom Jobim - sos11975 «1974 Jobim Music 2. Crénica Da Casa Assassinada: Trem Para Cordisburgo/Chora Cora¢ao/O Jardim Abandonado/Milagre E de Moraes - 63510 join Misirtong - Tom Jobim - «575i obi aose - Tom Jobim ~ 605585 (1973 fb Msc 3. Matita Peré - 7.17 - Tom Jobim e Paulo Cés: 4. Nuvens Douradas - 3.16 - Tom Jobim - 5. Rancho Das Nuvens - 4.01 - Tom Jobim ~ «> 6. Angela - 3.10 - Tom Jobim - «sss 7. Falando De Amor (com Mit 8. Two Kites - 4.53 - Tom Jobim - «sss 9. Borzeguim (com A Nova Banda) - 4.21 - Tom Jobim - 6317457 957 tin mse 40. Luiza (com A Nova Banda) 11. Tema De Amor De Gabriela (com A Nova Banda) - 7.58 - Tom Jobim - «si-1ss ms" sc ante 42. Passarim (com A Nova Banda) ~ 13. Anos Dourados (com A Nova Banda ¢ Chico Buarque™) - 3.43 - Tom Jobim e Chico hagos - 9.57 - Tom Jobim - «rss jin tui ~ Tom Jobim e Vinicius Pinheiro ~ «3752 P1773 tim Muses P58 Joti Music )* = 2,36 - Tom Jobim - aris - (1979 Jatin Mosc obi Ms 31 - Tom Jobim - 65174111 1957 Jobim Mase 36 - Tom Jobim ~ 317% (947 Jobin Mac Buarque ~ 6317106 (1957 14, Bebel (com A Nova Banda) - 3.09 - Tom Jobim - 63174 cen357 jobin Muse + Fonograma gentitmente cedido pela BMG-ARIOLA * Amita penilmente cedido pela BMG-ARIOLA Tom Jobim Discos/Records * Orfeu da Conceicao - 1956 * Cangio do Amor Demais - 1958 * Chega de Saudade - 1959 * O Amor, o Sorriso € a Flor - 1960 * Brasilia, Sinfonia da Alvorada - 1961 * Antonio Carlos Jobim, The Composer of “Desafinado” - 1963 * Caymmi Visita Tom - 1964 * Getz/Gilberto - 1964 * The Wonderful World of Antonio Carlos Jobim - 1965 * A Certain Mr. Jobim - 1967 * Wave - 1967 * Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim - 1967 * Retrato em Branco € Preto - 1968 * Discomunal - 1968 * Tide - 1970 * Stone Flower - 1970 * Antonio Carlos Jobim - 1973* * Matita Peré - 1973 * Elis & Tom - 197 *Tom Jobim & Billy Blanco - 1975* * Urubu - 1976 * Miticha & Antonio Carlos Jobim - 1977 * Miticha & Tom Jobim - 1979 “Terra Brasilis - 1980 * Antonio Carlos Jobim, Um Homem de Aquarius - 1981* * Edu & Tom - 1981 * A Arte de Tom Jobim - 1983* * O Prestigio de Antonio Carlos Jobim - 1983* * Passarim - 1985 * A Personalidade de Tom Jobim - 1987° *Tom Jobim - 1987 * Antonio Carlos Jobim ¢ Convidados - 1989* *Tom Jobim & Outros - 1992* * Minha Historia - 1993* * Tom & Miticha (série Acervo) - 1993* * Antonio Brasileiro - 1994 * Antonio Carlos Jobim - Arquivo Especial - 1995* * Coletaneas

You might also like