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Imigracao e Colonizacao Polonesa. Edmundo Gardolinski tr ee upay oe = VSM a a ¥ a wISsMy oped sopwdnoo soupy 4m noe Br OF 3 soyUIZiA sDrouazed 5243 sod opdadave op PGdW VINQIOd 1. INTRODUGAO A histéria do grupo étnico polonés, no Estado do Rio Grande do Sul, para ser estudada e descrita, ainda que esquematicamente, ou em largas pinceladas, constitui uma tarefa muito mais dificil do que poderia parecer 4 primeira vista. Cérea de cem anos nos sepa- ram da época em que foi iniciada a imigragao polonesa; e, no en- tanto, neste curto espago de tempo, desapareceram ou foram esque- cidos, muitos elementos importantes, para se reconstituir, hoje, a verdadeira histéria déstes herdicos pioneiros de raga eslava. Na verdade, ndo se poderia exigir dos préprios colonos, espa- ihados pelo imenso territério gaticho, que dispusessem de escribas ou historiadores. A meméria humana, entretanto, falha freqiiente- mente, e para quem deseja narrar fatos histéricos, ela nfo satisfaz, pois, nfio serve como documento. Ocorre-nos, portanto, desde logo, a seguinte pergunta: porque razio os descendentes dos primeiros imigrantes poloneses nio pos- suem elementos precisos sdbre a imigrac&o e colonizagéo, desde que ela foi iniciada no Brasil, como aliés, ocorreu com os outros grupos étnicos? Este fato aparentemente extranho e dificil de compreender, torna-se mais elucidativo ao estudarmos 0 magnifico trabalho publi- cado no 1° volume da “Enciclopédia Rio-Grandense” sdbre a colo- nizagio alema, e depois a italiana. A propésito, 0 eminente botanico Pe. Balduino Rambo S. J. esclarece que “o casamento de D.* Leopoldina da Austria com o principe herdeiro,”... deu ensejo para a vinda “de uma licida hoste de cientistas austriacos, alemies e italianos...” (Pag. 78). stes sAbios prepararam nfo sémente o terreno para uma exis- téncia duradoura dos futuros emigrantes, mas, também, deixaram atrés de si notaveis crénicas e anotagées, que constituem, atualmente, para os nossos historiadores, uma fonte preciosa ¢ inesgotvel. —?s © mesmo fato ocorreu com a imigragio italiana. Do amparo ¢ da protecio oficiais que Ihes eram dispensados pelo Presidente Jodo Sertério, decorreu um cadastro tao perfeito, que até hoje, se possuem listas completas ¢ detalhadas dos primeiros grupos itilicos desembareados no Brasil. No caso da colonizagio polonesa, ao pretendermos dar-Ihe uma feicdo histérica, verificamos que, lamentivelmente, nao dis- pomos de material suficiente. Existem, apenas, elementos esparsos, verdadeiros farrapos de velhos livros ou pequenas deserigdes de viagens, no obstante, tratar-se de fatos ocorridos cérea de dex anos antes da colonizacdo italiana. Conta-nos a Histéria que, enquanto © primeiro grupo de imigrantes italianos aportava, em 1875, ja existiam referéncias aos colonos poloneses, no Estado do Rio Gran- de do Sul, nos anos de 1867 e 1869; e isto, sem mencionarmos 2 vinda isolada de algumas pessoas ou grupos nos anos de 1839 © 1650 Entretanto, segundo pesquisas feitas pelo historiador dr. Klaus Becker, relativamente a naturalizagées feitas em Porto Alegre, foi encontrado 0 seguinte térmo de declaragio: “Aos trés de outubro de 1857, trigésimo sexto da Independéncia e do Império, na Se- cretaria da Camara Municipal da Leal e Valorosa Cidade de P. Alegre compareceu FLORIANO ZUROWSKI, natural da Poldnia Austriaca, maior de 21 anos, Cat6lico Romano, Solteiro, que reside nesta Provincia ha mais de dois anos, onde tem vivido como Agri- mensor, e tendo sido empregado pelo Govérno da Provincia na explo- ragéo de viabilidade do Arroio dos Ratos, e declarou que pretendé naturalizar-se Brasileiro e fixar sua residéncia no Brasil. De como im disse e prometeu, assinou perante mim Manoel José da Camara Junior, Secretério da Camara, que éste escrevi” 18 sem dtivida um fato digno de nota, Um dos primeiros polo- neses de que se teve noticia no Rio Grande do Sul, e que exerceu, mais tarde, 0 cargo de Diretor da Colénia de Santa Cruz, numa de- monstragio de maior respeito e confianga pela nova patria, desde lo- go, pediza a sua naturalizagiot ‘Assim, independentemente do que ja mencionamos, existem, ainda, outros fatores que nos impossibilitam fixar 0 momento pre- ciso da chegada dos primeiros grupos de imigrantes, bem como, des- crever detalhadamente os primérdios da sua evolugsio no solo gati- cho. Os historiadores ¢ estudiosos ao vasculharem os arquivos, vao encontrando uma série de referéncias com respeito aos imigrantes w= Sims de nacionalidade alema, austriaca e russa, mas, raramente, Ihe sur- ge a expressio de “nacionalidade polonesa” Tal fato, significaria que os poloneses n&o teriam vindo ao Brasil? claro que nfo! Significa, apenas, que os pafses europeus. ao permitirem a saida de seus stiditos, forneciam-Ihes os documen- tos legais, que, evidentemente, traduziam a sua procedéncia de origem, ou seja, a sua nacionalidade. Entretanto, conforme tere- mos ainda oportunidade de abordar no capitulo seguinte, a Polénia, em pleno século XIX ou seja, na época da verdadeira “febre imi- gratéria para o Brasil” nao existia como pats livre e soberano. Eis a razdo por que, os cidaddos poloneses, ao emigrarem, cram obrigados a fazé-lo com documentos que os consideravam ci- dadaos de nacionalidade alema, austriaca e russa. Atualmente, seria uma tarefa bastante dificil para esclare- cer ou provar 0 seguinte fato, narrado no 1° volume da Enciclopé- dia’ Rio-Grandense, pagina 121, onde lemos: “...0s jesuitas, em longa carta dirigida ao Superior Geral da Ordem, Joannes Roothaan, pediram insistentemente que se enviassem alguns padres de lingua germinice, Estes vieram em 1849, nas pessoas dos padres Augustin Lipinski e Johannes Sedlack, ambos austriacos de nacionalidade...” A julgar pelos nomes e sobrenomes, podemos dizer que, ambos eram poloneses. Nao resta diivida que vinham ensinar a lingua alema. Devemos nos lembrar, contudo, que os referidos religiosos foram edu- cados em colégios austriacos, e portanto, conheciam perfeitamente a lingua germinica. Nada nos impede de pensar que, talvez, pudessem ao mesmo tempo, levar a palavra de Deus aos colonos poloneses, na sua propria lingua materna, No capitulo dedicado A imigragao teuta, em diversas passzgens, tivemos a nitida impressiio de que entre os elementos alemées, deviam existir emigrantes poloneses. Precisamos considerar que, uma das regides da Polénia, que forneceu aprecidveis contingentes de colonos para o Rio Grande do Sul, era a Pomerania (Pomorze) (pag. 82 — 1.” vol.) e a Silésia (Slask) (pagina 91 — idem). Grande parte destas regides, densamente habitadas por poloneses, foi anexada pela Ale- manha durante os varios desmembramentos da Polénia. & bastante provavel, pois, que os poloneses j4 fizessem parte das primeiras levas de emigrantes, que se estabeleceram em S. Lourengo, perto de Pelotas (1857); Santa Cruz (1849); Santo Angelo (1857); Ijui e Guarani das —6— Miss6es (hoje Guaramano) (1890). Estas tltimas, alidis, em grande proporgio, habitadas por elementos de origem polonesa. Vejamos, agora, 0 seguinte quadro, organizado, com base em elementos que nos foram gentilmente fornecidos pelo Departamento Estadual de Estatistica (érgio regional do IBGE): RELACAO PARCIAL DE EMIGRANTES VINDOS AO. RIO GRANDE DO SUL ENTRE 1885 e 1937 (cf. na pagina ao lado) Nao obstante o claro existente entre os anos de 1912 a 1920, correspondente a 1." Guerra Mundial, éstes elementos oficiais, pare- cem-nos muito valiosos e interessantes para o desenvolvimento do tema que estamos abordando. Segundo a relagdo acima, teriam vindo, apenas 23796 (!) imigrantes poloneses entre 1885 a 1937. Impée-se uma ripida andlise do quadro demonstrativo, pois no € possivel que, em to poucos anos tenham desaparecido em solo gattcho, todos os vestigios da lingua e da cultura russa, corres- pondentes aos 19525 imigrantes! Em nossas constantes andangas pelo interior do Rio Gran- de do Sul, temos encontrado 0 elemento de origem eslava falando a lingua polonesa, ou ento, os idiomas ucranianos ¢ ruteno (bialoruski), Estes ultimos eram e continuam sendo falados nas provincias polonesas situadas a Leste, ou seja, na fronteira com a Russia. Nunca, porém, encontramos no interior do Estado, colonos de nacionalidade Tussa ou falando o idioma de Tolstoi. Além déste fendmeno lingiifstico, existe o religioso. Os russos, como é sabido, professam em sua maioria a religifo ortodoxa. Os seus templos caracterizam-se pelo estilo, tipicamente bizantino: torres encimadas de ctipulas, que nao poderiam ser confundidas com as cen- tenas de templos catélicos ou protestantes, espalhados em todos os va- les ou coxilhas do Estado e, no entanto, jamais tivemos a oportunidade de encontrar os templos russos, Além disso os rutenos, anteriormente mencionados, professam também, em sua grande maioria, o catolicis- mo. Désse modo, desejamos, apenas, evidenciar, que os simples ni- meros das estatisticas oficiais, nem sempre traduzem a expressio da verdade. Segundo tudo nos indica aquéle apreciavel contingente “russo”, era constituido, simplesmente de poloneses, stiditos do Tzar ¢ do império russo, até o ano de 1918. Hé, ainda, outro detalhe a con- siderar e relacionado com os dados estatisticos,, Desaparecem, como a ANO DE | Poloneses Russos Alemaes | Austriacos CHEGADA 1885 = = 105 55 1886 7 16 800 72 1887 - a 517 49 1888 - 3 277 44 1889 14 — 443 5) 1890 3.499 7.822 3.414 85 1891 4.783 1 1.901 781 1892 60 2 260 89 1893 6 10 219 552 1894 2 4 271 24 1895 64 187 497 385 1896 4 606 441 377 1897 18 56 242 246 1898 8 23 261 151 1399 296 31 235 50 1900 108 19 194 92 1901 7 37 269 36 1902 57 = 189 63 1903 46 3 195 33 1904 61 67 189 38 1905 12 35 162 o7 1906 36 94 137 10 1907 108 = 221 22 1908 70 2.294 416 249 1909 158 3.606 1.135 323 1910 150 1.207 1,046 247 1911 2.825 1.245 989 169 1912 2.367 2.187 1.349 416 1921 65 1.566 - 1922 84 1.825 - 1923 125 218 - 1924 16 = 4.083 - 1925 108 - 1.997 - 1926 3i1 _ 1.577 _ 1927 626 _ 1,821 - 1928 1,537 = 1.596 _ 1929 2.096 _ 1,508 - 1980 1 —_ 2.139 - 1931 493 _ 1,408 - 1932 314 = 1.286 = 1933 233 - 738 - 1934 268 - 754 = 1935 232 - 776 - 1936 782 - 816 — 1937 144 — 770 — TOTAL 23.796 19.525 43.115 4779 —8— por encanto, apés 0 ano de 1920, ndo somente os “russos* mas tam- bém, os “austriacos”. Haveria alguma razio ponderdvel para que estas duas correntes emigratérias féssem estancadas? Na verdade a Rissia nunca permitiu a emigracdo, mas e a Austria? © fato que pre- tendemos deduzir desta argumentagio elementar, é que os emigran- tes considerados como procedentes da monarquia austro-hingara, logo apés o término da 1.* guerra mundial (em 1918), readquiriram, automaticamente, a sua verdadeira nacionalidade em face do ressur- gimento da Republica Polonesa, pois eram também, de fato, cidadios poloneses, Tomando, por base, apenas, os dados oficiais do Departamento de Estatistica do Estado, e em face, da argumentacao desenvolvida anteriormente, nfo temos diivida em afirmar que o contingente de imigrantes poloneses, nos anos compreendidos entre 1885 até 1937, devia ser igual ou superior em nimero, ao da imigragao alema. Finalmente, vamos tocar em mais um aspecto que julgamos in- teressante, em face das tabelas de emigrantes de varias nacionalida- des, correspondentes aos anos de 1908 — 1912, e que dizem respeito aos municipios de Sado Luis de Gonzaga, (Guarani ou Guaramano), Erechim e Tjui: Tabela de Comparagio Convengiio: A = Numero de emigrantes de varias nacionalidades B = Numero de emigrantes poloneses, vindos para o R. G. Sul Nome da | 1908 1909 1910 1911 1912 Colénia [~~ ATBl[ATSITALBTALS Goarent.. |2345| — |3027) — |1126] — [aie] — [2500] — Erechim .. | — — | —| 967} — |4046] — }3188} — lui... | 1070 124i | — |_s59| — | 129] — | — | — Tofal dos | Poloneses. | 70 158 | 150 2825 2364 £ um fato incontestavel, que estas trés localidades, sfio habi- tadas em grande percentagem por elementos de origem polonesa, ¢ isto nos leva a supor também, que neste espago de tempo (1908-1912), as estatisticas nao exprimiram a realidade. ¥ inacreditavel por exem- plo, que no ano de 1908, tivessem chegado 3.415 imigrantes, quando foram registrados neste tempo, em todo Estado, apenas 70 imigran- tes de nacionalidade polonesa, Somos forgados a admitir que, um —~9~ aprecidvel contingente dos emigrantes polonéses, vindos neste periodo, também, foi anotado como de procedéncia russa, alema ou austriaca Documentar, pois, a histéria da emigracao polonesa nao é uma tarefa elementar. Surgem-nos, ainda outros obstculos. Falta de sociedades literdrias ou culturais, e até de representantes diploma- ticos nos estados do Sul, que nos pudessem fornecer os elementos basicos para a elaboracio déste trabalho, Os paranaenses foram mais felizes neste sentido. Desde que se iniciou a colonizac&o, ha um século, nos arredores de Curitiba, pioneiros houve, como Hiero- nim Durski (1853) e Edmundo Sebastian Wés Saporski (1867), € tantos outros homens, inclusive religiosos de vasta cultura, que souberam orientar os colonos. Deixaram, além disso, para a posteri- dade, um vasto legado de anotacées valiosas. Lamentavelmente, tal no ocorreu no Rio Grande do Sul, e as poucas crénicas escritas e que chegaram ao nosso conheci- mento, nao esclarecem suficientemente o problema. Nao resta a menor diivida que, para o Brasil, ou para o Es- tado do Rio Grande do Sul, atualmente, nao tem, e nem deve ter maior importancia ou significado, a procedéncia e a nacionalidade dos imigrantes. Todos integraram-se na Vida e na Comunidade Gati- cha, como bons brasileiros. Assim o exigin o interésse do Estado e da Politica Nacional. Entretanto, sob o ponto de vista apenas do- cumentério, quando estudamos atualmente a procedéncia dos nos- sos concidadaos, os fatos apresentam um significado épico. E, neste momento, do ponto de vista estritamente histérico, a Justica e a Verdade mandam que se restabelecam os fatos, pois é preciso “dar a César 0 que é de César”. Nao poderiamos, pois, silenciar ou es- quecer a valiosa contribuigéo prestada pelos imigrantes poloneses. Na construgio desta magnifica obra, que é a Patria Brasileiza, néo podem passar despercebidos o esférco, a inteligéncia e a técnica do elemento estrangeiro. Na construcao dos alicerces ciclépicos, jun- tamente com os grupos aleméo ¢ italiano, milhares de bragos polo- neses assentaram blocos de granito, argamassados, nao smente com “suor, sangue e lagrimas”, mas também com a Fé inquebrantavel nos destinos de sua nova patria. I. CONSIDERACOES GERAIS SOBRE OS PRIMORDIOS DA COLONIZACAO POLONESA NO BRASIL Langando um olhar retrospectivo sdbre éste problema, do ponto de vista daquele pais, ou seja da Polénia, verificamos que se —10— trata de uma emigragéo forcada, ou melhor, decorrente da politica. Os emigrantes poloneses fugiam do seu pais, com a esperanga de que a situacdo iria melhorar, e entdo, poderiam regressar aos seus lares. % por esta razo que, inicialmente, a maior parte, nao se dis- tanciava muito da patria; acomodava-se nos paises vizinhos até o momento propicio, para regressar mais facilmente. As nagdes pre- feridas para um reftigio tempordrio eram as seguintes: Franca, Bél- gica, Suiga, Itdlia, Inglaterra, e, sdmente mais tarde, os Estados Unidos. Houve época em que foram suprimidas as liberdades e su- focadas tédas as atividades patriéticas. Entdo a imigragao passava a desempenhar, no exterior, um papel ativo e importante na pre- servacdo de tédas as tradigdes e sentimentos religiosos, morais e cul- turais déste herdico povo. Brasil, naquela época, em face destas peculiaridades, e pelo fato de situar-se no outro lado do hemisfério, ndo podia entrar em cogitagao. fstes so os principais motivos pelos quais pouco se co- nhece sdbre a imigraggo antes‘de 1700. As tinicas referéncias que se possui de imigrantes politicos datam de 1839, 1850, e posteriormente, da segunda metade do século XIX. Para se ter uma idéia aproximada da psicologia e do nivel cul- tural, bem como das condigGes econdmicas dos imigrantes poloneses no Brasil, torna-se mister, dedicar algumas palavras & situacdo po- litica, econémica e intelectual, bem como as razées fundamentais da politica emigratéria da nagdo polonesa. Desde o prineipio do Sé- culo XVII, em face da sua vizinhanga com paises mais poderosos e agressivos, bem como A mé interpretagiio que a nobreza — tinica classe, ent&o, considerada no mundo — dava as liberdades e direi- tos do Homem, a Polénia estava fadada a desaparecer do mapa euro- peu. O colossal império russo, 0 moderno estado alemio, e a nova monarquia austro-hingara, cobigavam as férteis planicies polonesas — que eram na verdade, celeiros famosos e de grande importancia estratégica. Cada um déstes paises em caso de guerra, ou por ra- z6es de Estado, precisava proteger as suas fronteiras, e nada melhor do que alargar as fronteiras, 4 custa do vizinho. O proprio Napoledo teria dito que “do Vistula ao Reno, hi somente um passo”! Daf resul- taram provocagies e pressdes terriveis sbre as fronteiras, que deram como resultado final o desmembramento da Polénia, e sua conse- qiiente eliminagao entre as Nagdes soberanas. —u— Restou, entretanto, 0 povo, éste eterno sofredor! Amalgamado pelos mesmos sentimentos, falando a mesma lingua, e sobretudo, essen- cialmente patriota, fora dividido entre trés poténcias usurpa- doras. Enquanto os cidaddos mais pacatos sofriam amargamente, em siléncio, o jugo estranho, os mais ativos, nobres e inteligentes, nao conformados com as injustigas e a tirania, buscavam novos horizontes, para continuar a uta pela liberdade!... 1 por éste mo- tivo que, as elites e as classes mais cultas, eram forcadas a buscar reftigio nos paises vizinhos. Hoje, de certo modo, poderiamos lamentar que estas classes de intelectuais no tivessem vindo para o Brasil, outrora tdo dis- tante. 1 de supor-se, que os melhores filhos da Polénia teriam tra- zido, além do seu profundo sentimento religioso e sadio patriotismo, as melhores qualidades de honestidade ¢ trabalho, caracteristicas es- senciais dos povos eslavos. Recordando, neste momento, apenas dois vultos tipicos dastes imigrantes politicos, Tadeusz Kosciuszko e Stanislau Pulawski, herdis que lutaram pela independéncia norte- americana, podemos concluir, que a exemplo déstes famosos cabos de guerra, certamente, muitos outros poderiam ter prestado servi- gos inestimaveis 4 nossa pétria. Independente da emigragio politica, havia, naturalmente, a outra, que buscava o trabalho e melhores condigées de vida. En- tretanto, esta corrente emigratéria nao péde desenvolver-se com facilidade, pois a Polénia ndo dispunha de navios ou navegagao pré- pria, até a recuperagiio de sua soberania (1918). Nao obstante tal fato, surgiu um famoso guerreiro polonés, no tempo da invasio ho- landesa, e que ficou fortemente vinculado com a histéria do Brasil Trata-se do general de artilharia Krzysztof Arciszewski (1592-1656), que chegou a conhecer o Brasil desde o ano de 1629, tendo levado 4 Europa intmeras e interessantes informagdes numa época em que o nosso territério ainda era priticamente desconhecido no Velho Mundo. Houve, posteriormente, outros historiadores ou sim- plesmente escritores, tais como: Arkady Fiedler e Mieczyslaw Bohdan Lepecki, que publicaram obras interessant{ssimas sdbre o Brasil. E casos houve, como o da famosa poetisa polonesa Maria Konopnicka (1842-1910), que escreveu uma admirdvel epopéia sébre o emigrante em terras'do sul do pais, intitulada “Pan Balcer w Brazylji”. (“Senhor Balcer no Brasil”). Descreve ai, magistralmente, a Iuta do colono contra téda sorte de dificuldades, ou condigées primitivas da época. Surgiram também, no horizonte, naturalistas, como Stanislaw Pray- on 1 jemski, que desde 1924 radicou-se no Estado de Mato Grosso, onde continua, até agora, a estudar a Natureza, especialmente a doenca dos passaros e das aves selvagens. 1 inegavel, no entanto, que a maior parte da emigragio vinha em busca de pao, e melhores condigdes de vida. Terminada a Revo- lugdo Francesa, surgiram notAveis transformagées no campo econd- mico. A velha Europa passou por uma intensa fase de in- dustrializagio. Construiram-se estradas de ferro, modernas cida- des © fébricas, fazendo participar, igualmente, 0 homem do campo eo da cidade (classe média). Surgiram, também os nacionalismos que influiram decisivamente na unificacio de paises como a Ale- manha (Chanceler Otto Bismarck) e a Itélia (Giuseppe Garibaldi). A Polénia, infelizmente, nao participava destas revolugdes. Imprensada entre trés poténcias ocupantes, era obrigada a tomar parte na vida de cada uma destas poténcias, e isto, se elas assim 0 permitissem!... Gragas & alta cultura e civilizagio dos povos aus- triaco e alemfo, foi possivel estabelecer com éles um razodvel “modus vivendi”, embora a Austria permitisse maiores Iiberdades politicas e religiosas. Tal nfo acontecia com a Riissia Tzarista, qué temia, simplesmente, a cultura polonesa. Os seus politicos tudo fizeram para proibir as escolas. Do ponto de vista econdmico, di- ficultaram sobremodo a construgio de estradas ou de qualquer in- dastria, a fim de manter 0 povo na ignordncia e na miséria. por estas razdes que, o contingente de emigrantes saidos da Austria ¢ da propria Prissia, é menor do que o da Russia. E se vieram an- tes, provenientes daqueles paises, isto é, integrando as primeiras levas de imigrantes alemies, foi certamente devido a intensa pro- paganda de caréter emigratério levada a efeito na Polonia. Entretanto as regides que mais necessitavam de pio e li- berdade, eram constituidas pelos territérios ocupados pelos russos, tais como 0 Centro e 0 Norte da Polénia, através de Lublin, Wilno e Lwéw, (Lemberg) até as frontefras com a Ucrania, Daf provém, pois, a maior parte do elemento polonés, vindo para 0 Brasil, e mor- mente para o Rio Grande do Sul. Além de pobres, oprimidos e com falta de instrugo, estas levas humanas compostas quase 90% de agricultores, nfo podiam, evidentemente, trazer bens materiais ou intelectuais. Nao dispondo de recursos, e nem tampouco, de prote- cdo por parte do Govérno de sua Patria, pois, também nao o pos- suiam, passaram muitos anos de tremendas dificuldades aqui no seas WB ae Brasil, até que conseguissem vencer a natureza e aprender a cul- tivar 0 solo. A floresta virgem era muito diferente dos campos ja lavra- dos, ha séculos, na Europa. Novo clima, desconhecimento com- pleto dos habitos e dos costumes déste imenso pais, a falta, também do amparo do proprio Govérno, tornou a imigragiio polonesa muito mais sacrificada. Nao ha qualquer assentamento, e nem consta na meméria dos mais antigos imigrantes, qualquer recepgdo festiva, com discursos ou bandas de miisica, como tinham, por exemplo, os alemdes desde 1824, quando aportaram em So Leopoldo (cf. 1° Vol. pag. 80). Dai, também, o seu maior mérito e gloria, pois venceram ga- Jhardamente com os seus proprios recursos, tédas as dificuldades naturais, como o clima, as distancias, a falta de estradas, a hostilida- de do gentio, as doengas, e sobretudo, a falta de amparo e de recur- sos materiais, Podem receber, portanto, o diploma ou certificado de legitimos pioneiros, como elemento util e indispensdvel na forma-

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