You are on page 1of 5
q PASTORAL CARCERARIA NACIONAL - CNBB Dass [| Praga Clévis Bevilacqua, 351 — Con}. 501 Centro - 01018-001 - Séo Paulo - SP Tel./fax (11) 3101-9419 ~ libania@carceraria.org.br - www.carceraria.org.br Associagdo Nacional dos Defensores Puiblicos Federais— ANADEF ‘SCN Quadra 01 Bloco C Sala 1308 —Ed. Brasilia Trade Center Brasilia - 70711-902 —Brasilia — DF Tel.Fax (61) 3326-9121 — imprensa@anadef.org. br — www.anadef.org, bt Proposta de Sumula Vinculante - Defensor Publico Geral Federal 1-Situacio fatica A despeito de a maioria dos crimes previstos na nossa Legislacao Penal comportar regime inicial semi-aberto, na pritica é manifesta a predilecao estatal pela construgio de unidades prisionais para presas(os) provisérias(os) ou para presas(os) em regime inicial fechado. A julgar pelo Estado de Sio Paulo, maior populagéo carceréria do Brasil com aproximadamente 164 mil pessoas detentas, 0 resultado dessa primazia das unidades prisionais de regime mais severo é um desastre: na atualidade, segundo recente levantamento da Pastoral Carcerdria do Estado de Sio Paulo, hé aproximadamente 7.000 (sete mil) pessoas no regime fechado, aguardando vaga para o regime semi- aberto. Para se ter uma idéia de como a situagtio vem se agravando, dados da Secretaria da Administraglo Penitenciéria divulgados pelo jornal Estado de Sao Paulo em 2007! davam conta de um déficit de 3.500 (trés mil ¢ quinhentos) vagas no regime semi- aberto, denotando que, em apenas trés anos, 0 mimero simplesmente dobrou. Dessa forma, a despeito de terem direito a cumprir a sua pena em regime semi-aberto, seja por assim mandar o édito condenatério (regime inicial aberto), seja porque assim deferiu o Juizo das Execugdes (pedido de progressio ao regime semi-aberto), por uma inoperincia do Govemo Estadual, essas(es) 7.000 presas(os) so impingidos pela Administragao Penitenciéria a arcar com um énus ao qual no deram causa. 2-Divergéncia Jurisprudencial Em face dessa patente anomalia, a Defensoria Pablica de Sao Paulo tem pleiteado a colocago em regime aberto enquanto a(o) sentenciada(o) aguarda a vaga do semi- _bupv/www.estadao.com.br/noticias/geral,falta-de-vagas-leva-juizes-e-soltar-presos-em-sa0- paulo,88312,0.hem tutelar os direitos das(os) sentenciadas(os) frente as ilegalidades contra elas(es) perpetradas pela Administragio Publica Observe-se que a divergéncia entre o que decide o STF e o que vem decidindo o Tribunal de Justiga de Sao Paulo recai, fundamentalmente, sobre a leitura que se faz do direito progressdo de regime (artigo 112 da Lei de Execugao Penal) e, mormente, sobre a concretizagao dos primados constitucionais da individualizagao da pena e da vedacao de penas cruéis. Afinal, nfo é efetivada a garantia da individualizagio da pena se a progressio devidamente aferida e deferida judicialmente é obstaculizada pela discricionariedade da Administragao Publica. Mais do que isso, situagdo assim acaba por se transmudar em pena cruel, na medida em que a justa expectativa da(o) presa(o) de galgar 0 seu retorno a sociedade passo a paso é tolhida por ineficiéncia estatal, causando, sem diivida, sofrimento psiquico e, no mais das vezes, intensa revolta pela injustiga a que ¢ submetida(o). Em uma palavra, ¢ nitida a crueldade de se manter alguém em regime mais severo por tempo excedente a0 devido. Sto esses primados que devem permear qualquer leitura que se faga do artigo 112 da Lei de Execugdo Penal. O direito a progressio de regime néo pode, em hipétese alguma, ficar a mercé da boa vontade estatal em criar as vagas necessérias & sua aplicago. Pelo contririo, deve sempre ter como norteadores a garantia da individualizagao da pena e a vedagao de penas cruéis. Repise-se: ¢ assim que vem decidindo, de unissono, o Supremo Tribunal Federal. 3- Proposta de Samula Vinculante Diante desse impasse, necesséria a uniformizagao jurisprudencial por meio da edigéo de Simula de efeitos vinculantes a fim de obrigar a Administragao © 0 Judiciario a estabelecer o regime aberto toda vez em que vagas no regime semi-aberto nao houver Aqueles que a clas fazem jus. ‘Como bem afirma Rodolfo de Camargo Mancuso, “nao se pode conceber que uma questio decidida pelo STF, a Corte mais alta do Pais, o Tribunal que da iiltima palavra, receba decisio diferente, em causas idénticas, nos tribunais ¢ juizes inferiores, obrigando © vencido a interpor recursos, percorrendo um caminho dificil, penoso, demorado, para, depois de anos ¢ anos, chegar ao Supremo, a fim de obter a reforma daquela decisio”* No caso que ora se apresenta, o alerta de Mancuso mostra-se ainda mais rotundo, a Tazo de que, no mais das vezes, quando a questo chega ao Supremo Tribunal Federal, © recurso jé perdeu o seu objeto pelo transcurso do tempo, ou porque, aps meses € ? MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergéncia jurisprudencial ¢ simula vinculante. S30 Paulo: RT, 1999. p. 287 meses de espera, a vaga finalmente foi disponibilizada, ou mesmo pelo cumprimento integral da pena (em muitos casos, integralmente no regime fechado!). Destarte, em face das reiteradas decis6es do Supremo Tribunal Federal no mesmo sentido © em vista dos inimeros danos que vem causando a referida divergéncia jurisprudencial, torna-se estritamente necesséria a edigio de uma simula de efeitos ‘vinculantes que coloque uma pé de cal nessa tormentosa controvérsia. Importante, entrementes, que o comando seja direcionado antes Administraglo Penitencidria, a fim de que a(o) sentenciada(o) no suporte ainda mais tempo do que ja é obrigada(o) a suportar. Isso porque, uma vez que ja teve que esperar a prolagao da sentenga, no caso de se tratar de regime inicial semi-aberto, ou 0 tramite © o deferimento do pedido, no caso de Progresso ao regime semi-aberto, seria sobremaneira desarrazoado fazé-lo aguardar mais uma decisSo judicial quando vagas em estabelecimento destinado a0 regime intermediério no houver. Muito mais razodvel e eficaz, portanto, seria que a Administragdo Penitencidria fosse obrigada a, de imediato e independentemente de nova apreciago pelo Juizo das Execugées Criminais, colocar a(0) sentenciada(o) em regime aberto (ou prisio domiciliar) toda vez que no houvesse vagas no regime semi-aberto, evitando-se assim mais um periodo de espera entre a provocago da defesa, a vitiva do MP e, depois de semanas ¢ até meses, a decisao judicial ‘Trata-se, em ultima instincia, de conferir méxima efetividade garantia da duragio razoavel do processo (de execugio criminal), expressa no artigo 5°, inciso LXXVIIL, da Constituigdo da Repiblica. Mesmo porque a decisto judicial, em verdade, ja teria sido proferida — seja para deferir a progressiio, seja para estabelecer o regime inicial de cumprimento de pena ~, sendo de todo initil novo provimento judicial apenas para confirmar o que eventual simula de efeitos vinculantes j determinaria. 4. Conclusio A partir dessas premissas e levando em conta que a controvérsia acarreta grave inseguranga juridica ¢ relevante multiplicagao de processos sobre idéntica questio, somado ao fato que o Defensor Piblico-Geral Federal tem legitimidade incontroversa para provocar a jurisdig#o constitucional in casu, diferentemente do que ocorre com as entidades de classe de imbito nacional, propde-se o seguinte enunciado de simula vinculante, a Vossa Exceléncia, a fim de que seja submetido ao Egrégio Supremo Tribunal Federal: “A Administragao Penitenciéria no pode alegar a inexisténcia de vagas em estabelecimento proprio para justificar a mamuteng%o no regime fechado de sentenciada(o) que tem direito judicialmente reconhecido ao regime semi-aberto. Nesses casos, a Administragio Penitenciéria deve, de imediato e independentemente de nova aberto. Medida bastante razodvel, eis que nfo transfere a(ao) jé sobrecarregada(o) sentenciada(o) (com todas as conseqiiéncias oriundas da condenagio e do encarceramento) uma 1esponsabilidade que € exclusiva do Estado: dispor de estabelecimentos adequados ¢ em niimero suficiente para a correta individualizaglo da pena, ‘Nada mais justo do que, em inequivoca decisio favor rei, aguarde a(o) sentenciada(o) em regime aberto até que a Administragao se digne de oferecer as vagas no semi-aberto E € assim que vem decidindo 0 Supremo Tribunal Federal em todos os julgados homelogos que foram submetidos sua jurisdigao. Ao que consta, pela primeira vez no Informativo 133. Ap6s, também nos informativos 460 (HC 87985), 512 (HC 94526) € 557 (HC 96169). Salvo melhor juizo, o STF tem sido unissono em conceder o regime aberto nessas especificas situagbes A fandamentag&o no julgado constante do informativo 5$7 denota cristalinamente a racionalidade da medida (e, portanto, a irracionalidade de se manter em regime fechado quem tem o direito reconhecido judicialmente de estar em regime semi-aberto). Confira-se: PRIMEIRA TURMA Regime de Cumprimonto de Pena @ Estabelocimente Adequado ‘A Turma deferiu habeas corpus para afastar a possiblidade de o paciente vir a ser submetido, no ‘cumprimento da pena que Ihe fora imposta, a regime mais gravoso do que 0 previsto no titulo condenatirio. Enfatizou-en, da inicio, a naressidada de se emprestar concretude 20 titulo ‘executive judicial. Em seguida, assaverou-se que @ falta de vagas no regime semi-aberto néoimplicaria a transmudagso a ponto de alcancar a forma fechada. Assim, implicitamente, a conseqiiéncia natural seria a custédia em regime aberto e, inexistente a ‘casa de albergado, a prisso domiciliar. HC 96169/SP, rel. Min, Marco Aurélio, 25.8.2009. (HC-96169) Todavia, esse niin tem sido o entendimento majoritirio no Tribunal de Justica de So Paulo. Em uma pesquisa de julgados publicados a partir de 2008, constata-se que na maioria esmagadora deles a medida é rechagada com argumentos dos mais canhestros e anacrénicos. Fundamentos falaciosos como “a falta de vagas no regime semi-aberto (..) ndo pode justificar uma precipitada e temerdria soltura de condenados em regime fechado direiamente para regime mais brando” (IC 990,09.351811-2, julgado em 4 de margo de 2010 pela 6 Camara Criminal do TISP), “a auséncia de vagas ndo pode ser imputada ao Poder Judicidrio” (FIC 990.09.346450-0, também julgado em 4 de margo de 2010, pela 14* Camara de Direito Criminal do TSP) ou ainda que “hd inimeros semtenciados na mesma situagaio, impondo-se 0 mesmo tratamento em respeito ao principio da isonomia” (HC 990.09.309210-7, julgado em 23 de fevereiro de 2010 pela 4* Camara Criminal do TJSP) so corolérios da resisténcia do Tribunal paulista em decisdo judicial, colocar a(o) sentenciada(o) em regime aberto até que se providencie ‘vaga em estabelecimento apropriado”. ‘Sao Paulo, 26 de abril de 2010. yo th Presidente da Associagaio onal dos Bete Pilicos Feferais - ANADEF i .

You might also like