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SCT aces i OM cern SO a UU Ta AUTONET Este livro, entao, € dedicado a voce, caro leitor, | (jue foi chamado a fazer parte deste grancle exército, (| ESSIEN TE LICR i i Vocé, soldado de Cristo, que encontra-se em meio Hi a uma grande batalha e precisa 10 tratado: He ERA OM cL cls \ ‘obre a iy WA ii = de armas possivels a serem | iy utilizadas neste combate, Que estas paginas possam i] 1a NT i | servit em seu adestramento, tornando-o mais do que vencedor em Cristo Jesus Nosso Senhor. "Direitos para lingua Portuguese: ‘COMUNIDADE EMANUEL Ecicoes Louva-a-Deus Rua Cortines Laxe, 2, 466 Centro CEP 2090-020 Caixa Postal 941 ‘CEP 2001-970 Rio de Janeto - RJ Tel. (021) 263-3725 Fexx(021) 283-7596 Brasil Capa Patrick Veloso Sabino CIP -BRASIL CATALOGACAO NA FONTE Sindlcato Nacional dos Ecitores de Livros.RJ S442¢_Scuipoll, Lorenzo, 1630-1610 © combate espiritucl / Lourengo Sctpoli += Rio de Janeiro Edi¢des Louva de Deus, 1996. 182p, Tcduydu Ue: The spintual combat 1.Beme mal. 2.Guera espiritual. Titulo. ISBN: 85-337-130-6 96-0189 (DU 233.7 CU 234.9 Indice Apresentagao Freporando-se para a Batata. ‘AS quattfo armas do adestramento individual... Primeira arma. 4 2) Da desconfionga de nés mesmos . 15 Da confianga em Deus, a mais eficienie de todas os amos... 16 Ainda 0 cuidade no uso das armas da desconfianga de si mesmo e da confianga em Deus ne pte: Efeitos cla queda dos que confundiram a sua presun¢ao coin a desconfianga om si mesmos ... 19 Do adesiramento no manejo das armas da desconflanea de nds mesmos 6 da confianga em Deus, 9 Terceira arma. vs Do exercicio da inteligéncia e da vontade. Aperfeigoamento do exercicio da inteligéncia: © discetnimento, 22, De outra precaugéo que a inteligéncia deve tornar para ter discemimento claro. 24 Do exercicio da vontadie. Aqui o combatente 5 adesira dentro do combate. Finalidade deste livro Do exerciclo da vontade. Algumas consicleragGes subIe © capitulo anterior 30 Do Combate 32 I+ Alta das vontacles alversas que existem no homem. 32 Publicado em www.leiturascatolicas.com OCombate Expiritaal 11 Bo modo de combater coninxa os apetites dos senti- os. Atos que a vontade deve fazer para adauiir (08 hdbitos da virtude Momento de perigo: o que devemos fozer quando {@ Vontade superior parece vencida © completa ente sufocada pelos inimigos.. Be modo de combater... |Alguns consethos ¢ respetto do modo de combater 6, especialmente, contra 0 que, com que ... mal \I- © soldado se deve apresentar ao campo de luta logo nas primeiras horas do dia enka I-Da orclem que se deve quarciar no combate 5 nossas paées viclosas IV-Como resis & presstio das paikbes ou dos impulsos a5 V-Contia‘o vicio da come... VI- Anegligéncia.. fortalecimento esptrituat i ‘ | A taz6o da existéncia dos sentidos... II- Como regrarmos os nossos sentidos, fazendo uso das colsas do MUNAO nen ~ 87, lll Otercoiro exercicio, a 9s males da loquacicade do modo de por fr0}0 & liNQU 65 Come fugir das nquietacées do coragdo 7 Be que devemos fazer quando somes fericios. A wn 70 228 manhas do deménio.... 72 | Contra’os virtuosos e contra 0s pecadores n I-Contra os pecadores..... i a 2B Hil- Contra os que se querem liviar do pecado @ ndo conseguem, Hc 74 IV-Na estrada da perteigga wenn. % V- Quando tem em mira que delxernos 6 cominho das virtudes 78 Vi- Quando o vitude adauiia pode ser ocaicio de ruin ohleunthtaian owl 8l Das viruces G 66 | Como vencer as palxdes viclosas e adquirr novas Studies .., 6 OC Combate Expiritual iI Deserigho no uso das vitudes @ busca de uma 56 de cada vez a 89 1W-Dos melos ce progredtr numa vitude @ do fortalecd- 1a . 1 \V- Na escolada das vinuces, parar 60 mesmo que voltar atias 93 + _V= Nao se deve fugir das ocasioes de adult as virludes. Agarte o oportunidade. O tempo é: agora. .. on 90. Vi- Do amor ds ocexibes de oxercitar a vitude 9% Vil - Como ocasides diversas nos servirao para. exercitormos uma mesma virtude... se 9B. Vil- Como cada vitucde tem seu tempo, © dos shais pelos quais conheceremos nossa virtude ... 99, Da paciéncia 101 Da fentagao de indscricdo.. 102 Do Juizo Temerério 105 Da oragéo... . 109 |-A Quarta arma 109 N-Da oragao mental 113: N- Do modo de orar por meie da medtag80 sins 114 IV- De outra manelra de orarmeditando us \V- Da oragao por meio da meditagao sobre 2 Viger Mata nn ~ Como devernos recorer com f8 e confianca @Vigern Maria’ Vil-Do mode de mecitar 6 orar,pensando nos Anjos e Santos... Vil - Sobre o modo de fazer nss0s afetos, meditando sobre a paixdio de Cristo 1X - Dos proveitos que tiraremos da meditacao, 7 19 @ imitagéo de Jesus crucificade . 124 Do santissimo sacramento da eucansta.. 127 Da comunhde sacramental . 128 Do amor que devemos brotor em nés antes de recebermos a sagracia Comunhéo ISS tog Da Comunhdo Espiritual Da Agao de Gragas. Combate Expitual Bo ofercimento 0... 139 Da devogdo sensivel © da arigez.. la ‘Be exome de consciéncia, 145 ‘De combate até amorte...... _ a 145 1- Sobre anecessidade que temos de combater RtSscl notte inthe an die ee, es 15 \- Da preparagde para uma boa morte. 146. Ill Da tentacao contra a fé, una das quatro. ‘amas com que na hora da morte © inimigo nos assaita . a 147 IV= Do desespero .. V-Da vangiéria ot ; Vi Dass ilusées enganadoras 6 das falsas ‘apari¢des ~ 0 combate final . 150 Publicado em www.leiturascatolicas.com Lourengo Sctipoli fol um dos maiores diretores de consci- $nela do sé6culo XVI e sua obra alinha-se entre os grandes clés- #leos da orlentagao das almas, de que 6 rica a cristandade catdlica, Em suas tradu¢ées inglesa e portuguesa, o COMBATE ES- PIRITUAL foi-se modemizando em linguagem ¢ estilo (*) mas do na espiritualidade ¢ na expressGo dos seus conceitos, pois estas guardam o seu frescor e pureza originals, que dispen- som qualquer modernizagao. As idéias de Lourengo Scupoll (}@NOTA- A modernizagco da linquagem. no nosso idioma, inclui 0 uso colo- qulal deliberado dos pronomes possessivos, de forma a faciiifar a compreen- 800 do lexto, evitando que o Heitor. quando chamado de voc8, se confunda com uma fercelta pessoa. Por este molivo, ern entendimento com os nossos roviores c Editora autotizeu 0 emprego preterencial da terceita pessoa, mos som exclusividade, Quando necessario @ maior clareza, fluider ou ‘oxpiessividade do texto, se1ao também utlizados o8 pronomes possessivos teu tua, O lellor notoré, todavia, que a medernizacée da linguagem née se estende 908 conceltos, onde & quordada fidelidade 4 terminologia do autor, evitan- do-66 ao maximo 6 uso de palavras oriundas do Iéxico das ciéncias que.como © psicologia e a Sociologia. sa0 postetiores 4 epoca em que viveu 0 Padre Lourengo Scdpol. Fora mantidas as palavras de fexto original, evitando subs- Iiluigdes, mas actescentandio-se outras, quando necesséilo para a compre- fensdio do texto pelo leitor. Fol mantida, bor exemplo..a palavra vicione texto. mos, erm algumas frases foram empregadas no seu lugar, es palavras cereifo © deliciéncia, que Ine dae 0 sentido alual. Da mesma forma as paikoes, Ue ever ser entendidas como inclinagdes ou atracdes da vontede, por vezes, otlundas dos sentidos, ou seja, sensuais. Quando inevildvel o uso de palavras 40 uso recente, como por exemplo, midia, dos veicules de comunicagao oclol, foram esias comentacias em NOTAS no final do capitulo. a OCombate Expiritual fepresentam, hoje, o que ha de mais moderne na abordagem do tema da guerra espiritual, que se vern travando nos nossos las, em todos as partes do mundo, na forma de milhares de “querrlinas”. Para que nao haja divida sobre o tratamento que é dado G9 tema forte, de luta de combate, que o titulo indica, a Apre- sentagao, nas duas edi¢des, inclu a transcri¢tio de conhecidos Hechos biblicos, além das palavras do proprio autor, que abor- da 0 tema em diversas ocasiGes com total clareza 8 objetivida- de, Abre. a edigdo inglesa, com a seguinte transcrigéo de Ma- feus 11.12: “Desde os dias de Jodo Batista até agora. © Reino dos Céus softe violencia, © violentos se apoderam dele”. Sobre ‘estas palavras, refere-se a Biblia de Jerusalém, em nota de roda- P6, 4 “tirania dos poderes demoniaces, ou dos seus partidarios terrestres, que pretendem conservar o dominio deste mundo @ flar obstaculos ao progresso do Reino de Deus”. E 0 Padre ScGpali abre 0 capitulo primeiro do seu livro com 2 Timoteo 2,3-4: “Assume a tua parte de soffimento como um bom soldado de Cristo Jesus. Ninguém, engajando-se no exércl- fo, se deixa envolver pelas questées da vida civil, se quer dar satisfagde aquele que o aregimentou”. > Outras comprovacées de que o COMBATE ESPIRITUAL um livro dirigido a soldades envolvicios em constante batalha e nao uma simples coletanea de conselhos 4s almas pias, so encon- fradas ainda nessa parte introdutéria das duas edigdes. O livro 6 oferecido pelo seu autor “Ao Supremo Capitao e Gloriosissimo Triunfador Jesus Cristo, Filho de Maria, com as se- guintes palavras: "Para 0 combate 6 preciso um destemido chefe, que dita @ bataiha e fortaleea 0 Gnimo dos soldados, que lutam com ‘maler ardor quando guiados por um general invencivel”. E, para completar, a edigdo inglesa coloca, em seguida. ao titulo @ antes clo prafacto, numa pagina exclusiva, a conhecicla ARIMADURA DE DEUS, da epistola aos Efésios que é a seguir trans rita, para que fiquemos, desde jé, sintonizades com 0 estilo deste \ivro de combate espiritual, onde somos todos soldados, chama- dos i luta pelo nosso Comandante Supremo: 10 0 Combate Expiritual A Armadura de Deus Por isso devels vestir a, armadura de Deus, para poderdes resistit no dia mau e sair fiimes de todos os combates : : Portanto, ponde-vos de pé © cing! os vossos tins 60M G verdade ¢ revesti-vos da coulaga da justica 6 Galgal 0§ vossos.pés com g preparagdo do evange- Iho do paz, empunhando sempre oescude daFe,com | © qual poderels extinguir os dardes inflamados do. | Maligno. £ tomadl o capacete de Salvacao e aiespa, | da do Espirito, que 6 a Palavic de Deus, ae “Estamos numa oparagan de guerra", diz 0 Padre Harold Cohen S.J... em pronunciamento feito na Conferéncia Carismati- 6a, de Nova Orleans. em 1991, recomendando-nos que ouga- MOS a So Paulo em Efésios, 6,10-12: Finalmente, sejam fortes no Senhor e na forca do seu poder, Revistam a armadura de Deus para que possam ser eapazes de enfrentar as clladas do deménio. Pois néo es- famos lutando contra homens de came e sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os governantes deste mundo de trevas, contra as hostes de espiritos malignos espathados pelos ares”. Osoldado se deve apresentar ao compo de luta Jogo nas primeiras horas do ia. “Quando voce se levantar”, diz,, 0 Padre Lourengo cupoli, “a primeira coisa que os seus olhos devem ver & voes mesmo, na arena da uta, com esta lei: ou 0 comba- fe ou a morte eterna, Ov leu lado atretto estard 0 teu vitorioso general, Jesus Cris- fo, com muitos batalhdes de anjos e santos e, particularmente, S40 Miguel Arcanjo, Do lado esquerdo, o Deménio com os seus :clas, prontos para te vencer, excitando as tuas paixdes, ins- tigando-te a ceder, para te darem a morte” Wa Combate Esprituad E que abatalha, de todos e de cada um, s6 acaba com d morte. e por esta razdo, nao podemos deixar de entrar na luta. Quem ndo combate sera logo aprisionado ou morto. E prisdo, nas méos do Principe da Morte, é morte certa. aqui trouxemos para a frente, como um bom exemplo do estilo de Lourengo ScUpoli, e para concluirmos esta Introdugaor *Além disso, 08 nossos inimigos nos tém um ddio sem tré= uas. Por isso ndo podemes esperar um instante de paz, pol mesmo aos que se fazem seus amigos, eles crueimente os trick) dam”. Termina, porém. a citagéo com uma palavra de estimulo) para todos nés: "Nao se assuste com asua forea e 0 seu numero, pols nestal batalhas6 é vencico quem quer. Toda a forea dos inimigos pod ser neufrolizada pelo nossa Comandante. por cuja honra com: batemos. Ele née permitiré que a luta supere as tuas forgas. vid em teu auxilio te dard a vitéria se combateres virimente| confiando no seu poder e na sua bondade”. Publicado em www leiturascatolicas.com Preparando-se para a Batalha As quatro armas do adestramento individual Vocé iré precisar de quatro armas segurissimas @ muito ne- ‘cossdrlas para vencer nesta batalha espiritual, que 6 a de uma Sontinua © durisirnu lula contra voee mesmo. Sdo as seguintes: a desconfianga de simesmo, a conflanga ‘em Deus, 0 exercicio e a oragao, Com a ajuda divina, algo diremos, sucintamente, sobre es- tes assuntos, nos capitulos subsequentes, Antes, porém, falemos um pouco mals sobre o teu adestra- mento, procurando abrir 0s feus olhos para alguns enganes que podem levar & perdicao. © engano mais frequente & 0 da virtude. Muitos, sem pen- so, Julgamn que ela consiste na austeridade de vida, no castigo da came. nas longas vigilias, nos jejuns, @ em outras peniténcias © fadigas corporal, Outras pessoas, mulheres, especialmente, pensam ter che- ado & grande perfeicdo quando tezam muito, ouvem muitas missas @ longos oficios, freqtientam as igrejas ¢ a Sagrada Co- munhdo. Outros, ainda, ¢ entre eles, certamente, muitos religiosos de onvento, chegaram & conchisdo de que a perfeigtio consiste na frequéncia ao coro, no sléncio, na solidao ena discipiina. Averdade, porém, é muito outra, Tals ages sao, as vezes, melos de se adquitir o espirito e, Ns vezes, frutos do espirito. Nao se pode, porém dizer que so- mente nestas coisas consista a perfelcdo crista e o verdadelro pitito, TB) O Combate bspiritual Estos pessoas seguem com grande abnegagdo.e com sua cruz as Costas, 0 Filho de Deus, freqtientam os santos sacramen- fos, para glétia de sua divina Majestade, para mais se unirem com Deus e para adquirirem novas forgas contra 9 inimigo. $e, porém, péem todo o fundamento de sua virude nos agdes exteriores, estas agdes, ndo por serem defeituosas, pols 00 santissimas, mas pelo defeito de quem as usa, serao as ve- zes, mais do que 03 proprios pecados, a causa de sua ruina Pols estas aimas que apenas prestam atengdio as suas agoes, largam 0 coragdo és suas inclinagdes naturals e ao demOnio ‘cculto. Este, reparando que j4 est aquela alma transviada, fora do caminho, deixa que ela continue deteitando-se naquele comportamento enganoso, e até mesmo a estimula, embalan- do-a com 0 pensamento das deliclas do paraiso. A alma logo se persuiade de estar no coro dos anios e de possulr Deus den- tro de si. Estes estéio em grave perigo de calf, porque tém o olhar interno obscurecido. & com esse olhar que contemplam asimes- mos € suas obras externas boas, atribuindo-se muitos graus de perfeicdo. E, com soberba, julgam os oultos: Ando serum auxilio extraordinario dé Deus, nada 08 con: verteré, E evidente que mals facilmente se converte @ se entrega ao bem 0 pecador declarado e manifesto do que o pecador oculto que, enganado e enganadoramente, se apresenta co- berto com © manto das virtudes aparentes. A vida espiritual ndéio consiste nestas coisas. A virtude outra coisa ndio 6 senao o conhecimento da infin! fa bondade e grandeza de Deus, e da nossa inclinagdo para o erfo © para o mal, A virtude esté no édio de nds mesmos e cle ossas faltas, tanto quanto no nosso amor a Deus @ NA Nossa confianga em Deus. A virtude esté ndio s6 na sujeleco a ele, mas por su Gmor, no amor de todas as criaturas: © ponto mais alto da virtue consiste no desapropriamento da nossa prépria vontade, entregando-the o comancde de nc savidae das nossas a¢des, em acatamento total as suas divinas disposicées. Por fim: querer e fazer tudo isto para glétla de Deus, pore seu agrado, e porque ele quer e merace ser amido @ servic. Va O Cunbate Expivitual Esta 6 a lei do amor, impressa pela méo de Deus nos cora~ 025 do seus servos quericios e fis Esta € anegagdo de nés mesmos, que ele, como Pai e Cri- ‘ador amaniissimo, nos pede, parc o nosso bem. Este € 0 jugo suave de que falava Jesus, a obediéncia a que o nosso divino Redentor ¢ Mestre nos chara, com sua voz @ seu exemple. Este 6 o combate preliminar de adestramento para a gran- de bataiha. Se vocé aspira a uma vida em perfaita unigo com Deus, devera comegar pelo combate generoso contra as suas préprias vontades, grandes e pequencs. ‘Com grande prontidao de Gnimo desde o primeiro instante, énecessario que vocé se oparelhe para este combate, onde s6 € coroado 0 soldado valores, Este combate 6 difcil, mais que nenhum outro, pols comba- temas contrainés mesmas Por maior porém. que seja a batalna. mais gloriosa mais cara aos olhos de Deus, sera a vitéric, Conhecendo, assim,"um pouco melhor, o campo em que se travard esta primeira luta, vejamos, agora, as armas de que dispomos, nos capitulos que se seguem. Primeira arma Da desconfianga de nés mesmos \Vocé viu no capitulo anterior que se vocé cuiciar de sufocar 0s seus apetites desorclenados, os seus desejas e suas vontades, mesmo que muito pequenos, estaré fazendo maior servigo a Deus do que se vocé se flagelar até o sangue, se jejuar, mortificando- se mais do que 0 faziam os antigos eremitas, ou, até mesmo, so voeé conseguir converter milhares de almas, porém guarcdando vivos ¢ intactos alguns daqueles apetites e desejos no sufoca- dos, E claro que 0 Senhor aprecia e tegozija-se mais com a con- verstio das cimas do que com amortificago de uma pequenina vontade. Apesar disto, vocé ndio deve querer nem levantar a mao para fazer qualquer outra coisa sendo aquilo que o Senhor restritamente quer que voce faga. Ele mais se comprazque voce 15 OCombate Expiritaat se canse em vencer as suas pales © os suas vontades desorde- nadias clo que em Ihe servir praticando algum trabalho, por gran- ‘de onecessérlo que seja, quardando dentro da tua alma e viva dentro de ti, alguma paixao. voluntaria e conscientemente, E porisso quese faz tao necesséria a desconfianga desirnesmo, neste combate, poks sem ela voce ndo conseguilé 0 desejaca visio, ‘endo chegaré sequer avencer umasd das suas pequenines paixdes. ‘Guardia bem isto na mente: nés presumimos multo de nos- sos proprias forgas, porque somos inciinados pela nossa nature- 2a corompida. a uma falsa avaliagao de nés mesmos. Nada somes, porém sempre queremos achar que somos multa coisa. Toda a virtude nos vern de Deus, que € a fonte de todo o bem, Com ele, podemes ser tudo. Por nos mesmos. nenhuma colsa: nem sequer um bom pensamento podemos ter: Feici presungdo aue nos leva @ nos avaliarmos acima dos nossas propria forcas 6 um defeito muito dificil de ser reconhe- cido e admitido por quem se encontra em emo, @ desagrada. muito a Deus, que nos ama e quer ern nés o conhecimento de que toda a graica e todos os nossos clons provem dele. Da confianga em Deus, amais eficiente de todas as armas Como ja dissemos, a descontianga de nos mesmos muito necessaria neste combate, No entretanto, ela, somente, ndo basta, Porque, se. além disto, ndo puseimos toda a nossa confianga em Deus, esperan- do dele, e somente dele, os auxilos necessarios ¢ a vit6tia, cedo nos poremos em fuga e seremos vencidos por nossos Inimigos. ‘De nés, devernos descontiar muito. porque nada somos e, se lufarnos somente com nossas forgas, andaremos de queda em queda, Ajudados, porém, pelo Senhor, aleangaremos, cer- famente, todas as grandes vitorias. Para conseguir, entretanto, sua ajuda, devemos armar o nosso coragao de uma viva confianganele. De quatro modos conseguiremos esta confianga @rm Deus. Primeiro: pela oragao, pedindo-a ao Senhor 16 O Combate Expiritaal Segundo: contemplando e considerando, com os olhos da £6, como 0 Senhor é onipotente e qudio excelsa, superior e com- pleta é a sua infinita sobedoria. Para ele nada é dificil ou impossivel. Ele 6 a bondade sem medida, esta sempre disposto anos dar, @ cada hora e acada momento, tudo aquilo que nossa vida espiitual necesita para.a nossa vitéria final. Bosta que a ele recoramos com confienga, pols 6 grande ‘0. seu desejo de que Ihe pegamos tudo, como filhos que somos. Deus vern batendo, continuamente no coragao do ho- mem com desejos de al entrar, e af celar 6 derramar af os seus dons. Quem, entéo, poderd imaginar que, para o coractio que © convida. insistentemente, a entrar, ele se venha a fazer de su do? O terceiro modo de se adquitt esta sunla confanga em Deus est contide num Gnico pensamento sobre o qual deve- mos meditar: conta-nos o Evangelho muitos e muitos exemplos que demonstram que ninguém que realmente confiou em Deus jamais deixou de ser atencido. © quarto modo serviré ae mesmo tempo a um duplo efeito: ‘0. de conseguirmos alcangar a desejada confianga em Deus e. ao mesmo tempo. a desconfianga de nés mesmos. Vocé devera agir da seguinte forma: quando vocé desojar realizar alguma cobsa, ou iniciar alguma batalha, ou entao voce sentir que precisa obter uma vitéria sobre si mesmo, mecite um pouco, antes de comegar, sobre a sua fraqueza. Quando vocé fiver uma nogde clara da suai situagao, sentindo a sua falta de poder, comece a pensar sobre 0 poder, a sabedioria e albondade divina, Confie, entdo, somente nele, @ decida-se a agir e comba- ter lucidamente @ generosamente. Com estas armas © mais o reforge Imprescindivel da oragdo, vocé combaterd e trabalha- Fé. confiante na vittrie: F a vitéria vitd, certamente. € 86 ndo vita se vocé tiverse equivocado na obten¢éo da confianga em Deus, conjugadamente com a desconfianga em si mesmo. ‘© equivoce pode ocorter, ainda que pareca que néo, pois a presuncdo que temos de nés mesmos 6 tao sutil e enganado- 47 OCombate Espiritual ta que € muito dificil separéria da descontlanga que parece- mos fer de nés mesmos e da confianga que julgamos depositor em Deus. ‘Aprenda, portanto, a fugir dessa presungdo, ea viverem uma: ‘completa e permanente descontianga de si mesmo e, em con frapartida, crescente conflanga em Deus. Basta, para isso, que vocé tenha sempre em mente a avalicigao da sua fraqueza hu- mana perante a grandezae a onipoténcia de Deus, e que ambas estas consideragdes antecedarn sempre 0s teus atos, Ainda 0 cuidado no uso das armas da desconfianga de si mesmo ¢ da confianga em Deus O soldiado presungoso facilmente se engane, julgando ter- s¢ habituado a desconfiar de si mesmo @ a confiar orn Deus. Vocé notaré o seu engano quando sotrer a primeira queda. Observe, com atenctio, 6 sentimento que nascer na sua alma apés a queda: se voce sentir uma Inquietagas, como que uma tristeza @ um desapontamento que leva ao desdnimo e pode chegar 4 desesperanga, é sinal certo de que vocé estava Conflande na sua pessoa, e ndo em Deus. Porque quem desconfia de si mesmo quase que totalmen- te e confiaem Deus intelramente, nao se espanta nem se ents fece com a queda. Sabe que 0 que ocorreu foi devide & sua fraqueza e pouca confianga em Deus. Mais desconfiaco de si, mais e mais confie, humildemente, em Deus. Sabe que foi ele mesmo que abtiu océsibes para a sua que- da, com os seus defeltos e desregramentos, € nao se assusta, nem se inquieta, Sente um arependimento sincero, mas calmo e pacit 0, por ter contrariado 0 seu Comandante, e continua sua rota, petseguindo 0s inimigos, com eneigia € resolugdo, até fer-los de morte. Eu gostaria de que estas cautelas fossem fomadas princi palmente pelas pessoas dadas 4 vida espiritual que, por serem Mais profundas, se créem menos desprotegidas. Quando cae. em algum defeito, recusam-se a aceltar asua deficiéncia, endo Poder nem querem se acalmarda ansiedade @ Inquietude que nascem do amor proprio. O remédio Unico que cura 6 a recon- ww O Combate Expiritaal cillagae. com 0 seu Comandante para cenfessar a sua falic & objer 0 perddo que nunc: negado, Efeitos da queda dos que confundiram a sua presunco com a desconfianca em si mesmos Ao constatar, pela queda, a existéncia de suas faltas ou faihas, o combatente € envolvide por um sentimento de triste- za que ele, cinda em ero, confunde com anependimento, que 6, este sim, 0 verdadeiro desejo de comecdio. Supde que a sua Inquietagao seja devida 4 virtude, quando, na tealidade, 6 corlunda de uma oculta soberba e presuncdi, e é efeito da ilu- séria confianga que tinha em si mesmo e em suas préprias for- gas. Vendo, pela queda, que era falho, fica espantado, como se tivasse ocorride alguma coisa impossivel. @ se Inquieta can- templando os destrogos das colunas em que se sustentava a sua contianga. Ao humilde Isto ndo acontece, porque nada presume de si préprio @ confia somente em Deus. E assim, se Incorre em algu- ma culpa, embora sinta grande arrependimento, nao se inquie- ta, porque sabe, com ailuz da verdade, que o acorride Ihe suce- deu devido 4 sua prépria fraqueza, Do adestramento no manejo das armas da desconfianga de nés mesmos ¢ da confianga em Deus Destas duas virtudés nasce quase toda a forea de que ne- Cessitamos para venicermos os nossos inimigos. Mas nao 6 fécllo maneJo destas duas armas que 56 conseguimos receber @ utl- zar com 0 auxilio aivino. Nada dispensa este divine auxilo, Nem todos os dons natu- fais ou adquitides, nem todas as gracas recebidas, nem 0 co- nhecimento de toda a Escritura, nem uma longa existéncla dedicada inteiramente ao servigo de Deus. $e 0 seu coragdio do for ajudado com um especial aux- llo, s@ a mao do Senhor ndo iniciar a obra, vocé jamais conse- Jui cumprir a vontade divina, mesmo que vocé pratique as 19 OCombate Expiritaal ‘agoes boas que deve praticar, que voeé venga as tentagées que deve vencer, que fuja dos perigos de que deve fugir, 6 ‘que carregue as cruzes que a vontade de Deus ihe deu para carregar. Eis a razdo pela qual nés femos que agarrar com cres- cente firmeza e determinagdo a arma ue nos € dada da desconfianga de nés mesmos. Durante teda a nossa vida, portanto, todos os dias, a todas as horas e, até mesmo, em todos 0 minutos devemos estar atentos firmes na resolucao ‘de jamais, de modo nenhum-e em nenhuma hipétese, confi- amos em nos mesmos. ‘Quanto d segunda aia, a da centianea em Deus, basta que voce se lembre de que nada é mais faci para Deus do que vencer 0s inimigos, sejam eles pouces ou muitos, velhos e chelos de maticia ou novos e fracos. ‘A confianga em Deus 0 que nos sustenta no combate. Uma alma pode estar cheia de pecades Ter todos 0s defeitos do mundo, ¢ praticar os maiores erros que se possa Imaginar, Pode ter tentado, por todos os meios ¢ tocias as formas del- xar pecado e ter fracassado. Ter procurado levar vide coreta e nao ter conseguido nem um pontozinho de bem. E ter, pelo contrdrio caido violentamente no mall E exatamenie este soldado que, apesar de tudo, nao pode se deixar perder a conflanga em Deus, nem delxar as armas e os exercicios de adestramento espiritual. £ exatamente este o soldado que importa que combate. Que combata generosamente, que combata sempre mais, Pols6precso quese tenha em mente quenestabatalha espirtu- ‘lnune peide quem cinda combate e ainda contia‘em Deus E 0 auxillo divino nunca fala, mesmo que os combatentes sejam, por vezes, tentcos. ‘Combater, sto é tudo. Combater com conflanga no auxlio divino. ‘© remédio que cura os ferimentos € eficaz para aqueles que procuram a Deus. 20 O Combate Esxpiritual £, quando menos esperam, seus inimigos estardo mortos. Terceira arma Do exercicio da inteliggncia e da vontade Nesta batatha espiritual, néo basta a confianca em Deus 6 a desconfianca de nds mesmos. Somente com estas duas armas vocé n&o vencerd. Muito pelo contrarlo: vocé tera muitas que- dos, Ai 6 que entra o exercicio. E preciso exercitar a inteligéncia e a vontade. Neste capitulo e nos subseqtientes, vamos examinar esta for- ma de adestramento do combatente pelo exercicio. coma fina liddadie de alcangar uma posicda de camhata que seja mais van- tajosa, estrategicamente: a obtengéo de maior capacidade de discemit Oexercicio da vontade é precedido pelo exercicio da inte- ligencia, que deve ser resguardada contra os fatores negatives que a obscurecem: de um lado, a ignorancia e do outro, ainfor- magGo mundana, excessiva e desregrada. dos meios de comu- nleagdo.¢?) A ignordincia deixa a menté em trevas e impede que ela conhega a verdade, que 6 0 objeto proprio da inteligéncia. Com 9 exercicio, devemos tornar a mente clara e lucida, para que possa ver € discemir bem. O discemimento cresce na proporedo em que 6 exercitado e, por este motivo. a sua aquisi- gd0 pelo combatente 6 um fator decisive para a obtencao da vit6ria final individual e coletiva: De dois modos poderemos alcangar este resultado: o pri- meiro, @ © mals importante, 6 a orago, que vem a ser a nossa quarta arma e, sem duvida, a mals poderosa de todas, como. sera demonstrado mais adiante, nos capitulos 44 a 50, () NOTA 0 popet da informagdo aqui 6 adaptado aos meios mais moder- 108 de comunicagao do pensemento, englobados na palavia miaiia. O pro- jema da curiosidacte que 0 autor considera distracéo da mente, 6 exami .do, extensamente, no none capitulo, 27 OCombate Expirdtual ‘O.segundo modo de vocs alcangar o dscemimento alraves de um continuo, leal 6 profundo exame des! mesmo. Este exame ndo & nada facil, pols requer critérlos de julga: mento completamente distanciacos dos eritérios mundanos. Para ver se somos bons ou maus, néo seré levacia em conta a ‘qparéncia boa ou mé desnesses alos, nemo uizo dosnossos senticos, Mas im 0 jUizo do Espitio Santo. ‘Aguilo que a “cultura” munciana consagrou, dave ser repelido ‘como sendo mulio pouco aos clhos do Esafita Santo, pols este, sancio ‘temo, & fotaiments imune aos modismos de mica, 6 suas variagdes, {Ge sid to superficiais como caprichoses. Aguilo que o muncio cego e corompide ama, cleseja.e procura e todos os modos sera consicleracio cloramente. por nés, pelo que 80, isto &: nada, Entenderemos, asim, que as honres € os prazeres da terra nto dio mas do que vaidades € aficdes do espiito. E que as injirios © as infémios de que 0 mundo nos queira cobrir S00 a verdadisirc gléria, Que a verdadeira alegria, & semelhanga de Deus, esta na magnanimidade do perdéo dado cos inimigas, na coti- cle aos imaos e na superagae des dficuidades que entravarn a nossa marcha. Os jLizos preciosos que 0 Espiito Santo nos ensina conduzem ao

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