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Bern eerste key A EFICACIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS UMA TEORIA GERAL DOS bikelres FUNDAMENTAIS NA PVE CROLL ZC) Eee A livrariaf! rye) un s/o Sere Décima edigao indice geral Nota a 10° edigao Agradecimentos Abreviaturas Prefiicio . Sumério Notas introdutérias ¥ Parte sistema dos direitos fundamentais na Constituigao: delineamentos de uma teoria geral constitucionalmente adequada 1. A problematica da detimitagdo conceitual e da definigdo na seara terminoldgica: a busca de um consenso : 2. Perspectiva histérica: dos direitos naturais do homem aos direitos fundamentais constitucionais eu problemdtica das assim denominadas dimensdes dos direitos fundamentais ... 2.1. Consideragdes preliminares 2.2. Antecedentes: dos primérdios & concepeZo jusnaturalista dos direitos naturais € inatiendveis do homem 2 O processo de reconhecimento dos direitos fundamentais na esfera do direito positive: dos direitos estamentais aos direitos fundamentais constitucionais do século XVIII 2.4, AS diversas dimensdes dos direitos fundamentais ¢ sua importincia nas etapas de sua positivagdo nas esferas constitucional e internacional 2.4.1. Generalidades : 2.4.2. Os direitos fundamentais da primeira dimensio 2.4.3. Os direitos econdmicos, sociais ¢ culturais da segunda dimensio 2.4.4. Os direitos de solidariedade e fratemidade da terceira dimensao 24.8. Direitos fundamentais da quarta e de quinta dimensio? 246. Algoma consieragdes conclsivaseslgumasindagagdes em fomo da oben das dimensdes dos direitos fundamentais : 3. Direitos fundamentais ¢ Constituigdo: a posigio eo significado dos direitos fundamentais ‘na Constituigiio de um Estado Democritico e Social de Direito 4, A concepgao dos direitos fundamentais na Constituigao de 1988, 4.1.0 catélogo dos direitos fundamentais na “ConstituigSo-Cidada” de 1988, 4.1.1. Breve apresentagio 4.1.2. Elementos caracterizadores de um sistema de direitos fundamentais .. u 15 19 2 a2) 58 63 6 63 - 9 4.2. A nota da “fundamentalidade” formal e material dos direitos fundamentais na Constituigao de 1988... "4 4.3. O conceito materialmente aberto de direitos fundamentais no direito constitucional positivo brasileiro oo = i a B 4.311. Sigificadoe aleance do ar. 5°. § 2" da Constituigdo de 1988: nogdes preliminares B 4.3.2. Abrangéncia da concepgdo materialmente aberta dos direitos fundamentais, na Carta de 1988 : wee 82 43.3. Contomos de um conceito material de dieitos fundamentais na Consiga 84 4.3.3.1. Consideragdes preliminares : 84 4.33.2 Critériosreferenciais para um conceto material de direitos fundamentais - 9 4,3.3.2.1. Consideragdes introdutérias: 0 critério implicito da equivaléncia e seu significado ... 91 4333.22. Prinefpiosfundamentss direitos fundamen, com especial tengo para 0 principio da dignidade da pessoa humana . : 8 43.32. Outros referencias para a consrugo de um concito material de direitos fundamentais . : 4 ee ee —— categorias ¢ a busca de exemplos : cece HS 4.3.4.1. Consideragdes preliminares . MS eee ,rr—™rhrLrvLrercrc_ trl 4.3.4.3. Diteitos fundamentais sediados em tratados internacionais, se 19 4.3.4.4. Algumas notas sobre o novo § 3° do art. 5° da Constituigdo ¢ seus possiveis reflexos no que dz coma incoporaoehiearuia dos dito com sede em retados internacionais cee . 127 ee 5 137 4.35, Possibilidadeselimitages do conceito material de direitos fundamentais su s+uv+» 137 5. A perspectiva subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais, sua multifuncionalidade classificacdo na Constituigdo de 1988 ....... 5 se 4d 5.1. dupla perspectva ds direitos fundamentais na condigd de normas objetivas © direitos subjetivos: significado e aleance M4 5.1.1. Consideragdes preliminares . 1a 5.1.2. A perspectiva juridico-objetiva dos direitos fundamentais ¢ seus diversos desdobramentos .. 142 5.1.3. Os direitos fundamentais na sua perspectiva jurfdico-subjetiva peeves 15H 5.2 A multfunconlidade dos diets fundamentss¢o problema de sua classificagho na Constituiga0 155 5.2.1 Intodugto: a multifuncionalidade dos direitos fundamentais ea atualidade da teoria de Georg Jellinek : 155 5.2.2. O problema da classificagdo dos direitos fundamentais na Constituigdo de 1988......... 159 5.2.2.1. Consideragées preliminares 5.2.2.2. ConsideragGes em torno de uma proposta Fe de posiglo pessoal... ..eecveeeee =. 162 5.2.2.3. Samia apresenagto ds diversas cetegoris de iets fandamentasindvidualmente consideradas : 168 5.22.3.1. Os direitos fundamentais na qualidade de direitos de defesa : 168 5.2.2.3.2. Os direitos fundamentais como direitos a prestacdes : 184 6. Os direitos fundamentais e seus titulares . 208 6.1, Notas introdut6rias: a distingao entre titulares e destinatarios dos direitos e garantias fundamentais — aspectos conceituais e terminolégicos .............. 6.2. O principio da universalidade e a titularidade dos direitos fundamentais 6.3. A pessoa natural como titular de direitos fundamentais: generalidades 6.4, Direitos dos estrangeiros e a relevancia da distingdo entre estrangeiro residente endo-residente . 65. O problema da titularidade (individual e/ou coletiva?) dos direitos sociais, 6.6. Casos especiais: direitos do embrio e 0 problema da titularidade de direitos fundamentais nos limites da vida e post mortem 6.1. Pessoas juridicas como titulares de direitos fundamentais .. . 6.8. Direitos dos animais e de outros seres vivos? O problema da titularidade de direitos fundamentais para além da pessoa humana 7, Deveres fundamentais 7.1, Notas introdutérias 7.2. Tipologia dos deveres fundamentais . 73. O regime juriico-constitucional dos deveres fundamentas “2 Parte O problema da eficacia dos direitos fundamentais 1. Introdugdo: colocagao do problema e distingdes nas searas conceitual e terminolégica 2. A problemiitica da eficdcia das normas constitucionais em geral no ambito do direito constitucional brasileiro: principais concepgdes € tomada de posigo pessoal 2.1. As concepgies clissicas 2.2. & enttica da concepgaio classica de inspiragio norte-americana e sua reformula resenha das principais concepgées na literatura juridica nacional 2.3, Sintese conclusiva e posigao pessoal 3. A eficécia dos direitos fundamentais 3.1, Consideragdes introdut6rias 3.2. A aplicabilidade imediata (direta e plea eficcia das norma definidoras de direitos fundamentais: significado e alcance do art. 5°, § I°, da Constituigao de 1988 3.3. A eficdcia dos direitos fundamentais propriamente dita: significado da aplicabilidade imediata para cada categoria dos direitos fundamentais 3.3.1. A titulo de preliminar 3.3.2. A eficdcia dos direitos de defesa . 34. Accacia dos direitos soca na sua dimensto prstacional como problema espectfico 3.4.1. Consideragdes preliminares 3.4.2. Aspectos relevantes concernentes & distinglo entre os direitos de defesa os direitos sociais prestacionais 3.4.2.1. Consideragdes introdutérias 3.4.2.2. Os direitos sociais prestacionais e seu objeto 3.4.2.3. A especial relevancia econdmica dos direitos sociais prestacionais € o limite (relativo) da “reserva do possfvel” 3.4.2.4. Caracterfsticas normativo-estruturais dos direitos sociais a prestacdes e 0 problema de sua habitualmente sustentada dependéncia de concretizagdo legislativa 3.4.3. A eficdcia dos direitos sociais no ambito de sua possivel dimensio 3.4.4. A problemitica dos direitos sociais na qualidade de direitos subjetivos a prestagdes .. 3.4.4.1. Considerages gerais 3.4.4.2. Os direitos derivados a prestagdes 3.4.4.3. A discusso em tomo do reconhecimento de direitos subjetivos originérios a prestagdes sociais, analisada & luz de alguns exemplos 224 . 226 226 28 229 242 242 = 244 250 257 257 261 23 273 274 280 280 281 281 282 284 289 291 299 299 301 - 305 3.4.4.3.1. Os principais argumentos 3.4.4.3.2. O direito a garantia de urna existéncia 1a: a problematica do saldrio minimo, da assisténcia social, do direito & previdéncia social e do direito & satide e & moradia 3.4.4.3.3. O direito social & educagio 3.4.4.3. Anilise critica dos argumentos e exemplos. & luz de algumas concepgdes doutrinérias ‘e tomada de posigdo pessoal sobre o reconhecimento de direitos subjetivos prestagées sociais 3.5. A vinculago do poder publica e dos particulars as direitos fundamentsis 3.5.1. Consideragdes preliminares 3.5.2. A vinculagio do poder publico aos direitos fundamentais ‘A amplitude da vinculagao 3.5.2.2. A vinculagao do legislador aos direitos fundamentais . 3.5.2.3. Vineulagio dos érgios administrativos (Poder Executivo) aos direitos fundamentais 3.5.2.4. A vinculago dos juizes e tribunais aos direitos fundamentais ........- 3.5.2.5. A assim denominada eficécia “privada” ou “horizontal” dos direitos fundamentais (a problemitica da vinelago ds pariculres 3s normas defniors de dicts e garantias fundamentais) Bene codoee eueoseeed A protecao dos direitos fundamentais em face de suas restrigdes: Ambito de protegio, limites ¢ limites aos limites dos direitos fundamentais, com destaque para a protecdo em face da atuagio do poder de reforma constitucional e da assim designada proibicio de retrocesso 4.1, Considerac 412. Ambito de protegao, limites e limites aos limites dos direitos fundamentais 'sintrodutsrias 4.2.1. Consideragdes introdut6rias 4.2.2. 0 Ambito de protegdo dos direitos e garantia fundamentais . 4.2.3. Os limites dos direitos fundamentais 4.2.4, Os assim chamados limites aos limites dos direitos fundamentais 4.2.4.1. Nogdes preliminares 4.2.4.2. Proporcionalidade e razoabilidade como limites dos limites . 4.2.4.3. A garantia do nicleo essencial dos direitos fundamentais 4.3. Direitos fundamentais ereforma da Consttugio: a efiescia “protetiva” dos direitos fundamentais contra a sua supressio e erosdo pelo Poder Constituinte Reformador 4.3.1. Consideragdes introdutérias . 4.3.2. Colocagao do problema e distingdes conceituais . 4.3.3. Os limites & reforma da ConstituigHo: consideragdes gerais .. 4.3.3.1. A titulo introdut6rio 4.3.3.2. Limites formais ¢ temporais (circunstanciais) 4.3.3.3. O problema dos limites materiais 4.3.4. “Cléusulas pétreas” e direitos fundamentais 4.3.4.1. Consideragdes preliminares . 4.342. Abrangéncia das “cléusuls pétreas” na esfera dos direitos fundamentais 4.3.4.3. Alcance da protecdo outorgada aos direitos fundamentais 4.4, Direitos fundamentais e proibigao de retrocesso 4.4.1. Consideragées preliminares ce 4.4.2. A problemitica da proibigdo de retrocesso e suas diversas manifestacées 4.4.3, Fundamentacao juridico-constitucional de uma proibigdo de retrocesso, especialmente em matéria de direitos sociais 4.4.3.1. Alumas premissas para a andlise 305 309 332 342 365 365 365 365 367 369 372 374 4.4.3.2. Um olhar sobre o direito estrangeiro: breve apresentacio das experiéncias portuguesa ¢ alema em matéria de proibigao de retrocesso - 4.4.3.3, Algumas objegdes em relagdo ao reconhecimento de uma proibicao de retocesso em matéria de direitos sociais . 4434. Princfpais argumentos em prol do reconhecimento de um richie implicit da proibigio de retrocesso na ordem constitucional brasileira . 443.5. Algunsertéris para aferigfo do alcance possvel (necessério do principio da proibigdo de retrocesso Conelusio Referéncias bibliograficas 39 43 444 - 450 459 461 A EFICACIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS UMA TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL 2683 Zao ley oO Ingo Wolfgang Sarlet S ticuanne = Doutor em Dro pea Universidade de unique. Estudos em Nivel de 6s Dowtorado nas Unversdadah PARIS. &, unique, Georgetown e unto a0 insuto Max-Planck de Direlto Socal Estrangeio Internacional (Munk ‘onde tamisém atua como representante brasiero correspondente centio, Protessor Titular de Direto Consttucional Direites Fundamentals nos cursos de Graduapo, Mestrado e Doutorado da PUCIRS ¢ da Escola Superior da Macistratura do RS (AJURIS), Professor do Doutorad ‘em Diretos Humanos ¢ Desenvolvimento da Universidade Pablo ce Olavide, Sevha. Professor vistante (como bolsista do Programa Erasmus Mundus, da Unido Européia) da Faculdade de Direlto da Universidade CCatbica Portuguesa ~ Lisboa. Pesqulsador vista na Harvard Law School. Coordenador do Nicleo de Estudos e Pesquisas em Diretos Fundamentals (CNPo),vinculado 20 Mestrado e Doutorada em Direto da PUGIRS. Jul de Direito de Entrca Final (RS), ‘> Ss os A EFICACIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS UMA TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DECIMA EDICAO revista, atualizada e ampliada fh. livraria DO ADYOGADO feditora Porto Alegre, 2009 Notas prévias a 10? edigdo Embora, dada a circunstincia de que a edigao anterior tenha esgotado nova- mente em menos de um ano, fosse legitimo optar tanto por uma reimpressio, quanto por uma ligeira atualizagao ¢ revisao da obra, tomamos a liberdade de, também mo- tivados pelo fato de ser esta precisamente a décima edigao da obra, cuja preparagao iniciou j4 no ano do décimo aniversério da publicaco da primeira edigao, em abril de 1998, de também desta feita ir algo além. Com efeito, além da jé convencional, mas agora amplamente reforgada, revisdo e atualizaco (apenas em matéria de referéncias bibliograficas, foram considerados quase uma centena de titulos, além de uma série de decisdes dos Tribunais) do texto, com destaque para os capitulos da classifica- go, titularidade e eficacia dos direitos fundamentais, levamos a efeito uma alteragao (parcial, é certo) na propria estrutura da obra, mediante a insergdo, na segunda parte, de um capitulo auténomo sobre os limites e restrigdes dos direitos fundamentais, que, além da j4 versada problematica da protegdo dos direitos fundamentais em face das reformas constitucionais e de um retrocesso, agora abarca a matéria relativa a0 Ampito de protecio, limites e restricdes, com destaque para a questio dos limites aos limites dos direitos fundamentais. Ainda que também neste particular se trate de um tema que estd a merecer maior desenvolvimento, consideramos que o material ora colocado & disposigo do leitor esté em condigGes de ser integrado ao texto da obra, sujeito ao habitual processo de discussio na esfera académica e conseqiiente aperfei- coamento. De outra parte, levando em conta que ao longo desta edie e da imediatamente anterior, houve a inclusao de trés novos capitulos, versando, respectivamente, sobre a titularidade dos direitos fundamentais, os deveres fundamentais ¢ agora sobre os limites e restrigdes dos direitos fundamentais, a obra, no seu conjunto, ja preenche os pressupostos de uma parte geral da dogmética jurfdico-constitucional dos direitos fundamentais, o que, de certa maneira, considerando a utilizacao do livro como texto de referéncia em varios cursos de graduacdo e pés-graduacio, motivou também a alteragGo do préprio titulo, que ora ostenta, cremos de modo justificado, além da mengao 2 eficdcia dos direitos fundamentais, a justificada referéncia a uma teoria geral. Além disso, em virtude de mais um ajuste no formato e diagramago da obra, foi possivel minimizar o impacto das insergdes (que representa cerca de cinguenta paginas de texto, sem contar a bibliografia) no que diz com o néimero total de paginas do livro e o respectivo custo. De qualquer modo, o que esperamos é que independen- temente da mudanga do titulo, a atualizagao e a ampliagao ora levadas a efeito fagam com que a obra siga merecendo a atengio da comunidade (fel dos amigos dos direitos fundamentais. Por derradeiro, no poderfamos deixar de formular especial agradecimento & pessoa amiga ¢ sempre presente do Prof. Dr. Vasco Pereira da Silva (Lisboa), parcei- To ja de algumas jornadas, assim como a Diregio e Secretaria da Faculdade de Direito da Universidade Catélica Portuguesa (Lisboa) e ao Programa Erasmus Mundus da Unitio Européia, que nos propiciaram, além dos recursos materiais (bolsa para inves: tigagio e docéncia), a acolhida c o ambiente de trabalho propicio para a pesquisa e a redagdo desta décima edigio. Ao Prof. Dr. Paulo Mota Pinto, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que nos brinda com sua amizade ha quase duas déca- das, igualmente importa direcionar um voto de gratidao e reconhecimento, pelo apoio pessoal € académico, assim como pela generosa oferta das instalagdes em Lisboa, tudo a contribuir para uma estada altamente proveitosa e um excepcional ambiente de trabalho, Igualmente gratos somos aos Professores Jorge Miranda e Joaquim José Gomes Canotilho, aqui também representando o grupo de constitucionalistas e estu- dantes de alto gabarito com quem tivemos o privilégio de conviver durante a estada em Portugal. Na biblioteca do Tribunal Constitucional, em Lisboa, também obtive- mos acolhida e suporte, razao pela qual néo poderiamos deixar de formular nossos agradecimentos & equipe responsdvel. Agradecemos, ainda, ao colega e amigo Prof. Dr. Jorg Neuner (Universidade de Augsburg, Alemanha) e & sua equipe da Catedra de Direito Privado e Filosofia do Direito pelo generoso auxilio na disponibilizagio da mais atualizada literatura alema sobre os temas versados. Ao Mestre em Direito (PUCRS), Doutorando e Professor Assistente (Augsburg) Pedro Scherer de Mello Aleixo, a nossa gratidao pelo competente auxilio na pesquisa e formatagao inicial das anotacdes que resultaram, em boa parte, na redaco do capitulo, ora inserido na obra, sobre 0s limites e restrigGes dos direitos fundamentais. Finalmente, agradecemos & parceria amiga e competente do Walter € do Valmor, ambos representando a equipe da Livraria do Advogado Editora. De Lisboa para Porto Alegre, fevereiro de 2009, smente em expansio) Prof: Dr. Ingo Wolfgang Sarlet Agradecimentos (1? edigao) Ainda que cada obra cientifica exija de seu autor um considerével dispéndio de tempo, além de persisténcia e uma vontade firme ¢ direcionadada, isto nao signi- fica que tenha sido elaborada sem qualquer tipo de contribuig2o, direta ou indireta. Também este trabalho nao pretende (nem poderia) constituir excegdo & regra, raziio pela qual se impde seja rendida a justa homenagem ao expressivo nimero de pessoas que ofereceram a sua colaboracao. Deixar de referi-las nesta oportunidade significa- ria desconsiderar a importancia da contribuicao recebida. Uma vez que o trabalho, ainda que de forma meramente parcial, deita raizes na tese de doutoramento por mim escrita a0 longo dos anos de 1995 e 1996,' nao poderia deixar de ressaltar, neste contexto, a figura impar de meu orientador, Prof. Dr. Heinrich Scholler, Catedrético de Direito Constitucional, Administrativo ¢ Filosofia do Direito da Universidade de ‘Munique, a quem devo a orientacao sempre presente e segura, intelectualmente esti- mulante € receptiva a posigdes por vezes divergentes. Ao estimado Mestre e amigo Prof. Dr. Juarez Freitas, que me proporcionou a inestimavel honra de prefaciar esta obra, enderego a mais profunda gratidao, tanto pelo fato de ter assumido, desde o infcio da redaco da tese de doutoramento, a co- orientagdo do trabalho (de modo especial, da parte nacional), quanto pelas preciosas sugestées € estimulos, acrescendo-se a sua decisiva contribuigo no ambito de mi- nha trajet6ria académica. No Desembargador e Prof. Dr. Ruy R. Ruschel, que me acompanha desde que fui seu aluno no curso de pés-graduagiio em Direito Politico na UNISINOS, e que, além disso, integrou a banca examinadora do concurso para professor de direito constitucional nessa Universidade, hoje j4 decorridos mais de 11 anos, encontrei um interlocutor sempre interessado e incansdvel na discussaio dos originais da tese e desta obra. Ao Desembargador e Prof. Sérgio G. Pereira, expresso 2 Cumpre referir, a tfulo de esclarecimento, que a tese de doutoramento apresentaéa em julho de 1996 pelo autor na Universidade de Munique, Alemanha (Ludwig-Maximilians-Universiti), versou sobre “A Problematica dos Dircitos Fundamentais Socisis na Constituic20 Brasileira de 1988 e na Lei Fundamental da Alemanha - um Estudo de Direito ‘Comparado”, tendo a argligio oral ocorrido em dezembro de 1996. A tese foi publicada sob o titulo “Die Problema tik der Sovialen Grundrechte in der brasilianischen Verfassung und im deutschen Grundgeset2", pela Editora Peter Lang Verlag, de Frankfurt, Alemanha, em fevereiro de 1997, na série “Escritos Universitarios Europeus", com um total de 629 piginas. Na presente obra, alim de terem sido excluidos diversos capitulos especificamente ligados 20 problema dos direitos fundamentais sociais e do Estado social de Direito, de modo especial na Alemanha, foram in- Clufdos diversos capitulos novas, versando sobre aspectos que no foram abordados na tese. Os demais capitulos da tese foram reformulados substanciaimente, procedendo-se. ademais. 3 inclusio de referéncias bibliogrficas € plos extraidos do direito expantol, além de outras fontes de consulta. Além disso. atualizou-se a bibliografia nacional sobre os temas versados, considerando-se as principais obras surgidas no decorrer do ano de 1997, 6 meu reconhecimento pelo tempo dispendido na criteriosa leitura da primeira versio do texto, bem como pelo constante apoio e sugestdes recebidas. A todos os mestres nominados, devo o exemplo de grandes professores, intelectuais e, acima de tudo, seres humanos, na mais nobre acep¢ao do termo, As contribuicdes recebidas nao se limitam, contudo, a esfera da confeceao pro priamente dita do trabalho escrito. Assim sendo, nao poderia deixar de referir aqui o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Jénior, cujo estimulo ¢ apoio foram decisives para que a meta do Doutorado, iniciado ainda antes de meu ingresso na Magistratura, pu- desse tornar-se realidade, Aos Desembargadores Décio A. Erpen, Milton dos Santos Martins, Adroaldo Furtado Fabricio, Guilherme Castro e Clarindo Favretto, devo a concessiio da licenga especial para aperfeigoamento no exterior, bem como o actimu- lo de férias regulares sem as quais a realizacio da pesquisa ¢ a redagio da tese, assim como a argiligdo oral, nao teriam sido concretizados. Pela confianga depositada na minha pessoa, sou-lhes profundamente grato, sentimento este que torno extensivo a0 Poder Judiciério do Rio Grande do Sul, que tenho a honra ¢ o privilégio de integrar, Porto Alegre, janeiro de 1998. Abreviaturas A.E, Pérez Lufio, Derechos Humanos. A. Bleckmann, Die Grundreehte AICRIS, AK Fell AR BDA BK BMI BVerfG ByerfG und GG I BVerfGE BVerwG BVerwGE cr Canotilho. Constimicdo Dirigente ‘Canotilho/Moreira. Fundamentos cpccr cDTFP ppc cRP Dov DVBL cr. EuGRZ F.Piovesan. Protecto Judicial Gs HBSIRI-V- VI- VI HbVR inc. ». Derechos Humanos, Estudos de Derecho y ed. 1995. sr A. 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Grundrechte R. Barbosa, Commentirios Ie V RT par. ‘Schmidt-BieibuewKlein incisos J, Miranda. Manual de Direito Constitucional, vol. I, 2*ed., Coimbra, 1988, ¢ vol. LV, 2 ed., Coimbra, 1993, J. A. da Silva. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, P ed., Sao Paulo, 1982. J. L, Barroso. 0 Diseito Constitucional e a Efetividade de suas Normas, 3*ed., Rio de Janeiro, 1996, J.C.S, Gongalves Loureiro, © Procedimento Administrative ‘entre a Efciéncia e a Garantia dos Particulares, Coimbra, 1995. Juristische Arbeitsblatter HLD. Jarass/B. Pieroih. Grundgesetz fir die Bundesrepublik Deutschland, Kommentar, 3 ed, 1995, Juristisene Ausbildung Juristsche Schulung Juristemzeitung. K. Hesse. Grundziige des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, 20" ed, Heidelberg, 1995, K. Stern, Das Siaatsrecht der Bundesrepublik Deutschland, vol. , 2 ed. Munchen, 1984, K. Stern, Das Staatsrecht der Bundesrepublik Deutschland, vol. 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Revista Brasileira de Estudos Politicos Revista de Direito Constitucional e Ciéncia Politics Revista de Estudios Politicos Revista de Direito Administrative Revista Espafiola de Derecho Constitucional Revista del Centro de Estudios Constirucionales Revista de Direito Publico Revista do Tribunal Regional do Trabalho da &* Regio Revista Forense Revista de Informacdo Legislativa Revista da Procuradoria-Geral do Estado de $i0 Paulo Revista dos Tribunais Revista Trimestral de Direito Publico Revista Trimestral de Jurisprudéncia Revista do Tribunal Superior do Trabalho seguintes pardgrafo B. Schmidt-BleibrewP. Klein, Kommentar zum Grundgesetz, St ed., Neuwied, 1995. vide (veja) Verw Arch. ‘Vieira de Andrade. Os Direitos Fundamentais von Mangol/Kein von Miinch fl von ManchyKunig 1 von Miinch’Kunig I vypsit ZRP Verwaltngsarchiv J.C. Vieira de Andrade. Os Direitos Fundamentals na ‘Constituicao Portuguesa de 1976. Coimbra. 1987. H, von MangoldVvF. Klein. Das Bonner Grundgesetz, vol. I 3¥ed.. 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Com efeito, existe imbricacio intensa entre o prinefpio da legitimidade e 0 resguardo juridico da pessoa em sua esséncia, porque, esté claro, os princfpios fun- damentais constituem-se mutuamente e jamais devem se eliminar. E dizer, a preocu- pagao objetiva com a eficdcia dos direitos fundamentais identifica-se com aquela de querer, verdadeiramente, respeitado 0 nosso Estatuto Fundamental, interpretando-o e, em simnltanea medida, coneretizando-o adequadamente. Destarte, em face da elevada hierarquia dos valores em tela, mister que toda a interpretagao principialista dos direitos fundamentais tome na devida conta o im- perativo de Ihes conferir e outorgar a maxima aplicabilidade, pois de nada adianta que permanegam como exortacdes abstratas ou construgdes fadadas ao limbo, quicd numa falsa homenagem & suposta reserva do possivel, que, 4s vezes, apenas revela contumécia na resisténcia & incluso de todos os seres humanos no chamado “reino dos fins”, isto é, no reino da dignidade, que veda qualquer “reificagao” O livro, que tenho a honra de prefaciar, apresenta-se fiel & aludida procura da maxima aplicabilidade concreta dos direitos fundamentais. Seu autor, nitidamente, almeja contribuir, de modo efetivo e sério, para alcangarmos um patamar superior em termos de eficdcia dos mais nobres direitos. Por todos os motivos, merece ser lido com atengao e respeito, por se tratar de jurista que desponta com a excelente promessa de desdobrar e de fazer avancar, criticamente, o estudo do tema pelo qual nutre, mais do que interesse, afeigao e zelo. Neste diapasdo, convém ressaltar alguns dos méritos do trabalho, que tive a feliz ocasiao de acompanhar em todos os seus pasos. Entre os aludidos méritos, avulta, de inicio, 0 cuidado de bem examinar 0 modo pelo qual o nosso sistema constitucional albergou os materialmente abertos direitos fundamentais, enfrentando as graves dificuldades de efetuar um esbogo de teoria ge-~ ral constitucionalmente adequada, que evite, 20 mesmo tempo, qualquer reducionis- mo € a exacerbada ontologizagio do Direito posto. Ao lado disso, ao desvendar as miltiplas dimens6es dos mencionados direitos e apés revelar a evolugio do processo de positivac’o dos mesmos, ousou oferecer convincente visio a respeito do alcance do art. 5°, § 2°, da nossa Lei Maior, flagrando a insofismAvel eleicao do conceito material de direitos fundamentais pelo constituinte originario. Cuidou, outrossim, de prescrever critérios, de certo modo pragmatticos, para emprestar determinaciio a con- ceito assaz aberto, sobressaindo. no ponto, a sua abordagem do substancial principio da dignidade da pessoa, o qual, a meu juizo, transcende, por instancias do hist6rico, a proclamada restricdo & perspectiva eminentemente estatal Ainda: em harmonia com o STF, reconheceu direitos fundamentais situados, por assim dizer, fora do catélogo, conquanto detentores de estatuto constitucional formal Rejeitou a existéncia de direitos apenas formalmente fundamentais e, numa louvavel postura teleolégica, conferiu o devido elastério ao art, 60, § 4°, inc. IV, da Carta, fazen- do ver que se encontram, intangivelmente, protegidos todos os direitos e garantias fun- damentais, niio apenas os individuais. Sublinhou, com a necesséria e oportuna énfase, a vineulag2o cabal dos Poderes aos direitos fundamentais, assim como tratou de apontar 05 limites intransponiveis (formais e materiais), cujo respeito faz-se indispensivel para que se evitem retracessos em face de exageros do poder constituinte derivado. Lamentou, de modo perfeitamente compreensfvel, a auséncia de uma explicita protegiio do niicleo essencial dos referidos direitos, similar aquela, em boa hora, alojada no art. 19, 1, da Lei Fundamental alemi. Correto, por igual, ao adotar a avangada postu- ra hermenéutica no sentido de que os direitos fundamentais (expressos ou nao-escritos) no formam um sistema separado e fechado no contexto da Carta, mas, a0 revés, con- figuram sistema aberto ¢ flexivel (admitindo, na mesma linha de Stern, a convergéncia sistémica) e demonstrando ter vivida a fecunda nogao contempordnea de correlagao obrigat6ria e deontolégica entre os prinespios e normas (ou regras) ¢ 0 inafastével subs- trato valorativo desias e daqueles, posigéo que supera os antiquados formalismos estri- tos ¢ adere & angulagao imprescindivel para quem queira perceber a distincia, &s vezes abissal, entre 0 Direito nominal positivo e o mundo palpitante e complexo da vida. 14 a0 fazer a abordagem das perspectivas objetiva e subjetiva dos direitos fun- damentais, parece-me ter bem enfrentado belissimo tema, a exigir, no entanto, des- dobramentos reflexivos, especialmente no tocante & chamada eficdcia irradiante. Idéntica assercao afigura-se cabivel no pertinente & multifuncionalidade dos direitos eA suposta atualidade da posigdo de Jelinek e de sua doutrina dos quatro status, convindo, a esse respeito, aprofundar a critica formulada por Hesse e repensar, ainda mais, 0 status activus. espartilhado que restou no rol dos chamados direitos de defesa. Em contrapartida, registre-se que, embora suméria, a apresentaco das diversas ca- tegorias de direitos individualmente considerados é das mais claras ¢ instigantes das encontraveis na literatura nacional. : De sua vez, sua proposta de definicao dos direitos fundamentais, afinada par- cialmente com a de Alexy, apresenta o persuasive mérito de agasalhar, com igual én- fase, a fundamentalidade, seja sob o aspecto formal, seja sob o prisma material mais promissor. Afinal, como salientou Paulo Bonavides, em estudo memordvel sobre a interpretaco dos direitos fundamentais, so esses direitos a ConstituigZo mesma em seu méximo teor de materialidade, Justamente consoante tal ordem de consideragdes, parece Kcito asseverar que, & base do conceito esposado, toda discrigio, piblica ou privada, haverd de estar juridicamente vinculada, formal e materialmente, aos direi- tos fundamentais, ao menos em sistemas jurfdicos democraticos, abertos ¢ unitérios. Adentrando na tematica de fundo, 0 autor resolveu aderir & concepgiio classica (por assim dizer) de eficacia juridica, em que pese sua aparente resposta pluralista &8 perplexidades e matizacdes trazidas pela defasagem entre o positivado e 0 que testa a ser construido em matéria de direitos fundamentais. Sem embargo, fez consistente e valiosa interpretago do art. 5°, § 1°, da Lei Maior, de sorte a realgar o significado ¢ a extensdo da aplicabilidade imediata, sempre no desiderato de imprimir a maior efi- cacia posstvel aos direitos fundamentais. Nesta vertente, sobe de ponto 0 seu estudo a propésito dos direitos sociais constitucionais o concernente aos limites da reserva do possfvel, assim como merece destaque o tratamento seguro que oferece a vincu- lagdo do Poder Judiciério aos direitos fundamentais (ndo apenas por desvendé-los, mas por constitui-los, decisiva ¢ prudentemente), bem como & denominada eficacia privada ou horizontal e, também, & protecdo contra a eventual ago corrosiva prota- gonizada pelo constituinte derivado. Em todos os casos, evidente 0 espago reservado, conscientemente, para ulteriores meditagGes, dada a clareza quanto 2 alta significa- do da matéria, notadamente a que envolve as limitagdes formais e materiais (inclu- sive implicitas) A reforma e a discussao a respeito do conceito de niicleo essencial, a requerer, por certo, a densificacao de reflexes atentas a interpenetragao de assuntos correlatos, tais como o neocontratualismo e a temdtica da justiga, que fugiriam & acer- tada limitago metodolégica da presente obra. contudo j4 suficientemente notavel e imponente, inclusive pelo que, de modo deliberado, estimula e sugere em termos de desenvolvimento futuro dos temas enfrentados. Por tudo, neste momento em que redirecionamos o olhar, em tons comemo- rativos e inquietantes, para a Declaragdo Universal de 1948, urge que tenhamos a convicgao — fortalecida pela leitura deste trabalho — de que a igualdade em dignidade e direitos segue, mais do que nunca, como algo a ser edificado. Trata-se, sem divida, de uma meta suprema, que consiste em aleangarmos, corajosamente e sem escapis- mos, uma lidima maioridade civilizatéria, na qual devemos seguir depositando nos- sas melhores esperancas. Em outras palavras, a eficdcia dos direitos fundamentais apresenta-se como 0 mais inadiavel ¢ portentoso dos desafios, em especial para os que assimilaram a cidadania como direito a ter direitos (H. Arendt), mas, acima de tudo, como diteito a ter direitos intangiveis. Neste contexto, o livro do eminente colega Dr. Ingo Sarlet, sem cair numa pos- tura irracionalmente decisionista, vem prestar uma relevante e benfazeja contribuicao para que se instaure, entre nés, um clima de didlogo realizador e produtivo entre aqueles que, lidadores com o living law, anelam, de fato e de direito, promover mar- cantes e profundos avangos éticos e humanitarios. Oxald alcance realizar tal superior desfgnio e sitva para despertar ou fomentar as consciéncias para & grandeza e para a urgéncia do referido desafio de guamecer e viabilizar, expansivamente, os direitos fundamentais, no intuito de, vez por todas, lancarmos os alicerces dinimicos de um milénio sem a crueldade e 0 inusitado barbarismo que foram lamentaveis tdnicas e constantes no ciclo que ora finda, Um novo milénio em que se conquiste 0 pleno flo- rescimento de nossa fundamental dignidade, aquela que, quando respeitada, faz, de todos e de cada um, os verdadeiros e tinicos legitimadores do Direito Positivo. Enfim, um milénio no qual possamos nos sentir em casa, ainda neste mundo Prof. Dr. Juarez Freitas Professor do Mestrado de Direito da PUCIRS, de Dizeito Administrative da UFRGS da Escola Superior da Magistratura-AIURIS, Sumario Notas introdutérias . 2 1 Parte O sistema dos direitos fundamentais na Constituigio: delineamentos de uma teoria geral constitucionalmente adequada . 25 1. A problematica da delimitagao conceitual e da definigdo na seara terminalégics a busca de um consenso . cee : 2 2, Perspectiva hist6rica: dos direitos naturais do homem aos direitos fundamentais constitucionais e a problemética das assim denominadas dimensdes dos direitos fundamentais, 7 viene : 36 2.1. Consideragdes preliminares 00 36 2.2. Antecedentes: dos primérdios & concepslo jusnaturalista dos direitos naturals, e inaliendveis do homem ......... veceeeeeee : 37 2.3. O processo de reconhecimento dos direitos fundamentais na esfera do direito positive: dos direitos estamentais aos direitos fundamentais constitucionais do século XVI 4 2.4 As diversas dimensbes dos direitos funtamentais su importiocia ns tapas de sua positivagdo nas esferas constitucional e internacional cece AS 3, Dieitosfundamentais e ConstnucBo: a posigho e o significado dos direitos fundamentais na Constituigao de um Estado Democrético ¢ Social de Direito - peeeeee eSB jo de 1988... . : 63 4. A concep¢io dos direitos fundamentais na Constiti 4.1. O catdlogo dos direitos fundamentais na “Constituigao-Cidada” de 1988 68 4.2. A nota da “fundamentalidade” formal ¢ material dos direitos fundamentais na Constituigio de 1988 : sed 4.3. 0 conceito materialmente aberto de direitos fundamentais no direito constitucional positivo brasileiro . 8B 5. A perspectiva subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais, sua multifuncionalidade e classificagao na Constituigao de 1988 ; 141 5.1. A dupa perspectva dos direitos fundamentis na condo de norms objeivase direitos subjetivos: significado e alcance 141 5.2. A multifuncionalidade dos direitos fundamentals e o problema de sua classificagio nna Constituigio . : 135 6. Os direitos fundamentais e seus titulares 208 6.1, Notas introdut6rias: a distingdo entre titulares e destinatérios dos direitos e garantias fundamentais — aspectos conceituais e terminolégicos cece 208 6.2. O principio da universalidade e a titularidade dos direitos fundamentais .. 209 6.3. A pessoa natural como titular de direitos fundamentais: generalidades 210 6.4. Direitos dos estrangeios e a relevancia da distin. ce niio-residente . entre estrangeiro residente 6.5. O problema da titularidade (individual e/ou coletiva?) dos direitos sociais............... 214 66, Caso especie dite do embrido co problema da tiuaridade de dito Fndamentis nos limites da vida e post mortem - vecceeees 219 67. Pessasjurdicas como ttulares de direitos fundamentas an oz 68 Diseitos dos animais ede outros sees vivos? O problema da titularidade de direitos fundamentais para além da pessoa humana - 224 7. Deveres fundamentais . ponedeoBsonouEsd0H so5sud00 + 226 7.1. Notas introdutérias 226 12. Tipologia dos deveres fundamentais ses 2B -.229 7.3. O regime juridico-constitucional dos deveres fundamentais, 2 Parte 0 problema da eficdecia dos direitos fundamentats . : 1 Inrodugo: colocagio do problema edisting6es nas seaas conceitualeterminol6zica 2. A problemética da eficdcia das normas constitucionais em geral no ambito do direito constitucional brasileiro: principais concepgdes ¢ tomada de posigo pessoal ......++ 2.1. As concepgoes cléssicas votes : 2.2. A critica da concepedo clissica de inspirago norte-americana e sua reformulagao: resenha das principais concepgdes na literatura jurfdica nacional .........+.. 2.3, Sintese conclusiva e posigao pessoal 3. A cficdcia dos direitos fundamentais, 3.1. Consideragies introdutérias . 3.2. A aplicabilidade imediata (direta plena eficdcia das normas definidoras d de direitos fundamentais: significado e aleance do art. 5°, § 1°, da Constituigao de 1988 261 3.3. A eficdcia dos direitos fundamentais propriamente dita: significado da lidade imediata para cada categoria dos direitos fundamentais . cee UB 34. A efieéia do direitos sociais na sua dimensio prestacional como problema especitico .. 280 3.5. A vinculacdo do poder piblico dos particulares aos direitos fundamentais «365 4.A protegdo dos direitos fundamentais em face de suas restrig&es: ambito de protecio, limites € limites aos limites dos diteitos fundamentais, com destaque para a protecao em face da atuaco do poder de reforma constitucional e da assim designada proibigdo de retrocesso... 384 4.1. Consideraghes introdutérias .......- : ceseeseees 384 eee —— err 4.3. Direitos fundamentais e reforma da Constituigio: a eficécia “protetiva’” dos direitos, fundamentais contra a sua supressio e erosdo pelo Poder Constituimte Reformador ....... 405 4.4. Direitos fundamentaise proibigfo de retrocesso 433 Conclusto.........+. . 459 Referéncias bibliograficas nopsonuobor a sonobieconnspotinggn - 461 indice geral ... - 489 Notas introdutorias Que os direitos fundamentais constituem construgdo definitivamente integrada ao patrimdnio comum da humanidade bem o demonstra a trajetéria que levou A sua gradativa consagracao nos direitos internacional e constitiicional. Praticamente, nao ha mais Estado que nao tenha aderido a algum dos principais pactos internacionais (ainda que regionais) sobre direitos humanos ou que nao tenha reconhecido ao menos um néicleo de direitos fundamentais no Ambito de suas Constituigdes. Todavia, em que pese este inquestionavel progresso na esfera da sua positivagao e toda a evolu- 40 ocorrida no que tange ao contéudo dos direitos fundamentais, representado pelo esquema das diversas dimensdes (ou geragdes) de direitos, que atta como indicativo seguro de sua mutabilidade hist6rica, percebe-se que, mesmo hoje, no limiar do ter- ceiro milénio e em plena era tecnolégica, Jonge estamos de ter solucionado a mirfade de problemas e desafios que a matéria suscita. Neste contexto, segue particularmente agudo 0 perene problema da eficdcia ¢ efetivacao dos direitos fundamentais, de modo especial em face do ainda niio supe- rado fosso entre ricos e pobres.* Além disso, ha que lembrar as agressGes ao meio ambiente, as manipulagdes genéticas, os riscos da informatica e cibernética e a fragi- lidade da paz em se considerando os “progressos” da indistria bélica, notadamente no campo das armas nucleares e quimicas. Nao menos gravosos, assumem relevo os problemas ocasionados pela crescente instabilidade social e econdmica e pelos fana- tismos de cunho religioso e politico. Paradoxal (mas compreensivelmente), em mui tos paises que consagraram formaimente um extenso rol de direitos fundamentais, estes tém alcancado o seu menor grau de efetivagdo. Cumpre referir, por oportuna, a adverténcia atualissima de Pierre-Henri Imbert, Diretor de Direitos Humanos do Conselho Europeu, apontando para a simultinea multiplicagao dos tratados e meca- nismos destinados a proteco dos direitos fundamentais, e o paralelo recrudescimento de suas violagGes, de tal sorte que, por ocasidio da Conferéncia de Viena, recordou-se que mais da metade da populagio mundial se encontrava privada de seus direitos fundamentais. A propésito, a Declaragdo Universal dos Direitos Humanos da ONU, em que pesem os notiveis avangos a que se chegou desde que foi proclamada, em 10 deste fosso entre ricos € pobres que nos fala E. Hobsbawm, A Era dos Extremas, p. 540. salientando-se, a este respeito, que, no que diz com os reflexos para a problemstica da efetivagio dos direitos fundamentais, o abismo da diferenca econ6mica nto se refere apenas & divisio entre paises desenvolvidos e subxlesenvolvidos, mas também as gritantes diferencas econdmicas entre as classes alta e baixa, como resultado da injusta distibuigo de renda no Ambito da economia interna dos paises em desenvolvimento. 3.Cf. PH. Imbert, n: A.E, Pérez Lutio (Org). Derechos Humanos y Constitucionalismo Ante el Tercer Milenio, ICACIA DOS DIREITOS FUNDAMENTA'S 21 de dezembro de 1948, ainda constitui mais esperanga que realidade para a maior par- te dos seres humanos. J4 por este motivo, a preocupacao com o estudo dos diversos problemas que so inerentes aos direitos fundamentais representa, por mais modesto que seja o seu resultado, uma atitude concreta na busca de sua superagao. O estudo dos direitos fundamentais implica, contudo, necessariamente, uma to- mada de posigao quanto ao enfoque adotado, bern como no que diz. com © método de trabalho. Hé que optar por uma (ou algumas) das miltiplas possibilidades que se oferecem aos que pretendem se dedicar ao enfrentamento de téo vasto e relevante universo temético. Neste sentido, podemos tomar como ponto de partida a liga0 do jurista lusitano Vieira de Andrade, ao referir que os direitos fundamentais podem ser abordados a partir de diversas perspectivas, dentre as quais enumera trés: a) perspec- tiva filos6fica (ou jusnaturalista), a qual cuida do estudo dos direitos fundamentais como direitos de todos os homens, em todos os tempos e lugares; b) perspectiva universalista (ou internacionalista), como direitos de todos os homens (ou catego- rias de homens) em todos os lugares, num certo tempo; c) e perspectiva estatal (ou constitucional), pela qual os direitos fundamentais sao analisados na qualidade de direitos dos homens, num determinado tempo ¢ lugar.' Cumpre lembrar, todavia, que a trfade referida por Vieira de Andrade nao esgota 0 elenco de perspectivas a partir das quais se pode enfrentar a temética dos direitos fundamentais, j& que niio se pode desconsiderar a importancia, ainda mais nos tempos atuais, das perspectivas sociol6- gica, histérica, filos6fica (de longe niio limitada ¢ identificada com o jusnaturalismo), ética (como desdobramento da filoséfica), politica e econdmica, apenas para citar as mais relevantes. Cada um destes enfoques, ainda que isoladamente considerados, suscita uma enorme gama de aspectos e problemas especificos passiveis de andlise. Vale dizer que, também nesta seara, os tinicos limites residem, em tltima andlise, no alcance da criatividade e da imaginagdo humanas e no universo de abordagens que esta pode gerar. Sem perder de vista a inequivoca e necesséria interpenetragio entre as diversas perspectivas referidas, e desde jd reconhecida a relevancia de todas elas, optamos por centrar nossa atengéo na dimensio concreta dos direitos fundamentais, tais quais se encontram plasmados na érbita do direito constitucional positivo (perspectiva estatal, portanto), com énfase particular no Direito patrio. Em suma, 0 que se pretende neste estudo € estabelecer uma relagao mais préxima com algumas das principais questdes relativas & problematica dos direitos fundamentais na nossa Constitui¢ao De modo especial (¢ 0 titulo da obra jé o sinaliza), é no problema da eficécia dos direitos fundamentais na nossa ordem constitucional que iré desaguar a nossa in- vestigagio, consignando-se, desde jé, que é nas diversas facetas da eficécia juridica, como precondigao da propria efetividade (ou eficdcia social) dos direitos fundamen- tais que iremos centrar as atengdes, conquanto, por vezes, ndo poderemos nos furtar de efetuar alguma referéncia aos instrumentos de efetivagao dos direitos fundamen- tais. Antes, contudo, de adentrarmos 0 exame da problematica da eficdcia (segunda parte), nao poderiamos deixar de, na primeira parte desta obra, dedicar — ap6s breve nota historica ~ algumas paginas ao exame do sistema dos direitos fundamentais em nossa Constituigao, no Ambito do que se poderia denominar de elementos rudimen- tares de uma teoria geral constitucionalmente adequada, até mesmo pelo fato de que "CEC. Vieira de Andrade, Os Direitos Fundamentais, p. 1 ess 22 INGO WOLFGANG SARLET

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