You are on page 1of 47
IVMVVITUL YIU iy) deco 1 \ oe y \ddddddddddde’ . Claude Meillassoux. Antropologia da Escravidao O ventre de ferro e dinheiro Tradogto: Lucy Magalhies Revisto Técnica: ‘pesquisador do Cebrap Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro Tenuncici a fazer aqui tea de 0 ras Epo em outasFepies, por um lado, porque os eriérios ados pelos autores nfo so ox mesmos 4 as meus: pr outro lad, porque, no estando na ina sea, uno sbern svar Precisament as concordincias ¢ os meus desacordos. PARENTES E ESTRANHOS Em virios ponts da argumentag, a present obra remete a tabahos ante riores, dos quas tetomei alguns raciocnios, para clareza da expo im deaglizar a demon \ CAPITULO INTRODUTORIO a0 sei se consegui. ro & a continuagao de A partir de uma anise semantic (1968), descobre “as crigens soci de pertinénciaa uma cepaétnicadesignada por uma metitora de ctescimento vege Essa pertingncia confere um privilégio que o estranho ¢ o escravo nio conhecem” ; 324). Qs homens lives (0s fancos, os ingénuos, os genio) so a que “nasceram e se desénvolveram conjunament. estrarho; pelo contri, € aquele que nao se desenvolveu no me Gi cresceu dentro dos lagos das telagbes éciaise ecandmicss que ela tos os eto iio 6 durante a baixa Pois a subsisténcia produzida dh ago, mas também de um ciclo agricola 8 ovtt0y inte un ciclo € necesséria& reprodugio da energi®- ~ do termo)- 6a Px af 4 rakes LS EESTRAMIOS 2b distingdo latente que ela permite estabelecer organicamente entre ingénuo € -stranho. 0 individue que nln foi formado nesse duplo ciclo produtiva. reprodutivo ia portanto 0 estranho.* Assim, ele se oporia an ingénua, aquele que nasceu € rexceu na comunidade? 0 fundamento econdmico dessa distingao entre ingénuas ¢ estranhos permite ‘evidenciar uma das condighes objetivas para o aparecimento da explorag&n do tra- Jpalho nas sociedades domésticas. Deve-se nctar aqui, para evitar toda confusio posterior, que 0 funcionamento da comunidade doméstica gera apenas a distingao ‘enire ingénuo e estranho, A relagSo de exploragio a qual ela pode servir de ponto de. partida é somente, no imbito doméstico, pontual. Fla s6 pede evoluir para a escra- Ido quando se transformam ¢ desaparecem ao mesmo tempo as condides de ncia da economia doméstica por sua insercio em um mercado. ‘ \. ce ped w 2 2) ‘A produtividade do trabalho agricola de subsisténcia comanda as capacidades de, reprodugio e de crescimento demografico da sociedade._{ ide Esua perpetuacio exigem uma produ- Jo menos, a renovagao das geracies, isto é, a fabalhador at vo deve ser capaz to até a idade lade por idade, O crescimento demogrifico tocagem da comida para reduzir a taxa de mort ou de fome. A produtividade determina portanto a 2. 0s parentes --¥ fe adugdo, considerando-se a mort Ora, a produtividade agricola alimenticia permaneceu limitada, na Africa sub- sociais de produgo. De modo ge iCou no estigio da enxada. FW totalidade do sobreproduto Comunidade: reprodugio, do ciclo agricola (sementes, reservas); reprodugdo dos futuros produtores. + Em uma etononiia de fraca produtividade e forte mortal Permite apenas uit crescrinenterveMOETsTico limitado. Toda produto dispontvel afeta as capacidades de reprodugio da sociedade. Daf a atengdo edicada a0 problema da renovagaio das geragdes eo laco estreito estabelecido entre 49 Proceso de reprodugdo e as estruturas soca H i] ‘A transferéncia do sobreproxiuto de um i /a sua descendéncia representa 0 contetido materi {od0.0 tempo em que um adulto ative € celibatério, seu sobreproduto vai para os mais + No original rants, danger. que também pode sigifca “erangeir, (NT) Rn ROH EH M MAHAL é = yp Owe Ywede be wee , = ad aia an ses i te tado, pondo em xeque os fundame i=. a ee a = Scene ee \ — tros produtores. Se a exploragio for | i. 3 S a cn | -~e ma esos stoé,omeioda suarepedygbo ays pritica que leva a uma manipul | = milange marie gf Te NC nintri = Se eer i eee eee are - 2 ‘gias guerre imoniais ou poli é/ -le perteamente ehads, ES G5 pe > at aera pa ee ets i=2 a ee ras ae eee = eee a ener io Be er es alanis Un oaraimoeea = Spee ee -te =-8 a = eee - -$ igual) seriam indtet - _> : - > ae te = “"e i ‘As capacidades pontuais de an ¢ legitimado das relagdes m: de fecundagio, pois 0 lago coni jue o homeii entabeTece de sua irma. £ YW aew \ 24 _ANTROPOLOGIA DA ESCRAVIDO |.sua progenitor, de algum modo, uma contrbuigaobruta&comunidade, a qualida- | ae social da mulher importa poco no qe se efere aa estabelesimento da reac Bes 0. S6 ado esposo ov do irmao ¢ decisiva, Assim, na sociedade domésic, s valorizado’G Tascimento de um filho (legitimo) do que o de uma filha, pois: iro €capaz de atrair ou reter a progenitura de uma mulher na comunidade, (ra, osestranhos masculinos, que nfo esto situados nessas elas de paren. io contribuem em nada no plano da reproduc fisica ou social que ao posta ser realizado por um homem jé pertencente& comunidade. Nio € pois @ prior, 'o puro genifor, que ohomem estranho, introduzido na comunidade, pode ser Jo. jf que essa fungto pode ser eumprida por qualquer utro individu ino da comunidade, © homem estrano s6 poe cumprit uma funedo repro, também for apareniado, aceite como “pai soci” isto se receber de seus hospedeias a capacidade formal de reproduzir ou estendr as esuturas~ mais do laue os contingentes ~ da sua comunidade de adogdo, Ora, adeseendéncia do homem stranho s6iré para esta ultima em duas circ da comunidade, para qual, por fata de uma fa use, sendoadotado, o homer € casado com Um serdimi s6o se ele desposar uma jovern ia paterna, ficaré a progenitura; vem de uma comunidade. Apprimeira solugao, dar sua filha em casamento ao estranho, é geralment Ela permite a integracio incontestivet Jo marido fa comunidade de adogé assim s20 constituidas relagdes de afinidade a parti das quais sio estabelecidas| as outras relagbes, especialmente as que definem o acesso do recém-chegado a terra ‘nutriz © que regulam a devolugao da progenitura da esposa. Nesse caso, a int do estranho serd mais fécil se ele jé participa, hé algum tempo, do ciclo prod s¢, tendo sido introduzido jovem, cresceu com seus irmaos adotivos, ou se, neiro de guerra, foi retido na comunidade em substituigdo a um guerreiro desapare- | ido, cuja personalidade social ele assumird, com 0 tempo (ver Héritier, 1975; P-P. Rey, 1975), A insergo do estranho, pelo casamento com uma jovem da comunidade, apresenta a vantagem, para o decano, de manter sem divisio sob a sua autoridade ‘uma esposa, um dependente masculino € toda a sua progenitura durante a primeira geraca0. Por outro fe privar a comunidade de uma sposa vinda em contrapartida da jovem que foi concedida ao estranho, ¢ isso em icada. sens lnsneahusiai oblate ADA ene gS mane ‘um cagula no A 1 necessariamente participado também do ciclo produtv acolhido em um grupo so os” adotivos das esposas as 4 acomunidade tem direito no ciclo g lago das mulheres. A introdugio do estranho no ciclo reprodutivo advém entdo, de preferéncia, quando o miémero dos agulas da comunidade & comparativamente fraco, ou entdo se 0 equilfbrio dos sexos (0U a relagdo entre produtores e improdutivos é insatisf PARENTES E ESTRANHOS 28 7. dstabelece com os outros membros da comunidade, seja como cagula (se for casado / fom uma jovem de um cld aliado), seja como afim (se desposar uma jovem do cli te adogio). sss lagos Ihe dio acesso, progressivamente ele sua descendéncia, prerrogativas que-constituem a pessoa social, e paricularmente As relagbes de Jpaternidade, A famifia que ele constitu est destinada & posteridade; s6 Ihe faltam {os ligos ancestris, que sua progenitura vai, com o tempo, conquistar. ry a io do estranho masculino na comunidade enquanto reprodutor necessério para restabelecer certs equilfrias, esse modo de integragio em geral € apenas um ntimero restrito de homens, mesmo quando tais casos s0 exem- es. Ndo se trata de um processo regular, capaz de proceder & renovacao constante ‘um grupo estranho, nem, alids, concebido para esse fim. ppabere é mais vantajosa ¢ mais simples. Sabemos mais nessas sociedades o rapto das mulheres do que a captura dos aparece como a pefiguragio do escravo. Qualquer que sejao sistema de fliagl0 da sociedade na qual a mulher raptada € introduzida, sua progenitura ¢ atributda & do homem com quem ela & casada. E assim que se introduzem elementos de o, a progenitus ound de wma urito com um csr, men omer snp st lent ngs, nae oe ela pence apents a ina Gi linkages, ao pass qu apertigaca a an Ttnhagens ¢ um elemento esencil de cvileapto Gato 6, de insergdo na sociedade "Por sua dupa petnencia parental ongenuo pode feivament,fazercom au um preteaternonterventaconra uma decisto patra, ou vie-vera, Esse Crom recuso bastante fequente dos Jovens, quando #80 confontdos com um asamentoindesejivel, ov quando comieteram alguna fall, por exemplo. A prt os ecortetem a arbre Apetingecia ama dns mr tet ene infos grmanon may lo terns (0 6 do mesmo palma de mes ects). Prat dsingie lar ene sca um se apn ns merits da 6 fadenya (assim chamado em bamana) exprime a riva- bua linhagem materna. © filho do(a) estranbote) possiilidade de se afirmar. Ele estd em uma situagia viinha da do “bastardo” (este desprovido de parentesco pier) © por iso objeto de um desprezo as vezes cruel. Ao contrério, PARENTES EESTRANOS 34 tum individuo por troca, de modo ocasional, sem que essa transagdo seja a expresso alterar as caracterfticas da economia ‘mesmo cla, que tém o mesmo patronfmico, s4o objeto de ue, 0s Jalofoetc.,e designados com um termo especial ideragdo entre os Soni nas sociedades domésticas ndo-escravagistas, medida que as gera fundamento di twagao comparivel A dos filhos das outras fami - didade genealdgica raramente ultrapassa cinco geragdes. AO fim desse petfodo, 2 absongio se efetua, como provam muitas populagdes.* \z Assim, 0 estranho, homem ou mulher, que é introduzido na,comunidade do- nem aca, em toa conibuem para um © apote de exrangcvospermancor rida Acpreduste do saetee alrio ao sendo gar eu prod abe nfo ond permite liberar deinitvamente do rgbalo una case extablicada de entoret Bra colegio de individu sociedade dos ingetos, representa apnss, em geal um pequcno contingete Mantidos em relates norgnica 0 nivel soil sno indv ial. ni conse ana eles social, imésticaatulo de reprodutor social no reprodvz seu satus onginal de ‘Sua descendéncia ¢ feita de ingénuos, mesmo que cla ‘Seja por atgumrtempo entra ‘quecida socialmente por falta de ascendéncia matera ou paterna. Assim, pores | Provesso de amalgama, os estranhos nao se reproduzem na.sociedade doméstica ergs comp soil distin, yoy Lv estranho nao € introduzido no ciclo reprodutivo, mas apenas na produ 40, ele nao € ressocializado na sociedade de adogZo, pois nio estabelece nela we) nenhum lago de parentesco. Por isso aa como ¥ = ‘ na situagdo objetiva de explorado Ay “D4 A recusa do parentescoy eae . “ee a = nee ¥, an ‘Virios autores (Rey, 197! ivier de Sardan, 1975) consideram que essa = Ocorre também que os homens de on ~ oe um “cagylapermanente”, destinade, 20 lado dos outros = —ComJunto matrimonial a0 qual a com introduzidos membros da comunidade, as tarefas produtivas das quais ele participa como 0s ~ aceitos como genros ou como afins. Sua insergao lev tao al gumas di ‘outros, comendo do mesmo prato € gozando, como todos os membros = «quanto & repatigio de sua produgio materiale eventualmente humanasd de, ena’medida de svas necessidades individuais, do preduto comum. = que demonstram a incompatiblidade da economia doméstica e da escrav ‘A nogio de “eagula permane = ta revelam-a0'mesito tempo, as suas Fondigbes de aparecimento. x =e eee —— vocagio social do cag 5 womens que nio gozam do acolhimento na comunidade doméstica sto §D —_geralmente, ndo tendo nenhuma relagdo de parentesco, de afinidade ou de vizinhan. HE _Ancteann ‘ bs . $F @ objets de captura. Guerrs vicinais, caga de vagabundos ou da pessoa sociale po = idades da aldeia, recuperacao de fet =s fato, economicaten ma y 2 we ‘As guerras vicinais que se situam no vi a rtamente no pod oy & F ACESSO a uma esposa € a uma progenitura, seu produto ndo “Fp. Certamente ndo podem ser comparadas a guetras de captura, como as que 830 lhe cabers,e por isso ele nfo seré nem um parenteafliado, nem um homem livre, poe ane lnm apr ar orca ee a ee re tes envolvem apenas um pequeno nimero de individuos. Os Poucos mortos siio . i . ° ‘objeto de compensacio. Os prisioneiros sio deidos como reféns, para serein respi 8 tados ou para substituir um homem morto em combate; s4o conservados apenas 03 Yq homens cujas fam@ias recusaram a redengao, Estes ultimos sao suscetiveis de tor 2 Nessa economia doméstica, em que as condigdes de produgio so tais que - excluem © ganho individual, em que 0 emaranhamento das tarefas no permit ze qual €a arte produzida por cada um. em que © lempo Pe eer Ser hl pie red aoeee io’ ara abastecer regularmente a comunidade de-estranhos. Quanto & caga, est 2 BW singe ndividvosisolados,acidentalmeneperdidos ns wre doconnts dang ‘Eq <2 cv)aperinéncia social demasiado reine ; esses eranes, poupamse, as ve =< Assim, ao contrério do que parece, se ni amos apenas na observacio das FE@ _mescadres. os tacerdote e tides os qu, em asso desu fungus gerne os onigds de tran “eave domestica queso apute hans ‘e Felagdo pacifica com o exterior. Enfim, Pode acontecer que a comunidade obtenha As de todos os outros membros da comuni é on ee AP Ae pee eo Fy ANTROPOLOGIA DA ESCRAVIDAO PARENTES EESTRAMHOS 9 incapacidade dese reproduzi socialmente enquanto categoria social distinta; impos sibilidade prtica també yma tal reproducdo supSe, demograficarnente, um contingente mfnimo de ‘bem superior aos contingentes habitua's de coda comunidade doméstica. Esta nlo poderia reuni-los e submeté-los sem modificar mente, as suas estritaras dda caga ov da guerra vicinal, que so incapazes de continuo de pessoal subjugado, os outros meios de Ane ERA que $6 poderiainstaurar-se ~ mais uma vez — por sua metamor- forma de sociedade, em condicies histricas diferentes. ‘Assim{por no poder integrar 0 estranh cativa em um campo insutucional ‘6es impede que favoreca 0 crescimento da lishagem do lamutyri ou de qualquer ‘utza. Assim, seria evidente que, enie 0s Samo. as preocupagies que visam preservar ‘0s quacros socioculturais prevalecem sobce as preocuposies relativas & exploracSo, © 23s insttuigdes acima visam neutralizar os efeitos econdmicos e sociats da inserg0 de tum estranho. No que se refere ac caso das populagdes descritas por P.-P. Rey (1975), = despeito do fato de que foram submetidas& fortissima pressio do tréfico de escravos (que se exerceu nas costas da Africa equatorial, as mudangas que elas sofreram se + ata tries 1) . ee enmeaees a s Dh meres et RO OHH HARA ECEOTRECSTGTSCOES ‘eeee a . € Wn a ae! seddeenuvee § o | mistradores em traicantes envergonhados as dos outros membros da comunidade, Mais do que uma subjugacio, de uma transferéncia de filiagdo, Mas a diferenga principal entre esse dependent (chamado mutere)€ 0 cagula € que 0 mutere pode ser vendido nos éireuitos de tréfico, ‘© que sua linhagem de origem ainda impedia: Ao contrério. pel ‘metamorfosear os cagulas de produtores em mercadori Enfim, 0 caso vizinho dos Kukuya (Bonn: _mésticas; por outro lado, a constituigao dessas linhagens em um grupo explorado plas linhagens dominantes. Estas, efetivamente, se dedicam & venda de no mercado para adquirir cativos ent troca. Esses est apenas despojados de uma fragio do seu produ ‘gers Gue Ihe so subordinadas 6. Os imolados Em muitos casos, a introdugao do estranho masculino na comunidade dk impossibilidade de promover a sua lo. Ora, se no se df a0 nenhurn emprego, Produgio, entio ele nao é mais do que um objeto des iedade segmentétia atin- ccomunitétias absorvern le remincia, Nao € de surpreender que a PARENTES F ESTRANHOS = que a sua morte representa, e pela mesma razo, uma ingénua, mais do que ura estranha ou uma cativa. Sua execugso implicava uma perda real, uma rendacia rua poseade © Bs eases de ago que o seu casanemo pera een Gan "cri, o set ples do cme de ecxisténcia, em varias sociedades africanas, de individuos entregues por ‘como penhora a um credor, que pode usé-los gratuitamente até ae: fa. Alguns veer nisso uma forma de escravidio ou a sua origem. Obser rimeiramente que essa insttuigo no me parece: divida ja supe uma hierarquizagio das linhager |e logo a dissoagto dos pi 7. 0s penkorados ~¥7 Codi ci ee ve $6 pode provir de uma contaminagio da economia mesranil ou mesing da jens Longe de estar na oi i igem da escravidio, a penhora poderia ser ‘Orolarid Jia economia mercantil. Dito isso, 0 penhorado, emt Sua qualidade de parentc_ nem Senfiuma das pressovativas que est le vive em sua a escravidio, afetando relagbes de lasses, s6 pode ocorrer: Jingo dos clos produtivos e reprodutivos que fundam o parent £0, logo absoluto, do ndo-parente; > Denae exo, 2. Pela renovagio incessante dessa categoria social excluda das relagses de "eprodugo parents, logo psa cago de aparlis sa aoe ‘A escravidio nto ¢ 0 prolongamento do parentesco, como supdem alguns ff, 1977) (Bla nko tem sun ga a 0 ProcuralA§ suas origens. Longe de s fora desta que € pre sociedades foram ha sécul ‘Mente por tevolucdes comerci _Fia escala de uma historia que 32 ANTROPOLOGIA DA ESCRAVIDAO i — ab, ‘A tear soca do rbreprotut individu! se decomp asi: sh=x,+0B+ 25 0c. © conceited sudrepmduy mio tem nad comam com 0 fm mero de erangss (pe redavos) que um padutralimenta rane as vida aia: mero de descendents que corpartihama maaute me de ss decancs (5 p6-produt ves, ani straos, mesmo comrades, na sociedadedomési sma afstse por To gard, Dia 10 ‘end falavra “eserave™ para designar quel qv, 8 Spenas depos desta venda 3 wn senor Pens que € em ta 380, peapeuvaesaiae-cave'. PRIMEIRA PARTE, O VENTRE Dialética da escravidao i ne OP OHO EORERAATEAG AGHA! 4 CapiTULoT DIMENSAO HISTORICA DA ESCRAVIDAO DA AFRICA OCIDENTAL' | / | Um trabalho precedente nos sugeriv a hipétese de que as contradiqées internas da sociedade doméstica levavam a uma. hierarquizagio das linhagens e A dominagio |, merciais estendendo-se do Suddo ao Maghre % ‘exportagio de escravos sudan (negros) a partir de Awdughust e de Za\ sul. “Contaram-me, acrescenta ele, que os reis dos Sudan vendem S sem raziio nem Ip (5) | undo os autores da tem um grande tote do teitriodo Suto", de onde vinham os eserves "vendidos nase )- So uma raga decor negra ‘ito pra (e-sakh an0951, i Cuog, 1975; 65) Era também desse mesmo Sudo, situado entre oeccan a oes 0 desert ao not, que via amair parte dos eunuces, segundo Hududal-Alam (982-983) (in Cuog, 1975; 69): “os mercadores do Egito vio a esa redo. roubam a rang, elescastram 0s meninos eos export pra © > onde S50 vend dos. Ete fos Sudan hi alguns que ovbam as rangas uns dos vendé as aos mecadores quand estes chegin” (ibid 70) Bis (pot por vias Yezes que as popula do dserto¢ dos Estados . plica como agiam 0s invasores de Ghiyaro: 'Esses povos montam 5; abastecem-se de Agua, avancam & noite, chegam de dia, ¢ depois de tr tomado seu butim, voltam paraasua terra com o nimero de escravos do Lam-Lam, que, com a permissio de Deas, Ihes couberam” (in Mauny, 1961 irisi acrescenta que a cidade de Tekrur era um mercado onde os mouras trocavam Id, video e cobre por escravos ¢ ouro (in Cuog, 1975; 129) Essas exportagGes de escravos s¥0 mencionadas em diferentes momentos da a do Maghreb: al-Birmi por volta de 1050, al-Zubri por volta de de 1223, Ibn Khaldun por volta de 1375. Emm oro, etinados sere vendioe no local. Embora exes autores reptam ouros, les noo fatiam se 0s f {- Osdados da histéria de | trechos: formagao de Estados: | populacées negras aparentemente partic ae cdo Suda’ i C09, 19:9 sinha seu centro, no sécuo X' “nas fonts do Maghreb. uma ' LDIMENSKO HISTORICA DA ESCRAVIDAO DA AFRICA OCIDENTAL 37 « iano) dispunha de para obtengdo de eseravos. Desde o séeuo XI, Gana (Estado shel viynerosos enéreitos ede cavalaria, El-Bekri (1068/1965;332). reirs “dos quai mais de AO mil arma ‘no pals dos Barbara, dos Amimaese pode to tempo em que eles proprios eram pagios... Os habitantes de Gana os invader Todos os anos" (Cu0g, 1975; 120)" Também em outros locais a guerra era continua ce considerada santa: "O re tuado no vale do Senegal) sempre faz guetra 35 negros que estdo mergulhados nainfideidade”(EL-Bekri, 324). Ele se apresen- ra esse respito, como rival de Gana, assim como o rei de Ambara, que, de lador. Os Beni-Lemtuna faziam a guerra santa combatendo os 0 papel dos Almorévida no abastecimento das mercados Je io referidoexpliitamente, mas vias indicagées permitem pensar que ndose tata, para estes santos homens, de uma atividade negligenciads: ‘Yaya ben Umar, guereio de Tbn Yacn, berbere nio-mugulmana. “Os Lemtuna os invadiram, fizerame entre si, depois de ter entregue a0 seu emir um quito do butim’ Thar, muito mais tarde, no século XV; in Cuog, 1975; 223). Quando do saque de 0s Almorivida se poderaram de tudo 0 que encontraram ali sem que se fizesse rmengio de qualquer emancipacso dos capturados. Sabe-se também que Tb Yacin tomava um teryo dos bens daqueles que se aliavam ale, e entre esses bens, pode-se supor que havia muitos escravos. © testemunho de al-Omati sobre o Mali é semelhante ao de ‘0 exétcito do Mali cootava 100 mil homens” aos quais “10 valiros”(p. 66-67) e seus soberenos “fazem constanemente a guerra santa € ‘continuamente em expedigSo contra os negros pagaos”(al-Omari; 81). Segun- ‘es-Soudan (TES, 20) “o rei do Mali conquista 0 Sonshai, Tombucty, Zagha, Mima, Baghena eas proximidades dessa regito até o oceano ‘mercantil de Jenne conseguitresstr aos seus repetidas golpes. Otifico de escravos cera certament, desde ssa época, uma das atividades maiores € um dos principais ‘Tecursos das formagbes poliicas¢ militares que se situavam na zona sahelo-sudane~ 3s, guerra ndo deixou de ser im trago permanente a “passou todo o seu reino em expedigbes guert 2 expedigdes guerreiras e de conguistas de ‘guerras até 0 desaparecimento dos ask ‘Nem sempre os cronistas precisam RARRMAAMRMAAMAAARA MAA TD To - Ve ° nae Annnnnne Vadddad ’ osee lllilldd e y ® Wino Jdala’e’ = 2 PY eee ; a eriles buon 8 srmormona neato at ea ee but ce Cottay® uerTas. Idris relata, entretanto, que elas contribuiam para. abastecimento de-escra- 50S. As crénicas mencionam but se conhece a sua composigao. Quando testa € mencionada, os escravos estio inclufdos em quase todos os casos. Segundo Rouch (1953; 182-183), certas guerras de Soni Ali contra 0 Dendi ou os Tuaregues “nio tinham outro objetivo sendo fornecer soldados ao Sonchai”. Algumas informa- ‘Ges sio mais precisas: em 1501, 0 askia, durante uma campanhia contra o Mali, se abasteceu de cativos (Rouch, 195). Bm. 1558, 0 askia Daud fez, “om 1932/1971; 43). Os habitantes de t ‘origem os restos do nham, por aldeias das expedigdes do askia Mohamed no longinquo Kusata (TEF, 214). Depois de uma incursio do askia Ismael no Gurma (uma regio que Ccontinuamente os ataques dos Sonrhai), “o butim foi tio grande que um escravo, em Kagho, foi vendido por 300 cauris” (TES; 157). Em trouxe do Baxana um grande numero de cantores e cantoras mabi Depois da invasio marroquina, que contribuiu para desagregar as estruturas (TES; 223), 0 que preocupa muito 0 cronista. Os Bambara se apoderaram das mulhe- res sonthai, o alcaide Mansur venceu o askia Nuh ¢ reduzis todos 0s Sonthai que 0 ‘acompanhavam ao cativeiro, “homens, mulheres, jovens e velhos, cantores e canto- ras”, Por volta de 1591-1592, “.. pondo-se em marcha contra os Zaghrani, que habitavam Yaroua, o aleaide Mami aateu-se sobre eles, matou seus homens e levou jo suas mulheres e criangas como cativos para Tombuctu, onde foram vendidas por um prego que variava de 200 a 400 cauris” (TES; 243). Em Chenenku, os marroquinos “tomam um grande niimero de pessoas, homens € mulheres, jurisconsultos e grandes . craim apenas um somatério de combates STORICA DA ESCRAVIDAO DA AFRICA OCIDENTAL, 39 sobre certas reservas de caga ou 0 controle de cidades mercantis, batalhas que nig cram desprovidas de um certo formalismo, eas grandes expedigOes dirigidas contra as populagBes camponesas, arrastando milhares de homens para o saque de algumas simples embi entre populagdes mal defendid: 2es,!%aconstrugdo de fortificas de responder a0 ataque. Essa escalada dos meios de defesa es e& mais prOximas € mais bem defendidas. Esses exé “7-O maioria de infantes mal armados, cetamente 0 deslocamentos talvez se assemelhassem mais a um S30v0. dev conde passavam, do-que a um movimento ordenado. As iad dispensavam, jé no século XVI, de mnquistaram 0 So sn em uma conjuntura diferente. Por Impedidos de acesso ao mercado na dit se fecharam em si mest« ram-se em poderasos Estad 'Em sua fungdo protetora das populagdes contra a captura pelos Bando armado qe paiva a rai incurs pra gue. (NT) racias guerreiras, que tiveram como vocagio defender as comuni tacar e capturar, por sua vez. Por consegut fam para regides cada vez mais distantes, contra ‘ou se tornaram cada ve7 mais poderosas cor jegides longinquas, e durante as quais o massacre era total. Como a captura exigia, jongos deslocamentos, era a capacidade dos reinos de mobilizar numierosos c venteS, de organizar, desTocar, abastécer essas Wopas, que estabeleceu, certamente wanto © uso do eso, a sua verdadeira soperichdaze sobre & populates suscitou entre estas métodos de defesa mais elica 5 aestruturagao de organizagGes militares capaves, wulares. Essas tropas, apesar de seus itares experimentados, ‘ropas marrequinasem 1 pas ¢ 0 uso de armas de fogo"” as ipregar semelhantes contingentes: nio teria utrapassago 3 mil na savana, ao sul dos Estados ji citados que os virias veres, ‘em dirego a0 norte ¢ a0 escoamento saariano dos <0 principalmente defensiva.”” sahelianos, ‘nunca seriam muculmanos, exteriores, depois das ten uerreiros mossijé se tinham associado a bandidos Sonthai para satistazer a deman. ). Assim, $6 no século XIX oreino mossi aparece como fornecedor ‘A oportuna conversio dos principes atingiu ao mesmo tempo o conjunto da popu para combater ¢ subjugar 0s “pagios’ associagao com 0 comércio é conheci abastecerem 0 mercado de escravos. Essas atividades de captura e a movimentagio rovocavam explicam melhor do que a exploragiio ¢ o dos aristocréticos e guerreiros, sahelianos ao isla ~ conversio que nio iam interesse em incitar os soberanos a 5 produtoras permanentes, organizadas, nem ao rente extrafdo no Bure, no Bambuk eno Tambura, ‘mas por populagSes independentes, Os tato Com esses mineradores eram mais 1a producto do que os guerreiros destrui- Controle destas. O ouro era geralm ‘So por escravos pertencentes a0 Pacificos mercadores que mantinham con ‘ina dos “impérios" sudaneses eo deslocamento de oeste que teriam feito, sucessivamente, a sua for elhor, por um duplo fenémeno: por um lado, opulagoes submetidas aos rezzous;? ‘a*— se explicam, igualmente ou me ‘despovoamento devido a fuga das a <0" progressiva das populagdes pagis que permaneciam em seus lcais. No primeiro caso, h no segundo, esgotamento da matéria social apa afornecer escravos em, 5. A expansio militar, efetivamente resultou enfim em uma ampliagio pro-—~ sressiva dos territrios submetidos, por uma transformagdo dos terrenos de rezzous em zonas administradas, isto €, por uma subjugagdo politica das populagdes, que, de estrangeiras¢ logo aptas para serem capturadas, se tornavam siditase logo aptas a serem exploradas.® Além disso, as guetras nessa regio acompanhavam-se sempre da extensio de um comércio organizado e profssional, da infiltrago e da implanta- fo de mercadores islamizados ~ uma circunstincia que no se encontraria nas Fegides mais meridionais. A propagagdo simultinea da conquista militar, da admi- lado, pela conquista € 3 : 3 2 E AAOARAOK FA TAN A te de escravos secou. A conquista territorial abriu dois caminhos; 0 10d0 de exploracdo e renunciou, parcial ou completamente, 10s” para exploraro seu tio, geralmente, um status “civilizado” que 0 protegia contea ‘2 captura por seu préprio soberano € pelos soberanos estrangeiros; ou entdo 0 wava a abastecer-se da matérid humana dos habitantes dos ios ‘ocupados, mas renunciava a justficar a sua autoridade civil sobre eles ¢ via 0 seu poder enfraquecer-se ra, geralmente era uma caracteristica dos Estados fortes proteger os seus siditos contra asubjugagao. Assim acontecia no Mossi. O Tarikh es-Soudan registra, para 0 Sonthai, a elaboragéo de um estatuto que protegia o homem livre cont ‘subjugagao © previa a redenglo dos que fossem indevidamente subjugados. Em relagio as classes inferiores, 0 askia Mohamed estabelecera uma determinagio: “ribos” podiam ter suas criangas retiradas para serem trocadas por e € & € & € « ssa zona sahelo-sudanesa, que abrigou os grandes Estados fornecedores de ‘scravos para o Mediterraneo e 0 Saara, por muito tempo submetida as guerras, iado do desenvolvimento de. Oconstata nos Estados sudaneses, espe Mali. Registra escravos dos dois sexos, criangas e adultos, pi do palfcio (Battuta; 53, 62), soldados reais (id; $3) cram usados como carreg objeto de punigdes corpor ‘Algumas mengées relatam um comértio de escravos que atingia mulheres ¢r (ids; 76) € um tréfico transaariano (600 mogas levadas em caravana através do Fepresentavam um escoamento para a venda dos Fapidamente que as condigdes thes escapou, para cair nas mios de uma DIMENSKO HISTORICA DA ESCRAVIDAO DA AFRICA OCIDENTAL 49, ‘ova classe dominante, uma aristocracia guerreira mugulmana, que, a partir de El Haj Umar, se opés tanto a classe das aristocracias militares pagis quanto a dos tempo que as fungSes assumidas outrora pelas aristocracias leigas cafam em suas mis. Houve entio uma tendéncia para a confusio do controle das armas e da ideologia, uma dominando as outras, ou inversamente. O Masina ¢ os ‘mugulmanos kadriya tinham realizado a subordinago dos guerreiros aos sacerdotes clericais; o tijanismo subordinou os sacerdotes ¢ os mercadores islamizados a uma aristocracia guerreira mugulmana. As guerras de El Haj Umar, como as de Samori, completariam, no fim do séeulo profunda mistura de populagées, iniciada havia dez séculos nessa ta arrastou consigo os Futanke, os Bunduke, em grande nimero, Ideias do Kaarta esvaziadas de seus habitantes, e continuaram até 0 Masinae 0 Seno. Samori também arrasteria consigo tropas recrutadas de passagem, ‘deportando populagées inteiras, enquanto seus capturados se dispersavam —do Sahel eda savana até a floresta. As misturas sociais consecutivas aos deslocamentos dos cativos, & deportagio das populagées, aos deslocamentos dos soldados, & fuga das opulagdes perseguidas, aos movimentos dos mercadores, a ameaga constante que Desava sobre tantos seres capturados, ao mesmo tempo que 0 desejo de todos de se aproveitarem da servidio dos outros, contribuiram para a constituigdo de um con- junto social muito imbricado, estendendo-se por milhares de quilémetros e cujos des. Entre eles, ¢ uns contra os outros, faziam-se aliangas numerosas, ituindo com seus lagos um tecido social inal cujos particularismos étnicos tendiam a desaparecer, para surgir a extensio de uma érea de socializagio difusa, que penetrava até 0 coragao de cada Estado, de cada cl8. Sociedade aberta para formas elaboradas de poder, mas reticente para o absolutismo. Sociedade permeada de nna qual cada elemento, preocupado em preservar sua liberdade e seu pudor, endo a traigo que o precipitaria na subordinacio e na vergonha, procurava 3.A escravidéo e a colonizagdo francesa ‘Acconquista francesa interveio quando as guerras,o comércio ea escravidio estavam no auge. As rufnas provocadas pelas primeiras, enfatizadas pelos viajantes e milita- tes, nio podiam dissimular a intensa atividade mercantile produtora da regio (ver Aubin-Sugy, 1975). : Os relatos dos administradores coloniais sobre a escravidao, estabelecidos em 1894 1902," séo testemunhos certamente obliquos, mas inigualaveis, sobre essa situagio. y ee! e WU WUUUEWEBS OU WTIGAUYYIYYddde cconfinada a0 palicio, Era a revolugio dos sacerdotes! cio organizado de escravos, com seus funcionéri _pregos, cobrindo uma extensio considersvel do oeste da Africa, 10 elevado de unidades produtoras,® [Em razio das guerras e das deportagdes de individuos que elas provocavam entre zonas fornecedoras resides consumidoras, a escravidio no século XIX estava muito ase tent demon oso pea ogres "B.Sc cativoseranecessrio, enovar apopulasdocscrava quanto pareaumen- fg» tle. Arepedusto demogrdin dos srver a pues sda preonepy ds 1 © escravagigus, : fo estavam subjugados, “i =3 880; 468) Recebiam mulheres, ™: {ament ou por sua cor, => id: 467). Bowdich, em > “> = ° = ° ° “eo “2 -° -. dos csr. pee er) maior de mulheres que de |e rot nos mereaos (M4 ico do Maghre \ ESTERILIOADE 63 mente as mulheres as criangas. Acontecia 0 mesmo no fico int Média (ver cap. 1) como nos perfodos mais contemporineos (Nadel, 1942; 9. Malo. 166. Goody, 1980. Piult, 1975; 18. Arquivos de OM, K14/K18 Kouroussa principalmente Lovejoy, 1983 ¢ Fisher e Fisher, 1970). Sabemos como os prision ros de guerra masculinos eram executados, logo que a demanda de cativos mascul- nos baixou, quando trfico atlantico foi proibido (Kurubari, 1959; 546-549, Arquivos de OM, K14)? O mercado interno africano demandava principalmente _nulheres. Fm Gumbu (Mali), um grande burgo que costava, antes da coloniza;io, cerca de 5.200 habitantes, dos quais quase 40% escravos, haveriatrés mulheres escravas para um homem e uma crianga. Uma contagem feta em 1965 ainda mos- tava, quase 60 anos depois da aboligio da escravidéo pelos franceses, uma propor- ‘¢lo menor de eriancas nas familias de origem escrava do que nas de origem franca (missio 1965). Os recenseamentos feitos em 52 circulos da Africa ocidental pela administra: ‘0 colonial francesa e coletados por M. Klein (1983; 68-69) dio oito casos apenas de circulas em que o numero de escravos masculinos ulrapassava o de mulheres, e sete casos em que os dois sexos eram em nimero quase igual. Em 37 outros casos, as mulheres representavam de 60 a mais de 200% dos escravos. Embora essas cas ndo sejam rigorosamente confdveis, sua regulardade ilusta o desequi- Mori, observado por toda a pate, da sex-rati. ‘Seademanda de mulheres era maior do que ade homens, ese elas valiam mais, pode-se supor que isso 6 podia acontecer em virtude da nica vantagem natural que elas possuem sabre os homens, isto , sua eapacidade de procriagdo (Goody, 1981 [Uma popolagao escrava feminina mais numerosa sera pois um sinal de unva po de reprodugdo dos escravos por erescimento nalyral. O5 autores que sustentam esse foi0 Confundem as vetes as escravas compralas como concubinas,cuja pro- _-« Benitura nascia franca ~ € que ado contribulam portnto para a renovacio dos escravos ~ com as mulheres compradas como trabalhadoras. “Mas ahipétese segundo a qual as escravss mulheres (mais numerosas e mais a8 que 05 eScravos homens) teniam sido prefendas para garanti a repraduga0 cescravagista no se baeia, de fate enum dado objetivo. Nenhuma cifra nem epoimento demonstra a reprodugdo demograica das classes escravas. Muito pelo contrrio, em um plano geral, constata-se que nas sociedades escravagistas com preferéncia feminina, na Africa negra como no Maghreb, aimportagdo de escravos se fazia em continuidade, do mesmo modo que nas sociedades escravagistas de domindncia masevlina, como a escravidio antithana, por exemplo. acas as estudos apresentados em Women ad Slavery in Africa (Robertson ‘orgs., 1983), temos alguns casos prevsos epreciosos, referentes a fecund dade das mutheres escravas em algumas saccades afcieanas. Sem que possamos ‘eneralizar esses dados ainda rros, claro que,em cada uma das situagBes descrtas nessa obra, as mulheres escravas . que, a0 contrério do que se podeiaexprar de una poTenetr Felis eervisfemininas por sa quate procriadora, nio havia nem mesmo reprodugio simples dos contin «dos. Os nimeros dos recenseamentor' acinar, 1083.69) icano na Idade XX, um grupo de 15 escravos ad ). M. Strobel pensa, 8 (ibid; tas langa uma, ine no século XIX & ainda mais contado 140 mulheres escra- ose efetuou. Os vi classe dos senhores, mas por duas razbes diferentes, Seria porque suas is escravas nio thes davam je qualquer forma, ndo teriam status de escravos): “They were angry men for seria porque 0s escravos no se reprodi ly buy new slaves in order to keep up the population of their Fes, era a reproducio escrav bear many children, they just bought peoy 83). se expressava um mercador de Bolobo (Alto Zaire), Harms considera a iro: “If you had no money, the people were finished for good" heres como uma forma de resisténcia contra asua condigiio. Mas nhum indicio ou testemunho. Ela contradiz 08 idade das icagdo nao se baseia e este ou até a como é narrada por C. Robertson sdade, uma sucessfio de més condigBes com os homens eram precérias, m ‘eram reconhecidos ou sustentados por seus pais; a prOpria mulher nunca era assurni~ dda por nenhum dos seus amantes. Abortou varias vezes, Exceto urna menina, seus thos no sabreviveram além de cinco anos. O caso de Bwanikwa, relatado por M. }9R3), também ilustra essas m&s condigbes de vida, pouco favoréveis & ESTERILIDADE — 65 R, Maugham (1961; 200) relata a historia contempordnea de uma mulher, escravizada por Tuaregue: capturada por alguns Regei ' vezes, Um dos seus filhos morreu; ela abandonou o outro ; saarianos pretendiam curar-se de doenas venéreas tendo relagdes sexvais com uma ‘ 4 xe tizada por A, Retel (1960; 164). “As uniGes maritais entre dois escravos nio |< impediam 0 senhor de concluir uma troca com um dos cOnjuges, ou dotar"um parente, um clicnte, de uma esposa.” Essas condigdes de vida no eram propia nem A maternidade nem a criaglo de filhosy Néo sendo dotadas, as mulheres ‘escravas nunca eram, na pritica, “casadas”. Quando elas estavam sob 0 poder do senhor, a quem ca iangas, este ndo era 0 Seu pai; também nio 0 era 0 hhomem com que ela tivera essas ciangas, e que, por conseguinte teria por elas um. interesse menor, se ndo nulo. Quando © senhor tolerava ou mesmo impunha a unido de dois escravos, a regra geral era que nio se tratava de um “casamento” propriamente dito (se assim fosse, 0 progenitor tera tido a paternidade das criangas, € noo senor da mulher) Essa unio podia ser dissolvida a qualquer momento, Entre os Anyi, a unigo entre ‘escravos nilo comportava nenhuma ceriménia, “pois eles sio como galos e galinhas que se aquecem’ 0s senhores (C.-H. Perrot, 1982; 168). Para odo se Afeigoarem a criangas que Ihes podiam ser retiradas, ou para ndo ter que assumi-Ias, se fossem separadas de seus companheiros, as mulheres escravas se sentiam tentadas a abortar. a ‘Aatitude dos senhores diante dos filhos de escravos também nio expressava preocupaglo com a reproduso. Hogendorn (1977; 377) relata que quando as mu Theres escravas trabalhavam nas plantagdes de Sokoto, as criangas pequenas eram agrupadas sob uma drvore e as mies s6 podiam se aproximar delas ¢ amameati-las uarda, Em Gumbu, as criangas eram enterradas na arcia até 0 pescogo para que ficassem quietas. Uma testemunha interrogada por R. Maugham (1961; 176) relata que os Tuaregue abandonavam as criangas que cheravam muito no deserto. O eésigo islamico da escravidso (in Daumas, 1857; 322) compara a ‘gravidez da escrava a uma doenga, “acarretando o caso redibitrio, quando as negras vvendidas se encontram nesse estado”. Como no caso de uma doenga oculta ou de loucuia elas podiam ser devolvida a seus proprititos." nidade no era um estado to desevel para a mulher escrava como com a permissic quando suas ymens de sua

You might also like