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LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 A TERCEIRIZAGAO ILICITA DE MAO DE OBRA ATRAVES DO DESVIRTUAMENTO DO INSTITUTO DAS COOPERATIVAS DE TRABALHO THE ILLEGAL OUTSOURCING BASED ON THE DISTORTION OF THE LABOR COOPERATIVES INSTITUTE Claudio Leivas* vi is Pereira Menezes” Janaina Soares Schorr? SUMARIO: Introducéio; 1. Cooperativa de trabalhadores e suas caracteristicas; 2. A terceirizagéo de mao de obra; 3. A fraude tributéria e as contribuicdes sociais; 4. Trabalho tempordrio - a terceirizag3o licita da atividade-fim; Consideracdes finais; Referncias das fontes citadas. RESUMO © presente artigo aborda as praticas ilegais adotadas pelas empresas intermediadoras de mao de obra a fim de dissimularem-se em cooperativas de trabalhadores visando 0 ndo pagamento dos diversos tributos e contribuigées sociais. O objetivo deste estudo é realizar uma andlise da natureza juridica das + Pesquisador cientifico do CNPq com Pés-doutorado (Bolsa Capes) na Université Paris- Descartes (Sorbonne, Paris V). Coordenador do GT-Hobbes/ANPOF. Professor Associado I, na Universidade Federal de Pelotas. Possui graduacao em Filosofia pela PUCRS (1989), mestrado em Filosofia pela UFRGS (1999) e doutorado em Filosofia pela UFRGS (2005) com estégio doutoral na Universidade da Sorbonne (Paris 1). Atualmente ministra aulas na GraduacSo em Filosofia e em Programas de Pés-graduacéo da UFPel (Mestrado em Filosofia Moral e politica e Mestrado em Ciéncia Politica). E-mail: clleivas@gmail.com 2 Mestrando em Ciéncia Politica pela Universidade Federal de Pelotas - UFPEL. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria ~ RS. E-mail: viniciusmenezes.ufpel@gmail.com 3 Mestra em Direitos Humanos pela Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul ~ UNIJUE (2016), Professora Substituta do Departamento de Direito da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Professora de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA. Advogada OAB/RS. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa "Direitos Humanos, Relacées Internacionais e Equidade”, registrado no CNPq e certificado pela UNIJUI. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Propriedade Intelectual na Contemporaneidade”, registrado no CNPq e certificado pela UFSM, E- mail: janinhaschorr@gmail.com 485 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 cooperativas em relagdo as demais formas de intermediagdo de mao de obra e como tais formas de alocagéo de forca de trabalho séo utilizadas para fraudar direitos trabalhistas e fiscais. No desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método de abordagem dedutiva e como métodos de procedimento foram utilizados 0 histérico, 0 comparativo e o monografico. Este estudo conclui que empresas de terceirizacio tém se dissimulado em cooperativas com intuito fraudulento, causando impacto social e econémico na classe trabalhadora. Palavras-Chave: Cooperativas; Terceirizacao; Mao de obra; Fraude. ABSTRACT This article discusses illegal practices adopted by companies that mediate employment activities dissimulating themselves into workers cooperatives considering not paying the various taxes and social contributions. The purpose of this study is to analyze the legal nature of cooperatives comparing them with other forms of labor intermediation and how such forms are used to defraud tax and labor rights. To develop this work, the main methodology used was deductive methodology, and as procedure methodologies we use the historical, comparative and monographic methodologies. This study concludes that outsourcing companies have been fraudulently pretended to be cooperatives and as consequence have been causing social and economic impact on the working class. Key-words: Cooperatives; Outsourcing; Labor; Fraud. INTRODUGAO, As cooperativas de trabalhadores, no modelo como conhecemos hoje, surgiram na Franga, durante a Revoluc&o Industrial, no inicio do Século XIX. Homens e mulheres precisaram unir-se para resistir ao desemprego e a miséria que assolava a Franga naqueles dias. Ainda no Século XIX, mais precisamente em 1844, na cidade de Rochdale, na Inglaterra, urgiu o fenémeno do cooperativismo, quando um grupo de trabalhadores desempregados, instalando-se em um armazém, criou a “Sociedade dos Probos ¢ pioneiros de Rochdale”. Eles dispunham de um capital de 28 libras, sendo que uma libra corresponderia a participagio de um cooperado. Contavam com pequenos estoques de farinha, acUcar, gordura e outros géneros para dar inicio as suas atividades. O pequeno armazém 456 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperatives de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto © Politica, Programa de Pés-Graduacio Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direltoepolitica = ISSN 1980-7791 prosperou e com o passar do tempo tornou-se conhecido como "Armazém de Rochdale", contando, dez anos mais tarde, com mais de 1.400 cooperados. Essa iniciativa idealizou o principio de cooperagao mitttua, balizado pela igualdade de direitos e obrigagées, que até hoje norteia o ideal do cooperativismo (Carelli, 2002), No Brasil, a expansdo do movimento cooperativista se deve @ promulgagao do decreto n° 22.239, em 1932, ganhando forga através dos incentivos dados pelo governo Gettilio Vargas as cooperativas de soja e trigo, na década de 1940, tendo seu dpice nas décadas de 1960 e 1970, momento em que a cotagao da soja era alta no mercado internacional - e que 0 produto era conhecido como “ouro verde”. Por sua vez, 0 conceito de terceirizagéo de mao de obra surgiu no inicio do Século XX, quando o engenheiro norte americano Frederick Taylor, visando superar as dificuldades da época, criou, a partir de sua larga experiéncia na drea fabril, a chamada “geréncia cientifica da producdo” ou “administragdo cientifica do trabalho”. Sua teoria consistia, basicamente, na reorganizagio da linha de produc&o, mediante a decomposig&0 dos diversos processos de trabalho em atividades complementares, resultando na fragmentagao das tarefas segundo padrées rigidos baseados nos vetores tempo e movimento, Dessa forma, em sua teoria, cada trabalhador seria responsavel por uma pequena parcela da produgdo, resultando assim, na especializagéo de cada operdrio. Isto gerou a quebra de um paradigma no meio fabril, no qual cada trabalhador tornar-se-ia, ent&o, um pequeno érgdo de um grande sistema (Carelli, 2003). Todavia, por volta dos anos 1970, tal regime de acumulagdo de capital entrou em declinio, dando lugar a uma nova forma de organizagéo da producdo, conhecida por “especializago flexivel” ou “toyotismo”, fenémeno que se relaciona diretamente com o nascimento da terceirizagdo moderna da mao de obra. A partir desse novo modelo adotou-se a postura de concentracdo das atividades da empresa em sua atividade-fim, ou “core business”, deixando atividades secundarias a cargo de outras empresas parceiras, criando uma rede organizacional. Destarte, verifica-se que o antigo modelo organizacional, que 4s7 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 concentrava todas as etapas da produgdo, tornou-se mais conciso, reduzindo sua abrangéncia e ocupando-se somente com as atividades diretas da empresa, concentrada no “core business”, e atrelado a uma rede de empresas fornecedoras de mao de obra, alheias a administragéo da empresa prin all, porém dela dependentes (Coriat, 1994). E precisamente nesse contexto que se aperfeigoa o fenémeno da terceirizacaéo de mao de obra, através da contratacio de uma empresa que presta servicos secundarios ao objetivo da empresa principal, visando desvencilhar-se de atividades menos interessantes & administracao da producdo. Todavia, o referido instituto tem sofrido distorcées com o passar do tempo e atualmente tem sido artificio para fraudes nos Ambitos previdencidrio e tributdrio, bem como para exploracéio de mao de obra de baixa especializagéo com salérios irrisérios. Tal desvirtuamento causa, além de nefastas consequéncias econémicas junto ao sistema previdenciério, uma falsa ideia de acesso répido ao emprego, pois, pela falta de acesso aos direitos trabalhistas, os empregados tornam-se mao de obra de facil descarte. E, neste sentido, busca o presente trabalho refletir a respeito das empresas de trabalho interposto dissimuladas em cooperativas de trabalhadores que possuem como finalidade a fraude a direitos sociais, Partindo do questionamento acerca de quais artificios as empresas de trabalho interposto se utilizam para simular a condig&o de cooperativas de trabalhadores e quais as consequéncias dessa pratica no mbito do Direito Previdencidrio, Trabalhista e Tributario, para, logo apés, questionar ainda quais medidas podem ser adotadas pelo Estado para dificultar ou impedir tais praticas. Para tanto, no desenvolvimento deste trabalho aplicou-se 0 método do estudo comparativo, baseado em dados empiricos, reunidos em sites especializados e jurisprudéncia consolidada de tribunais superiores. Partiu-se de conceitos esculpidos em obras pertinentes ao tema, bem como da legislacao correlata para chegar-se a uma conclusdo plausivel. 488 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 ‘A questo se levanta com base na considerével parcela de relacdes trabalhistas envolvidas em nossa sociedade, tendo em vista a crescente demanda por mao de obra de facil desvinculagao e o descrédito atribuido ao institute das cooperativas. Para que melhor possamos compreender os fenémenos das Cooperativas de Trabalhadores e das empresas de terceirizagio de mao de obra, faz-se necessdrio estudar a origem e a evolugao histérica dos dois institutes, analisando © contexto histérico-social no qual surgiram, atividade que realizaremos a seguir. © trabalho conta com cinco segées. A primeira secdo, denominada a “cooperativa de trabalhadores e suas caracteristicas", seguida por outros quatro tépicos, sendo eles: “a terceirizagio de mao de obra", “a fraude tributdria e as contribuigdes sociais”, “direitos trabalhistas afetados pela fraude” e, por fim “lei do trabalho temporério ~ a terceirizagao licita da atividade-fim”. 1. COOPERATIVA DE TRABALHADORES E SUAS CARACTERISTICAS Impende destacar que a cooperativa de trabalhadores se traduz em instituicéo sem intuito comercial, com o objetivo de proporcionar acesso ao mercado de trabalho através do esforco conjunto de seus colaboradores, que exerceréo sua atividade laboral na forma de trabalhadores auténomos. A esse respeito, afirma Martins: Cooperativa é uma forma de unido de esforcos coordenados para a consecugao de determinado fim. [...] Os membros da cooperativa néo tém subordinacio entre si, mas vivem num regime de colaboragéo. Nota-se que o objetivo da cooperativa é 0 exercicio de uma atividade econémica, sem natureza lucrativa (2000, p. 84-87), No Brasil, existem diversos ramos de cooperativas, dentre elas as agricolas — pioneiras na implantagdo do sistema de cooperagio -, as comerciais, as cooperativas de crédito - atualmente em ascens&o devido & economia de mercado ~ e as cooperativas de mao de obra, alvo deste estudo. De acordo com dados apurados no sitio eletrénico da Organizagdo das Cooperativas Brasileiras (OCB), verifica-se que apés o advento da Constituicgdo Federal de 1988 o numero de cooperativas de trabalhadores quadruplicou. Pode-se observar que os efeitos 459 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 sociais da chamada “Constituigo Cidad&” foram determinantes para o desenvolvimento dessa modalidade de organizagio laboral. Ainda sob a égide da Nova Carta, foi acrescentado 4 Consolidacdo das Leis Trabalhistas (CLT), através da edigdo da Lei n° 8.949/94, 0 pardgrafo Unico ao artigo 442, que estabelece a inexisténcia de vinculo empregaticio entre a cooperativa e seus associados, ou entre estes e os tomadores de servico. O novo dispositive, a partir de seu ingresso no mundo juridico, recebeu a dubia interpretaco de que bastaria a criagdo de uma associagao de pessoas sem fins lucrativos, denominada cooperativa de trabalho, para que, qualquer que fosse o modo de funcionamento, estar-se-ia livre dos encargos oriundos da relagio trabalhista. Comega, entdo, a ser utilizado 0 termo “cooperativismo” como mera rotulagdo, visando apenas a tomada de mao de obra sem encargos a custo irrisorio. Depreende-se, dessa forma, que esse abrupto aumento no niimero de cooperativas deveu-se no & conscientizagao acerca dos seus beneficios, ou & promogao da fungio social do trabalho, mas sim & opciio pela utilizagdo do instituto visando a captag3o de mao de obra a custo reduzido. Os dados numéricos, obtidos através de pesquisa junto & OCB corroboram essa afirmativa, visto que as cooperativas de trabalhadores superaram, e muito, em nlimero, os outros modelos de instituigées cooperativadas, tals como cooperativas de consumo e cooperativas de producéo, ambas com longa tradigéo em nossa sociedade. Com base no grafico a seguir podemos visualizar a evolugéo das cooperativas de trabalhadores em relag&o aos demais setores cooperativados em um perfodo de 20 anos: 460 LEIVAS, Claudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 ANALISE DO CRESCIMENTO DAS COOPERATIVAS - 1990 A 2010 1800 1600 1400 1200 I. i. dd= OFA f TF | Fonte: OCB - Organiza¢do das Cooperativas Bra: ras httpi//www.brasilcooperativo.coup.br De acordo com dados apurados pela Secretaria Nacional de Economia Solidaria (SENAES), érg&o ligado ao Ministério do Trabalho, ocorreu um aumento de quase 100% na quantidade de cooperativas no decénio 1990-2000, 0 que possibilitou um ntimero de 221 (duzentos e vinte e um) mil postos de trabalhos ocupados em cardter provisério, somando-se associados e empregados da entidade. Convém salientar que a natureza juridica das Cooperativas de Trabalho é a de uma associacdo civil sem fim lucrativo, portanto, n&o sujeita a faléncia, tampouco submetida ao regramento tributdrio ou previdencidrio das empresas de prestacdo de servicos, conforme se depreende da leitura do artigo 4° da Lei 5.764/71%, norma que regulava o instituto até o ano de 2012. 4 Art, 49 As cooperativas séo sociedades de pessoas, com forma e natureza juridica préprias, de natureza civil, ndo sujeltas a faléncia, constituidas para prestar servigos aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes caracteristicas: 1 adesSo voluntéria, com nimero ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestago de servigos; IT variabitidade do capital social representado por quotas-parte: 461 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduagéo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www-univali.br/direitoepolitica ~ ISSN 1980-7791 Tal definigdo mostrava-se bastante inéqua, 0 que causou, durante longo periodo de tempo, uma grande lacuna juridica. A questo sé veio a ser pacificada com a edigao da Lei 12.690/12. 0 advento do referido diploma trouxe certa melhoria na regulamentag&o do sistema cooperativista. Dois artigos do novo dispositivo destacam-se por sua importancia, dentre eles o artigo 2°%, por finalmente caracterizar 0 instituto da cooperativa de trabalho, principalmente no que se refere a adogao do critério teleolégico, mais adequada a situacdo econdmica e social contemporanea. Pode-se observar com certa facilidade que a constancia no crescimento do numero de cooperativas se devia & sua regulamentagao deficiente. Através do relatério anual da OCB referente ao ano de 2012, no qual ja vigia a Lei 12.690, verifica-se uma queda abrupta no niimero de cooperativas: Tabela 1: Numero de cooperativas existentes adits moe eT seowcice 17 aa cm ists wc 5 re ee ee ee ee ee) oo a oom om ss &® om mw mw ew mw om eto “6 Bp me mom mw me mw wm wom os a lad a a eT Fonte: OCB - Relatério anual /2012 III - limitaggo do numero de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais. 5 art, 2° Considera-se Cooperativa de Trabalho a sociedade constituida por trabalhadores para o exercicio de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia autogestao para obterem melhor qualificacéo, renda, situacao socioeconémica e condicées gerais de trabalho, 462 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 Verifica-se, com base nos dados, que apés a edic&o da referida lei houve consideravel decréscimo na quantidade de cooperativas, contrariamente ao continuo aumento anteriormente constatado. Isto significa que o dispositivo legal contribuiu para a diminuigo de grande ntimero de entidades que se valiam da lacuna juridica ento existent A cooperativa é, em primeira andlise, uma entidade com cunho social®, pois oportuniza 0 acesso ao mercado de trabalho a pessoas com pouca ou nenhuma qualificagdo. E imprescindivel, para o perfeito entendimento do instituto, considerar a relevancia de sua fungo social. Em que pese o fato de alguns autores, como Carelli, militarem pela erradicagéo das cooperativas, tornam-se necessdrias ponderacdes, pois de acordo com os dados supracitados 0 cooperativismo abarca um consideravel percentual da mao de obra disponivel no pais. Na sua visdo: © cooperativismo intermediador de mao de obra no gera um sé emprego. Ele simplesmente ocupa os postos de ‘Art. 3° A Cooperativa de Trabalho rege-se pelos seguintes principios e valores: = adesdo voluntéria e livre; IL - gest&o democratica; IIT - participagao econémica dos membros; 1V - autonomia e independéncia; \V - educacdo, formacgo e informacio; VI - intercooperacio; VII - interesse pela comunidade; VIII - preservacdo dos direitos socials, do valor social do trabalho e da livre iniciativa; IX - no precarizagao do trabalho; X - respeito as decisdes de asssembleia, observado o disposto nesta Lei; XI - participacao na gestdo em todos os niveis de decisdo de acordo com o previsto em lei e no Estatuto Social 463 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 trabalho jé existentes, precarizando-os, esvaziando-os de seu contetido social e beneficiando somente os empregadores tomadores dessa mao de obra barata. Esse falso cooperativismo esté denegrindo a imagem do movimento, que de alternative ao liberal, passa a se submeter 4 manipulagdo conservadora da onda neoliberal, colocando os trabalhadores inteiramente & disposicio e utilizagaio devastadora pelos detentores de capital (CARELLI, 2003, p.9). Neste sentido, a intermediagao de mao de obra por cooperativas seria um contrassenso, independentemente do fato dessa mao de obra ser empregada na atividade-meio ou atividade-fim, pois trata-se efetivamente de mera subcontratagio de postos de trabalho, em virtude de que os trabalhadores nao terdo qualquer direito trabalhista ou previdenciério. Porém, cabe ressaltar a grande parcela do mercado atendida pelas cooperativas de trabalhadores, bem com o expressivo ntimero de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho gracas a existéncia do referido instituto (221 mil trabalhadores até dezembro de 2010), © trabalho cooperado é solidario e democratic, uma alternativa vidvel, desde que mantidos os principios do cooperativismo para gerar, manter e recuperar postos de trabalho. Devido a extensa quantidade de privilégios, principalmente no ambito tributério, a cooperativa de intermediagéo de mao de obra tem sido utilizada para a sonegago de diversos tributos e contribuigdes socials, conforme ser analisado a seguir. Impende destacar que 0s direitos negligenciados so constitucionalmente’ assegurados ao trabalhador, conquistados a custa de muitos anos de enfrentamentos, por vezes nada pacificos, e, somente levados a 7 Art. 7° Sao direitos dos trabalhadores urbanos ¢ rurais, além de outros que visem 8 melhoria de sua condicao social: I - relagio de emprego protegida contra despedida arbitréria ou sem justa ‘causa, nos termos de lei complementar, que prevera indenizacéo compensatéria, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntario; III - fundo de garantia do tempo de servico; IV - salario minimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender 8s suas necessidades vitais basicas e s de sua familia com moradia, alimentacdo, educacao, satide, lazer, vestudrio, higiene, transporte e previdéncia social, com reajustes periédicos que Ihe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculagdo para qualquer fim; V - piso salarial proporcional & extensao e 4 complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salério, salvo 0 disposto em convencio ou acordo coletive; VII - garantia de salario, nunca inferior ao minimo, para os que percebem remuneracdo variavel; VIII - décimo terceiro saldrio com base na remuneracao integral ou no valor da aposentadoria; IX - remuneragdo do trabalho noturno superior & do diurno. 464 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 efeito por meio do Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, tradicionalmente chamado Consolidagao das Leis do Trabalho. E importante ressaltar que 0 modelo cooperativista luta herculeamente para se sustentar na sociedade capitalista e neoliberal em que vivemos. Certamente, a maior dificuldade que esse sistema encontra é afirmar-se frente 4 demanda econdmica imposta pelo mercado. A ideia de cooperacio vai de encontro a concorréncia empresarial e & politica salarial ditada pelos altos tributos e contribuigdes sociais que assolam os empregadores. Talvez pela falta de uma cultura social, ou ainda pelo predominio da cultura capitalista, a cooperativa encontre tanta resisténcia e seja utilizada como subterfigio para a fraude a tributos e direitos laborais. Um dos principais indicios para a determinacio de fraude ao sistema cooperativista a existéncia de subordinagdo juridica na relacao trabalhista, porém existem outros aspectos que séo apontados como determinantes para a ocorréncia da terceirizagao legal. Pode-se verificar a ocorréncia de uma intermediago irregular de mao de obra mediante cooperativa ou de uma relagio empregaticia dissimulada através da presenga dos seguintes elementos (NASCIMENTO, 2006): a) Gesto/organizago do trabalho pela contratante; b) Inexisténcia de técnica especifica, ou falta de especialidade da empresa contratada (“know how"); c) Remuneragao do contrato baseada em ntimero de trabalhadores; d) Prestagdo de servigos pelos mesmos trabalhadores permanentemente indicando pessoalidade; e) Realizagéo da atividade-fim da tomadora pelos trabalhadores da pretensa cooperativa, Destarte, se evidenciadas tais circunstancias, torna-se inegavel a subordinag3o juridica caracterizando-se assim, vinculo empregaticio direto entre tomador de 465 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 servico e trabalhadores, Tal relacdo nao é outra coisa sendo uma contratagao de mao de obra por meio de terceirizagao ilegal. Se constatada tal irregularidade, é cabivel ago trabalhista de iniciativa do trabalhador, do seu sindicato de catego nte dentincia promovida pelo Ministério Publico do Trabalho. 1, OU Mesmo ex oficio, me Convém destacar, ainda, que a fraude nas relacées trabalhistas caracteriza crime federal contra a organizacao do trabalho, prevista no Cédigo Penal Brasileiro’, de ag&o penal publica incondicionada®, a ser exercida de oficio pelo Ministério Pablico Federal. Em que pese a quest&o penal, convém avaliar a natureza do instituto da terceirizagao licita da atividade-fim da empresa, 0 qual somente se verifica em casos de substituigdo proviséria de mo de obra por motives emergenciais. Tal ocorréncia é regulamentada pela Lei 6.019/74, que serd abordada em sessao propria deste trabalho. 2. A TERCEIRIZAGAO DE MAO DE OBRA A terceirizagio de mao de obra é um fenémeno que apresenta aspectos juridicos contraditérios, 0 que oportuniza seu uso indiscriminado. Consiste em um procedimento de gestéo pelo qual uma empresa confia a outra tarefas que se desenvolvem em seu interior e so imprescindiveis para o desenvolvimento de sua vida vegetativa. Autores divergem acerca da natureza juridica dessa forma de alocagao de mao de obra. Martins, em sua obra “A Terceirizacao e 0 Direito do Trabalho” chega a contradizer-se em relacio a possibilidade do uso da terceirizagéo quanto a atividade-fim da empresa contratante, Em suas palavras: Consiste a terceirizag3o na possibilidade de contratar terceiro para a realizacao de atividades que nao constituem © objeto principal da empresa. Essa contratagdo pode ® Art, 203 - Frustrar, mediante fraude ou violencia, direito assegurado pela legislacdo do trabalho: Pena - deteng3o de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente & violéncia. ° Trata-se de uma ago penal na qual o Ministério Piiblico Federal é 0 titular imediato, podendo interpé-la sem a necessidade de qualquer representacao formal. 466 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 envolver tanto a produgo de bens como servigos, como ocorre na necessidade de contratagéo de servicos de limpeza, de vigilancia ou até de servigos temporarios (2000, p. 23). Em contrapartida, no mesmo capitulo da obra mencionada, apés observar que, dependendo da hipétese em que a terceirizagdo for utilizada, poder-se-é observar a mescla de diversos tipos de contratos, influindo na forma como esta iré se delinear, o autor adverte que é admissivel a atuacio de empresa terceirizada de maneira subsididria, bem como de modo especifico na atividade- fim da empresa tomadora. Assim, de forma contraditéria, aduz: A terceirizagéo poderia ser dividida em estagios: Inicial, em que a empresa repassa a terceiros atividades que nao sao preponderantes ou necessarias, como restaurantes, limpeza e conservagdo, vigilancia, transporte, assist@ncia contabil e juridica, etc.; Intermedidrio, quando as atividades terceirizadas séo mais ligadas indiretamente @ atividade principal da empresa, como manutengao de maquinas, usinagem de pecas; Avangado: quando sao terceirizadas atividades diretamente ligadas & atividade da empresa, como de gestdo de fornecedores, de fornecimento de produtos, etc. Esse ultimo estagio seria a terceirizago na atividade-fim da empresa (MARTINS, 2000, p. 25). Embora concordemos que 0 objetivo do autor seja elucidar todas as possiveis ocorréncias da utilizagéo de mao de obra terceirizada no quadro funcional de uma empresa, fica evidente que a utilizagdo da forga de trabalho na atividade- fim da mesma vai de encontro ao escopo do instituto da intermediaco de mao de obra a titulo precario. Conforme abordado, tal forma de agregagdo de mao de obra tem por Unica finalidade suprir a necessidade da empresa tomadora em atividades secundérias de apoio, para que a mesma possa priorizar sua produg&o e aperfeigoamento técnico, visando uma otimizagao nos meios de produgdo. Os principais indicios que demonstram a utilizacao irregular da terceirizagao so 0 uso da mao de obra 487 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 na atividade-fim da empresa, bem como 0 aproveitamento da forca de trabalho com &nimo regular e definitive sem a adequada contraprestagdo no Ambito trabalhista, previdencidrio e tributdrio, fatos que por si sé, caracterizam o desvirtuamento do instituto. Amauri Mascaro Nascimento, jurista que militou por anos junto ao Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo, trata o tema da terceirizagdo de mao de obra sob 0 nome de “interposigéo de empresas”. Na obra “Curso de Direito do Trabalho”, em seu item 209, o autor descreve a terceirizagéo como uma forma de subcontratacéo de empresas para o desenvolvimento de atividades nao relacionadas com a atividade-fim da empresa, Mesmo dedicando poucas linhas anélise da natureza juridica do instituto, ressalta veementemente que seu desvirtuamento acarreta diretamente a declaracao de vinculo empregaticio com a empresa tomadora dos servicos. Explica o professor: Todavia, o uso dessas formas contratuais com a finalidade de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicagao da legislag3o trabalhista é condenado pelo direito do trabalho, na tutela do trabalhador, dai a proibigo, entre a empresa tomadora de servicos e a fornecedora, da interposicéo desta ultima em determinadas circunst&ncias que, uma vez verificadas, podem acarretar a declaracao judicial do vinculo de emprego diretamente com aquela ou a responsabilidade solidaria entre a contratante e a contratada pelos débitos trabalhistas do pessoal supostamente desta (NASCIMENTO, 2006, p. 676), © autor ainda esclarece acerca do conceito de subordinagao e descreve como deve se desenvolver a interposigéo de mao de obra de forma licita: Subordinagdo é uma situacéo de fato na qual o poder de direcdo é exercitado sobre 0 trabalhador. O detentor desse poder é subordinante. O empregado é subordinado. Logo, nao ha divida de que a empresa contratada deve ter atividade prépria, pessoal e estabelecimento proprios, e exercer a sua atividade sem exclusividade para com a contratante (NASCIMENTO, 2006, p. 677). 468 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 Podemos delinear, dessa forma, que a natureza juridica da terceirizacéo de mao de obra por meio de empresa interposta é um processo de repasse a outra empresa especializada de atividades no relacionadas com o objeto principal da empresa contratante. Trata-se de um processo de gestdo empresarial consistente na transferéncia para terceiros de servigos secundérios que seriam originariamente executados por empregados da prépria empresa. Convém ressaltar que, contrariamente a organizacao denominada cooperativa de mao de obra, o sistema de terceirizagio carecia de regulamentag&o especifica. Com excego da Lei 6.019/74, que regulamenta o contrato de trabalho temporario, Unica pratica licita de terceirizagdo da atividade-fim, a intermediacdo de mao de obra via empresas especializadas foi, por muito tempo, atividade praticada & margem da lei. Neste sentido, a fim de atender aos apelos de parte dos segmentos da sociedade civil, no dia 31 de margo de 2017, foi sancionada a nova Lei da Terceirizagéo (Lei 13.429/2017), pelo presidente Michel Temer. O novel instituto trouxe uma pléiade de regulamentagdes para o emprego de mao de obra por meio de empresas de intermediag3o, todavia, em virtude de seu impacto controverso, encontra-se sob discussdo no Supremo Tribunal Federal por meio de diversas Ages Diretas de Inconstitucionalidade, 3. A FRAUDE TRIBUTARIA E AS CONTRIBUICOES SOCIAIS © Direito do Trabalho tem por objetivo a tutela dos interesses da classe trabalhadora e, como tal, ocupa-se de todas as formas de como o trabalho é prestado. Inobstante o fato da corrente neoliberal apregoar que a excessiva proteco estatal ao trabalhador nao o permite evoluir, obstando seu crescimento e 0 da economia de mercado de uma forma geral, entendemos que é de suma importancia a participag3o efetiva da Justica Laboral na manutengo da ordem das relages de trabalho. Na situago atual, em que vislumbramos uma economia baseada na concorréncia global, calcada na reduco de custo de insumos, matéria prima e funcionarios, a lei da oferta e da procura é manipulada a niveis inimagindveis, sujeitando o 469 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 trabalhador de baixa renda e pouco preparo técnico e, por consequéncia, a submeter-se a condigées excessivamente onerosas. O Direito do Trabalho, através da interpretagio da lei acerca das demandas trazidas a seu conhecimento, tem o papel de coibir tais abusos e frear os impetos economicistas, bem como impedir as fraudes em relag3o & organizagdo do trabalho. Em se tratando de fraude fiscal e sonegagdo, podemos elencar uma série de tributos e contribuigées sociais elididos com a pratica de terceirizagdo mascarada PIS, COFINS, contribuig&o social sobre o lucro liquide (CSLL ou CSSL), Imposto de Renda sobre pela via da formagéo de cooperativa de trabalho, dentre ele Pessoa Juridica, contribuigéo ao INSS e ao FGTS. Nas cooperativas de mao de obra, com o advento da Lei Complementar 84/96*°, passou a incidir o percentual de 15% (quinze por cento) sobre a retirada de cada cooperante. Se os mesmos forem auténomos regularmente inscritos na Previdéncia Social a contribuigéo seré de 20% (vinte por cento) sobre a remuneragao de cada associado. Face todo 0 exposto, a cooperativa de trabalhadores possui uma série de vantagens fiscais e previdencidrias que a tornam um atrativo para fraudadores. A iseng&o de determinados tributos, aliada as faixas de contribuigio social reduzidas tém sido responsdveis pelo aumento do numero de cooperativas aparentes, ocasionando a sonegacéo de tributos e, principalmente o descumprimento das obrigagées previdencidrias por parte dos tomadores de servico, fato que, a longo prazo, seré sentido pelos trabalhadores e suas familias. 19 art 19 Para a manutengdo da Seguridade Social, ficam instituidas as seguintes contribuicées sociais: 1- a cargo das empresas e pessoas juridicas, inclusive cooperativas, no valor de quinze por cento do total das remuneracées ou retribuicées por elas pagas ou creditadas no decorrer do més, pelos servicos que Ihes prestem, sem vinculo empregaticio, os segurados empresérios, trabalhadores autdnomos, avulsos e demais pessoas fisicas; I= a cargo das cooperativas de trabalho, no valor de quinze por cento do total das importéncias pagas, distribuidas ou creditadas a seus cooperados, a titulo de remuneracéo ou retribuicdo pelos servicos que prestem a pessoas juridicas por intermédio delas. 470 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 4, DIREITOS TRABALHISTAS AFETADOS PELA FRAUDE Em que pese 0 fato de os direitos trabalhistas e previdencidrios serem direitos sociais, matéria de ordem publica, os empregadores tém optado pela contratagdo de mio de obra por meio de empresas de terceirizagao irregulares, leia-se “aliciadoras de mao de obra”, dissimuladas sob a forma de cooperativas de trabalhadores com o intuito de burlar a fiscalizacao trabalhista exercida pelo Ministério do Trabalho, concomitantemente com 0 Ministério Publico do Trabalho. Com essa pratica ilicita séo sonegados diversos direitos trabalhistas, tributos e contribuigées previdencidrias, reduzindo sobremaneira os custos na contratacio de mao de obra. Os empregados se relacionam com o tomador de servigos como se fossem trabalhadores auténomos, ficando totalmente desassistidos tanto pela empresa contratante quanto pela falsa cooperativa, que de fato opera auferindo lucro sobre 0 trabalho que intermedeia. Em regra, quando houver contratacao irregular de trabalhadores por meio de cooperativa de mao de obra simulada, os seguintes direitos trabalhistas serdo negligenciados a) Reconhecimento de vinculo trabalhista, que dentre outros direitos o qualifica a pleitear diversas pretensdes na érbita civil e penal; b) Assinatura da Carteira de Trabalho, formalidade que enseja contagem de tempo de servico para fins de aposentadoria; c) Recolhimento do FGTS referente ao periodo trabalhado; d) Multa de 40% (quarenta por cento) sobre o total devido ao FGTS, quando houver dispensa sem justa causa; e) Multa por atraso do pagamento de inde pardgrafos 6° e 8° da CLT'?; ‘ago legal prevista no artigo 477, 2 Capitulo II - Dos Direitos Sociais. Art. 6° Sao direitos sociais a educacao, a saiide, 0 trabalho, o lazer, a seguranga, a previdéncia social, a protego & maternidade e & infancia, a assisténcia aos desamparados, na forma desta Constituigao. 2 Art 477 [...]§ 6° - © pagamento das parcelas constantes do instrumento de resciséo ou recibo de quitacdo deveré ser efetuado nos seguintes prazos: a)até o primeiro dia util imediato 20 an LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 f) Adicionais natalinos'? do periodo do trabalho sem contrato, conforme prevé a Constituigao Federal; g) Férias integrais e proporcionais do period, bem como seus adicionais**; h) Demais beneficios obrigatérios de acordo com a categoria do trabalhador, previstos pela CLT, ou em acordos e convengées coletivas e outros beneficios que a empresa conceda a seus empregados regulares (assisténcia médica, refeico, etc.). Deste modo, verifica-se que a intermediagao ilicita de mao de obra por meio de cooperativas de trabalho falsas ocasionam a supressao dos diversos direitos sociais supracitados. O principal desses direitos é 0 nao reconhecimento do vinculo empregaticio, fato-gerador de todos os demais direitos. A nefasta consequéncia disso é a sonegag&o de contribuigdes e a perda do direito da assisténcia social estatal por parte do trabalhador. 4, TRABALHO TEMPORARIO - A TERCEIRIZACAO LiCITA DA ATIVIDADE- FIM Ocorrem casos em que os trabalhadores contratados por intermédio da cooperativa simulada por vezes exercem fung6es relacionadas a atividade-fim da empresa tomadora, e como deve necessariamente haver um rodizio desses empregados em virtude do artigo 10 da Lei 6.019/74"*, configura-se dessa término do contrato; ou b)até o décimo dia, contado da data da notificacdo da demissao, quando da auséncia do aviso prévio, indenizagéio do mesmo ou dispensa de seu cumprimento [...]. § 8° - A inobservancia do disposto no § 6° deste artigo sujeitaré o infrator 4 multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado, em valor equivalente ao seu saldrio, devidamente corrigido pelo indice de variagéo do BTN, salvo quando, ‘comprovadamente, o trabalhador der causa 4 mora. 33 Art 7° So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visern 4 melhoria de sua condi¢do social: [...] VIII - décimo terceiro saldrio com base na remuneracao integral ou no valor da aposentadoria; ¥ Art 7° Sao direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem & melhoria de sua condigo social: [...] XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, lum tergo a mais do que o salério normal; 15 art, 10 - O contrato entre a empresa de trabalho temporario e a empresa tomadora ou cliente, com relacio a um mesmo empregado, ndo poderd exceder de trés meses, salvo 472 LEIVAS, Cldudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizacdo ilicita de mao de obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direito e Politica, Programa de Pés-Graduacdo Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALI, Itajai, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 forma, verdadeiro contrato de trabalho temporario de fato, fazendo jus a um conjunto de direitos trabalhistas elencados no artigo 12 do aludido diploma legal"®. Impende destacar que os tomadores de mao de obra irregular subvertem a terceirizagdo através da contratag3o de mao de obra temporéria, regulada pela lei 6.019/74. Tais processos so totalmente distintos. Como ja descrito, o referido diploma legal permite a criagéo de empresas locadoras de mao de obra para fins especificos, como picos de produgéo e por periodo predeterminado, limitado a noventa dias. Tendo em vista que o contrato de trabalho temporario & a Unica forma de terceirizagéo que admite a utilizagdo da mao de obra interposta autorizago conferida pelo érgao local do Ministério do Trabalho e Previdéncia Social, segundo instrucdes a serem baixadas pelo Departamento Nacional de Mao-de-Obra. % act, 12 - Ficam assegurados ao trabalhador tempordrio os seguintes direitos: a) remunerago equivalente @ percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados 4 base hordria, garantida, em qualquer hipdtese, a percepcdo do saldrio minimo regional; b) jornada de oito horas, remuneradas as horas extraordinarias nao excedentes de duas, com acréscimo de 20% (vinte por cento); ©) férias proporcionais, nos termos do artigo 25 da Lei n° 5.107, de 13 de setembro de 1966; 4d) repouso semanal remunerado; ) adicional por trabalho noturno; f) indenizacSo por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato, correspondente a 1/12 (um doze avos) do pagamento recebido; 9) seguro contra acidente do trabalho; h) protecdo previdencidria nos termos do disposto na Lei Orgénica da Previdéncia Social, com as alteracées introduzidas pela Lei n° 5.890, de 8 de junho de 1973 (art. 5°, item III, letra "c* do Decreto n° 72.771, de 6 de setembro de 1973). § 1° - Registrar-se-4 na Carteira de Trabalho e Previdéncia Social do trabalhador sua condi¢So de temporario. § 2° - A empresa tomadora ou cliente é obrigada a comunicar a empresa de trabalho temporario a ocorréncia de todo acidente cuja vitima seja um assalariado posto a sua disposico, considerando-se local de trabalho, para efeito da legislacao especifica, tanto aquele onde se efetua ‘a prestaco do trabalho, quanto a sede da empresa de trabalho temporario. 473 LEIVAS, Cléudio; MENEZES, Vinicius Pereira; SCHORR, Janaina Soares. A terceirizagio ilicita de mao dé obra através do desvirtuamento do Instituto das Cooperativas de Trabalho. Revista Eletrénica Direlto e Politica, Programa de Pés-Graduacao Stricto Sensu em Ciéncia Juridica da UNIVALL, Itajaf, v.12, n.1, 1° quadrimestre de 2017. Disponivel em: www.univali.br/direitoepolitica = ISSN 1980-7791 na atividade-fim da empresa tomadora, observa-se que muitos empresérios se utilizam de cooperativas de trabalho para realizar contratacées irregulares, desconfigurando tal instituto. Ao empregar mao de obra por meio de cooperativa de trabalhadores na atividade-fim da empresa, realiza-se um contrato hibrido, onde se retinem caracteristicas de institutos totalmente diversos. A terceirizagéo se da sob 0 nome de cooperativa, mas desenvolve-se como contrato de trabalho temporério por prazo indeterminado. Neste caso, como trabalhador tempordrio, ha inUmeras contribuigdes que sdo sonegadas através do desvirtuamento do sistema cooperativista O trabalhador tempordrio, nos termos do art. 12 da Lei 6.019/1974, faz jus aos seguintes direitos: remuneracéo equivalente percebida pelos empregados da mesma categoria da empresa tomadora de servicos, jornada de oito horas diérias e 44 horas semanais, remuneragSo das horas suplementares com um adicional de no minimo 50%, férias proporcionais acrescidas do tergo constitucional, repouso semanal remunerado, adicional por trabalho noturno de 20%, indenizacao por dispensa sem justa causa ou término normal do contrato correspondente a 1/12 avos do pagamento recebido, seguro contra acidente de trabalho, protecao previdenciaria. Entendemos que o trabalhador temporério, apés a promulgacdo da CF/1988, a qual assegurou o pagamento do 130 saldrio a todos os trabalhadores urbanos e rurais, possui © direito ao recebimento da gratificagéo natalina, visto também ser um trabalhador urbano amparado pelo contexto constitucional. Sera anotada na CTPS do trabalhador tempordrio essa condic&o (SARAIVA, 2009, p. 137). Dessa forma, através da fraude, ocorre a precarizagao dos direitos trabalhistas, bem como a intermediagio ilicita de mao de obra, artificio que, ao invés de promover o acesso dos trabalhadores ao mercado de trabalho, tem o Unico objetivo de elidir a cobranga de direitos previdencidrios e trabalhistas, conforme se verifica amplamente nos julgados da justica laboral. De acordo com a bibliografia pesquisada, 0 complexo normativo trabalhista patrio n&o contemplou diploma especifico para o instituto da terceirizacéo de mao de obra, fato que oportuniza seu desvirtuamento. Existem esparsas leis que 47a

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