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CONSIDERAGOES SOBRE AS AVALIAGOES EM LARGA ESCALA NO BRASIL E O PAPEL DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS: EFICIENCIA E PRODUTIVIDADE X QUALIDADE! Quelli Cristina da Silva Oliveira? Denila Coelho? André Paulo Castanha* Resumo: Esse texto realiza uma anilise acerca das condigdes histérieas, politicas e ideolégicas sobre as avaliagdes extemas em larga eseala, e as interferéncias dos organismos internacionais nesse setor. Para tanto, realizamos estudo bibliogrifico e documental. A partir deles pereebemos forte influéneia das politicas do Banco Mundial ¢ de organismos intemacionais nas avaliagdes em larga escala no Brasil. Destacamos a relevaneia das avaliagdes, como mecanismo que possibilitam levantar elementos para elaboragao de politicas publicas no campo educacional. Evidenciamos a necessidade de ‘um sistema de avaliagao que trate da educagao na totalidade ¢ proporcione uma efetiva melhoria da qualidade do ensino. Palavras-Chave: Avaliagdo Externa. Organismos Internacionais. Capital Humano, IDEB. PISA. Abstract: This essay intend to do an analyze around the historic, politic and ideological conditions which are involved in the large scale extemal evaluations and the international organisms interference in the area. Due to, it was done a bibliographic and data study. From the reflections, it was possible to detect the influence of this international organism in the large scale evaluation in Brazil. It was possible to see the relevance of the evaluations when they are used as an instrument that contributes to the elaboration of public politics in the educational field. It is evident the need of an evaluation system which works with the education in the totality and provide an effective improvement in the education qualit. Key Words: External Evaluation, International Organisms. Human Capital. IDEB. PISA, Introducio Jo preliminar do presente texto foi apsesentada e publicada nos Amis da X ANPED SUL, sealizada na UDESC — Flosianopolis-SC, ensee 26 e 29 de outubro de 2014, Disponivel no seguinte endeteco: Inp:/ /sanpedsul aed ndese br/axq_pdé/1256-Opat esteem Educacao pela Unioeste, campus de Francisco Beltio. E-mail: quelipro@yahioo.combs 8 Mestre em Educacio pela Unioeste, campus de Francisco Beluto, E-mail denilacoetho@hotmail.com 4 Professor do Coalegiado de Pedagogia ¢ do Mestrada em Edueacio da Uniceste — Campus de Francisco Beltzio ~ PR, Membso do Grupo de Pesquisa: Historia, Sociedade ¢ Exhucacio no Brasil ~ HISTEDOPR ~ GT local do HISTEDBR. Histariadoc ¢ mestce em Edveacio pela UFMT, Dowtar em Eduescio pela UFSCar ¢ Pés-doutor na isea de Filosofia e Histésia da Educacio pela UNICAMP. Bolsista Psodutividade da Fundacio Araucétia~PR. E-mail: andrecastanhad6@gmailcom 238 Este artigo tem como objetivo analisar 0 papel dos organismos internacionais frente as avalingdes externa em larga escala no Brasil. Para tanto, além do uso de bibliografias, também utilizamo-nos de documentos oficiais de organismos intemacionais e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (INEP). Estado brasileiro vem intensificando a instauragdo do Sistema de Avaliaglo da Educagio Basica - SAEB, a Prova Brasil, 0 Exame Nacional de Desempenho de Estudantes — ENADE, 0 indice de Desenvolvimento da Educagdo Basica - IDEB e 0 Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, tendo como fundamentago a eficiéneia e a produtividade para atender as necessidades do mercado de trabalho. Nesse sentido, a educagio é tratada como mercadoria, com o intuito de formar o trabalhador voltado para © fazer, submisso e com uma visio politica limitada. A grande questo que nos inguieta é, até que ponto essas avaliagdes do Estado na forma como esto constituidas contribuem para a melhoria do processo educativo? O debate que se segue é uma tentativa de compreender melhor essa indagagao. O texto esta organizado da seguinte forma: iniciamos tratando da avaliagdo em larga escala ¢ as relacdes entre 0 PISA ¢ 0 IDEB, 0s aspectos histéricos e a politica da Terceira Via, ¢ por fim, abordamos a teoria do capital humano, o SAEB e suas avaliagdes. Avaliagao em larga escala ¢ as interferéneias internacionais: relagdes entre PISA € IDEB. A discussio dos problemas da educagdo bisica no Brasil e os desafios objetivando a melhoria da qualidade tém sido mareados nos ultimos anos pela divulgacio mais ampla de informagdes produzidas pelo sistema de avaliagdo externa em larga escala, focada no rendimento do aluno e no desempenho dos sistemas de ensino, a partir de um indice - IDEB. Para entendermos esse contexto iremos discorrer sobre as parcerias e estratégias dos organismos internacionais, referentes & educagdo brasileira. © Banco Mundial vem investindo atualmente em aperfeigoamento dos sistemas de edueagio e no alinhamento das intervengdes estaduais e federais nos estados. Apoiando melhorias no desempenho (qualidade) e na prestagao de contas (indicadores), bem como no aumento da contribuigdo do ensino para a inovagao ¢ crescimento. 239 Anterior a esta politica a estratégia era a expansdo da cobertura, ou seja, 0 acesso a educagio (BANCO MUNDIAL E CFI, 2008, p. 22). Os iltimos anos vém sendo marcados pelas mudangas na politica dos organismos intemacionais. Um dos documentos que descreve quais sto estas mudangas, € 0 Banco Internacional para Reconstrugdo e Desenvolvimento - BIRD: Estratégias de Parcerias com 0 Brasil 2008-2011. Pelo documento observamos que o envolvimento do Banco demonstra interesse em elevar o Brasil nos seguintes campos: equidade (campo educacional), sustentabilidade (questdes ambientais), competitivismo (educagio para inovagdo e crescimento) © profissionalizagdo, fomentando a regulamentagdo internacional. Evidencia-se dessa forma que as politicas piblicas do Brasil esto alinhadas aos, interesses dos Organismos Internacionais que seguem a légiea do mereado, Assim, nfo podemos deixar de considerar o financiamento dessas agdes, pois os investimentos, de forma alguma, caracterizam doagio. O retorno para sanar a divida, depende do desenvolvimento do capital humano, sendo a educag3o considerada essencial nesse proceso, A edueagio, como um fenémeno que se intermacionaliza, compreende a expansio da escolarizago de massas para patamares mais altos de ensino, a difusio da ideologia da modemizacio e do desenvolvimento econémico, as relagdes de cooperagio ¢ intercémbio cientificos entre os sistemas nacionais de ensino, a educagao comparada e, sobretudo, a mediacao das organizagdes supranacionais - UNESCO, Organizago para a Cooperacao € Desenvolvimento Econémico (OCDE), Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, FMI, OMC, OIT, Usaid, Fundacdo Europeia da Cultura, Fundacao Ford, Fundago Rockfeller e Fundagio Camegie, bem como entidades de cariter regional, a exemplo da Cepal, Oreale, Mereosul, no ambito da América Latina, e Uniio Europeia, Unio das Indistrias da Comunidade Europeia (Unice), Mesa- Redonda dos Industriais Europeus (European Round Table) —, com o que os diferentes Estados-nacdes tém redefinido, dentro do atual estigio de acumulagao capitalista, 0 papel da escola e da universidade (SILVEIRA, 2012, p. 02). Financiamento este que exige um plano estratégico de resultados, os quais abrangem as seguintes questdes: objetivos de desenvolvimento do pais, metas do 240 governo € resultados das Estratégias de Assisténcia ao Pais - EAP. A estratégia do Banco Mundial na parceria com o Brasil busea [.-] uma énfase mais acentuada na contribuigiio do desenvolvimento humano para a “agenda de equidade” e ampliari esse enfoque de modo concorente para que se reconhega a importancia do capital immano ¢ das inovagdes na “agenda do crescimento”. Apesar dos avangos historicos nos indicadores sociais, persistem os desafios para a “agenda de equidade”, tanto em termos de expansio da oferta de empregos e das oportunidades de renda para os pobres, fortalecendo seu capital humano, quanto a oferta de servigos com precos acessiveis, qualidade e eficiéncia. As grandes disparidades regionais também so encontradas nas taxas de pobrezas, de aproveitamento escolar e de mortandade infantil. Desta mesma fonma o fortalecimento do capital humano é essencial para a agenda de crescimento, em termos de desenvolvimento de uma fora de trabalho mais qualificada, saudavel e gil, capaz de inovar e se adaptar as novas tecnologias para aumentar a produtividade total dos fatores (BANCO MUNDIAL E CFI, 2008, p. 53). © papel dos organismos internacionais, nas ideologias disseminadas. pelos Estados, de acordo com Silveira (2012, p. 03 - 04) “[...] tem sido essencial na elaboragdo e difustio da ideologia desenvolyimentista ¢ educativa em nivel mundial, normatizando, controlando e legitimando a produgao do conhecimento considerado vital para a conservacao do capitalismo” E possivel perceber um leque dentro do campo de atuagio e os objetivos dos Organismos Intemacionais, buscando auxiliarem os Estados de forma combinada com um erescimento desigual, mantendo a hegemonia do capital. No entendimento de Silveira, Reconhecendo as_—_desigualdades.-—_econdmico-sociais, educacionais, tecnocientificas dos diferentes Estados-nagdes ¢ delas partindo, os organismos supranacionais buscam combiné- las e integré-las em suas particularidades e contradigdes, impulsionando o desenvolvimento desigual ¢ combinado da sociedade capitalista, cuja titica se desvela no movimento e realizago internos do relos* da estratégia (2012, p.04), > Palavva gsega com significado finalidade, fim, meta, objetivo (Dicionsvio Informal) 241 0 creseimento econdmico mundial depende de investimentos em trés areas: a satide (menor mortandade infantil), educagdo e questdes ambientais. Sem investimentos nestes setores o crescimento econmico fica estagnado, por isso os esforgos em melhorias ¢ “equidade”, Nesse sentido, Dale (2004, p. 454) nos chama atengfo para uma “cultura educacional mundial coum” CEMC, a esséncia dessa perspectiva de educagio busca 0 desenvolvimento dos sistemas educativos dos Estados de um curticulo com elemento universal de educagio, de estado e de sociedade, mais do que através de fatores nacionais. Levando em consideragio os investimentos do Banco Mundial e o fato de seu maior acionista ser os Estados Unidos, fica demonstrada a dominancia nos principios de formulagao das politicas piblicas mundiais e a fundamentagio da CEMC. Criam-se assim, uma “falsa democracia” que se instaurou no Brasil, fortemente, a partir da década de 1980 com apoio dos organismos interacionais (paises em crise econdmica, Europa e Estados Unidos). Houve mudangas significativas, com a faléncia de um Estado de Bem-Estar, abrindo espaco para o Estado neoliberal. © que antes era tarefa do governo, passou a ser agora sindnimo de cidadania. Thais Souza em seu texto (Con) Formando Professores Efic s enfatizou que: Foi nesse contexto que a educagio, mais uma vez torna-se pega chave para a formagio de um determinado tipo de cidadio, o qual deveria ser moldado para aceitar a exploracao e colaborar cordialmente com a manutengio da ordem do capital sobre 0 trabalho, pois forma sujeitos difusores da concepgao burguesa de mundo, Diante da crise hegeménica de ambos os modelos, no Brasil, da década de 1980 até os dias atuais, outra forma de governo democritico emergiu: 0 Projeto da Terceira Via (SOUZA, 2009, p. 36, grifo do autor) Em meio uma crise econémica mundial e 0 Brasil passando por um periodo de estagnagao pelo comando militar (1964 - 1985), os anseios pela democracia se instaura fortemente na sociedade. A ideia de mudangas governamentais foi incorporada com um discurso apontando para um modelo de governo pautado na politica de Terceira via‘ Bla se refere & renovagio da demoeracia social (GIDDENS, 2007, p. 21). 242 © projeto de terveira via, trouxe possibilidade de implementar uma politica governamental, perspectivas de superagiio de govemos ditatoriais e os neoliberais. No entanto, se analisarmos 0 contexto histérico posterior a Ditadura militar no Brasil, aps ‘um periodo de muita recessio, houve uma significativa estruturagio do sistema escolar voltado para o tecnicismo oriundo da Ditadura e das organizagdes, como por exemplo 05 sindicatos, que representavam os profissionais de todos os niveis de ensino (GIDDENS, 2007, p. 21). No periodo de 1990 ¢ 2001, as mudangas de cunho neoliberalista ¢ as agdes voltadas para produgio de resultados, possibilitem compreender melhor a “falsa democracia”, e porque 0 projeto de Terceira via no se coneretizou, Mudou-se da ditadura militar, para a “democracia” do mereado, da produtividade e dos resultados. Conforme Saviani, Redefine-se, portanto, o papel tanto do Estado como das escolas. Em lugar da uniformizacao e do rigido controle do progresso, como preconizava o velho teenicismo inspirado no Taylorismo- fordismo, flexibiliza-se 0 progresso, como recomenda o toyotismo. Estamos, pois, diante do neotecnicismo: o controle decisivo desloca-se do progresso para o resultado. E pela avaliagao dos resultados que se busca garantir a eficiéncia e a produtividade. E a avaliago converte-se no papel principal a ser exercido pelo Estado, seja mediatamente, pela criagio das agéncias reguladoras, seja diretamente, como vem ocorrendo no caso da edueago, Eis porque a nova LDB (Lei n® 9394 de 20 de dezembro de 1996) enfeixou no Ambito da Unido a responsabilidade de avaliar 0 ensino em todos os niveis, compondo um verdadeiro sistema nacional de avaliagao. E para desincumbir-se dessa tarefa 0 governo federal vem instituindo exames e provas de todos os tipos. Trata-se de avaliar os alunos, as escolas, os professores e, a partir dos resultados obtidos, condicionar a distribuigio de verbas e alocagio de recursos conforme os critérios da eficiéncia e da produtividade (2010, p. 439). Toda essa mudanga no contexto educacional brasileiro foi provocada pelos organismos intemacionais, a eficiéncia e a produtividade provém de uma logiea de desenvolvimento econémico. A Organizacio para Cooperagio e Desenvolvimento Econémico - OCDE é um dos organismos que instituiu programas de avaliacdes a intencionalidade extemas em paises integrantes e colaboradores como o Brasil, 243 principal foi criar leis, documentos e principalmente mecanismos de controle que comprovem avangos em relacao a logica do desenvolvimento. O sistema educacional é um dos focos prineipais de reformulagao e controle a partir de avaliagdes em larga escala, Um exemplo disso é 0 Programa Internacional de Avaliagdo de Alunos ~ PISA. 0 PISA é apresentado no portal do INEP desta forma © Progranme for International Student Assessment (PISA) - Programa Intemacional de Avaliagio de Estudantes - ¢ uma iniciativa internacional de avaliagio comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupde 0 término da escolaridade bésica obrigatéria na _maioria dos paises O programa é desenvolvido e coordenado pela Organizagao para Cooperagao ¢ Desenvolvimento Econémico (OCDE). Em cada pais participante ha uma coordenacao nacional. No Brasil, o Pisa € coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (INEP), O objetivo do Pisa é produzir indicadores que contribuam para a discussio da qualidade da educago nos paises participantes, de modo a subsidiar politicas de melhoria do ensino basico. A avaliagio procura verificar até que ponto as escolas de cada pais, participante esto preparando seus jovens para exercer o papel de cidadaos na sociedade contemporinea. As avaliagdes do Pisa acontecem a cada trés anos e abrangem trés areas do conhecimento — Leitura, Matematica e Ciéneias — havendo, a cada edigao do programa, maior énfase em cada uma dessas dreas. Em 2000, 0 foco foi em Leitura; em 2003, Matematica; e em 2006, Ciéncias. O Pisa 2009 iniciou um novo ciclo do programa, com 0 foco novamente recaindo sobre 0 dominio de Leitura; em 2012, ¢ novamente Matematica; e em 2015, Cigneias. Além de observar as competéncias dos estudantes em Leitura, Matematica e Cigncias, o Pisa coleta informagdes para a elaboragio de indicadores contextuais, os quais possibilitam relacionar o desempenho dos alunos a varidveis demogritficas, socioecondmicas e educacionais. Essas informagdes sto coletadas por meio da aplicagao de questionarios especificos para os alunos e para as escolas. Os resultados desse estudo podem ser utilizados pelos governos dos paises envolvidos como instrumento de trabalho na definicio e refinamento de politicas educativas, procurando tomar mais efetiva a formagao dos jovens para a vida futura e para a participacio ativa na sociedade (BRASIL, PISA, 2014). A partir dos resultados do PISA e sendo ele, no Brasil, coordenado pelo INEP, toma-se evidente que houve atengio maior para melhorar tais resultados. O PISA 244 impulsionou as discusses e possibilitou a ampliagao de politicas referente as avaliagdes em larga escala no pais. Segundo Machado A comparacio de rendimento entre paises atrai a atengio dos meios de comunicagao e do piblico em geral, Desde a primeira edic2o do pisa os resultados do teste sto amplamente divulgados nos paises participantes. Pode-se considerar esse um aspecto positivo, uma vez que, ao tomar conhecimento dos resultados, pode haver um desejo de atuar para melhoré-los, em especial quando sio decepcionantes (2012, p. 38). ‘Nesse sentido, o Observatorio Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade — ORBIS, destaca que: Para melhorar esta situagio, foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anisio Teixeira, o INEP, em 2007, 0 indice de Desenvolvimento da Edueagio Bisica - IDEB, um importante passo para avaliar a qualidade de ensino no pais. Principalmente pela possibilidade de comparago entre municipios e escolas de diferentes dependéncias administrativas (piblicas - municipais, estaduais e federais -e particulares). O IDEB sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educagao: aprovagao (progressio) e 0 desempenho dos estudantes em lingua portuguesa e matematica, gerando um indice numa escala de zero a dez. A meta deste indice para o Brasil é aleangar a nota 6,0 até 2022. As metas do IDEB foram definidas com base no nivel médio atual de qualidade educacional dos paises desenvolvidos, membros da Organizagio para Cooperacio do Desenvolvimento Econémica (OCDE). O ano de 2022 foi escolhido em alusao ao bicentendtio da Independéncia do Brasil (1822 - 2022), simbolizando a liberdade que a educagio representa (2010, sip) Segundo o ORBIS, houve uma pequena melhora do Brasil nos indicadores do PISA. Nesta anzlise, registra-se uma redugao na diferenga de 19% no desempenho de matemética, 17% em leitura e 14% em ciéneias, do pais em relagdo aos paises membros da OCDE, comparando os resultados de 2006 com os de 2000, necessitando assim de esforgo para se aproximar dos niveis de qualidade apresentados como ideais nessa avaliagdo (2010, s/p). ‘Na comparagao de dados entre 2003 ¢ 2012, referentes ao PISA, conforme o Relatério Nacional PISA 2012 (p. 63), 0 Brasil apresenta evolucdo nos resultados, maior inclusio dos estratos menos favorecidos da sociedade, reducio na distorgio idade-série e nas desigualdades regionais. O documento ressalton que estamos longe de 245 nos aproximarmos dos paises com melhor desempenho e aponta problemas com a infiaestrutura das escolas, equipamentos educacionais, nimero de professores, altos indices de repeténcia, dentre outros. Os conhecimentos exigidos tanto no PISA, quanto nas avaliagdes em larga escala que compreendem o Sistema de Avaliagio da Educacio Basica - SAEB, exigem conhecimentos minimos de leitura, interpretago © légica, 0 que pode justificar essa pequena melhora no indicativo do PISA. O Ideb (indice de Desenvolvimento da Educagio Bisica) é 0 indicador objetivo para a verificagio do cumprimento das metas fixadas no Termo de Adeséo a0 Compromisso "Todos pela Educagao”, eixo do Plano de Desenvolvimento da Educagao, do Ministerio da Educagao, que trata da educagio basica. E nesse mbito que se enquadra a ideia das metas intermedidrias para o Ideb. A logica é a de que, para que 0 Brasil chegue & média 6.0 em 2021, periodo estipulado tendo como base a simbologia do bicentendrio da Independéncia em 2022, cada sistema deve evoluir segundo pontos de partida distintos, e com esforgo maior daqueles que partem em pior situagio, com um objetivo implicito de redugao da desigualdade educacional. A definigio de ume meta nacional para o Ideb em 6,0 significa dizer que 0 pais deve atingir em 2021, considerando os anos iniciais do ensino fundamental, 0 nivel de qualidade educacional, em termos de proficiéneia e rendimento (taxa de aprovacao), da média dos paises desenvolvidos (média dos paises membros da OCDE) observada atualmente. Essa comparacao internacional foi possivel devido a uma técnica de compatibilizaclo entre a distribuigo das _proficigneias observadas no PISA ¢ no Saeb (INEP, 2014). E possivel perceber alguns avangos, quando reconhecemos que a educagio precisa de parimetzos que a qualifiquem. Faz-se necessirio avaliar nossa pritica de ensino e aprendizagem e sua finalidade, bem como as politicas piiblicas de educagao ¢ a praxis que se instaura no interior da escola. Para melhor contextualizar as avaliagdes em larga escala ¢ como estas foram ganhando espaco nas formulacdes das politicas educacional brasileiras no proximo topico analisaremos o Sistema de Avaliagao da Educagio Brasileira - SAEB. O Sistema de Avaliagio da Educagio Brasilelra: SAEB 246 As politicas para a educagio bisica no Brasil e o Sistema de Avaliagio da Edueacio Basiea SAEB, percorreram caminho para chegar a “incluso” dos alunos no sistema escolar com a finalidade de melhorar as estatisticas perante os organismos internacionais e garantir a formagio com prineipios da eficiéncia e produtividade. Embora tenha sido escrita em outro periodo historico entendemos como relevante ¢ pertinente as consideragdes de Shiroma, Moares ¢ Evangelista [...] os reformadores disseminam um discurso fundamentado em pressupostos questionaveis. Afirmam que a educagao constitui- se numa das principais vias de enfrentamento dos problemas atuais, especialmente o da insergao ou manutengao do individuo xno mercado de trabalho. Valorizam os atributos e conhecimentos proprios do ensino formal, como se a eficiéneia do ensino fommal fosse, por si so, capaz de promover a eficiéncia da economia. Mais que isso, tentam creditar a morosidade da economia a suposta obsolescéneias do conhecimento dos trabalhadores, argumento equivoco ¢ derrubado por imimeras pesquisa. Trata-se, entio, de destacar sua fungio ideologica, cujo o intento é responsabilizar a populagao pela situagao do pais na economia globalizada lastreada na voluntarista ideia de que o pais superaré sua posigao perifériea na divisio intemacional do trabalho se cada _cidadio_investir adequadamente em sua propria escolarizagio e requalificagio (2007, p. 93). Quando os “reformadores” falam de reformas educacionais, se remetem a uma perspectiva de conceber a educago como elemento crucial para equalizagio do desenvolvimento, portanto do aquecimento da economia, apontando para os individuos a culpa pelos problemas estruturais e a responsabilidade de aumentar seu capital humano. Os priprios reformistas indicam que a eficigncia do ensino objetiva a busca por elevar conhecimentos ¢ manter © mercado. O qual esta cada vez mais exigente concorrido, fazendo com que os proprios educadores e, consequentemente os alunos internalizem e naturalizem que 0 conhecimento ensinado na escola atual esti elevando os padries de qualidade e equidade estabelecidos pelo Estado. Nesta perspectiva a educagio é concebida como capital humano, sendo um dos principais instrumentos de massifieagio em prol do desenvolvimento do mercado e fomento do grande capital. 247 Sobre a teoria do capital humano Frigotto (2010, p. 51) aponta que “a educagao, entio, & © principal capital humano enquanto é concebida como produtora de capacidade de trabalho, potencializadora do fator trabalho. Neste sentido, ¢ um investimento como qualquer outro”. © proceso edueativo, independentemente de ser escolar, se reduz a produzir habilidades e transmitir conhecimentos que aumentem a capacidade de trabalho e de producao. A anilise econémica da educagéo, veiculada pela teoria do capital humano, funda-se no método e pressupostos de interpretagdo da realidade da economia neoclissica. Este modo de interpretago da realidade & um produto _histérico determinado que nasce com a sociedade de classes e se desenvolve dentro e na defesa dos interesses do capital (FRIGOTTO, 2010, p. 65 ~ 66). A teoria do capital humano apresentada nos anos de 1970 procurava explicar as desigualdades tanto entre as nagdes quanto as individuais, através do fraco investimento em educagio. Fator este considerado determinante da capacidade de trabalho e produtividade (FRIGOTTO, 2010, p. 15). Seguindo a légica dessa teoria, para garantir © creseimento ¢ o desenvolvimento da sociedade ¢ preciso investir na educagio, 0 que significaria grandes possibilidades de ascensio econémica. O direcionamento do Banco Mundial e da OCDE, continuaram determinando diretamente as propostas € agdes, as quais fortaleceram a reforma educacional, dentre elas citamos a criagdo do SAEB. Sistema Nacional de Avaliagio da Educagio Basiea (Saeb), foi criado em 1990 e, desde 1995, realiza seu ciclo de avaliagao a cada dois anos. O Saeb foi criado tendo por objetivo central promover uma avaliagdo externa e em larga escala da educagio no Brasil, visando construir dois tipos de medidas. A primeira, da aprendizagem dos estudantes e, a segunda, dos fatores de contexto cortelacionados com o desempenho escolar. A implementagao da avaliagao em larga escala se constituiu com a intengdo de subsidiar os formuladores e executores das agdes governamentais na area educacional em todos os niveis de governo, Com a avaliagao se pretende averiguar a eficiéneia dos sistemas no proceso de ensino-aprendizagem e, também, a equidade da educacio oferecida em todo o pais (BRASIL, MEC. 2010). 248 O SAEB iniciou com a Avaliago Nacional da Educagio Basica — ANEB e com a Avaliaclo Nacional do Rendimento Escolar - ANRESC, para qual, iremos direcionar nossa anilise Conforme indicado no Plano Nacional de Desenvolvimento da Educagio, BRASIL (2008, p.8). “A avaliagio denominada ANRESC (Prova Brasil), é realizada a cada dois anos”, avalia as habilidades em Lingua Portuguesa (foco na leitura) ¢ em matemitica (foco na resolugio de problema)”. Se apresenta como uma avaliagio censitéria envolvendo os alunos da 4* série/ 5° ano e 8* série/ 9° ano do Ensino Fundamental das escolas piiblicas das redes municipais, estaduais e federal, em turmas com mais de 20 alunos ¢ com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas piiblicas. Tem como método de avaliagao a Prova Brasil de Lingua Portuguesa e ‘Matemitica Os critérios estabelecidos foram baseados em modelos educacionais que pouco tem haver com a realidade brasileira e, principalmente, avaliando 0 que © mercado define como prioridade para identificar competéncias e habilidades, como 0 caso da énfase no ensino de Portugués (Lingua Portuguesa) e 0 ensino légico (Matemética), em detrimento das outras areas do conhecimento. Essas perspectivas fortaleceram a ideia de que 0 sucesso ou insucesso depende do aluno e do professor, responsabilizando a qualidade do trabalho ao educador, 0 qual deve ter um perfil de iniciativa e dedicagio para atingir as metas. Ficando isso bem evidente no Plano Nacional de Educagao, na transigio do Governo do presidente Femando Henrique Cardoso, para Luiz Indeio Lula da Silva, delineando as reformas educacionais. Havia uma expectativa de mudanga na politica edueacional por conta da troca de governo, com a possibilidade de alteragdes no PNE, Lula participou diretamente na construgdo do PNE pela sociedade e seu encaminhamento 4 cimara dos deputados, que acabou no se efetivando, Segundo Saviani (2010, p. 450-451): [...]o texto original elaborado pela sociedade, foi drasticamente alterado pelo governo anterior, nao permitindo muitos avangos na qualidade da edueagio e o atual governo nfo alterau os vetos apresentados. Deixando explicito logo no inicio de 2003, que no seriam alteradas as linhas bisicas de agdo governamental, nas politicas econémicas e sociais. 249

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