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O autor apresenta as opcbes ou oriemtacdes eclesioldgicas que a CNBB foi tomando ao longo dos seus cinguenta anos. Partindo dos elementos histéricds da fuundagéo da Conferéncia (1952), analisa os elementos sécio-culturais e eclesiais que, na década de 60, possibilitaram 0 emergir da onda comunititia. Esse fato vineula-se com a dificil situagio enfrentada pela sociedade brasileira durante 0 govern militar ea opcao profitica da Igreja no Brasil por libertagéo e justia, expressa, sobretudo, pela opsio pelo povo pobte & pelo interior fesquecido, Dagui, desenvolve-se uma ectesiologia consequente con ‘as opeaes do episcopade latino-americano nas assembléias de Medellin (1968) e Puebla (1979), explicitada por uma evangelizagio libertadora. Mas nos anos 90, @ sociedade apresenta novas caracteristicas, que constituem os novos desafios para a Igreja. Nesse ‘quadro, os novos desafios soman-se aos problemas mio resolvidos, como a questo do casamento dos padres e a relagio entre ministros ontenados e nio ordenados. Mudangas na sociedade, na Igreja ¢ na cestrutura interna da prépria CNBB (como a renovagio do episcopado © 0 novo Estatuto) mostram 0 momento atual caracterizado pela lexpectativa ¢ perplexidade. E dificil responder a interrogagdes como: manterd a CNBB @ fidelidade as opcdes eclesioldgicas dos anos 70. 80? Qual serd a eclesiologia assumida? Que rumos a nova geragéta dard @ CNBB? Temos por enguanto, as interrogacdes, A CNBB e a Eclesiologia a0 longo de cingiienta anos (1952-2002) Alberto Antoniazzi ey _ Alberto Antoniazzi i CENBB © a Eclesiologia ao longo de eimgulenta anos (1952-2002) Te ‘Tratar da “eclesiologia dat CNBB”, como me foi proposto, é uma tarefa demasiacamente grankle para © tempo € © espago de que disponbo. Por isso, prefiro falar de “A CNBB ea eclesiologia’,limitanclo-me a sugevit as opgdes ‘ou orientagies eclesiolgicas que a Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil, 4 CNBB, foi tomando so longo dos eingllenta anos. Nao tenho a pretensio de ser exaustivo, mas apenas procuro apontar Fatos signi A fundagao da Conferéncia (1952) A CNBB foi fundada, como se sabe, em 14 de outubro de 1952, 0 principal autor da idéia e dos passos necessérios d constituigio da Conferéncia foi Dom Helder Camara’, Ele se inspirou na experiéncia e se apoiou, de fato, no pessoal e nas estruturas jéexistentes da Agio Catdlica, a primeira organizagiio catélica de cunho realmente 1: Esté implicito neste ato uma eclesiologia, que ndo é a eclesiologia “universalista” entio predominante, ua forma da eclesiologia da Igreja “sociedade perfeita”, que se coloca acima dos Estados (modernos). As Conferéncias Episcopais nascem quando 0 episcopado de um Pais se acha diante de um Estado liberal, separado da Igreja, que ndo reconhece mais a superioridade desta ¢ nio admite a teligiao catslica como “religito de Estado”. ‘Ao conttirio, num regime de liberdade religiosa, considera a Iyreja Cat6lica uma das tantas religides que os cidados podem escolher ‘A primeira Conferéncia Episcopal foi fundada na Bélgica em 1830, ‘exatamente apds a revolugio “liberal” que dew independéncia aquele Pais Seguiram a Conferéncia Episcopal da Alemania (1848, ano deoutrasrevolues Tiberais), da. Austria (1849) dos Pafses dominados pela Austria (mas cujos bispos se reuniram separadamente: Hungria e Lombardia, seguida por outras regidesitalianas), da Irlanda (1854), No Bras, depois da proclamagio da Repiblica (1889) e da quase imediata separagio de Igreja e Estado (janeiro de 1890), houve reunives de “Pra otcashistrcas sobre esta fend, Gervisi Femandes de QUEIROGA. CNB = Connuhane Cormspenslidade, Edges Vaalinas, S Pao, 1977, 303 pp £, mais bevernente, ‘aconferécia de dom vo LORSCHEITER, Jabilew de Owo da CNB, presenta na 40" Assen ‘Gera da CNBB (lai, 102 19 deabril de 2002). Cf, Nelson PILETTI ~ Waller PRAXEDES, Dew Helder Camara, Ene 0 poder € profecia, Aiea, SPaul, 197, p. 178198; Marina BANDEIRA, A Ipreja Cadliea na Vira da (Ques Social {1980-1954}. NoveEDUCAM, PetipiRo de Fane, 2000, 2205s °C. Giorgio FELICIANI, Le Canjernce Episcopal: Bologna, Mulino, 197, 592p. (ct cspeciahnentep 15ess). 4 pisos, carts coletivase até um Conetio Plensrio brsiteiro (1939), mas s6 gs se deram as condiges para evar a estrtura estvel e permanente de om HConfencia Nacional. E signfieaivo que isto acontega num momento um geo Brasil ceforga sua unidade nacional estabelece de to relagdes m crane entteestados € provincia até entio bastane afatados, A politica de areeiio Vargas (1950-54) e sobretudo de Juscelino Kubitscek (1955-60), cjo Ginboto sets Brasilia, mostra com evidéncia 0 ideal nacionalista daqucle momento Do ponto de vista eclesiolsgico, é significative que os Bispos ~ fundando a Conferéncia —caminhem de fato para um exereicio da colegialidade episcopal, {que sera fundamentado e incentivado pelo Coneflio Vatieano HI (1962-1965) Com a constituigio “Lumen Gentian, e para uma presenga da Igreja na Sociedade, que a “Gaudium et Spes” orientard. Além disso, é claro que a Conferéncia Nacional se volta para a Igreja local, com suas proprias especificidades, deixando em segundo plano uma visio demasiadamente labstrata e geral da Igeeja, centralizada em Roma. ‘Um dos primeiros frutos da organizagio da Conferéncia € a adogio da “pastoral de conjunto” e do “planejamento pastoral", novidades dos anos ‘50. “60, incentivadas pelo Papa Jodo XXHI, mas j4 de algum modo por Pio XU. No Brasil, a CNBB publica em 1962 0 “Plano de Emergéncia 2. A “onda” comunitéria Novas mudangas aparecem nos anos °60, uma década particularmente dindmica na historia da Tgreja Catélica, mais ainda no Brasil. Blas estao ligadas a diversos fatores, mas dois me parecem particularmente decisivos no amadurecimento de uma nova concepgao da Tgreja. Trata-se de uma mudanga interna, da mentalidade dos catslicos, e de uma mudanga externa, do quadro politico brasileiro, que estimula a Igreja ase livrar da “concordata moral” e da ‘alianga técita” com 0 Estado, para recuperar sua liberdade profitica, Jo prmeios pass dessa inovages, eja Fe HOUTART, Patol de Conte Plano de Pastoral, "Cone fd, poraguesa), 19653, p, 21-34 Puticado no Cader | da CNBB, Livia Dom Bosco, Kio de nei, 1962, Maiores roca em Maria Carmelita de FRETTAS, Una oppo renavadora, A Igreja no Brasil € PloneoentePastona Loyola, S Paul, 197, 422p. (2 p-95-[37). Dames Autor, soreevants ss veflexdes soe a impteages oldies do plejaneno pastoral, Jesenvelvidaspincpalmente rovtem'do*alango de ds dea ce planejamento (et. p, 379-401 da esi ob) " Paratiaseand 9 “so” de Jesceino Kebiseck (ingen anos em cinco”, poderseia izerquea leeja no Dsl, os dcz anos eae 1960 1970, avangacem, aa VCNBB ea fienta anes (1952-2002) clesiologia ao longo de ci Uma nova orientagao eclesiolsgiea, que no Brasil adquiriu um relevo, Inuito especial e mareante, di-se nos anos “60, com aquilo que alguns chamaram ‘a “onda comunitéria”, Trata-se de uma tendéncia comum ao catolicismo nos ‘anos que seguiem imediatamente 0 pontiticado do Papa PIO XII (1958). Em reagdo 2 concepgao vigente da Igreja, estritamente institucional, ndo poucos ceatslicos reivindicam um retorno 2 Igreja das origens, ds pequenas comunidades fraternas, em que os figis so ativamente co-responsiveis pelo testemunho apostolico e pela missio da Igreja". O fendmeno é tanto mais notavel enquanto nio se situa ao nivel da reflexio teolbgica ou dos documentos oficiais, © que poderia expressar apenas a tomada de consciéncia de um pequeno grupo de eclesidsticos ou de intelectuais da Igreja, mas se difunde como uma nova ‘mentalidade no meio das massas dos cat6licos ¢ aparece em miltiplas formas de expressio (novos movimentos, novas tendéncias de velhas associagies, reinterpretagiio da tradigio etc.) da mentalidade e do sentimento coletivo" [No Brasil, como se sabe, isto dard origem as comunidades eclesiais de base (CEBS), Nao € 0 caso de contar aqui a histéria das CEBs, nem deserever sua eclesiologia, o que muitos jé fizeram’. O importante ¢ ressaltar que, segundo pretendem seus promotores, estamos diante de um “modo novo de ser Igrej 1m linhas gerais, percebe-se naqueles anos um novo anscio por uma Igreja “comunnidade missiondria™. Desejava-se uma reaproximagio da Tgreja ‘suas origens; volta a Igreja do evangelho e dos pobres, ou ao menos volta & Igreja antiga, dos Padres, € a uma Igreja nio identifieada apenas com a hierarquia, mas com o “povo de Deus”. Igreja em que todos sio sujeitos ativos, que participam da missao confiada inicialmente aos apSstolos. Igreja que redescobre e valoriza a dimensiio comunitéria, entendida especialmente como “comunidade de dimensdes humanas”, onde todos se conhecem e sa0 reconhecidos. {A prea espera renovar-se e reconstruir-se a partir de baixo, a partir da base”. a partit de sua insergiio na vida do povo. Este ideal no Brasil é acolhido * Unmainteresane ase deste edmenose erconta nace de Danitle HERVIEU-LEGER, Le pélern ete conver La religion em wowenent Pass, Rammarion. 1999. Mas aessivel 0 antigo da mesma: Dupratgwant au plein L' station catholique a dd la eligi peli Elements dane reson soviologiqu, Etudes (2000), 392, 55-08 "Sone ese ema, ef a ob cada ce Dandie HERVIEU-LEGER (nota 7) ea sua obra antesion, La Religion pr Méonire, Cet, Pais, 1993, 273 p "Cr espcialnte a obras de Faustino Luiz Couto TEIXEIRA, a comes por A génese das CEBS wo Basi Ed, Pas, S Pad, 1986 "tuto de uma obra rottica de G, MICHONNEAU, jer 1985 i i i i 2. 12 assimido no apenas espontaneamente por algumas comunidades eclesinis| tradicionais, como as “capelas” do interior rural, mas se tornou um objetivo explicito do PPC ~ “Plano de Pastoral de Conjunto” (1966-70), 0 primeiro plano assumido oficialmente pela Conferéncia Episcopal". A bist6ria das comunidades de base, que parecem adquirir vida autOnoma nos anos °70, dando origem aos “Encontros Inter-eclesiais” de CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), mistura freqentemente a existéncia de comunidades com raizes na tradigdo (capelas”, comunidades rurais, novos bairtos nas periferias urbanas iormados por imigrantes de origem rural...) com ago de “agentes de pastoral” profissionais (por assim dizer, ou seja, bispos, padres e leigos formados pela ‘Agi Catdlica, as vezes assessores teslogos e socidlogos)”. A meu ver, 0 cexttaordinatio florescimento de CEBs no Brasil, que levou & organizagio de cerca 100,000 (cem mil) comunidades de base no inicio dos anos “90", tem suas origens na conyergéncia de ao menos dois fatores: de um lado, a cexisténcia de comunidades eatélicas tradicionais no interior (até entio pouco assistidas pela Igreja oficial), e, por outro, a ago planejada de uma nova geragio de bispos, padres e leigos (as vezes, intelectuais) inspirada pela Agio catélica ce a celesiologia do Vaticano IL Se esta hipétese pode ser considerada verdadeira, ao menos substancialmente, estarfamos diante de uma atitude da Igreja bierdrquica que, frente as novas tendéncias comunitirias € mesmo anti-institucionais, procura rio combater, mas compreender e valorizar o novo fendmeno (um pouco como a lgreja fez, no século XIII com os movimentos populares ou dos pobres) nele ‘encontrar um estimulo para a sua prépria renovagio. Centamente esta a intengio dos autores do PPC, o primeito grande instrumento de planejamento pastoral da CNBB, No Plano de Pastoral de CE CNBR, Plano de Pastoral de Cont, Rio de Janeiro, Lsraria Dom Bose, 1967.2" ‘57-58. Ap 1970, CNBB no publiou mas plans pastoris, mas conserva fis eas {60 PPCe, a patirde 1975, acadaanos, pubdicou"Diceizes Gerais a Agao Pastoral” (desde 1995, Direuizes Gerais da Ago Evangelivador) Sole planeamento pastoral n Brasil esto mais completo 0 eit: Masa Carmelita de PREITAS, ina ope renovadora A grea no Brae ‘2 Planejamento pastoral, 8. Pao, Loyol, 1997, 471 p. "Sobre a hisria das Cl foi eserto muito: cf. Raimundo Caranuru de BARROS, A Comutidae Ecteve! de Base. Peaspols, Vores, 1967 Jos MARINS, Comunidade Eelesial de tas. Sio Paulo, 1968; Moreelio de Cavalho AZEVEDO, Comunidades evfesiais de base € Ineuturagao de fe. S Palo, Loyola, 1986, 422 ps Faustino Liz Couto TEIXEIRA A Geurse das Cen Bras S.Paulo Ba. Pains, 1987, IDEM, Os Bncons Inerectesiaisde CEBS ao Brasil ‘Saul, Paulinas, 1995, 252 p Baie do (SER, As comunidades de base em questo, Sto Paulo, Patna, 197, 326 p "TICE Rogério VALLE ~ Marcell PITTA, Commies eclesiaiscadieas Resa estaistcos.Petrdpois,Vozes Rio, CBRIS, 1994, 96. Alberto Antoniazzi ENBB ea Eclesiolo) ao longo de cinq Conjunto (PPC) 1966-1970 ~ redigido ou, pelo menos, aprovado na itima sessiio do Coneilio Vaticano IL em 1965 ~ ji se encontra, entre as atividades jropostas na chamada “linha 1” (que tem por objetivo “promover uma sempre mais plena unidade visivel no seio da Igreja cat6lica”), “levar as parsquias a suscitarem e criarem comunidades de bas ie srarantindo-thes uma eoordenagio" ACNBB niio 6, evidentemente, a Autora das CEBs, mas é significativo ‘o-apoio que ela thes deu desde o inicio até anos mais recentes"*. Um menor fentusiasmo da hierarquia, hoje, para com as CEB, nio deveria ser atribuido principalmente ou apenas a uma mudanga de atitude da hierarquia, mas a uma ‘complexa transformagiio da sociedade brasileira ¢ ct. mundo catético, afetado ainda mais fortemente por um processo de desinstitucionatizagio da religio, privatizagio ¢ individualismo!. Por outro lado, o PPC poderia ser eriticado justamente porque valoriz sim, a comunidade eclesial, mas permanecendo numa perspectiva demasiaclamente “eclesiocéntrica”, voltada para dentro. Em termos de Conetlio ‘Vaticano II, poder-se-ia dizer que o PPC da mais importincia & “Lumen Gentiun” do que 2 *Gaudium et Spes”, 2 unidade interna da Igreja que a0 dilogo com 0 mundo". Mas os anos seguintes mostrarao que a CNBB nfo deixou de empenhar-se fortemente nas questoes sociais. E o fez também cestimulada pelas mudangas da sociedade e especialmente da potitica 3. Amudanga do regime politico e suas conseqiiéncias ‘Como se sabe, a implantagio em 1964 do regime autoritério pelas Forgas Armadas condicionow a ago da lgreja na realidade brasileira. Os fatos ~ a0 “CLL CNBE, Plano de Pastoral de Conjunto 1966-1970, Livratia Dorn Boseo, Rio de Soncito, 1967, 2, p58. Nap, $7 se explicao que seria as “tome daes de base” "Paki documento da CNBR dticadoexpitament fs CED éx Carta da Assen ia he 1985 ff. Doenmenton de CNB. 0°33) tacul ster questo yu agora no fms coadigbes de ise — des “movies” Sob esto nome, entendem sen Brasil desde os anos "8 ~ 0s movimentos de tipo espirtal o8 tomatoe, gratmente de eater tention ois conhecidoeespaad,gucem meados dos hos 50 hegou a eerca de miles de adereates no Basil, é2 RCC ou Renovaeio Carsten ola, Nes movimenton se pode ver um novo tipo de “comunide” nto mais bascad sob & “Gutnnanga outa (coma casode tas CEB), ras em vineuloaetves, emcionas. Sobre sects das "comanidads aes", ef, Danidke HERVIEU-LEGER, Representa os stias ssaetonels eonempordnens fim da seularzacao ou afi da reigido?, *Relgio eSociedak Tt (197), 31-47 Ck nines obscrvagdes em A ANTONIAZ2, Plangjamentpestora-efleerfias «Perspectiva Teoldgiea”, u® 53 (1989/1). 101-10. anos (1952-2002) 1 3 1 Alberto Antoniaza menos em linhas gerais - si conhecidos"®, Apés a “Revolugiio™ de 31 de margo de 1964, os Bispos acolheram com alguma benevoléncia ¢ movimento anti- ‘comunista e até substitusram a lideranga da CNBB® em novembro de 1964, por casio da VI Assembléia da CNBB (em Roma, durante a Il sessto do Coneifio). Dom Agnelo Rossi ¢ dom José Gongalves entraram no lugar do Card. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta e de Dom Helder Camara. Mas 0 proprio endurecimento do regime, sobretudo apos 0 ALS de 13.12.1968, levow (08 Bispos a posigdes sempre mais criticas., especialmente apés a eleigao (1971) {de Dom Aloisio Lorscheider, como presidente, e de Dom Ivo Lorscheiter, como secretiio, No sein do episcopado, as simpatias para com 0 movimento militar € a nostalgia da alianga com o poder civil foram minguando, na medida em que as promessas de “democratizagao” cram desatendidas e, a0 contrario, a repressio se tornava mais violenta © 0 uso da tortura, mais freqllente. Ao mesmo tempo, amadurecia no conjunto da Igreja, a partir de iniciativas pioneiras, depois ‘acolhidas por muitos, uma nova opgo, politica e pastoral, que parecia inverter a tendéncia predominante desde os anos "30, de “concordata moral” com 0 poder civil e de apoio as classes dirigentes. Esta opgdo ~ paradoxalmente induzida pelo regime militar ¢ pela recusa das elites de manter com a Igreja 0 Scompromisso técito” de alianga ~ significa que a Igreja enquanto instituigio renuncia i alianga com as elites e assume mais decididamente a solidariedade ‘com 0 povo™. ‘A nova conseineia dos Bispos € Superiores Religiosos emerge nos documentos de 1973, publicados por ocasido do 25° aniversario da Deciaragaio Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948). Destaca-se 0 documento de alguns Bispos e Superiores do Nordeste, “Eu ouvi os clamores de meu povo”, assinado entre outros por Dom Helder Camara (6.5.1973). Mas em 1973 no °s Recentemente, por, vivant luz documents sole os stores das telagoes etre Jaro € 0 Govermo militat, CL- especialmente Kenneth SERBIN, Diglogns na vombra, Bispos & Milnes: torture jstica social Diadora. Compania das Lets, S Panto, 2001, 566. arb ‘9 Cardcal Dom Paulo Evaristo Arne Dott Wally Caleios, isp de Vota Redd, comtaram em lists st participa ma aa em dese dos tits hua. "Ta como faordvels"relormas de base” ea govern Jo Gout. Desde Rerum Novarunt” e0fimdosdealo XIX, edenforisa pe. abo Maria de Morais CCamsito sustentava ardorosamente que Iga deveria “iostar 20s pequenes, 208 pobres os volts. que eles oars prinios cams pot Divino Mestre, uj ge fog. desde ose {nfo Frsjdo povo stele oespoismn do capitals es da end exig dele no sa ‘ide, mas stig. gfe oraaladr:prctmarbemalionciinete dani do pesto edad de Des, qu Jesus Ces fundou Tat, ndo coma iss, as atstcrais, burgess tase dinastas, mas como povoe para o ovo” (Catliciamo no Brau. Menviria hstvia. Kio de Janeito,Livea do Centon, 1900), CNB oa Felesiologia ao longo de cingllenta anos (1952-2002) todos os bispas esto de acordo com as crticas ao regime”, Devemos esperar 1976, para que o episcopado intciro fiquc abalado por vitios atos ce violéneia cereaja com um contundente “Comunicado Pastoral 40 Povo de Deus", assinado fa Comissao Representativa da CNBB em outubro e seguido logo depois por Exigéncias Cristas da Ordem Politica”, aprovado quase unanimemente pela ‘Assembléia de fevereiro de 1977, Neste documento, © Episcopado toma claramente posigo a favor da democratizagio, que sera completada formalmente 56 em 1985. ossivel notar uma evolugio mais profunda na propria posigio do Episcopado: 0 documento de 1977, Exigéncias Cristis da Ordem Politica, dota o esquetia clissico do Magistério eclesidstico, ou seja, a Ipreja se apresenta ‘como mestra da verdadle ¢ da ética ¢ indica & sociedade, como “mestra”, verdadeira e correta ordem politica, No documento de abril de 1986, da mesma ENBB, Por uma nova ordem constinucional", quando o Pais ests discutindo a nova Constituigio democritica, os bispos nilo pretendem mais falar como “smestres da verdade” no campo ético-politicn, nas como defensores da vontade do pove. ‘Ainda, na “transigéo” dos anos °70 para os "80, devemos lembrar 0 forte apoio da Izreja aos sindicatos, nas greves de 1979-1980 (as primeiras desde 1968), especialmente nas grandes fabricas de automéveis do “ABC” paulista® e a intervengio das Assembiéias da CNBB no debate de grande temas sociais, como lgreja e problemas da terra (1980) ¢ Solo urbanio e acto > Porexemplo, Dom Vicente Scher. card arcebisjo de Porto Alege, 19 de juno “declaraqe “ca ae pina sore politica eae ferido sean docu ds bispos {do Nowdete Opnizo posta minifesta Dom Feande Gomes, acebispo de Geni, poucos dias ‘depois (47-1973), Cf ealegdo Derwent ea CNBB, Ed, Paulas a8 "EL gologia Documenta da CNB. Fl Palins. 10. Se nf oe fala. memo, 36 hou 3 vous contro na vlagi inal da qual prc cerca de 240 bipoo. NC wolegia Dorms da CNB Ea Pains? 36, Sole Iprejae poitea wo Bras ht ‘uma spa biiogvata, na qual se destca Scot MAINWARING, ferja Catia ¢ Potitiea no Irani 1916-1983 rasiicase, S Paulo, 1939. 300. (ed americana, Stanford Univesity Press, T9H0), Sobre o cs 7 ve tami Paulo KRISCHKEe Seal MAINWARING. Igvejasias aes os tenpa de nes (7974 1985), LIM, Pot Alegre, [986,207 p Alberto ANTONIAZZL, Iletay Dent ractan rl a Sergio CORVALAN (desis. fst y Demacaciaem Asisica {Eatin KAD (Santiago, Chile. 1990, p34 363 (om bibiogafa até 1988) 2 Des incase ieraram s grewes de 1979-1980 sia também uma nova Hiden polite, que andou notnsmnoamo de 19790 PF (Pi dos inbaliadones),cujo ies, Lal (Laz Tuiciod Seay opearo mario, secant a Presidente da Repéblica em 1990, 194, 1998 ©2002. 3h pastoral (1982), temas retomados ¢ umpliados nas “Campanhas da Precisaria reler as violentas eriticas de conservadores e tradicionalistas, tanto no campo politico como no religioso, das anos "70, para perceber como a ‘nova posigio da Igreja foi pervebida e eriticada agressiva e injuriosamente, AS cas malévolas e exageraclas conttibuiram, por outro lado, para dar a Igreja feo episcopado uma tnidade maior ea Igreja saiu do tempo da ditadura mititar {como ulna institigao confidvel, uma das mais confisveis do Pais”. 4. A opgao pelo povo pobre e pelo interior esquecido ulta-nos ainda uma boa obra de hist6ria da Igreja deste periodo, para analisar com mais profundidade as mudangas da Igreja no Brasil nos anos “702, Mas isso no nus impede de ressaltar alguns tragos caracteristicos daquela situago, Como resiiltado dos dois fatores assinalados (a “onda comunitaria’” € a mudanga das relagbes com o Estado) ¢ de outros, podemos falar ~ com outtos autores - de uma “mudanga de lugar" da Igreja na sociedade brasileira”. Cortamente « mudanga mais importante & 0 destocamento sécio-politico da Tereja, da alianga com as elites e o poder para uma mais nitida ¢ efetiva solidatiedade com o povo, mudanga que acenamos falando da situagio politica Mas existe também uma segunda mudanga, raramente percebida € ressaltada, que porém nao deixa de ser efetiva e relevante. A Igreja no Brasit, desde o século XIX, se niio desde sempre, & uma Igreja eujos bispos € padres residem nas cidades, mesmo que fagam anualmente longas vingens de A Capa d Bateridade¢ wn capa reaiada na Quaresmaedestinaa tab a coletar conte finances. Inia em 196 o plano nacional, tatow por mus anos de teams catequceen, psa decides tema soasa pa de 1978 Caabalo, (978: ceo} 1999, migrugdcs, (980: sae, 198K; voknci, 198; ome, LORS cera, LOK6; menor, 1987) + Un penis com 8 000 entrevista do HOPE, en mai de 1988, consideravaa lea segunda inatigio sonfavel. logo apis ox sna ef. Veja 20.7198, p. 32-36). Nos dios ‘rus {199.2000 cm pesquizas analogs, 4 Hsjacaiica continua aeupando 02 aga, ats de cola tniversdades (Os indicator perder muito da contiangs de que gozavam nasa 80. Alaura contribu encom ae em Joss Osear BEOZZO. A igre do Brasil, De Jodo Xt Jatt Pa de Medeltina Sante Domingos Nozes, PtrSpots, 1994, 42 py INPLA Pantone da fea no Bras nas anes 70. Wares, Petuspolis, 1994. 224, Cf CulosPALACIO.A lg na sociale, nCPALACIO (oe, Cristiano e Hii. Lung, Paul, 1982, p. 307-350 (sobre oles locate" 326-339) 1 Alberto Antoniazzi NBB © a Belesiologia ao longo de cingllenta anos (1952-2002) “desobrig: as ind © no interior rural ¢ mesmo que muitos missionérios se dediquem ena € morem em suas aldeias. Nos anos °70, dando prosseguimento a esforgos iniciados ainda nos anos ‘50, a Igreja amplia sua presenga no meio rural e assume vigorosamente, ‘e quase sozinha, a defesa dos direitos dos “posseiros” ¢ lavradores pobres. A carta pastoral de Dom Pedro Casaldstiga, “Uma Igreja da Amaz6nia em contlito ‘como latifindio e a marginalizagao social” (10.10.1971), pode ser considerada ‘o manifesto da nova atitude da Igreja. Eo mesmo Dom Casalddliga que convence 26 bispos e prelados da Amaz6nia ¢ Centro-Oeste a reunir-se em Goidnia em jjunho de 1975 ea fundar a CPT, Comissto Pastoral da Terra” E no mesmo ano que se realiza o I Encontro intereclesial das CEBs. Blas também representam uma presenga mais atenta e empenhada da Tyreja dos bispos e dos padres junto ao povo do interior rural, da “roga"’ [Em junho de 1975, Dom Toms Balduino, bispo de Goids, que também seri mais tarde presidente da CPT, assume a presidéncia do CIML, Conselho Indigenista Missiondtio, fundado em 1972. O CIML representa uma vitada na “orientagaio das misses catdlicas e da relagio da Igreja com os fndios, voltando~ se corajosamente para a defesa dos direitos dos indgenas a suas terras e para a dofesa de suas culturas. Todos esses fatos, € as iniimeras agdes que deles decorreram, contribuitam para tornar expressiva a presenga da Igreja no meio rural e 9 interior do Pais, inclusive nas dreas habitadas por povos indigenas ou findios®. © A “desig indica um costume pio do Brasil o padke visita agarose Fuso interior, ua er por ano pats permis is bokdos ou afastados dos pardquas(rtanas) que umpram opreceito da confsso econunto pascal esta ¢proriamente a “desobe an": cumprira ‘hvigagio de cnfessr e comungat, como quer area desde © TV cone do Lato, 1218) ou ‘rotor utos sacraments (bats, matt). ° Comomovimento de Natl, RN, ierado por Dom Bugs de Ara Sales. isp auniiar deste 1954,ccomo MEL entode Educugo de Base (1961, pra alfattizagioruraataves ‘deeseoksradofnicas. CF, Cid Proespo esta de CAMARGO, free Desenvalvinent Sao Paul, CEBRAP, 1071, 218 p Sobre a hist di CPT, cf. VV-AA. A ata pela terra. A Comisto Pastoral da Terra 20 anos depos. $0 Palo, Pale, 197,276 p. Un das hers da CPT €0 Pe. sin Morais Tate, tsnssinadoem 1986. CPT publica ats hoje,anvalmenie, umn eelarosobreawiokecia nocampoe ‘nome dis vias dos panes propria sindicalistas, agentes de pastoral elvadores pes, *Aomesio tempo. aconiecia vin tadanga no recruamento dos seminristsdocesanose ‘eligioos, ben coma de eligiosse eligi. No inal dos ans 70. psa forte crise de ways trite 1968¢ 1975,orecrutarento cresce ao Rtmoanal de 19% eleva apidamente a bear onGmero ‘os setinaists, nas uments poreentagem deseninarsas ecaniatos vida religion de origem rurale de procecia poplar enquana cone ds vocagoes ds clsses mis, prieulcmee ‘is wocagics sects procedenesdeescolase colégoseatiicos. A documenta do Fendmeno tse nos elatris de das pesguiss (a rineivade 1982, segunda le 1993) sobre Situagt e vid ‘dos seminars alone no fra Palo, Bd Palinas (hoje Plus, 1984 195 okey Evdos acne x 40674), ira um modo de a Igreja se aproximar do povo e de pir em pratica xquela “opgio pelos pobres” que esta implicta nos documentos ce Medellin (1968) € foi explicitada em Puebla® (1979). A orientagio “progressista” ou “libertadora” da Tgreja, que emergia cembora nem sempre nitidamente ~ em Medellin’, no Brasil se afirmou mio fmrediatamente, mas através de um processo que durou alguns anos, e do qual ja vimos alguns aspects. Scott MAINWARING chega a dizer que “a parti de 076, 2 lreja brasileira era provavelmente a mais progressista do mundo”. Mas ele mesmo foi entre os primeiros a advertir“o deetinio da Igreja popular”, para 0 qual indica 0s anos 1982-85§. Ainda em 1983, tedlogo Joao Batista Tibanio, com clara intuigto, pereebia que um grande movimento ~ "A volta & trande disciplina’® ~ estava em ato, 2 partir de Roma, para re-orientar a imerpretagio dada ao Coneiio Vaticano Tle submeter mais claramenteas Igrejas Jocais ao poder central 5. A explicitacado dos fundamentos da “evangelizacao libertadora” Durante cerea de dez, anos (1965-1975), « produgio tesriea da CNBB foi escassi!®, O PPC niio recebeu continuidade imediata, embora tenba sido ‘mantido como uma referéncia fundamental. Sobre ele se baseiam as Diretrizes “a lt Conferénia Geral do Episcopado Latino- Americano relia de 24.82 6.9.1968 em Medea (Colma), eonferénia que taduzi o Conetio Vaticano em dretizes pastors para ‘Amica Latina vey Confertcia Geraldo Episcopado Latae-Anericano ci Puebla (Mien), sobre a Brangoizagto. AB cbido que a Conferéncia de Medelin previ 16 documentos de tear bastante divesso {ef-osestulos de E, Dusssle outos). Pacha fez questo de podurirum 6 documento emt ou mal ser interpreta como um conjant, ern solrafinnages particulars Sco MAINWARING, lgreja CatdlcnePoltica na Bras, 1916-1985. Brasiinse, ‘Paula, 1989, 9265. Wet biden. Aobrade S. MAINWARING foi public orginamente nos BUA er 1986, > LIDANIO, Jo Batiste A wot 2 grade spin, Loyola, So Paso, 1983. 182. ‘imsial da retomada da peso intelectual se di quando Dom Ivo, eno Seeetrio Goal inca a pubticase dacoegio "Documents x CNBB rts Eales Patina. O document Te, Testentauhar fe viva em purezaennidade (novembra de 1975} colegio dos docarestos Tecbagorsacesel tem CD-ROM: CNB, Dv wnenfo. ana Muli, $ Pal, 2000 [documentos 1 (1973) 262 (1999). Alberto Antoniazzi CNBE © a Belesiologia ao longo de eingllenta anos (1952-2002) TF Gerais da Agao Pastoral da Igreja no Brasit", publicadas pela primeita vee em 1975, depois que Dom Alotsio Lorscheider e Dom Ivo Lorscheiter assumiram seu 2° mandato, Estas Diretrizes, destinadas a serem renovadas a cada quatro anos, no trazem grandes novidades na I* edigdo, vilida para o periodo 1975-78. Limitam- se a atualizar as “linhas funcamentais de trabalho" segundo 0s objetivos (€ respectivas “linhas”) do PPC. A novidade viré com a2 ecligio das Diretrizes, elaborada em abril de 1979, na 17* Assembléia da CNBB, logo depois da 3° Conteréneia do Episcopado Latino-Americano, a de Puebla. ‘Como foi ressltado oportunamente™ as Direttizes Gerais (DG) contém uma reflexio teol6gica que interpreta o documento de Pucbla, “As DG constiquem uma auténtica releitura de Puebla, em fungao da realidade da Igreja do Brasit™®. De fato, elas assumem, junto com as novidades de Puebla © Medellin, também as aquisigdes fundamentais do PPC. E sobretudo desenvolver uma concepgio dla “evangelizagio libertadora’, mais clara ¢ cozrente que a de Puebla, O nicleo teoldgico das DG pode ser deserito por seis eixos: 1) a evangelizagio como missio da Igrejas 2) prioridade dos pobres na evangelizacao; 3) participagao € comunhao; 4) articulagio entre histéria € escatologia; 5) opgbes pastorais basicas (peo pelos pobres;c os jf citados ‘eixos” da evangelizagao e da comunhio e partcipagio, que determinam as escolhas pastorais coneretas); 6) dirttizes de earéter prético em continuidade ‘com as seis “linhas” do PPC*. Esta perspectiva da ‘evangelizacio libertadora” encontrou alguma resistén t entre os Bispos nos anos seguintes. Se, de um lado, no final dos. anos "70 e inicio dos anos "80 predomina no Brasil - por algum tempo de forma quase exclusiva nas Editoras Catélicas e mesmo nos Seminitios - a “teologia da libertagio™®, ela, porém, por outro lado, é severamente criticada pela Instrugiio da Congregagao para a Doutrina da F&, Libertatis Nuntius, de 6 de agosto de 1984. Uma posigio mais equilibrada e um reconhecimento da necessidade da Teologia da Libertagio aparecem com a instrugio Libertatis Conscientia, de 22.03.1986, com a carta do Papa aos Bispos brasileiros em “CE Documenta dy CNB 4, $ Pao, Ea. Pies 1975, 10, Cf Maria Carmelita de FREITAS, Una ope enavadora,p. 195-244 Ch ibe, 206 © CE iieo p. 215.228 = 3.3.2 Onteleotolgco), © Fist ua ampla teratura a respeta, Pra uma orienago sie, ef... LIBANIO, Teolgia da Libertad (retire didico} Loyol, Pal, 1987, Domnessto Auto, ump esbog> sobre "A caminhada da lgsejana Amica Latina’, encomta-seem grea rontempordines Encot ‘om a modernidade Lola, Pal, 2000, p 19-151 i i j i | | ul fimina” abril de 1986, depois do encontro em Roma que encerrou as visitas de 1985" Na redagiio das Diverrives Gerais, as diferengas aparecem na revisio do -gbjetivo geral”, As diferengas podem parecer ménimas e podem até escapar i bservagao de um estudioso menos atento. Mas quem conhece por dentro a historia da CNBB sabe que a discussio do “objetivo geral” mobilizow as “Assemblgias dos Bispos de 1983 e 1987. Um quadro sinico mostra melhor e ins rapidamente as alteragdes que foram introduzides (e que assinalamos em negrito): OBJETIVO GERAL DAS DIRETRIZES DA AGAO PASTORAL DA CNBB 1979 1983 1987 Evangelzar Evangelizar Asociedade brasileira | povo brasileiro em |O povw brasileiro em ‘em transformagao processo de processo de: lransformagaio s6cio- | transformacao social, ‘econémica e cultural, | econdmica, politica e cultural, Anunciando a plena A pair da opeo pelos | A partir da verdade pobres sobre Jesus Cristo, a | vordade sobre Jesus Igrejaeohomem, | |Cristo,a igreja eo homem, luz da opgao ® luz da evangética preferencial polos opeao preterencial pobres, pelos pobres, Pela libertagao integral | Pela ibertagao integral | Pela libertagao integral do homem ‘do homem, do homem, Numa crescente Numa erescente Numa crescent parlcipagao participagao © partcipagao e ‘comunhao Jcomunhao, ‘comunhao, Visando & construgio | Visando & consttugo | Visando formar 0 de uma sociedade | de uma sociedade —_| povo de Deus e fratema mais justa ¢ fratoma, | participar da ‘construgao de uma sociedade justa e fratema, Anunciando assimo | Anunciando assimo —_|Sinal do reino reina definitive, reino defintivo, dofnitivo. CL LOsear BEOZZO,A Isr lo Bra. 2810s. Alberto Antoniazzi NBB 7 alesofogia no longo de Cinque aos (1952-2002) ie [As alteragbes introduzidas podem, ser consideradas aperfeigoamentos da formulagio original, Esta, contudo, perdeu em brevidade e nitidez, como se a “evangelizagao pela libertagao integral do homem” devesse submeter-se & lum nvimero sempre maior de condighes, se no de restrigées. De qualquer forma, a interpretagito “libertadora” de Puebla prevalece até as DG de 1987- 1990. Em 1991, como veremos, aparecerd uma novidade importante © wma nova perspectiva. 6. O povo de Deus como “sujeito histérico” Do ponto de vista eclesiol6gico, € oportuno acolher as perspicazes observagbes de Maria Carmelita de FREITAS, que buscando “o eixo eclesioligico do Planejamento Pastoral” da CNBB encontra uma das suas ccoordenadas no “povo de Deus como sujeito hist6rico”, Mais exatamente, ela percebe que “a categoria povo de Deus como sujeito histérico comega a. ser introduzida pelo PPC ¢ pelas Diretrizes Gerais da Agio Pastoral de 1975, afirmando-se com as Diretrizes Gerais de 1979" ‘Ora, nogao do “povo de Deus” esté no centro das discussbes do Sfnodo dos Bispos de 1985, convocado para comemorar os vinte anos da conclustio do ‘Vaticano IL. Por ocasiao do Sinodo, a Comissio Teolégica Internacional, presidida pelo cardeal Ratzinger, apresentou algumas teses eclesiolGgicas, que procuravam reconduzit a eclesiologia do Concilio a eclesiologia de comunhio. Um teslogo da propria Comissio® e outros tedlogos ¢ bispos defendiam, 20 cconttétio, a centealidade da categoria de povo de Deus. As intervengoes de Dom Ivo Lorscheiter (entio presidente da CNBB) e do cardeal Aloisio Lorscheider no Sinodo de 1985, sobre a aplicagao do principio de subsidiatiedade na Igeeja, foram criticadas severamente pela revista “Civiltd Cattolica”, mas 0 Sinodo de 1987 (sobre a Vocagao dos Leigos) deu novo folego C4 dhide, 9.333 (@ 100 0 «Cr Giuseppe COLOMBO, II “popolo di Dio" e il “mistero™ delta Chiesa nel eeclesiologia post coneiiae, “Teo 10 (1985), 97-10. A queso no seria io ispotante se, no fund, mio estivess em ogo ainterpelagso de seo o Vaticano Il Sobre oassuno, eo recent hv de José COMBLIN, O pave Deus. Pal, cin 21.2, 20-338), $ Paulo, 2002,¢ ese dotoral (2002 2002} deCleto CALIMAN, grea Pov de Deus, Seite da Comune da Missi Pe Cielo CALIMAN antcipara beverente a questi da ntenpretagto do ating It ej do Basi oestudsA dentidadehistria da fre Brasil nos sings 20 tren, teen no sein promavo pla CN ,emagestode 1985, em preparaio go Sino {Ge 1087 sabe os Leigoy; ef Estados da CNBB 48: Lease paricipacio ma tere Ea Plas S Paulo, 19862 ep. 17-35. Volo sobee oassunloemn: CleloCALIMAN, Visio cetesioligiea do Sioodo, emf, PINHEIRO (org). Sina e ws lego. Loyola. Paul, 1987.~ Acrescentanos qe a eckesilogin do povo de Devs mina ainda o recente documento a” 2 da CNB, Mas € Uhr ds erties eae leas, po a ASsemb ia de abi de (999 (Paina, Palo, 1999, 1350), | | i | estado da eclesiologia da CNBB nos anos ‘80 nio pode descuidar de fam documento que procusa oxplicitamente fazer clareza sobre “greja: ‘Comunhio ¢ Missdo®. O tema do povo de Deus, porém, nfo & entrentado firetamente. O documento parece nascer da vontade de superar, ou 20 menos ‘minut, “tenses iternas” (ef 15-20). Também a inrodugo ju S documento: “Escolhemos este tema abrangente na conviegao de que ele nos sjudaré a realizar melhor a Misséo da Tgreja em nosso pais ¢ contrbuird para d fortalecimento da eomunhio eelesial..” (n° 2), De fato, 0 documento procura se afzes teolSgicas, rinitérias, da comunhdo e missdo, tentando encontrar dima referencia acita das divergéncias e tensdes. Uma segunda parte do {Joctmento~ ndo muito ompanica, para dizer a verdade- se ocupa das “urgeneias dda missio”, ou sej, de aspectos priaitiios e especificos da missio da Igreja fo Brasil e numa perspectiva também de missio "ad gentes™ dade” e os 7. Aemergéncia da “subjeti novos rumos dos anos ‘90 \Véiios sinais apontavam para um esgotamento do discurso elaborado iretrizes Gerais de 1979 ¢ bascado, essencialmente, sobre Puebla © a de ras teologia da “evangelizagio libertadora”. Emergia sobretudo a consciéne ‘uma mudanga dos tempos, de uma nova condigao econémico-social e politica {eleigao do presidente Collar, dezembso de 1989), de uma nova mentalidade cclturale religiosa, de novas formas de comportamento. Sobre essas mudangas se debrugou uma numerosa equipe de tedlogos, socidlogos © pastoralists, reunidos pelo INP (Instituto Nacional de Pastoral), entre novembro de 1988 & meados de 1990”, A contribuigao ficou limitada quase exclusivamente & andlise darealidade”. A anilise foi oganizacla a0 redor de quatro cixos: 1) perspectivas sécio-econdmicas; 2) cultura e culturas; 3) novas formas de emergéncia di subjetividade; 4) novos sujeitos hist6ricos. O capitulo sobre subjetividade foi o ‘mais novo e marcante, "C4 Decne da CNOD 40, 26 Assen Geral anil de 1987), EA Pines S Pao, 1988, 127 p 737A tl pate, “Urgencias da Miso” (p. 49-110, ata da evangelzago dos poves © da presenga ds lrea na seid brass distingindo ot, tase ealtra SOxrelarios dos ivesos raps de esto foram feunides mum cadena decor aonzaa otjotnhe"), Sotedare braieia © desafinspastorais Prparag ds Divetvizes Gerais a ‘Aso Pastoral 91:3, Bd, Paulina, S Pao, 1990, 147 p. 0 INPado conse termina aelaboragodepropostas pastoris, comocstav previ CO grpotidera oe Pe fo Batista Libéoapresenou umeaptulade"perspostivasceesioigins ‘Alberto Antoniazzi Alberto Antoniazzt ENBB a Eclesiologia ao longo do eingenta anos (1952-2002) Ve A partir dessa contribuigio ¢ de uma avaliagio das DGAP anteriores, a 29% Assembleia Geral e o sucessivo Conselho Permanente da CNBB (junho de 1991) elaboraram e aprovaram as Diretrizes Gerais da Agio Pastoral da Tgreja no Brasil 1991-1994, A estrutura do capitulo IIT (Mudangas na sociedade) ‘edocap. IV (Novas acentuagées na evangelizagio) revela a mudanga de enfoque. Em lugar de abordar a evangelizagio do “povo brasileiro em processo de transformacio” (ef. 0 Objetivo Geral de 1979 c anos seguintes) de forma global, a0 limite ~ genérica,a realidade da sociedade era analisada em trés niveis: 0 da pessoa; o das comunidades e de suas diferengas culturais; o das grandes estruturas econdmico-sociais. Analogamente, a agio evangelizadora era descrita nos trés niveis. A teflexio teolsigico-pastoral de 1991 no estava muito amadurecida e ela estimulou, com outros fatores, 0 aprimoramento de 1995, quando as Diretrizes passacam a ser chamadas da Agio Evangelizadora ¢ o tema da evangelizagdo ocupou 0 lugar central nas novas DG. Isso permitia ressaltar a continuidade com a “evangelizagio libertadora” dos anos 1979-1990, mas sobretudo exigia uma abertura da [greja para fora, face & constatagao de que a ago pastoral estava muito voltada “para dentro” A aquisigio Fundamental, a meu ver, residia, porém, no reconhecimento da difusao do individualismo c do subjetivismo, 0 que solapava por baixo © forgo comunitério dos anos *70 e 80, e trazia uma verdadeira revolucio para a agdo pastoral ~ hé séculos pensada principalmente na perspectiva de uma afirmagio objetiva e exata da doutrina e da disciplina cat6licas*. 8. Problemas no resolvidos e perspectivas de futuro Entre os problemas eclesiol6gicos no resolvidos, limito-me a citar 0 {do ministério presbiteral ou da renovacdo dos ministérios. O problema é antigo. Foi discutido no Sinodo dos Bispos de 1971. Na época, quase 80% dos rho Brasil era favordvel & ordenagao de viri probati, ou seja, na pri A avalagio de 1994 wveara que os Panos Pastas Diocesanos (cerca de 150 Foam nats) presenta come prordade a dimensiocominitiia 73 dos panos) eacaequess (cambézn 75%), mas apenas 359% proizavama dimensio sip transformadora 20% a itursa, 12% mens missions enim dimen couminice estou ckando de mons, ms eros nets ose esqueccm). A anise do individualism esté nas Ditevzes Gerais da Again Pastoral 1991-1994 {document 5 da CNBD), 17 114127, .59s6.~A recente pesquisa do CERES nas scs rinipais regices mevopolianas do Basl-publiada agora abil de 2002) eam otal Desaos do eaolciwna ‘na evade. Paulus, 2002, 298 p.~ conirma esas tondéncas. No capil final desse listo, poet agus eonsegiéncias itrrozagies qe a pesquisa levanta para a ag pastor 7 i | homens adultos, com boa experiGneia de vida eristd e~ordinariamente ~ exsados; ‘com familia constitu’da, O Papa Paulo VI consultou os Padres Sinodais € @ tmaioria votou contra a proposta No Brasil, recentemente, 0" Encontro Nacional de Presbiteros (Fevereiro de 2002) voltou a suscitar o problema, manifestando preocupagio com as cerca de 70.000 comunidades que se Fedinem semanalmente para uma celebragio dominical da Palavra, mas que s6 raramente podem participar da eelebragiio dda Eucatistia. Alguns bispos brasileiros levantaram a questo no Sinodo sobre a Formagdo Sacerdotal (1990) e no Sinodo paraa América (1997), sem resultados aparentes, a nfo ser uma recusa de discutir ~ por enquanto ~ 0 assunto, ‘Um levantamento de dados nas dioceses, no Advento de 1996, para 0 langamento do Projeto de Evangelizagio “Rumo ao Novo Milénio”, embora incompleto, revelow a presenga de muitos ministeos leigos como animadores de comunidades, ministtos extraordindrios da S. Comunhiio ou catequistas, lideres de grupos de jovens, elc., mas um escasso némero de ministros extraordindrios para o Batismo (cm média, um para cada padre) e de testemunhas qualificadas do Matrimdnio (uma para cada dois padres) Esquematicamente, pode-se dizer que os sacramentos siio ministrados (quase) exclusivamente por ptesbiteros ¢ que os leigos assumem 0 ministério da Palavra da orientagio da comunidade, Esse dualismo, ou essa divisio, nto deixa de ser um problema eclesiolégi Finalmente, depois de 50 anos, em que a CNBB se manteve fie! 3 eclesiologia do Vaticano II (¢, antes do Coneilio, de algum modo apontow para ela), vem a pergunta sobre o futuro. Esta fidetidade continuara? Entre os préprios Bispos, esta difundida a impressio de que estamos diante de uma nova etapa. 5 pesquisa mais eonfivel sobs © mero das comunidades cls e suas avid inclusive etebapio dominic) 6a de Rogito VALLE ~ Marcello PITTA, Cammondades etesiis tte Resultados estes. Psp, Vores~ Rio, CERIS, 1995, 96. jéeiad ma noe 13). ‘penguin eats em cerca de 100.000 a cormanidades catia, das unis 70% elebraga0 dominteatdaPalaven erras eslebrages da Missa — A hipatesede que as CEDsstja diminuindo ‘no pe ser aed, apes da dinsinuigo da popuiga0 rua. Aw de vibrant artigo de ‘Art Gime de SOUZA, As Ce wo bem, obra (1989) [esto connuicad por eco ‘lawoco er eens nn), alga entrevista coe bisposta asses de 2000 me permit utara muliplcago ds comunidades rm ras dioceses CI. Alberto ANTONIAZZI,A leh Sen territiria >: Camunidades do terior sites assiondia."Sraal de Opa". "614 San 2001, p67 (argo faz paride una sre de quatro anigossobre"A Ire seu feito", Conte mais informayes soe dioceses, parguas ceomunidaes debs no Brief JORNAL DEOPINIAO, 1" 6134 616, 2602: 19.03.2001) Comma most, por exenpo, B. SESBOUK, Nae tuam meio! Os misters na gree de he: Pas, Paul, 1998, 102 iqenta anos (1952-2002) 7 Antes de tudo, geracional. Esto desaparecendo (ou se aposentando) os bispo ‘ute fizeram 0 Coneilio ou eresceram no elimma dos anos ‘70, dos anos “quent 4a Igreja no Brasil, Estao assumindo — embors ainda timidamente ~ cargos de diego bispos de uma nova geragio, naseidos entre 1940 e 1950, as vezes depois, quc estio marcados por outras experiéncias, muitas vezes formados no fimbito de “movimentos”, cuja espirituatidade parece mais nostilgica do pré- Concilio que da eclesiologia do Vaticano TL, Que rumos a nova geragao dar CNBB? £ uma interrogagiio, por enquanto, sem resposta. (© proprio Estatuto da CNBB est mudando. Votado pela assembléia de Julho de 2001, corrigido em alguns pontos por Roma, foi aprovado ‘efinitivamente em abril de 2002 completado por um novo Regimento. Entrar ‘em vigor, de fato, na Assembiéia prevista para o inicio de maio de 2003, quando serd eleita uma nova Presidéncia, com maiores poderes, respaldada por um Conselho Permanente, reforgada no nimero dos membros, € apoiada por uma constelagio de dez ComissGes Episcopais permanentes (¢ outras poucas ‘eventuais), com mandato executivo, mas pouca autonomia. Trata-se de uma organizagio complexa, que pode envolver mais bispos nos trabalhos da Conferéncia, mas também ter pouea agilidade. A reforma do Bstatuto quis tornar a Conferéncia mais “episcopal”. Tudo (ow quase) agora depende diretamente dos bispos. Representantes de outras ceategorias do povo de Deus, outros organismos € assessores, terdo um papel distinfo. Resta saber qual eclesiologia inspirard o conjunto. Uma eclesiologia ‘em que os bispos pretendam monopolizar o ministério na Tgreja, ou uma ‘eclesiologia em que o episcopado seja o animador de uma comunidade eclesiat “Yoda ministerial”, 0 lider de um povo de Deus “sujeite hist6rico”, sujeito da sua hist6ria, que afunda as rafzes nfo apenas na hist6ria humana, mas no mistério trinitrio? Enderego do Autor: ‘mail: alberto@pueminas.br A CNBB rornon-se referéncia em muitos momentos decisivos da vida nacional, sendo a relacio com a sociedade wn dos elementos que marcam a sua tragetbria hist6rica e seus projetos de evangelicagio. Analisando esse aspecto, 0 autor oferece-nos wna agucada ¢ ‘comprometida leitura do compromisso social da CNBB, em suas Imotivagaes sdcio-teolégicas ¢ suas iniclativas pastorais. Constata fases distintas da presenca da Conferéncia na sociedade brasileira ‘a coloboragiio inicial com planos do gaverno (como a Sudene), a resistencia e 0 posicionamento critica diante da ditadwra militar, a presenca de serviga na sociedade. O compromisso social da Conferéncia manifesta-se hoje, sobretudo, pelas dez Pastorais Sociais, ‘que apresentam a Conferéncia como uma presenga de servigo no meio social, dando sua contribuigdo para a compreensio e administragiio dos conflitos, Desse modo, a Conferéncia explicita a dimensiio social do Evangelho, que impulsiona @ Igreja no Brasil a tomar posicionamentos proféticos diante de situacdes sociais de sofrimento injusto em que vive o povo de Deus. Como apéndice, 0 autor oferece. nos uma sintese das andlises de conjuntura realizadas pela Conferéncia entre os anos 1992 @ 1999, ajudando-nos « analisar & realidade eriticamente para agir responsavelmente. ENBB: 50 anos fle compromisso social D. Demétrio Valentini Bispo de Jales ~ SP

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