You are on page 1of 23
Acérdios TRG 1958/15.0T9BRG.G1 CLARISSE GONCALVES DESPACHO RECEBIMENTO ACUSACAO PRINCIPIO DA PRECLUSAO ARIS 311° E 313" DO CPP RG 22-10-2018, UNANIMIDADE s RECURSO PENAL PROCEDENTE SECCAO PENAL I) Proferido despacho a que aludem os art°s 311° e 313° do CPP, apresentadas € admitidas as contestagées dos arguidos (que nenhuma questéo levantaram), admitida a prova e aberta que foi a audiéncia para realizacao do julgamento tendo por base a acusagdo recebida — de fis. 580 a 586 ~ ndo se mostra possivel “represtinar” uma acusago que ja foi declarada nula pelo titular da ac¢ao penal enquanto teve o dominus do inquérito, IW) De acordo com o principio da preclusao, uma vez praticado determinado ato ele adquite foros de definitive naquele processado (preclusdo intraprocessual ou efeito intraprocessual da preclusao). Ill) Assim, recebida que foi uma determinada acusagao sera ela que fixa 0 objecto dos autos © com base na qual sera realizado a audiéncia de julgamento, O poder jurisdicional do juiz fica esgotado quanto & matéria em causa (efeito preclusivo do caso julgado). Acordam, em conferéncia, os Juizes da Secgao Penal do Tribunal da Relacdo de Guimaraes: RELATORIO. - 1. No processo comum, com intervengdio de Tribunal Singular, com 0 n? 1958/15.0T9BRG, que corre termos no Tribunal Judicial da Comarca de Braga, no Juizo Local Criminal de Barcelos, Juiz 2, foi proferido: + DESPACHO, a 2 de Outubro de 2017, onde se decidiu (transcrigao): “ ida, depoi . ‘ . consideragées, decide-se: i) Declarar juridicamente inexistentes os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos; ii) Rejeitar a acusagao publica deduzida a fis. 277 seguintes, ao abrigo. do artigo 311°, n® 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, por ser manifestamente infundada, no que respeita a sociedade arguida "X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao"; iii) Receber a acusago deduzida pelo Ministério Publico a fis. 277 & seguintes contra os arguidos D. S., J. S., D. M. e "XX - Comércio, S. A. = Em Liquidagao”, todos melhor identificados a fis. 278/279, pelos factos e disposicdes legais constantes da referida acusagao e que aqui se dao por integralmente reproduzidos. Para julgamento neste Tribunal designo o dia 29.11.2017, pelas 9.30 horas, ¢ 0 dia 06.12.2017, pelas 09:30 horas, como segunda data, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 312.°, n.° 2 do Cédigo de Proceso Penal Os arguidos aguardarao os ulteriores termos do proceso sujeitos a Termo de Identidade e Residéncia, ja prestados nos autos, atenta a inexisténcia de exigéncias cautelares que justifiquem a aplicagao de outra medida de coacgao. Admito liminarmente o pedido de indemnizagao civil de fis. 612 seguintes, bem como a prova que o acompanha, mas apenas quanto aos arguidos D. S., J. S. e “XX - Comércio, S. A. — Em Liquidagao, rejeitando-o relativamente & demandada “X — Industria de Perfis, S. A. - Em Liquidagao”, atento o principio da adesao plasmado no artigo 71.8, do Cédigo de Processo Penal, e tendo em conta que, no que respeita a esta sociedade, a acusagao foi rejeitada por ser manifestamente infundada. Cumpra o disposto no artigo 78.°, n.° 1, do Codigo de Processo Penal Notifique, sendo ainda os arguidos para, querendo, apresentarem nova contestagao, tendo como referencia a delimitagao do objecto do processo operada pela acusagao ora recebida.” (fls. 775 e 776). e - SENTENGA, datada, lida e depositada a 18 de Dezembro de 2017 (fis. 887, 895v. e 896), com a seguinte “Decisdo” (transcrigao): “Parte Crime Pelo exposto, julga-se a acusagao procedente e, em consequéncia, decide-se: a) condenar 0 arguido D. S. pela pratica, em autoria material, de um crime de abuso de confianga em relagao a Seguranga Social, na forma continuada, previsto e punido no art.° 107, do Regime Geral das Infracgdes Tributarias, aprovado pela Lei n.° 15/01, de 5 de Junho e com referéncia ao art.° 105, n.° 5, do mesmo diploma e art.° 30, do Cédigo Penal, na pena de 160 (cento e sessenta) dias de multa, a taxa didria de €7,00 (sete euros), no total de € 1.120,00 (mil cento e vinte euros); b) condenar o arguido J, S, pela pratica, em autoria material, de um crime de abuso de confianga em relagao a Seguranga Social, na forma continuada, previsto e punido no art.° 107, do Regime Geral das Infracgées Tributarias, aprovado pela Lei n.° 15/01, de 5 de Junho e com referéncia ao art.° 105, n.° 5, do mesmo diploma e art.° 30, do Cédigo Penal, na pena de 160 (cento e sessenta) dias de multa, a taxa didria de €7,00 (sete euros), no total de € 1.120,00 (mil cento e vinte euros); c) condenar 0 arguido D. M. pela pratica, em autoria material, de um crime de abuso de confianga em relagao a Seguranga Social, na forma continuada, previsto e punido no art.° 107, do Regime Geral das Infracgées Tributarias, aprovado pela Lei n.° 15/01, de 5 de Junho e com referéncia ao art ° 105, n.° 5, do mesmo diploma e art.° 30, do Cédigo Penal, na pena de 200 (duzentos) dias de multa, a taxa diria de € 7,00 (sete euros), no total de € 1.400,00 (mil e quatrocentos euros); ) condenar a arguida “XX -Industria de Perfis, S.A. - Em Liquidacao” pela autoria de um crime de abuso de confianga em relago a Seguranga Social, na forma continuada, por forga do estatuido nos artigos 7.°, n.° 1, do Regime Geral das Infraccées Tributarias, na pena de 200 (duzentos) dias de multa dias de multa, a taxa didria de € 10 (dez euros), tudo no valor global de € 2.000,00 (dois mil euros). Mais se condenam os arguidos no pagamento das custas do proceso, fixando-se a taxa de justica para cada um deles no minimo legal ¢ reduzindo-a a metade por forga da confisso dos factos realizada pelos arguidos D. S., J. S. e D. M. (por si e enquanto legais representantes da sociedade arguida). Parte Civil Julga-se parcialmente procedente a acgao civel e, em consequéncia: i) Declara-se extinta a instancia por inutilidade superveniente legal da lide, nos termos artigo 277, alinea e), do Cédigo de Processo Civil, no que respeita a demandada “XX -Industria de Perfis, S.A. - Em Liquidacao”; ii) Condenam-se os demandados D. S., J. S. e D. M. a pagar solidariamente ao Instituto da Seguranga Social, |. P. a quantia de € 33.885,83, acrescida de juros de mora a taxa prevista no art.” 3.° do Decreto-Lei n.° 77/99, de 16 de Margo, contados a partir do termo do prazo em que cada uma das quantias referentes as quotizagoes deduzidas devia ter sido entregue e até efectivo e integral pagamento. Custas a cargo dos demandados D. S., J. S. e D. M. — art 523.° do Cédigo de Processo Penal e artigo 527.°, n.°s 1a 3, do Codigo de Processo Civil. Boletins a Direcgao dos Servigos de Identificagao Criminal. Notifique, Proceda-se ao depésito. Face ao disposto no artigo 78.°, n.° 2, do Cédigo Penal e 472.°, n.° 1, do Cédigo de Processo Penal, e tendo como referencia as anteriores condenagées impostas a todos os arguidos, apds transito, requisite certificados do registo criminal actualizados, abrindo de seguida vista ao Ministério Publico.” (fis. 894v. e 895). = 2. Inconformados com ambas as decisées (do DESPACHO e da SENTENGA), 0 Ministério Publico ¢ 0 arguide J. S., interpuseram os respectivos recursos, sendo que da sentenga o recurso foi interposto também pelo arguido D. S... - 2. A.) Do DESPACHO - 2. A. 1.) O Ministério Publico apresentou as seguintes conclusées (transcrigao): “1 A acusagéo de fis. 578 a 586 é vdlida porque, efetivamente, a acusacdo de fis, 277 a 282 é nula ao abrigo do disposto no artigo 119.°, al. d) do CPP conforme se refere no douto despacho de fis. 535 e 536 sendo que 0 MP de forma preventiva e legalmente admissivel, reparou essa nulidade repondo a legalidade processual penal. Il, Quanto & questo a decidir acompanhamos na integra 0 entendimento do Ministério Publico nas alegagées de recurso que foram apreciadas pelo Tribunal Superior no supra referido Acérdao do Tribunal da Relagao de Guimaraes de 24 de abril de 2017, proferido no processo n? 180/07.4 JABRG. G1 relatado pela Exm. Sr.* Desembargadora, Dr.* Fatima Furtado, disponivel in www.dgsi.pt. Com efeito, - III. Nao obstante o terminus formal do inquérito, 0 Ministério Publico mantém competéncia para a pratica de atos de indole formal e substancial posteriores, nomeadamente conhecendo de eventuais invalidades anteriormente cometidas, apreciando causas supervenientes que obstem ao exercicio da agao penal (v.g. desisténcia de queixa, amnistia, prescrigo) e promovendo as diligéncias necessarias a remessa dos autos para julgamento. - IV. Os mesmos poderes sao ex lege atribuidos ao juiz de instrugao criminal, que exerce todas as fungées jurisdicionais até a remessa do processo para julgamento, nos termos do artigo 17.° do Cédigo de Processo Penal. -V. «A declaragao de nulidade determina quais os atos que passam a considerar-se invalidos e ordena, sempre que necessario e possivel, a sua repeticao, pondo as despesas respectivas a cargo do arguido, do assistente ou das partes civis que tenham dado causa, culposamente, 4 nulidade» (art. 122.°, n.° 2, do CPP; art. 202.° do CPC); - VI. O principio da irretratabilidade da acusagao significa apenas que Ministério Publico nao pode retirar uma acusagao/arquivamento por si formulada, nao abrangendo a possibilidade da sua corregao quando ela, por qualquer motivo, seja invalida. -VIL. Apenas aquilo que é processualmente valido pode desencadear esse efeito preclusivo: quod nullum est nullum producit effectum; se uma acusagao invalida nao produz efeitos, entao também nao produziu esse efeito preclusivo de nao poder jamais ser retirada nem, de alguma forma, corrigida. - Vill. A semelhanga do autor da peticao inicial, 0 Ministério Publico pode antes da remessa dos autos para julgamento, por forga do principio da legalidade do exercicio da ago penal, consagrado no artigo 219.° da Constituigao da Republica Portuguesa, corrigir uma acusagao nula que tenha proferido anteriormente. - IX. Os arguidos no devem poder beneficiar de um qualquer erro formal, cometido pelo Ministério Publico, nomeadamente quando a renovagao do proceso importar a renovagao da possibilidade de se defender. - X. Uma vez que 0 Ministério Puiblico nao é infalivel, o interesse punitivo estadual impde que uma acusagdo invalida possa ser corrigida até a sua remessa para julgamento e a formagao da relagdo juridica processual trilateral, sob pena de se afetar o direito de acesso ao direito e aos tribunais (art. 20.° da CRP). - XI. Tal como os erros dos outros sujeitos processuais, também os erros do Ministério Publico devem poder ser corrigidos, nao podendo a pretensao punitiva estadual ficar exclusivamente dependente da bondade da sua atuagdo. - Xi. A declaracao de uma acusagdo nula e a sua substituigao por outra no violou os direitos de defesa dos arguidos, uma vez que estes foram notificados da nova acusagdo, tendo tido a possibilidade de a impugnar, suscitando a sua comprovacao judicial (Alids, no presentes autos, os arguidos nao requereram a abertura de instrugao e nada disseram sobre a questo ora suscitada em sede de contestacao). - XIll. A concessdo da referida prerrogativa nao viola os principios da igualdade e da proporcionalidade, nem constituiu nenhum atropelo dos principios do justo proceso, da igualdade de armas, da lealdade processual e da vinculagao tematica da acusagao. - XIV. Relativamente a questdo a decidir cumpre desde ja referir que o douto Acérdao do Tribunal da Relagao de Lisboa de 11 de maio de 2016, proferido no processo n.° 88/10.6 JAPDL. LI-3 relatado pela Exm.° sr.* Desembargadora, Dr.* Maria da Graga Santos Silva incide sobre uma questo nao coincidente com a questao apresentada nestes autos somente sobre a questao de saber se proferido um determinado despacho — no caso, uma acusagao - é, ou nao, legal, a sua substituigao por outro, ainda que 0 primeiro nao tenha sido cumprido, ou seja, ndo se mostre notificado aos intervenientes processuais. No referido aresto, 0 Tribunal referiu que uma vez proferida a acusagdo (ou qualquer despacho do MP no ambito do inquérito), seja qual for o tratamento que ihe tenha sido dado (isto é, tenham eles sido notificados, ou nao) esta precludida a possibilidade de o MP renovar a pratica do acto sendo que 0 ato praticado tornou-se definitivo e parte integrante do processado, tenha ele sido vertido em papel ou em sistema informatizado. Por outras palavras, no processo supra referido, o Tribunal superior ndo se pronunciou sobre a questao de saber se é possivel ao MP deciarar nula uma acusagao ao anterior. - XV. Diferentemente, o douto Acérdao do Tribunal da Relagdo de Guimaraes de 24 de abril de 2017, proferido no processo n.° 180/07.4 JABRG. G1 relatado pela Exm.° Sr.* Desembargadora, Dr. Fatima Furtado, disponivel in www.dgsi.pt., pronunciou-se sobre a questao de saber se é legalmente admissivel o Ministério Publico deciarar nula uma acusagao anteriormente elaborada. - XVI. Como se referiu supra, acompanhamos na integra o entendimento do Ministétio Publico nas alegagées de recurso que foram apreciadas pelo Tribunal Superior no supra referide Acérdao do Tribunal da Relacéo de Guimaraes de 24 de abril de 2017, proferido no processo n° 180/07.4 JABRG. G1 relatado pela Exm.° Sr.* Desembargadora, Dr.* Fatima Furtado, disponivel in www.dgsi.pt - XVII. A segunda questo enunciada pelos arguidos no dia 5 de junho de 2017 fica assim prejudicada, Face ao exposto, pugnamos pela revogagao do douto despacho judicial de fls. 772 a 776 e a sua substituicao por outro que indefira © requerido pelos arguidos J. S., D. M. e D. S. no dia 5 de junho de 2017 considerando-se que os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e sequintes dos autos nao sao juridicamente inexistentes mas antes validos determinando-se, consequentemente, a realizado do julgamento tendo por referéncia a acusagao do Ministério Publico de fis. 587 a 601 a qual é valida para os devidos efeitos legais, V's Ex*s, porém, faréo a costumada JUSTIGA.” (fis. 801v. a 803). +2. A. 1.1.) 0 arguido, J. S., apresentou resposta ao dito recurso entendendo dever ser o mesmo “julgado improcedente com as legais consequéncias.” (fis. 906.) -2. A.2.) O arguido, J. S., interpés recurso do dito DESPACHO, tendo formulado as seguintes conclusées: “4.Nos presentes autos, aberta a audiéncia de julgamento, o ora Recorrente apresentou uma questo prévia ou incidental, cujo contetido se encontra transcrito supra na motivagao do presente recurso e que aqui se da por integralmente reproduzida 2.Em sintese, no ambito do inquérito foi deduzida uma primeira acusacao pelo Ministerio Puiblico, tendo o mesmo nessa sequéncia vindo a declarar nula essa acusacao e posteriormente veio a deduzir uma segunda acusagao. 3.No requerimento apresentado em acta aquando da abertura da audiéncia de julgamento, foi o seguinte o peticionado: “Assim sendo, a acusagao datada de 27 de Fevereiro de 2017 & juridicamente inexistente, e nao Ihe pode ser atribuido qualquer valor juridico, nem dela podem advir consequéncias ¢ modificagdes no mundo do direito e dos factos, nenhum efeito tendo pois o seu recebimento, por despacho judicial, com as legais consequéncias. Isto posto, temos a primeira das acusagdes deduzida, que porém, nao obedece ao disposto no artigo 283° do C.PP., conforme o Ministério Publico admitiu no seu despacho em que a declara nula. De modo que, também quanto a esta resta conhecer oficiosamente, nos termos do disposto nos artigos 311° n.° 2, alinea a) en. 3, alinea a), do Vicio da acusagdo manifestamente infundada.» 4.Vem o presente recurso apresentado na sequéncia do despacho proferido pelo Tribunal “a quo” na sequéncia da questao prévia apresentada, em que se decidiu o seguinte, citamos: Nessa medida, depois de tudo visto e sem necessidade de mais consideragées, decide-se: i) Declarar juridicamente inexistente os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos; ii) Rejeitar a acusagao publica deduzida a fis. 277 e seguintes, ao abrigo do artigo 311° n.° 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, por ser manifestamente infundada, no que respeita 4 sociedade arguida “X — Industria de Perfis, S.A. — Em Liquidagao”, ili) Receber a acusagao deduzida pelo Ministério Publico a fis. 277 seguintes contra os arguidos D. S., J. S., D. M. e "XX = Comércio, S. A ~ Em Liquidagao”, todos melhor identificados a fls. 278/279, pelos factos e disposig6es legais constantes da referida acusagao e que aqui se déo por integralmente reproduzidos. (...) Admito liminarmente o pedido de indemnizagao civil de fis. 612 e seguintes, bem como a prova que o acompanha, mas apenas quanto aos arguidos D. S., J. S. e “XX — Comércio, S. A. - Em Liquidagéo, rejeitando-o relativamente 4 demandada "X = Indtstria de Perfis, S. A. - Em Liquidagao”, atento o principio da adesao plasmado no artigo 71.°, do Cédigo de Processo Penal, e tendo em conta que, no que respeita a esta sociedade, a acusagao foi rejeitada por ser manifestamente infundada.» 5.0ra, 6 quanto ao decidido nos pontos ji), ii) e quanto a admissao do pedido de indemnizagao civil que incide o objecto do presente recurso. 6.E, assim 6 porque, andou mal o Tribunal “a quo” ao ter rejeitado a acusagdo publica de fis. 277 (1* acusagao proferida) apenas no que respeita a sociedade arguida “X — Industria de Perfis, S. A. - Em Liquidagao". 7.Na verdade a acusagao de fis. 277 e seguintes deveria ter sido rejeitada no seu todo, desde logo, atendendo ao manifesto erro na identificagao da sociedade comercial arguida que se identificou como sendo a “X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao”, quando os factos decorrentes da acusagao nao Ihe sao correspondentes mas antes & sociedade comercial “XX - Comércio S. A. — Em Liquidagao” 8.E, por outro lado, a acusagao de fis. 277 e seguintes deveria ter sido rejeitada por estarmos no ambito dos presentes autos perante conexdo de processos, o que obriga a que a acusagdo seja una, sob pena de nulidade insanavel. 9.Analisando o manifesto erro na indicagao da denominagao social de cada uma das sociedades comerciais arguidas [X e XX], verificamos que nao muda apenas o niimero 2 ou 3, porquanto, a XX, acrescenta-se “Comercio S. A. — Em Liquidagao" e a X, “Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao". 10.Constatada esta diferenca substancial, outra solugdo nao existe que no seja a de langar mao do disposto no artigo 311° n.°s 2 e 3 do Cédigo de Processo Penal, que nos ensina que, se 0 processo tiver sido remetido para julgamento sem ter havido instrugdo, o presidente despacha no sentido de: rejeitar a acusagdo, se a considerar manifestamente infundada. E, a acusagao considera-se manifestamente infundada quendo nao contenha a identificagdo do arguido. 11.E certo que a nulidade do disposto no artigo 283° n.° 3 se considera sanavel e por isso passivel de correcodo, no entanto, com o merecido respeilo, essa correcgao nao podia ser promovida no presente caso pelo Tribunal “a quo”, a quem competia proferir despacho de rejeigao da acusagao porque a mesma nao contem a correcta identificacao da arguida e por isso ser do conhecimento imediato do Tribunal. 12.De modo que, sobre a acusagao proferida a fls. 277 e seguintes dos autos, deveria ter incidido despacho de rejeigao no seu todo, com as legais consequéncias. 13.Mas, acresce a isto 0 facto de no ambito dos presentes autos ter sido proferido pelo Ministério Puiblico em, 26.11.2015, ou seja, muito tempo antes de ser proferida acusagdo, despacho a ordenar a apensacao de processos [sublinhado nosso] 14,Alids, essa factualidade resulta do despacho proferido pelo Ministério Publico a declarar a nulidade da primeira acusagao [de fis. 277 seguintes], entretanto declarado inexistente, em que se fez constar 0 seguinte, citamos: “Por outro lado, dispde 0 n.° 4, do artigo 283° do Cédigo de Processo Penal, que em caso de conexao de processos é deduzida uma tinica acusagao. Contudo, em razéo da instrugéo em separado dos processos cuja apensagao se determinou, nao contemplou a acusagao toda a matéria do inquérito, como se impunha que tivesse feito, por forga daquele despacho de apensagao de processos, o que redunda inequivocamente na nulidade insanavel prevista no artigo 119°, d), do Cédigo de Processo Penal”. 15.De onde resulta que o Tribunal “a quo” tinha conhecimento do identificado despacho a ordenar a apensagao dos processos, e bem assim, tinha conhecimento de que a acusagao tem de ser una, sob pena de nulidade insanavel [sublinhado nosso]. 16.Porém, quanto a esta questao o Tribunal “a quo” nao se pronunciou. 17.No entanto, apesar disso, o Tribunal “a quo” entendeu sanar um alegado lapso na identificagao de uma das arguidas, e fé-lo em violagdo do disposto no artigo 311° n.° 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), acrescendo ainda 0 facto de nao ter considerado que nos autos existe um despacho que ordenou a apensagao de processos, despacho esse que nao é inexistente, e que determina para futuro que a acusagao tinha de ser unica. 18.No entanto, nao foi assim que aconteceu, o que torna a acusagao de fls. 277 e seguintes para todos os efeitos nula, nulidade essa que é insanavel e de conhecimento oficioso. 19.0ra, face ao que fica dito, ao Tribunal “a quo” competia rejeitar a acusacdo ptiblica deduzida a fls. 277 e seguintes contra todos os arguidos, com as legais consequéncias. 20.Uma vez que assim nao fez, incorreu em violagao do disposto nos artigos 311° n.°s 2, alinea a) e 3, alinea a), 283° n.° 3, alinea a) en 4e 119°, alinea d), todos do Cédigo de Processo Penal, bem como, em violagao do principio da seguranga juridica. 21.De outra banda, 0 tribunal a quo recebeu liminarmente 0 pedido de indemnizagdo civil de fls. 612 e seguintes, na parte em que se encontra formulado contra os arguidos D. S., J. S. e “XX — Comércio, S.A. - Em Liquidagao, rejeitando-o por sua vez quanto a demandada “X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao”. 22.Sucede porém, que aquele pedido de indemnizagao civil é contemporaneo da segunda acusagao deduzida e entretanto declarada inexistente. 23.Est por isso, também o pedido de indemnizagao civil ferido do vicio de inexisténcia e, ainda que assim nao fosse, o mesmo é extemporaneo. Vejamos pois, 24.Compulsados os autos, verifica-se que 0 pedido de indemnizagao civil foi apresentado pelo Demandante Instituto da Seguranga Social, | P,, na sequéncia de ter sido notificado da acusagao de fis. 578 seguintes dos autos [segunda acusagao proferida ja declarada inexistente] 25.Nao se ignora que vigora no nosso ordenamento juridico o principio do aproveitamento dos actos praticados, porém, com 0 merecido respeito, considera-se ser de mediana evidéncia que tendo 0 pedido de indemnizacdo civil sido uma consequéncia da segunda acusagao proferida, tanto mais que apenas nessa sequéncia foi apresentado, estando a segunda acusagao ferida do vicio mais grave do nosso ordenamento juridico que é o da inexisténcia, esse vicio estende-se ao pedido de indemnizagao civil apresentado. 26.Por outro lado, compulsados os autos verifica-se que a primeira acusacdo foi expedida para o Instituto da Seguranga Social, |. P. em 01 de Fevereiro de 2017, tendo a notificagao sido recebida no dia 02 de Fevereiro de 2017 27.0 prazo de que dispunha para deduzir pedido de indemnizagao civil era de 20 dias. 28.Porém, o pedido de indemnizagao civil deu entrada em 28 de Marco de 2017. 29.De onde resulta a saciedade que o pedido de indemnizagao civil ainda que no estivesse ferido pelo vicio da inexisténcia, o que nao se concede, era extempordneo 30.De modo que, o pedido de indemnizacdo civil nao podia ser recebido liminarmente, antes deveria ndo ter sido recebido ou rejeitado pelos fundamentos acabados de expor. 31.Assim nao tendo sucedido, o tribunal a quo incorreu em violagao do disposto nos artigos 77° e 311° do Cédigo de Processo Penal e em violago do principio da seguranga juridica. TERMOS EM QUE: Deverd ser concedido provimento ao presente recurso, devendo o Douto despacho ser alterado, nos termos sobreditos. Para além das pegas processuais que o Tribunal venha a reputar convenientes para a instrugao do presente recurso, desde ja se requer ‘seja 0 mesmo instruido com o despacho que ordenou a apensagao de processos, com a acusacao de fis. 277 e seguintes, com o despacho de fis. 535 e 536, com a acusagao de fis. 578 e seguintes, com a notificagao da acusacao de fis. 277 e seguintes e da acusagao de fls. 578 e seguintes ao Demandante Civil Instituto da Seguranga Social, .P., com 0 pedido de indemnizacao apresentado nos autos e com a acta de audiéncia de julgamento do dia 05.06.2017. Assim farao V. Exas. a Acostumada Justiga’ (fls. 809 a 812). -2. A. 2.1.) 0 Ministério Publico, apresentou resposta a este recurso tendo concluido (transcrigao): - |. 0 arguido J. S. interpés recurso do despacho judicial de fis. 772 a 776 na parte em que o Tribunal recebeu a acusagao deduzida pelo Ministério Publico a fis. 277 e seguintes contra os arguidos D. S., J. S., D. M. e “XX — Comércio, S, A. — Em Liquidagao”, todos melhor identificados a fls. 278/279 e apés ter determinado a rectificagdo da mesma ao abrigo do disposto nos artigos 380, n.° 1, alinea b) en.°2e 97.8, n° 3, ambos do Cédigo de Processo Penal no que concere a sociedade arguida II. O Ministério Publico iguaimente interpés recurso do douto despacho judicial de fls. 772 a 776 datado de 2 de outubro de 2017. Ill. Com efeito, com os fundamentos alinhados no recurso de fis. 796 a 803 e que nesta sede se reafirmam, consideramos que a decisdo que, em nosso entender, se impunha no despacho judicial de fis. 772 a 776 era a de considerar que os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos nao sao juridicamente inexistentes mas antes validos recebendo consequentemente a acusagdo proferida pelo Ministério Publico a fis. 587 a 601 para julgamento contra os arguidos ali identificados. IV. A decisao judicial quanto a retificagao na identificagao da sociedade arguida na acusagao de fils. 277 e seguintes foi realizada tendo em consideracdo, entre o mais, a posi¢ao do Ministério Publico que oportunamente detetou esse lapso e afirmou a necessidade de correc¢ao da identificagao da sociedade arguida nessa acusagao (cfr. despacho do Ministério Publico de fis, 535, 536 e o requerimento do Ministério PUblico de fis. 756 a 760 (concretamente no pentiltimo paragrafo de fis. 760). V. No que concerne a segunda questao apresentada pelo recorrente (saber se o Tribunal quando recebeu a acusagao recebeu uma acusagao nula ao abrigo do artigo 283.°, n.° 4 do CPP) sempre se dir que, o Tribunal, por via do despacho de fis. 772 a 776, limitou-se a conhecer a questo suscitada pelo arguido J. S. na audiéncia de julgamento — cfr- fis. 747 e 748 — cfr. transcrigao integral do requerimento apresentado pelo arguido a fls. 762 a 765- (saber se era ou nao de atribuir efeito juridico 4 acusagao de fis. 578 a 586 elaborada pelo Ministério Publico na sequéncia do despacho de fis. 535 e 536). Ora, o Tribunal limitou-se a conhecer essa questao que tinha sido suscitada pelo arguido por via do requerimento de fis. 762 a 765. Tendo decidido de forma negativa, o Tribunal recebeu a acusagao primeiramente deduzida. VI. Nao obstante o recurso ora apresentado pelo arguido J. S., 0 Ministério PUblico mantém o recurso de fis. 796 a 803 nos seus precisos termos. Face ao exposto, pugnamos pela revogagao do douto despacho judicial de fis. 772 a 776 e a sua substituicao por outro que indefira © requerido pelos arguidos J. S., D. M. e D. S. no dia 5 de junho de 2017 considerando-se que os despachos proferidos pelo Ministé Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos nao sao juridicamente inexistentes mas antes validos determinando-se, consequentemente, a realizacao do julgamento tendo por referéncia a acusagdo do Ministério Publico de fis. 587 a 601 a qual é valida para os devidos efeitos legais. V's Ex's, porém, farao a costumada JUSTIGA.” (fis. 898v. ¢ 899) ‘A demandante, ISS,1P/Centro Distrital de Braga respondeu aos recursos interpostos, formulando as seguintes conclusées: “4, Com o devido respeito, entende-se que a decisdo que se impunha nos presentes autos era a de considerar que os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos nao so juridicamente inexistentes, mas antes validos havendo pois que admitir entre o mais a acusacao proferida pelo Ministério Publico, a fis. 587 a 601 € os autos prosseguirem com a realizacao do julgamento. 2. OISSJP, enquanto lesado manifestou nos autos o propésito de ponderar, em devido tempo, a sua constituigao de assistente nos autos e eventual dedugao de Pedido de Indemnizacao Civil (PIC). 3. OISS,IP foi notificado da primeira acusagao deduzida (Mls. 277 e ss dos autos), nos termos do art® 50° n° 2 do RGIT. 4. Ora, ainda no decurso do prazo para dedugao do PIC foi recebida nova notificagao judicial, dando conta da declaracao de nulidade da acusagdo proferida, motivo pelo qual nao se deduziu, nessa fase processual o respetivo PIC. 5. Foi, entretanto, enviada nova, notificagao ao Respondente, dando conta da segunda acusacdo deduzida e que constitui fls. 578 e ss. dos autos. 6. Tempestivamente pelo ISS, |P/Centro Distrital de Braga foi junto aos autos 0 pedido de indemnizagao civil contra XX. — Comercio SA., X — INDUSTRIA DE PERFIS, SA.,D.S., J.S.D.M 7. E porque preenchidos os demais requisitos legais, foi (e bem) o PIC admitido liminarmente. 8. Baseado no principio do aproveitamento dos atos praticados que vigora no nosso ordenamento juridico, outro ndo pode ser o desfecho sendo o de manter valido e eficaz o PIC junto aos autos. 9. Caso assim no se entenda, o que nao se concede, outra solugéo no restaria que no fosse a remessa de nova notificagao ao ora Respondente, possibilitando-o de juntar aos autos novo PIC atento 0 despacho judicial de 02/1 0/2017 de recebimento da acusagao deduzida afis. 277 e seguintes. 10. De facto, nao pode ao ISS,P/Centro Distrital de Braga, lesado nos autos, ser retirada a possibilidade de exercer um direito, na sequéncia das vicissitudes processuais que se vieram a verificar nos presentes autos. 11. Quanto a restante motivagao e conclusdes expostas pelo Recorrente, entende o Respondente nao Ihe assistir qualquer razéo, pelo que pugna pela sua improcedéncia TERMOS EM QUE, A- Considerando a motivagao, fundamentagao de facto e de direito e conclusées do Recurso, interposto pelo Ministério Puiblico, pugna-se pela revogagao do douto despacho judicial de fis. 772 a 776 ¢ a substituicdo por outro que indefira o requerido pelos arguidos J. S., D. M. e D. S. no dia 05/06/2017, considerando-se que os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e:seguintes dos autos no sao juridicamente inexistentes mas antes validos determinando-se, consequentemente, a realizagao do julgamento tendo por referéncia a acusacao do Ministério Publico de fis. 587 a 601 a qual é valida para os devidos efeitos legais; B - Caso assim nao se entenda, sempre se deverd considerar valido e eficaz 0 PIC deduzido pelo JSS, |P/Centro Distrital de Braga a fls. 612 e seguintes, atento 0 principio do aproveitamento dos atos praticados que vigora no nosso ordenamento juridico; C-Aassim nao ser, dever-se-4 ordenar a remessa de nova notificagao ao ora Respondente, possibilitando-o de juntar aos autos novo PIC atento o despacho judicial de 02/10/2017 de recebimento da acusago deduzida a fis, 277 e seguintes. V. Exas, no entanto, fardo a habitual J U S TI ¢ Al" (fis. 848v. e 849). - 2. B.) Da SENTENGA +2. B. 1.) O Ministério Publico, apresentou as seguintes conclusées (transcrigao): “1, A douta sentenga de fls. 887 a 895 foi proferida na sequéncia do julgamento ordenado apés ter sido proferido o douto despacho datado de 2 de outubro de 2017 de fis. 772 a 776 por via do qual o douto Tribunal decidiu: a) Declarar juridicamente inexistentes os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 ¢ 578 e seguintes dos autos; b) Rejeitar a acusagao publica deduzida a fis. 277 e seguintes, ao abrigo do artigo 311°, n® 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, por ser manifestamente infundada, no que respeita a sociedade arguida "X - Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao”; c) Receber a acusagao deduzida pelo Ministério Publico a fls. 277 seguintes contra os arguidos D. S., J. S., D. M. e “XX - Comercio, S. A. = Em Liquidagao”, todos melhor identificados a fis. 278/279, pelos factos e disposigdes legais constantes da referida acusagdo e que aqui se dao por integralmente reproduzidos e designando datas para julgamento. II. O Ministério PUblico por nao se conformar com o douto despacho judicial de fls. 772 a 76 interpés recurso do mesmo a fis. 796 a 803/813 @ 827. A decisdo que, em nosso entender, se impunha era a de considerar que os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos nao sao juridicamente inexistentes mas antes validos havendo pois que admitir entre o mais a acusagao proferida pelo Ministério Publico a fis. 587 a 601 e os autos prosseguirem com a realizacao do julgamento. Ill. O Ministério Publico mantém o interesse na apreciago do mencionado recurso o qual foi admitido por via do douto despacho judicial fls, 830. IV. Por se manter o entendimento constante das alegagdes do recurso de fis. 796 a 803/813 a 827 e que aqui se dao para os devidos efeitos legais por integralmente reproduzidas vem agora interpor recurso também da douta sentenca proferida a fis. 887 a 895 porquanto, em nosso entender, o julgamento deveria ter incidido sobre a acusagao proferida pelo Ministério Publico a fis. 587 a 601 e nao sobre a acusacdo de fis. 277 e seguintes. Por esse motivo e com os fundamentos que mantemos no recurso de fis. 796 a 803/813 a 827 consideramos que devera ser ordenada a realizagao do julgamento quanto a todo o objeto processual constante de fls. 587 a 601, Vs Ex's, porém, farao a costumada JUSTIGA.” (fis.916). - 2. B. 2.) Os arguidos, J. S. e D. S., interpuseram recurso da dita SENTENGA, tendo formulado as seguintes conclusées: “4. Nos presentes autos, foi proferida sentenga que condenou os aqui recorrentes J. S. e D. S. pela pratica, em autoria material, de um crime de abuso de confianga em relagao a Seguranga Social, na forma continuada, previsto e punido no art.” 107, do Regime Geral das Infracgées Tributdrias, e com referéncia ao art.° 105, n.° 5, do mesmo diploma e art? 30, do Cédigo Penal, tendo ainda os mesmos sido condenados a pagar solidariamente ao Instituto da Seguranga Social, |. P. a quantia de €33.885,83, acrescida de juros de mora. 2. Porém, os recorrentes nao podem conformar-se com a douta sentenga. 3. De facto, conforme se demonstraré, nao se encontram preenchidos todos os elementos objectivos do tipo legal de crime em que os recorrentes foram condenados, o mesmo sucedendo com o elemento subjectivo. 4. Para a avaliagao da verificagdo daqueles elementos so relevantes os seguintes factos considerados na douta sentenga, citamos: Nao provado o seguinte facto: «Que os arguidos tivessem utilizado em proveito prdprio as contribuigdes devidas e nao entregues 4 Seguranca Social descritas nos factos provados.» Provados os seguintes factos: «No periodo a que se reportam os factos supra descritos, a sociedade arguida encontrava-se numa situacdo econémica deficitaria. Face as enunciadas dificuldades, os montantes provenientes de retic Este mencioné nos factos provados, foram utilizados para o pagamento de salarios, para promover a auto- preservacao da empresa e garantir as condicdes de emprego aos seus trabalhadores.» 5. A conduta tipica prevista nos artigos 107° e 105° do Regime Geral das Infracgées Tributarias, reconduz-se para além da nao entrega a administragao tributaria, no prazo legalmente previsto, de prestagao tributdria deduzida, também a apropriagao das prestacées tributarias. 6. Nao se diga que 0 termo “apropriagao’ foi eliminado do texto da lei em abono da tese de que a “apropriacdo” jd nao é necessdria para se dar como consumado 0 tipo legal aqui em crise 7. Conquanto, apesar de o termo “apropriagao” ter sido eliminado da letra, nao deixa de estar nele [no espirito] implicito, assim continuando a constituir pressuposto objectivo do tipo legal do crime de abuso de confianga fiscal. 8. Da decisdo da matéria de facto, resulta de forma expressa que os ora recorrentes nao se apropriaram das prestagdes que teriam de ser entregues a Seguranga Social. 9. Nessa conformidade, nao restava outra solugao ao Tribunal “a quo” que nao a de julgar improcedente a acusagao e em consequéncia, decidir pela absolvigao dos arguidos, ora recorrentes. 10. De outra banda, o crime de abuso de confianca 4 Seguranga Social constitui um crime doloso, sendo pois necessario que 0 agente represente a violagao, da relagao de confianga que consiste no dever de entregar a prestacao tributaria deduzida e, ndo a queira entregar. 11. Ora, no caso dos autos, sabe-se que ndo foi isso que sucedeu [de contrario face aos factos dados como provados e ao facto nao provado, supra transcritos}. 12. Necessério seria pois, que se verificasse motivo [que se provassem factos] de onde pudesse derivar um julzo de reprovacao e de culpa sobre 0 concreto comportamento adoptado pelos arguidos, o que com 0 merecido respeito, se entende nao ter sucedido. 13.0s arguidos, ora recorrentes, nao criaram voluntariamente uma situagao de nao entrega das prestagées tributarias, mas antes se viram confrontados com uma situagao econémica deficitéria da sociedade comercial da qual eram administradores. 14.Perante tais dificuldades, viram-se obrigados a afectar os recursos de que a sociedade comercial dispunha no sentido da manutengao e na perspectiva de lograr alcangar a sobrevivéncia da empresa e dos postos de trabalho. 15. Na verdade, e seguindo sempre de perto os factos considerados como provades e 0 facto nao provado reflectidos na douta sentenga, confrontaram-se os arguidos com uma verdadeira necessidade de assim proceder, 16. Determina 0 n° 1 do artigo 36° do Cédigo Penal que, “Nao é¢ ilicito 0 facto de quem, em caso de conflito no cumprimento de deveres juridicos ... Satisfazer 0 dever ... de valor igual ou superior ao dever ... que sacrificar’. 17. Taipa de Carvalho ensina-nos que: “... nao pode, sem mais, negar- se a existéncia de um verdadeiro conflito de deveres, e eventual exclusdo da ilicitude penal, na hipdtese em que o patrao, na impossibilidade de pagar os salérios e os impostos, cumpre o dever juridico-laboral em detrimento do dever juridico-penal fiscal’, Américo Taipa de Carvalho, Direito Penal, parte Geral, Volume Il, Publicagées Universidade Catdlica, 2004, pag. 222. 18. No caso dos autos, temos um verdadeiro conflito de deveres, conflito esse que é gerador da exclusao da ilicitude penal. 19. De onde, também por esta via, os arguidos deveriam ter sido absolvidos. 20. De tudo, resulta que a douta sentenga proferida pelo Tribunal “a quo" incorreu em violagdo das normas legais insitas nos artigos 107° e 105° do RGIT, bem como, nos artigos 34° e 36° do Cédigo Penal 21.Face a tudo quanto acaba de se referenciar, os elementos objectivos @ subjectivos tipificados nao se encontram preenchidos, pelo que devera ser revogada a Douta sentenga, e por conseguinte, os arguidos absolvidos, devendo também em consequéncia disso, o pedido de indemnizagdo civil ser julgado improcedente, TERMOS EM QUE: Deverd ser concedido provimento ao presente recurso e devera a Douta Sentenga deve ser alterada, nos termos sobreditos. Assim se fazendo a Acostumada Justica.” (fls. 910v. a 912). . = 2. B. 2. 1.) O Ministério Publico, apresentou resposta a este recurso tendo concluido (transcrigao): *- 1. Nos termos e para os devidos efeitos legais consigna-se que o Ministério Publico mantém os recursos interpostos a fis. 796 a 803/814 a 827 e 915 a 916 bem como 0 teor da resposta de fis. 897 a 899/900 a 903. II. Sobre as questées de direito suscitadas no recurso de fis. 908 a 912 entendemos que nao assiste razdo aos recorrentes. Ill, No crime de abuso de confianga contra a seguranga social, p. e p. pelo art, 107.° do RGIT, a apropriacao nao é elemento objetivo do tipo, sendo, por conseguinte, tipicamente irrelevante que nao conste da factualidade provada tal apropriagao, sem prejuizo de o destino destas quantias, se vier a apurar-se em concreto, poder relevar na definicdo da responsabilidade penal do agente, nomeadamente para efeitos de escolha e medida da pena. IV. A obrigacao de pagamento dos salarios aos trabalhadores da empresa é hierarquicamente inferior ao dever legal de entregar ‘Seguranga Social a contribuigao descontada no salario dos mesmos trabalhadores, a qual visa satisfazer bens coletivos essenciais 4 existéncia e funcionamento do Estado Social de Direito (art’s 1° e 63° CRP). V. O pagamento dos salarios nao constitui causa de exclusao da culpa nem da ilicitude quanto ao crime de abuso de confianga @ Seguranga Social Este o entendimento que perfilhamos. Vs Ex's, porém, farao a costumada justiga.” (fls. 923). +3. - Neste tribunal da Relagao de Guimaraes, a Exm* Procuradora- Geral Adjunta tomou conhecimento do processo, apondo o seu visto, conforme estatui o disposto no art? 416°, n? 1 en? 2, do Cédigo de Processo Penal (fis. 936). - 4. Efectuado 0 exame preliminar, foi designada data para a audiéncia e completados os vistos (cfr. fls. 937 a 939). - 5. Houve lugar a audiéncia, nos termos do disposto no art? 423° do Cédigo de Processo Penal. IL FUNDAMENTACGAO. Dispée o art? 412°, n° 1, do Cédigo de Processo Penal, que a motivagao enuncia especificadamente os fundamentos do recurso e termina pela formulagao de conclusées, deduzidas por artigos, em que o recorrente resume as razées do pedido. Constitui entendimento constante e pacifico que o ambito dos recursos é definido pelas conclusdes extraidas pelo recorrente da respetiva motivagao, que delimitam as questées que o tribunal ad quem tem de apreciar, sem prejuizo das que sejam de conhecimento oficioso. (1) Posto isto, comecemos pelo recurso interposto pelo Ministério Publico do DESPAGHO proferido a 2.10.2017, de fis. 772 a 776 Vejamos. O DESPACHO recorrido tem o seguinte teor (transcri¢ao) “J. S., arguido nos autos, veio, em sede de audiéncia de julgamento, sustentar que a segunda acusagao formulada nos autos, datada de 27 de Fevereiro, é juridicamente inexistente, nao Ihe podendo ser atribuido qualquer efeito juridico, nem dela podem advir quaisquer consequéncias modificagSes do direito e dos factos, ndo produzindo também nenhum © despacho judicial que a recebeu. Mais acrescenta que a primeira acusagao deduzida é manifestamente infundada, nos termos do disposto nos artigos 311.°, n.° 2, alinea a) en? 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, vicio que importa conhecer oficiosamente, Os arguidos D. M. e D. S, aderiram ao requerimento formulado pelo arguido J. S. Respondeu 0 Ministério Puiblico pugnando pela validade da acusagao proferida pelo Ministério Publico a fis. 578 e seguintes, com o consequente prosseguimento dos autos e realizagao do julgamento. Para o caso do Tribunal vir a conhecer a segunda questao invocada pelos arguidos alega que a primeira acusagao deduzida nos autos padece de lapso susceptivel de correcgao, requerendo que se tome em consideragao, a esse propésito, aquilo que ja se encontra consignado no despacho de fis. 535/536. Apreciando e decidindo A questao central colocada pelos arguidos consiste em saber se, como aconteceu nos presentes autos, é legalmente admissivel que 0 Ministério Publico, por sua prépria iniciativa, possa declarar nula uma acusacdo inicialmente proferida e jd notificada aos sujeitos processuais, substituindo-a por outra que acrescenta mais um arguido e amplia o objecto do processo. Depois, caso se conclua no sentido da inadmissibilidade de tal conduta processual, havera que estabelecer as respectivas consequéncias. Vejamos, pois. Dissertando sobre esta questéo em sentido mais amplo, Paulo Da Mesquita, Direcgao do Inquérito Penal e Garantia Judicidria, Coimbra Editora, 2003, pagina 207, explica que da articulagao do modelo juridico- constitucional do Ministério Publico com a estrutura do processo penal, em particular dos principios do acusatério e do contraditério, resulta uma sendo essa auto-vinculacao imediata quando em causa esta um despacho de acusacao. E como acrescenta mais a frente aquele autor (obra citada, fis 290/291), este principio da irretractibilidade da acco penal tem como corolério légico, no que respeita ao despacho de acusagao, a vinculagao externa do Ministério Publico, com a consequente proibigao de intervengao intra- organica revogatéria, poder de intervencao que, no acto processual de encerramento do inquérito, se cinge apenas a determinadas decisées de arquivamento. Ou seja, uma vez proferido o despacho acusatério, e a semethanga daquilo que sucede com qualquer despacho judicial que decida sobre o mérito da causa, fica esgotado 0 poder do magistrado titular do inquérito sobre 0 respectivo objecto (ou qualquer possibilidade de intervengao hierdrquica revogatéria), apenas se excluindo deste regime a possibilidade de correcgao de erros materiais ou outros lapsos cuja eliminagao nao importe uma modificagao essencial, aplicando assim, nesta parte, o regime previsto no artigo 380, n.° 1, alinea b)en.°2e 97.°,n.° 3, ambos do Cédigo de Processo Penal E estando vedada a Sr.* Magistrada do Ministério Publico titular do inquérito a possibilidade de alterar o despacho de acusagao que havia inicialmente proferido, por maioria de razdo, também nunca Ihe seria permitido declarar nulo tal despacho, como, efectivamente, veio acontecer. Nessa medida, a semelhanga daquilo que se fez consignar no Acérdao do Tribunal da Relagao de Guimaraes, de 24.04.2017, Proceso n.° 180/07.4JABRG.G1, relatado pela Sr.* Desembargadora Fatima Furtado, publicado na internet, em www.dgsi.pt (aresto citado pelo arguido J. S. no requerimento em apreciagao), a nova acusagao, proferida em 2 constante de fis. 578 e seguintes dos autos, mente inexistente, no Ihe podendo ser se estende ao despacho proferido a fis. 535/536, que declarou nula a primeira acusa¢ao). E porque tal despacho acusatério é absolutamente desprovido de qualquer valor ou relevancia juridica, nenhum efeito produziu 0 despacho judicial proferido a fis. 638 a 640, que recebeu essa acusagao. Resta a acusagdo piiblica deduzida pelo Ministério Publica a fils. 277 & seguintes, que mantém a sua plena validade, havendo assim, relativamente a ela, que proferir o despacho de saneamento do proceso, previsto no artigo 311.°, do Cédigo de Processo Penal. Nesta parte, argumenta o arguido J. S. que essa acusagao nao obedece ao disposto no artigo 283.°, do Cédigo de Processo Penal, conforme admitiu o Ministério Publico no despacho que declarou a sua nulidade. Entende que essa acusagao devera considerar-se manifestamente infundada, nos termos do disposto no artigo 311.°, n.° 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), do Cédigo de Pracesso Penal, que essa acusacao. Nos termos daquilo que conjugadamente se dispde no artigo 311.°, n.° 2, alinea a) en.” 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, a acusagao que nao contenha a identificagdo do arguido considera-se manifestamente infundada e deve ser rejeitada pelo tribunal. ‘A questao coloca-se, em concreto, apenas no que respeita sociedades arguidas "XX - Comércio, S. A. — Em Liquidagao” e "X - Industria de Perfis, S, A. — Em Liquidagao", sendo certo que quanto aos demais arguidos pessoas singulares nenhum problema se suscita relativamente as suas identificagées, E 0 problema reside, conforme ja assinalava no despacho de fis. 535/536, num lapso relativo a denominagao social da arguida "XX", que se confundiu com a “X", sendo certo que esse lapso nem sequer se estendeu a sede social ou NIPC daquela sociedade, que se encontram correctamente indicados. Trata-se, pois, conforme também se salientava no aludido despacho e agora o Ministério Publico reitera a fls. 760, de um mero lapso de escrita, passivel de correogdo nos termos do ja citado regime dos artigo 380, n.° 1, alinea b) en.° 2 e 97.°, n.° 3, ambos do Cédigo de Processo Penal, correcgao essa que, realizando-se de imediato, tem como consequéncia, efectivamente, que a acusagao é manifestamente infundada no que respeita sociedade “X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao”, a qual, como ja se viu, s6 ai constava por mero lapso de escrita, sendo certo que, com a correcgao de tal erro, a acusagao pibblica passou a ser totalmente omissa no que respeita a esta sociedade. Ja no que concern A sociedade arguida “XX — Comércio, Liquidacso”. com a rectificacdo do |apso ora determinada, que devera concretizar-se assinalando a altera¢ao no local préprio, nenhum problema se coloca quanto a sua identificagao, improcedendo assim 0 invocado vicio. Nessa medida, depois de tudo visto e sem necessidade de mais consideragées, deci i) Declarar juridicamente inexistentes os despachos proferidos pelo Ministério Publico a fis. 535/536 e 578 e seguintes dos autos; ii) Rejeitar a acusacao publica deduzida a fis. 277 e seguintes, ao abrigo do artigo 311°, n® 2, alinea a) e n.° 3, alinea a), do Cédigo de Processo Penal, por ser manifestamente infundada, no que respeita a sociedade arguida "X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao"; ili) Receber a acusagao deduzida pelo Ministério Publico a fis. 277 e seguintes contra os arguidos D. S., J. S., D. M. e “XX - Comércio, S. A. = Em Liquidagao”, todos melhor identificados a fis. 278/279, pelos factos e disposicées legais constantes da referida acusagao e que aqui se dao por integralmente reproduzidos Para julgamento neste Tribunal designo o dia 29.11.2017, pelas 9.30 horas, e 0 dia 06.12.2017, pelas 09:30 horas, como segunda data, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 312.°, n.° 2 do Cédigo de Proceso Penal Os arguidos aguardardo os ulteriores termos do proceso sujeitos a Termo de Identidade e Residéncia, jd prestados nos autos, atenta a inexisténcia de exigéncias cautelares que justifiquem a aplicagao de outra medida de coacgao. Admito liminarmente o pedido de indemnizagao civil de fis. 612 seguintes, bem como a prova que o acompanha, mas apenas quanto aos arguidos D. S., J. S. e “XX - Comércio, S. A. - Em Liquidacao, rejeitando-o relativamente a demandada “X — Industria de Perfis, S. A. — Em Liquidagao”, atento o principio da adesao plasmado no artigo 71.2, do Cédigo de Processo Penal, e tendo em conta que, no que respeita a esta sociedade, a acusagao foi rejeitada por ser manifestamente infundada. Cumpra o disposto no artigo 78.°, n.° 1, do Cédigo de Processo Penal Notifique, sendo ainda os arguidos para, querendo, apresentarem nova contestagao, tendo como referéncia a delimitagao do objecto do processo operada pela acusagao ora recebida.” (fis. 772 a 776) A) 1. APRECIACAO DO RECURSO O despacho acima transcrito, despacho recorrido, foi proferido na sequéncia de um requerimento apresentado pelo arguido, J. S., em sede de audiéncia de discussao e julgamento, de 5 de junho de 2017, com 0 seguinte teor: “J. S., Arguido nos autos aqui em referéncia, ver expor nos termos do disposto no art? 338° do CPP o seguinte: Em 31.01.2017, na sequéncia de despacho com encerramento do inquérito, 0 Ministério Publico deduziu acusagao contra o ora arguido, imputando-Ihe a pratica de um crime de abuso de confianga contra a Seguranca Social, previsto e punivel pelos artigos 107°, n.° 1, por referéncia ao artigo 105° n.°s, 1 e 4 do RGIT — Regime Geral das Infracgées Tributarias — cfr. fis. 277 a 282 do 1° volume dos autos. O arguido foi notificado da acusagao em 01 de Fevereiro de 2017, tendo sido advertido de que dispunha do prazo de 20 dias para, querendo, requerer a abertura da instrugao. Em 06 de Fevereiro de 2017, 0 Ministério Pablico proferiu um despacho e declarou nula aquela acusagao proferida a fis. 277 a 282 dos autos. Despacho que foi notificado ao arguido e a sua defensora. Entretanto, em 27.02.2017, foi proferida acusagao contra o ora arguido, imputando-o desta feita de dois crimes de abuso de confianga contra a Seguranca Social, previstos e puniveis pelos artigos 107°, n.° 1, por referéncia ao artigo 105° n.°s, 1 e 4 do RGIT — Regime Geral das Infracgdes Tributérias — cfr. fis. 578 a 586 do 2° volume dos autos. Acusagao esta que foi também notificada ao ora Arguido e a sua defensora. A acusagao veio a ser recebida e designada data para a realizacao da audiéncia de julgamento. O ora arguido apresentou contestagdo e arrolou testemunhas. Aqui chegados, ha uma questo prévia a analisar, conquanto, a acusagao proferida de fls. 578 a 586 do 2° volume dos autos 6 inexistente. Com efeito, do artigo 262° n.° 1 do Cédigo de Processo Penal decorre que “o inquérito compreende o conjunto de diligéncias que visam investigar a existéncia de um crime, determinar os seus agentes @ a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem & decisdo sobre a acusagao’. A fase do inquérito encerra-se, nomeadamente, com a prolagdo da acusagao, conforme resulta do artigo 276° n.° 1 do C.PP, e, com esse encerramento, cessa e esgota-se a direc¢ao do Ministério Publico nesta fase processual [artigo 263° n.° 1 do C.PP]. Naturalmente que, durante o inquérito, 0 Ministério Publico tem competéncia para declarar um acto processual inexistente, nulo ou irregular ou uma prova proibida, ressalvada a competéncia prépria do juiz de instrucao. Porém, a competéncia do Ministério Publico para declarar um acto processual inexistente, nulo ou irregular conhece limites que decorrem dos principios da legalidade e acusatério, designadamente, um limite temporal, ou seja, 0 encerramento do inquérito. Esta pois, vedado ao Ministério Publico declarar a nulidade de uma acusagao proferida nos autos, depois do encerramento do inquérito. “Um dos principios que enforma o direito processual penal e civil é 0 da precluséo e pode definir-se como «a perda, a extingdo ou a consumagao de uma faculdade processual». Constitui um principio com um campo de aplicagéo muito amplo quer em processo civil quer em processo penal e aplica-se aos actos das partes e aos dos Magistrados. Quer isto dizer que, uma vez proferida a acusagao, fica precludida a possibilidade de 0 Ministério Publico renovar a pratica desse acto. «A decisao final do inquérito de acusagao obedece, por forca do seu caracter irretractavel, a um regime de impugnagao especial fixado na lei processual (artigo 287.° do CPP).» - vide Paulo Pinto de Albuquerque, ‘em Comentario do Cédigo de Processo Penal, 4° edicao actualizada, Universidade Catélica Editora, pagina 147, nota 6. O principio da preclusdo manifesta-se em varias vertentes, sendo uma delas habitualmente designada por consumativa, que é precisamente a perda da oportunidade de se praticar o ato processual, por o ato jé ter sido praticado, ja estar consumado. Encontramos uma das materializagGes desta vertente do principio da precluso no artigo 613.° do Cédigo de Proceso Civil, ao estabelecer que uma vez proferida a sentenga fica esgotado 0 poder jurisdicional do juiz quanto 4 matéria da causa. Principio que se estende aos despachos, nos termos do n.°3 do mesmo normativo. No Cédigo de Processo Penal néo ha disposig¢ao semelhante, embora a sua aplicagao se harmonize perfeitamente com as normas deste diploma, designadamente com a previsao, no seu artigo 380.°, @ a titulo excecional, dos estritos casos em que os lapsos da sentenga e dos demais atos decisérios do juiz e do Ministério Publico Cf. n.° 3 do artigo 380.° e respetiva remissdo para 0 artigo 97.°, ambos do Cédigo de Processo Penal, podem ser objeto de corre¢ao. Sendo por conseguinte aquele artigo 613.° do Cédigo de Processo Civil aplicavel também ao processo penal, por forga da remissdo feita no artigo 4.° do Cédigo de Processo Penal. Face a tudo quanto acaba de se expor, a acusagao representa um acto decisério que néo pode ser repetido, por com a sua prolagéo se ter esgotado o poder do magistrado titular do inquérito sobre o respetivo objeto, independentemente de a acusagdo conter ou nao deficiéncias que possam comprometer o seu éxito Pois a consequéncia do esgotamento do poder de finalizar o inquérito, com a dedugao da acusagao, é precisamente a de que 0 magistrado nao possa mais, por sua iniciativa, alterar a deciséo que proferiu, ainda que logo a seguir se arrependa, designadamente por vir a constatar que nela errou. Outra solugao nao consentem as regras processuais jé supra identificadas, que dessa forma também dao corpo a principios fundamentais de um processo penal proprio de um Estado de Direito Democratico, como sejam os principios do processo justo e da lealdade processual, Principios que se refletem na protegao da confianga reciproca na atuagao processual, que deve pautar a conduta de todos os intervenientes processuais, no principio de igualdade de armas e até no principio da vinculagao tematica da acusagao, como forma de assegurar @ plenitude da defesa, garantindo ao arguido que apenas tem que defender-se dos factos acusados e nao de outros Assim sendo, a acusagao datada de 27 de Fevereiro de 2017 é juridicamente inexistente, e ndo Ihe pode ser atribuido qualquer valor juridico, nem dela podem advir consequéncias e modificagdes no mundo do direito e dos factos, nenhum efeito tendo pois o seu recebimento, por despacho judicial, com as legais consequéncias. Neste sentido, os Acérddos do TRL, relativo ao processo n.° 88/10.6JAPDL.L1-3, de 11.05.2016 e do TRG, relativo ao processo n.° 180/07. 4JABRG.G1, de 24.04.2017, ambos disponiveis em www.dgsi.pt. Isto posto, temos a primeira das acusagdes deduzida, que porém, nao obedece ao disposto no artigo 283° do C.PP,, conforme o Ministério Pablico admitiu no seu despacho em que a declara nula. De modo que, também quanto a esta resta conhecer oficiosamente, nos termos do disposto nos artigos 311° n.° 2, alinea a) en. 3, alinea a), do vicio da acusagao manifestamente infundada.» Sobre 0 acabado de expor veio a incidir o despacho acima transcrito e que é alvo de recurso. Para melhor compreensao, fagamos a “cronologia processual’: - a 31 de janeiro de 2017, o Ministério Publico deduziu acusagao contra 08 arguidos D. S., J. S., D. M., e X- Industria de Perfis, S.A. - Em Liquidacao. Foi ai imputado aos arguidos a co-autoria material de um crime de abuso de confianga contra a seguranga social, na forma continuada, p. e p. pelos art’s 107°, n° 1, por referdncia ao art? 105°, n°s 1 e 4, do RGIT, aprovado pela Lei n? 15/2001 de 05 de junho e 30°, n® 2, do Cédigo Penal. E foi imputado a arguida X — Industria de Perfis, S.A. — Em Liquidagao a pratica de um crime de abuso de confianga contra a ‘seguranga social p. e p. pelo art? 107°, n° 1, por referéncia aos art’s 105°, n°s 1 e 4, e 7°, n° 1, do RGIT, aprovado pela Lei n® 15/2001 de 05 de junho - (fis. 277 a 282); - a1 de fevereiro de 2017, foi enviada a todos os arguidos a notificagdo da acusagao, concedendo-Ihes o prazo de vinte dias, nos termos do disposto no art? 287° do Cédigo de Processo Penal, para, querendo, requererem a abertura de instrugao - (fls. 287 a 296); - a1 de fevereiro de 2017 foi enviada notificagao ao Instituto da Seguranga Social — IP, Nucleo de investigacao Criminal de Braga, “de que foi deduzida acusagao no inquérito acima referenciado, nos termos do art? 283° do Cédigo de Processo Penal e para no prazo de vinte dias, a contar da presente notificagao, deduzir, querendo, o pedido de indemnizacao civil, nos termos do disposto no art? 77°, n° 2, do mesmo diploma’ = (fis. 297). - a6 de fevereiro de 2017, o Ministério Publico declarou nula a acusagao proferida nos autos, argumentando que “em razéo da instrugao em separado dos processos cuja apensagao se determinou, nao contemplou a acusagao toda a matéria do inquérito, como se impunha que tivesse feito, por forga do despacho de apensacao de processo, 0 que redunda inequivocamente na nulidade insanavel prevista no art? 119°, al. d), do Cédigo de Processo Penal.” - (fis. 535 ¢ 536). - efectivamente, a 26 de novembro de 2015, foi determinada “a apensacao nestes autos do inquérito n? 516/15.4T9BRG, nos termos do disposto no art? 29°, n°s 1 e 2, do Cédigo de Processo Penal.” (fis. 16); =a de fevereiro de 2017 foi enviada a todos os arguidos a notificagao do despacho proferido no dia anterior — (fls. 537 a 543); - a9 de fevereiro de 2017, 0 Ministério Publico deduziu nova acusagao contra os arguidos D. S., J. S., D. M., XX— Comércio S.A. — Em Liquidago e X - Industria de Perfis, S.A. Foi ai imputado aos arguidos a co-autoria material de dois crimes de abuso de confianga contra a seguranga social, p. e p. pelos art’s 107°, n® 1, por referéncia ao art? 105°, n°s 1 e 4, do RGIT, aprovado pela Lei n° 15/2001 de 05 de junho. E foi imputado a cada uma das arguidas, XX - Comercio, S.A. — Em Liquidacdo e X — Industria de Perfis, S.A., a pratica de um crime de abuso de confianga contra a seguranga social p. e p. pelo art? 107°, n? 1, por referéncia aos art’s 105°, n°s 1 e 4, 7°, n° 1, do RGIT, aprovado pela Lei n® 15/2001 de 05 de junho - (fis. 578 a 584/585); - a6 de margo de 2017, foi enviada a todos os arguidos a notificagao desta nova acusagao, concedendo-Ihes 0 prazo de vinte dias, nos termos do disposto no art? 287° do Cédigo de Processo Penal, para, querendo, requererem a abertura de instrugao - (fls. 588 a 600); - a 6 de margo de 2017 foi enviada notificagao ao Instituto da Seguranga Social - IP, Niicleo de investigagao Criminal de Braga, “de que foi deduzida acusagao no inquérito acima referenciado, nos termos do art? 283° do Cédigo de Processo Penal e para no prazo de vinte dias, a contar da presente notificagao, deduzir, querendo, o pedido de indemnizacdo civil, nos termos do disposto no art? 77°, n° 2, do mesmo diploma” — (fls. 601). - a 27 de margo de 2017, 0 Instituto da Seguranga Social, I.P. - Centro Distrital de Braga deduziu, ao abrigo do art? 77°, n° 2 do Cédigo de Processo Penal, pedido de indemnizagao civil contra: XX — Comércio SA, X ~ Induistrias de Perfis, SA, D. S., J. S.e D. M. ~ (fls. 612 a 614); - a6 de abril de 2017 foi determinada a remessa “a distribuigao como Proceso Comum Singular, pela Instancia Local Criminal de Barcelos” — (fis. 629); - a 19 de abril de 2017 foi proferido despacho de recebimento da “acusacdo publica, de fis. 580-586, contra D. S., J. S., D. M., XX — Comércio, S.A. - Em Liquidacdo e X — Industria de Perfis, S.A.(...)’, designado dia para julgamento e admitido o pedido de indemnizagao civil apresentado pelo Instituto de Seguranga Social, |.P - Centro Distrital de Braga, de fis. 612 e ss — (fis. 638 a 640); - a 24 de abril de 2017 foi enviada aos arguidos a notificagao da data para realizagao da audiéncia de discussao e julgamento e, para querendo, contestarem no prazo de vinte dias — (fls. 648 a 656); = a 15 de maio de 2017 o arguido J. S. apresentou a sua contestacao, oferecendo “o merecimento dos autos e o que em sede de audiéncia de julgamento se apurar” — (fis. 691 e 692); =a 16 de maio de 2017, 0 arguido D. M. apresentou contestacao, oferecendo “em sua defesa o merecimento dos autos bem como tudo quanto de favordvel resultar da discussao da causa em audiéncia de discussao e julgamento” — (fis. 698 e 699); - a 18 de maio de 2017, o arguido D. S., contestou, oferecendo “em sua defesa o merecimento dos autos bem como tudo quanto de favordvel resultar da discussao da causa em audiéncia de discussao e julgamento” = (fis. 720); = a 29 de maio de 2017, foi proferido despacho a admitir as contestagdes € 08 rdis de testemunhas apresentados — (fls. 732); - a § de junho de 2017 foi iniciada a audiéncia de discusso e julgamento e, em acta, “feito um requerimento pela llustre Defensora Oficiosa do arguido J. S.”, acompanhado depois pelos arguidos D. M. e D. S., que ja acima transcrevemos e que levou a prolagdo do despacho objeto de recurso, datado de 2 de Outubro de 2017. Nesta sequéncia de actos processuais, ressalta desde logo que o tribunal a quo, por despacho que proferiu a 19 de Abril de 2017, recebeu “a acusacdo publica de fis. 580 a 586, contra D. S., J. S., D. M., "XX = Comércio, S.A. — Em Liquidagao” e "X — Industria de Perfis, S.A.”, pelos fundamentos de facto e de direito dela constante, os quais se dao, aqui, por reproduzidos, e que, a provarem-se determinam a eventual pratica: - pelos arguidos D. S. e D. M., de 2 (dois) crimes de abuso de confianga contra a Seguranga Social, p. e p. pelo art? 107°, n° 1, do RGIT, por referéncia ao art? 105°, n°s 1 e 4, do mesmo diploma legal; - pelas arguidas "XX" e "X", cada uma, de 1 (um) crime de abuso de confianga contra a Seguranca Social, p. ep. pelo art? 107°, n° 1, por referéncia aos art’s 105°, n°s 1. 4 e 7°, n? 1, ambos do RGIT. (cfr. arts 311°, n°s 1 ¢ 2, al. a) e 3, @ contrario e 313°, n° 1, al. a), ambos do Cédigo de Processo Penal).” Designou data para realizagao da audiéncia de julgamento — “5 de junho de 2017 pelas 14 horas” ou 8 de junho de 2017, pelas 14 horas e 30 minutos.” Identificou os llustres Defensores dos arguidos Determinou que os arguidos aguardassem a ulterior tramitagaio do processo sujeitos as obrigacées decorrentes do Termo de Identidade e Residéncia, respectivamente j4 prestado nos autos. Admitiu 0 pedido de indemnizagao civil apresentado pelo Instituto da Seguranga Social, |.P. — Centro Distrital de Braga, de fis. 612 e segs. Determinou o cumprimento do disposto nos art’s 78° e 79°, ambos do Cédigo de Processo Penal e a notificagao nos termos dos art’s 313°, n° 2. 317°, do mesmo diploma, sendo ainda os arguidos para os termos do disposto no art? 315°, n° 1 daquele cédigo. E, logo no inicio, apés determinar a autuagao como processo comum com intervengao de tribunal singular, o Mtm? Juiz a quo consignou que “o Ministério Puiblico tem legitimidade para promover a ago penal (cfr. art? 48° do Cédigo de Processo Penal, e art? 107°, este do Regime Geral de Infragdes Tributarias - ). O proceso é o proprio. Mostra-se isento de nulidades ou outras questées prévias ou incidentais que obstem a apreciagao do mérito da causa e de que cumpra conhecer.” Proferido este despacho, apresentadas e admitidas as contestagdes dos arguidos (que nenhuma questao levantaram), admitida a prova e aberta que foi a audiéncia para realizagao do julgamento tendo por base a acusagao recebida — de fis. 580 a 586 — cremos nao ser possivel “represtinar” uma acusagao que ja foi declarada nula pelo titular da acgao penal enquanto teve o dominus do inquérito. De acordo com o principio da preclusao, uma vez praticado determinado ato ele adquire foros de definitive naquele processado (preclusao intraprocessual ou efeito intraprocessual da preclusao). Assim, recebida que foi uma determinada acusagao serd ela que fixa 0 objecto dos autos e com base na qual sera realizado a audiéncia de julgamento. O poder jurisdicional do juiz fica esgotado quanto a matéria em causa (efeito preclusivo do caso julgado) Proferida a sentenga ou proferido um despacho que decida sobre determinada questo, fica precludida a possibilidade do Tribunal voltar a pronunciar-se sobre essa mesma questao, sendo que a decisao proferida sé permite a correcgao de lapsos a que se refere o art? 380° do Cédigo de Processo Penal. O disposto no citado art? 380°, n° 1 e n° 2 aplica-se, como determina o n® 3, aos actos decisérias previstos no art? 97° do Cédigo de Processo Penal Proferido o despacho a que alude o art? 311° esta precludida a possibilidade de o juiz renovar a pratica do acto. O acto praticado tornou-se definitivo e parte integrante do processado. Acresce que, ainda que assim no se entendesse, podendo ser defensavel que nao se forma caso julgado formal com o recebimento da acusagdo, sempre se diga que a primeira acusagao deduzida nos autos padecia de omissao de prontincia porque deixava de fora, sem objecto de apreciagdo, parte da factualidade constante num dos seus apensos, razo pela qual sempre poderia o Ministério Public proceder & declaragao da sua nulidade. Realce-se que nao se trata de matéria exclusiva da competéncia do Juiz de Instrugao, por se encontrar excluida da matéria da reserva jurisdicional prevista no art? 268° do Cédigo de Processo Penal. De harmonia com o expendido, e, de qualquer das formas, torna-se inevitével a revogagao do despacho exarado de fis. 772 a 776, devendo a audiéncia de julgamento realizar-se com referéncia & acusagao que foi recebida (alias, o recebimento até foi precedido do despacho do Ministério PUblico remetendo os autos para julgamento (fis. 625), depois dos arguidos e seus defensores terem sido notificados da “nova” acusacdo). E esta acusagao que, inexoravelmente, condicionara os ulteriores termos do processado. Naturalmente que fica prejudicada a apreciagao de todas as demais questées suscitadas por qualquer dos recorrentes. Ill- DISPOSITIVO Nos termos e pelos fundamentos expostos, acordam os Juizes do Tribunal da Relagao de Guimaraes em julgar procedente o recurso interlocutério interposto pelo Ministério Puiblico (ainda que por razdes distintas das por si aduzidas) e revogar o despacho recorrido — de fis. 772.776 -, determinando que seja proferido novo despacho em consonancia com o ora decidido, prosseguindo os autos a subsequente tramitagdo processual Sem custas. (Texto elaborado pela relatora e revisto por todos os signatarios — art? ‘94°, n° 2, do Cédigo de Processo Penal). Guimaraes, 22 de Outubro de 2018, (Clarisse Goncalves) (Mario Silva) (Fernando Monterroso) 1- Cfr. Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal, Vol. III, 2* Ed., pag. 335; Sima Santos e Leal-Henriques, Recursos em Processo Penal, 6* Ed., pag. 103; entre muitos, os Acs. do STJ, de 25.06.1998, in BMJ 478, pag. 242; de 03.02.1999, in BMJ 484, pag. 271; de 28.04.1999, CJ/STJ, Ano VIl, Tomo Il, pag. 196.

You might also like